História Inner Child - Kim Taehyung - New York

S/N P.O.V

Acordei naquela manhã com o sol no rosto. Obviamente esqueci a cortina aberta, pra variar.
Meu relógio marcava 6:52. Não ia esperar o celular despertar, afinal. Me sentei na cama, dando de cara com o espelho e tentando ajeitar os cabelos que pareciam uma juba. Minha cara de quem não dormiu bem (de novo) era clara... Apostaria na maquiagem.
Me levantei, andando feito zumbi pro banheiro e jogando água fria no rosto pra ver se ajudava. Teria um dia cheio pela frente. Suspirei ao ver a tatuagem em meu braço enquanto escovava os dentes, relembrar sua história não me fazia bem. Não sei porquê ainda não cobri com alguma outra coisa.
Depois de toneladas de base no rosto, me senti apresentável. Coloquei meu uniforme diário, peguei minha agenda e corri para a garagem, mas não sem antes apertar meu gato, Cookie.

Apesar do trânsito, cheguei rápido no prédio da revista. Quando saí do elevador, todos me olhavam como se fosse um bicho. Será que esqueci pasta de dente no canto da boca?
E então, apesar de estar do outro lado do gigante corredor entre as mesas de escritório, eu a vi: Dakota Williams. Minha chefe, na minha sala, sentada na minha mesa. Nada de bom poderia sair disso. Ela simplesmente odeia todo mundo, inclusive quase nunca aparece na sede da Fashic. Nesse caso, eu estaria me olhando com cara de assustada também.

_ S/N - sua voz ecoou por todo o escritório imenso, me fazendo arrepiar e fechar os olhos com força - que bom que chegou.

Tentava manter a respiração equilibrada enquanto andava até minha sala de vidro. O olhar de Dakota me causava calafrios, mas não podia dar o braço a torcer: eu era a segunda pessoa mais importante ali dentro, depois dela. Entrei pela porta que já estava aberta com meu melhor sorriso.

_ Dakota! O que faz aqui? - Deixei minha bolsa em minha poltrona verde menta e caminhei até ela.

_ Preciso ter motivos pra vir até minha revista?

_ Para quem nunca aparece, talvez – seu olhar penetrante me fez engolir em seco - Pode falar, o que precisa de mim?

Ela me fuzilava como quem me mataria se pudesse. Mas ela não pode sequer me demitir: seu marido não permite. E não é nada do que você está pensando, sr. Williams só controla o animal com quem se casou. Depois de alguns incidentes, apenas ele demite funcionários, em casos extremos em que eu não possa fazer mais nada.

_ Direto ao ponto, como sempre. Tudo bem então – ela suspirou, revirando os olhos e os pousando em mim - Henry insiste em te dar uma nova sede, maior e melhor, em Nova York. Só estou lhe passando essa informação pois eu ficaria na direção dessa unidade, então é bom pra mim.

_ O QUÊ? - minha voz com certeza saiu mais alta do que deveria - Perdão, eu realmente não entendi.

Dakota revirou os olhos mais uma vez e me entregou alguns papéis. Ali estavam todas as informações sobre uma recém aberta unidade da Fashic em NY, no melhor bairro da cidade, e que precisava de uma nova direção: a minha direção! Eu não conseguia sequer responder, apenas sorria lendo tudo aquilo.

_ Ótimo, acho que isso aí é um sim - ela agora usava o celular, ainda apoiada na minha mesa, sem nem me olhar - vou avisar ao Henry e você pode ir semana que vem. Já está tudo pronto. Temos até um apartamento próximo... Ah, ele vai te ligar. E passar as informações que você precisa. Isso é tudo.

⫷•naquela noite•⫸

Enquanto jantava, sr. Williams me ligou. Quase pulei meu balcão da cozinha americana quando corri até a sala para atender, terminando de mastigar meu macarrão.

_ Boa noite, S/N! Dakota lhe passou as boas novas, certo? - ele parecia mais animado que eu com a ideia, mas podia ser loucura minha.

_ Sr. Williams, eu nem sei como começar a agradecer! Eu...

_ Eu que devo agradecer por você ter aceitado - ele me interrompeu rindo - Seu trabalho numa agência nova como essas é tudo que precisamos para ir rumo ao sucesso. O que fez por nós aqui em nossa cidade é incrível. Os números não mentem, então eu que tenho sorte em te ter em Nova York!

Eu não tinha reação, apenas ri anasalado, o que fez Henry continuar do outro lado. Acho que percebeu minha ansiedade.

_ Faço questão que fique em nosso apartamento, é apenas a duas quadras do escritório. Separei até um espaço para seu gato lá, já avisei à Mia. Você terá sua própria sala na agência, obviamente, e tudo que é seu será levado diretamente para lá caso queira. Pode escolher redecorar também. Quero que me indique uma pessoa para ser sua assistente, e...

