Já passava da meia noite. E os dois estavam sentados no chão da cozinha. Clary com a cabeça deitada no ombro de Jace, que fazia carinho nas costas da mesma.
-- Desculpa atrapalhar seu sono. - Disse ela.
Mal sabia que ela sempre atrapalhava, mas era por meio de sonhos.
-- Eu só não sei com que cara falar com Sebastian. - Ela continuou. - Eu... não sei se vou contar que eu sei.
-- Como assim?
-- Não acho que vou contar sobre a traição. - Ela mordeu a boca. - Não agora.
-- Por que não? - Jace arqueou as sombrancelhas.
-- A empresa. Isso pode acabar com a carreira dele. E a minha.
-- Ele te traiu. - Jace soou aflito. - Como se importa com a carreira dele?
-- Nossa vida pessoal não teve nada a ver com a profissional. - Ela fungou dando de ombros. - Ele me traiu. Mas eu não quero acabar com a vida dele.
-- Por que ainda o ama? - A pergunta soou como afirmação.
-- Eu... - Ela respirou fundo. - Não tem como deixar de amar alguém da noite para o dia, não é?
E começar a amar? Tem?
-- Acho que sim. - Disse ele.
-- Pode manter segredo sobre isso?
-- Claro. - Ela pegou a mão dele e entrelaçou seus dedos. A coração dele ficou acelerado.
-- Obrigada, Jace. - Ela sussurrou e o abraçou de lado. - Você é uma boa pessoa.
-- Você também. - Ele a abraçou de volta.
-- Não sei como voltar para o quarto. Como encará-lo.
-- Poderia alugar outro quarto. - Ele sugeriu.
-- Mas tinha que ter um bom motivo. - Ela se desencostou dele. - Mas eu acho que vou pensar em um bom, e mudar de quarto.
Ele assentiu e se levantou, a puxando consigo.
-- Boa noite, Jace. - Ela deu um beijo demorado em sua bochecha. - Durma bem.
O estômago dele revirou, e seu coração falhou. A respiração estava de novo desigual. Ele só conseguiu responder em um sussurro suspirado;
-- Boa noite, durma bem também.
🌊 ⛴🌊
Os corredores estavam vazios, tudo em um silêncio perturbador. Seus saltos ecoariam no chão se não tivesse um tapete -- Que parecia indiano -- estendido por todo o corredor. Ela passou o cartão e abriu a porta. Clary tirou os sapatos para entrar. Encontrou Sebastian dormindo tranquilamente.
Canalha! Ela pensou e seus olhos marejaram. Mais ainda quando ela se trocou e se deitou ao lado dele. Os punhos cerraram. Ela mordeu o lábio inferior com força. Clary não se sentia mais triste, estava com raiva.
🌊⛴🌊
Jordan cutucou Jace. O mesmo abriu os olhos e piscou várias vezes.
-- Dormindo em pé? - Brincou o moreno.
-- Não dormi quase nada.
Na verdade, ele não havia dormido nada. Metade da noite ficou com Clary, e a outra metade ficou pensando nela. Aquele beijo, ele ainda sentia os lábios dela no rosto. E em parte, achou aquilo apenas um cumprimento, mas foi uma coisa mais íntima.
-- Você está sorrindo como um idiota. - Disse Alec.
-- Eu conheço esse sorriso... - Jordan sorri malicioso.
-- O que? - Jace boceja.
-- Alguém está sonhando acordado... - Alec sorri do mesmo modo. - Com o que?
-- Estou com sono. - Jace sai da cozinha sem falar mais nada.
-- Seu sono tem algum motivo? - Alec o segue.
-- Insônia. - Ele dá de ombros.
-- Hum. - O moreno dá de ombros. Indo em direção a uma ruiva, que estava no balcão, olhando para trás.
-- Pode deixar que eu atendo. - Jace passa por Alec, indo até a mulher.
O moreno estranha, quando Jace estava com sono, ele não quereria servir ninguém, de uma criança a uma mulher atraente. Mas Alec não diz nada, apenas sai dali.
-- Bom dia. - Ele cumprimenta.
Ela se vira e dá um sorriso.
-- Bom dia, Jace.
-- Como foi a noite? - Ele perguntou preparando um café.
-- Péssima. - Ela suspira. -- Péssima, péssima, péssima.
-- Eu sinto muito. - Ele passa um café grande para ela. A mesma sorri e adoça.
-- Obrigada. Eu amo café. - Ela dá um gole e se delicia. - Acabou de tornar meu dia menos pior.
Ele dá um meio sorriso.
-- Eu fico feliz.
Ela sorri e bebe mais café.
-- Café é um dos meus vícios.
-- No que mais é viciada?
Ela parece pensar.
-- Desenhar e tirar fotos, adoro.
-- Desenha muito?
-- Uhum. - Ela bebe mais café. - Não sei que desculpa vou dar ainda. Precisa ser convincente.
-- Sim. - Ele assente. - Tenho que atender umas mesas, já volto.
-- Tudo bem. - Ela sorri.
🌊⛴🌊
Clary estava deitada na cama, lendo uma revista. Sebastian entra no quarto, ela muda a posição rapidamente quando ele deita ao lado dela.
-- O que foi? - O loiro dá um beijo no pescoço de Clary. A mesma recua.
-- Precisamos conversar. - Ela respira fundo.
