1. Spirit Fanfics >
  2. Instituto Mayfroyd para garotos especiais. >
  3. The Hope That Shatters

História Instituto Mayfroyd para garotos especiais. - The Hope That Shatters


Escrita por: Victims

Notas do Autor


Esse tá menorzinho porque tem muita bomba pra vocês HAUHAUIAHui
Não entrem em pânico, o próximo vai ser maior pra compensar,
e como sempre,
boa leitura

Capítulo 24 - The Hope That Shatters


Patrick não estava muito confortável entre Úrsula e Marysa no carro. O cheiro doce do perfume de Úrsula fazia o nariz dele coçar. Queria se encontrar com Will, mas recebera instruções específicas para não procurá-lo, nem sequer perguntar sobre ele no tempo em que estivesse fora com as mulheres. O passeio pela cidade não era apenas uma formalidade, Patrick havia se voluntariado a acompanhá-las nas compras do dia no intuito de mantê-las o mais ocupadas possíveis. Era um sacrifício torturante, porém William precisava de uma folga da vigia sempre assídua de Marysa para que pudesse procurar o neurologista que havia contactado. Passaram sem pressa pela Regent Street, lugar onde William enfatizara o quão lindo era a iluminação de natal, e isso fez Patrick se pegar imaginando um futuro muito duvidoso, onde pudessem simplesmente passear de mãos dadas durante uma noite branca de natal. Porém seus devaneios não durariam muito.

Úrsula estava empolgada e não parava de tagarelar de como deveriam dar uma festa. Marysa, ao contrário parecia conter a expressão para não rolar os olhos, estava claramente impaciente dentro do vestido branco que modelava seu corpo invejosamente. De vez em quando checava o relógio do celular, mas a tela lisa não a agradava muito.

 

 

- Um coquetel, talvez. - Úrsula continuava a vagar sua mente. - Poderíamos convidar todos os velhos amigos. Aliás aquela casa velha poderia ver um pouco de movimento esses dias. - Olhou com ar inocente para Patrick. - Gostaria de ver a cara de Rebecca quando ver minha nova aquisição.

 

Patrick demorou a entender que ela falava dele. Às vezes esquecia que era o falso namorado de Úrsula quando tinha que esconder que era apaixonado por William.

 

O motorista parou em frente a uma loja bonita de esquina, com ar antigo por fora, mas araras bem abastecidas e luminosidade moderna por dentro. Marysa desceu do carro sem fazer muita questão de esperar pelos outros dois atrás dela. Úrsula não ligava, enquanto as pessoas apreciassem seu novo namorado misterioso, estaria satisfeita de carregá-lo por aí. Dentro da loja, onde receberam taças finas de cristal com prosseco borbulhante, deixou-se perder entre as vendedoras que a paparicavam e exaltavam sua beleza. Patrick deixou-se acomodar em um sofá de estofado claro, perto de manequins que exibiam peças de roupas que custavam mais que o que havia juntado para o fundo da faculdade.

Úrsula empilhava cabides sem cerimônia nos braços de uma vendedora franzina. Seus olhos claros e exigentes pareciam inspecionar elementos minúsculos nas peças e as descartava com a mesma indiferença que as tirava das araras.

 

- Querida, desse modo vai soterrar a pobre garota. - Comentou Marysa sem tirar os olhos do celular, onde digitava concentrada.

 

- Nada disso me cairia bem. Parece um brechó esse lugar. - Resmungou mal humorada. - Aliás, do que adianta achar um vestido perfeito se você não está inclinada a me ceder uma reunião com os meus amigos em casa. Poderíamos pagar aqueles paparazzis irritantes para focarem nos convidados. As pessoas fazem tudo por dinheiro hoje em dia.

 

Marysa pareceu ouvir um estalo vindo de longe. Largou o celular imediatamente e, inusitadamente, abraçou Úrsula com empolgação.

 

- Você é um gênio. É a melhor ideia que teve todo esse tempo.

