História Inevitable - Capítulo 37

Nos dias em que esteve fora, Alfonso aproveitou para se entregar de cabeça no trabalho, queria distrair a mente com qualquer coisa que não o levasse a Anahi ou Maite. Estava dando certo, até conversarem no último dia.

Aquela noite em especial, seus colegas de trabalho resolveram ir até uma balada comemorar o sucesso do evento, e mesmo sem muito ânimo foi. Bebeu algumas doses, riu, dançou e conversou. Quem dera não tivesse preocupações e aquele momento durasse mais horas, bastou chegar no hotel para ser atordoado de novo por memórias.

Quando conversaram pôde sentir tudo o que se negava nos últimos dias, sentiu saudades e o coração acelerar. Queria dizer que a amava e que ao seu lado era onde precisava estar, porém, os próprios sentimentos que lutavam para sair, também faziam o possível para se esconder. Era o tal famoso orgulho.

Dividia o quarto com parte da equipe e precisou desligar quando Fernanda - uma das que integrava a equipe - disse não conseguir dormir pela luz que a incomodava.

O evento chegara ao fim e no dia seguinte embarcou de volta para San Diego. Passou a viagem toda quieto com seus pensamentos. Respirou fundo enquanto olhava pela a janela e uma música do Slipknot tocava em seu fone.

Não avisou ninguém da sua volta, simplesmente por não querer ainda ver ninguém. Deixou as malas no sofá e tomou um banho. Colocou leite num copo e o esquentou no microondas, adoçou um pouco e bebeu. Deitou na cama cansado, mas o sono não chegava. Bufou impaciente.

Sem conseguir pregar os olhos e entediado naquele apartamento, Alfonso decidiu sair para andar um pouco. Passou em frente um cinema, sorriu sozinho lembrando-se de Anahi. Era tolo como seu coração ficava tão ligado a ela. Colocou as mãos nos bolsos do jeans e continuou andando até perceber que seus pés - ou seu coração - o levaram até Anahi. Estava a uma calçada de distância da sua casa, desistiu de continuar quando a viu acompanhada por aquele homem.

Durante a festa de aniversário de Velasco, Anahi não se sentiu bem. Estava tonta e enjoada, resolveu voltar para casa mais cedo acompanhada por ele que insistiu em levá-la.

- Está entregue. - Abriu a porta do carro para que saísse. Pararam na calçada.

- Obrigada. - Sorriu de lado - Desculpa destruir sua festa...

- Imagina, você não tem culpa. Além do mais adorei que estivesse lá, fez do meu aniversário marcante. - Sorriu - Tem certeza que está melhor? - Ela afirmou com a cabeça.

- O que foi? - Arqueou a sobrancelha o olhando balançar a cabeça negativamente.

- Seu namorado é um idiota, você é a mulher que todo homem sonha. Olho para você e vejo tão mais que beleza, você merece tão mais... - Anahi desviou o olhar para o chão. Ele tocou seu rosto, segurou seu queixo e a beijou. Se esquivou interrompendo.

Alfonso engoliu em seco, cerrou os olhos com raiva, fechou o punho com força. Respirou fundo e foi embora.

- Você está confundindo as coisas, Manuel. - Deu dois passos para trás e passou a mão pelo rosto digerindo aquilo. - A nossa relação é só profissional, o que tenho com Alfonso é maior do que você conhece. Não posso te dar esperanças de algo que não vai acontecer, porque é ele quem eu amo. Estou grávida dele. - Engoliu em seco.

- Desculpa, Anahi. - Passou a mão pelo cabelo - Melhor eu ir, por favor, me perdoe. - Suspirou entrando no carro.

Sentou no sofá de cabeça baixa com raiva de si mesma. Manuel era um bom homem, mas não era Alfonso. A única coisa que sentirá depois daquele beijo foi vontade de ser acolhida por Alfonso. Queria tanto que ele voltasse logo e pudessem acertar as coisas.

Pegou o notebook, ele não estava online, não deixou nenhuma mensagem. Essa distância era uma merda infernal. Se jogou na cama, acordando só no dia seguinte. Fez a higiene matinal e depois foi para a cozinha, não sentiu-se disposta para trabalhar hoje. Velasco certamente entenderia, afinal ele era o motivo.

- Bom dia! - Dulce passava geléia no pão.

- Só se for para você... - Suspirou - Você acredita que Velasco me beijou ontem? Estou me sentindo péssima, acho que vou pedir demissão. - Pegou a faca da mão de Dul e fez o mesmo que ela fazia.

- Espera, por isso Alfonso estava tão irritado ontem? - Arqueou a sobrancelha.

- QUÊ? COMO ASSIM? ELE NEM ESTÁ NA CIDADE... - Cobriu os olhos marejados.

- Bom, está. Eu e Christopher passamos por ele ontem aqui na rua e ele nem nos cumprimentou, passou feito um foguete.

