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História I After You - 03


Escrita por: Yeul

Notas do Autor


Já disse o quanto gosto dessa fic? Meu amorzinho <3 E esse é o meu capítulo preferido, de certa forma ~
Espero que gostem~

Capítulo 4 - 03


Fanfic / Fanfiction I After You - 03

See I recall being afraid of the dark

 

*

 

                O despertador não precisou soar para que o jovem Lee se levantasse totalmente animado para a aula. Pulou de sua cama sentindo-se extremamente leve e confiante, e logo pegou seu celular, desligando o alarme no mesmo instante e deixando-o sobre a cama já arrumada, antes de escolher suas roupas para aquele dia.

 Cantarolou baixinho enquanto pegava uma camisa branca de mangas e golas vermelhas, junto de um casaco jeans escuro e uma calça de mesmo tom, e se dirigiu para o banheiro. Tomou um banho mais rápido que o normal, e se surpreendeu ao sair e entrar na cozinha com o cheiro de café já dominando-a.

 SeungKwan estava com o cabelo totalmente bagunçado, suas vestes estavam amassadas, mas ele preparava o café com cuidado, parecendo animado em estar ali. O mais novo se virou com um sorriso no rosto, e estendeu a xícara para ele.

 JiHoon pegou com cuidado, sentindo-o quente, e soprou rapidamente antes de provar e sorrir. Estava amargo do jeito que gostava, e agradeceu o Boo com uma reverência exagerada, sentando-se à mesa.

 “Bom dia hyung”, disse o mais alto enquanto pegava as torradas e em seguida a manteiga. “Todo dia a mesma coisa, que tristeza”, comentou, depositando os itens sobre o centro da mesinha.

 “Bom dia”, respondeu o mais baixo, já esticando a mão para pegar uma torrada. “Eu posso passar no mercado na volta da faculdade”, sugeriu enquanto passava a manteiga com cuidado.

 “Ah, não precisa se preocupar com isso hyung! Você já fez compras no outro dia, sou eu quem devo ir ao mercado dessa vez!”, disse SeungKwan gesticulando exageradamente para ele, e o Lee deu de ombros, sabendo que querendo ou não, ele iria fazer compras.

 Apenas assentiu para o mais novo, e o viu sorrir confiante enquanto tomava café. Terminou de comer sem pressa, e se levantou com a xícara em mãos para lavar. Arregaçou as mangas de sua jaqueta, voltando a cantarolar baixinho, até o Boo se levantar e colocar a xícara dele com cuidado na pia, como se estivesse com medo de incomodar o mais velho.

 Ele retirou a mão e se encolheu, abrindo um sorriso amarelo que fez o mais baixo rir.

 “Hyung está sorrindo bastante desde ontem”, comentou o mais alto feliz, e o Lee sentiu suas bochechas esquentarem ao perceber que ele tinha razão. “Fico feliz que esteja melhor agora”, continuou cauteloso, vendo-o balançar a cabeça positivamente. “Você não fica bem chorando”, completou rindo, ouvindo-o rir sem graça, e voltou a lavar a xícara.

 SeungKwan se retirou pedindo licença, e o baixinho ficou ali, encarando a água correndo e imaginando que ela levava todo o seu sentimento ruim acumulado. Seu sorriso permaneceu, e ele sentiu-se bem.

 

*

 

                Tomou o ônibus no lugar que JeongHan mostrou, e conseguiu ter uma viagem tranquila, encarando a paisagem que não havia notado antes devido a sua mente tão turbulenta. As ruas de Seoul eram agradáveis, mesmo com todos aqueles carros e pessoas passando de um lado para o outro.

 Desta vez era uma playlist de SHINee tocando em seu celular, e ele não se incomodou pela primeira vez. Aquilo que antes lhe incomodava passou despercebido, enquanto pensava no que faria no dia, e desceu em seu ponto sem prestar muita atenção a sua volta. Sentiu um braço lhe envolver o ombro, e aquilo o assustou, fazendo-o se retesar e virar-se rapidamente, antes de reconhecer a pessoa.

 “Bom dia SeungCheol hyung”, disse respeitosamente, fazendo uma leve reverência com a cabeça e recebendo um sorriso animado.

 “Bom dia baixinho!”, respondeu ele, logo bagunçando seu cabelo com a mão livre, o que o incomodou um pouco, mas não deixou transparecer, e o mesmo se afastou com cuidado. “Vai pra onde?”, perguntou enquanto o acompanhava, levando suas mãos atrás de seu corpo, com a mochila pendurada em um ombro.

 “Humanas”, falou simples, indicando com o polegar seu prédio do outro lado da rua.

 “Ah, sim, mesmo curso que o Shua, né? Tinha esquecido”, riu ele, antes de apontar para o prédio ao seu lado. “Exatas”, respondeu levemente convencido, vendo o baixinho assentir. “Te vejo depois então, Hanie disse para avisar que te espera no mesmo lugar que ontem, ok?”, ele foi se afastando e acenando, mantendo o sorriso, e JiHoon o imitou, querendo ser simpático.

 Adentrou no prédio devagar, constando que ainda tinha alguns minutos antes da aula começar, porém seguiu para o seu andar, antes que os elevadores ficassem lotados. Desta vez seria o oitavo novamente, e ele já fora esperando encontrar um bom lugar para se sentar.

 Sentou-se animado, antes de lembrar-se que aquela era a aula que ele precisava de um grupo, e que não havia prestado atenção em ninguém, o que o deixou alarmado. Como escolheria alguém se nem prestou atenção? Pior, quem gostaria de tê-lo como membro do projeto quando dormiu em aula?

 Começou a se remoer por dentro, batucando seus dedos nervosamente sobre sua mesa, olhando para os seus colegas de classe, quando percebeu alguém se sentado ao seu lado. Sua cabeça moveu-se automaticamente, reparando que era um rapaz extremamente alto e bem vestido, que lhe encarava curioso.

 “Oh, bom dia”, soltou ele enquanto ajeitava sua mala sobre a mesa e abria um sorriso gentil, mostrando seus dentinhos tortos.

 “Bom dia”, respondeu timidamente o mais baixo, encolhendo-se onde estava, subitamente incomodado com a presença do outro.

 O rapaz mais alto terminou de arrumar sua mesa, deixando seu material devidamente arrumado – o que chamou a atenção do Lee, que concluiu que ao menos ele era organizado – antes de se virar para o mais baixo com um sorriso largo nos lábios.

 “Posso fazer grupo com você?”, perguntou ele em um tom suave, com as mãos unidas a frente do corpo, sua postura rígida demais para alguém que mantinha um sorriso tão gentil.

 JiHoon piscou algumas vezes, processando a informação. Era estranho como nunca havia feito trabalho em grupo antes, e aquilo lhe pareceu fácil até demais. “Ah, sim, claro”, murmurou o baixinho tímido, assentindo em seguida para reforçar, achando que não havia sido claro o suficiente. O outro ergueu os polegares, parecendo levemente infantil, o que quebrava sua aparência elegante, antes de estender sua mão direita.

