História Inner Child - Kim Taehyung - Central Park

                     S/N P.O.V

Li e reli o recado de Taehyung com um sorriso idiota no rosto. Me perguntei o tempo todo se o que eu senti foi recíproco, e claramente sim. Entre pacotes de M&Ms e papéis de entrevistas para uma nova assistente, o dia passou e nem me dei conta. Quando olhei o relógio, já eram 18h27.
Saí praticamente correndo do escritório para tentar passar na cafeteria. Ele não estava lá, óbvio, apenas Emma. Ela reclamou de precisar dobrar o turno mais uma vez como se fôssemos íntimas, e eu não reclamei, estava adorando ter uma nova amiga logo no primeiro dia.
Ele havia me dito seu horário, mas teimei em passar por lá para termos “outra coincidência”. A realidade é que não queria acordar daquele sonho, porque meu Deus, isso sim é um sonho!
Saí um tanto quanto decepcionada, com dois pedaços do bolo que Emma me sugeriu e prometeu estar uma delícia, ainda pensando se deveria ligar para ele ou não. Fui pensativa para casa, quase me perdendo no caminho por falta de costume.
Mia me recebeu com uma sopa incrível que caiu muito bem no clima frio de Nova York daquela noite. Tomei um banho quente e demorado, tentando tirar Taehyung da cabeça, sem sucesso.
Estava sentada na cama com Cookie quando a curiosidade me invadiu. Decidi mandar uma mensagem.

SN: Oi, aqui é a S/N.

Taehyung: Comecei a achar que você não me chamaria. Pensei que tinha errado o chocolate.

SN: Desculpa, dia cheio. E você acertou o chocolate, não sei como ainda lembra disso.
       É que preciso achar uma assistente até o fim da semana. Nem sei o que faço.

Taehyung: Você tá ocupada?

SN: Como assim?
        Bom, não tô ocupada não. E não tô entendendo nada kkkkkk

Taehyung: Eu preciso te ver. Posso te encontrar no Central Park?

Meu coração parou por um segundo. O que ele queria dizer com isso?

SN: Espera, agora??

Taehyung: Por que não? Te vejo na Bow Bridge. Beijo.

Continuei encarando o celular incrédula, mas com um sorriso no rosto. O que tinha sido aquilo? Ele queria me ver numa quarta-feira à noite, às nove da noite, do nada! Maluco.

Dei um pulo da cama e fui me trocar. Sim, ele poderia estar maluco, mas nem me lembrava a última vez que me permiti fazer loucuras. Vida nova, emprego novo, cidade nova... Loucuras novas.

⫷•meia hora depois•⫸

O vento frio batia em meus cabelos ruivos, me fazendo arrepiar. Mexia minhas mãos sem parar dentro dos bolsos do casaco na tentativa de espantar o nervosismo, mas sem sucesso. Andava pelo Central Park praticamente deserto a noite, tentando me localizar na nova cidade para chegar até o ponto de encontro. E então, nossos olhos se encontraram novamente.
Um arrepio diferente percorreu minha espinha. Não era frio, apesar de ser um sentimento familiar: eu só não sentia isso há um tempo. Quando vi seu sorriso, as malditas borboletas no estômago atacaram pra valer. Eu não o via há 7 anos e nada tinha mudado, o efeito que Kim Taehyung tinha sobre mim só estava adormecido.

_ Você consegue ser linda até quando se arruma correndo. Isso tem que ser um talento ou algo assim – ele ria da própria piada enquanto se aproximava.

_ E você... Bom, continua o mesmo, hein? – eu estava rindo de nervoso, literalmente.

Ele me abraçou tão forte, que senti como se fôssemos os mesmos adolescentes de quando nos conhecemos. Cada parte de mim que havia virado caco com tudo o que aconteceu, estava de volta no lugar. Conseguia ouvir seu coração com a cabeça em seu peito, sentindo o quão quente ele é enquanto eu parecia uma pedra de gelo mesmo com meu casaco mais quente. Percebi que estava sorrindo sozinha. Senti seu perfume e fechei os olhos, não sabia o quanto tinha sentido falta dele até aquele momento.

_ Temos muito o que conversar, ruivinha. Vamos sentar?

⫷•quebra de tempo•⫸

Encontramos um banquinho confortável na beira do lago e ficamos horas papeando de como as nossas vidas mudaram. Taehyung estava morando aqui há dez meses, tinha deixado sua família na Coreia na esperança de seguir seu sonho de ser fotógrafo nos Estados Unidos. Dividia o apartamento com um rapaz chamado Jimin, também coreano, que estudava na Juilliard. Trabalhava no café onde nos reencontramos desde que chegou. E de resto, continuava o mesmo de antes... O mesmo por quem me apaixonei com 16 anos, nas férias que passamos juntos em uma fazenda.

_ Você lembra, claro que lembra, TEM que lembrar! – nós riamos feito duas crianças enquanto ele tentava formar uma frase – Quando a gente fugiu uma noite pra ver as estrelas...

_ E  A VACA CORREU ATRÁS DA GENTE – minha voz escandalosa preencheu a noite vazia da cidade que eu sempre acreditei que nunca dormia.

_ ELA CORREU ATRÁS DE VOCÊ! – Ele ria tão alto que não me senti estranha de parecer uma maluca.

_ VOCÊ QUE DISPAROU NA MINHA FRENTE, PERNA LONGA! - Estava completamente sem ar, debruçando sobre mim mesma, mas Taehyung não parava de rir de mim - Para, minha barriga tá doendo!

_ Tá bom – ele suspirou e eu o acompanhei, tentando controlar a respiração – Mas você precisa lembrar da vez que sentamos naquele lago de pesca, no píer que tinha.

_ COMO EU POSSO ESQUECER? – Eu estava até um pouco indignada – VOCÊ ME LARGOU NA ÁGUA PRA MORRER!

_ Eu nunca te deixaria morrer! Eu só não sabia que você nunca aprendeu a nadar, ué.

_ Cheguei à conclusão de que você só me faz passar vergonha – ele ria, mas eu fiz minha melhor cara de brava e continuei - chega pra mim.

Fingi que sairia andando, mas ele segurou minha mão. Seu toque me fez arfar e a fumaça branca causada pela baixa temperatura saiu de meus lábios. Taehyung se levantou e ficou de frente para mim, segurando minhas duas mãos. A forma como ele umedeceu os lábios me deixou elétrica, seus olhos encontraram os meus e eu pude ver a galáxia que se formava na imensidão castanho-escuro.

_ Tem algo que quero te mostrar.

Ele segurou firme em uma das minhas mãos e saiu correndo, não se importando com a dificuldade que eu tinha em lhe acompanhar. Passamos esbarrando por algumas pessoas, mas ele não soltou minha mão em nenhum momento. Sem deixar de correr, ele olhava para trás, para mim, sorrindo. E eu não podia estar mais feliz em me permitir cometer essa loucura com a minha loucura favorita.