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História Incógnito VKook - Taekook - Um incentivo


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Olá leitores-amores! Olha quem apareceu <3 ia deixar pra publicar amanhã, mas o pessoal no twitter me deixou empolgada e eu resolvi apressar a correção e edição. Espero que não tenha deixado nenhum erro passar batido (mas qualquer coisa me avisem, hein?)
Tomara que vocês gostem desse capítulo! Queria dedicar ele especialmente à Yorrana, uma leitora super querida que está passando por um momento difícil. Espero que esse capítulo aqueça seu coração, mesmo que só um pouquinho <3

Boa leitura a todos!

Capítulo 31 - Um incentivo


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Um incentivo

Um incentivo.

Em papéis coloridos, a singela e anônima prova de que Taehyung não estava sozinho.  De que existiam outros, passando pelo mesmo, o observando e apoiando.

Entretanto, a tarefa de retirar os bilhetes do armário cabia apenas a ele.

Um a um, o garoto incógnito recolheu as mensagens anônimas, em seu solitário ritual mudo. Jeongguk assistia conforme ele colava os post-its na palma da mão, cada frase de amparo, cada traço de esperança. Com um olhar comovido, Taehyung apertou os papéis coloridos entre os dedos. Levantou o rosto e, lentamente, o sorriso singular definhou. A porta de metal do armário foi desvendada, cinzenta e velha, triste.

Enfim, a última mensagem.

“Aqui está um poema pra você, Alien Viado:

Espero que engula um pênis e morra engasgado”

Taehyung deixou escapar uma risada pelo nariz, curta e melancólica.

- Ele se esforçou... deve ter passado o dia inteiro pensando nisso ontem. – Disse, num humor sombrio. Encarou os próprios pés, e a franja castanha lhe escondeu parte do rosto. – É a coisa mais criativa que já me escreveu.

Sem pensar, Jeongguk alcançou o pulso fino por cima do paletó grafite do uniforme. Virou Taehyung para si, o obrigando a dar as costas para o poema vulgar do alma ruim e a levantar os olhos do chão.

- Olha só pra mim. – Exigiu, a voz trêmula, o coração angustiado e pequenino, espremido no peito. – Hyung, isso é...

A frase morreu na metade. Nem ao menos tinha palavras para descrever a náusea na boca do estômago, a aversão àquelas palavras maldosas. Mas o garoto incógnito apenas ergueu as sobrancelhas e piscou olhos questionadores.

- Jeongguk, tá tudo bem, sério. Isso não me afeta mais. Eu estou acostumado.

- Mas eu não.

E não mesmo. Jamais se acostumaria a algo tão absurdo. Ver aquela mensagem grosseira provocava não só nojo e ânsias de vômito, mas também uma repentina vontade de chorar. Era insuportável assisti-lo passando por isso.

E Jeongguk sabia: seu armário só não tinha sido vandalizado porque sua reputação ainda lhe servia de algo.

Era ainda pior que todos os seus erros fossem descontados em Taehyung. Em parte, era sua culpa. Se não tivesse sido tão desajuizado em arrumar rivalidades e confrontos com o alma ruim, talvez ele não estivesse passando por isso.

Se não fosse por Jeongguk, o poema nem existiria.

Mas, nos olhos cósmicos de Taehyung, Jeongguk não viu arrependimento. Não viu medo, nem vergonha. Os olhos dele flamejavam uma nova confiança, gerada pela faísca daquele pequeno incentivo em papéis coloridos.

E Jeongguk percebeu que, ainda que o garoto incógnito fosse a vítima, era ele próprio o elo mais fraco.

Sem dizer nada, Taehyung abriu um sorriso tranquilizador. A mão dele deslizou pela sua, afastando o aperto no pulso. Ele delicadamente pressionou seu dedo mindinho.

- É só a gente limpar, Jeongguk-ah. E depois esquecer.

Simples assim. Como se um pouco de álcool e um pano velho fossem apagar os anos de maldades.

Era eu quem devia estar te protegendo, Taehyung-ah. Então por que parece o contrário?

 

~x~

Os dois dias seguintes foram angustiantes. Jeongguk ouviu histórias desagradáveis, sobre como seu namorado fora humilhado em sala de aula e ofendido na frente dos colegas, na quarta-feira, e atacado com beliscões e rasteiras na quinta. Precisou reunir todo o seu autocontrole para não fazer algo precipitado, mas já havia causado problemas demais e sabia que qualquer passo em falso e seria Taehyung a ter de lidar com as consequências de seus atos. Portanto, mordeu a língua todas as vezes que ouviu comentarem sobre algum incidente. Fechou os punhos com raiva e engoliu a injustiça presa em sua traqueia.

O próprio Taehyung, ao se encontrarem durante o intervalo ou no ponto de ônibus, não disse nada sobre as provocações. Abriu seu sorriso de costume e, sempre que alguém citava Baek Geunsuk, ele rapidamente desviava o assunto para alguma curiosidade inesperada, algum novo conhecimento excêntrico. Ou então, narrava em tons animados o ponto alto do seu dia, como tinha ido bem no trabalho de história ou algo engraçado que Hani fez na tarde passada. E, apesar de saber que as fofocas pelos corredores eram verdade, Jeongguk ouviu calado as tagarelices aleatórias do namorado, mesmo sabendo que ele só estava evitando tocar na ferida. Aceitou e respeitou a vontade dele de não conversar sobre o assunto.

