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História Instituto Mayfroyd para garotos especiais. - The Gratiful


Escrita por: Victims

Capítulo 11 - The Gratiful


Fanfic / Fanfiction Instituto Mayfroyd para garotos especiais. - The Gratiful

A estufa parecia pequena para aqueles dois. Edward jurou para si mesmo que não apressaria as coisas com Vince, como o garoto delicado que era, merecia tempo e devoção. Se apressasse muito, poderia acabar coagindo-o. Disse que só faria aquilo que Vince se demonstrasse disposto a fazer, nenhuma iniciativa séria sairia de sua parte. Mas naquela tarde, as vidraças embaçadas diziam ao contrário.

Com a boca descendo pelo pescoço dele, Edward passou as mãos por baixo da camisa sentindo a pele de Vince pipocar em resposta. As ondas de arrepio transitavam a todo vapor por sua espinha, o garoto mordia a própria mãos para não gemer ou soltar sons vergonhosos. O rosto ardia em vermelho vivo, mas não de vergonha, e sim de puro prazer. Sentia as mãos quentes e macias de Edward percorrerem seu abdome liso, desciam pelas laterais e se juntavam em suas costas perto do cós da calça. Um pouco sem reação, permanecia parado com as pernas abertas de modo que o amado encaixava-se perfeitamente entre elas, como se feito sob medida. Uma de suas mãos pairava sob a cabeça do moreno enquanto a outra o segurava pela cintura, cravando seus dedos no pano antes perfeitamente passado.

Edward não se conteve e mordiscou levemente a base do pescoço. Isso foi o suficiente para fazer com que Vince sobressaltasse e suspirasse sem se conter. Escondido em seu ombro, Edward sorriu subindo o rosto e recolhendo suas mãos para as bochechas quentes do menor. Delicadamente contornou seu rosto com as palmas enormes emoldurando-o como uma criança. Os dois se olharam por um longo tempo até Edward roçar seu nariz bem devagar contra a pele arrepiada. Vince revirou os olhos não conseguindo mais se conter. Desajeitado, levou as duas mãos à nuca do maior e o aproximou de seus lábios. Eles se beijaram com pressa e fúria, as respirações tão descompassadas que soavam como um chiado. Edward desenhou Vince com o olhar entrelaçando sua cintura de modo protetor, depois apoiou sua cabeça no topo da dele, esperando o fôlego voltar.

- Desse jeito você me faz perder o controle. E isso não é tão bom quanto possa parecer. – Edward sorriu beijando carinhosamente o topo da testa de Vince.

- N-não precisa se segurar co-comigo. – Disse com o rosto abafado contra o blazer de Edward. Naquele momento Vince sentiu que poderia ficar ali para sempre apenas sentindo o cheiro doce de âmbar que ele exalava.

- Oh, não diga isso, é extremamente perigoso. – Sussurrou de modo cômico e alarmante.

Vince sorriu.

- O que v-você vai fazer?

- Você quer realmente saber? – Edward levantou o rosto de Vince em sua direção com um sorriso debochado e malicioso. O Suficiente para despertar outra corrente elétrica pelas extremidades dele.

- Ac-cho que agora est-tou com medo.

O sorriso de Edward diminuiu e seus olhos prenderam os de Vince.

- Não precisa ter medo. Eu vou cuidar de você. Vou cuidar para que ninguém nunca mais o machuque. – Deslizou o indicador por seus cabelos castanhos acobreados. – Você é minha responsabilidade agora.

Hipnotizado pelo tom solene e indubitável de Edward enquanto ainda encarava as orbes esverdeadas, apenas retrucou.

- S-sim, desculpe.

Edward assentiu com a cabeça sem perder o ar cálido e aconchegante.

- E então, quando vai tocar para mim novamente? – Perguntou brincando com uma mecha de Vince entre os dedos.

- Q-quando quiser...

- Nossos planos para Southport ainda estão de pé?

Vince concordou apesar de internamente não ter uma boa impressão sobre a ideia.

