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História I am the Target - Dentro de si


Escrita por: Hawtrey

Capítulo 4 - Dentro de si


O painel sobre o caso não poderia ser mais incomum. No lugar de fotos de suspeitos havia um assassino oficial e em vez de setas e linhas formando ligações entre este e provas havia as provas deixadas pelo próprio assassino.

Sherlock Holmes nunca odiou tanto um caso. Nunca odiou tanto um homem.

Holloway.

Havia tantas dúvidas em sua mente que chegava a doer e isso já era bastante coisa. Dias havia se passado desde o momento em que encontrara um verdadeiro caça-palavras nas paredes de Holloway e ainda não conseguira nada novo. Tudo estava ali, bem a sua frente. Por que ele não conseguia decifrar? Por que Holloway ainda era um enigma? Por que algo dentro de si gritava que algo estava terrivelmente errado?

— Eu pedi pizza.

Sua atenção foi quebrada pela voz dela, mas não desviou o olhar.

— Espero que não se importe — ela acrescentou.

— Não me importo.

— Encontrou alguma coisa?

— Na verdade... não encontrei nada.

— Nada?

Notou a descrença na voz dela e suspirou. Nem ele mesmo acreditava nisso, em sua falha. O que ainda não tinha percebido?

Ainda confuso se voltou para ela e tentou esclarecer:

— Em um caso sempre procuramos pistas do assassino e até mesmo o método que usou. Mas aqui o assassino já nos deus tudo e só precisamos comprovar. O sangue na faca é de Veiga e as digitais são de Holloway. Conhecemos o assassino, seus métodos e o nome de suas vítimas. Só não sabemos o motivo.

Conteve-se. Queria tanto perguntar a ela alguma coisa. Sua opinião ou sugestão. Fora ela que conviveu com o assassino por cinco anos! Devia conhece-lo ao menos um pouco, poderia ter alguma ideia de seus motivos... Mas algo dentro de si o impediu. O quanto isso a irritaria? O quanto ela se esquivaria?

O quanto se importava com Joan Watson a ponto de conter os próprios pensamentos por ela?

— E o quanto aos nomes das outras pessoas? Nem todas ali são vítimas — Joan questionou tentando esfriar o chá.

— O detetive Bell já está procurando no banco de dados e entre os desaparecidos — ele respondeu sem realmente prestar atenção.

Ela perdeu o foco, ele notou. Por que os olhos dela estavam tão inquietos e confusos? O que estaria pensando? E por que estava olhando para ele? Será que havia algum problema com ele ou simplesmente ele era o alvo de seus pensamentos?

A ideia lhe pegou de surpresa. Algo dentro de si se remexeu e não conseguia decifrar o que estava acontecendo. O que está acontecendo com você? Esse sentimento... essa sensação... eram coisas novas em seu cotidiano. Ser alvo dos pensamentos dela de forma tão fixa era algo novo. Ou não? Certo. Joan ainda estava ali o olhando, mesmo sem realmente vê-lo. Mas por que ele não conseguia parar de olhá-la? Por que não conseguia parar de notar em como sua mão ainda estava suspensa no ar, em como sua respiração estava um pouco descompassada ou em como os olhos dela brilhavam intensa e magnificamente?

E por um momento ansiou mesmo ser alvo daqueles pensamentos e consequentemente ser o motivo daquele brilho tão raro em Joan...

Joan? Não! Watson. Apenas Watson!

Chama-la pelo primeiro nome sempre tem um efeito engraçado e incomum nele. Toda vez que o pronunciava... algo mudava. Seu humor, as batidas em seu coração, os próprios pensamentos...

De qualquer forma isso ainda não era bom. Não para ele. Não depois de tudo. Não depois de prometer a si mesmo não ter mais ninguém tão importante em sua vida.

Mas quem estava querendo enganar?

Diabus! Ainda estou olhando para ela!

Piscou algumas vezes saindo do transe.

— Algum problema?

Ela também piscou, provavelmente saindo dos próprios pensamentos.

— O quê? — questionou ainda confusa.

Ele sorriu com a confusão dela e se aproximou tentando não mostrar que tinha acabado de sair de uma situação parecida.

— Você está me olhando a um bom tempo — implicou.

— Estou?

