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História Instituto Mayfroyd para garotos especiais. - The Forbidden


Escrita por: Victims

Capítulo 4 - The Forbidden


Fanfic / Fanfiction Instituto Mayfroyd para garotos especiais. - The Forbidden

-Wow! Você tem braços firmes, Whitehead! – Franz disse deixando transparecer o sotaque alemão um pouco levado pela bebida. Patrick sorriu.

- Costumava jogar com meu pai e meu irmão nos fins de semana. – Disse meio hesitante.

- É a segunda que acerta seguida. O novato leva jeito. – Donavan entregou-lhe a garrafa. Patrick sorveu dois longos goles deixando o whisky queimar sua garganta e provocar ardência por onde passasse. Às vezes tinha a impressão de que vomitaria, mas manteve-se firme, depois de alguns segundos, não era tão ruim.

- Melhor do que você em sua primeira vez. – Gozou Franz.

- Qualquer um consegue esse feito sem muito esforço. – Donavan deixou-se levar na brincadeira.

Continuaram jogando por vinte minutos, mas Patrick não conseguia mais se concentrar. Além de cansaço, sentia falta de Will. Notara que ele sumira, mas preferiu ficar calado, talvez não fosse de sua conta. Mesmo assim, torcia para que o rapaz voltasse logo. Não que a companhia do loiro franzino e o alemão sarcástico fossem ruins, na verdade, o tempo em que passaram a sós fora de grande agrado para os três. Porém sentia-se mais seguro com a companhia do outro, mais solto, relaxado.

- Preciso ir ao banheiro. – Suspirou despenteando os fios castanhos e encarando Donavan com o olhar cansado.

- Pode fazer ali no canto. – Ele deu de ombros.

- Mas vai cair lá em baixo...

- E? – Perguntou o outro um pouco impaciente.

Patrick pigarreou arriscando um sorriso debochado.

- Esqueci que levam uma vida perigosa. – Brincou.

- Tudo bem, pode ir lá embaixo.  – Donavan deu de ombros. Ambos esperavam Franz se decidir qual ângulo tomar para dar sua tacada. Este estava muito compenetrado, franzindo os lábios de forma que os cantos quase apontavam para o queixo duplo e quadrado.

Patrick correu para as escadas. Os outros dois continuaram bebendo e cantarolando até que finalmente Franz fez seu movimento e acabou acertando o gramado ao invés da água.

- Depois tem a audácia de falar de mim. – Caçoou o loiro.

- Pelo menos não nos botei em duas semanas de monitoramento. – Respondeu limpando a poeira dos cotovelos.

- Certo. – Entregou a garrafa e trocaram os tacos.

Franz sondou ao redor sentindo-se mais solitário que antes.

- Cadê aquele garoto? – Bebericou a bebida saboreando cada gole.

- Acho que ficou constrangido de mijar na nossa frente. Deve ter o pau pequeno. – Donavan levou menos de dez segundos para dar sua tacada. Enxugou o suor da testa sorrindo para o resultado, mas não encontrou humor semelhante no colega. – O que foi?

- Onde ele foi? – A voz de Franz fez-se mais grave.

- Acho que no banheiro, no nosso quarto, por...

Donavan não conseguiu terminar a frase. De súbito um estalo atingiu sua mente e, com o coração batendo na garganta, largou os apetrechos de golfe no terraço correndo logo atrás de Franz.

Patrick saiu pela porta da escadaria ainda zonzo. A falta de iluminação confundia sua visão e por pouco não errou o quarto. Apoiou a mão na maçaneta e com força exagerada empurrou-a para trás. Tateou a parede e acendeu a luz. Junto com a claridade uma cena um tanto chocante.

Movimentos agitados. Mesmo com olhos turvos, Patrick diferiu duas figuras. Duas pessoas conhecidas. William estava sem camisa, sentado em uma das camas do beliche. Peito ofegante, olhos extremamente arregalados. Embrulhado em lençóis, outro loiro lançou olhares fulminantes diretamente para Patrick. Neil era inconfundível com olhos azuis e cabelos tão claros que quase realçavam no escuro. Este também sem camisa encaixado quase que poeticamente entre as pernas, ainda cobertas pela calça jeans, de William. Os três se encararam por segundos que pareciam horas. Patrick tremeu por dentro tendo plena certeza do que aquilo significava. William quase sobrepunha o menor, no susto, pulou para o outro lado da cama.