 “Sou Kim MinGyu, e você?”, apresentou-se, e JiHoon apertou sua mão com cautela, curvando-se levemente e respirando fundo antes de dizer.

 “Lee JiHoon”, respondeu em mesmo tom, soltando sua mão e percebendo o quanto sua mão era pequena comparada a dele, e quantos tons a mais de branco ele tinha em comparação ao outro.

 “Legal”, disse o Kim, lhe dando uma rápida piscadela antes de se virar para a frente quando o professor adentrou na sala.

 JiHoon lançou um último olhar para ele, analisando-o, perguntando-se se aquilo era uma ação comum, e abriu seu caderno para começar a anotar tudo. Era estranho ele lhe chamar para fazer parte do projeto, mas ao menos ele já havia arranjado alguém, e aquilo o deixava radiante. Tentou ver o lado bom daquilo enquanto o professor introduzia-os ao trabalho.

 

*

 

                Saiu da sala acompanhado de MinGyu, que lhe pediu seu número, e saiu apressado, alegando que tinha alguma coisa para fazer e que não poderia discutir sobre o trabalho naquele instante, e o baixinho apenas assentiu, antes de olhar para a tela de seu celular. Agora tinha mais dois números em sua agenda, e ao checá-la, se surpreendeu com o quanto aquilo era estranho.

 Tinha apenas quatro contatos antes e, com mais aqueles dois, sentia-se diferente. Era como se sua vida estivesse avançando, e ele perguntou-se se era normal ter tão poucos contatos naquela idade. Tentou manter sua visão positiva, e lembrou-se de ser grato ao Yoon e ao Boo, porque internamente, ele sabia que só estava melhorando devido a ajuda deles e sua compreensão.

 Seguiu para o elevador, onde o pegou junto de vários alunos, o que o fez ser espremido em um canto e ser o último a deixar o local com um suspiro aliviado. Mal saiu e já ouviu seu nome, o que o fez se virar, vendo Joshua e JeongHan se aproximarem animados, mantendo sorrisos largos. Eles o abraçaram sem permissão, envolvendo-o com um carinho estranho, que o fez sorrir e retribuir minimamente, sentindo seu coração se esquentar.

 “Bom dia hyungs”, disse formalmente enquanto era solto, e JeongHan segurou seu rosto com as mãos, analisando-o cuidadosamente, como se procurasse algum traço de que ele não estivesse bem, e ajeitou sua franja quando se deu por convencido.

 “Bom dia JiHoonie, como está?”, perguntou o Yoon suavemente, com seus lábios se curvando em um sorriso doce, e finalmente soltando seu rosto.

 “Bom dia JiHoon”, falou o Hong com as mãos atrás de seu corpo, analisando-o também com certa curiosidade, parecendo animado em apenas estar ali.

 “Bem”, respondeu curto como sempre, e viu JeongHan se afastar e tocar em seu pulso, segurando-o gentilmente para guia-lo à algum lugar.

 O Lee apenas o seguiu, sem ter muitas opções, com JiSoo ao seu lado, acompanhando-o e perguntando sobre sua aula, sendo atencioso até demais, e o baixinho perguntou-se o porque dele lhe tratar assim. Porém, parou de suspeitar do outro ao saíram do prédio e irem em direção ao de exatas, onde tinha o refeitório. Eles logo entraram na fila imensa, e JeongHan começou a contar algumas coisas aleatórias sobre a faculdade, apenas para entreter o mais novo.

 JiHoon continuou prestando atenção até chegar sua vez na fila, onde pediu apenas uma lata de refrigerante, visto que não tinha fome alguma, mas aquele açúcar lhe ajudaria nas próximas aulas, lhe deixaria elétrico e ativo. Joshua continuou puxando conversa com ele, e o Yoon insistia em querer dar comida a ele na boca, o que era levemente incomodo, mas acabou cedendo apenas para que parasse.

 Pensou ao final que, eles pareciam amigos de certa forma, e perguntou-se se amigos faziam aquele tipo de coisa.  Era estranho ter pensar sobre isto, mas como era um novato naquela área, ele tinha medo de fazer qualquer coisa errada. Conteve-se em apenas assentir e forçar sorrisos, sentindo-se aos pouquinhos sendo cada vez mais preenchido.

 

*

 

                Saiu no horário de sempre, com certa pressa, e seguiu direto para o ponto, onde pretendia pegar o ônibus rápido e chegar logo ao mercado, querendo ser o primeiro, para que assim que SeungKwan visse as compras já feitas, não quisesse mais sair. Poderia soar levemente egoísta, porém não queria dar mais trabalho para ele. Ainda tinha aquele sentimento de dívida com o mais novo, e sabia que seu coração não ficaria em paz se não o retribuísse da mesma forma.

 Entrou no mercado como antes, e fez um tour rápido, pegando tudo que achou necessário, sem perder muito tempo escolhendo, visto que tinha de voltar rápido se quisesse impedir o Boo, vendo apenas o menor preço – já que poupar dinheiro para a faculdade era o seu único objetivo naquele semestre – e enchendo sua cesta mais rápido do que o normal. Bufou ao sentir o peso, usando suas duas mãozinhas para carregar até o caixa e pagou com certo pesar, sentindo que deveria parar de gastar seu dinheiro em cafés ou no refeitório, ou em pouco tempo acabaria, e ele não queria dar trabalho para seus pais tão cedo.

 Não mais do que já havia dado e preocupado.

 Conseguiu dividir o peso em duas sacolas, e fora a passos lentos para sua casa, visto que havia peso demais para que conseguisse manter a velocidade normal. Esperava chegar a tempo de interceptar SeungKwan, e não desanimou até chegar a sua porta, onde a abriu e viu o Boo amarrando seus tênis no sofá, cantarolando baixinho com a Tv ligada.

 Assim que o mais novo viu que ele havia feito as compras, arregalou os olhos e abriu a boca surpreso, se levantando e o ajudando a levar para a cozinha – desnecessário, mas o Lee aceitou, já que o peso causava pequenas marcas vermelhas onde as alças da sacola estavam em seu braço.

 “Aigoo hyung, eu disse que podia deixar comigo!”, reclamou o mais novo fazendo bico, enquanto colocava a sacola na mesa e a abria, para ver o que tinha.

 O mais baixo apenas deu de ombros, ignorando sua reclamação e fazendo o mesmo, antes de começar a separar tudo por tipos. SeungKwan juntou o que iria para o armário, e guardou ainda resmungando baixinho, enquanto o mais velho se encarregava de arrumar a geladeira e arranjar espaço, visto que a mesma era pequena até demais para duas pessoas.

 Não trocaram palavras enquanto estavam ali, porém o clima mantinha-se amistoso, o que alegrava o Boo. Não o conhecia direito, não sabia nada sobre seu passado, suas motivações e nem sobre aquela pessoa misteriosa, mas, sabia que ele estava melhorando – ao menos do que era há alguns dias – e esperava ser o responsável por aquilo. Talvez ter pedido a ajuda de JeongHan tenha sido efetivo, e sua melhor escolha até então.