- Bom, vou reservar nossos lugares para o ônibus de sábado, tudo bem? Adoraria ir amanhã, mas tenho algumas aulas importantes. Sinto muito.

Vince aninhou-se entre os braços do moreno fazendo-o abraça-lo por inteiro. O intervalo estava quase no fim e em breve teriam que se separar, provavelmente só voltando a se ver no almoço do dia seguinte.

- C-como eu disse, quando v-você quiser.

Com um último beijo se despediram, bem na hora em que o sinal soou pelo campus avisando que era hora de voltarem para suas rotinas. Foram juntos por todo caminho até o prédio de Vince onde se comunicaram por olhares significativos, e depois, Edward voltou a suas aulas e monitorias. Teria uma tarde agitada com uma turma de novatos recém-transferidos. Não seria fácil, mas como sempre adorava um novo desafio, não deixaria de ser prazerosa.

Seus afazerem correram na mais perfeita ordem, tanto as aulas que assistiu quanto as que lecionou. Os meninos novos ficaram apaixonados pelo modo simples e de fácil entendimento que Edward explicava, sua paciência e charme natural eram notórios e fazia sua reputação crescer positivamente. Era por essas razões que fora escolhido para uma carta de recomendação. Sorria para si mesmo sempre que lembrava daquele fato.

Estava arrumando a sala depois da última monitoria. Como de costume ficava até um pouco depois do horário para deixar tudo em ordem para os próximos professores. A limpeza extra era um toque pessoal. Terminava de apagar os quadros e alinhar as mesas quando a porta foi escancarada sem nenhum aviso.

- Carter! – A voz grossa e ofegante de Donavan não escondia o fio de pavor por baixo das palavras.

- Donavan?

O loiro apoiou em uma prateleira de metal e afrouxou a gravata. Deu duas respiradas fundas e gesticulou apressadamente para a porta.

- Preciso de você.

- Como?

- Patrick acabou de se meter na maior furada de sua vida. Você tem que me ajudar.

Edward ficou preocupado, mas manteve-se calmo.

- Conte o que aconteceu.

- Ele assumiu a culpa do William. Disse que as bombas eram dele.

Edward deu um passo para trás como se visualizasse uma cena grotesca.

- Por que em sã consciência ele faria isso?!

- Aí que está, acho que ele não estava em “sã consciência”.

- O quê?

- Enfim. – Donavan abanou as mãos. – Você é influente com a banca de professores. Ajude-o, já tentei fazê-lo desmentir, mas não adianta. Ele cismou que precisa fazer isso.

- Ele quer tirar Will do exílio. – Suspirou guardando os últimos livros na bolsa. – Isso é óbvio.

- Mas arriscando o próprio traseiro?

Dessa vez Donavan notou o brilho de um sorriso brotar no canto dos lábios fartos do moreno. Ele alisava o próprio queixo de modo pensativo, mas não tão enigmático para não se saber o que se passava naquela cachola de ideias.

- Acho que essa insanidade nos diz mais do que uma declaração em voz alta.

- Você está surtando, Edward. – Donavan não enxergava a linha de pensamento do amigo.

- Isso é assunto para outra hora. Agora tenho que ir à sala de reuniões. Se o destino de Patrick está sendo discutido, acredito que seja lá.

- Desculpe pedir algo assim, mas ele realmente ultrapassou os limites.

- E quem mais nos conhecemos por essas características? – a Voz de Edward se tornara sugestiva.

E dessa vez, Donavan pescou a insinuação.

 

...

Patrick batucava nervosamente a ponta dos dedos nos joelhos. Estava do lado de fora da sala de reuniões há quase uma hora. Suor frio escorria de sua têmpora apesar do dia estar razoavelmente fresco. O coração batia acelerado, mas em momento algum sentiu arrependimento ou vontade voltar atrás. Mesmo em sua situação delicada, tudo que pensava era ver o amigo sã e salvo, saber que o pouco tempo no exílio não alterara em nada o estado de espírito alegre que era o de William.