 

Ainda sem entender, encarou a mãe como quem via um lesma gigante de bigodes. Marysa pegou novamente o celular e digitou na velocidade máxima que seus dedos comportavam. No fim, enviou o e-mail para uma lista cuidadosamente seleta dos seus contatos, dessa vez ostentando um sorriso um tanto sombrio.

 

- Mamãe, você está bem? Precisa de mais champagne? Parece muito sóbria para esta hora da manhã.

 

- Você é uma mocinha muito esperta, sabe mesmo o que dizer. - Disse apenas, afastando-se com o aparelho que parecia um extensão do seu braço.

 

- O que eu disse? - Os olhos dela brilharam.

 

Mas a mulher não respondeu.

 

-Leve Patrick para comprar algo especial, tenho certeza que vão se divertir.

 

Ignorando a menina que ainda segurava a montanha de roupa, Úrsula girou nos pés e voltou até Patrick que mais brincava com o líquido do que bebia.

 

- Largue isso. - Disse tirando a taça das mãos dele e puxando-o do sofá.

 

- Ei, você já tomou o seu?

 

- Esquece a bebida. - O sorriso em Úrsula era eufórico. - Temos que ir em outro lugar.

 

- Sério que não achou nada que ficasse bom em você? Essa loja é gigante.

 

- Esquece, eu decido isso depois, precisamos de uma roupa para você. - Empurrou Patrick até um espelho comprido e encarou a imagem dele ao lado da dela. O rosto anguloso, olhos castanhos iluminados, lábios convidativos, cabelo sedoso e bagunçado. Estava ali um garoto descuidado que não fazia ideia do quão bonito era, e uma oportunidade perfeita para Úrsula. Seu conto de fadas estava indo tão bem que a realidade lhe fugia. Encostou sua cabeça no ombro de Patrick ainda imaginando quantos burburinhos invejosos ouviria naquela noite. - Você é meu namorado, e se pensa que vai circular mais um dia entre meus contatos com aquelas roupas estranhas de flanela, está muito enganado.

 

- Isso não parece uma boa ideia. - Patrick grunhiu.

 

- Eu sei, por isso vou te ensinar a usar Prada.

 

- Não. - Patrick se desvencilhou dela. - Não vai me vestir.

 

- Não vou só te vestir. - Disse já carregando-o pela gola. - Esse ninho de esquilos na sua cabeça precisa de uma tosa.

 

Patrick passou a mão na cabeça, não vendo nada de errado com o seu cabelo. Úrsula parecia cada vez mais grudada com ele, apesar de não suportá-la. Esse era o motivo principal do porquê precisava sair com elas. Estava irritado, mas o plano pelo menos a manteria ocupada. Pela lista de coisas que fala em voz alta, a tal festa e arrumá-lo pareciam o tipo de coisa que precisava para fazer com que ficasse longe de casa, e consequentemente, não espionassem Will.

 

- OK, ok. Sou todo seu. - Disse por fim, já do lado de fora da loja.

 

Úrsula estava encantada, parecia até uma menina normal planejando o baile de formatura. Se antes achou que parecia uma matraca ambulante, agora não tinha mais com o que comparar. Não deixava de reparar em Londres, na paisagem e na diferença que o seu mundo era dali. Não sabia ao certo como, mas poderia dizer que, de certa forma, já não se sentia tão estranho naquele meio. Desde que chegou no instituto, estava a mercê da sorte e de frente para uma alta classe a qual nunca pertencera, mas era inevitável se incluir. Ainda mais se tratando de William.

 

...

 

Edward escrevia com mais nervosismo a cada minuto. O relógio em seu pulso tinha um jeito engraçado de deixar seu reflexo distorcido, de modo que Edward não se identificava com a imagem bagunçada. Balançou a cabeça, tentava se distrair, mas não importava o que fizesse, era a imagem de Vince que via pela janela do trem. Tentou não parecer muito formal, mas o suéter de gola alta parecia o sufocar do modo como sua gravata do uniforme fazia.