Mas tinha outra coisa. Algo novo e brilhante que surgiu em Taehyung desde que aqueles bilhetes foram colocados no armário. Uma firmeza desconhecida, a aura reluzente tornando-se ainda mais vibrante ao seu redor, o olhar decidido, a coluna ereta. Naquele dia, alguma coisa mudou dentro dele. Transbordou no jeito de falar, na segurança impressa em seu sorriso torto, nos ombros largos que já não se encolhiam por qualquer coisinha. E, a cada vez que se encontravam, Jeongguk assistia o garoto incógnito desabrochar mais um pouco.

Era um alívio. Era o estímulo que precisava para conter sua sede de vingança, sua fome de violência, seu irresponsável impulso protetor. Ao ver Taehyung renovado de confiança, Jeongguk pensou que não precisava reagir. Que ele estava se erguendo por conta própria, à sua maneira e em seu tempo. Aquela era uma conquista só dele.

Ao fim das aulas na quinta-feira, Jeongguk não encontrou Taehyung o esperando no corredor. Com a mochila verde militar nos ombros e as mãos nos bolsos, parou ao lado da pilastra de concreto onde o via todos os dias. Fez uma pequena oração silenciosa, desejando que não tivesse acontecido nada de grave, e aguardou a chegada do namorado. Ele ia chegar.

Em cinco minutos, Taehyung apareceu pela curva das escadas. A postura reta, o olhar digno, as mãos livres dançando ao lado do corpo. Jeongguk abriu um sorriso enorme.

- Desculpa a demora. – Ele disse assim que o alcançou, num tom descontraído. – Tive que passar no banheiro antes.

De imediato, aceitou a justificativa e concordou com a cabeça, sorrindo. Lembranças desconvidadas do diário vieram à mente, com o Incógnito confidenciando que se escondia no banheiro e esperava os outros estudantes saírem do colégio primeiro, para evitar ser importunado, mas Jeongguk simplesmente empurrou a informação abusada pro fundo da cabeça. Taehyung parecia alegre, e era isso que importava. Acreditava no que via, agora, bem na sua frente.

- Tudo bem, hyung. Eu acabei de chegar. – Sorriu, determinado a deixar suas suspeitas de lado. – Vamos?

Ele afirmou com a cabeça e mordeu o lábio inferior, no meio dum sorriso tímido. Caminharam sem pressa, pelo trajeto de todos os dias até o ponto de ônibus, lado a lado, cúmplices e silenciosos, Jeongguk contendo sua vontade insana de segurar a mão dele e Taehyung – por algum milagre – de cabeça erguida.

- Taehyung! – Ouviram chamar às suas costas, e Jeongguk sentiu o estômago afundar ao reconhecer aquela voz.

Virou-se no mesmo instante, procurando a fonte do chamado. Ele vinha apressado, num passo entre o andar e o correr, os cabelos pretos pulando sobre a testa. Jeongguk fechou os punhos com força.

Nariz reto e aristocrático, queixo afiado, olhos pequenos e enviesados.

- Won? – Ouviu Taehyung murmurar ao seu lado e olhou para ele. Sua expressão era curiosa, talvez um pouco surpresa, mas discreta. As sobrancelhas juntas no meio da testa e o lábio superior ligeiramente levantado num dos lados, em dúvida.

- Isso é seu, não é? – O gêmeo Baek perguntou assim que alcançou os dois, um pequeno livro nas mãos estendidas. – Achei debaixo da sua carteira.

Jeongguk alternou o olhar entre um e outro, imóvel, sem saber como agir.

- Ah, é! Nossa, eu podia jurar que tinha conferido tudo. – Taehyung concordou, enfático, afirmando com a cabeça. Pegou o livro e abriu um sorriso educado. – Ainda bem que você encontrou. Obrigado!

Geunwon sorriu. Jeongguk nunca tinha o visto sorrir antes, e pensava que aquele rosto só conseguia se contorcer no clássico sorriso maldoso de Geunsuk, o de canto, ao qual infelizmente estava tão acostumado. Entretanto, o sorriso de Geunwon era completamente diverso. Era tímido e pequeno, como se ele não tivesse permissão de sorrir e tentasse conter a expressão a todo custo. As covinhas surgiram, e dessa vez Jeongguk não viu um alvo onde acertar seu punho. Eram covinhas simpáticas. O sorriso chegava a incomodar de tão infantil.

- Por nada, eu, hm… tenho que ir. – Ele disse, num tom hesitante. Jeongguk viu os olhos de Geunwon pararem em seu rosto por um momento, mas ele desviou logo depois. – Tchau, Tae. Acho que te vejo na festa, hm?

Mas antes que Taehyung pudesse responder, o gêmeo estudioso deu as costas e foi embora, no mesmo trotar apressado que tinha chegado.

Jeongguk virou-se para o namorado, com uma expressão ofendida.

- Eu sou invisível ou o quê?

- Hãn? – Taehyung disse, distraído, e então soltou uma risada. – Não. Não é mesmo. Geunwon só é tímido, tenho certeza que ele te viu.

- Eu não sei como ele tem a cara de pau de falar com você, sinceramente. Depois de tudo o que o irmão dele fez...

- Náh, não é culpa dele. Acho que Won é tão vítima quanto eu.

“Won”. – Repetiu, revirando os olhos.

- Você tá com ciúmes? – Taehyung riu, e deu-lhe uma cotovelada brincalhona no braço. – Eu devia te chamar de Guk? Ou Jeonggukie?

Jeongguk sentiu um calafrio subir pela espinha. Piscou os olhos, sem reação, e ficou encarando o namorado, perplexo com a expressão casual no rosto acobreado. Jeonggukie? Sua mãe o chamava assim, quando estava tentando ser fofa. Sempre amolecia com o apelido. Oh, céus. "Jeongguk-ah" já era o suficiente para fazer seus nervos vibrarem, mas Jeonggukie?

