Andava de um lado para o outro naquele bendito quarto, havia perdido as contas de quantas passadas havia dado. Minha respiração soava tão rápida e pesada como a de um elefante, passei a mão pela testa quando uma gota de suor escorreu. A tela do meu notebook permanecia na mesma página pesquisada por mim, eu me recusava a acreditar, me recusava.
Louis planejava tomar aquilo? Será que ele já havia tentado?
“Quando o cianeto for inalado, pode causar coma com convulsões, apneia e parada cardíaca em uma questão de segundos. Doses maiores que 1.5 mg/kg de peso costumam ser fatais.”
“Ação do cianeto no organismo: O íon cianeto reage na hemoglobina do sangue fazendo com que esse não transporte oxigênio aos tecidos, por isso é considerado uma substância extremamente tóxica, acarretando em morte rápida.”
Senti um embrulho no estômago ao ler aquelas palavras, meus olhos lacrimejavam e eu sentia um aperto no peito ao imaginar Louis tomando aquilo.
— Droga, Louis...
Praguejei internamente inúmeras vezes, o que eu iria fazer? Ele com certeza me mataria se eu ousasse comentar algo com ele. Será que Karen sabia? Ou Johanna?
Lágrimas escorriam de forma descontrolada pelo meu rosto e eu desabei no chão do meu quarto, abracei os joelhos e me permiti chorar como nunca havia feito antes.
Eu estava perdido.
***
Uma semana havia se passado e eu ainda não havia comentado nada sobre o assunto com Louis ou Karen, e aquilo só me destruía cada vez mais, eu passava a maior parte do dia trancado no quarto. Nos primeiros dias inventei uma infecção estomacal, até fingi ir ao médico pedindo a Zayn que forjasse um atestado — ele conhecia todo tipo de gente —, mostrei a Karen e ela disse que eu poderia passar uns dias em casa, alegando que ficaria com Louis nesse período. Pensei que ele fosse reclamar ou algo do tipo mas, não o fez, apenas concordou com tudo o que ela disse e balançou os ombros fingindo indiferença.
Minha mãe sabia que algo havia acontecido pois perguntava a todo o instante se eu estava bem e se só era infecção estomacal mesmo. Já não aguentava mais tantas batidas na porta e diversos questionamentos, eu só queria ficar sozinho em paz, era pedir muito?
— O que você vai fazer? — perguntou Zayn, esparramado na minha cama.
— Eu realmente não sei — cocei as têmporas, minha cara não era das melhores. Não havia dormido direito ao longo dos dias e as olheiras fundas eram bem nítidas.
— Eu contaria a alguém. — soltou simplesmente.
— Não é assim tão fácil, Zayn.
— Sei que não... — levantou sentando-se sobre os joelhos. — Mas acha que fugir é o certo?
— Eu não estou fugindo. — bufei irritado.
— Ah não? — sorriu sarcástico — Então quer dizer que realmente está doente e que esse atestado de quinta é real? — jogou o papel amassado no meu rosto.
— Eu já disse que não sei o que fazer! — elevei o tom de voz. — Eu não consigo sequer olhar nos olhos dele sem sentir vontade de socá-lo, mas ao mesmo tempo... — senti um nó na garganta — Queria poder abraçar ele e dizer que tudo ficará bem, mas não posso prometer isso. — sorri triste — Não sei o que se passa na sua cabeça e muito menos posso imaginar o tamanho do seu sofrimento.
— Cara, você tá ferrado mesmo.
— Ah, obrigado por me contar. — empurrei seu ombro esquerdo e ele riu, acabei rindo também. Zayn me entendia como ninguém e sabia bem o que eu estava sentindo naquele momento.
— Você gosta mesmo dele não, é?
— Sim. — suspirei.
Sim, eu gostava. Mesmo com todas as complicações e dificuldades eu gostava, mesmo com todos os defeitos eu gostava, ah e como gostava. Eu me sentia um idiota por não conseguir resistir todas as vezes que o via sorrir — mesmo que fosse por pouco tempo —, ou quando ele me abraçava forte enquanto chorava no meu peito buscando algum conforto.
Louis Tomlinson acabava com o meu psicológico e eu adorava.
Batidas na porta me acordaram do transe e ouvi a voz da minha mãe me chamando.
— Pode entrar! — me preparei já para o monólogo da vez.
— Não me ouviu chamar lá em baixo? — falou exasperada enquanto me encarava brava.
— Eu estava no banheiro. — menti.