Estava sentado de frente para um casal idoso, a velha às vezes o lançava um olhar curioso, mas Edward não estava afim de conversar. A viagem parecia uma eternidade, o vagão era bem cuidado e iluminado, não tinha do que reclamar, mas se ficasse mais um minuto ali dentro, poderia ter um ataque de pânico. Respirou fundo, pensou nas palavras de um antigo amigo e contou até dez. Fechou os olhos, tentou pensar em coisas boas, porém a maioria das lembranças que vinham a sua mente eram de Vince. O violino, a estufa, o fim de semana em Southport. Enxugou o suor da testa podendo ver entre algumas árvores a estação que se aproximava ao longe. O punho apertou, a garganta fechou. Queria ter ligado antes para avisar, mas não conseguiu encontrar o número dos Woodland. Vovó, como a mulher desencanada que era, preparou duas dúzias dos seus famosos biscoitos de castanhas e chocolate e os botou em uma forma especial.

 

- Não existe conflito que não acabe bem com biscoitos. - Disse entregando-o antes que saísse de casa.

 

Sua mãe, por outro lado, o abraçou apertado e sussurrou uma oração em seu ouvido.

 

- Vou ficar bem. - Edward disse acariciando a bochecha da mulher.

 

- Não é para você, é para Vince. - E sorriu.

 

Se era um homem forte, era por causa daquelas mulheres. Se era uma pessoa boa, foi porque bons exemplos nunca lhe faltou. Levantou de seu assento antes mesmo que o trem freasse, era tão alto que quase encostava no suporte para malas. Retirou suas coisas e seguiu pacientemente o fluxo. Não havia pressa pelo fato de não ter ninguém o esperando.

Nem ao menos sabia se seria bem recebido. Mas era determinado, e se tratando de Vince, estava disposto a enfrentar mares violentos. Graças ao google maps tinha o endereço, pegou o primeiro táxi que encontrou na parada de trem e deixou o destino ajudar na sua busca.

Pela janela do veículo  deixou os pensamentos voarem. Antes de sair de casa, fez sua pesquisa sobre alguns hostels em que poderia ficar caso a abordagem não fosse bem sucedida. Não ia desistir tão fácil. Se preciso, ficaria ali o maior tempo possível. A cerca era de madeira simples, como a de outras casas afastadas do centro. Tinha um quintal grande, uma caixa de correio com o sobrenome da família esculpido na frente. A frente da casa era de tijolos brancos tomados por uma hera fina que quase chegava às janelas. A brisa fria o fez olhar para cima, analisando todas as venezianas até encontrar uma e especial que estava fechada. Pode sentir o ar pesado. Mesmo com arbustos tão coloridos na entrada, a aura da cara era acinzentada, quase desbotada. Retirou sua mala do carro, entregou uma boa gorjeto pra taxista e continuou a encarar a fachada da casa. Os olhos percorriam os tijolos enquanto imaginava a infância de Vince. Podia vê-lo correr pelo gramado, se esconder atrás de uma árvore média perto da lateral da casa, balançar no balanço ali amarrado. Tomou fôlego, conferiu o relógio.

Três batidas. No coração, um turbilhão. Por alguns segundos pensou que ninguém viria, tudo parecia quieto demais. Aos poucos a porta se abriu, e por trás dela, olhos desconfiados de um homem nada contente.

 

- O que você faz aqui? - Sussurrou olhando algumas vezes para trás. - Barbara vai chamar a polícia se o encontrar no nosso quintal! Por acaso ficou louco?

 

Edward ficou confuso com o misto de indignação e cumplicidade pelo homem não o expor tão drasticamente.

 

- Eu vim porque preciso vê-lo. - Disse com a voz grave e decidida.

 

- Ele não precisa disso. Aquele instituto de merda vai pagar bem caro, é isso que precisa acontecer.

 

- Falir o instituto não vai curar  seu filho. - Edward respondeu com mais firmeza, fazendo a mão de Brandom vacilar na maçaneta.

 

- Você não sabe o que está falando, aliás, nem deveria estar aqui. Só vai nos trazer mais problemas. Vá embora antes que Barbara desça, vai ser melhor para todos nós.

