História I Do - Vinte e um

— Quando você disse que a gente ia passear, eu não imaginei isso. – Jaebeom comentou enquanto empurrava o carrinho de compras, seguindo Youngjae.

— Eu sei. – murmurou, ainda de costas pro namorado. — Eu usava isso pra atrair o Jackson e fazer ele carregar as sacolas. – parou diante de uma das prateleiras e virou-se. — Leite normal ou desnatado?

Jaebeom riu. Choi Youngjae era mesmo inacreditável.

— Normal. – respondeu por fim.

O mais velho por uns momentos se sentiu um garoto, de volta à época em que costumava ir com a mãe fazer as compras. Suspirou nostálgico. Aquele sim foi um tempo bom, em que ele não tinha ideia dos valores das coisas e por isso não ficava chocado ao ver o preço final das suas compras.

E quando criança, ele também podia pendurar o corpo no carrinho e fingir que os corredores eram uma pista de fórmula 1.

Não que ele ainda quisesse fazer isso. Havia acabado de levar um tapa certeiro e ardido no braço de Youngjae, depois de quase o atropelar quando foi testar se o carrinho ainda aguentava seu peso.

Assustou-se quando um garotinho simpático o cutucou na perna, indicando que queria alcançar algum tipo de shampoo que vinha com um brinde. Jaebeom prontamente o entregou pro garoto que saiu saltitando até a mãe.

— Crianças são adoráveis, né? – Youngjae sorria bobo com a cena.

O garoto alcançou a mãe, que o olhou feio e pareceu o repreender por estar com o dinossauro de brinquedo nas mãos.

— Lee Chan, eu já te disse três vezes, não vamos levar isso! – a mulher ditou aborrecida, e colocou o menino de volta no carrinho, indo pra um outro corredor.

O casal expectador da cena apenas riu.

— Correção: crianças são adoráveis caladas. – Youngjae acrescentou. — Depois elas crescem e se transformam num Yugyeom.

— É por isso que eu tenho a Nora. – Jaebeom deu de ombros.

[...]

— Desculpa o atraso. – Jinyoung suspirou cansado assim que Mark abriu a porta. — Yugyeom ficou me enchendo o saco pra cozinhar alguma coisa antes de sair.

Mark assentiu e o puxou pra um abraço seguido de uns selinhos.

— Desculpa a bagunça enorme na sala. Tive que trazer umas coisas do trabalho pra casa. – murmurou com a voz abafada, ainda abraçado com Jinyoung.

— Tenho certeza que essa bagunça toda não é do trabalho. – o coreano comentou quando Mark decidiu o soltar. — Olha só esse sofá! – disse apontando pra uma pequena pilha de bagunça no móvel. — Como você consegue viver nessa sujeira?

— Não seja chato. – Mark revirou os olhos, afastando os papéis do sofá para o chão, se sentando ali em seguida. — Vem aqui, vamos jogar videogame.

Jinyoung riu do pedido.

— Eu não acredito que essa é a proposta mais Mark Tuan da terra. – disse sorridente, negando com a cabeça, mas não demorando muito para se sentar ao lado do americano. — Você é uma criança, presa no corpo de um velho, mesmo. – comentou quando o loiro se levantou, pegando os joysticks e ligando a TV.

— O que eu perdi naquele dia? – o mais velho indagou casualmente enquanto o jogo carregava.

— Uh... acho que fomos expostos. – Jinyoung deixou uma risada escapar. — Yugyeom não perde a oportunidade de ficar calado.

— Até que enfim. – Mark suspirou e o moreno o encarou confuso. — Que foi? Eu não curtia esse lance de mistério tanto como você.

— Chato. – deu um soquinho no ombro do outro. — Eu só queria avisar pra todo mundo quando fosse oficial. Gosto das coisas bem definidas, sabe? – Jinyoung torcia com todas as forças para que o Tuan entendesse aquela indireta óbvia.

Pra ser sincero, Mark não entendeu por um momento, ele ficou lá encarando Jinyoung por longos segundos. Se fosse uma máquina, estaria com uma janelinha piscando escrito “loading”.

Só quando o moreno cruzou os braços e levantou uma sobrancelha, deixando o joystick de lado, que sua ficha caiu.

Endireitou a postura, seu rosto adquiriu uma expressão séria, mesmo que seus olhos brilhassem com a animação.

— Jinyoung, você aceita ser meu player 2?

[...]

— Eu sinto muito, mãe. – Youngjae choramingou no telefone. — Eu realmente queria visitar a senhora nesse feriado.

— Eu sei, bebê! Eu também estou com saudades! – o tom de voz de sua mãe era semelhante ao seu. — Mas não posso exigir de você viajar pra cá com uma nevasca dessas, é perigoso demais.

— Eu ainda acho que poderia dar um jeito. – replicou manhoso.

— Não seja teimoso! – repreendeu. — Mas me conte, como você 'tá? Como é o emprego novo?

— É ótimo, estou finalmente trabalhando em algo que eu gosto.

— Só isso, Youngjae? O Jackson andou me contando umas coisas, sabe...

Respirou fundo. Tinha que ser, o chinês não se aguentava quieto, ainda mais com uma novidade daquelas. Olhou feio pro amigo no sofá e colocou a ligação no viva-voz.