 “Ah, hyung, que horas o Han hyung vem te pegar?”, perguntou SeungKwan curioso, quando viu o Lee se retirando para o seu quarto a passos lentos. O baixinho parou, e o encarou sem entender, pendendo sua cabeça para o lado, até se lembrar e sorrir, parecendo animado apenas com a ideia da festa.

 “Oito horas”, respondeu, e fez uma pequena reverência antes de se retirar de vez, deixando o mais novo ali, o invejando por poder sair e ele não.

 

*

 

                Como de costume ele estudou pela tarde toda, revisando a matéria e estudando o que podia para adiantar, além de fazer uma breve pesquisa dos temas de seu trabalho, mas não conseguia pensar em nada para o tema, e resolveu que perguntaria para o Kim depois, para saber o que ele gostava e chegar a um acordo.

 O tempo passou voando, e às seis horas JeongHan lhe mandou uma mensagem, fazendo seu celular vibrar e tocar um trecho de Love More, o que o assustou a princípio. Fazia tanto tempo que não ouvia aquilo que seu coração disparou em expectativa, e uma sensação estranha lhe domou, quase como uma nostalgia, lembrando-se de que amava aquela música e principalmente quando esta tocava vinda de seu celular, alertando-lhe que ele havia lhe respondido.

 Mas como sempre, não fora ele quem respondeu, o que o desanimou – embora fosse estúpido ainda esperar por uma resposta – e ele abriu a mensagem do Yoon. Era curta e simples, apenas um alerta para que não se esquecesse da festa e começasse a se arrumar como a ‘gracinha’ que era, o que o fez franzir o cenho e seus lábios se unirem e se comprimirem em um bico fofo.

 Definitivamente não seria fofo naquela noite.

 Respondeu apenas que não se esqueceu – mentindo, visto que estava tão absorto nos estudos que nem viu a hora passar – e se levantou, deixando o aparelho na cama e indo escolher suas roupas.

 Abriu as gavetas de roupas coloridas, e franziu o cenho novamente. Não queria nada daquilo, pretendia mudar um pouco o estilo moletom e shorts – mesmo que no dia anterior tenha mudado levemente – e optou por uma camisa totalmente branca, e uma calça jeans escura, junto de um casaco ao estilo de futebol americano, combinando com o tom da peça inferior, e seguiu para o banheiro confiante.

 Sentia que estava aos poucos se rebelando do estilo que lhe fora moldado, e pensava que estava avançando em direção a algo melhor – embora não soubesse exatamente o que.

 Pendurou as roupas no cabide da porta, e trancou a mesma após pegar uma toalha limpa. Retirou suas vestes devagar, e tomou um banho longo e relaxante, para poder vestir-se apropriadamente. Enquanto colocava o casaco, ele se lembrou que fora o último presente que ganhou do Kwon.

 Mordeu o lábio inferior com o pensamento, e balançou a cabeça, não querendo pensar nele. Aquele dia não pensaria nele e o esqueceria completamente após a festa. Estava decidido a mudar seus pensamentos, visto que sua vida mudara tanto em apenas dois dias. JeongHan e SeungKwan o ajudavam tanto, e ele não poderia apenas ser ajudado, tinha de mudar, ou seria em vão – e também não queria decepcioná-los, como fizera com seus pais.

 Por isso se olhou no espelho com outros olhos.

 Não seria o baixinho, muito menos o fofo, seria um homem. Arrumou seu cabelo diferente do normal, jogando-o para trás, sabendo que não duraria muito tempo aquele penteado, mas ficaria com a franja dividida ao meio, diferente do usual – ao menos era isso que esperava.

 Saiu do banheiro levemente mais confiante, constando que havia se passado apenas meia hora e que não sabia o que deveria fazer. Sentia seu interior borbulhar de expectativas – e era estranho, já que nunca participou de nada parecido antes – e viu-se procurando o mais novo, que estava na cozinha, com um livro aberto, mas riscando-o sem interesse algum, como se sua lição fosse ser feita magicamente apenas com aquilo.

 JiHoon se aproximou curioso, e se sentou ao seu lado com cuidado, vendo-o erguer o olhar e suspirar, deixando o lápis cair sobre as páginas cheias de perguntas a serem respondidas, e deixando sua testa bater na mesma, o que seria engraçado, se o ar dali não estivesse pesado.

 “Está bem?”, perguntou o Lee receoso, ouvindo um gemido no lugar de uma resposta, o que o fez pender a cabeça para o lado, sem entender. “Precisa de ajuda?

 “Preciso”, respondeu ele, erguendo o rosto e lhe lançando um olhar cansado, como se já tivesse desistido de sua vida e principalmente daquelas questões.

 “Eu posso te ajudar”, sugeriu, puxando a cadeira para mais perto, e os olhos do mais novo cintilaram ao ouvir a palavra ajuda.

 “Mesmo? Mesmo? Então veja isso aqui!”, disse já puxando seu livro e apontando para uma questão que havia consumido metade de sua vida, em seus pensamentos, claro.

 JiHoon sorriu para ele, e o ajudou na próxima hora, sentindo uma certa nostalgia lhe bater, e forçou-se a por de lado aquele sentimento novamente. Estava indo tão bem, para que pensar nele?

 Passou-se tão rápido que apenas a mensagem do Yoon o fez perceber o horário, e enquanto respondia que já estava pronto, o Boo lhe analisava, abrindo um sorriso travesso.

 “Hyung, você certamente irá arrasar lá”, comentou SeungKwan ao final de sua análise, erguendo o polegar para ele, tentando encorajá-lo. “Aposto que não vai ter pra ninguém”, completou, vendo o baixinho sorrir de canto, levemente envergonhado, mas sentindo sua autoestima melhorar com aquele elogio.

 “Obrigado”, disse sentindo-se corar, levando uma mão à boca. “Eu realmente não sabia se estava bem para uma festa, nunca participei de uma, na verdade”, aliviou-se ao contar aquilo para o mais novo, que arregalou os olhos e riu em seguida.

 “Apenas relaxe e se divirta! Tenho certeza que JiSoo hyung será uma ótima companhia para você, caso não arranje ninguém lá”, afirmou o mais alto, e o outro franziu o cenho, sem entender.

 “Arranjar... Alguém?”, perguntou receoso, vendo-o assentir. “Eu não quero arranjar alguém...”, murmurou inseguro, sentindo seu coração se apertar só com a possibilidade. Seu sorriso desmanchou, e a incerteza surgiu em seu coração.

 “Nã-não foi isso que eu quis dizer!”, corrigiu-se rapidamente, vendo a expressão do outro murchar cada vez mais. “Aish, esqueça isso e se divirta, sim? Dance por mim!”, completou, levando suas mãos até as pequeninas, as segurando e tentando passar conforto.

 JiHoon sorriu minimamente e assentiu, sentindo seu coração ficar instável novamente. O Boo suspirou aliviado, pensando na besteira que fizera, e alisou a mão alheia com as suas, antes de ouvir o celular do Lee vibrar novamente. Desta vez era uma mensagem do Kim, perguntando se ele iria a festa e se possível, se encontrarem lá.