Sentiu todo o sangue subir direto para o rosto.

- Ah, então você gosta. – Taehyung concluiu, com um sorriso sagaz, a recém descoberta segurança evidente em seu tom. – Awn, você ficou vermelho. Que fofinho, meu Jeonggukie tá com vergonha.

"Meu"? Não só o apelido, mas meu Jeonggukie?

Sem aguentar encarar a expressão excessivamente confiante do namorado, Jeongguk desviou os olhos para o chão, focando nos dois pares de tênis brancos e escondendo suas bochechas ridiculamente coradas.

- Vamos, hyung. – Alcançou a nuca dele com uma das mãos e saiu na direção do ponto de ônibus. Taehyung deu uma curta gargalhada enquanto caminhavam, mas felizmente não fez nenhum outro comentário constrangedor.

O ponto de ônibus estava vazio, provavelmente por causa do pequeno atraso de Taehyung e da interrupção de Geunwon. Os dois garotos se sentaram no familiar banco, lado a lado, sabendo que talvez tivessem que esperar um pouco mais pelo próximo ônibus, mas nem um pouco incomodados com a ideia.

Era confortável, aquele momento só deles. Mesmo que visse Taehyung nos intervalos, estavam sempre em grupo, ouvindo Hyeyeon e Songyi discutindo por qualquer coisa, enquanto se preocupava com Liz e seus olhares astutos. No ponto de ônibus, eram só os dois, ainda que não tivessem nada a dizer. Ainda que Jeongguk não pudesse tocá-lo, abraçá-lo, beijá-lo ou apenas segurar sua mão, ou que se tremesse de nervosismo, medo e angústia, sempre que recebiam um olhar suspeito de um ou outro estudante curioso, e Jeongguk logo pensasse que talvez tirassem uma foto, que talvez estivesse com aquele olhar bobo e apaixonado de novo, com o sorriso estúpido que só aparecia para Taehyung.

O costumeiro olhar deslumbrado que provavelmente estampava seu rosto nesse exato momento. Parecia impossível sequer desviar. Taehyung distraído com alguma coisa no celular, um sorriso contido nos lábios rubros, e de vez em quando ele mexia a cabeça pra tirar o cabelo da vista e seus fios castanhos mudavam o tom de cor. Aquela aura dele, singular, incógnita e hipnótica.

- Olha isso! – Ele exclamou, do nada, e Jeongguk foi brutalmente trazido de volta a realidade. Sentiu o namorado se aproximar no banco e colar o ombro no seu. Mal teve tempo de pensar nas borboletas no estômago e Taehyung enfiou a tela do celular em frente aos seus olhos. – Uma família na Inglaterra pagou 250 dólares pra retirar o tumor da barbatana de um peixinho dourado chamado Bob. Ele tem vinte anos, você acredita? É mais velho que a gente!

Jeongguk afastou o rosto do aparelho, tentando enxergar o que ele mostrava. Era um peixe dourado, desses que se ganha em feirinhas, deitado numa mesa de operação.

- Uau, o meu só durou alguns meses.

- Oh, eu sinto muito. – Disse num tom apologético, como se ainda estivesse de luto pelo peixinho dourado que teve há mais de cinco anos. Era adorável, como sinceridade e empatia transpareciam em cada palavra dele, e Jeongguk sorriu sem querer. Pensou que aquele era um dos motivos pelos quais gostava tanto de Taehyung. – Bob deve ser muito querido pela família dele. Felizmente a cirurgia foi um sucesso, e ele já está de volta em casa.

Encarou a expressão entretida do namorado, seu rosto perto demais, um sorriso encantado com a nova descoberta. O coração disparou eufórico, e Jeongguk automaticamente desviou os olhos, encabulado. Ficou completamente sem jeito, abobado como sempre, e por um segundo pensou que uma foto ou vídeo de um desses muitos momentos constrangedores seria prova o suficiente pra escola inteira saber, sem sombra de dúvidas, o quanto era apaixonado por Kim Taehyung.

E a mão dele sobre seu joelho não ajudou nada a disfarçar.

Jeongguk, aja naturalmente, pensou, respirando fundo. Céus, era cada dia mais difícil controlar a vontade de agir como queria, como qualquer outro adolescente namorando pela primeira vez, sem se importar com a opinião dos outros.

- Eu, hm… amanhã é sexta. A gente podia sair. Tipo, eu e você. Só nós dois.

Ótimo. Muito natural.

- Ah... – Taehyung hesitou na resposta e desviou o olhar para a rua. A mão dele deixou seu joelho, e Jeongguk soltou um suspiro de alívio. Entretanto, ao olhar para o lado, notou que ele já começava a cutucar as cutículas. – A gente devia ir naquela festa sábado. Hyeyeon quer mesmo ver o tal Esfera Elétrica, ela não fala de outra coisa.

Jeongguk arregalou os olhos, perplexo. Taehyung estava cogitando ir à casa do alma ruim?

- Songyi e Jimin vão, a gente não precisa ir também. Podemos ver um filme no cinema, ou se você quiser nós vamos no Pixel-

- Eu quero ir. – Interrompeu. – Nunca fui numa festa assim. Deve ser divertido.

Divertido? Mas, hyung…

- Guk-ah. – Ele sorriu de lábios cerrados, e Jeongguk emudeceu ao ouvir o apelido. – Você sabe que essa semana foi meio difícil, mas tem muita gente que passa pela mesma coisa que eu, todos os dias, e ninguém devia deixar de fazer o que tem vontade por causa do que os outros pensam ou fazem. E depois daquelas mensagens, eu… hm, eu sinto tenho que dar o exemplo. Eu quero ir.

