S/N POV
Olhei no meu relógio digital e assustei quando vi que eram 13:29. Sabia que tinha ido deitar muito tarde na noite passada depois da sessão de filmes com as garotas, mas não esperava que acordaria no horário do almoço.
Sentei na cama e enrolei o cabelo desgrenhado em um coque qualquer. Me levantei, indo em direção ao banheiro, até assustando com a cara inchada e as olheiras gigantes em meu rosto. Escovei os dentes enquanto ponderava sobre a possibilidade de passar o dia todo de pijama, decidi que ficaria com eles mais um pouco. Não era feio: a calça larga e a regatinha eram verde menta, minha cor favorita, então estava de bom tamanho.
Andei rumo à cozinha estranhando a luz forte do sol entrando pela porta da varanda, fazendo uma careta enquanto tentava fazer com que os olhos se acostumassem à claridade.
_ Olha quem acordou! – Iandra disse do banquinho da cozinha – Vai tomar café ou almoçar?
_ Essa daí vai fazer os dois – Mia disse enquanto colocava os ovos mexidos da frigideira em um prato – Resta saber o que ela tá afim de comer.
_ Hey, eu não sou tão comilona assim! – Disse indignada, enquanto sentava em outro banquinho alto no balcão da cozinha.
_ Imagina se fosse... – Iandra queria rir, mas tomou um gole do seu chocolate quente.
_ Eu pedi algumas coisinhas gostosas daquela padaria que você tanto gosta, devem chegar a qualquer momento – Mia estava tirando o avental que vestia para se sentar conosco
_ Você me conhece mesmo. Sabe até o que eu quero comer sem nem eu ter acordado! – falei, querendo apertar minha amiga, mas me contive.
_ Não é tão difícil saber, né? Quando você não tá com um donut da Magnolia Bakery, você tá com um copo de Mint Explosion... – Iandra cortou sua frase pois levou um tapa de Mia – Ai! Pra quem tava me chamando de senhorita ontem a noite, você tá bem saidinha!
A campainha tocou. Mia correu até a porta para atender enquanto Iandra largou sua caneca e foi para a varanda. Não estava entendendo nada.
_ OBRIGADA PELA ENTREGA! – Mia gritava de forma exagerada na porta de entrada – SENHORITA, PODE VIR ME AJUDAR COM AS CAIXAS?
Levantei do banquinho e caminhei em direção à porta, enquanto Mia estava vindo para a cozinha com duas caixinhas de cupcakes. Entendi tudo quando cheguei no hall de entrada e me deparei com Taehyung.
_ Hey... – sua voz grave invadiu meus ouvidos como um soco – Não fica brava com elas, eu que as forcei a fazer isso.
Ele estava com uma outra caixa da Magnolia em mãos, com um bolo que dizia “me perdoe”. Taehyung deu alguns passos e entrou no apartamento, fechando a porta atrás de si.
_ O que você tá fazendo aqui? – perguntei ríspida.
_ Tentando falar com você sem ser ignorado. Não foi nada do que você pensou – ele tentou se aproximar, mas dei um passo para trás, quase pisando na barra da calça do pijama – não foge de mim...
_ Eu... Não quero... - ele tentou falar algo, mas não dei abertura. Senti as lágrimas descendo pelo meu rosto – Eu achei que éramos algo, entende? Você sabe quão insegura eu sou, Taehyung! Você sabia, e mesmo que você e a tal Katherine não tenham nada, você mentiu pra mim!
_ Me perdoa. – ele fez uma pausa, aparentemente pensando nas próximas palavras – Eu sei que errei não te contando. Katherine é uma amiga do curso de fotografia, precisamos fazer um trabalho juntos e nos aproximamos. Ela estava precisando de emprego e a indiquei para a cafeteria, que vai ser só de vez em quando porque ela tá em outro lugar também. Vamos trabalhar por escala...
_ Eu acordei do sonho. – Cheguei à conclusão que não gostaria e pensei alto, interrompendo o discurso dele sobre a amiguinha – Achei que estava sonhando esse tempo todo, tendo você comigo... Mas a gente só estraga tudo. Não fomos feitos para ficarmos juntos.
_ O que a Katherine tem a ver com isso? S/N, eu... – ele começou a negar com a cabeça e se aproximar novamente, dessa vez não me afastei.
_ Você o que? – eu sussurrei em meio às lágrimas – Você me prometeu e não cumpriu. Você podia ter me contado por diversos motivos, já temos uma história, mas ainda assim não fez. Você sabe como sou comigo mesma e sobre a minha vida, que é uma completa confusão, e eu achei que a única certeza que eu tinha era você. Depois de tanto tempo, eu realmente acreditei que poderíamos construir uma coisa, sabia?
_ Mas não foi nada demais, S/N... – Meu olhar para ele de “você vai mesmo por esse caminho?” o fez voltar atrás – Ela gosta de mim. Ela me disse isso ontem. Mas eu não sinto nada por ela.
_ Eu li suas mensagens, não precisa repetir tudo. Não é como se você não pudesse ter percebido isso antes... – revirei os olhos, enxugando as lágrimas – Sabe o que construímos? Um castelo de cartas, que agora tá desabando e a gente dentro dele, esperando aquilo cair sobre nossas cabeças.
_ Não importa o que ela sente por mim, porra! – Ele segurou minhas mãos, deixando o bolo apoiado na mesa do hall de entrada e se aproximando – Eu te amo. E você é a única que eu já amei, minha vida inteira.