 Achou estranho a pergunta mas, como eram colegas de sala – e agora grupo – deveria ser normal. Embora não soubesse o que se conversavam em festas.

 O menor respondeu que sim, e deixou vago se se encontrariam ou não, visto que não sabia as proporções do local, nem se conseguiria encontra-lo se fosse tão lotado quanto sua faculdade. SeungKwan olhou a mensagem curioso por cima do ombro do mais baixo, e ao mesmo tempo orgulhoso dele. Mesmo que não o conhecesse direito, ele sentia-se quase como se fosse o pai do baixinho, e a cada amigo que ele fazia, ele se sentia melhor, quase que realizado.

 Talvez conseguisse puxá-lo para fora da escuridão profunda em que JiHoon estava mergulhado.

 Enrolaram mais algum tempo na cozinha, até ouvirem a buzina do lado de fora, e o mais velho se levantar assustado, checando a hora e constando que havia passado cinco minutos do horário combinado.

 Despediu-se rapidamente do mais novo, e saiu apressado, deparando-se com um carro sedan prateado, e o rosto de JiSoo no copiloto, chamando-o para se juntar a eles da janela. Abriu um sorriso automático, esquecendo-se por completo de suas preocupações, e adentrando feliz ali. Cumprimentou a todos enquanto se acomodava e colocava o cinto, antes de ver que WonWoo, que não usava nenhum, muito menos o Hong, o que o fez duvidar deles.

 Eles não sabiam que era perigoso ficar sem cinto?

 Porém se esqueceu assim que o  Yoon voltou a aumentar o rádio enquanto manobrava o carro, rumo a festa. Eles ainda iriam buscar o Wen, por isso o Lee permaneceu curioso, tentando decorar o caminho para a casa do mesmo.

 

*

 

                JunHui se juntou a eles após se despedir de sua omma com um aceno e um beijo carinhoso, dizendo algo em outra língua que fez o baixinho duvidar de sua nacionalidade. Pulou para o lado assim que o mesmo abriu a porta, roçando seu braço no de Jeon e sentindo-se tímido, porém ainda assim sorriu para o recém chegado.

 “Prontos para o melhor dia da minha vida?”, perguntou o Wen com um sorriso largo, passando o braço pelo ombro do Lee, como se fossem amigos próximos, e o baixinho assentiu, rindo e alargando o sorriso.

 JeongHan riu também, antes de voltar a acelerar o carro. JiHoon se incomodou com o fato do banco do meio não ter cinto, mas, logo esqueceu-se, quando o chinês – que descobriu naquele instante só que ele era de fato estrangeiro – começou a tirar fotos de todos e dele mesmo.

 Fora a primeira vez que tirou fotos com alguém que não fosse ele, e o Lee sentiu seu coração bater forte de excitação. Realmente aquela noite prometia.

 

*

 

                Chegaram após meia hora do início da festa, e ainda não havia muita gente ali, o que fez JiHoon se sentir melhor, e mais a vontade. JeongHan fora logo puxando-o pelo pulso, alegando que arranjaria o melhor lugar para eles, e JiSoo apenas ria, seguindo os dois. Eles arranjaram uma mesa redonda, encostada a parede, onde um banco enorme a acompanhava, com estofado e de tom rubro, parecendo extremamente confortável.

 JunHui se sentou primeiro, e pulou para o lado para dar espaço, enquanto os outros se acomodavam. O Lee ficou na ponta, sentindo-se estranho em estar em um lugar tão diferente. As luzes eram coloridas, mas ao mesmo tempo o local era escuro, e estava levemente frio, porém o Yoon o alertou que logo a temperatura aumentaria, pois teria mais gente do que o ar-condicionado daria conta.

 JiHoon comprimiu os lábios quando algumas pessoas passaram encarando-os e rindo, e o chinês se animou, já pedindo licença e se levantando afobado. Joshua riu alto de sua reação, e JeongHan começou a incentivá-lo a ir atrás deles.

 “Não quero ir sozinho”, falou o Wen, lançando um olhar para o baixinho, que se negou, sentindo suas bochechas esquentarem.

 “Vai Wonu com ele!”, sugeriu o Yoon, já empurrando o moreno para fora do banco, e o mesmo apenas bufou, antes de acompanhar, sem reclamar, o mesmo.

 O Lee ficou vendo-os sumir, enquanto JeongHan digitava algo em seu celular. JiSoo lançava olhares para os lados, como se procurasse alguém, e JiHoon perguntou-se o que faria naquele instante.

 “Bem, Cheollie vai demorar, então, que tal irmos pegar as primeiras bebidas JiHoonie?”, perguntou o Yoon após alguns segundos digitando, e o baixinho rapidamente assentiu, levantando-se junto do maior. “Já voltamos JiSoonie, não deixe ninguém te atacar enquanto estivermos fora”, seu tom era de brincadeira, e o Hong riu, antes de assentir e erguer os dois polegares.

 JeongHan pegou em seu pulso primeiramente, depois o colocou a sua frente, como se quisesse ter certeza de que o mesmo não fugiria, guiando-o por alguns minutos, até uma recente fila, e o Lee encarou curioso a prateleira de garrafas do outro lado do balcão. Nunca havia visto nada igual, e notou que não sabia o nome de nenhuma bebida.

 “Você não bebe, né?”, perguntou o maior, vendo-o balançar a cabeça em negação, e sorriu gentil. “Então vamos pegar leve com você”, disse, lhe dando uma piscadela que o fez pender a cabeça para o lado, sem entender.

 A fila andou mais rápido do que o mais novo esperava, e logo o Yoon estava apoiado no balcão, com um sorriso largo, e o baixinho ao seu lado, sem entender nada do que ele dizia, apenas vendo em seguida as latas serem depositadas no balcão, junto de uma garrafa.

 “Pode levar pra mim?”, perguntou JeongHan esticando algumas latinhas, e o mais baixo assentiu, pegando quantas conseguia e se afastando, sentindo-as frias contra sua pele.

 Seguiu na frente como antes, vez ou outra desviando de alguém, até chegar a mesa e despejá-las ali, sentando-se em seguida e vendo o maior fazer o mesmo. Joshua sorriu ao ver as latinhas, e puxou uma rapidamente para si, abrindo-a no mesmo instante.

 “Prove uma JiHoon-ah”, pediu o Hong, empurrando uma para o baixinho.

 JeongHan sorriu para ele, e se sentou, puxando uma para si também, e a abrindo em velocidade maior que a de JiSoo. O Lee encarou a latinha com certa suspeita, visto que nunca havia nem sequer chego perto de uma, e não fazia a mínima ideia do gosto.

 Abriu com certa cautela, como se tivesse medo da mesma explodir ao seu toque, e levou aos lábios receoso, sentindo seu cheiro primeiro, antes de torcer o nariz. O Yoon riu alto de sua expressão, e o Hong apenas o incentivou a tomar rápido.

 Foi assim que o fez. Fechou os olhos, e deixou-se levar pela adrenalina do momento.

 

*

 

                Não fora tão ruim, e após o quinto gole, tornou-se mais fácil, mas não menos amargo. Naquele instante JeongHan já havia sumido com seu namorado, e Joshua havia ido ao banheiro – onde demorou a eternidade, por assim dizer.