Engoliu em seco, a porta havia sido aberta. Mr. Fisher sinalizou com o indicador para que Patrick se aproximasse. Todo o lugar tinha clima de execução, tirando pelo olhar solidário de um ou outro professor, parecia estar de frente para uma mesa de júri. O chão era de pedra com mosaicos coloridos restaurados recentemente; no centro uma mesa longa e grossa feita de madeira de demolição. A sala em si não era muito adornada, com paredes de tijolos, armários entalhados e devidamente etiquetados, lustre de cerâmica e um cabideiro azul aparentemente a peça mais antiga.

Cerca de seis professores e funcionários compunha a mesa, no centro o coordenador geral. Pensou que em uma reunião desse cunho talvez fosse finalmente conhecer  tão aclamado diretor, porém o mesmo parecia ser chamado apenas para casos ainda mais urgentes. Isso podia ser tanto bom quanto ruim para Patrick.

- Aproxime-se, jovem. – Ms. Monique disse em tom severo empurrando os óculos para o topo da cabeça.

Patrick obedeceu travando o maxilar. Os cabelos castanhos refletiam a luz da janela, perfeitamente ajeitados atrás das orelhas. Com uma postura respeitosa, mas não acuada, ele andou até a mesa.

- Você, Patrick Whitehead confessa ser autor do atentado contra nossa instituição na posse de bombas de efeito moral? – Com voz firme de um sotaque que preenchia o local, o coordenador leu uma pequena passagem em um dos diversos papéis em sua mesa. Todos permaneceram em silêncio esperando a resposta do menino que veio quase instantaneamente.

- Sim, sir.

Um dos mestres presentes o qual Patrick não havia sido apresentado escreveu rapidamente em seu caderno sem nem ao menos dirigir-lhe o olhar.

Porém o coordenador ainda encarava Patrick de modo incrédulo, não era muito velho e apesar dos cabelos castanhos estarem salpicados de fios prateados, apresentava uma jovialidade no olhar que deixariam muitos outros de sua idade em uma inveja colossal. No rosto, pouquíssimas marcas de expressão e um cavanhaque ralo. O homem batucou algumas vezes na mesa sem relaxar os ombros, como se posasse para uma pintura. Com um movimento dos olhos todos pareceram ficar mais atentos.

- Mais algum detalhe a declarar, Mr Whitehead? Tem certeza que está fazendo isso sem nenhum tipo de coação de segundos?

Patrick sabia onde ele queria chegar. Apenas negou com a cabeça.

O homem alisou a tábua da mesa como se a confortasse.

- Poderia nos relatar a sua versão dos fatos?

Ele havia ensaiado, estava preparado.

- Combinei de encontrar meu amigo, William Murphy exatamente nos corredores do segundo prédio. Queria lhe mostrar meus novos... Brinquedos. – Escolhia as palavras com cuidado, tudo que proferia era rapidamente anotado pelo homem baixinho de nariz curvado – Estava empolgado, pensávamos em testá-las em Southport, mas acidentalmente deixei que uma se ativasse na minha mão. Foi meu descuido. Com isso, minha saúde ficou em perigo e William me levou para a enfermaria.

Ms. Monique e Mr. Fisher trocaram olhadelas.

- Então William Murphy não foi o autor do caso. – O Coordenador começou. – E além disso, todo o incidente não passou de um... Acidente?

- Estou disposto a arcar com as consequências. O Senhor me pediu minha versão, ai está ela.

Ele aprofundou o olhar em Patrick no meio da sala.

- E quem que eu acredite que seu amigo é um total inocente? Mesmo com o histórico que ele carrega?

- Sei que William não é um santo, na verdade, nunca será. – Pigarreou. – Mas nesse caso em particular, ele não teve culpa nenhuma. Se for atribuí-lo alguma inflação, que seja por estar matando aula comigo naquele momento, mas peço encarecidamente que retire as acusações de seus ombros.

Mr. Fisher murmurava explanadamente indignado. Suas narinas abriam e fechavam com a respiração pesada.

- Ele se entregou, Patrick. Não vejo motivos para prosseguirmos com esse inquérito.

Patrick olhou diretamente nos olhos de Fisher.

