História Inner Child - Kim Taehyung - COFFEE

                     S/N P.O.V

⫷•passado•⫸

_ Ai, S/N, cuidado! Isso machuca, tá bom? - eu ria de Taehyung e sua cara fofa de arrependimento. Seus óculos na ponta do nariz lhe deixavam ainda mais charmoso.

_ Dói nada, você fez em mim e foi tranquilo! - apertei mais a máquina de tatuar em sua pele, o fazendo gritar.

_ Você é doida! - apesar de tudo, ele ria como criança.

Desliguei a máquina e o encarei. Seus olhos castanhos pareciam me analisar profundamente, como se pudessem descobrir cada verdade sobre mim se ficassem me olhando tempo o suficiente. Indiquei com a cabeça para que olhasse seu braço, tinha terminado minha parte da nossa loucura: havíamos acabado de tatuar um ao outro.

_ Silver galaxy... - sua pronúncia do inglês era marcada pelo sotaque coreano, e o sorriso que deu ao ler aquelas duas palavrinhas foi a coisa mais linda das minhas férias inteiras.

_ 은하... - Li em meu braço com dificuldade - Ok, eu não sei falar isso!

_ Foi a pronúncia de coreano mais fofa que eu já vi. E você pode falar em inglês - Ele colocou uma mecha do meu cabelo para trás da orelha e sorriu.

_ Obrigada, mas você é maluco!

_ Por você.

⫷•presente•⫸

Aquela lembrança que sempre estava em meus sonhos passava repetidamente pela minha cabeça. E agora, os mesmos olhos castanhos me encaravam assustados e arregalados. Estes olhos exatamente como eu me lembrava.
Minhas mãos, ainda em seus ombros, tremiam com o toque que não sentia há 7 anos. O soltei, praticamente descendo do balcão, endireitando meu sobretudo. Ele ainda me encarava como se tivesse visto um fantasma.

_ S/N... - foi tudo que ele conseguiu dizer. Sua voz grave invadiu meus ouvidos, me causando arrepios ao ouvir meu nome saindo de seus lábios novamente.

Eu nunca me preparei para um momento assim, mas em um segundo, tudo voltou como um tapa na minha cara. Ele parecia mais forte e mais alto. Começou a deixar os cabelos mais longos, isso lhe caía muito bem. Ele estava diferente, mas ao mesmo tempo, era familiar o suficiente para me fazer suspirar com a situação.

_ Eu... – estava gaguejando. Qual é, S/N, aja naturalmente! – O que você faz aqui?

_ Eu meio que trabalho aqui – ele apontou para o avental marrom que vestia.

_ Me refiro aos Estados Unidos, garoto – pisquei pesado e tentei olhar para outra direção, estava lhe encarando muito.

_ Eu sei - ele coçou a cabeça como costumava fazer ao se sentir envergonhado. Acho que algumas coisas nunca mudam – É uma longa história.

_ Eu sou boa com longas histórias. Trabalho em uma revista, ouvir longas histórias é meu trabalho.

_ Eu sei que trabalha... Quer dizer, não sou um maníaco perseguidor, eu só comprei a revista pra Emma esses dias e vi seu nome. Mas achei que ainda vivesse...

_ Me mudei ontem - o interrompi - sou a diretora chefe da sede de NY agora.

Um silêncio perturbador tomou todo o local. Apenas a música do rádio podia ser ouvida.

_ Ahn, seu frappuccino - ele me estendeu o copo, relutante. Percebi que Emma nos assistia enquanto passava pano no balcão e seus cabelos loiros balançavam com o movimento.

_ Obrigada. Eu... Te vejo?

_ De segunda a sexta, das 7h às 15h - seu sorriso quadrado me fez sorrir. Sonhei com esse sorriso por anos. Apenas assenti com a cabeça.

Me despedi de Emma e saí, ainda não acreditando no que tinha acabado de acontecer.

⫷• algumas horas depois•⫸

Havia passado o dia todo pensando no que aconteceu aquela manhã... Só poderia ser o destino, quais as chances de isso acontecer? Taehyung morava na Coreia e eu morava no interior dos Estados Unidos. Como nos encontramos em uma cafeteria a uma quadra da minha nova casa, em uma das maiores cidades do mundo?
A sensação de ter lhe apertado os ombros formigava em minha mão, como se meu corpo sentisse falta de seu toque. Continuei olhando para meus e-mails, muita coisa precisava ser feita ainda, estar em uma nova sede da empresa era confuso... Ainda assim, tudo que eu conseguia pensar era no sorriso quadrado do garçom de cabelos azuis.
Chacoalhei a cabeça para tentar espantar os pensamentos que tinha. Estava em minha nova sala, que havia escolhido deixar bem parecida com a anterior: toda em vidro, branca em sua maioria, com pequenos detalhes em verde menta. Tinha também algumas plantinhas que me deixavam feliz e com sensação de vida em meio à papelada do dia a dia.
Olhei para a parede toda de vidro que dava para a rua, avistando o Central Park. As folhas de outono marcavam presença enquanto as pessoas passeavam pelo ponto turístico. Meu décimo café do dia estava esfriando enquanto eu balançava as pernas, fazendo barulho do salto no piso. Por que estava tão impactada com aquilo?

Meu telefone tocou, me fazendo despertar. Era recepcionista do prédio. Disse que uma encomenda havia acabado de chegar para mim na portaria, a pessoa preferiu não se identificar, por isso precisava saber se podia entregar na minha sala. Não estava entendendo nada, quem poderia ter me enviado algo? Era meu primeiro dia de trabalho oficial. Confirmei a entrega em meu escritório, ainda relutante, mas muito curiosa.
Assim que o rapaz das encomendas, Daniel, apareceu com uma caixinha azul, fiz sinal com a mão para que entrasse. Ele deixou em cima da minha mesa sem dizer uma palavra sequer, e saiu pela mesma porta de vidro.
Abri a embalagem, me deparando com tantos M&Ms que não conseguia ver o fundo da caixa. Parecia um paraíso, é o meu chocolate favorito! Em meio a tantas embalagens de edições limitadas e tradicionais, havia um CD escrito “listen when sad” e um bilhete escrito a mão grudado com um adesivo de glitter:

"Não consegui parar de pensar em nosso encontro repentino. É o destino, você só pode estar pensando isso também. Acho que temos muito o que conversar.

646-460-0435

Tae
P.S.: O que está no CD existe há cerca de um mês e meio. Estava inspirado, não lembro o que aconteceu, mas eu nunca teria coragem de te enviar se não fosse por hoje.
P.S.2: Sim, eu sou um idoso que ainda usa CD. E o adesivo de glitter é da Emma".

                        ⫷•••⫸