— E você, mocinho? — virou-se para Zayn. — Estava fazendo o que?
— No ba... — tossiu — Dormindo, ah... — fingiu um bocejo e eu ri da sua péssima atuação.
— Que seja. — deu de ombros. — Toma. Atende — me entregou seu celular.
— Quem é? — franzi as sobrancelhas.
— Cala a boca e atende. — grunhiu baixinho e eu senti vontade de rir, Zayn soltou uma risada e eu dei uma cotovelada na sua barriga.
— Alô?
— Harry?
— O-oi Karen. — gaguejei nervoso e Zayn tapou a boca segurando mais um riso, olhei feio pra ele e o vi sussurrar um “desculpa”.
— Você está bem? — seu tom de voz soava preocupado. — Eu liguei para o seu celular algumas vezes.
— Ah, eu não vi. — menti. Eu havia ignorado as ligações.
— Eu sei que no seu atestado diz que você deveria ficar repousando até amanhã mas, — parou quando um barulho a interrompeu.
— Eu falei pra não ligar pra ele!
— Louis, pare! — choramingou — Harry, você poderia vir aqui, por favor?
— E- eu — gaguejei enquanto Zayn e minha mãe me encaravam de olhos arregalados. Eu deveria estar mais branco que o normal, minhas pernas tremiam e eu sentia vontade de vomitar.
— Ele estava chamando por você, por favor...
— Eu não estava chamando ninguém! — sua voz estava mais próxima e o barulho da ligação sendo desligada soou.
— O que aconteceu? — perguntou dona Annie me balançando pelos ombros. Seus olhos nervosos.
— Eu tenho que ir.
***
— Me desculpe, eu não sabia o que fazer... — Karen falava tropeçando nas palavras.
— Onde ele está? — rodei os olhos pela enorme mansão.
— Trancado no quarto.
Não esperei ela dizer mais nada, apenas corri até estar de frente a enorme porta de madeira do seu quarto.
— Louis? — tentei soar calmo mas minha voz soou mais rouca que o normal — Por favor, abra a porta.
Não obtive resposta
— Não faz isso comigo. — supliquei já sentindo meus olhos marejarem.
Por que tinha que ser daquele jeito?
— Eu não vou embora daqui.
Ouvi um suspiro alto e encostei a orelha na porta.
— Eu estou ouvindo sua respiração. — apertei os olhos e funguei quando uma lágrima teimosa escorreu.
— Eu sei que você mexeu na gaveta. — disse baixo.
Droga, mil vezes droga.
— Foi por isso que foi embora, Harry? Não deveria ter se surpreendido tanto com o que viu. — soltou uma risada forçada.
— Abre a porta Louis... — solucei.
— Vai embora.
— Me perdoa. — implorei — Eu não deveria ter fugido, por favor me perdoe.
Ouvi o barulho da porta sendo destrancada e finalmente respirei aliviado. Encarei o nada a minha frente já que Louis já tinha se virado e permanecia parado ao lado da cama.
— Você é um imbecil. — começou — Infecção intestinal, não tinha uma desculpa menos estúpida para inventar não? — me fuzilou com o olhar.
— Eu senti sua falta. — me permiti sorri pouco me importando com as ofensas da parte dele.
— Ouviu o que eu falei?
— Você é tão lindo. — eu não parava de sorrir. Parecia que eu havia batido a cabeça cem vezes na parede, tudo girava e a última coisa que eu vi antes de cair no chão foi os seus olhos azuis brilhantes.
***
Acordei com duas mãos balançando meus ombros.
— Que droga Harry, acorda!
— Ai — gemi — Para de gritar, tá doendo. — coloquei a mão na cabeça sentindo a mesma latejando.
— Que bom que dói.
— O que aconteceu? — cocei as têmporas enquanto encostava as costas na cabeceira da cama. — Por que minhas roupas estão sujas? — arregalei os olhos vendo minha camisa branca cheia de terra.
— Você desmaiou e Karen chamou o jardineiro pra te carregar. — me puxou pela camisa. — Agora sai da minha cama que você está sujando tudo!
Tropecei nos meus próprios pés enquanto me levantava tentando me recuperar da vergonha que havia passado.
— Karen fez um sanduíche. — sibilou — Você está magro e horrível. — fez uma careta enquanto me analisava — Está tentando se matar? Existem meios mais rápidos, sabia? — soltou irônico.
— Não me provoque. — rosnei. Como ele tinha coragem de falar aquelas coisas?
— Não mexa no que não é da sua conta. — trincou o maxilar.