- Senhor, Will estava tentando levar a culpa por meu artifício por um fato que todos conhecem. Ele não quer estar aqui. Achou que seria expulso.

Dessa vez o alarme foi geral, o garoto poderia saber até demais para o gosto deles. Patrick conseguiu despertar o interesse dos reunidos com cartas brancas e meias verdades.

- Eu não quero que meu amigo pague tão caro por algo que não fez, se alguém é merecedor de tal castigo, sou eu.

- Belas palavras, mas seria digno de sustentá-las, Whitehead? – Fisher fechou os punhos contra a calça.

- Tire suas próprias conclusões, sir. – O olhar de Patrick era levemente desafiador.

- Bem, nosso conselho se reuniu por algum tempo para poder avaliar justa e categoricamente sua denúncia. Patrick, não o conheço, mas é um aluno novo e pelo pouco tempo que passou aqui recebi críticas a seu favor. Mr. Fisher foi um dos que , na verdade, insistiu em sua inocência já que ele conhece a fundo os truques de Mr. Murphy. Porém, não posso ignorar suas palavras já que o que temos aqui é uma guerra de interesses. – Ele se levantou calmamente passeando com um andar majestoso e fatal pela sala. – Os objetos que trouxe para dentro da instituição são estritamente proibidos, além disso pôs a sua vida como a do muitos outros alunos em risco.Como não temos antecedentes em sua fixa, as regras da instituição são claras quanto ao seu destino, ainda mais sabendo das suas intenções ao decorrer do acidente.

Patrick continuava tenso e lutando para não fraquejar, naquele momento seus pais lhe vieram a cabeça, não sabia porque, mas sentiu uma necessidade irresistível de apertar a mão de sua mãe. Sabia que se fosse expulso desapontaria profundamente os dois, embora sua última briga, se preocupava com eles. Mas precisava fazer aquilo. Era uma escolha sua, era Patrick tomando as rédeas do próprio destino, mesmo que fosse uma má escolha, era sua má escolha.

Não sabia naquele momento, mas interiormente o coordenador estava bem satisfeito com a reviravolta do caso. O acontecido havia atingido margens alarmantes, chamado o tipo de atenção indesejada que faria com que o homem tivesse que tomar alguma atitude a fim de manter a imagem do Instituto. Não poderia fazer vista grossa para algo assim, ainda mais com uma horda de alunos indignados. Não sabia, e também não se importava com os motivos de Patrick para estar fazendo aquilo, mas o menino havia não só aliviado a barra do colega como a do próprio homem de meia idade. Tentava manter ao máximo a insubordinação de William por baixo dos panos, mas tanto os alunos quanto os investidores estavam começando a se incomodar com a petulância constante de Murphy. Poderia facilmente usar o garoto de bode expiatório, estava lá apenas um pouco mais de duas semanas, era ingênuo e não sabia no que estava se metendo.

- Terá que frequentar a detenção durante um mês e fazer dez sessões com nosso orientador educacional. – Apontou para um homem até agora calado, que parecia mais interessado no café da sala do que na discussão. - Essa é a punição máxima que posso lhe aplicar no momento, mas espero imensamente que nosso... Acidente... Não se repita.

O menino estava perplexo e imensamente aliviado. Deixou o ar escapar pela boca permitindo-se relaxar enquanto agradecia por não ter recebido uma punição mais severa. Os outros presentes na sala permaneceram em suas posições sem palpitar, porém Fisher, que não se contentava com o fato de Will ter conseguido se livrar do exílio, levantou-se no paletó de fraque, batendo o punho contra a mesa.

- isso é um absurdo! Se o garoto diz ter feito o que fez, merecia ir fazer companhia ao amiguinho delinquente! – Os óculos quase embaçavam de raiva. –Talvez esses dois mereçam o mesmo destino, não passam de ratos da mesma laia.

- Mr. Fisher, recomponha-se ou terei que mandar que se retire. Somos uma instituição de respeito e nos dirigimos com educação a nossos alunos. – Continuou o coordenador tediosamente. – Além do mais, eu tomo as decisões aqui, não o senhor.