- Patrick! – William disse com a voz rouca, pouco ar nos pulmões.

- Desculpe. – Foi o que conseguiu dizer antes de forçar seus pés a retrocederem.

- Espera...

Mas fechou a porta e cambaleou até a parede atrás de si. Podia escutar o barulho dos dois murmurando. A voz de Neil era inconfundivelmente irritada enquanto William parecia andar de um lado para o outro. Patrick girou nos calcanhares, pronto para descer o lance de escadas que levava ao térreo quando Franz agarrou-lhe os ombros e o pôs contra a parede.

- Por favor, diga-me que não entrou ali.

Mas antes que pudesse responder a porta se abriu e Neil saiu em disparada, descendo as escadas como um raio ainda com a camisa aberta. Donavan bateu com a testa na parede. Franz suspirou largando os ombros de Patrick como se tivesse levado um soco no estômago. O moreno fechou os olhos e mordeu os lábios, ainda confuso.

- Patrick? Posso falar com você?

O menino suspirou com medo de ter estragado tudo. Abriu os olhos e foi até William sem dizer nada. Ambos entraram no quarto e o loiro fechou a porta. O torso ainda nu, não parecia ligar para aquilo. O olhar azul escuro focado no semblante dele analisava até a respiração acelerada de Patrick, suas bochechas coradas.

- Desculpe. Eu devia ter batido. – Disse mordendo os lábios. Surpreso, a única coisa que Will conseguiu fazer foi rir.

- Por essa não esperava.

- Sinto muito mesmo. Eu... Bem, não sei o que dizer, mas com certeza estraguei sua noite. – Will não se segurava e teve que pôr mão sobre a boca para abafar as gargalhadas e parecer sério.

- Talvez não a minha, mas Neil estava a ponto de ter um colapso.

Patrick abaixou os olhos.

- Eu não sabia que você... Que vocês tinham algo.

- Bom, isso é embaraçoso. – Coçou a cabeça. – O ponto é esse, ninguém saber.

- Eu também não sabia que você é... – Will esperou o fim da frase, mas ela não veio.

- Gay? Homossexual? Vamos lá Patrick, não vou te atacar se dizer essas palavras.

De novo corou, sentindo-se tolo.

William se aproximou e agachou na frente do rapaz sentado sobre a cama. Eles se encararam enquanto o outro sorria gentilmente.

- Patrick, eu entendo se não quiser voltar a me ver. Sei que nos conhecemos há pouco e seria abusar da sua boa vontade que me tolerasse por mais tempo. – Os olhos se estreitaram e sem perceber, o moreno apertava os punhos contra a calça. – Mas, por favor, faço um último pedido. Não conte a ninguém, eu posso não ter nada a perder, mas Neil... Deus, se alguém descobrir ele está morto. Você não me deve nada, na verdade, eu lhe devo mais do que posso imaginar, mas se não fizer isso por mim, pelo menos faça por ele que nunca lhe fizera algum mal.

Eles ficaram em silêncio até Patrick levantar a cabeça repentinamente.

- Podia ter me contado antes. Evitaria isso.

- Bom, nos conhecemos a pouquíssimo tempo, não achei que seria o tipo de informação a se compartilhar logo de cara.

- Eles sabem, não é? – Patrick apontou para a porta com o queixo.

William assentiu.

- E tudo bem pra eles.

- Sim. – Will confirmou novamente.

- Por que Neil reagiu tão mal?

A interrogação estava mascarada sob a face de Will, não tinha motivos para esconder qualquer coisa a essa altura, mas ficara levemente curioso com o interesse do amigo.

- Era uma vez um garotinho solitário que sempre se viu tentando alcançar as expectativas da família. Por mais que tentasse se destacar era oprimido pela quase perfeição do irmão mais velho. – Will narrava como um legítimo dramaturgo apesar de ter um sorriso esculpido em sarcasmo. – Tentando desesperadamente ser como ele, o garoto chegou a se matricular no colégio interno assim que teve chance e seguir todos os passos do irmãozão. Mas o que ele não podia prever era que iria acabar caindo de amores pelo colega de classe. – Dessa vez já não tinha sorriso e até a emoção nas palavras deixavam o ar. – Os dois conseguiam se ver quase sempre, aos olhos dos demais eram apenas bons amigos. Porém depois que seu amado foi reprovado, o irmão mais velho o “aconselhou” a parar de andar com alguém de tal calão. Assim ambos não podiam se ver em público, e os encontros amorosos começaram a ficar mais espaçados e com o dobro de cuidado.