Seu olhar era mortal, tenho certeza que se pudesse ele voaria no meu pescoço e me enforcaria até a morte. Mas eu não me importava nem um pouco, estava pouco me lixando pro que ele achava ou deixava de achar.
— Eu vou para o meu quarto. — falei com a calma que ainda me restava.
— Eu não terminei! — rosnou e puxou meu braço — Acha que eu quero que você continue aqui?
— Não perguntei o que você acha. — sua mão afrouxou e ele arregalou os olhos abrindo a boca completamente surpreso.
Andei até a porta e procurei sair dali o mais rápido possível.
***
— Louis Tomlinson. — a recepcionista do consultório sibilou e eu agradeci internamente.
— Vamos. — empurrei a cadeira de rodas pelo longo corredor.
Era o dia da consulta com o fisioterapeuta que o Doutor Richard havia marcado.
Louis e eu não tínhamos conversado desde o dia que voltei para a casa dele. Passamos o fim de semana todo ignorando a presença do outro, falando somente o necessário. A situação me incomodava sim de certa forma, mas eu preferi deixar as coisas fluírem naturalmente, nenhum dos dois estava com cabeça para mais discussões.
— Você vai entrar comigo? — perguntou sem me encarar.
— Quer que eu entre? — seus olhos pareciam perdidos.
— Se você não me dedurar para o médico, eu quero sim — sorriu triste.
— Eu não faria isso, não se preocupe. — toquei sua bochecha e ele fechou os olhos — Vamos.
— Bom dia! — cumprimentou o médico, sorridente — Me chamo Antonny, tudo bem?
— Harry — sorri simpático junto com um aceno de cabeça e apertei sua mão, Louis fez o mesmo.
— Richard me passou algumas coisas sobre o seu caso Louis, mas eu gostaria de saber mais sobre você.
— Não tenho nada a dizer. — soltou indiferente.
— Louis... — comecei e respirei fundo — Me desculpe, ele...
— Não, tudo bem, Harry — mostrou mais ainda os dentes brancos. Meu Deus, ele não parava nunca de sorrir? — Pode me ajudar a colocá-lo deitado ali, por favor? — tocou meu ombro direito assim que levantou apontando para a maca no canto da sala.
— Oh, claro...
— Ele pode fazer isso sozinho — disse Louis e me encarou erguendo as sobrancelhas — Harry? — abriu os braços como um bebê na minha direção.
Vi o olhar constrangido de Antonny e me senti um pouco mal por ele.
— Não dá pra tentar ser um pouco educado? — sussurrei em seu ouvido enquanto o ajeitava em meus braços. Ele rosnou baixinho e eu senti vontade de rir, seus braços rodearam meu pescoço enquanto eu caminhava calmamente até a maca.
— Você leva jeito — disse Antonny enquanto se aproximava e eu sorri sem graça. Dei um passo pra trás, mas parei assim que a mão de Louis segurou a minha firmemente, entrelaçando nossos dedos.
Arregalei os olhos levemente surpreso e ouvi um pigarreio do médico.
— Bom, vamos começar.
***
— Não gostei dele.
Ouvi Louis dizer enquanto o colocava no banco do passageiro. Apertei seu cinto mais uma vez conferindo sua postura, acertei seus quadris e fechei a porta do carona, dando meia volta no carro.
— Ouviu o que eu falei?
— Ouvi. — dei partida. — Está com fome?
— Não. — cruzou os braços emburrado, dando fim a conversa e eu agradeci internamente por aquilo.
Minutos se passaram enquanto percorríamos as bonitas avenidas de Londres, o dia estava lindo e o sol insistia em aparecer em meio às diversas nuvens.
Ouvi um resmungo do meu lado e respirei fundo tentando ignorá-lo. Era a minha escapatória nos últimos dias, apenas ignorar algumas atitudes dele.
— Eu não ia fazer.
Franzi as sobrancelhas e finalmente o encarei. Ele bufou irritado achando que eu ia falar alguma coisa e continuou.
— Eu não pensava em tomar — engoliu em seco — Não mais...
— E por que ainda estava guardado? — soltei, minha voz soando um pouco rude. Vi seus ombros encolheram e seus cílios baterem rapidamente.
— Estava ali a muito tempo, e-eu não sei. Eu...
— Tudo bem. — encarei o trânsito a minha frente, não queria olhar pra ele.
— Não, não está! — deu um murro na porta e praguejou baixo — Você nem ao menos consegue me olhar. — disse melancólico e tocou meu braço — Harry, por favor.
