Quando finalmente resolvi sair dos meus aposentos reais, já era hora do almoço. Seria indiscreto de minha parte almoçar no quarto de novo, já que havia feito isso no café-da-manhã. Resolvi chamar Mary para me ajudar com as roupas e descer para almoçar com a minha “nova família”. Eu precisava ficar de olho naquela mulher, ela poderia fazer qualquer coisa com o meu pai na primeira oportunidade que tivesse. Será que somente eu conseguia ver que aquele ser não passava de uma interesseira na coroa e não tinha nenhum amor pelo rei? Este, por sua vez, parecia estar perdidamente apaixonado por ela.
Quando adentrei a sala de jantar, todas estavam lá, exceto meu pai. Sarah exigia em um tom exaltado a um mordomo outro tipo de comida, com um nome que não sei nem pronunciar direito, enquanto este lhe explicara que não havia os ingredientes em Illéa e provavelmente demoraria dias para chegar quando pedissem. Enquanto as gêmeas pareciam animadas com as comidas que lhes disponibilizaram, pois estavam com a boca quase explodindo de farofa de bacon e falavam sem se importar se os outros viriam as suas mastigações.
– Se comportem e comam direito! – Sarah repreendia as meninas – Nem parece que moram em um palácio!
Elas tentaram obedecer a mais velha, sem sucesso, eu ainda conseguia ver as comidas balançando em suas bocas. Que nojo! Ninguém tinha notado a minha presença até que pigarreei. Parece que isso foi suficiente para elas ajustarem as posturas e se comportarem como damas de verdade.
– Foi indelicado de sua parte, recusar o café-da-manhã com sua família – Sarah começou me repreendendo.
– A senhora deveria saber o motivo! – Respondi, fixando o olhar em Clarisse e Emanuelle, que ainda estavam com minhas tiaras e meus vestidos.
Ao invés de retrucar a minha resposta, percebi um olhar de satisfação em sua face. Sentei em uma das pontas da mesa e logo após pedir uma limonada suíça ao mordomo, meu pai entrou acompanhado com seu guarda-costas que ficou na porta de entrada.
– Bom dia belas damas! – Ele disse feliz, beijando a testa da sua nova esposa e me cumprimentando com a cabeça.
Antes que eu fosse a primeira a reponde-lo, Sarah se adiantou:
– Bom dia meu amor! Estávamos esperando por você.
Só eu conseguia ver a falsidade no “amor” que ela pronunciara? Não conversamos muito, apenas o suficiente. Durante a refeição, meu pai perguntou se eu estava melhor e disse que não tinha problema de não ter descido naquela manhã, além de afirmar que passaria a tarde comigo.
– Mas eu tinha umas coisas para resolver com você hoje! – Sarah retrucou.
– Cancele os compromissos! – Meu pai disse – Preciso dar um tempo para a minha princesinha.
Sarah ficou emburrada, enquanto era notória a minha cara de satisfação. Desta vez o jogo virou. Eu mal podia esperar para ter a atenção do meu pai só para mim...
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Me divertir bastante com o meu pai ao ar livre (Praticamos hipismo, tomamos sorvete e fizemos alguns desejos na fonte dos desejos, além de conversamos e rimos bastante). Passamos a tarde inteira juntos e no crepúsculo da tarde ele precisou de minha presença em seu escritório pessoal, como uma futura rainha não poderia deixar de lado as obrigações e os trabalhos de praxe. Apesar de minha vida as vezes ser um sonho, tenho coisas tediosas e obrigatórias a cumprir.
______X______
(Alguns meses depois...)
Na noite de Outubro eu pude perceber que a situação de Illéa não estava nada fácil. Ainda que ficasse sempre de olho nos noticiários, nas revistas e jornais, não tinha me dado conta que era tão complicado a insatisfação do povo com relação ao governo do país.
