S/N POV
Estava chorando como uma maluca sentada em um dos milhões de bancos do Central Park, enquanto Taehyung e Iandra me ligavam sem parar. Não atendi a nenhuma das ligações.
Sabia que precisava voltar ao trabalho e que tinha a maldita festa naquela noite, de onde eu já queria ir embora sem nem chegar. Sabia que provavelmente estava chorando por motivos idiotas, talvez externando sentimentos que reprimi por muito tempo em relação a Taehyung, mas ainda assim não conseguia me controlar. Ele havia mentido, eles estando envolvidos ou não, mesmo quando prometemos contar tudo um ao outro depois de tudo o que aconteceu.
Respirei fundo e tirei os óculos escuros para esfregar o rosto. Deitei a cabeça para trás e observei as nuvens carregadas de chuva chegando para esconder o céu azul. Era assim que me sentia: vendo a chuva chegando, as nuvens negras tomando meus dias agradáveis, e não podendo fazer nada além de observar.
Um rapaz de cabelos pretos sentou do meu lado e senti seu olhar em mim. Tentei ignorar sua presença, mas ele me chamou.
_ Moça? – o olhei, com os olhos inchados e vermelhos – Me desculpa, eu te vi tão tristinha e quis falar com você. Posso te ajudar de algum jeito?
Suspirei e neguei com a cabeça. Ele sorriu de um jeito fofo.
_ Sei que sou só um estranho, mas vai dar tudo certo. O que quer que tenha acontecido, vai se resolver, só dê tempo ao tempo... A verdade sempre aparece. E se permita sentir as coisas, porque se ficar guardando, vai se sentir pior depois.
Desabei a chorar novamente depois de sua fala. Ele colocou sua mão em meu ombro com cuidado e muito respeito, ficando do meu lado enquanto eu chorava.
_ Eu... Nem sei... Seu nome – falei em meio a soluços – Isso é loucura.
_ Hoseok. Mas como é um nome difícil pra vocês americanos – dei uma risadinha de sua observação, mesmo chorando muito - a galera me chama de Jay.
_ Ok, Jay... Obrigada – sorri para ele e alcancei meu celular. Entreguei a ele – Eu sou a S/N. Coloca seu número aí, assim deixamos de ser estranhos.
Ele adicionou o número dele no meu telefone e tirou uma foto fofa para colocar de imagem de contato. Tem forma mais doida de se fazer amizade? Acho que não.
Ele olhou em seu relógio de punho e estalou os olhos.
_ Preciso ir agora, mas me manda um oi aí que eu te respondo. Tenho que trabalhar! – Ele parecia apressado, levantou correndo do banco e me estendeu a mão.
_ Não fala em trabalhar não, vai... – resmunguei mas aceitei sua mão, sorrindo e levantando logo depois.
Agora, precisava encarar uma empresa lotada de pessoas atrás de mim.
⫷• vinte minutos depois •⫸
Apesar de ter feito a caminhada mais lenta que pude até o edifício da empresa, eu tinha que chegar em algum momento. Respirei fundo e entrei calada, com meus óculos escuros tentando disfarçar a cara de choro. Tentei ir direto para a minha sala, mas Iandra estava na mesa dela logo na frente do corredor que dá para a minha sala, me viu passando e correu atrás de mim.
_ Onde você tava? – ela tocou no meu ombro tentando me fazer parar de andar, mas não tive reação – Para! O que houve com você?
_ Temos muito trabalho pra fazer – respondi, ainda caminhando pelo corredor direto para minha sala – não tenho tempo pra isso.
_ Foda-se o trabalho, S/N! Você claramente tava chorando, vai conversar comigo ou me tratar feito assistente?
Parei na porta da sala, ainda de costas para ela. Me virei lentamente e tirei os óculos escuros.
_ Isso é o que eu ganho por acreditar nas pessoas.
Coloquei novamente os óculos e entrei, deixando a porta aberta, mas Iandra não me seguiu. Acredito que tenha entendido o que eu quis dizer com minha frase, pois só voltou para falar comigo horas depois, perguntando sobre a limusine para o evento.
Nesse meio tempo, coloquei o que precisava em dia, apesar de manchar algumas páginas com lágrimas e precisar imprimir mais de uma vez. Estava desejando um café, mas não queria que ninguém me visse daquela forma. Lembrei de ter deixado Emma sem resposta quando saí correndo e me senti mal, até decidir lhe mandar uma mensagem.
S/N: Perdão por mais cedo. Não queria te deixar falando sozinha nem preocupada.
Emminha: Fica tranquila, eu já sei de tudo. Soquei Kim Taehyung na parede pra ele me explicar o que caralhos tinha feito com você. E eu odeio a Katherine, pra você saber.
S/N: Então o nome dela é esse? Hm.
Emminha: Não foca nisso. Sei do seu evento big ultra mega power hoje à noite, vai linda e arrasa. Porque arrasar com o coração do coreaninho você já arrasou.
S/N: Como assim?
Emminha: Bom eventooo, byeeeee!
Tentei lhe ligar depois dessas mensagens, mas sem retorno algum. Ela sabia como me deixar com a pulga atrás da orelha e eu queria esganar ela.
“Sem violência, princesa”.
As palavras de Tae me entristeceram novamente. Sacudi a cabeça para espantar os pensamentos e fui até a sala de vestidos pegar o que Iandra havia escolhido para mim.