— O que o Jackson lhe contou, mamãe? – indagou, encarando o amigo que levantava as mãos em rendição.

— Ele disse que você finalmente desencalhou! Sua irmã e eu fizemos um bolo pra comemorar. – pude ouvir as risadinhas das duas.

— E ele é bonitão hein, tia! – Jackson gritou, se arrastando no sofá até onde Youngjae estava. — Eu vou tirar uma foto e mandar pra senhora, já que ele vive desfilando por aqui, até enjoei. – o Choi atingiu um tapa no braço do loiro.

— Aish, vocês dois... – resmungou. — Depois eu o apresento pra senhora, fique tranquila.

— Que história é essa de desfilar por aí? – é claro que esse detalhe não passaria despercebido por sua mãe. — Youngjae, você 'tá se cuidando?

— Mãe, pelo amor de deus! – Youngjae sussurrou, tirando o celular do viva-voz assim que ouviu o barulho da porta. — Aconteceram uns problemas na casa dele e ele passou uns dias aqui. – explicou rapidamente, suspirando aliviado quando notou que Yugyeom que tinha entrado.

— Sei... – a mulher disse desconfiada e Youngjae se fez de ofendido. Como que sua progenitora não acreditava em sua palavra? Que absurdo.

Logo se despediu de sua mãe, prometendo ligar ainda naquela semana, e após um longo minuto de eu te amo's e milhares de beijos, a linha ficou muda; o Choi finalmente prestou atenção na conversa que acontecia ali.

— É aquela canadense, não é? Somi? – Jackson perguntou pra um Yugyeom constrangido, que balançou a cabeça negativamente, cercado por um Jackson extremamente curioso. — Não adianta tentar esconder, Yug, eu vou descobrir.

— Do que vocês estão falando? — Youngjae não viu motivos para segurar a pergunta.

— Nosso bebê está crescido, Jae, e não quer nem revelar o nome da pessoa que ele está saindo. — Jackson explicou.

— Ah, isso é verdade. — Youngjae concordou, olhando pro mais novo como se realmente fosse sua mãe. — Kim Yugyeom, pode ir abrindo a boca.

Yugyeom negou com a cabeça, ainda envergonhado.

— Você tinha que ver a cara dele quando eu fui buscar ele na escola sexta, parecia que tinha encontrado a melhor companhia do mundo para comer terra.

— Aish, para de falar como se eu tivesse 2 anos! — Yugyeom reclamou com um biquinho infantil. — Eu e ele não comemos terra!

— Opa, então quer dizer que é ele? — Jackson pegou. — É o Mingyu, não é?

— Não, ele namora o Minghao, Jackson. — Youngjae se intrometeu. — Aposto que é aquele lá, meio emo, sabe? — arriscou, observando a reação do Kim. — Jeon alguma coisa?

— Jungkook? — Jackson completou.

O rosto de Yugyeom ficou vermelho como seu tom de cabelo. Bingo!

— Ah, eu não acredito! — Jackson quase gritou. — Desde quando você está de rolinho com esse rapaz, Yugyeom? Você já conheceu os pais dele? Ele é gentil com você, não é? Vocês já se beijaram que nem gente grande?

— Isso é muito constrangedor. — Yug cobriu o rosto avermelhado com uma das mãos, evitando todas as perguntas que o chinês disparava sem parar.

Os três ali ouviram o som da porta de novo e dessa vez era realmente Jaebeom. Yugyeom sentiu uma vontade imensa de abraçar o namorado de Youngjae por salvar ele daquela situação embaraçosa quando o mais velho sentou ao lado do Choi e deixou um beijo rápido em seus lábios.

— O que foi que eu disse sobre as crianças? — Jackson reclamou, puxando Yugyeom para fora do cômodo, voltando com as perguntas e fazendo o casal que ficou para trás rir.

— O encanamento está ok agora. — Jaebeom disse com um tom tristonho. — Eu e a Nora vamos voltar pra casa. — disse e Youngjae olhou para a gata que dormia aconchegante em seu sofá.

— Não quero que vocês tenham que ir. — Choi comentou, vendo seus dedos se entrelaçando com os do mais velho.

— Não quero ficar incomodando a rotina de vocês. — o Im argumentou calmo, aproveitando o toque singelo da mesma forma que o mais novo.

— Não é nenhum incômodo, você sabe. — Youngjae reclamou.

— Mesmo assim. — Jaebeom riu fraco, como se aquilo encerrasse o assunto. — Ah, antes que eu me esqueça: minha mãe me chamou para passar os feriados com ela e eu disse que ia levar alguém, sabe? Ainda não decidi quem vai ser, mas tenho que admitir que Moonbyul está no topo da lista. — brincou, fazendo Youngjae dar um tapinha em seu braço com a mão livre. — Ok, tudo bem, sério agora. Você quer ir comigo, Youngjae?

Youngjae ponderou. Conhecer os pais é um grande passo, mas levando em conta que aquela relação era toda uma bagunça gostosa, desde o modo com que se conheceram até aquele momento, não seria tão ruim assim. — ele mesmo não estava planejando apresentar seu namorado para a família?

— Claro. — Youngjae respondeu por fim, com um sorriso. — O que de mal pode acontecer?