Os olhos dele, outra vez, cintilavam aquele novo brilho de confiança. Ele estava certo, é claro, e não devia deixar de fazer suas vontades por medo. Mesmo assim, parecia muito arriscado. Na escola ainda tinham alguma proteção – professores, inspetores e funcionários, que de certa forma impediam o alma ruim de fazer alguma maldade drástica. E se mesmo dentro da escola ele tinha coragem de bater em Taehyung de forma tão covarde, com pilhas dentro duma meia, então na festa, fora do colégio, nada impedia Baek Geunsuk de agir com violência. Poderia ser perigoso.

Jeongguk alternou o olhar entre a expressão determinada de Taehyung e suas mãos sobre o colo.

Ele não arrancava mais as cutículas.

 

~x~

 

Durante o intervalo de sexta-feira, Taehyung deu a notícia de que iria na festa. Jimin, assim como Jeongguk, parecia inseguro e ficou questionando os motivos do garoto incógnito, cogitando se aquela era mesmo uma boa ideia. As três meninas, por outro lado, incentivaram a decisão.

- Vai ser demais, Tae! – Hyeyeon exclamou, empolgada. – Você vai amar o show, tenho certeza! E se alguém resolver pegar no seu pé e atrapalhar sua noite eu juro que dou uma surra no maldito. Não me importo se é filho do presidente ou se caga dinheiro, ninguém tem o direito de te incomodar. Você é tão formando quanto a gente, acho muito bom que tenha resolvido ir.

Ela estava certa. Era uma noite para Taehyung comemorar, assim como todos os outros estudantes do último ano. Jeongguk decidiu que apoiaria a vontade do namorado, ainda que estivesse inseguro. Insistiu que iria levá-lo na festa e depois deixá-lo em casa em segurança, e Taehyung sugeriu que dormisse lá depois. Não estava cem por cento confiante, mas já que ele fazia questão de ir, Jeongguk não ia desgrudar dele um segundo — para o caso de alguma emergência.

Por mais que seu namorado tivesse tentado tranquilizá-lo, repetindo mil vezes que “vai dar tudo certo”, era impossível não imaginar terríveis imprevistos. A expressão “conflito interno” seria um eufemismo para descrever o estado de espírito de Jeongguk no sábado.

Passou o dia todo corroendo o próprio nervosismo, com o mau pressentimento que ir à casa dos gêmeos Baek com Taehyung era uma péssima ideia. Ele estaria mais exposto do que nunca, e se alguma coisa ruim acontecesse Jeongguk tinha medo que a nova confiança de Taehyung fosse por água abaixo. Algum imbecil podia teimar de implicar com ele – e não só Baek Geunsuk, não. Ainda tinha Seo Bokjo, muitas meninas fofoqueiras, e toda uma turma de idiotas com quem se preocupar. Principalmente depois de tudo o que aconteceu nas últimas semanas... o poema, o boato sobre já terem se beijado e as babaquices recentes do alma ruim. Além disso, chegariam juntos na festa, e sairiam de lá juntos também. As más línguas não iam deixar passar batido.

Mas mesmo que fossem criar novos boatos, não tinha outro jeito. Ficaria a noite toda ao lado dele, é claro, ou acabaria explodindo de preocupação e ansiedade. Ainda que corresse o risco de descobrirem que eram mesmo namorados.

E, caso acontecesse, Jeongguk não ia negar nada.

Sabia bem que não era muito discreto com seus sentimentos. Perto de Taehyung, parecia impossível segurar os olhares apaixonados e sorrisos bobos, que praticamente anunciavam como se sentia. Além disso, metade da escola já desconfiava do romance. Seria a oportunidade perfeita para que algum curioso ou curiosa investigasse suas suspeitas. Havia uma grande possibilidade de que adolescentes bêbados fizessem comentários constrangedores.

E, por outro lado, seria a primeira vez que iria a uma festa com o namorado. O estômago se enchia de borboletas só de se imaginar entrando na festa com o garoto incógnito ao lado, pela porta da frente, ainda que ninguém tivesse certeza de que estavam juntos. Jeongguk estava ávido para ver de novo o brilho confiante em seus olhos. Queria que Taehyung ficasse de pé por conta própria e enfrentasse seus medos e inseguranças. Sentia orgulho do namorado, ainda que seu coração estivesse apertado de medo.

Além disso, estava louco para impressioná-lo. Não era sempre que podia se vestir bem, em algo além do uniforme ou de jeans e camisa branca, e Jeongguk não ia deixar a oportunidade passar. Passou vinte minutos abrindo e fechando gavetas, atrás daquela camisa xadrez, a única que tinha, até finalmente a encontrar. Tinha jurado para si mesmo que não ia mais se utilizar das informações no diário para se aproximar de Taehyung, mas resolveu abrir uma pequenina exceção para este pecado de boas intenções.

Com a ajuda da trapaça e muitas fotos e mensagens trocadas com Songyi, – cheias de seus aconselhamentos extremamente sinceros, em que ela insistiu fervorosamente (com algumas ameaças à sua saúde) para que repartisse o cabelo e colocasse a camisa para dentro do jeans rasgado – Jeongguk estava enfim pronto para sair.

Vestiu um sobretudo preto e colocou a mochila nas costas, a mesma que sempre levava quando ia dormir na casa de Taehyung. Desceu os degraus e parou na porta de entrada para calçar os tênis brancos.

- Oh, Jeon Jeongguk? Nem pensar! – Ouviu a voz de sua mãe, e cerrou os olhos. Não é possível. Seja lá o que aconteça, precisava ir nessa festa, nem que tivesse de fugir.

Deixar Taehyung sozinho não era uma opção.