Os dois travaram uma invisível luta de olhares e o professor acabou cedendo a contragosto. Com avidez, o coordenador deu a volta na mesa observando o comportamento de Patrick, em momento nenhum parecia ter engolido a história, mas estava de mãos atadas. Interessado pelo menino, não via mal algum em alivia-lo, na verdade considerava como um favor devolvido.

- Cumprirei à risca suas medidas, senhor.

- Muito bem. – respondeu com um pigarro. – Está dispensado garoto, mas não conte com a sorte.

Patrick fez uma reverência curta sem olhar para ninguém em específico, na verdade o que mais gostaria de evitar era muitas encaradas profundas. Deixou que o sapato de couro rangesse contra o chão polido e deu meia volta nos calcanhares admirando a beleza da porta pela qual saíra. O ar do corredor encheu seus pulmões com alívio e até uma branda sensação de tontura o atingiu. Depois daquele momento tinha total certeza que a convivência no instituto havia mexido com ele. O menino acanhado e introvertido que era antes com certeza nunca teria um terço da coragem que precisou para entrar naquela sala. Estava atônito de peito acelerado e quadris rijos. A caminhada até o lado de fora do prédio foi como a libertação de seus músculos depois de muito tempo confinado em um cubículo decrépito e sem ventilação.

Não se sentia o mesmo. Não era o mesmo. Alguma coisa o mudara.

Ou Alguém.

Edward o esperava do lado de fora com a ânsia de checar o relógio de cinco em cinco minutos. Quando avistou Patrick um tanto cambaleante deixando os degraus do edifício principal, levantou-se apressadamente e correu em sua direção.

- Como foi?

- Eu não sei, mas acho que tudo bem.

- Juro que fiz o possível.  – Disse com sinceridade.

- Eu sei disso. – Patrick apoiou uma das mãos no ombro largo de Edward. – Obrigado, nem sei como agradecer.

- Tente botar um pouco de juízo na cabeça daquele inconsequente e estamos quites. – Sorriu.

...

- Não sei o que você fez com Patrick, mas para aquele sonso assumir seu lugar em um dos seus surtos mais loucos, você deve ter deixado o rapaz de quatro. – Úrsula sondou William com admirável inveja.

Will grunhiu sem tirar os olhos da estrada.

- Acho que já tivemos a prova sobre o que Patrick prefere.

- Se tem algo que aprendi nos anos que convivemos juntos, William, é que com você nada é o que parece. – Antigas mágoas entoavam sua voz.

William avistou a entrada do instituto e os grandes portões de ferro. A guarita dos seguranças reconheceu a placa de Úrsula fazendo com que os dois ganhassem tempo. William tentou ligar para Patrick, mas não conseguiu falar com ele. Depois passou para Donavan, que com sorte, estava disponível.

- Onde ele está?

- É bom saber que está bem. – Zombou despreocupado.

- Não tenho tempo para papo furado. Donavan, onde está Patrick? – Sentia a pulsação mais intensa no peito. Vasculhou a entrada com o olhar, não queria pensar no pior, mas era inevitável.

- Eu vou saber? Na verdade, não o vejo desde que saiu do hospital.

William grunhiu e controlou uma expressão mais branda de descontentamento, podia ver deleite nos olhos de Úrsula.

Desligou o aparelho com as sobrancelhas quase unidas em uma carranca.

- O que veio fazer aqui afinal? Além de se divertir, claro.

- Além disso? – Fingiu pensar. – Já disse, sou uma ótima irmã. Só o meu sorriso ilumina qualquer manhã.

- Não vou ficar aqui ouvindo bobagens.

Enquanto William se afastava com nervos a flor da pele, ela gritou encostada em seu carro.

- Tenta assobiar. Os cãezinhos mais fiéis costumam vir.

