História Inner Child - Kim Taehyung - Devil Wears Prada

                 S/N POV

Cheguei em casa com Iandra cerca de duas horas depois de nossa conversa. Tirei meus sapatos no dilema do que latejava mais: meus pés ou minha cabeça. A junção de choro o dia inteiro com um evento barulhento estava me enlouquecendo, nem conseguia acreditar que havia chegado em casa e sobrevivido àquele dia. Me joguei no sofá como se minha vida dependesse daquele momento, respirando fundo, apenas encarando o lustre exagerado no teto... Tinha ciência de que agora eu não conseguiria mais desviar os pensamentos dos acontecimentos de mais cedo, não tinha nada mais para ocupar minha cabeça. Senti o peso do corpo de Iandra se chocar com o móvel ao meu lado.

_ Senhorit... Ah, tem visitas! – Mia estava na cozinha de roupão e uma toalha na cabeça, parecendo um tanto quanto envergonhada com a presença de Iandra.

_ Perdão, não consegui avisar – me sentei no sofá, virando em direção à cozinha e encarando Mia pelo balcão de cozinha americana – Essa é Iandra, a minha amiga-assistente-irmã perdida.

_ Ohayo! – Iandra levantou o braço e fez um sinal de paz e amor com os dedos, mas se manteve deitada com os pés para cima no encosto do sofá – Desculpa, tô muito esgotada, mas ouvi falar muito de você e juro que tô feliz de te conhecer. Só não consigo demonstrar agora.

Mia riu e se aproximou de nós, sentando em um puff verde menta que havia ao lado do sofá. Ela tirou a toalha da cabeça e chacoalhou os cabelos curtos e molhados, que emolduraram perfeitamente seu rosto sem nem ver a sombra de um pente... Queria que meu cabelo fosse assim.

_ Também ouvi falar muito da senhorita, não via a hora de te conhecer! Pena que é um momento tão delicado... – Mia colocou a toalha molhada no colo, fazendo um embolado com ela.

_ Nada a ver! – Iandra disse, se sentando – Não existe melhor momento pra se reunir mulheres. Qual é, vamos falar mal dos outros enquanto comemos pipoca e assistimos ao filme favorito da S/N.

_ Diabo Veste Prada! – gritei, pulando para me sentar enquanto procurava o controle da televisão.

_ Não vamos comer pipoca e vocês não vão assistir agora – Mia disse, parecendo séria – Eu fiz uma janta digna demais pra vocês fazerem pipoca de micro-ondas. E com esses vestidos, vocês não vão a lugar algum!

Concordei com a cabeça, ela tinha razão. 

_ Desculpa, mamãe – falei, abaixando a cabeça e encarando meus pés – O que comeremos de tão gostoso então?

_ Primeiro o banho, depois a comida. Se não dá indigestão – Mia jogou uma toalha seca no meu colo e outra nos braços de Iandra – Falando sério, tira essa roupa porque vai amassar tudo.

Rimos da sua preocupação e fomos para o banho, eu na minha suíte e Iandra no banheiro de hóspedes. Mergulhei na banheira quente tentando não pensar em coisas ruins, mas o olhar assustado de Taehyung me assombrava. Decidi pegar meu celular para ler o que ele havia dito.

27 chamadas perdidas. 326 mensagens não lidas.

Ok, definitivamente encontrei alguém pior do que eu.

Tae <3: S/N, por favor, me atende.

Tae <3: Não me ignora, precisamos conversar.

Tae <3: Por favor, ela é só uma amiga, me deixa explicar!

Tae <3: Eu te imploro, me atende!!!

Tae <3: S/N, eu não posso te perder assim...

Tae <3: Ela é uma parceira de fotografia do curso, nos conhecemos lá e somos só amigos. Eu juro que não é o que você tá pensando, eu nunca faria nada pra te magoar.

Tae <3: S/N... Sei que você tá no evento, mas por favor, me retorna quando der.

Tae <3: Tá bom, ela se declarou pra mim e eu mandei ela catar coquinho. Não que isso mude o que aconteceu...

Tae <3: Eu sei que você tá magoada e tem todo direito de estar assim, mas eu preciso de você

Tae <3: Me deixa ouvir sua voz, eu preciso falar contigo, por favor...

Tae <3: Eu te amo.

Respirei fundo e contei até 10, mas as lágrimas teimaram em cair. Deixei novamente meu celular na borda da banheira e afundei na água, sentindo a temperatura aquecer até meu último fio de cabelo. Como ele poderia usar essas palavras em uma situação dessas? Ele queria me amolecer dizendo que me ama? Golpe baixo. Nada do que ele dissesse tiraria a cena que eu vi da minha mente, e nada poderia me fazer acreditar que aquilo não foi nada.

Escutei uma batida na porta que me acordou do devaneio.

_ S/N? – era Mia – Tô meio preocupada, você tá aí tem um tempo... Tá tudo bem? 