- Mãe, lembra que eu já tinha te avisado? Hoje é a festa da pré-formatura do Jimin. – Explicou, olhando pra ela, mas sua mãe simplesmente ficou parada feito uma estátua, o rosto numa expressão esquisita de descrença. Estava começando a dar medo. – Eu vou dormir na casa do Taehyung, ok? Mãe?

- Meu bebê… – Ela choramingou, fazendo um bico. Oh não. Essa não era hora pra uma crise nostálgica. – Meu bebê se foi, você já é um homem feito! Eu não acredito que o tempo passou tão rápido, oh não, Jeonggukie…

- Mãe, você está agindo feito um bebê. – Retrucou, mas ela fez que nem ouviu e o apertou num abraço materno. – Eu tenho que ir, mãe. É sério.

- Yoonjung-ah! – Ela berrou, ignorando seu apelo. – Vem ver seu filho! Está muito mais bonito do que você era na idade dele.

Jeongguk revirou os olhos, impaciente. Céus, que dramalhão! Isso tudo só porque tinha colocado uma camisa de botões para dentro da calça?

Seu pai apareceu um segundo depois, e fez uma expressão surpresa ao vê-lo.

- Uau, Jeongguk, você caprichou! – Ele riu, malicioso. – Está tentando impressionar alguém? Aposto que é por causa de alguma garota. Você finalmente arrumou uma namorada?

Sentiu o estômago revirar com a menção de uma "namorada". Merda, Jeongguk já tinha um namorado. E sim, queria muito impressioná-lo.

Entretanto, pela primeira vez, sentiu-se nervoso ao pensar em como seus pais reagiriam ao descobrir que namorava um garoto. Não pretendia terminar com Taehyung tão cedo – talvez nunca – e uma hora acabaria tendo que contar pra eles. Não fazia a menor ideia de como iam lidar com a notícia.

- Vocês dois estão exagerando. – Reclamou, desviando do assunto, mas podia sentir o sangue crepitando nas bochechas. – Mãe, dá pra me soltar? Eu tenho mesmo que ir!

Demorou um par de minutos para que sua mãe enfim o libertasse do abraço, e Jeongguk finalmente conseguisse sair de casa.

Ia ter que agradecer a Songyi depois, pelas dicas. Aparentemente tinha dado certo.

 

~x~

Ali estava de novo, em frente à casa amarela.

A noite era menos fria que nas últimas semanas, felizmente. O céu não tinha estrelas, mas a temperatura era ideal para ficar do lado de fora, desde que não chovesse. Jeongguk passou pelas grades brancas que, como já sabia, costumavam ficar destrancadas. Atravessou o quintal, dando uma rápida olhada nos móveis de metal, – bonitinhos, como numa casa de bonecas – e tocou a campainha.

Em alguns segundos, a irmãzinha de Taehyung abriu a porta. Kim Hani o analisou de cima a baixo, em seu costumeiro olhar indiscreto, e levantou uma das sobrancelhas numa expressão desconfiada. Ela não tinha o mesmo leque extenso de expressões enfáticas do irmão, mas de vez em quando contorcia o rosto em algumas pérolas, geralmente com sarcasmo.

- Você se esforçou, hein?

Ela nunca cumprimenta com um “olá”, feito uma pessoa normal — Jeongguk pensou, lembrando-se das outras vezes em que viu Hani. Já nem ficava surpreso mais.

- Então você gostou? – Retrucou, sabendo que aquela era a melhor forma de lidar com a menina. Ela simplesmente deu de ombros e abriu a porta, dando espaço para que entrasse. – Obrigado, Hani.

Sem mais uma palavra, Hani se jogou no sofá da sala. Jeongguk ouviu-a resmungar, baixinho.

Eu não acredito que eles vão numa festa descolada e eu vou ficar em casa…

Abriu um sorriso por causa do comentário e parou no meio da sala. Olhou ao redor, à procura de Taehyung ou da mãe dele, e seus olhos pousaram num novo porta-retratos em cima do aparador, perto de um vaso de mármore.

Era um recorte de jornal emoldurado. No mesmo segundo reconheceu o poema de Taehyung, e seu sorriso se espalhou no rosto, dentinhos de fora.

- Jeongguk-ssi! – Uma voz feminina chamou, divergindo sua atenção. Perto da mesa de jantar, estava Kim Haesook, com um enorme sorriso bondoso. Pareceu ainda mais jovem que das outras vezes, se possível. Mais alegre. – Uá, você está tão bonito! Vai chamar a atenção de muitas meninas.

Curvou-se educadamente, desconcertado com o comentário dela. Afinal, aquela era a mãe do seu namorado, bem ali. Sua… sogra?

- Obrigado, Sra. Kim.

Sentiu as bochechas queimarem de vergonha, e rezou silenciosamente para que ela não insistisse naquele assunto. Já era estranho o bastante conversar com a mãe de Taehyung sem que ela falasse de meninas.

- É a verdade. Hm, se Hani não fosse tão novinha… – Ela lamentou, cruzando os braços. – E tão temperamental!

Jeongguk precisou se concentrar para não fazer uma careta.

Pelo menos ela gostaria de me ter como genro, pensou, mas a situação não ficou menos incômoda. Na verdade, ficou pior.

- Credo, mãe! Ele é esquisito, igual o meu irmão. – Hani gritou, indignada. – Além disso, Jeongguk não está procurando por uma namorada.

Virou-se de súbito na direção da menina, com os olhos arregalados em dúvida e preocupação. Ela não poderia… ou poderia? Não. Era impossível. Ela só estava fazendo mais uma de suas brincadeiras sem noção, concluiu. Ficou atônito, sem saber o que responder, e simplesmente continuou calado.