 

Edward apoiou uma mão na porta, fazendo força contra o braço do homem que escorava do outro lado.

 

- Você não parece convencido. Nem sequer está fazendo esforço para me tirar daqui, com todo respeito, Mr. Woodland. - Os olhos verdes e sempre muito perceptivos notaram o vívido nervosismo e olhares sorrateiros que Brandon dirigia ao corredor atrás de si.

 

- Além de mal educado, é atrevido. - Ele respondeu ríspido, com o peito inflado. - Escute, filho, eu não quero fazer nenhum alarde por você estar aqui. Não quero que a polícia venha parar na minha porta chamando mais atenção para um menino que já passou por mais do que qualquer garoto deveria suportar. - A dor nos olhos do pai era sincera, a tremedeira na mão confirmava como o próprio homem não sabia lidar com as emoções.

 

- Ele precisa de um amigo, ele precisa ver que existem pessoas que o amam independente do que possa acontecer. - Edward levantou o tom de voz, algo impensável para sua pessoa. - Eu o amo, Mr. Woodland, e está me matando cada segundo que eu não passo segurando-o com as minhas mãos e dizendo que está tudo bem. Ele precisa saber que eu estou aqui, que nunca irei embora a não ser que ele peça pessoalmente.

 

- Vince está melhor sem você, te ver só vai reviver as coisas, trazer de volta o tormento que vocês viveram.

 

- Não vivemos tormento algum, será que é tão difícil compreender? - Edward fazia mais força contra a porta. - O que aconteceu com Vince foi por causa daquele filho da puta do Christopher Daniels, única e exclusivamente por causa dele. O que nós vivemos, Mr. Woodland foram momentos incríveis que, provavelmente são as únicas lembranças que não o fazem querer morrer a cada segundo em que passa trancafiado naquele quarto!

 

Brandon não respondeu, apenas continuou fazendo força para fechar a porta.

 

- Se ele está tão melhor assim sem mim, por que o escondem?

 

- Para que ele não chegue mais perto de pessoas como você! - O rosto do homem ficava mais vermelho e inchado, Edward estava perdendo o equilíbrio pela quantidade de força que fazia para que a porta não batesse em seu rosto.

 

- Pessoas que  amam pelo que realmente é? pessoas que não tem vergonha de admitir o que sentem e que lutam contra Deus e o mundo para por vê-lo mais uma vez? Até quando vai negar que sou parte da vida dele agora, tanto quanto o senhor?

 

- Vince não sabia o que estava fazendo quando se envolveu com você. Se não tivessem começado a chamar atenção nada disso teria acontecido...

 

- Se o mundo não fosse tão homofóbico e as pessoas tão ignorantes, isso não teria acontecido.  

 

A voz veio do fundo do corredor, baixa, mas muito clara. Os dois pararam de travar a porta com seus braços e Brandon se virou com olhos gelados.

 

- Barbara...

 

A mulher se aproximou enrolada em um casaco. Olhos cansados, rosto sem cor. Edward quase não a reconheceu, em um tempo tão curto parecia ser outra pessoa. Endireitou o corpo, e o que o marido havia dito era verdade, a coisa podia ficar muito pior. Com uma olhada rápida, encarou a janela fechada de novo e renovou as energias. Estava muito perto de seu objetivo para recuar, não ia parar, e passaria por cima dos dois se fosse necessário.

Barbara abriu um pouco mais a porta, se juntando a Brandon sem olhá-lo. Mesmo debilitada, ainda tinha uma presença forte. Analisou Edward e suspirou pesadamente. Por algum tempo todos permaneceram parados sem entender muito bem o que aquilo significava. Brandon tentava ler o rosto da mulher, mas ela encarava Edward o tempo todo com olhos muito fixos, o que dificultava algum entendimento de sua expressão.