 Estava começando a se sentir sozinho, e aquele lugar não parava de encher, cada segundo a mais e uma nova pessoa brotava, e o Lee perguntou-se quantas caberiam ali. Checou seu celular apenas para passar o tempo, vendo a mensagem do Kim, lhe avisando que se atrasaria, e guardou o aparelho no bolso quando o estofado balançou. Ergueu o rosto para ver que era o Jeon, agora levemente descabelado e com marcas visivelmente vermelhas em seu pescoço, o que fez o baixinho estremecer.

 “Vim pegar umas”, falou ele indiferente ao olhar surpreso do mais velho, e fora pegando algumas latinhas, e se levantou com dificuldade – o que mostrava que ele já tinha bebido um pouco.

 Ele olhou para os lados, como se procurasse por alguém, e abriu um meio sorriso, antes de lembrar-se de JiHoon, que encarava a sua segunda latinha, indagando-se se deveria beber mais ou parar.

 “Vá se divertir quando Shua hyung voltar”, sugeriu WonWoo, pela primeira vez demonstrando alguma emoção além de sua expressão séria de sempre, o que fez o baixinho corar levemente e assentir, surpreso novamente com aquele novo lado do maior.

 O outro assentiu, antes de balançar a cabeça, em direção ao lugar onde as luzes eram mais fortes e as pessoas estavam mais concentradas.

 “Venha dançar comigo, se quiser, depois”, disse em um meio convite, e se retirou antes que o Lee pudesse responder.

 JiHoon encarou as pessoas, o rastro do Jeon, sua latinha, e bebeu novamente, sentindo que precisava de uma dose de coragem para continuar.

 

*

 

                JiHoon fizera como WonWoo sugeriu, e finalmente tomou coragem para ir até a pista de dança, contrariando todos os seus instintos de proteção e seus receios.

 A cerveja ainda descia raspando por sua garganta enquanto se levantava e deixava a latinha aos cuidados de JiSoo, que era o único na mesa. Perguntou a ele se tinha algum problema em deixa-lo sozinho, e o mesmo alegou que não, visto que já esperava por alguém.

 Sentiu-se melhor com aquela afirmação, e respirou fundo, sentindo o ar abafado dali lhe consumir, antes de se embrenhar entre as pessoas daquela balada. A maioria se vestia da mesma forma do que ele ou pior, o que o deixava mais tranquilo sobre sua aparência, e levemente mais confiante de que não parecia um estranho em meio a tantos adolescentes e jovens adultos.

 Se incomodou um pouco com a falta de espaço, entretanto, conseguiu chegar a pista de dança – ou o local que deveria ser, porém a festa toda já era uma –, e parou por alguns instantes, concentrando-se na música. Não sabia como aquilo funcionava, mas se deixou levar pelas batidas eletrônicas, primeiro balançando seu corpo conforme as pulsações, e em seguida ele se entregou.

 Não soube quanto tempo perdeu ali, sentindo-se livre de certa forma.

 O álcool já deveria ter subido a sua cabeça, pois sentia-se inexplicavelmente leve, e nem se importava mais se alguém passava a mão por seu corpo, o que era estranho, visto que não gostava muito de contato de estranhos.

 Durante a dança ele fora encontrado pelo Kim, que sorriu para ele e se aproximou sinuoso, mas sem tocar no mesmo. Era quase uma brincadeira para o mais alto, e ele riu ao ver o baixinho corar, subitamente tímido na presença de alguém que conhecia, mas ainda assim dançou um pouco com ele.

 MinGyu tentou puxar conversa com ele, praticamente gritando em seu ouvido, porém a música estava tão alta que ele desistiu, e curtiu mais um pouco ali, antes de algo lhe chamar atenção e fazê-lo tomar um rumo diferente para os banheiros, deixando o jovem Lee, ainda embalado na música e sem prestar muita atenção no mesmo.

 Quando começou a sentir seus pés doerem, junto das batatas de sua perna e o suor se fazer presente em sua testa, resolveu que estava na hora de descansar um pouco, ou não aguentaria por muito tempo – seja lá quanto tempo fosse que desperdiçaria ali.

 Voltou a sua mesa encontrando apenas JunHui ali, que bebia uma lata de soju parecendo desanimado. Mas mesmo assim ele sorriu largo para o mais novo, e o convidou a se sentar, totalmente embriagado. O Lee riu de sua expressão engraçada, e pegou uma latinha para experimentar agora aquela nova bebida.

 “Droga”, murmurou o Wen arrastado, erguendo o braço e apontando para algum lugar ao seu lado esquerdo. “Até o Shua hyung tá pegando alguém, e eu aqui, com o nada e o ninguém”, reclamou com um bico dramático, deixando sua lata sobre a mesa com certa força, fazendo o baixinho rir de suas ações.

 “Não era o seu dia hyung?”, provocou JiHoon em um tom que achou que nunca usaria em sua vida, totalmente fora de si, e o outro riu, antes de balançar a cabeça e se apoiar no encosto do estofado.

 “Tenho que cuidar da mesa até outra pessoa aparecer”, explicou, erguendo o braço e gesticulando. “JeongHan vai me matar se souber que perdemos a mesa”, completou, voltando a ficar ereto.

 “Eu posso ficar no seu lugar Jun hyung”, sugeriu o Lee, deixando sua lata vazia sobre a mesa, e fechando os olhos com o gosto amargo da mesma que descia em sua garganta.

 “Não, não, você é neutro hoje JiHoon”, explicou o chinês levemente desafinado, e gesticulou para que ele partisse. “Vai lá aproveitar sua primeira balada!”, falou quase gritando e o baixinho riu, assentindo.

 Por algum motivo estava rindo mais que o normal, e concordando com tudo fácil demais. Estava gostando daquele novo JiHoon.

Levantou-se levemente tonto, mas ainda sóbrio o suficiente para dançar por mais algum tempo, e refez seu caminho após acenar e agradecer ao Wen de forma exagerada.

 Não conseguiu ficar onde queria, mas estava confortável ali. Voltou a sentir as batidas ecoarem em sua mente e induzirem seu corpo a outra dança. Deixou-se levar por um bom tempo de olhos fechados, mantendo um sorriso sereno nos lábios, sentindo-se extremamente bem e leve.

 Porém algo lhe chamou a atenção.

 Não algo, as pessoas em si, pois elas começaram a se mover, como se dessem espaço para algo ou alguém, esbarrando no baixinho, e o Lee não pode deixar de perceber. Ele inconscientemente se aventurou ali, com a curiosidade aguçada devido ao álcool, e logo se arrependeu.

 Seus olhinhos passaram pelas pessoas, antes de se fixar naquela que estava ao centro da recente roda, e que se movia com maestria, com leveza, com algo a mais que o diferenciava de todos ali presentes.

 Entretanto, o que mais lhe diferenciou e se destacou aos seus olhos foram o tom de seu cabelo, que agora estava azul. Era um tom forte e quase brilhante, que fez os olhos do Lee se fixarem magicamente, quase como se estivessem atraídos por ele, e de fato deveria estar.