Sherlock sorriu de novo vendo-a tomar um outro gole de chá para esconder o próprio constrangimento. Suspirou e sentou ao lado, de repente ficando nervoso. Não pode deixar de notar ela engolir em seco e se afastar dele. Isso era bom? Estava incomodada com sua presença?  O que significava? Estava nervosa?

Não seria a primeira vez.

— Notei também que o motivo para tais mudanças sou eu — respondeu com a voz rouca.

Ela engoliu em seco novamente e com isso a mente dele disparou.

Há quantos dias Watson estava assim? Distante e inquieta? Por muitas vezes a encontrou fitando o imenso vazio e ficar assim tempo suficiente para que ele notasse grandes diferenças. Diferenças que se estendiam por todo o seu comportamento. Deixar de olhá-la era quase impossível, pior ainda quando ela também estava olhando-o e quando isso acontecia uma luta silenciosa se iniciava. Pensamentos tão confusos e tão fortes que pareciam atravessar qualquer barreira que Sherlock tentava erguer. E ele tentava isso muito. Era o que queria: distância. Não bem o que queria, era mais o que precisava.

Sherlock não era idiota, sabia que estava pensando e se importando demais com sua parceira. E logo quando o conceito de apaixonado passou por sua cabeça, recuou. As palavras de Mycroft passavam em sua mente e em seus sonhos todos os dias: Ela é a pessoa que mais ama no mundo, Sherlock.

Era isso então? Amava Joan Watson?

— Impressão sua Sherlock. Admito que posso estar... diferente — ela respondeu forçando um sorriso mínimo — Mas isso não é por sua causa.

Mas alguma coisa se remexeu dentro dele. Uma sensação estranha, mas não importava. Joan estava mentindo e por algum motivo ele estava feliz com isso.

Joan não! Watson!

— Está mentindo — notou ela paralisando com sua resposta e quase sorriu com isso — Claramente está nervosa, engoliu em seco duas vezes desde o momento em que sentei aqui e ainda se afastou, como se minha aproximação a incomodasse de alguma forma. Eu fiz algo que a chateou?

Ali estava os olhos inquietos dela novamente.

— Sherlock... — havia temor em sua voz? — Eu acho que precisamos conversar.

Conversar o quê? Conte-me logo Joan, o que há com você? Olhou vendo-a tomar mais um longo gole de chá sem conseguir conter sua ansiedade. Ela estava remexendo as próprias mãos, massageando-as com força. Por que está tão nervosa? Ele mesmo sentiu o coração começar a bater mais rápido e sua respiração começar a falhar. Diga logo! Apertou suas mãos discretamente, tentando esconder uma leve tremedeira. O que estava errado com ele? Nem sabia do que se tratava!

Então um som cortou toda a sua mente, diluindo toda a sua ansiedade.

Maldito celular!

— Melhor atender — ela sugeriu nitidamente aliviada — Minhas palavras podem esperar.

Lançou um último olhar a ela e pegou o celular, imediatamente franzindo o cenho.

— Número desconhecido — anunciou desconfiado e atendeu — Alô?

Olá, senhor Holmes? — respondeu uma voz masculina completamente estranha do outro lado da linha — Ouvi falar sobre o seu trabalho e estou muito interessado nele. Mas no momento eu quero discutir algo especifico com a sua muito amada parceira, senhora Holmes... não, perdoe o engano, ainda se trata da senhorita Watson. Joan Watson. Posso? Ah e lembre-se de uma coisa Sherlock Holmes... não seja um romântico inútil. Agora sim, posso falar com ela?

Paralisou e quase parou de respirar. Sua mente se dividindo ao meio. Metade queria explodir e dizer que não, não podia falar com Joan, não deveria voltar a ligar e com certeza não deveria tocar no nome dela novamente, nunca mais. A outra metade queria gritar uma única pergunta: Como é que é?

— Ele quer falar com você — avisou em seu tom mais sério enquanto entregava o celular a ela.

O motivo de fazer isso ele não compreendia. Não tinha a mínima ideia de quem estava do outro lado da linha, mas já o odiava. Eram palavras simples e tão cheias de significados... o fariam pensar por semanas, Sherlock com certeza mergulharia nelas atrás de suas próprias verdades, em busca de supostas respostas se não fosse o tom usado pelo estranho. Além de malicioso era incrivelmente convencido e irritantemente confiante. Aquele homem, fosse quem fosse, acreditava que poderia conquistar o mundo em dois dias. Convencido demais para pensar que poderia ter tudo, mas esperto demais para acreditar que conseguiria esse tudo em um dia.