Ignorou a voz fina e melódica da irmã percorrendo a calçada sem notar os olhares incisivos e curiosos em sua direção. Até velhos amigos passaram despercebidos, mesmo sendo poucos. William não estava vestido com o uniforme, isso o ajudava a se destacar na multidão. Arnold e um outro menino conversavam quando William passou como uma bala perto dos dois, sem troca de olhares hostis, sem brincadeiras maldosas. Para os dois que costumam se espetar com frequência, aquele foi um momento de total desconhecimento para Arnold. Os dormitórios não eram longe, mas até a passada larga do jovem parecia menor. Suas bochechas coraram com a corrida apesar de sua boa forma, o cabelo que não tinha noção do que era uma boa lavada há alguns dias espetava-se para cima e despertava a atenção de ainda mais gente.

Finalmente o prédio de Blois. Pacato e coberto por uma hera em seus dois primeiros andares. Subiu até a varanda e depois escancarou a porta de entrada. Alguns moradores do primeiro andar se assustaram e dirigiram palavras agressivas a William. Ele nem se quer ouviu, continuou com a fúria dos olhos no primeiro patamar da escada e levantava o rosto a cada degrau que subia. Assim que avistou a porta do dormitório de Patrick, pipocou o punho contra a madeira de modo rude e desesperado.

- O que pensa que está fazendo? – Diferente do que esperava, seu anfitrião fora Reece. O rapaz tão alto quanto William, porém duas vezes mais robusto o encarou visivelmente desgostoso e com braços cruzados em afronta. – Murphy?!

- Cadê o Patrick?

Os olhos de Reece estreitaram-se e junto a barba carregaram sua aparência como ar de um homem mais velho.

- Você não sabe?

Engoliu em seco.

- Por favor, eu preciso encontrá-lo.

- Que merda está acontecendo ai, Reece?

- Nada Jamie, continue lendo. – Gritou para o lado de dentro fechando a porta para não ser interrompido de novo.

- Ele... Ele não foi expulso, foi?

- Murphy, por acaso pensou em tomar um banho antes de vir aqui? Está fedendo mais do que o decompositor de orgânicos da cozinha. – Reece tampou o nariz com uma careta.

Irritado William apertou a ponte do nariz.

- Merda, me responda logo. Foda-se o meu estado.

Reece o encarou estupefado, William parecia um tipo de pessoa totalmente oposto ao que sustentava. Coçou o queixo analisando o estado devastado de William, não achou que fosse presenciar uma cena como aquela. Tinha olheiras fundas e barba por fazer, de certo modo, lembrava um cão abandonado.

- Ele está na detenção. Se você perguntar para aquele seu amigo alto do quarto ano, ele pode te informar melhor. Patrick não voltou ao dormitório desde que saiu do hospital. E só deve voltar a noite. Quer um conselho? Vai dar um jeito em você. Pelo menos uma vez faça algo sensato.

Ambos se encararam bem de perto apesar da notável desvantagem de William comparado a massa muscular de Reece.

- Eu não pedi nada a Patrick, se é o que está pensando.

- Patrick é bobo demais, faria qualquer coisa que um “amigo” pedisse. – O grandão arrastou a voz impondo o peitoral para cima de William de forma ameaçadora. – É um bom garoto, não merece passar por isso.

- Cuide da sua própria vida, Jones. Enquanto não sabe de nada, mantenha-se no seu lugar.

Ele riu.

- Eu digo o mesmo pra você, Murphy. Não mexa com pessoas as quais não tem condições de lidar.

Eles se encararam por pouco tempo. Reece fechou a porta na cara de Will e este não perdeu tempo correndo de volta ao campus. Agora sim teria uma longa caminhada até a detenção. No caminho, se conseguisse, falaria com Edward, mas não se desviaria.