- Será que ele viu o beijo? - Dul deu de ombros. Anahi se levantou e trocou rapidamente de roupa.

Por quê nada na sua vida dava certo? Só podia estar pagando pelos pecados de outra vida. Chegou o mais rápido que conseguiu em seu apartamento, a porta estava trancada, tocou a campainha por algumas vezes.

- Oi, melhor você voltar outra hora, daqui a pouco o Eddy chega e estamos cheios de trabalho. - Insinuou fechar a porta, ela colocou o braço impedindo. Alfonso suspirou.

- Para com esse teatro, o que você viu ontem e porque não me avisou que estava de volta? - Seus olhos estavam marejados.

- E atrapalhar seu romance? Não gosto de ser um incômodo para as pessoas. - Sorriu debochado - Era isso que queria conversar? Bom, já não precisa mais né? - Piscou.

- Deixa de ser ridículo, Alfonso. Aquilo foi um mal entendido, ele confundiu as coisas, mas já o disse quem eu amo. - Ele aplaudiu irônico - Você sim deve ter se divertido muito nessa viagem, até prolongou, não é mesmo? - Forçou um sorriso sem mostrar os dentes.

- O que você quer dizer com isso? - Cruzou os braços a encarando friamente.

- Eu ouvi bem quando aquelazinha te chamou. Não satisfeito com seus problemas aqui arrumou uma terceira? - Mordeu o lábio inferior segurando o choro.

- Você pediu um tempo, estou apenas aproveitando.

- Ótimo, acaba de ter menos uma na sua lista então, seja feliz independente de com quem for. - Ajeitou a bolsa no ombro e respirou fundo - Você me mostrou seu melhor lado e também o seu pior, devia ter começado ao contrário, assim eu evitaria estar sentindo tudo isso agora. - Secou uma lágrima que escapuliu. Olhou duramente em seus olhos antes de deixá-lo só.

Elevou as mãos a cabeça com raiva, socou a porta ferindo a si mesmo com a brutalidade que fez. Alfonso olhou pela janela Anahi deixando o prédio, queria não sentir nada, mas sentia tão mais do que deveria.

A loira parou num bosque ali perto, aquele onde os dois se conheceram e toda a loucura começou, estava sentindo-se mal. Levou as mãos até sua barriga e a acariciou. Sempre que se imaginou grávida, estava sempre feliz e radiante. Agora sentia-se menor e tão frágil quanto uma formiga.

Depois de estar mais tranquila foi até o hospital colher sangue para comprovar a gravidez. Na volta para casa passou num shopping e comprou o primeiro sapatinho do seu filho. Tudo o que importava agora era ele.

- Fiquei preocupada, onde esteve? - Dulce a seguiu até o quarto.

- Seguindo com a minha vida, olha o que comprei. - Sorriu a entregando a sacola. Ela pegou os sapatinhos nas mãos com um sorriso doce. - Acabou de verdade, Dul. Ele foi tão rude comigo, como posso estar com alguém assim? Só quero esquecê-lo e tirar esse sentimento que está preso em mim.

Chorou nos braços da sua irmã. Afagou seus cabelos. Dul odiava vê-la sofrendo assim, fazia se sentir tão impotente. Faria o melhor para estes meses serem incríveis e ser a melhor tia do mundo.

- Você sabe que estou para sempre do seu lado, agora somos nós três... Ah, claro, Christopher e Christian também. - Riu secando suas lágrimas - Sabe que se eu pudesse tomar essas dores de você eu faria. - Disse mexendo em seu cabelo. Any afirmou com a cabeça.

- Eu já nem sei mais como agradecer a você. - Suspirou.

- Boba, não precisa. - Apertou suas bochechas - Contou para ele da gravidez?

- Não, era o que eu estava para fazer, mas fiquei tão irritada com a forma que me tratou que não consegui. - Respirou fundo.

- Sabe que precisa, ele tem esse direito.

- Sei disso, só não quero vê-lo agora e nem nos próximos dias. - Dul sorriu de canto e a abraçou novamente.

Buscou o resultado do exame no dia seguinte, estava mesmo grávida. Marcou sua primeira consulta na ginecologista para a semana seguinte. Passou o resto do dia com Dulce no shopping comprando roupinhas, ambas estavam animadas com tudo isso.

No dia seguinte Anahi e Christopher colocavam em prática o plano. Eles estavam todos reunidos na sala no final de tarde, Christian também estava. Jogavam uno entre risadas e conversas aleatórias, discretamente ele piscou para a loira e rapidamente ela entendeu.

- Vamos assistir um filme? Enjoei desse jogo. - Fez uma careta.

- Poxa, está tão legal... Mas ok, escolhe aí um filme. - Deu de ombros a ruiva.

- Ah não... São todos repetidos, acho que vou alugar um.