Patrick não conseguiu dizer nada por um tempo atordoado com a sinceridade de William. O loiro não o encarava e deixava que absorvesse os detalhes a sua maneira. Patrick não se sentiu incomodado com tudo aquilo, mas estranhamente foi acolhido por uma sensação de cumplicidade para com William. Por mais que tentasse manter-se neutro a história, de algum modo ao contá-la, parecia magoado. Talvez no fundo as coisas não estivessem tão bem quanto pareciam.

Patrick suspirou longamente e mordeu um dos lábios.

- Vamos fazer o seguinte: Coisas relevantes, nós contamos. Tudo bem?

-Então quer dizer que...

Patrick se levantou ajeitando a camisa nos ombros, sem olhar diretamente para Will.

- Não vou contar para ninguém. – Estendeu a mão para ajudar o outro a se levantar. – Nem tenho motivos para me afastar. Isso é ridículo.

William sorriu e aceitou a mão amiga.

- Bem, acho que no fim, a noite foi bem sucedida.

Patrick ergueu uma sobrancelha.

- Temos que conversar sobre a definição de sucesso.

Will o abraçou pelos ombros.

- Tive a impressão de que era um cara legal quando me entregou o estilingue. Hoje, meu amigo, eu tenho certeza. Você não tem somente atitude, como diz Franz. Tem um bom coração.

- Não foi nada de mais. – Disse envergonhado.

...

Depois que conheceu Franz, Patrick passou a perceber que o alemão pertencia a sua classe no horário matinal. Não o notara antes, pois nem se quer cogitou encontrar um rosto conhecido naquele ambiente. Mas os cabelos loiros presos num pequeno rabo de cavalo denunciavam sua postura sempre mais ereta que as do demais. Sua estatura avantajada soava como um alarme no meio dos outros estudantes, sempre quase uma cabeça maior do que qualquer um na turma.

- Agora que fomos devidamente apresentados, não precisa mais socializar com a janela. – Franz chamou a atenção sempre voltada ao lado de fora de Patrick.

- Ela tem se mostrado uma grande companhia. – Sorriu de volta.

Franz estalou os dedos.

- Fico feliz pelo que fez pelo Will. Tive medo do que teria que fazer com você caso não aceitasse a situação.

Patrick engoliu em seco aninhando os braços para mais perto de si. Apesar da expressão sempre tranquila, o grandão tinha braços que poderiam facilmente esmagar sua cabeça como um quebra-nozes.

Mas ele riu pelo nariz.

- Ele é um cara legal, o que faz de sua vida pessoal não me diz respeito.

- Queria que mais pessoas pensassem como você. – Ajeitou o blazer encarando Patrick de cima.

- Como vocês...

- Descobrimos? – Franz deu de ombros. – Eu sempre soube, desde que começamos a estudar juntos. Donavan entrou a mais ou menos dois meses e depois que se mostrou um cara de confiança, Will se abriu com ele.

- E Neil? Eles sempre estiveram juntos?

- Ai é que a situação complica. – Coçou a cabeça arrastando uma cadeira próxima para se acomodar. – Você sabe quem são os Richardson’s?

Patrick negou.

- Ok. Resumindo bastante, esse instituto foi fundado por cinco famílias e seus descendentes o frequentam como uma casa. – Pigarreou. – Uma dessas famílias é a Richardson. E como os nobres que são, tem um papel a desempenhar. Sem falar que a homossexualidade não é algo bem visto aqui e em quase nenhum lugar de nossa querida Hampshire. O que posso dizer? Estado conservador.

- Por acaso você e Donavan... – Patrick insinuou, mas logo foi interrompido pelo maior.

- Oh não. Por favor, se eu fosse ficar com um cara teria um gosto melhor. – Os dois sorriram. – Will é meu amigo, e assim como fez com você, também me acolheu assim que cheguei ao instituto. É difícil ser um alemão no interior da Inglaterra. Não é muita coisa, mas mostra os verdadeiros valores de uma pessoa.

- Sim, ele é um cara legal.

- Já nos tirou de mais problemas do que posso me lembrar.

