Ellie sabia que não deveria andar por ali àquelas horas e que se encontrasse alguém pelos corredores, estaria a cometer um grande erro. No entanto, todos sabemos que desde pequena, ela sempre foi uma menina curiosa independentemente se isso causasse algum tipo de problema para si mesma.
A moça começou a explorar com o olhar todos os cantos do corredor a partir do momento que saiu pela porta do quarto. As pinturas europeias deviam ser caras, assim como a longa carpete e os bustos de porcelana dispostos ao longo do corredor.
Ela estava encantada e ao mesmo tempo aterrorizada porque de certa forma, a casa era grande e assustadora, então começou a imaginar como ela estaria caso o Cordyceps atacasse naquele momento e aquela família fosse infectada. Certamente o palacete encantado se tornaria numa casa assombrada em menos de uma semana.
As risadas e comemorações continuavam no andar de baixo. Ellie perguntava-se como aquela gente poderia estar tão alegre quando o resto do mundo estava num caos. Sentiu-se injustiçada pois ela mesma queria poder viver uma vida em tamanha descontração. Foi nesse cerrar de punhos que pôde ver um pequeno feche de luz sair de um dos quartos.
Ellie aproximou se lentamente e espreitou. Era o quarto de Juliette. Ela estava penteando os seus cabelos em frente ao espelho enquanto olhava para o seu reflexo. Dessa forma, coseguiu ver Ellie espreitando pela porta e logo olhou para trás.
-E-eu...desculpa...- Ellie ficou encrencada quando viu que foi descoberta.
Julliete nada respondeu nos primeiros segundos e suspirou um pouco antes de voltar a olhar o seu reflexo no espelho.
-Espiar as pessoas nos seus espaços pessoais não é um ato bonito...- a jovem repreendeu-a e Ellie apenas revirou os olhos.
-Eu não consegui adormecer...estava ...um pouco no tédio.
Juliette logo terminou de pentear os seus cabelos e arrumou todos os seus produtos de beleza e acessórios nas diversas caixas coloridas que tinha em cima das gavetas da penteadeira.
-Se quiseres posso fazer um chá relaxante...
Ellie balançou a cabeça em negação e fechou um pouco os olhos.
-Eu estou bem..não queria te incomodar de todo, é só que....como deves imaginar nunca estive numa casa tão grande e ....
-Querias ver como é...eu entendi...- a menina continuou a arrumar alguns livros que estavam na sua secretária - força, podes entrar. Eu também não estou com sono ainda.
Primeiramente Elie hesitou mas depois entrou no quarto dela. Era uma divisão enorme como todas as outras espalhadas pela casa. Estava decorada quase à semelhança de uma verdadeira princesa. Tinha grandes poltronas, tapetes e cortinas que quase tocavam no teto e chegavam até ao chão. A cama era King size com imensas almofadas e peluches.
-Bem, é exatamente como eu imaginei. O quarto de uma princesinha...- Ellie deu uma risada ao pegar num dos peluches. Ela não conseguia conter em se divertir com a situação.
Juliette olhou para ela e logo desviou o olhar suspirando.
-Qual é o teu problema comigo? Incomodar-te assim tanto? - a moça deixou cair lágrimas.
-Ei, eu só estava a brincar....- Ellie levantou as mãos numa tentativa de a fazer acalmar.
-É sempre a brincar, mas as pessoas nunca pensam que simples palavras podem fazer toda a diferença! Eu não escolhi ser rica ok?? Eu não escolhi estar nesta casa ou sequer nesta família! Assim como não escolhi ser inútil, feia e gorda!!! - Juliette começou a chorar ainda mais enquanto cerrava os punhos. Na verdade, Ellie não sabia, mas ela era uma pessoa sozinha e sem amigos por causa das suas inseguranças. Todos os amigos que ela havia tido, só estavam com ela por causa de dinheiro.
-Ei....eu...não queria te deixar dessa forma...
-Acolhi-te em minha casa ao correr o risco do meu pai discutir comigo e ainda assim tens o descaramento de me importunar com as tuas piadas! Eu sei que sou uma piada para a sociedade, mas estou cansada!!
Ellie suspirou e aproxinou-se dela colocando as mãos nos ombros dela.
-Eu nunca disse que eras uma piada. Agora para de chorar antes que eles nos ouçam e depois sobre para nós duas.
Juliette afastou as mãos de Ellie dos seus ombros e logo limpou as lágrimas. A mais alta suspirou de alivio e logo olhou em redor. Por sua vez, Juliette nada disse nos segundos instantes. Apenas se sentou numa das suas poltronas e começou a beber um pouco de chá para se acalmar.
-Desculpa, eu não queria te fazer sentir mal. Fui egoísta....eu...devia ter agradecido o que fizeste por mim....
Juliette balançou a cabeça em negação e suspirou já mais calma.
-Eu....não devia ter surtado também...
Ellie logo se sentou noutra poltrona, apoiando os braços nas pernas e inclinando o corpo ligeiramente para a frente.
-O que quiseste dizer quando disseste que eras uma inútil?
Juliette parou de beber durante uns segundos e olhou para o chão. Suspirou mais uma vez e colcou a chávena em cima da mesinha de centro.
-E- Esquece. São apenas coisas que eu digo por estar de cabeça quente....- revirou os olhos.
-Ja conheço bem este mundo para saber que não foi uma coisa aleatória que te surgiu na cabeça - não conformada com a resposta, Ellie respondeu franzindo a testa.
Juliette mordeu o lábio inferior e em silêncio permaneceu.
-Ouve eu sei que sou uma total desconhecida para ti, mas eu também sinto culpa por estares com esses sentimentos a inundar a tua mente. Por isso se sentires vontade podes desabafar comigo... eu não quero que vás para a cama com remorsos ou pensamentos distorcidos e por iss--
-Esta bem...está bem....mas eu já sei que será como toda a gente....
-Como assim? - Ellie levantou a sobrancelha.
-É....toda a gente que prometeu ficar na minha vida e acabou por ir embora....portanto, eu não quero que sintas pena de mim quando terminares de ouvir os meus desabafos..
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