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História Intercâmbio - Russian Roulette.


Escrita por: bela_vegar

Notas do Autor


➡Ôh quem voltou? Mega feliz por cada comentário do capítulo anterior, e pelos favoritos! (Não vou mentir, fiquei um pouco triste porque algumas de vocês sumiram, mas eu espero que não me abandonem). Eu amo vocês ❤!
➡Só para não perder o costume: o T.A e a distorção de imagem da nossa Tracy, está fazendo ela ficar cada vez mais magra do que o normal, mas se enxergar gordinha! É claro que isso terá consequências.

➡Ficarei muito feliz com comentários, e opiniões, como todo autor ❤.

Boa leitura.

Capítulo 5 - Russian Roulette.


Fanfic / Fanfiction Intercâmbio - Russian Roulette.

Geórgia, Atlanta.

02 de agosto. – Terça, 16h30.

Acomodada sobre o sofá de couro azul, analiso atentamente a criança que, enquanto estremece todo o corpo, balança-se para frente e para trás, com os olhos fixados no chão. A mulher ao seu lado, aparentada por quarenta anos — que julgo ser a mãe — parece estar acostumada com tal, já que mantem interesse na revista de moda praiana.

Uniformizada por roupas brancas e jaleco de mangas decoradas em tom azul proporcional ao sofá, a secretária que nos atende cerca de meia hora atrás, adentra o ambiente onde estamos, observando a prancheta em mãos.

— Justin Drew Bieber? — Após chamar, como se já o conhecesse ou então, suposto, por já saber o nome do garotinho, olha diretamente para o meu lado. Logo depois dele, levanto-me, o acompanhando enquanto segue a mulher. — O Doutor Thomas Frist o aguarda. — Ao pronunciar, ela abre a porta, nos dando a visão de um pequeno corredor, contendo apenas duas portas. 

— Justin.... — O chamo antes que entre na porta a nossa frente, e cesso os passos. — Acho que eu quero desistir.

— O que? Por quê?

— Eu não sei, não posso fazer isto. — Decerto, o nervosismo ataca todos os meus neurônios. 

— Agora não tem mais volta, Tracy! Já está feito, e eu não posso simplesmente aparecer aqui para nada. — Impaciente, não espera que eu retruque, apenas roda a maçaneta e abre espaço para que eu adentre. Ele tem razão, se eu quisesse desistir, não poderia ser agora. — Doutor Thomas Frist?! — Justin abre os braços e diz, consideravelmente alto, como se estivesse zombando o homem de costa para nós, sentado em sua cadeira atrás de uma extensa mesa. A sala também tem cores azuis, além de ser extremamente aconchegante. Admiro o divã que possivelmente, seus pacientes sentam-se para desabafar e choramingar problemas. 

— Justin Bieber! — Virando-se para nós, o rosto semelhante a um ator, sorri divertidamente. — Senta aí.

— Não sabia que já tinha se formado, e estava atendendo. — Enquanto conversam, eu o acompanho para sentar em uma das cadeiras almofadadas em frente à mesa. 

— Sabe como é, mano. — Thomas eleva o braço, e esfrega o dedo médio no dedo polegar, indicando estar falando sobre dinheiro. — A gente dá um jeitinho.

ligado, fez mais do que certo. — Tenho vontade de bufar, mas controlo e deixo a paciência sã. Que tipo de profissional suborna a universidade para se formar, já tem um pai médico e ainda um consultório de mãos beijadas? O mesmo que você procura para burlar receitas, idiota. 

— Mas foi preciso, ou eu nunca sairia daquele lugar. — Ambos riem como se uma piada acabara de ser contada. — Então, você é? — Seu olhar se direciona para mim, e posso ver suas pupilas extremamente dilatadas. Ao notar minha demora e concentração em seus olhos, um de seus joelhos começa a balançar freneticamente. Para me estimular a falar, estende seu braço em minha direção, deixando os dedos estendidos. 

— Tracy. — Sorrio, apertando sua mão. 