Patrick consultou o relógio, faltava pouco tempo para o próximo professor chegar. Suspirou só de pensar na longa hora que teria que fingir ter algum interesse por geografia política.

- Então, tem planos para o fim de semana? – Franz perguntou se levantando em uma espreguiçada longa.

- Meus pais vêm me visitar. – Disse com um pouco mais de brilho nos olhos.

- Parece animado.

- Talvez um pouco - Sorriu- . Meu pai vai me cobrar por não ter tentado nenhum teste para os times esportivos, mas ainda sim seria bom não passar o fim de semana sozinho.

- Ora, isso não é o fim do mundo. Pode fugir conosco para Southport. – Tentou animar o garoto com tapinhas em seu ombro.

- Não tenho autorização. – Murmurou contra a madeira da carteira.

Franz revirou os olhos.

- Por isso o termo “fugir”.

- Não posso. – Suspirou.

- Talvez Willian te convença mais tarde.

Patrick sentiu as bochechas corarem e tentou afundar ainda mais na superfície sólida.

- Não fará diferença. Preciso ver meus pais. Ainda mais minha mãe, ela vai ficar louca.

- Tudo bem, tudo bem. – Franz levantou as mãos, cedendo. – Mas se mudar de ideia, sabe onde nos achar.

Levantou-se e agradeceu o convite. No fundo sentiu uma imensa vontade ir.

...

A sombra do pinheiro atrás de si não diminuía a luminosidade do sol contra o papel amarelado. Com uma caneta tinteiro, deslizou a ponta de metal formando palavras em uma caligrafia deitada, redonda e ligeiramente clássica. Em contraste com o verde vivo da grama sua pele se arrepiava com a leve brisa que ameaçava soprar a cada instante sacolejando os galhos acima dele. Edward sorriu para o próprio texto, estava mais maduro, aos poucos, criando forma. Levantou os braços em alongamento, estava a tanto tempo na mesma posição que os ossos estalaram quando resolveu esticar as pernas. Ajeitou os óculos de leitura no rosto emoldurando os olhos verdes e vivos contra o papel. Estava prestes a começar outra página quando uma sombra não esperada tampou sua visão do livreto. Levantou os olhos sem perder a postura e surpreso. Acabou fechando o caderno e desviando a atenção.

Vince estava em pé diante de si. Rosto escondido pela gola alta da blusa, semblante determinado. Mantinha as mãos nos bolsos e em vez do blazer da escola, preferia um suéter marrom com o brasão do Instituto bordado em dourado no lado esquerdo. Encararam-se por alguns segundos, mas Vince foi o primeiro a desviar o olhar. Contra a luz, os cabelos castanhos pareciam ainda mais bagunçados. Tentou parecer relaxado, mas na presença de seu salvador não conseguia deixar de suar.

Sem dizer nada, estendeu para Edward um cartãozinho, não maior do que um bilhete. Educadamente, o moreno aceitou e cuidadosamente o desdobrou.

“Obrigado”.

Edward sorriu e guardou o bilhete no bolso. Abriu a boca para respondê-lo, mas assim que o fez, Vince virou as costas e começou a andar.

- Sua letra é muito bonita. – Disse sem alterar o tom de voz.

Vince estagnou.

- Acredite, sei bastante do assunto. – Arriscou um sorriso mesmo tendo o outro de costas para si. – Vince, não é?

- Sim. – Respondeu com um fio de voz.

- Sou Edward Carter. – Ele se levantou.

- W-woodland. – Tomando coragem, virou para Edward quase que prendendo a respiração. Estava visivelmente embaraçado, e o melhor de tudo era que Edward achava aquilo engraçado.

- Espero que as coisas tenham se resolvido na sua sala.

O menino assentiu desviando os olhos para os próprios pés.

- Sabe que não precisa ter medo de falar comigo, não é?

Vince levantou a cabeça novamente, desta vez pálido como um nevoeiro. Engoliu em seco. Não queria parecer um cachorrinho acuado, mas ali diante dele não parecia encontrar o melhor modo de responder sem ser, no mínimo, irritante.

- N-não tenho me-medo. – As bochechas queimavam como labaredas.  Suas mãos suavam dentro dos bolsos.

- Então não seja relutante em conversar comigo. – Outro sorriso simpático veio do moreno.

