Moro numa casinha confortável, de bairro mais ou menos bem localizado. Toda azul, beeem azul. A tinta não desmancha, desbota, sei lá. Minha família também é legal.
Azul às vezes cansa, mas em sesenta e três porcento do tempo ainda é legal.
Minha irmã, antes de fugir com sei-lá-que-mulher-predestinada, me deu o colarzinho de pedra água-marinha da família. É lindo, tão lindo que parece bijuteria. Diz ela e diz mamãe que vai brilhar quando eu encontrar o tal do destino, o predestinado, essas coisas de filme, mas não sei se acredito tanto quanto elas. E, como eu disse, é uma família legal, mas só sesenta e três porcento do tempo: quando mamãe e papai não brigam, quando não lembro que minha irmã fugiu de casa. Os outros trinta e sete porcento não são legais, é quando azul enjoa.
Depois da minha festa de quinze, um bom tempo atrás, nada de interessante aconteceu na minha vida; eu só percebi umas coisas: fiquei mais alta, engordei, emagreci, não sei mais meu peso, nem minha altura, mas devo ser alta. Meus pais predestinados não se amam tanto assim, minha irmã não pode viver só de amor e eu tento não perceber muito mais desde que me tornei maior de idade.
Às vezes a pedrinha esquenta e eu lembro que é bonita, mas não passa disso: é bonita. Só. Ponto. Não faz as coisas ruins sumirem. Não tem ninguém predestinado pra mim, seria até assustador, eu teria medo se encontrasse essa pessoa predestinada.
Eu sou noventa e nove vírgula um, um, um porcento desinteressante.
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