- Quem ainda aluga filmes? - Chris arqueou a sobrancelha surpreso.

- Vai querer companhia? - Ela afirmou com a cabeça para Ucker e Dulce olhou os dois sem dizer nada.

- Não demorem, vou fazer pipoca! - Sorriu indo para a cozinha e eles saíram.

Não foram longe, só até o carro de Ucker buscar o necessário. Dulce havia percebido nos últimos dias a aproximação entre eles, estava com medo de Christopher estar se apaixonando por sua irmã, até porque ela é linda e sensual, não é algo difícil de acontecer. Balançou a cabeça afastando esses pensamentos.

Os dois permaneceram por um tempo ao lado de fora para serem convincentes, aproveitaram e foram na padaria comprar sorvete. Depois de uns dez minutos eles voltaram, Dul e Chris já estavam sentados comendo a pipoca.

- Nossa, que demora foi essa? - Olhou Ucker de cima a baixo.

- Estava lotado e também compramos isso! - Any sorriu mostrando o sorvete.

- Então as pessoas realmente ainda alugam filmes... - Chris gargalhou divertido - Qual vocês pegaram?

- O senhor da loja nos sugeriu um e foi o que pegamos, parece bom. - Deu os ombros - Vou colocar... - Inseriu o DVD no aparelho e se sentou ao lado de Dul, a abraçava por trás dos ombros.

A tela escureceu e ficou assim por uns dois minutos, todos se olharam - inclusive Christopher, para disfarçar - pensando que estava com defeito. Logo uma voz começou a narrar e dois bonequinhos representavam os personagens principais (no caso, Dulce e Christopher).

"A NOSSA HISTÓRIA COMEÇOU FAZ ALGUNS ANOS ATRÁS, DEIXA EU EXPLICAR MELHOR..." - A voz narrava enquanto mostrava os bonecos e uma música romântica tocava ao fundo, mas pera, Dulce conhecia bem aquela letra, "You and me" do Lifehouse era sua música com Christopher. O olhou rapidamente com os olhos marejados e ele beijou sua cabeça sorrindo. Segurou sua mão e continuaram assistindo.

"EU UM COMPLETO ESQUISITO QUE NO PRIMEIRO DIA DE TRABALHO CONHECI AQUELA QUE SERIA A MINHA VIDA TODA..."

"O NOSSO PRIMEIRO BEIJO... AH EU SOUBE QUE ERA O CERTO, AQUELE NEGÓCIO ESQUISITO QUE EU RIA QUANDO NOS FILMES FALAVAM, SENTI COM VOCÊ. DESDE ENTÃO TEM SIDO SÓ VOCÊ." - Anahi sorria emocionada olhando para eles e depois para a televisão de volta. Christian pegou o celular e começou a filmar.

"A VERDADE É QUE NÃO SEI MUITO SOBRE O AMOR, MAS O QUE SINTO POR VOCÊ EU SEI DE COR, DO LADO DO AVESSO E DE TRÁS PARA FRENTE."  - começam a subir fotos deles na tela. Dulce chorava cada vez mais.

"FECHA OS OLHOS AGORA E ME DIZ O QUE IMAGINA DAQUI DEZ ANOS... ISSO, TAMBÉM NOS VEJO FELIZES E JUNTOS, CONSTRUÍMOS UMA FAMÍLIA E A CAÇULA É A SUA CARA, QUE SORTE TER VOCÊ EM DOBRO NA MINHA VIDA!" - Ela riu tocando seu rosto - "MINHA RUIVA, PRECISO TE FAZER UMA PERGUNTA...PS: PERCEBA QUE ESTAREI NERVOSO NESSE MOMENTO" - Sua mão estava gelada, ela acariciou e beijou. Ele se rendeu as lágrimas tímidas que estavam em seus olhos.

"O QUE QUERO É TE FAZER MAIS FELIZ DO QUE HOJE, TE BEIJAR MAIS QUE ONTEM E ACORDAR AO SEU LADO SEM PRECISAR IR EMBORA... ISSO ME LEVA A FAMOSA PERGUNTA, QUER SE CASAR COMIGO?"

O vídeo para com os bonecos olhando para dois caminhos opostos, um é o "não" e eles estão com as mãos separadas e o outro é o "sim", neste eles estão juntos em cima do altar com expressões felizes. Dulce seca as lágrimas, pega o controle e aperta ok para o caminho "sim", os bonecos festejam e termina o vídeo junto a música.

- Óbvio que sim, sempre sim! Eu te amo. - Se pendurou em seu pescoço o abraçando.

- Deixei o "eu te amo" para falar pessoalmente. Eu te amo... - Sussurrou em seu ouvido e a beijou. Any e Chris aplaudiam e assobiavam.

Após se recuperarem de toda a emoção, saíram para um restaurante para comemorar o mais novo casal de noivos de San Diego.