Vince balançou a cabeça, cansado. Engoliu em seco, atrapalhado com a calma e serenidade que o outro passava apenas em um simples inclinar de cabeça.

- T-tenho uma dificuldade, Mr.C-carter. Nã-não vejo m-motivos para ficar expo-po-pondo-a p-por ai. – Com a frase mais embaralhada do que esperava, teve vontade de se afundar contra o chão embaixo de seus pés.

- Então você é gago. Grande coisa. – Deu de ombros dando alguns passos mais pra perto de Vince exalando confiança. – Todos nós temos defeitos, e qualidades também. Não deixe os outros usarem isso contra você.

Vince suspirou.

- V-você n-não entende. – E preparou para partir mais uma vez.

-Espere! – Edward segurou-o pelo braço no ímpeto de mantê-lo ali. Quando o outro se virou, assustado, oscilando o olhar entre o braço agarrado e o semblante envergonhado de Edward, ele o soltou pigarreando e reprimindo-se mentalmente. – Me desculpe. – Ajeitou o cachecol. – Olha, sinto muito pelo que aconteceu naquele dia, e fico feliz em saber que está tudo bem. Realmente, não entendo porque não compartilho de sua experiência.

Vince analisou-o mais uma vez, ainda receoso. É claro que Carter se mostrava uma boa pessoa, mesmo assim não o bastante para Vince ter o mínimo de confiança.

- Gosta de Emily Brontë, não é?

Fez um gesto positivo com a cabeça. Edward ficou aliviado.

- Tome isto. – Estendeu para ele um livro de capa grossa tirado de sua pasta pendurada no ombro. –  A Room of One's Own. É um ensaio de Virginia Woolf. Eu cheguei a sugeri-lo para você na biblioteca. É meu volume pessoal, espero que goste.

 

Vince tomou-o nas mãos quase maravilhado. Não disse nada, mas chegou a procurar por alguma obra da autora, infelizmente o único exemplar da biblioteca estava em restauração. Abraçou o livro por algum instante e depois o guardou em sua mochila. Tomou fôlego para agradecer, mas antes que a voz surgisse da garganta, o sinal que avisava o fim do intervalo soou firme em todo o campus. Edward olhou para cima e depois voltou-se ao garoto.

- Bom, eu preciso ir, tenho algumas aulas para dar agora. Mas aproveite e depois diga o que achou. – E com um sorriso sincero, acenou ao longe para Vince.

Ele não respondeu, ficou atônito olhando o outro se afastar quase em câmera lenta sem olhar para trás novamente. Apertou as alças de pano como se carregasse um tesouro. Engoliu em seco. Tinha toda uma cena ensaiada em sua mente. “Você vai entregar o bilhete e ir embora, independente do que ele fale!”. Este era o plano. Agora não só havia passado momentos de constrangimento em frente a Edward como também carregava consigo algo que o faria vê-lo de novo. Pensando por aquele lado, não era tão ruim, mas o pânico se espalhava quando lembrava que teria outro diálogo. Sim, falar o assustava desde os doze anos, quando as gozações começaram, as perseguições dos outros meninos, principalmente mais velhos. Sua testa estava húmida, lembrava-se de vários episódios humilhantes na sua antiga escola, e agora tudo se repetia. Prometeu a si mesmo que não deixaria aquilo o afetar. Seria discreto, ninguém se incomodaria com sua presença de novo.

Mas mais uma vez falhara. Foi preciso que alguém interviesse por ele. Sentia-se fraco, incapaz. Via em Edward o espelho da dignidade, sentiu nele toda a coragem que precisava.

Entretanto era tudo momentâneo. Assim que o moreno deixou a sala no dia seguinte, os olhares apenas o sufocaram ainda mais. As palavras de Chris Daniels ainda ecoavam em sua mente como se o próprio garoto sussurrasse entre dentes ao pé de seu ouvido.

- Você está morto, Woodland.

Ele e os outros responsáveis pelo incidente estavam na detenção todos os dias depois das extracurriculares, até às oito da noite. Fora a sala de aula não se esbarraram por mais nenhum lugar.

Então porque aquele sentimento de que alguma coisa muito errada iria acontecer?

...

- Isso não é o fim do mundo, Neil. Eu já falei com ele. – Encostado na parede atrás de si, William tentava manter-se o mais ameno possível. Neil poderia ter uma síncope a qualquer momento. Os dentes quase trincaram de tanta pressão que seu maxilar fazia para não gritar atrocidades.