 

- Ele não fala a dias. Não come. A única vez em que consegui tirá-lo do quarto foi porque desmaiou de fome e tivemos que levá-lo ao pronto socorro. - A fala era lenta e pausada, mas as palavras pareciam se enroscar em volta de seu pescoço como correntes pesadas. Edward acompanhou cada movimento da cabeça de Barbara. -As sessões de terapia não funcionam, durante a noite ele mal dorme, e quando consegue, grita durante boa parte do sono. Quando não toma os remédios, chora o tempo todo, quando toma, parece fora do ar, quase um vegetal. - Outra pausa, mas nenhum tremor no olhar fixo da mulher. - Esse não é o Vince por quem você procura. Ele não é nem sombra do que era o nosso filho.

 

Se aproximou com dois passos, fazendo com que Edward desse uma leve recuada.

 

- Esses são os fatos. essa é a realidade. Se ainda assim, sabendo disso tudo, e sabendo que ele nunca mais vai ser quem era você ainda quiser subir, não sou eu quem vai segurá-lo.

 

Edward respirou fundo.

 

- Porém... - Disse Barbara levantando um dedo e impedindo o único pulo feliz que o coração de Edward ousou dar. - Se lhe resta uma ínfima fagulha, por menor que seja, se existe alguma semente de dúvida no seu coração, então não dará um passo se quer de novo na direção dessa casa. Você vai dar meia volta e viver a sua vida muito feliz, sabendo que as coisas são como são e seguindo seu caminho para bem longe do meu filho. - O olhar de Edward se estreitou. - Ninguém o culpará se não souber lidar com o que aconteceu, eu ainda luto muito para acordar todos os dias, mas para mim, o mais importante aqui é ver Vince saudável e tendo condições de viver de novo. Se essa não é sua prioridade, sabe o que fazer.

 

Mais silêncio. Edward apertou as mãos, respirou fundo e, com a mesma intensidade, devolveu o olhar voraz de Barbara.

 

- Me leve até ele.

 

...

 

Patrick se pegou imaginando, enquanto um senhor careca de longos bigodes tirava suas medidas, até onde Úrsula havia planejado aquilo tudo. Primeiro conseguira arrastar Patrick para Londres sob uma alegação de que Will estava em perigo, o que de fato era verdade dado o modo sádico como Mr. Murphy parecia brincar com a saúde mental e tolerância física de William. Sem falar em todos os homens gananciosos que conhecera no clube de corrida e que já aparentavam terem planos para quando o legado fosse passado para... Marysa. Sim, uma das coisas que a assustou muito era como ninguém cogitava William como um possível sucessor, pelo menos não na frente dele. Enquanto alguns pareciam querer manter uma fachada - não por respeito, mas por deboche - na frente de William, outros nem sequer o enxergavam como um ser humano a ser levado a sério. Tudo aquilo lhe fazia se perguntar quem era William antes do instituto.

Mas desde que chegou à mansão dos Murphy, apenas se afundou cada vez mais em uma rede de mentirinhas e aparências, não se tocando muito do quão estagnado estava. Se não fosse Will mexendo os pauzinhos no tempo livre, não estariam realmente dando procedência a nada, o que o deixava angustiado. Estava longe do Instituto já fazia dias, senão uma semana, e isso até o deixaria preocupado se as aulas não estivessem suspensas sem nenhuma previsão de volta. Mas eram as ligações insistentes de seus pais que o estava incomodando. Já havia dado todo tipo de desculpas, até que finalmente resolveu falar um pouco da verdade, que estava passando algum tempo na casa de um amigo que fizera no colégio. Seu pai até ficara um pouco feliz, porém sua mãe parecia desconfiada demais e ainda ligava todo dia para saber se estava tudo bem.

Sabia que William estava extremamente ocupado entre todas as reuniões de negócios, consultorias e todo o processo para ficar a par dos investimentos da família, ainda mais tendo que ter algum tempo para lidar com outros assuntos de urgência. Mas se pudesse por um segundo que fosse roubá-lo da rotina....

 

- Vire-se.