_ Espera, eu vou ter assistente? - Isso parecia um sonho pra mim, apesar de não ter a mínima ideia de quem indicar para um cargo como esse.

_ E como não? Você vai tomar conta de tudo em outro estado, e não conseguiremos ir para lá com frequência. Precisa de alguém de confiança para te ajudar. Caso não conheça, podemos recolher alguns currículos com a empresa de contratação.

_ Vou pensar em algo, é muita informação... Quem sabe assim que chegar eu lá?

_ Suas passagens são para domingo de manhã. Esteja preparada.

⫷•na segunda-feira seguinte•⫸

Depois de chegar e deixar tudo do meu jeito no dia anterior, fui avisada por telefone por Henry que poderia contar com a ajuda de uma empregada, a Mia. Ela chegou no final da tarde e jantamos juntas aquela noite, porque ela preparou um verdadeiro banquete, inclusive comidas naturais para Cookie. Era muita comida e insisti que ela ficasse comigo para a refeição. Me perguntei algumas vezes durante a viagem se Dakota sabia de toda a mordomia em que eu me encontrava, presumi que não.
O apartamento era gigantesco para apenas uma pessoa e, bem, um gato. Todos os cômodos eram incrivelmente amplos, a varanda era linda e me dava uma visão incrível da cidade, por ser um dos apartamentos mais altos da região. Estava tudo muito bem decorado, até mesmo o menor dos quartos, que Mia me avisou ser o quarto de serviço. Ou seja, o dela.

De manhã, apesar de toda a recepção de Mia, decidi conhecer as redondezas antes de chegar ao prédio da Fashic NY. Coloquei meu sobretudo favorito, aproveitei o clima frio e coloquei minha boina preta que havia ganhado de... Bem, não importa. O que importa é que me sentia bem naquele dia, nada poderia me abalar! Era a vida que sempre tinha sonhado, pelo menos profissionalmente falando.
Andei pelas ruas alaranjadas do outono como em um sonho. Morava muito próximo ao Central Park, o que me garantiu ótimas paisagens pra reafirmar que eu não estava imaginando coisas e não acordaria no meu quarto minúsculo rosa na casa de meus pais.
Encontrei um pequeno café aconchegante em uma das ruas laterais à avenida principal. Decidi parar, por ainda ter um tempinho até precisar chegar ao trabalho. Café sempre cai bem. O sino da porta abrindo fez a atendente do caixa se virar em minha direção e sorrir.

_ Bom dia! Qual o frappuccino mais famoso da casa? - talvez eu estivesse mais animada do que devesse, mas a jovem garota que me atendia agia de forma gentil. Seria bom fazer amizades por aqui.

_ Acredito que o Chocomint Explosion combine com você. Parece ser do tipo animada - sua risada fofa ecoou pelo café, que tinha apenas mais duas pessoas sentadas nas mesas de madeira próximas às janelas de vidro. As luzes amarelas combinavam com o ambiente.

_ Então esse será. Obrigada pela sugestão! Sou nova por aqui e não conheço nada.

_ Adoro ajudar! Se precisar, pode contar comigo – ela pegou um copo branco e uma caneta preta - Seu nome, por favor?

_ S/N! E o seu?

Nesse momento, percebi pela visão periférica que o outro atendente do balcão se virou bruscamente. Seus cabelos azuis balançaram com o movimento, o que quer que estivesse em sua mão se chocou com o balcão (parecia de acrílico, então não quebrou). Olhei rapidamente, meio assustada com o barulho, e ele desviou de forma que eu não consegui ver seu rosto.

_ Eu sou Emma. E o atrapalhado ali é o Taehyung!

Ok, agora eu que estava chocada. Eu estava em Nova York, não na Coreia, impossível ser uma coincidência. Emma pareceu perceber minha tensão, pois tomou a liberdade de tocar em meu braço e perguntar se eu estava bem, mas eu só escutava sua voz abafada e distante. Não consegui responder, apenas andei em direção ao garoto de cabelos azuis e segurei em seus ombros para girá-lo e fazê-lo me encarar. E o que eu nunca imaginei que aconteceria comigo, acabara de acontecer.
   

⫷•••⫸

             Música do capítulo:
         All These Years - Camila Cabello

Trecho:

Your hair's grown a little longer
            Seu cabelo cresceu um pouco

Your arms look a little stronger
  Seus braços parecem um pouco mais fortes

Your eyes just as I remember
     Seus olhos são como eu me lembro

                          [...]

I never prepared for a moment like that
Eu nunca me preparei para um momento como                                       este

Yeah, in a second, it all came back
Yeah, em um segundo tudo voltou de uma vez                                        só