 Porque não era ninguém além de Kwon SoonYoung.

 Aquela certeza o fez estremecer, e seus olhos se encheram de lágrimas automáticas, mas com níveis piores do que as outras vezes.

 Talvez fosse o álcool em seu sangue, ou talvez fosse o fato de que estava vendo-o depois de tanto tempo. Ou a mistura dos dois, o que era mais provável.

 Incrivelmente ele não parecia ter mudado nem um pouco. Não tinha as olheiras de JiHoon, não tinha a expressão cansada que ele esperava que tivesse, e principalmente, ele parecia extremamente bem, de uma forma que o Lee não estava há tanto tempo, o que fez seu coraçãozinho se apertar.

 Ele estava tão bem sem ele, diferente de JiHoon que estão tão vazio.

 Ele tinha um sorriso tão brilhante, diferente da dor que o baixinho sentia em seu peito.

 Ele estava tão feliz, enquanto o Lee se via cada vez mais ao fundo do poço.

 Sentiu-se tão tolo naquele momento, enquanto seus olhos lhe traíam e percorriam todo seu corpo, com uma mistura de curiosidade, mágoa, tristeza, e ainda assim, no fundo, ainda estava admirando-o, desejando-o como antes. Porque droga, ele ainda o amava acima de tudo.

 Acima de qualquer coisa que fazia sentido.

 Suas roupas estavam ironicamente iguais, tirando o fato da calça de SoonYoung ter os joelhos rasgados, e ele usasse tênis ao invés das botas do baixinho, e aquilo o fez soluçar.

 Achou que estava mudando, mas no final ainda estava seguindo os padrões estabelecidos pelo Kwon. Por mais que tentasse ou que achasse estar mudando, se descobriu em uma rotatória, onde todas as direções davam nele.

 Sentiu-se mais patético do que nunca, e seus pés fraquejaram. Deu alguns passos incertos para trás, sentindo que já havia visto até demais para o seu coração aguentar.

 Ele estava se quebrando tanto naquele instante, que vê-lo por mais tempo acabaria consigo.

 Porém, não fora rápido o suficiente, pois ainda teve tempo de ver as pessoas em torno do rapaz. Antes elas apenas o admiravam mover-se, agora elas voltavam a se enroscar nele, de formas sensuais, provocadoras, e uma até lhe roubou um beijo ardente, que foi correspondido da mesma forma.

 O que o fez soltar um gemido baixinho, e definitivamente cair ao chão, perdido.

 Algumas pessoas desviaram dele, como se não fosse nada a não ser mais um bêbado naquele local, enquanto o Lee tentava recolher o que quer que tivesse sobrado de si.

 Estava tão acabado, tão perdido, que mal percebia as pessoas ao seu redor, a música, o ar abafado.

 Sua mente girava em torno do Kwon, e as lágrimas dominavam sua vista, a desfocando e fazendo-o perder-se mais dentro de si. Dentro daquele caos e sombras que estava o seu coração.

 Era para ser o seu melhor dia.

 O melhor.

 Fora como se todos os seus esforços para esquecê-lo fossem em vão, e ele se viu voltando a memórias distantes e que apenas o feriram cada vez mais. Era quase como se SoonYoung o puxasse de volta sempre que tentava se afastar demais, e aquilo feria mais do que facas em seu coração.

 Ele se forçou a levantar, de cabeça baixa, não querendo permanecer mais nenhum segundo naquele terrível lugar, não querendo presenciar mais nada que pudesse destruí-lo ainda mais, e correu – fugiu – para a saída.

 Abriu as portas com tudo ignorando os seguranças, os gritos de alguém atrás de si, e se pôs a correr sem rumo dali.

 

*

 

                Braços quentes e cheirosos lhe envolveram, lhe o impediram de avançar perigosamente pela rua, mas ironicamente fazendo-o parar no meio desta, com as luzes dos carros sobre si, e as buzinas queimando-o como se fosse uma praga.

 Suas lágrimas caíam intensamente, sem dar indicio de parada, e o baixinho se encolhia, tentando fugir, e ao mesmo tempo não querendo. Era reconfortante, era quase como uma ligação, um fio que o forçava a tornar-se estável, mas não ocorreu.

 As mãos suaves tocaram seu corpo pequeno, o envolveram com força, e mesmo que JiHoon não lhe tenha respondido nenhuma de suas perguntas, o Yoon ainda quis confortá-lo, aliviá-lo, seja lá do que ele estivesse sofrendo.

 O Lee parecia tão perdido, tão quebrado, que o maior sentia que devia ajuda-lo, mesmo que soubesse que nunca conseguiria consertá-lo.

 O mesmo não o abraçou, porém um gemido arrastado e profundamente doloroso escapou de seus lábios finos, compartilhando com ele, mesmo que de forma não coerente ou clara, seus sentimentos, e JeongHan sentiu, no fundo de sua alma, a mesma dor.

 SeungCheol os alcançou algum tempo depois, com os carros desistindo de buzinarem e começando a contornar seus corpos, mas não poupando os xingamentos. O Yoon cobriu as orelhas do menor, querendo protege-lo de definitivamente tudo, mesmo que o baixinho estivesse alheio demais a tudo a sua volta, que nem percebera o perigo enquanto corria.

 O Choi não soube o que fazer diante daquela situação, apenas obedeceu a voz rouca de JeongHan, e fora atrás de JiSoo, em busca das chaves de seu carro. JiHoon deixou-se ser guiado, embora as lágrimas lhe impedissem de ver e sua mente não conseguisse assimilar as informações, ele apenas se deixou ir.

 Não que já não tivesse partido.

 Ele sentia como se seus sentimentos bons fossem embora, aos pouquinhos, deixando-o apenas naquele caos todo que era a sua mente.

 

*

 

                Não soube como fora parar ali, e pouco lhe importou, de fato.

 Abraçou suas perninhas assim que se viu em um lugar estranho, mas ainda assim seu corpo estava quente, como se tivesse sido cuidado, o que de fato deveria ter acontecido.

 Uma leve dor de cabeça surgiu, e ele voltou a fechar seus olhinhos doloridos, lembrando-se vagamente da noite anterior. Algo dentro de si gritava que havia algo errado, mas não se lembrava exatamente do que.

 Puxou a coberta sobre seu corpo, envolvendo sua cabeça, e voltou a abrir os olhos, arregalando-os ao se lembrar.

 Lembrou-se do corpo sensual do Kwon, em seus movimentos precisos e ao mesmo tempo tão espontâneos. Seu sorriso estava marcado como fogo em sua mente, e os seus olhos que mostravam uma alegria diferente lhe incomodaram.

 Porque não se lembrava de tê-lo visto com aquele olhar antes.

 Mas por que estava pensando nisso? Nele?

 As lágrimas voltaram a surgir, e transbordaram seu aviso prévio, levando embora seus sentimentos. Sentia que cada vez que chorava, perdia algo dentro de si, e o buraco tornava-se cada vez maior, mais fundo, mais sombrio, mais vazio.

