13-memo

Nassir se apaixona por um garoto de sua faculdade, um rosto conhecido por muitos, mas um nome que nunca se deu o trabalho de saber. Ainda assim, mesmo que tentasse ignorar, conhece alguns dos rumores sobre o jovem rapaz: garoto de programa, malfeitor, encrenqueiro, usuário e vendedor de entorpecentes... e talvez alguns até exagerassem dizendo que também era stripper. Mas uma coisa — talvez a única — Nassir sabe com absoluta certeza: o garoto é extremamente atraente, de uma forma não só física, mas o próprio jeito, o pouco que se percebe da personalidade.

Nassir nunca se permitiu falar com ele, — era só uma paixão distante —, assim como fez com quase todos da sua turma durante o semestre inteiro. Ainda que não fosse exatamente extrovertido e nem um pouco interativo por natureza, ele procura por festas... talvez para fugir da perdição dos próprios dilemas ou da rotina que parecia roteirizada por alguém que o destinou a ser figurante da sua própria história, talvez se sentindo na obrigação de apenas narrar as dos demais, sendo um personagem observador, talvez um leitor de pessoas, livros ambulantes, tendo que se contentar com o pouco de divertimento que tira disso e a sensação de não estar tão só.

Mas algo muda, drasticamente... Especialmente quando, por decisão própria, resolve ir a mais uma das festas que frequentava quando motivado — motivado pela perdição constante e involuntária de um jovem, aparentemente entediado e solitário... até encontrar um bom livro, na estante imprevisível da vida e se deparar com uma nova obrigação: ser um personagem, dessa vez, um dos principais, o qual carregará consigo uma obrigação ainda mais difícil.

Mas afinal, qual a narração que um personagem principal teria de narrar? A própria historia? Ou parte dela...?

Meu nome é Daniel e sim: eu sou gay.

Ninguém até então sabe e como todo gay, claro, eu gosto de um cara, especialmente um cara: Clay, comumente chamado de Thomas.

Meus sentimentos pelo rapaz são crescentes e o desejo de tê-lo é ardente à cada dia.

Thomas Clayton é o popular, o cara gato, cheio de amigos, garotas e alguns problemas.

Eu o amo de verdade, até onde eu realmente posso saber o que é amor.

Uma amizade é tudo o que eu preciso para uma aproximação, mas essa paixão platônica leva-me a mentir e entrar em contato com uma parte até então desconhecida da minha personalidade, uma parte ousada e rebelde, assim como me faz entrar num círculo social até então nunca explorado: os populares.

Não sei se farei besteiras, não sei até quando meu segredo estará apenas comigo, não sei se minhas mentiras virão átona, emergindo de uma profundidade oculta à uma superfície desastrosa a mim e destrutiva quanto a minha reputação. Eu sei que terei problemas em breve e que também serei o grande causador deles.

Mas a pergunta que não quer calar: como findará a minha tentativa – aparentemente sem chance alguma de dar certo – com Thomas Clayton?

A primeira vez em que nos vimos cara-a-cara, ele estava completamente despido, e isso não foi o motivo de minha paixão por um rebelde, refratário ou chame do que quiser, não foi por conta do corpo robusto, forte e atraente de um guerreiro, mas por ele ser o sinônimo de liberdade. Eu poderia ser livre no amor.

Eles são rebeldes, lutando por uma "grande" causa - uma luta em vão. E eu me encontro apaixonado por um dos rebeldes, um dos líderes dessa rebelião vã, que vai contra os princípios de nosso reinado, infelizmente, dividido. Tenho a missão de matar todos, exterminar, aos poucos com conflitos internos, até levá-los a uma perdição já traçada, portanto, previsível. Mas por estar perdidamente apaixonado, faço de tudo para salvar a sua vida, consequentemente, frustrando os planos do Reinado de Túvios e, salvando a vida de milhares de refratários, que, por sua vez, aumentam significativamente dia-após-dia. Não posso levantar suspeitas em ambos os lados, pois minha vida poderá ter um fim breve e desastroso, ou lento e torturante.
Em uma noite muito "especial", eu o conheço pessoalmente, no caso, mais o seu corpo...