A grande maioria do povo odiava o meu pai por motivos que não eram culpa dele. A divisão por castas era uma de suas insatisfações, e como esta forma de divisão já tinha sido implementada há cerca de nove ou dez gerações era praticamente impossível de retirarmos e pensarmos em outra forma de hierarquia ou coisa semelhante. O único meio que eu conseguia pensar juntamente com o papai era apenas a implantação das políticas públicas, mas parecia não obter resultados. O povo continuava insatisfeito e as castas baixas sofrendo na mão de pessoas de castas superiores.
Além desta insatisfação havia ataques rebeldes para todo lado, tanto contra o povo, quanto contra o próprio palácio e família real. Nós tínhamos de fazer treinamentos constantemente no castelo para conseguirmos escapar de futuros ataques no qual não fazíamos ideia de quando iriam acontecer novamente. Após a morte da minha mãe e do meu irmão, os treinamentos foram intensificados e nenhum dos ataques posteriores causaram grandes estragos. Embora os mesmos estejam cada vez mais constantes e agressivos.
Para não causar pânico na população Illeana, nós abafamos a maioria dos casos de ataques e escodemos como um segredo. O que na minha opinião não é certo, pois assim como nós estamos sempre precavidos o povo também deveria estar e se preparar para tal. Escodemos os ataques por muito tempo e apenas anunciamos os mais violentos no intuito de alertar as províncias que estavam no alvo dos rebeldes, mas agora a situação está cada vez pior, os ataques incontroláveis estão tomando conta das províncias e não dá para esconder do povo o perigo e o medo de uma guerra começar.
Apesar de investimos bastante capital para tentar ajudar as castas inferiores, a pobreza em Illéa é crescente, tudo que pensamos até agora parece não ter um resultado satisfatório. Descobri naquela noite então, que o mundo fora do palácio estava um caos, assim como a minha vida e que o foco de toda a população eram os problemas.
– O povo precisa de uma distração! – Meu pai falou.
– O que o senhor sugere? Já tentamos de tudo, o Jornal Oficial tenta focar em entretenimento, mas os ataques estão agravando cada vez mais e o povo se rebelando... – Respondi!
– Mais políticas públicas! – Ele retrucou.
– Pai! Já tentamos isso várias vezes e o senhor mais do que ninguém sabe que não dará certo.
–Já deu certo antes...
– Isso foi há aproximadamente 7 anos atrás.
– Não custa nada tentarmos novamente...
– Acho que sei o que fazer! – Finalmente tive uma grande ideia – Faremos uma seleção! Assim como o senhor encontrou a mamãe e o povo se tranquilizou.
– Annelise, não é uma boa ideia, até agora só tivemos seleção feminina, imagine este castelo cheio de homens com más intenções?
– Assim como há homens, há mulheres com más intenções, o senhor também se arriscou e eu preciso fazer isso pelo nosso povo! Eu sou a futura rainha de Illéa e não quero que este país esteja um caos quando assumir esta posição.
Papai pareceu orgulhoso e preocupado ao mesmo tempo, ainda assim continuei:
– Por Illéa e pelo futuro reinado da Rainha Annelise – Levantei a mão em saudação – Faremos uma seleção, a primeira da história a ser masculina – Abaixei a mão e pisquei para o meu pai – Dará tudo certo, confie em mim.
– Reforçarei a segurança. Realmente esta parece uma boa solução para conter o povo. Você realmente cresceu Anne, estou orgulhoso de você e já te vejo uma grande Rainha. Você encontrará um ótimo companheiro para governar o povo, assim como eu encontrei a sua mãe. Estarei aqui, aplaudindo de pé a sua vitória – Ele me abraçou com ternura.
Logo escrevi com letras douradas um convite para fazer cópias e enviar para toda casa que contivesse membros masculinos nas idades necessárias:
"A realeza informa
Qualquer moço entre 18 e 24 anos, de todas as províncias de Illéa
pode candidatar-se para a Seleção. Com o intuito de tornar-se o futuro Rei do país.
Além de ter a oportunidade de honrar a nossa grande nação.
A princesa Annelise Windemberg, deseja conhecê-lo.
Filhos de Illéa, a ficha para a inscrição está em anexo ao convite.
Boa-sorte!"
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