- Hm, ele está certo. Tem que estudar e entrar numa boa universidade antes, não é? – Kim Haesook sorriu, finalmente dando o assunto como terminado. Jeongguk afirmou com a cabeça e soltou um suspiro de alívio.

É, aham. Claro. Não tem absolutamente nada a ver com o fato de que eu estou namorando o seu filho.

- É, os estudos são prioridade...

Ela balançou a cabeça, em total concordância.

- Ah, você vai dormir aqui, não vai? Tae me avisou. Ele está lá em cima, no quarto. Acho que ainda está se aprontando… o Taehyung-

- Demora uma década pra ficar pronto! – Hani completou, do outro lado da sala. – Ele troca de roupa duzentas vezes, eu nunca vi… É pior que eu.

Jeongguk abriu um sorriso ao imaginar a cara de dúvida que o namorado devia fazer ao se olhar no espelho, experimentando diversos conjuntos de roupas. Não sabia que ele demorava pra se arrumar.

- Hm, eu vou subir então. – Disse, grato por poder sair dali. Aquelas duas estavam o deixando ainda mais ansioso. – Com licença.

Curvou-se outra vez e subiu as escadas. Foi só chegar no corredor já pôde ouvir a voz afoita de Taehyung, falando consigo mesmo. Sorriu. Era fofo, que ele pensasse alto.

Parou sob o batente da porta e espiou pra dentro do cômodo. O sorriso imediatamente se espalhou quando o viu. Ele estava bonito, vestido num suéter listrado e calças pretas. Corria de um lado para o outro em seu pequeno e excêntrico quarto, movendo livros de cima da escrivaninha para a cama, da cama para o chão, enquanto procurava alguma coisa.

- Ei, hyung. – Cumprimentou, mas Taehyung não interrompeu sua tarefa e continuou a mexer em tudo, afobado.

- O que mais eu preciso levar, hein? – Perguntou, sem nem olhar para si, concentrado em remexer uma gaveta bagunçada. – A pulseira da entrada, dinheiro pro táxi, identidade pra se eu morrer não ser enterrado como indigente, celular…

- Chave de casa.

Taehyung fechou a gaveta e abriu o armário de portas duplas, os olhos arregalados para a coletânea de roupas enfileiradas. Jeongguk assistiu enquanto ele arrastava os cabides de um lado para o outro, selecionando um casaco.

- Isso, chave! Tá lá em baixo com a minha mãe.

- Sua mãe tá contente hoje. – Disse, sincero. Apesar dos comentários bastante constrangedores, ela pareceu muito mais descontraída que de costume.

- Ah, é. Ela tá de ótimo humor desde que eu contei da entrevista na universidade em Busan. – Taehyung revelou, os olhos ainda fixos no armário. – Também tá menos neurótica desde que começou a namorar.

- Hm, isso é bom…

Jeongguk estava começando a ficar ofendido com a falta de atenção. Poxa, já não ia poder ter ele só pra si durante a festa e Taehyung ainda parecia todo desinteressado no único momento em que estavam sozinhos?

Pensou que receberia um beijo antes de irem, pelo menos, mas seu namorado continuava a puxar cabides para fora do armário, analisando casacos de inverno.

- É ótimo! Jang Byunho-ssi parece ser certinho, tipo a minha mãe, mas ele também é bem jovial, engraçado. Ele veio aqui no outro dia e minha mãe não conseguia parar de sorrir, parecia uma menininha. – Taehyung riu, distraído enquanto examinava um sobretudo cor-de-avelã. – Eu estou feliz que ela arranjou um namorado tão legal. E ele é bem bonito também.

- Mais bonito que o seu?

Jeongguk não fazia ideia de de onde aquela pergunta tinha saído, mas sorriu satisfeito ao ver Taehyung imediatamente parar e virar o rosto para si.

Finalmente!

Ainda apoiado no batente da porta, observou as reações do namorado e encheu-se de vaidade. As órbitas castanhas grudaram sobre si, viajando da cabeça aos pés, os longos cílios piscando sem parar, os lábios rubros entreabertos. Taehyung remexeu a cabeça e pigarreou, sem jeito.

- Jeongguk-ah, você está… nossa. – Ele hesitou, e Jeongguk sentiu-se acanhado pela expressão dele, pelo puro fascínio brilhando nos olhos. – Lindo. Uau, você está lindo.

Sentiu o familiar frio na barriga, como se caísse em queda livre. Céus! Queria a atenção dele, é claro, mas não estava contando com tantos sintomas descontrolados.

- Obrigado. Hm, eu… você também. – Coçou a nuca, sem jeito, e desviou o olhar.

Tirou a mochila das costas e a colocou no chão. Reuniu coragem e deu dois passos na direção do namorado, até que-

- A porta.

Parou no lugar, num instante de dúvida. Olhou para trás, para a porta aberta, e sentiu um calafrio na espinha ao perceber o que ele quis dizer.

Voltou, fechou a porta. Trancou. As bochechas ferveram de vergonha, o coração saltou no peito e Jeongguk nem sabia direito o por quê. Já devia estar acostumado, por Abraxás!

Ficou de pé no meio do quarto, o estômago vibrando em antecipação. Taehyung se aproximou e parou só a um centímetro de distância. Dava pra sentir o cheiro de shampoo dos fios castanhos.

Jeongguk engoliu em seco.

- Ei.

- Ei. – Taehyung respondeu, baixinho, e um sorriso tímido brotou em seus lábios. – Então…

Não se beijavam desde o último domingo. Seis dias. Jeongguk sentiu o corpo todo formigar e, sem perceber, mordeu o lábio inferior.

Sem dizer mais nada, ele veio.