 Ele estava se tornando vazio.

 Não ouviu o som da porta se abrindo, apenas sentiu a mão sobre suas costas, não o toque direto, visto que ainda estava coberto, mas sim o calor, que o fez se arrepiar com o susto e se encolher mais. Por mais que fosse caloroso, gentil, amável e principalmente, cheio de boas intenções, ele o negou avidamente, retesando-se completamente e desejando que a pessoa fosse embora.

 “JiHoonie, está acordado?”, sua voz saíra tão doce e suave, que era como seda aos seus ouvidos.

 Mas nada saiu de seus lábios frios.

 O Yoon insistiu um pouco ali, fazendo carícias quentinhas em suas costas, mantendo seu sorriso preocupado, se esforçando ao máximo para ajudar, recebendo o nada, e a ignorância em troca. Queria tanto entender o menor.

 Desistiu após um tempo, vendo que nada lhe faria se abrir, que talvez não conseguisse chegar ao seu coração. Levantou-se suavemente, passando sua mão pelo que seria a cabeça dele, fazendo uma singela carícia, antes de se afastar.

 “Venha comer quando sentir fome, sim?”, disse em mesmo tom, não querendo deixar que sua preocupação se fizesse presente, mas não podendo se controlar.

 Segurou a porta e fechou-a devagar, porém ainda ficou esperando, vendo se ele se mexeria, se pediria por ajuda, e desistiu ao ver que não mudaria nem de posição.

 Um suspiro pesado escapou de seus lábios finos e calorosos, e fechou a porta após alguns segundos.

 O Lee relaxou ao perceber-se sozinho, e as lágrimas voltaram a fluir, devastadoras como sempre. Não pode deixar de pensar nele, e lembrar-se dele, o que fez tudo piorar e ruir, mas, por que se controlar quando estava tão perdido assim?

 

*

 

                Não soube por quanto tempo ficou enrolando ali, tentando controlar sua respiração, engolindo seus soluços e tentando manter-se quieto. O silêncio era incômodo, e ele quis estar em sua casa, onde o barulho de sua mãe na cozinha o tranquilizaria.

 Encarou suas mãos frias, abrindo e fechando-as algumas vezes como se testasse para saber se ainda estava vivo ou não. Fechou os olhos com aquele pensamento, e rolou pela cama, até poder encarar o teto branco. Seus pensamentos estavam mais coerentes agora, e a dor de cabeça parecia amenizar conforme o tempo passava.

 Sentiu uma corrente de ar gélido passar por seu corpo, e focou seus olhos na janela parcialmente aberta, onde o sol já estava alto. Concluiu que já havia se passado inúmeras horas desde a festa e, perguntou-se de quem era o apartamento. As nuvens pareciam passar perto demais para ser apenas uma casa.

 Forçou sua memória, mas nada além de SoonYoung lhe vinha a mente, e ele se martirizava por isso. Devia ser culpa do álcool, e jurou que nunca mais beberia, para não se esquecer de coisas importantes assim.

 Lembrar-se dele novamente fez uma estranha sensação surgir em seu interior, e espalhar-se como uma corrente elétrica por seu corpo, fazendo-o virar de lado e se encolher novamente. Uma lágrima silenciosa escorreu, e o Lee sentiu-se cansado. Seus olhos ardiam de tanto chorar, assim como sua garganta que arranhava a cada respiração, e seu peito que doíam intensamente. Levou suas mãozinhas até ali, pressionando-o com certa força, como se fosse controlar a dor apenas com aquilo.

 Queria apenas esquecer. Céus, como poderia ser tão difícil assim esquecer alguém?

 Tinha de conseguir, visto que o próprio Kwon já o havia esquecido.

 Comprimiu os lábios com o pensamento, e sentiu-se traído de todas as formas.

 Tanto por si mesmo, que ficara ali, olhando SoonYoung quando jurou que não faria mais, quanto pelo rapaz que no fundo, bem no fundo de seu coração, ele ainda esperava que fosse voltar para ele. Era algo estúpido de se pensar, porém fora o que mais desejou nos últimos meses, e se arrependeu amargamente por aquilo.

 Sua ilusão chegava a números absurdos.

 Por fim deixou-se levar pela exaustão, adormecendo novamente pensando nele.

 

*

 

                Acordou após boas horas, com a lua já no alto do céu.

 A primeira coisa que fez fora levar sua mão ao coração e senti-lo pulsando, ainda. Sentia seu corpo suado, e passou a mão livre por seu cabelo, sentindo-o emaranhado e sujo. Precisava de um banho, e precisava ingerir alguma coisa, embora não tivesse fome alguma.

 Levantou-se preguiçosamente, sentindo-se subitamente fraco, mas se forçou até a porta, onde a abriu com cuidado, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Sua cabeça girava, e ele teve de ficar parado por alguns instantes até se sentir bem o suficiente para andar.

 A sala era extremamente espaçosa, e a televisão estava ligada, sintonizada em um filme antigo. O rapaz se esgueirou pela beirada, para ver quem estava ali, e avistou apenas JeongHan enrolado em uma coberta, deitado no sofá, em um sono profundo. Imaginou que o apartamento fosse dele, e seguiu pela cozinha com cautela, e fora direto para a geladeira.

 Ao abri-la, percebeu o quão faminto estava, pois chegou a estremecer apenas em olhar as frutas ali. Pegou uma maçã, e fechou com cuidado a porta. Tropeçou em um banco alto, e xingou o barulho que ocorreu, antes de chegar a pia e lavar a fruta. Passou a mão com cuidado na água gélida, e depois a secou em um pano de prato, antes de levar a mesma aos lábios.

 Saiu da cozinha devagar, e perguntou-se o que faria a seguir, quando ouviu a conversa. Mais precisamente a voz de alguém falando ao telefone, visto que ninguém o respondia. Aproximou-se devagar do quarto que tinha a porta entreaberta, tentando descobrir quem era, e reconheceu a voz de Joshua.

 “Não sei hyung, ele não parece nada bem”, o Hong falara, parecendo preocupado.

 JiHoon engoliu a seco, pois sabia que era dele que estava falando. Deu um passo receoso para trás, pensando em suas ações. Havia dormido o dia todo – e chorado no resto do tempo que estava acordado –, e desprezou o Yoon, de certa forma.

 Sentiu-se terrível por não ter falado com ninguém, e apenas pensado nele.

 Lágrimas automáticas voltaram a rolar, e ele levou a mão ao rosto, passando a ponta dos dedos em sua bochecha, tocando o caminho que a lágrima fizera.

 Por que estava fazendo isso?

 Por que diabos não o superava de uma vez?

 Por que dava tanto trabalho para os outros?

 Um grunhido de raiva saiu de sua garganta, e ele se afastou da porta rapidamente, não querendo ficar mais nenhum segundo naquele lugar, atrapalhando a vida deles com seu problema ridículo.

 “Espere hyung, acho que ouvi alguma coisa”, pediu JiSoo, deixando o aparelho sobre a cama e abrindo a porta, a tempo de ver o Lee adentrando no quarto as pressas. Virou-se rapidamente para o celular, e o pegou, avisando a pessoa que tinha de ir, e desligou sem esperar a resposta.