 

Patrick se assustou com a voz rouca do homem e as bochechas coraram por um minuto. Não notou que o rosto de Úrsula estava pálido e atordoado enquanto encarava o celular. Por fim desceu do banco onde estava, ajeitou a camiseta no corpo e foi na direção do homem enquanto ele tagarelava alguma coisa sobre os tecidos e o valor dos cortes. Úrsula interveio, segurando-o pela mão e puxando-o na direção oposta, seu rosto nem um pouco brincalhão ou com aquela expressão de tédio que fazia com que Patrick quisesse bater a cabeça em um prego.

 

- Esquece esse maldito terno, temos que ir para casa agora. - Disse ela assinando uma ordem de serviço que o homem deixara em cima da mesa.

 

- Estará pronto em alguns dias, Senhorita. - Disse satisfeito, provavelmente pelo valor de vários dígitos que aquele terno custaria.

 

Mas Úrsula nem sequer havia ouvido. Já estavam do lado de fora da loja, um alfaiate particular que residia perto de uma das ruas preferidas dela, a Hatton Garden famosa por seu imensurável trimestre de jóias. O motorista estacionou cinco segundos depois de saírem da loja, e mesmo assim a garota reclamou.

 

- Para casa, agora!

 

As rodas cantaram no asfalto e o homem também parecia bem preocupado. O motorista da casa também tinha noção do que estava acontecendo, e de novo, Patrick se sentia excluído de alguma coisa grande. Pigarreou, mas Úrsula não largava o telefone.

 

- Poderia me dizer o que está acontecendo?

 

Úrsula grunhiu como quem estava prestes a dar um chilique, mas então teve a decência de se acalmar.

 

- É só eu conseguir dar uma maldita festa, e o mundo resolve conspirar contra mim.

 

- De fato, esse provavelmente é o plano de Deus, interferir em todos os seus eventos sociais. - E o que era para ser uma piada acabou saindo com o pior tom de crítica possível de Patrick.

 

Úrsula o olhou um pouco magoada, mas fingiu não ligar. Apenas deu de ombros e encarou a janela enquanto decantava seu veneno.

 

- Pelo menos minha festa pode ser adiada um ou dois dias, já a morte de Marcus...

 

Patrick se ajeitou no banco, o coração acelerou. Um buraco no estômago tomava proporção.

 

- Quer dizer que...

 

- Não. - Ela disse com um falso sorriso, mas realmente feliz por virar o jogo. - Infelizmente, não dessa vez. Mas a polícia está na nossa casa, e consequentemente jornalistas. O que quer dizer que algum escândalo está explodindo no nosso colo nesse exato momento, e isso não podia ser oportunidade melhor para se ter um evento social.

 

- Mas por que a polícia está lá? - Patrick penteou os cabelos para trás, um gesto que encantava Will, mas deixava Úrsula enjoada.

 

- Eu tenho cara de bola de cristal para você? Por acaso você pensa antes de perguntar as coisas? - A garota apertou as têmporas. - Pelo amor de Deus, Patrick, tente agir como uma pessoa madura agora, ok? Quando chegarmos, terão no mínimo uns cinquenta jornalistas esperando para tirar uma boa foto para as manchetes de amanhã, então tente parecer preocupado comigo ao invés de uma barata tonta que não faz ideia do que está acontecendo ao seu redor. - Ela gesticulava alto enquanto retocava a maquiagem que tirava de dentro da bolsa - Você sabe do que estou falando! - Girava um pincel de blush na mão como se fosse uma varinha. - Essa sua carinha de cachorrinho abandonado, por favor, apenas tente se concentrar.

 

Patrick não conseguiu reagir. Além de ter sido comparado a uma barata e um cachorro na mesma sentença, não estava nem um pouco interessado o drama da vida de Úrsula. Estava preocupado com Will, pois tinha certeza que aquela confusão tinha suas digitais.

O motorista dirigia muito rápido, e todo o trajeto que levaram vinte minutos para fazer até as lojas, agora estava sendo reduzido pela metade. Passavam pelas rotatórias de modo que Patrick era jogado contra o vidro, e ainda tinha tempo de se surpreender como Úrsula conseguia continuar se maquiando sem se importar com os solavancos do carro.

