Jackson não tinha mudado nem um pouco desde que Ellie havia saído. Todos continuavam com as mesmas rotinas e afazeres garantindo que nenhum infetado ou grupo invasor adentrasse para dentro dos grandes portões.
A de olhos verdes não tinha coragem de perguntar a Tommy como as coisas estavam. Sabia que a sua curiosidade era bem capaz de incomodar o homem mais velho, depois da tamanha preocupação que ela tinha causado. A sua ansiedade corroía-a por dentro ao pensar que também iria ver Dina e JJ lá dentro. O que ela diria depois de tanto tempo? Como a sua ex namorada iria reagir depois de saber que agora o coração de Ellie pretencia a outra? Sentia-a um lixo, uma covarde sem rumo. Sem algo para chamar de destino.
Juliette importava -se com ela e logo colocou a mão no ombro dela quando pisaram o chão em frente ao grande portão do vilarejo.
-Ellie, eles ainda são a tua família.
-Eles odeiam-me - a mais alta olhou-a nos olhos - de certeza que estão capazes de me comer viva por detras daqueles sorrisos preocupados.
-Nao digas isso. E se tudo aconteceu foi porque saíste sem pensar. Eles nunca vão desistir de ti.
Ellie deu um pequeno sorriso mesmo que o remorso fosse colossal. O olhar puro de Juliette sabia como acalmar o seu coração por muito pouco tempo que fosse. Logo se abraçaram e Ellie acariciou os cabelos ondulados da manor.
-Obrigada, princesa - sussurrou e dei-lhe um beijo na testa.
-Ellie?? - logo uma voz familiar surgiu repentinamente, onde se aproximou cada vez mais, tomando a moça dos braços de Juliette para ela mesma abraçar - meu deus...Ellie...
Era Dina que apertava o corpo dela com imensa saudade. Pensou talvez todos os dias no momento que ela voltaria. Tinha ferido o seu coração deixando-a com um bebé pequenino nos braços e o coração a doer de preocupação. Mal soube que Ellie tinha voltado, a morena não conteve em deixar tudo o que tinha para fazer, para correr em direção aos portões e abraçá-la.
-Dina? - Ellie afastou-se surpreendida - estás bem...onde está o JJ?
-Ele está em casa dos pais do Jesse enquanto eu estava a ajudar a Maria a escovar uns cavalos nos estábulos. Logo vieram a correr dizer que o Tommy te tinha encontrado na patrulha e eu não sabia se tinha ouvido direito. Larguei tudo e é verdade. Oh meu Deus...
Ellie sorriu sem jeito, não esperava que Dina não guardasse rancor depois de tudo, mas sabia que aquele coração tão bondoso colocava o amor e preocupação a cima de qualquer vingança.
Juliette olhou para Dina e Ellie frente a frente e um arrepio torceu -lhe o estômago. Aquela era a tal ex namorada que tinha sido abandonada. Que visão bonita. Pele morena, olhos escuros, cintura larga e nádegas avantajadas. Muito diferente do seu corpo baixo e gordinho. Qualquer um se podia apaixonar por alguém assim e isso causou um sentimento possessivo e de preocupação na sua mente. Afinal não tinha passado muito tempo desde que ela e Ellie se tinham separado. Sabia que havia a possibilidade dela ainda gostar de Dina e estar com ela apenas para esquecer esse mesmo sentimento. Logo baixou a cabeça e se sentiu mal. O sentimento de inferioridade voltou a tomar conta de si e se naquele momento tivesse um espelho à sua frente, seria esse o motivo se lágrimas brotassem dos seus olhos.
-Juliette, temos de ir para dentro. Eles vão guardar os cavalos. Vamos nos aquecer - Ellie sorriu ao colocar o braço em volta dos ombros dela. O seu olhar tinha mudado tanto. Havia um brilho de alívio nos seus globos oculares. O alívio de alguém que não era afinal odiada e que podia voltar a chamar Jackson de seu lar.
Dina caminhou na frente liderando o caminho enquanto as suas a seguiam em passos lentos mas determinados.
-Ellie...tu, já lhe disseste?
-O quê?
-Que nós...- baixou o olhar e engoliu a saliva acumulada na sua boca - estávamos juntas.
-Nao, mas ela entendeu. Não tens de te preocupar com isso.