— Tracy, hum. Até que enfim, largou da Hillary. Ela era chata, cara, vivia estragando nossa vibe. — Gosto de pensar que seu linguajar seja usado apenas quando está com amigos, pelo contrário, não passaria pose de médico. — Enfim, o que eu posso fazer por vocês?

— Lembra quando te ajudei naquela parada? — Justin não se manifesta sobre Hillary e confesso ter vontade de rir. 

— Claro, claro. Como eu poderia me esquecer... Devo minha vida a você. — Com certa força, ele joga suas costas para trás, se acomodando na cadeira. 

— Então, ela sabe explicar melhor, mas resumindo, precisa fingir que está tendo acompanhamento psicólogo, e enviar alguma confirmação disso para a mãe. — Após, ainda encarar Justin por alguns segundos, Thomas fixa seu olhar em meus olhos. Ao cruzar seus dedos uns nos outros e apoiar a mão entrelaçada consigo mesmo, na barriga, ambos seus polegares giram em torno dos mesmos. Por alguns minutos, a sala permanece em silêncio e o “Doutor” parece ter congelado no tempo. 

— Hum. — Sua perna esquerda dobra-se por cima da direita. Sinto pequenas gotas de suor formarem-se aos cantos de minha testa, e aperto os dedos sobre as palmas da mão, evitando que ele percebesse estarem trêmulas de nervoso. Confiar em Justin não foi boa ideia. — Vejamos. Você quer que eu fraude receitas e laudos para sua mãe achar que está tendo acompanhamento psicológico? — Engulo seco e apenas confirmo com a cabeça. O homem se aproxima da mesa, tirando suas costas da cadeira, apoia os braços no vidro e deixa as mãos ainda entrelaçadas, encostada em sua boca pálida. O olhar de presumir como eu deva ser, por estar fazendo isso, me corrói por dentro. 

— Não precisa, eu só... — Começo a arrumar a bolsa no ombro, pronta para me levantar, até ouvir e vê-los gargalhando excessivamente, mudando inclusive, a coloração de seus rostos que estão agora avermelhados por falta de oxigênio. 

— Você viu a cara dela, mano? — Thomas pergunta a Justin, limpando as lágrimas antes que escorram para a bochecha. 

— Você é foda. — Justin se recupera aos poucos, e então, cruzo os braços totalmente irritada, segurando para não xingar-lhes, afinal, eu dependo deles e sabem disso. 

— Fique tranquila, Tracy. — Sua mão se fecha e encosta na boca, tossindo amargamente, ainda voltando ao seu estado normal. Parece que Justin vive cercado de idiotas. — Te ajudarei mas para isso, preciso que tenha certeza de que não trará problemas e nem que sua mãe aparecerá aqui.

— Não, isso com certez...

— Ela está fazendo intercambio. A mãe só quer ter certeza que ela está com esse auxílio. — Ao tomar minha frente, me irritando mais. Eu só gostaria de um dia, sem passar raiva sempre que ele está por perto. 

— Bom, então você já deve estar ciente que se eu me ferrar, você e toda a família de Justin se ferram junto, né?

— Sim, eu sei de tudo isso, só faça logo.

— Certo. — Frist anota alguma coisa em um pequeno bloco, retira a folha e me entrega. — Me mande todas as informações que puder, em meu e-mail. Dados, endereço e principalmente, o seu problema. — Problema? Acabo de me sentir uma louca completa. — Após isso, me mande uma mensagem avisando, não costumo acessar a caixa de e-mails com frequência. Esse é o valor da consulta, mas já que está com esse mané aqui, eu vou cobrar só cem dólares.

— Obrigada. Consegue fazer algum relatório, ou coisa do tipo, e mandar para minha mãe até a noite? Ah, e pode colocar o valor inteiro da consulta, ela irá me mandar o dinheiro, então vai desconfiar se for apenas cem dólares.