Já era normal, nesse ponto. Os braços de Taehyung ao redor de sua cintura, por baixo do sobretudo, apertando o tecido da camisa xadrez às suas costas. As próprias mãos, instintivamente alcançando a nuca morna e acobreada, os dedos abusados entrando pela gola do suéter dele. A pintinha avelã no lábio inferior, cada vez mais próxima, até que fechasse os olhos. O gosto de baunilha, as mordidinhas travessas, o calor do peito dele contra o seu. Era normal, esperado, mas o coração de Jeongguk continuava a perder o controle, como se o beijasse pela primeira vez, toda vez.

E quando ele se afastava, aquela mesma sensação de que não estava saciado.

- A gente não vai poder fazer isso lá. – Taehyung comentou, voltando sua atenção para os casacos de frio. Apesar do tom casual, suas bochechas estavam coradas. – Infelizmente.

Um dos muitos motivos que me fazem querer ficar, pensou. Para Jeongguk, ficar em casa parecia uma opção muito mais satisfatória do que ir à festa.

Entendia porque ele queria ir, e já tinha se conformado. Também não queria fugir como um covarde, muito menos tirar a recém-conquistada autoconfiança do garoto incógnito. Mas, ah... com ele assim, tão perto, parecia burrice ir a qualquer lugar.

- Você tem certeza que quer ir? – Perguntou, uma última vez, e ele instantaneamente confirmou com um aceno de cabeça.

- Tenho. Jeongguk-ah, eu não sabia… que alguém mais se importava. – A voz dele soou como a conclusão do absurdo, rouca e descrente, mas não triste. Jeongguk sentia o coração apertado, a preocupação inflamando no peito, mas quase dava pra sentir a estranha satisfação que transpirava dos poros de Taehyung. – Eu preciso fazer isso. Pelas pessoas que acreditam em mim.

Os livros gastos e surrados, o edredom de libélulas e o quadro do beijo em tons de amarelo e laranja seriam para sempre testemunhas daquele abraço. Foi impensado, impulsivo e incoerente, como quase tudo o que Taehyung provocava em Jeongguk, mas igualmente inevitável. Um único segundo e o garoto incógnito espalhou-se em seu peito, compartilhou seu calor, e o aroma dele tomou-lhe os pulmões. Ele deitou a cabeça em seu ombro e apertou o tecido da camisa xadrez às suas costas. Jeongguk o protegeu do invisível, da forma que pôde, da maneira que ele havia sugerido.

“Um abraço pode ajudar.”

Então teria infinitos abraços.

- Eu vou ficar do seu lado o tempo todo. – Sussurrou. – Se você se sentir desconfortável só me fala e a gente dá o fora de lá, ok?

Taehyung desenterrou o rosto de seu pescoço e o admirou por um segundo, a boca num sorriso de lábios cerrados. Então, soltou sua cintura e cobriu-lhe o rosto com as duas mãos.

- Eu sei. Sou muito sortudo.

Jeongguk deixou escapar um sorriso lisonjeado, e negou com a cabeça.

- Não sei como não consegue ver. – Abaixou o rosto, as bochechas queimando sob o toque dele. – A sorte é minha. Você é tão corajoso, hyung, e eu…

Eu tenho orgulho de ser seu namorado.

Um único segundo de hesitação e os lábios de Taehyung interromperam a frase, tomando os seus. Céus, pra quê temos que ir nessa festa idiota? – pensou ao fechar os olhos. Entretanto, sabia: Taehyung precisava provar algo a si mesmo. Mesmo que Jeongguk continuasse ansioso, mesmo que cada carícia implorasse para que simplesmente ficassem trancados naquele quarto, acordados até a manhã seguinte, seguros, sozinhos, longe do mundo.

Mas havia feito uma promessa, e ficaria ao lado dele. Faria o que fosse para protegê-lo.

O beijo se aprofundou gradualmente — como se seus corpos, por vontade própria, tentassem compensar a distância cautelosa em que passariam o resto da noite. Jeongguk sentiu dedos firmes se embrenhando pelos seus cabelos, puxando com mais força do que de costume. Firmou as mãos nos ombros magros quando Taehyung o arrastou consigo, três passos até caírem sentados sobre o colchão, desajeitados, Jeongguk com as pernas sobre as dele. Concentrou-se em respirar pelo nariz, controlar o fôlego, e sentiu o toque de Taehyung escorregando pelo seu braço, até pousar sobre seu joelho. Rosnou baixinho ao senti-lo apertar sua perna e aquele calor estranho espalhou-se outra vez, arrebatador, o coração pulsando eufórico enquanto a língua tentava manter um vestígio de sanidade.

Era bom, merda, era melhor que bom. Todos os seus nervos vibraram quando a mão dele deslizou lentamente pela a lateral de sua coxa, até chegar no quadril, e foi impossível suprimir um lamento abafado, as mãos segurando no cabelo dele com mais afinco. O beijo já tinha saído do controle, como andava acontecendo com certa frequência nas últimas vezes em que estavam atrás de portas trancadas. Os hormônios de Jeongguk explodiam em calafrios pelo corpo, desenfreados, e não seria capaz de parar caso Taehyung não tivesse gentilmente empurrado seu peito, se afastando aos poucos.

Foi impossível esconder o semblante decepcionado.

- Desculpa. – Ele soltou uma risada leve, a respiração ofegante. Então, carinhosamente acariciou seu lábio inferior com o dedão. – Minha mãe vai ficar desconfiada se a gente aparecer lá embaixo desse jeito, é melhor guardar pra mais tarde.