— Eu estou dirigindo. — tentei soar firme mas na verdade meu peito doía como nunca.
— Para o carro, por favor. — apertou levemente meu braço fazendo um carinho gostoso ali.
Eu era fraco, muito fraco. E ele sabia exatamente como me deixar vulnerável.
— Me desculpa. — soltou assim que o carro foi estacionado por mim numa vaga qualquer.
Fechei os olhos com força sentindo seu rosto se aproximar e sua cabeça descansar em meu ombro.
— Harry. — pediu manhoso e eu mordi o lábio inferior sentindo meus olhos lacrimejarem. — Por favor. — seus lábios tocaram meu pescoço num beijo singelo e eu senti algo molhado tocar meu ombro. Ele soluçou e eu coloquei as mãos no rosto, chorando.
Não me importei com nada, apenas tentei colocar pra fora tudo o que estava sentindo, não aguentava mais todo aquele bolo acumulado na garganta. Eu chorava, chorava, chorava... E ele também.
Senti quando seu braço esquerdo circulou meu pescoço me puxando para um abraço, encostei a cabeça em seu peito, sentindo aquele cheiro que me fazia suspirar, agarrei seu suéter de cor preta com força enquanto soluçava contra seu peito.
— Me perdoa. — pediu mais uma vez.
Levantei a cabeça, encarando aqueles olhos azuis tão lindos que agora estavam inchados por conta do choro. Beijei sua bochecha, limpando uma lágrima que ainda escorria.
— Eu quero beijar você. — soltei.
Ele sorriu e, puta merda que sorriso.
Seus lábios me deram um selinho singelo e eu agarrei sua nuca, desesperado por um contato maior, pedi passagem com a língua e ele cedeu gemendo quando puxei levemente seus cabelos. Sua mão tocou meu peito que batia descompassadamente, e ele fez um carinho ali com as pontas dos seus dedinhos.
— Calma. — tocou minha bochecha e sorriu sem mostrar os dentes.
— Desculpe. — colei nossas testas.
— Eu juro que... — toquei seus lábios com o polegar.
— Tudo bem, não precisa falar mais nada — sorri reconfortante e ele respirou aliviado.
— Quer ver meus troféus? — ah, aquele sorriso de novo.
Louis Tomlinson era a minha droga.
***
— Eu não acredito que você já tinha visto e não me contou nada!. — fez um bico cruzando os braços.
— Se visse sua carinha pidona me entenderia. — apertei a pontinha do seu nariz e ele bufou.
— Argh, estragou toda a surpresa. — gargalhei.
— Se quiser eu posso fingir que não vi. — andei pelo quarto pequeno e peguei um dos retratos. — Uau, é você? — apontei para uma foto dele segurando um troféu com um sorriso de orelha a orelha.
— Você é um idiota! — tentou segurar o riso.
— Está com fome? Posso pedir pra Karen fazer algum lanche pra gente enquanto você me mostra cada um dos seus troféus. — beijei rapidamente seus lábios e ele gemeu manhoso.
— Tá bom. — disse derrotado.
— Eu já volto.
Caminhei pelo longo corredor até chegar à cozinha, bufei em frustração quando não a encontrei.
— Karen? — chamei.
Abri a porta do jardim porém, recuei assim que ouvi sua voz.
— Não importa, Johanna! Você não tinha o direito de falar aquelas coisas pra ele, você sabe bem como ele fica quando fala dela. — sua voz soava extremamente irritada.
Dei mais um passo pra trás com medo de ser pego mas acabei me desequilibrando batendo com tudo na parede.
— Droga! — praguejei e ela levantou assustada, enfiando o celular nos bolsos do seu avental.
— H-harry? — pigarreou nervosa, passando rapidamente por mim.
Semicerrei os olhos analisando seu comportamento estranho.
— O que houve? — cruzei os braços a seguindo pela enorme cozinha — Por que ficou tão nervosa com o fato de eu ter ouvido?
— Não estou nervosa — virou as costas mexendo em alguma coisa no fogão.
— É a tal Eleanor, não é? — suas costas tencionaram — Louis me falou, disse que ela o abandonou e...
— Harry. — me interrompeu.
— Por que Johanna falou daquele jeito sobre ela? Não sabe que ela traiu o Louis? — cuspi as palavras. Talvez eu estivesse exagerando um pouco, mas aquela situação toda era confusa demais.
— Harry! — segurou meus ombros e eu encarei seus olhos arregalados. — Eleanor morreu faz quase um ano.
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