-- Sobre? - Ele disse com deboche.
-- Esse noivado. Estou pensando em desistir.
-- Mas por que? - Ele perguntou com seriedade agora.
-- Não está como antes. - Ela respira fundo. - Tudo bem, eu sei que não me ama.
-- Claro que eu te amo, Clary. - Ele coloca as duas mãos no rosto dela.
-- O namoro foi arranjado pelos nossos pais. - Ela tira as mãos dele de seu rosto. - Para juntar as empresas.
-- Mas depois nos apaixonamos.
Ela mantêm a calma. Não ia jogar na cara dele a traição. Mantenha o teatro, disse para si mesma.
-- Estou muito sufocada. - Ela disse por fim. - E tem algo diferente entre a gente, eu não sei.
-- O que está dizendo? - Ele se levanta. Parecia bravo. - Quer terminar? É isso?
-- Não. -- Clary disse baixo. - Eu quero um tempo, distância. Preciso ver se me ama mesmo. Estou sentindo uma parede, um clima estranho, e você sabe que ele existe.
Ele assente respirando fundo.
-- Se preciso fazer isso para provar que te amo.
Clary quase acreditou naquelas palavras. Foi por muito pouco. Na verdade, parte dela queria acreditar.
-- Vou mudar de quarto. - Ela se levantou. - E nenhuma palavra sobre isso.
-- Tudo bem, meu amor.
-- Demos um tempo, Sebastian.
Clary se levanta da cama, pegando a mala quase intocada, a necessaire e as coisas.
-- Falei com Magnus Bane. E consegui outro quarto. - Ela disse saindo. - Até.
Clary cruza o corredor, achando a porta do novo quarto. Ela só queria se deitar e chorar. E foi exatamente o que ela fez ao entrar na nova cabine. Desabar em lágrimas, até a noite.
🌊⛴🌊
Clary vê Jace no balcão, ela vai até lá com o olhar baixo.
-- Oi. - Ele cumprimenta. - O que foi?
Era impressionante como ele conseguia sentir quando ela não estava bem.
-- Mudei de quarto. - Ela engoliu em seco.
Ela olha para trás. Há algumas mesas de distância, Sebastian estava sentado ao lado da mesma loira que Clary encontrou com ele na cama. Era a secretária. Os olhos de Clary marejaram. Ela se voltou para frente os fechando com força e mordendo o lábio inferior.
-- Não fica assim. - Jace encosta hesitante no braço dela.
-- Eu já chorei tanto hoje. - Ela engole em seco. - Ele não merece que eu chore.
-- Ele não merece nada de você. - Jace aperta a mão dela. - Tenho que atender um cliente, eu já volto.
-- Pode ir, ficarei bem.
Ela enterra a cabeça entre os braços cruzados, sentia as lágrimas escorrendo. Sente uma mão no seu ombro, levanta o olhar. Vê Jace. Ele faz um gesto para a porta. Ela limpa o rosto. Eles saem disfarçadamente até o lado de fora. Seguindo até a horta atrás da cozinha. Ao chegarem lá, Clary apenas se joga nos braços do loiro. Precisava de um abraço. Ele parece não se importar em segurá-la.
-- Ele é tão cínico. - Ela disse entre soluços. - Ele disse que me amava, que ia mostrar isso.
-- Você pensou em acreditar?
-- Sim. - Ela confessou fungando na camisa dele. - Eu odeio tanto chorar por ele.
-- Olha para mim. - Jace apoiou a mão no queixo dela, fazendo-a encará-lo.
Ela olha, o loiro limpava as lágrimas dela com o polegar.
-- Não chore por ele. - Disse ele tranquilo. - Mas se quiser, eu continuarei aqui.
Clary fica perdida na imensidão de dourado que eram os olhos dele. As íris pareciam ser feitas de ouro puro.
-- Eu estarei aqui. - Disse ele por fim.
Clary fecha as mãos na camisa dele, tranzendo-o para perto e o beijando. Ele parecia surpreso quando ela fez isso, mas logo depois corresponde o beijo. As mãos dele em seu rosto a davam segurança.
Ela não fazia a mínima ideia do por que estava fazendo aquilo. Tentou se lembrar, como eles haviam se tornado tão próximos, em tão pouco tempo. Mas ela esqueceu sentindo-o, a língua dele dava a mesma sensação de aconchego que o abraço. O perfume inebriante. Ela sobre as mãos para o cabelo dele, enlaçados os dedos nos fios curtos. O cabelo dele era macio, e tinha o mesmo cheiro de perfume. Jace tinha gosto de algo com hortelã, talvez um chiclete.
Sebastian correu a sua mente, foi como se o próprio estivesse falando com ela.
Eu te trai. E esta fazendo o mesmo?
Ela não tinha terminado o noivado.
Vai mesmo usá-lo para abranger sua dor?
O peito dela se apertou e ela rompeu o beijo. Ofegante pelo mesmo.
-- Me desculpe. - Ela tomou fôlego e se distanciou. - Desculpa.
Ela repetiu, e sem ver a reação dele se virou e saiu apressada dali. Ela esfrega o rosto com a cena repasaando na cabeça. O gosto dele ainda estava em sua boca, ainda sentia o cabelo macio na ponta dos dedos, os lábios dele contra os dela, as línguas se degladiando.
Oh, Deus. O que ela tinha feito?
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