- Ah, você falou com ele... Isso é tão relevante! Seria pedir demais que você fizesse as coisas certas, pelo menos uma vez! – Com a mão sobre a testa, Neil tentou controlar o tom de voz o máximo possível. Estavam em seu dormitório, e uma das vantagens de ser um Richardson era não precisar dividir o quarto com outros três alunos aleatórios, no caso dele, Neil tinha apenas um companheiro, e este, só voltava ao dormitório a noite por motivos desconhecidos, mas não interessantes ao loiro.

- Você pediu para me ver ontem, esqueceu? Aquele encontro não estava na nossa agenda. – William tomou um longo gole da garrafa de água na mesinha de cabeceira. Estava abaixo de uma janela, a única do quarto, e podia ver o transitar de alunos no passeio que levava aos prédios. – Não acha que está exagerando um pouco? – Sorriu de lado tirando a tenção dele das próprias mãos.

- Para você é fácil, não é? Afinal seu pai te jogou aqui justamente por isso. Mas se alguém descobre, se meu pai... Meu irmão descobre sobre nós... – Suspirou pela primeira vez parando de se remexer inquietamente. – Eu estou sentenciado, Will. O que acontece se o nosso relacionamento vaza? Você tem ideia?

- É bom saber que eu fico atrás do que os outros pensam do grande Neil Richardson. Irmão de Arnold Richardson e filho do filantropo Leonel Bartolomeu Richardson. – Pela primeira vez na conversa, Neil notou uma pontada de amargura nas palavras de William.

- Eu tenho muito a perder. Não só uma simples reputação. Não se faça de bobo. – Ajeitou a gravata sem demonstrar qualquer coisa. A distância entre os dois era de meros três metros, mesmo assim Will sentiu-se a uma infinidade longe dele. Crispou os lábios. Não era drama puro, mas achava que Neil exagerava em sua auto preservação.

- Então não entendo o que está fazendo aqui. Não é mais simples esquecer de mim e ir para a sua vidinha de encenações? Daqui a pouco vai precisar de um cavalo branco para desfilar no instituto. – Deixou a garrafa na mesa e catou o blazer jogado na cama. Os olhos de Neil viraram-se perdendo a autoconfiança quando notou que Will preparava-se para sair. – Eu não preciso ficar ouvindo isso. Patrick foi extremamente compreensivo, e fez isso sem ao menos dever nada a mim ou a você. Ele merece essa chance!

Neil riu sem um pingo de humor.

- Se eu confiasse em tudo que você fala sobre os seus “amiguinhos”, provavelmente estaríamos expulsos a essa altura. – Ombros retos, autoritários para cima de Will, mesmo este sendo alguns centímetros mais alto que ele.

- Você não o conhece. – Will franziu o senho.

- E quem garanta que você o faz? – Se encaravam com os narizes quase se tocando.

- Confie em mim, Neil! Pelo amor de Deus, uma vez na sua vida, confie em mim!

- Para com essa mania de achar que todo mundo é bom! Ficar vendo apenas o lado belo de cada pessoa... Isso só vai trazer problemas. Para nós dois!

William suspirou e acabou voltando para a parede de onde saíra tapando os olhos com as duas palmas. Neil sentiu um peso no peito. Era difícil tirá-lo do sério, raras vezes o vira assim.

- Eu me preocupo com você, Will. Do jeito que as coisas andam, fico com medo do que possam fazer com você. – Quis se aproximar, mas o orgulho não deixou que desgrudasse da escrivaninha. Neil levantou os olhos e percebeu que o outro sorria em sua direção. Era um sorriso cansado, não muito alegre, mas do mesmo jeito fazia a nuca do menor se arrepiar.

- Vem aqui. – Will disse.

- Elliot pode chegar a qualquer minuto. – Virou de costas para que o olhar penetrante de William não surtisse efeito em si.

- Você sabe que ele só aparece no toque de recolher.

Neil suspirou, manteve-se virado para os lápis espalhados a sua frente.

Sentiu quando os braços definidos de William passaram por sua cintura. Estavam quentes e cobertos apenas pela malha fina da camisa de botão. Depois, sua respiração contra a nuca. Era impossível disfarçar os arrepios.  

- Eu já disse Will, aqui não é lugar...

