Lisanna Strauss
Sinceramente, Mirajane acha que sou idiota? É claro que está óbvio que ela falou para os médicos me enrolarem aqui. Olho para a cardiologista, que explica que tipos de exames vou ter que fazer para descartar qualquer possibilidade de um ataque cardíaco.
— Doutora Mag, com todo o respeito, eu não estou tendo um infarto! Eu tenho dezesseis anos. — Reviro os olhos.
— Ataques cardíacos na sua idade podem ser fatais — explica com calma.
Vou acabar tendo um ataque só dá raiva que estou passando aqui. Eu tenho que voltar a treinar!
"Você não passa de uma maga abençoada pelos dons familiares."
Suspiro, ela tem razão, eu sou abençoada por dons familiares e não sei usá-los. Preciso dominá-los ou irei matar as tradições da minha família. Saio dos meus pensamentos com a doutora caindo no chão.
— Doutora Mag! — Levanto indo até ela.
Recordando das minhas aulas com Grandeeney, coloco dois dedos no pescoço da mulher para sentir a pulsação dela, e não a sinto. Aperto o botão ao lado da cama indicando um código azul e começo a fazer massagem cardíaca no peito da mulher, faço exatamente como aprendi com a Grandeeney. Para quem estava falando que eu poderia ter um ataque cardíaco é bem irônico ela ter um. Escuto a gritaria no corredor. Olho para a porta vendo a Lucy e um bando de enfermeiras assustadas.
— Alguém aí quer ajudar essa mulher? Ou vão deixá-la morrer? — pergunto ainda fazendo a massagem.
As enfermeiras saem do susto ao verem a paciente cuidando da médica e começam a se movimentar. Lucy dá espaço para elas, mas fica olhando atentamente para tudo que está acontecendo.
— Precisamos do desfibrilador! — ordena uma médica.
— Foram buscar o do andar de cima, o nosso está com defeito — informa uma das enfermeiras.
Mas que tipo de hospital não tem um carrinho de ressuscitação preparado?
Não entendo de negligência médica, mas essa parece ser uma bem grave.
— Essa mulher não pode esperar tanto tempo! — fala a médica verificando a pulsação constantemente.
Eu continuo a fazer as compressões cardíacas sem parar, mantendo o ritmo, mas meus braços já doem, principalmente o direito que está ferido devido ao meu intenso treinamento durante o final de semana. Olho para Lucy, ela puxa os dedos como se quisesse arrancá-los, mas olhar para suas mãos me fazem lembrar daquela sexta-feira, quando a encontrei na sala de música. O shiden é eletricidade, se eu conseguir usar os raios dele para dar um descarga elétrica no coração dela… Funcionaria como um desfibrilador, mas se eu errar… Farei um buraco no peito dela. Vale a pena o risco? Mordo meus lábios e olho para a médica ao meu lado.
— Afasta, eu vou desfibrilar ela — falo para a mulher que franze as sobrancelhas.
— Como? — pergunta confusa.
— Com o shiden… Se você errar vai matá-la! Isso é uma magia para ataque! — Lucy dispara a falar, ela parece preocupada.
Concentro os raios no braço direito, fazendo um grande círculo de raios em volta de mim, a mulher se afasta e eu deixo a descarga fluir do meu corpo para o coração da médica inconsciente, no mesmo instante ela abre os olhos.
— Funcionou! Agora deixe com a gente!
Afasto-me deixando que tomem os devidos cuidados. Olho para a loira, que parece aliviada. E agora que posso finalmente pensar com calma, me pergunto o que ela está fazendo aqui. Me aproximo dela.
— Não a matou… Se não quisesse a carreira mágica poderia ser uma médica, você não tremeu em momento algum, manteve a cabeça no lugar, isso é um dom! — fala observando as enfermeiras colocando a mulher na maca.
— Quem disse que eu quero a carreira mágica? — falo a fazendo me encarar surpresa, e não a julgo por isso, todos pensam a mesma coisa de mim, mas a verdade é que nunca pensei muito sobre o futuro — Por enquanto não pensei o que farei no futuro, apenas estou vivendo um dia de cada vez, e nos dias atuais, o meu objetivo é dominar as técnicas do meu clã — explico encarando-a.
A verdade é que as coisas que ela disse naquele dia me machucaram. Ela me vê como todos os outros. Apenas meus amigos sabem como eu me esforço para ser boa... Não é como se eu tivesse nascido sabendo fazer tudo ou como se conseguisse tudo de primeira. Longe disso, eu treino duro demais! Eu dou meu sangue e suor, porque sou a única que pode fazer isso, é minha obrigação manter o legado da minha família!
— Por isso se esforça tanto. — ela toca com cautela no meu braço direito que está enfaixado — Desculpa, eu não deveria ter te julgado daquela forma… — os olhos castanhos se encontram com os meus e os dela estão marejados.
Sinto meu coração falhar uma batida e se apertando como se estivesse sendo esmagado pelas lágrimas que enchem os olhos dela. Coloco minha mão sobre a dela em meu braço.
— Não se preocupe com isso, eu estou bem, você só me deu motivação para treinar, isso não é ruim, né? — falo dando um sorriso sem graça.
Essa é uma meia verdade, as palavras dela me machucaram e eu usei essa dor como motivação para treinar, mas não posso dizer toda a verdade para ela, afinal, não quero vê-la chorando.
— Hãm… não sei, Mirajane está brava — fala com um sorriso nervoso — Acho que se ela descobrir que fui eu… Ela me mata!
— Provavelmente, então, esse fica sendo um segredo nosso. — dou um sorriso.
Ela afirma olhando em meus olhos. A loira passa a mão no meu cabelo o ajeitando e levemente um sorriso aparece em seus lábios. Tombo um pouco a cabeça achando estranha a atitude dela, mas decido ignorar isso. Ela dá um passo para trás e pega na mochila seu caderno.
— Vim trazer as anotações e vi que suas notas em inglês são péssimas! Se quiser eu posso te ajudar com isso.
Mudo o peso de um pé para o outro. Levy sempre me ajuda com essas coisas, mas ela anda ocupada com as aulas da Eileen-sensei, ela é péssima em encantamentos e nossa professora é muito exigente! Eu estava pensando em pedir ajuda para a Mira-nee, mas ela também está ocupada, tanto com a academia, quanto com o conselho estudantil. Porém, pode ser uma boa ideia ter a ajuda da Lucy?
Eu mal conheço ela, e não gosto de deixar pessoas estranhas entrando na minha vida assim... Porém, sinto que posso confiar nela, e tem aquela sensação de que a fiz esperar por tempo demais, isso ainda embriaga meu coração toda vez que a vejo.
— Tudo bem — falo por fim — Mas porque quer me ajudar?
— Será meu jeito de pedir desculpas e eu estou com tempo livre — explica de forma breve — Marcamos depois que você sair do hospital — fala me encarando e se vira para sair — Ah, sua namoradinha, Yukino, tá na recepção, não deixaram ela entrar. — Ela me olha por cima do ombro.
— Ela não é minha namorada, e prefiro que ela não entre, ela sempre me deixa desconfortável — explico cruzando os braços.
— Hum… entendi. — Ela dá um leve aceno — Até logo, Lisanna — falou saindo do quarto.
Jogo-me na cama, passo a mão delicadamente pelo meu braço direito, parando justamente onde Lucy havia colocado sua mão, vê-la partir novamente fez eu sentir um vazio em mim. Lucy Heartfilia quem você é?
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