Avistou a rua larga de casas espaçadas que levava de volta para a casa dos Murphy. De longe luzes piscavam em azul e vermelho e mais outros flashes momentâneos. Algumas vans estavam estacionadas longes do portão principal, fechando a passagem de tal modo que tiveram que entrar pela entrada lateral de serviço.

Saíram do carro com muita pressa. Os empregados se amontoavam na cozinha, espreitando pela porta todo o movimento que vinha do grande salão. Quando Patrick e Úrsula passaram por eles, os olhos assustados se encolheram como quem levava um choque e fingia que nada havia acontecido.

 

- Bando de curiosos, realmente não tem nada mais para fazer? - Úrsula murmurou entrando com passos firmes e decididos no corredor que dava para a sala.

 

Quando chegaram, só tiveram tempo de ver Edna, uma governanta jovem e alta que Patrick já havia visto algumas vezes, sair algemada e escoltada por dois policiais. Ela chorava e olhava suplicantemente para os lados, como que pedia ajuda a qualquer um dos rostos estranhos.

 

- O que diabos está acontecendo aqui? - Patrick tentou dar a volta no cordão de policiais que fechavam a estreita passagem por onde Edna era levada. Do outro lado era possível ver Marysa  em frente a alguns microfones.

 

Ela estava pálida, de óculos escuros e com um semblante muito sério. logo depois, uma maca comprida foi carregada com cuidados pela escada até o piso brilhante do chão. Nesse momento, enquanto a maca passava, Patrick sentiu ser empurrado mais para trás pelo cordão de policiais que impedia a aproximação das pessoas. Ele estava rodeado de jornalistas e curiosos, pode ver pela janela que uma das vans do outro lado era uma ambulância de emergência.

Com um respirador sobre o rosto e os curtos cabelos loiros grudados no lençol branco, o homem era carregado com pressa até a parte de fora, sendo atingidos por flashes ainda mais intensificados.

Virou-se para uma das poucas empregadas que ainda estavam no recinto, uma senhora baixinha que infelizmente não lembrava o nome. A mulher negra, velha e dez estatura reduzida tremia em seus calcanhares em puro choque.

 

- Onde está Will? - Patrick balançou a cabeça, nervoso. - William. A senhora o viu?

 

A mulher não abriu a boca, continuou com as mãos calejadas torcendo o avental um pouco sujo de farinha. Lentamente seus olhos se voltaram para cima, acompanhando um movimento feito por todos os presentes.

 

Patrick se virou e percebeu o que todos olhavam com tanta surpresa, Will descia as escadas de modo agressivo, punhos cerrados, e uma gana que Patrick nunca havia visto em seus olhos. Não levou menos de um segundo para entender a catástrofe que iria acontecer, ali em meio a mídia e a uma quantidade considerável de policiais. Com uma agilidade surpreendente, Patrick correu e impulsionou o corpo contra o cordão de policiais, que pareciam distraídos de mais com o rompante de William. Ao passar, teve ainda mais certeza de como seu olhar mortífero focava na figura de costas de Marysa,  totalmente alheia ao que estava prestes a acontecer. Conseguiu alcançar uma de suas mangas, retardando seu movimento, mas foi outro policial que estava do lado de Marysa que conteve o avanço de William jogando-se contra ele.

 

- FOI VOCÊ! - Ele gritava em uma voz esganiçada. as veias da testa de William estavam a um ponto crítico de estourarem. Patrick Ajudava-o a levantar enquanto tentava ao mesmo tempo contê-lo. - SUA PIRANHA MALDITA ERA VOCÊ ESSE TEMPO TODO.

 

Patrick estava apavorado. Will estava completamente fora de si. Em um gesto de pura loucura, tapou a boca de Will com força e o arrastou para longe com a ajuda do policial, enquanto outros se aglomeravam para ajudar. Antes de ter a sua visão bloqueada pela quantidade de corpos fardados, pode ver Marysa virar para trás, como quem ostentava um olhar sutil e pura vitória.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...