 Arrumou-se rapidamente, ouvindo a movimentação do quarto, e antes que pudesse se aproximar mais para acordar o Yoon, JiHoon saira do quarto, as pressas, vestindo seu casaco de qualquer forma e rumando para a porta.

 “JiHoon?”, chamou incerto o maior, vendo-o ignorá-lo e forçar a maçaneta. “JiHoon-ah? Você está bem?”, perguntou, vendo-o girar as chaves com certa pressa, e acelerou seus passos. “Onde pretende ir a essa hora? Ei! JiHoon!

 JiHoon lançou um olhar para o Hong, que mostrou o seu rosto cheio de lágrimas, e bateu a porta, antes de correr para o elevador, apertando o botão sem pensar muito. JiSoo correu para a porta, e a abriu, parando na batente ao ver que o Lee adentrava na caixa metálica, e soltou um grunhido de frustração, antes de ir acordar JeongHan as pressas.

 O baixinho não estava pensando muito no que fazia, muito menos onde estava, ele só queria sumir. Apertou o botão do térreo freneticamente, como se aquilo fosse acelerar sua descida, e assim que a porta abriu, ele saiu correndo para onde achou que fosse a saída.

 O porteiro abriu para ele sem entender, e o mesmo saiu correndo, antes de parar no meio da rua, e olhar para os lados, sem conseguir se localizar. Passou a mão por seu cabelo tentando pensar no que faria, e resolveu seguir por onde havia luz. De uma forma ou de outra, ele chegaria a algum lugar.

 

*

 

                Os passos eram largos e rápidos, e o rapaz se via cada vez mais perdido, porém não menos motivado. A adrenalina o fazia ficar alerta e sentir-se bem. Era como se estivesse fugindo de algo, e ele sentia sua mente ficar em branco por alguns instantes, impedindo-o de raciocinar, apenas agir.

 Seus pés se moviam quase como por vontade própria, e ele chegou a algum lugar, de fato.

 Era a faculdade, e totalmente sombria a aquela hora da noite. Ainda havia algumas lojinhas abertas, dando certa luminosidade ali, mas não deixava de ser escuro. Parou a alguns passos de distancia da entrada, arfando e sentindo seu coração bater rápido contra seu peito.

 Suas pernas ficaram subitamente fracas, e ele se sentou na calçada, pondo os pés no asfalto, e sentindo seu corpo começar a relaxar aos pouquinhos, embora ainda estivesse quente. Olhou para os prédios a sua volta, e depois para suas pernas, e apoiou a cabeça nos mesmos, perguntando-se o que estava fazendo.

 Agora que aquela eletricidade se esvaia de seu corpo, e ele começava a raciocinar, percebeu a besteira que estava fazendo. Estava longe de sua casa, longe da casa de SeungKwan, e longe da casa de JeongHan ou JiSoo. E sozinho.

 Completamente sozinho.

 Havia algumas pessoas que por vezes passavam por ali, mas apenas lhe lançavam olhares de desprezo antes de acelerar os passos.

 Ele não passava de mais um ninguém ali.

 Encolheu-se sentindo vontade de chorar. Por que não pensava antes de agir?

 Como antes, havia apenas fugido, algo que descobriu ser muito bom em fazer, e sempre acabava perdido, como naquele instante.

 Um grunhido escapou de seus lábios, e ele se arrependeu de fugir. Não queria mais fugir, queria ser achado, ficar sozinho era pior.

 Voltou a chorar, em uma mescla de solidão, arrependimento e tristeza.

 O que estava fazendo da sua vida? Por céus, estava tão perdido.

 Não sabia nem o que estava fazendo mais.

 “Alguém me ajude”, sussurrou, enquanto levava as mãos à cabeça, enroscando seus dedos em seus fios escuros, sentindo seu corpo estremecer com a temperatura da noite.

 Por algum motivo ele só conseguia pensar em uma pessoa, e era a pessoa que causara tudo aquilo, o que apenas o frustrava ainda mais porque, mesmo em momentos como aquele, ele apenas pensava nele.

 Soltou um gemido sôfrego, não aguentando mais chorar, não aguentando mais ficar ali.

 Seu celular começou a tocar e vibrar em seu bolso.

 A princípio ele se assustou, levando suas mãos desesperado para o bolso, puxando o aparelho com os dedos trêmulos, quase deixando-o cair na rua, mas o segurando no último instante. Um chuvisco chato começou a cair, deixando pequenas gotículas na tela clara de seu aparelho, deixando o nome de JeongHan brilhar em alguns tons devido ao reflexo da luz ali, e ele passou o dedão sobre seu nome.

 Ele tinha de se lembrar que tinha amigos agora, não estava mais sozinho, por mais que desse trabalho a eles.

 Seus lábios tremeram, e ele pensou se deveria atender ou não.

 Obsession já estava tocando novamente, alertando-o que mais alguns segundos e a chamada cairia para a caixa postal, não deixando-o escolha a não ser atender.

 “Graças a deus! JiHoon!”, fora a voz doce e desesperada do Yoon que ele ouviu, e só de escutar aquele tom de preocupação, o Lee começou a chorar mais, arrependendo-se cada vez mais de ter atendido, de ter fugido, de tudo. “JiHoon? Está me ouvindo?”, perguntou, e ele gritou para alguém, antes de voltar a perguntar. “JiHoon, me diga que está bem”.

 Um gemido saiu no lugar de suas palavras, e ele começou a chorar mais, passando a mão livre por seu rosto, tentando conter-se e formular alguma frase coerente, sem muito sucesso.

 “Certo, certo, JiHoonie, se acalme, por favor”, pediu o outro, e o baixinho soluçou, antes de prender a respiração para ouvi-lo melhor. “Consegue me dizer onde está?

 As palavras saíram desconexas e roucas de sua boca, e ele a fechou, reprimindo-se por ser tão patético, e afastou o aparelho do ouvido para soltar um grunhido em frustração.

 “JiHoonie, respire um pouco, sim? Vamos, você consegue”, disse o Yoon do outro lado da linha, que não parecia estar em um estado melhor.

 “Me ajuda”, suplicou o baixinho, se curvando e apoiando sua testa em seu joelho, finalmente conseguindo falar.

 “Apenas me diga onde está”, pediu novamente, e JiHoon voltou a soluçar mais um pouco, antes de dizer sua localização.

 Desligou assim que JeongHan dissera estar a caminho, deixando seu celular pender ao seu lado. Jogou a cabeça para trás, sentindo o chuvisco aumentar e se tornar uma garoa forte. Suas lágrimas começaram a se misturar com a água externa, e seu corpo se tornava cada vez mais frio.

 Teve um momento que ele não soube mais se estava chorando ou se era apenas aquelas gotas de chuva que se intensificavam sobre sua pele.

 

*

 

And holding on to teddy bears


Notas Finais


Estranhamente eu gosto mais e fiquei emotiva escrevendo, socorro ;;
Adoro drama, alguém me segura q
Obrigada a todos que leram~


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