⫷•duas horas depois•⫸
Esses eventos não poderiam ser mais monótonos. Eu não sabia diferenciar as dezenas de velhos de terno, mesmo com a ajuda de Iandra que tentava me animar, e também não conseguia focar em nada. As pessoas me cumprimentavam com seus melhores sorrisos, faziam questão de falar comigo por ter marcado história sendo editora chefe tão jovem e blá blá blá, e tudo o que eu fazia era responder “obrigada pelo carinho”.
_ S/N... – Iandra se sentou no banquinho do bar e me pediu que sentasse ao seu lado. Seu vestido curto com rosas desenhadas se encaixava perfeitamente em sua personalidade – Eu sei que foi algo com o Taehyung. Mas você não quer conversar sobre isso?
_ Garçom? Traz o drink mais forte que você tiver aí, só preciso que seja doce – disse, tentando ignorar sua tentativa de puxar assunto.
– Você quer algo? – o garçom se dirigiu à Iandra.
_ Quero que você cancele o drink da moça e me traga um pouco de vergonha na cara com dose dupla de sinceridade – ela falou com o rapaz, mas não tirou os olhos de mim, fazendo uma careta. Finalmente olhou para o garçom antes de completar a frase – Mentira, me traz um Martini, por favor.
O garçom assentiu e saiu. Ela se virou novamente para mim com um olhar pidão.
_ Eu sou sua amiga...
_ Eu sei que você é. Mas ele também é, antes de mim, e isso é injusto. Eu estou sendo uma idiota e não preciso falar sobre isso – suspirei, sentando no banco ao seu lado. Estava olhando para cima, tentando não borrar a maquiagem com as lágrimas que surgiam em meus olhos.
_ Foda-se aquele coreano babaca, ele te fez chorar – ela tocou em meu braço e fez uma cara de brava que mais me fez rir do que sentir medo – fala comigo.
_ Não tem o que falar. Eu tô sendo idiota.
_ Eu vou te bater – ela puxou o banco para perto de mim com dificuldade, o que me fez rir.
_ Você é insistente! – fiz uma pausa, pensando se valia a pena falar sobre como me sentia ali. Por fim, decidi que sim - Encontrei ele com uma tal de Katherine no estoque da cafeteria. Ela tentou beijá-lo e ele fingiu demência até me ver, parecia algo meio recorrente. Estavam de mãos dadas e ela claramente dava em cima dele antes disso.
_ É O QUE? – Iandra só não surtou porque nossas bebidas chegaram. Depois de virar todo o copo como se fosse uma dose de vodka e pedir outro, voltou a atenção pra mim – Ok, eu quero matar esse esnobe do caralho. Juro que essa é a minha tentativa de controle!
_ Não precisa disso. É só idioti...
_ Isso não é idiotice sua. – ela me interrompeu, séria - Vocês têm uma história e estão se reaproximando, você tem todo o direito de estar chateada. Ele que está errado em não te contar sequer que ela existia.
_ Eu sei lá – suspirei, tomando um pouco do drink – Ele podia ter me contado sim, mas também pode ter motivos pra esconder. E eu não tenho como cobrar algo dele na situação em que estamos.
_ Claro que tem! Vocês não tinham feito uma promessa ou sei lá? – ela tentou parecer que não estava por dentro do assunto, mas com certeza o próprio Taehyung contou isso a ela, pois nunca comentei dessa promessa com outra pessoa além de Mia.
_ Sim. Mas aparentemente não significou nada pra ele – suspirei novamente, brincando com o canudo no copo.
_ Dizem que a cada suspiro, sua estimativa de vida diminui em três segundos – Iandra observou e fez uma cara séria.
_ Pois eu já devo ter perdido alguns anos, só hoje... – suspirei mais uma vez – Isso não importa. Te disse que não era nada demais e não será, se eu não permitir.
_ Um amigo meu sempre me diz que você precisa se permitir sentir, porque se guardar é pior depois.
_ Tá cheia das frases motivacionais hoje, hein? – terminei de beber o que havia no copo e me virei para o salão – deve ser o álcool que desceu rápido demais.
_ Eu treinei muito pra poder falar com você hoje – Iandra disse e se virou para o salão também, observando o local – E eu tenho uma boa resistência, tá bom? Meu apelido não é Whisky à toa.
Ri do seu comentário, mas desanimei novamente quando lembrei de Taehyung usando esse apelido para provocar a amiga. Por que ele tem que estar em tudo que eu gosto agora?
_ Hey – Iandra segurou meu braço – só mais um pouquinho e vamos pra casa, ok? – assenti com a cabeça – Você pode dormir lá no meu apartamento hoje, se quiser.
_ Mia faz questão que eu durma em casa hoje... Falei sobre o que houve por telefone, ela disse que fez um banquete – Falei, sem perceber que elas não se conheciam e só notei quando Iandra me olhou com o olhar perdido – Desculpa, é a moça que me ajuda em casa... A propósito, você podia ir ficar comigo, né? Ela adoraria te conhecer e podemos falar mal de homens juntas.
_ Vai ser um prazer fugir desse baile de idosos – ela falou séria, me fazendo rir – O que? É sério! Só faltou o bingo.
_ Você é hilária, Whisky – comentei.
_ Obrigada? – ela virou o copo de Martini que havia acabado de chegar e levantou, ajeitando seu vestido. Me estendeu a mão com seu melhor sorriso e eu aceitei – Vem, precisamos socializar.
Já que preciso ficar aqui, então vamos fazer direito.
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