O telhado do primeiro prédio apareceu em seu campo de visão entre as copas das árvores, conhecia aquele prédio tão bem quanto seu quarto. Diferente dos outros, logo no primeiro andar as janelas eram gradeadas com barras de ferro. Abaixo, um jardim bem cuidado com roseiras brancas e brincos-de-princesa que quebravam a severidade da parte externa do prédio. Apesar de ter outras funções, aquela construção era mais conhecida pela sala de confinamento da detenção, naquele pequeno pedaço da vastidão do instituto poucos alunos passavam pelo portão marrom e oxidado que dava a ala reservada. Pulou a jardineira para chegar mais perto do batente da janela. Botou as mãos em forma de concha, coladas no vidro e teve total visão da parte de dentro. Ted – O rapaz que tomava conta da sala e já era um dos contatos mais fiéis de Will – Cochilava recostado na cadeira de monitor. Mais atrás cerca de quatorze alunos de idades variadas. Bem ao centro, escrevendo em seu caderno, Patrick parecia relaxado e nem um pouco incomodado de estar em um ambiente totalmente fora de sua realidade. Os cabelos castanhos caíam um pouco abaixo da orelha emoldurando seu rosto. As linhas bem definidas do nariz e do maxilar davam um ângulo bonito às suas feições. William já havia reparado tudo aquilo, mas não conseguia desgrudar os olhos daquele momento tão íntimo e natural de Patrick. Uma grande sensação de alívio, cumplicidade, e dívida tomaram conta dele. Os outros sentimentos ele simplesmente tentou repelir.

Ele tentou, sem sucesso algum.

...

Reece empacotou suas coisas empolgadamente, tanto Jamie quanto Ryan não aguentavam mais os suspiros e assuntos repetidos do amigo. Estar apaixonado ao mesmo tempo em que era algo bonito de se ver, era um incomodo e martírio aos amigos. A mochila velha quase estourou o fecho com tantas roupas e pertences. Sem entender o porquê do exagero, tanto Jamie quanto Ryan se entreolharam com intenções maliciosas.

- Com a quantidade de coisa que está levando, tenho a impressão de que pretende fugir com essa garota. – Ryan disse folheando uma revista de economia.

- E perder a vaga no time de rugby? Eu duvido muito. – Jamie largou o livro e sentou-se perto do amigo.

- Acho que está se arrumando muito cedo. Ainda tem um dia inteiro de aula. O ônibus só sai de tarde. – Resmungou desistindo da revista também. As aulas estavam prestes a começar naquela sexta nublada.

- Calem a boca, só não quero correr o risco de me atrasar.

Jamie bufou.

- Tolice, se perder a carona de hoje, pode ir amanhã.

- Eu não cogito essa ideia. – Reece respondeu simplesmente.

- Meu Deus, você está insuportável. – Ryan vestiu o casaco pegando seu molho de chaves na escrivaninha. – Vejo vocês no almoço.

- Tente não vomitar no caminho. – Disse Reece tacando uma cueca na cabeça do amigo antes de ele sair do quarto.

- E então? Tudo certo para o jogo de terça? – Jamie não parecia afim de chegar a tempo na aula e continuou espalhado na cama.

- Se ela vai? – Reece sorriu. – Sim, vamos nos encontrar esse fim de semana e depois a escola dela vai vir assistir o jogo contra Saint Jaime.

- Sabe como os namoros para internos são difíceis, sei lá, acho melhor ir com calma.

- Como se você soubesse o que é um namoro. Nunca se quer se interessou verdadeiramente por uma garota. – Reece jogou a mochila pronta em cada detalhe no canto de sua cama.

Jamie deu de ombros.

- Gosto de todas, mas ao mesmo tempo de nenhuma. Acho que só não estou com cabeça pra isso agora. – Sorriu debochado. – Mas você, por outro lado, sempre quis tanto entrar no time de rugby que cheguei a cogitar que gostasse de homens sujos e suados correndo a sua volta.

Os dois gargalharam e trocaram socos amigáveis. Reece achava absurda aquela lógica insensata, mas em momento nenhum levou a sério. Sua cabeça estava em outro lugar, um motivo que melhorava seu humor.

- Tenho que ir, se me atrasar pra aula, pego advertência. Levanta daí se não o mesmo vai acontecer com você.

- Acho que vou pegar um atestado médico e fingir que estou com diarreia. Ninguém contesta uma diarreia e todos os professores te dão dispensa.

- Você não vale nada, Jamie.

Sorriam mais uma vez e Reece deixou o quarto.



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