Engoliu em seco, ansioso, e um arrepio percorreu todo o corpo. Guardar pra mais tarde? Merda, a confiança nova de Taehyung faria com que perdesse o pouco juízo que ainda tinha. O coração de Jeongguk se agitou no peito, tentando se libertar da caixa torácica, e apenas piscou os olhos arregalados para o namorado, sem saber como reagir. Ele estava tão lindo, os olhos castanhos transbordando evidente afeto, a pele acobreada colorida em tons quentes e um sorriso frouxo nos lábios moderadamente inchados. Jeongguk sentiu-se querido, amado, e deixou-lhe um último beijo, um breve selar de lábios, casto, leve e singelo, ao que Taehyung apenas ergueu as sobrancelhas e alargou o sorriso.

Era misteriosa, a forma como o garoto incógnito o fazia sentir, as sensações inquietantes que ele provocava, mas Jeongguk não queria que passasse. Não queria que fosse embora, aquele sentimento, e por mais que ainda o deixasse confuso, a cada dia estava mais claro, mais inegável.

Amava Taehyung. Nunca havia sentido nada assim antes, mas tinha certeza que era mais do que atração, afeição ou fascínio. Só podia ser amor.

E, pela segunda vez, quis dizer que o amava. Quis confessar que, se fosse preciso, jogaria tudo pro alto e contaria a todos que estavam namorando. Que estava disposto a dividir as dificuldades com ele, que preferia sofrer as mesmas implicâncias do que assistir seu namorado sofrer sozinho.

Precisava contar.

- Hyung, eu-

- OPPA! – A voz inconfundível de Hani ecoou pelo quarto, interrompendo Jeongguk no meio da frase. Taehyung levantou da cama de súbito e destrancou a porta, só um segundo antes da menina entrar, abusada, o olhar desconfiado alternando entre os dois. – O táxi de vocês chegou! O que tanto fazem aí, hein?

Jeongguk mordeu o lábio inferior, ao mesmo tempo decepcionado por ter sido interrompido, e nervoso com a invasão repentina de Hani.

Aish, que péssimo momento ela decidiu aparecer.

- Hm, nada. Eu ainda não consegui decidir que casaco usar. – Taehyung desconversou, pegando outra vez o sobretudo cor de avelã e o encarando como se sua vida dependesse disso. As bochechas, entretanto, continuavam muito vermelhas.

- É, vai com esse mesmo. – Hani sugeriu. – Ninguém aguenta mais te ver naquele casaco azul, e você fica parecendo uma bolota dentro dele.

Taehyung aceitou a sugestão e vestiu o sobretudo. Jeongguk se levantou da cama, desconcertado, e começou a conferir se tudo o que precisava estava dentro dos bolsos do casaco, apesar de ter checado mil vezes antes de sair de casa.

Desceram as escadas junto com Hani, em silêncio. O táxi e a menina haviam chegado na pior hora possível, mas Jeongguk pensou que talvez tivesse sido melhor assim. Decidiu que mais tarde naquela noite, quando já tivessem voltado da festa e Taehyung estivesse deitado em seus braços, os dois espremidos na cama de solteiro e encolhidos debaixo dos cobertores, então iria dizer a ele. Pela primeira vez em toda a sua vida, diria “eu te amo” a alguém, não como dizia aos seus amigos ou sua família, mas o “eu te amo” romântico e piegas que até agora só vira na televisão. E Taehyung nem precisava dizer de volta, se não estivesse pronto. Simplesmente precisava tirar aquelas palavras do peito. Mas, caso ele dissesse também, se o garoto incógnito o amasse de volta, então… céus, Jeongguk sentia o estômago congelar só de pensar na possibilidade.

Desperdiram-se da mãe e irmã de Taehyung e entraram no táxi. Os dedos do namorado imediatamente buscaram os seus, discretos, escondendo as mãos dadas debaixo do tecido do sobretudo. Jeongguk olhou para ele e deu de cara com seu sorriso confiante, o olhar determinado e o queixo erguido. Sentiu-se tranquilo ao ver o quanto ele parecia seguro.

- Vai dar tudo certo. – Taehyung repetiu, como havia feito dezenas de vezes durante a semana.

Jeongguk concordou com a cabeça e abriu um sorriso pequeno. Só queria que acabasse logo, e então poderia ficar sozinho com ele e confessar o quanto o amava.

Só mais algumas horas, pensou, apertando os dedos dele entre os seus.

Daria tudo certo.


Notas Finais


E aí, gostaram? Esse capítulo foi bastante transitório (eu sei, me perdoem) mas eu queria deixar claro quais foram as consequências desse incentivo nas mensagens do armário do Taehyung. Deu a ele coragem pra encarar seus medos e, além disso, ele acabou se sentindo um pouco "representante" dos excluídos do colégio. É uma mudança sutil, porém importante. :)

Enfim, muito obrigada por me aturarem até hoje! Eu sou a autora mais feliz desse mundo, de verdade. Não acredito que vocês aturam toda essa minha lerdeza, mas serei eternamente grata! hahaha e, como sempre, comentários são muito bem vindos. É meu combustível pra escrever. Eu fico aqui feito boba mendigando todo fim de capítulo, hahaha mas é só porque eles são muito importantes pra mim! Vocês não tem nem noção de como deixam meus dias mais contentes!

Espero que estejam ansiosos por essa festa, porque o capítulo que vem deve ser exclusivamente sobre isso hahaha. O que vocês acham que pode acontecer? Aceito teorias hahaha

Quem quiser falar comigo, já sabem. Vale só dar um oizinho, mandar perguntas sobre Incógnito (mas eu não dou spoilers, já aviso) e também vale me cobrar capítulo kkkkk
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Eu amo vocês! Nos vemos em breve <3

Beijocas amoras,
~BtsNoona


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