_ Você vai continuar por esse caminho de usar as palavras pra me fazer amolecer?
_ Você acha que eu diria que te amo sem ser verdade? – ele tinha lágrimas nos olhos, mas lutava para não permitir que elas caíssem – Admito que não é a situação ideal para te dizer isso, eu tinha planejado outra coisa... Não importa mais. O que importa é que eu te amo, e mesmo que você não acredite em mim, isso nunca vai mudar. Você tem todo o direito de estar chateada, mas por favor, não duvida do que eu sinto...
Eu não duvidava completamente. Mas não sabia se deveria dar o braço a torcer. Ponderei a situação em uma fração de segundo, afinal estudei pra isso, não querendo me gabar. Se ele ainda tinha um pouco do Tae que eu conhecia, isso tudo não era encenação e ele realmente estava arrependido. Agora, o que eu deveria ponderar era se valia a pena acreditar nessa pequena chama de esperança ou desistir de algo que talvez nunca tenha existido. Não consegui controlar as lágrimas que caíam desesperadamente pelos meus olhos, enquanto encarava seu rosto. Sua expressão era de esperança, e seus olhos nunca mentiram pra mim: estes que estavam vasculhando meu rosto em busca de algo positivo para se agarrar, desesperadamente. Mesmo no momento em que tudo aconteceu, seus olhos delataram seus sentimentos reais: Pavor de me perder.
_ Eu não duvido – sussurrei em meio às lágrimas.
_ O que? – ele disse, subindo suas mãos até meus ombros.
_ Agora vai se fazer de maluco pra ouvir de novo? - Dei um tapa em seu ombro, ainda sem acreditar. Ele sorriu minimamente, o que me fez sorrir - Eu não duvido do que você sente, eu só...
_ Você é tudo pra mim. – ele me interrompeu, agora com duas lágrimas teimosas deslizando pelo seu rosto - E eu quero construir com você mais do que esse bendito castelo de cartas que tem em cima das nossas cabeças. E eu sei, jurei pra mim mesmo que não iria apressar as coisas apesar de já ter imaginado até o nome dos nossos filhos, mas eu nunca deixei de te amar. Quando digo que te amo, tô dizendo pela pessoa que você é, pela forma como você me trata. Te amo por você ser você. E eu tive tanto medo de te perder, S/N...
Foi o suficiente para eu voltar a chorar.
_ Como você faz isso comigo, garoto? – me aproximei dele sorrindo – deixou uma jornalista sem palavras.
_ É mágica. – ele sorriu – mentira, eu treinei o caminho todo.
Ele se aproximou devagar, como pedindo permissão para me tocar. Assenti levemente, sentindo suas mãos na minha cintura, me puxando com calma para perto dele. Meu coração errou uma batida quando senti seu toque tão próximo, tão cuidadoso e relutante. Seus olhos intermediavam entre minha boca e meus olhos. Senti sua respiração quente e cortada em meu rosto, sabia que estava nervoso, então colei nossos lábios em um momento repentino.
Foi como fogos de artifício: Sentir seu beijo novamente era como um sonho, do qual eu não queria acordar. Nada era favorável (minhas roupas, o local, a situação como um todo) mas eu me senti em um filme adolescente. O beijo foi se aprofundando, sentia cada vez mais necessidade de lhe sentir, mas Tae se afastou.
_ Desculpa... Estamos sendo assistidos – ele sussurrou próximo aos meus lábios, e direcionou seu olhar para a varanda.
As portas estavam abertas e as cortinas brancas fechadas, mas eram relativamente transparentes. Pude ver minhas amigas dando pulinhos de alegria de mãos dadas, sorrindo como duas idiotas.
_ Vou resolver isso – disse, me afastando com dificuldade. Queria continuar colada em seu corpo – Final do corredor, última porta à direita.
Tae me olhou sem entender, mas seguiu o caminho que lhe indiquei. Tomei meu rumo até a varanda, onde as duas doidas pararam de sorrir e pular quando me viram.
_ S/N, desculpa – Mia tomou a frente, abaixando a cabeça – Mas eu precisava que vocês se resolvessem...
_ Eu amo vocês – abracei as duas e enfiei a cabeça em seus ombros. Ambas levaram um segundo para me abraçar de volta, como se não esperassem a minha atitude – Agora saiam desse apartamento e corram antes que eu espanque vocês. Mia, você vai ver sua família e Iandra, você vai visitar a sessão de fotos que está acontecendo agora na Times Square em meu nome.
Iandra arregalou os olhos e Mia saiu correndo em direção ao quarto dela. Assenti para a assistente que permanecia imóvel em minha frente.
_ Eu não consigo fazer isso – ela disse, me encarando com os olhos arregalados – É muita responsabilidade e eu sou muito nova.
_ Larga disso, garota – dei um tapa na lateral de sua cabeça – Você é melhor que eu quando comecei, tem tino pra isso. Agora coloca sua melhor roupa e vai lá, diz que eu mandei e fotografa tudo que você achar legal!
Ela ficou com os olhos marejados, concordou e me abraçou. Sorri com sua atitude.
_ Você não vai se decepcionar comigo, eu prometo! – ela disse, ainda me abraçando.
_ Tenho certeza disso. Confio em você. Agora vai, ou chegará tarde demais! – ri da forma desajeitada que ela saiu correndo até a porta de entrada, mas voltou para pegar sua bolsa que estava na mesa do hall.
Mia saiu logo atrás, me agradecendo pela folga. Agora estávamos só eu e Taehyung.
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