— Holloway.

Encarou Joan com tanta rapidez que quase ouviu o pescoço estalar.

Não fale com ele.

— A tempo de quê? — ela perguntou pelo telefone.

O que estavam conversando? O que ele dizia? Por favor Joan, solte esse celular!

Ela respirou fundo e se levantou lentamente. O medo tomou conta de Sherlock ao ver a preocupação nos olhos dela.

— E posso saber o motivo?

Eu também quero saber o motivo. Seja do que for. Ao menos coloque no viva-voz!

— Então vai me matar?

Ele se assustou com a fala dela. Em um segundo já estava de pé, caminhando rapidamente para o lado dela, tão pálido quanto sua preocupação exigia, mas pronto para arrancar o celular das mãos dela. Mas Joan ergueu as mãos o impedindo.

O que está fazendo Joan?

A vontade de arrancar o celular dela só aumentava. Andou de um lado para o outro tentando se controlar.

— Eu não entendo — ela comentou aparentemente sincera — Não nos vemos há mais de dez anos... Por que apareceu justo agora?

Sherlock queria gritar e jogar qualquer coisa na parede. Ele é louco Watson! Não entende isso? O que importa quando ele apareceu? Nunca deveria ter aparecido! Será que ele podia gritar agora?

Ela colocou o copo sobre a mesa. Será que ele podia quebrar aquele copo?

— Ligou apenas para dizer isso? — Joan questionou arrogante.

Ele revirou os olhos. Qual era o problema dela?

 Joan então olhou ao redor e finalmente encontrou o olhar dele. Imediatamente sentiu que havia algo errado. Ela precisou se segurar na mesa para se manter em pé fazendo-o paralisar. Estava bem?

— O que quer de mim?

Ela estava tremendo? O que está acontecendo?

— Joan — chamou preocupado enquanto se aproximava. Mas ela nem notou sua presença.

— Eu não sabia que você queria segredo sobre isso... — ela comentou com a voz trêmula.

— Joan.

— E a terceira coisa?

De repente ela se aquiesceu e Sherlock prendeu a respiração pela segunda vez. Sim, ele estava certo agora, alguma coisa estava terrivelmente errada.

— O que quer dizer? — ela exigiu saber de Holloway.

Oh por tudo o que acredite, diga-me o que ele está dizendo!

Foi então que aconteceu. Joan arquejou e de repente o celular de sua mão agora estava no chão. Em câmera lenta Sherlock a viu pegando o próprio copo de chá e olhando para o conteúdo assustada. O mundo dele parou enquanto sentia seu coração afundar. Imediatamente uma resposta veio em sua mente. Veneno.

Não...

O copo se quebrou e para ele muito tempo se passou até chegar perto o suficiente para ampará-la em seus braços a tempo.

— O que está acontecendo? — exasperou-se preocupado, o desespero começando a crescer — Fala comigo!

Não obteve resposta. Seu coração começava a doer de tão forte que batia. Ele mesmo começava a tremer, mas ela tremia mais. Por favor, não! Colocou-a em seu colo e cuidadosamente a levou para o sofá. O desespero crescendo junto com o medo, inundando-o com toda força.

Por favor, não me deixe.

Pegou o rosto dela entre as mãos trêmulas e suplicou por um milagre:

— Joan... por favor, por favor... Fique comigo.

Algumas lágrimas desceram pelo rosto dela, solitárias e lentas. De repente Joan arqueou o corpo e explodiu em dor. O som do desesperado grito dela foi demais para ele.

— Joan! Não! Não!

Deixou que suas próprias lagrimas mostrassem seu desespero. Pegou nas mãos frias dela, tentou sacudi-la, gritou e chamou em plenos pulmões, mas só havia dor como resposta. Por que Holloway faria isso? Por que a mataria? Nada fazia sentindo, mas Sherlock não conseguia pensar direito, não conseguia nem respirar direito.

Poderia ser um pesadelo. Se fosse, e ele queria muito que fosse, já podia acordar. Já tinha recebido e entendido o recado. Não queria mais Joan Watson morrendo em seus braços.

Se há algum Deus... salve-a!

Então como tudo começou, subitamente, parou.

Joan fechou os olhos e parou de se mexer. Não havia nada. Nenhum calor, nenhum som, nenhuma lágrima.