Ao chegarem a casa de Tommy, Maria recebeu Ellie com um abraço muito apertado, como se um momento de mãe e filha ss tratasse. De seguida deu mantas e uma refeição quente às duas recém chegadas e Ellie começou a contar tudo o que tinha passado desde o início e como tinha encontrado Juliette na sua mansão com a família rica estrangeira. A outra não prestou atenção a nada, a única coisa que inundava a sua mente era a possibilidade de ter o coração partido e ser julgada por isso. Ellie e Dina pareciam ter una conexão tão genuína. Odiava ser paranóica àquele ponto, mas depois de se sentir sempre tão insegura com o seu próprio corpo, era impossível não se sentir assim.
-Entao Juliette, podes nos falar um pouco sobre como são as coisas fora dos Estados Unidos? - Tommy começou a perguntar curioso. Ele e Joel sempre tiveram aquela ânsia por conhecer algo fora dos limites - ouvi dizer que lá na Europa têm castelo enormes de antigos reis e duques.
Juliette arregalou os olhos assim que percebeu que o homem estava a falar com ela. Engasgou e gaguejou sem conseguir dar uma resposta clara de início por ter sido arrancada tão velozmente dos seus pensamentos mais profundos e intrusivos.
-Ela está cansada - Maria deu uma risada baixa - Ellie, vocês deviam ir descansar um pouco.
-O meu antigo quarto ainda esta intacto certo? - Ellie levantou a sobrancelha e sorriu esperançosamente.
-Sim, sim. O teu BARRACO ainda está como era antes - Dina zombou dela enquanto balancava JJ que dava risadinhas de bebé influenciadas pelo belo sorriso da mãe.
Ellie riu e lhe deu um cotovelada. Depois beijou a testa de JJ e sussurrou "é bom ver-te bem, batata" . Nos segundos a seguir gesticulou para Juliette para que ela a seguisse.
-Obrigada por me acolherem - a mais baixa disse antes de sair pela porta com um sorriso amarelado - contribuirei com o que puder a partir de hoje.
Todos sorriram e desejaram boa noite às duas.
Assim que Ellie abriu a porta do seu antigo quarto, o cheiro a pó não esperou para invadir as narinas de ambas as mulheres que logo tossiram aflitas. De facto o espaço estava intocado há muito tempo. Ellie logo abriu as janelas para renovar o oxigénio impuro e sacudiu tudo com panos velhos, incluindo a sua cama e a sua escravaninha. Em cima da mesa e das paredes ainda estavam os seus desenhos e desabafos escritos. Nas prateleiras e inundados igualmente de poeira, estavam dispostos os seus livros, filmes e o nostálgico robô que lhe trazia memórias de Henry.
-Ellie, posso usar a toilet para tomar um duche?
-Claro, estás à vontade. Deve ter toalhas limpas nas prateleiras e podes usar uma camisola minha para dormir. Amanhã tratamos de arranjar roupa confortavel para ti.
A menor acenou com a cabeça ao pegar a camisola da mão de Ellie. Depois adentrou do pequeno quarto de banho e despiu-se, mas antes que pudesse entrar no chuveiro, a sua visão encontrou o seu reflexo no espelho a cima do lavatório.
Os seus olhos não contiveram as lágrimas provocadas pela sua maior insegurança. O seu corpo. Estrias na barriga, coxas e seios pareciam grades de prisão que não a permitiam sentir o sabor da liberdade e de sentir bonita. Pneuzinhos e celulite no seu abdômen, braços, ancas e pernas eram como areia movediça que a puxavam para um mar de pensamentos negativos e autodepreciativos.
Lembrava -se agora que Ellie nunca a tinha visto sem roupa. Lembrava -se do corpo de Dina tão curvo e bonito em comparação ao seu. Como elas as duas se tinham abraçado horas antes. Naquele momento, Juliette só conseguiu se encolher e chorar, tentando aniquilar qualquer com mais alto que a denunciasse. Tinha medo que Ellie a visse assim, especialmente estando nua e a revelar todos os motivos das suas inseguranças e ódios. Mas nada adiantou para abafar o barulho. Os seus soluços eram incontroláveis
-Juliette? - Ellie bateu na porta - o que se passa? Estás a chorar?
-Nao...- respondeu com a voz tremula, sem sucesso para esconder.
-Eu sei que estás, abre a porta - mas antes de mais nada, Ellie consegui abri-la num gesto involuntário ao rodar a maçaneta. Não estava trancada por dentro - o que se passa?
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