- Shh, tenho detenção daqui a meia hora. Tempo o suficiente para acabar o que começamos ontem.

- Mas se pegarem a gente...

- Não vão. - E mesmo sem enxergá-lo, Neil soube que Will sorria travesso contra seu pescoço. Tentou se segurar, mas os beijos e mordidas do outro o afetavam de modo inebriante. Os olhos azuis reviraram nas órbitas.

As mãos de Will deslizaram por seu peito infiltrando-se por baixo da camiseta. A barriga lisa com linhas de definição era o local preferido dele em Neil. Queria arrancar aquela blusa, mas sabia que não havia tempo. Acariciou seu tronco, fazendo Neil morder o lábio inferior, depois subiu sua boca até o pé da orelha e mordeu suavemente. Cansado das provocações, Neil se virou de frente para William e buscou seus lábios de modo possessivo e quase furioso. Will sorriu entre o beijo e içou-o pelas pernas jogando em cima da escrivaninha, Neil deixou um suspiro escapar quando prensado contra a mesa, mas logo se arrependeu. Odiava demonstrar vulnerabilidade perante o outro. Os dois olhos azuis se chocaram: Um claro como a céu em seu ápice de verão, outro em tom escuro e misterioso como o aviso prévio dos oceanos a uma tempestade devastadora.

Neil passou uma de suas mãos pelo pescoço de Will trazendo-o mais para perto. Sentiu sua mão descer de seu peito para a barra da calça. Por dentro entrou em pânico grudando os olhos na porta enquanto os lábios fartos de William desciam por sua jugular chegando aos ombros.

- Não podemos fazer isso aqui! Ainda mais no meio do dia. – Tentou relutar, mas a voz fraquejou.

- O que é a vida sem uma aventura?

- Não quero correr riscos. – Respondeu de olhos fechados, delirantes.

- Não confio em você, confio nele. – E com a malícia escorrendo entre os lábios, William acariciou a ereção de Neil por cima da calça fazendo-o espremer os lábios contra uma das mãos. Massageou com as mãos tempo o suficiente para sentir o volume crescer, depois desabotoou o primeiro botão correndo o zíper para baixo logo em seguida.

Neil manteve os olhos fechados. Todos os gestos de William pareciam friamente calculados para levá-lo à loucura. Enquanto estavam afastados, conseguia manter as rédeas da situação, porém a menos aproximação de Will o fragilizava. William não era o tipo de cara que abusava sobre esse poder, mas sabia muito bem fazer uso dele para deixar Neil fora de si.

Com o controle do amante em suas mãos, William sorriu de forma voraz e começou a acariciá-lo a lentamente.Neil cravou seus lábios brutalmente nos dele mais uma vez . Conforme o beijo esquentava, mais rápida a mão de William trabalhava deslizando pelo seu corpo e sentindo sua pulsação contra a pele. Neil começou a gemer mais alto, sem conseguir se segurar, grudou os lábios contra a camisa de William abafando os ruídos. Aos poucos, gradativamente seu momento foi chegando. Neil mordeu o ombro de Will agarrando com a ponta dos dedos sua camisa. Um último grunhido escapou de sua garganta e então o corpo amoleceu. O suor grudou a camiseta contra o peito ofegante, e com cuidado, Will o soltou deixando que apoiasse contra a parede. Ambos ligeiramente corados pelo esforço, mas plenamente satisfeitos.

Foi divertido, não é mesmo? – Sussurrou como uma criança travessa.

- Nunca mais faça isso. – Neil respondeu se levantando e pegando uma toalha dentro da gaveta. – Sabe quantas pessoas estão passando lá fora agora?

- Ficou com medo que ouvissem você gritar meu nome?

Dessa vez a vermelhidão em seu rosto foi de raiva.

- Dá o fora daqui antes que Elliot ou alguém chegue. Já está atrasado para a detenção. – O loiro se levantou e fechou a calça dando as costas para Will.

- Tudo bem, no fim valeu a pena. – Segurou o rosto de Neil mais uma vez roubando um selinho rápido de seus lábios. Neil quis contestar, mas achou melhor apena revirar os olhos e se trancar no banheiro.

Will mordeu a ponta dos lábios para conter um riso. Abriu a porta, checou o corredor vazio e correu escadaria abaixo. Sabia que pelo atraso, não sairia cedo da detenção.



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