_ Tô bem – gritei, tentando disfarçar a voz de choro – Só pensando um pouco.

_ Vem pensar aqui fora que a comida tá esfriando e eu quero xingar ele também – Iandra gritou do lado de fora.

Ri fraco de suas palavras e gritei que já estava saindo. Me enrolei em um roupão qualquer e esvaziei a banheira, tentando passar qualquer produto de beleza que disfarçasse a cara de choro... Mas desisti, sabia que choraria de novo lá fora.

Encontrei as duas sentadas no sofá, dividindo um cobertor, com um bow de rámen cada. Elas sorriram ao me ver.

_ A gente pode só assistir e fingir que nada aconteceu? – supliquei, fechando os olhos e esperando a resposta negativa que sabia que viria.

_ Não! – elas disseram em uníssono e abriram um espaço entre elas para mim.

Me sentei no meio de minhas amigas e respirei fundo.

_ Você começa? – Iandra disse, me cutucando com o cotovelo. Entreguei o celular em suas mãos, aberto nas trezentas mensagens que Taehyung havia me enviado durante o dia inteiro.

_ O que foi? Também quero ver! – Mia se jogou por cima de mim para tentar enxergar a tela do celular, me fazendo rir um pouco. Tinha sorte de ter essas duas nesse momento.

Enquanto elas avaliavam as mensagens, Cookie pulou em cima de mim para ficar embaixo do cobertor também. Ele tinha essa mania de deitar comigo quando eu estava triste, então o segurei no colo e abri o cobertor. Ele se deitou em minhas coxas e começou a ronronar.

_ Só você pra me amar incondicionalmente assim, né, Cookie? – falei, fazendo carinho em sua cabeça.

_ Tá, aparentemente o coreaninho aqui também te ama – Iandra disse, me entregando o celular de volta – e deixou isso meio claro, né?

_ Não interessa! – revirei os olhos – Ele claramente disse isso tudo pra tentar me amolecer e ligar pra ele, eu não vou acreditar em nenhuma palavra que sair da boca desse homem.

_ Mas... Tá bom, eu entendo. Só que tenta avaliar a situação – Mia se ajeitou no sofá, dobrando suas pernas e abraçando seus joelhos – Ele pode mesmo estar arrependido...

_ Não interessa, Mia! – praticamente gritei – Desculpa, mas ele fez merda e tem que lidar com a merda que fez. A gente pode não falar disso?

_ Não! – as duas gritaram e uníssono novamente, o que me fez revirar os olhos.

_ Não ligo se ele quer se desculpar agora – murmurei, acariciando Cookie.

_ S/N... Eu conheço o Tae – Iandra bebeu um pouco do suco de laranja que tinha em mãos e continuou – Eu realmente não acredito que ele tenha feito isso, mas se fez, algum motivo tem. Eu queria matar esse babaca hoje cedo, mas fiquei pensando e ponderando a situação... Se ele quisesse fazer alguma coisa pra te atingir, ele não faria em um dia que você não iria até a cafeteria.

_ Ele tava fazendo escondido, isso sim! – eu disse, parecendo mais revoltada do que realmente estava.

_ Não acho que ele tenha motivos pra fazer algo escondido de você – Mia acrescentou – Afinal, vamos ser realistas, vocês não estão juntos oficialmente.

Aquilo doeu, mas ela tinha razão. Suspirei e alcancei minha tigela de rámen na mesa de centro, quando Cookie saiu correndo para pedir ração no pote.

_ O Taehyung tem um coração bom... – Iandra parecia sincera na frase que dizia – Ele realmente pode não saber como agir com uma pessoa folgada como a Katherine. Eu já o ouvi falando dela.

_ E nunca me contou? – Eu estava realmente revoltada agora.

_ Ué, pra mim ele já tinha te falado dela! – Iandra levantou as duas mãos em rendição – De qualquer jeito, ela é bem folgada com ele, fazia o Taehyung terminar o trabalho e colocar o nome dela e coisas assim. Ele nunca sabia como agir e só fazia, ela pode ter entendido isso errado, principalmente quando ele a indicou pra vaga da cafeteria.

_ Isso faz sentido pra mim – Mia disse, ainda mastigando um pouco de macarrão – Tipo, ele é tão bonzinho que não sabe como dar um fora nela... – ela parou para pensar em algo e completou – Acho que você podia ligar pra ele.

_ EU O QUE? – dei um pulo no sofá, olhando indignada para a japonesa – De jeito nenhum! Dá play no filme antes que eu desista e vá dormir, vai.

As duas se encararam no que parecia uma conversa telepática. Imaginei minhas amigas me xingando de cabeça dura, mas fingi que não vi seus olhares. Sacudi a cabeça e alcancei o controle na mesa de centro, iniciando meu filme favorito na tentativa de esquecer um pouco toda essa tristeza e só pensar em como Dakota Williams parece Miranda Priestly.