— Não. Não. Não! — gritou em completo desespero.

Pegou-a novamente em seus braços, dessa vez a abraçando com força, deixando as lagrimas livres para caírem. Não me abandone... eu amo você.

Eu amo você Joan Watson.

A dor o invadiu com força, dessa vez carregando uma verdade que ele fez questão de negar por meses. Ele a amava. Se era um amor de amigo ou mais do que isso, bem mais do que isso, não importava. O importante é que havia amor ali e Sherlock estava desesperado o suficiente para admitir isso a si mesmo. Não queria perdê-la. Não queria viver nenhum dia sem ela, sem pensar nela. E o principal: não queria pensar nela sabendo que nunca mais a veria.

Lembre-se de uma coisa Sherlock Holmes... não seja um romântico inútil.

Os olhos dele se abriram com a lembrança daquelas exatas palavras de Holloway. Não seja um romântico inútil. Levantou-se rapidamente com Joan agora em seu colo, finalmente compreendendo as palavras de Holloway que tanto ignorara no momento de raiva.

Não seja um romântico inútil.

Ele ainda podia salvar sua amada parceira.

***

— Como assim não sabem o que ela bebeu?

Tudo bem, era ali, no meio do corredor do hospital, que ele mataria o médico. Se não lhe dava nenhuma resposta, se não sabia o que tinha acontecido, então era inútil.

— Acalme-se senhor Holmes — o médico pediu pacientemente — Não conseguimos identificar nada de errado nos exames dela. Podemos fazer mais-

— Claro que farão mais! — cortou Sherlock avançando em cima do médico e o pegando pelo colarinho — Precisam descobrir o que aconteceu com ela!

— Nós iremos! — o homem exclamou assustado — Se-senhor Holmes! Sua esposa está bem! Ela vai acordar e-

Minha o quê?

— Eu quero saber o que aconteceu com ela! — Sherlock rosnou.

— Você deve ser Sherlock Holmes — comentou alguém às suas costas — Eu sou a doutora Andreia Berns, amiga da Joan.

Ele respirou fundo e soltou o médico, virou-se e encarou a mulher loira que sorria docemente para ele. Por algum motivo aquele sorriso o acalmou.

— Sabe o que aconteceu com ela? — questionou se aproximando dela.

O sorriso de Andreia aumentou mais, reconhecendo a preocupação dele.

— Só para nível de curiosidade eu sou uma ginecologista — ela esclareceu fazendo-o franzir o cenho por confusão — Mas assim que eu soube da entrada dela eu pedi alguns favores e consegui o laudo dela.

A mente dele se iluminou como se Berns tivesse implantado um raio de sol ali.

— Realmente ninguém descobriu o que ela bebeu que fez tão mal — ela continuou apagando a luz da mente dele — Mas eu ouvi falar de você o suficiente para ir além. Eles estavam procurando um veneno e eu algo que poderia ser um se fosse unido a outras coisas.

Então Joan fala sobre mim, hum?

Foco Holmes!

— Conseguiu algo? — questionou afastando esses pensamentos.

Andreia respirou fundo e entregou um papel a ele:

— Aqui está.

Ainda confuso encarou o laudo em suas mãos e a confusão só aumentou.

— Cafeína...ervas... toxinas?

Parecia que Holloway também gostava de experimentos.

— Todas em pequenas quantidades, o suficiente apenas para causar um surto — Andreia esclareceu dessa vez séria — Honestamente eu acho que Joan teve sorte... me parece uma mistura arriscada para dar a alguém que ama possessivamente.

Ele ergueu os olhos surpreso:

— Sabe sobre o caso?

— Em partes — ela respondeu com um sorriso amarelo — Ela me contou apenas o que se trata da possessão de Holloway. Caso algo acontecesse com ela...

Então Andreia voltou a sorrir.

— Ainda acho que ela seria capaz de acabar com a raça dele se não estivesse com tanto medo de perder certas coisas. Fique a vontade para esquecer que lhe entreguei isso, mas para me chamar sempre que precisar. Meu número está no topo.

Ela lhe lançou uma piscadela e um sorriso torto, então se afastou o deixando atordoado.

— Andreia!

A loira se virou, confusa.

— Sim?

— O que você quis dizer sobre o medo de Joan?

— Apenas não estranhe se um dia ela pular na frente de alguém para salvar uma vida, especialmente se essa pessoa for você, se a vida for a sua.



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