— Entendo. Tudo bem, acho que consigo. — Acho? O cara pode fazer o que quer e quando quer. Isso seria apenas falta de consideração e interesse. — Só mande o que preciso o quanto antes. — Apenas assinto, sinalizando com a cabeça, e guardo o papel com todo o cuidado do mundo. Por um momento agradeço por ser um idiota de primeira classe, ao ponto de não me perguntar o porquê preciso disto e não quero fazer tudo de maneira certa. Com certeza, Justin saber está fora de cogitação. 

— Pode ir para o carro. — Estende a mão, oferecendo a chave. — Já estou indo.

Reviro os olhos disfarçadamente e a pego, mas antes de sair, alongo o braço para um aperto de mãos, despedindo e agradecendo a Thomas. Mesmo que um retardado, está me ajudando e sendo mais útil do que o esperado.

— E então, tem aí? — Justin pergunta, antes mesmo que eu feche a porta por completo, o que me faz cessar tal ação para poder ouvir do que estão falando. Ele tomou a liberdade de ouvir minha conversa no quarto, então, isso é como um pagamento, porém, o silencio incomum me faz crer que percebam que ainda esteja presente, me fazendo rapidamente fechar a porta e sair às pressas. Aceno e sorrio para a secretária, recebendo despedidas retributas e logo, a mesma abre a porta para mim. 

Vagarosamente, caminho até o porsche observando os grandes prédios espelhados da rua, onde a maioria das pessoas que transitam, vestem-se com ternos ou blazers, acompanhados por maletas pretas e cafés em mãos. Aperto o botão com o desenho de cadeado aberto e rapidamente me acomodo no banco de couro, outra vez. Disco para Nick, já preocupada o bastante e com sentimento de burrice, por não ter o telefone de Irina.

— Alô?

— Nick, finalmente! Eu estou...

— Aqui é Nick Robson. No momento não posso atender ou não quero falar com ninguém. Após o “bip”, deixe seu recado. Se eu não ligar de volta, já sabe o que fazer.

— Ótimo. — Bufo. — Sou eu, Tracy. Eu estou preocupada com você, porque está me ignorando? Quer por favor me dizer o que aconteceu? Eu não fiz nada a você, e se caso contrário, me desculpa. Só por favor, me liga de volta.

Ao arremessar o celular no banco do motorista, as gotas de suor pelo corpo me fazem considerar ser uma tola, a não dar importância nas palavras de Pattie — Além de estar usando roupas preta, a calça colabora para que o calor me deixe mais desanimada ainda. Por sorte, antes de chegarmos pude observar Justin ligando o ar condicionado, não excitando usá-lo mais uma vez.

Presas ao mundo dos negócios, os trabalhadores na calçada me deixam ainda mais impaciente, e para que este sentimento se amenize, deixo que a voz que liberta-se do rádio ecoe levemente alto, confortável o bastante para que eu feche os olhos, e aproveite a pequena brisa batendo sobre a pele de meu rosto. Por um momento, consigo descontrair a tensão. Um problema a menos com minha mãe, confere.

O astral está tão agradável, que permito cochilar por poucos minutos, despertando rapidamente assim que Justin senta-se ao meu lado. Endireito a coluna no banco, e esfrego a palma da mão sobre os olhos, bocejando logo em seguida. Ao começar a dirigir, procuro pelo meu celular, e noto que ele nem se incomoda em estar sentado em cima. De certo modo, é engraçado e deixo para pegá-lo ao chegarmos em casa.

— Estamos kit’s? — Pergunta, analisando-me ligeiramente, instante no qual posso notar seus olhos pouco saltados e a pupila exageradamente dilatada, como Thomas estava. 

— Aham. — Apenas resmungo rangendo a garganta. Eu ainda não estou feliz com o deboche que fizeram. Na verdade, todo dia, ele consegue caçoar de mim, de um jeito diferente. 

Permanecemos quietos, e as fungadas de nariz que ele faz de cinco em cinco segundos — Semelhantes à quando minha rinite ataca, por consequência de aspirar poeira —, são tão perturbantes a ponto de necessitar fazer algo para que ele cesse. Eu não tinha ideia do quanto é irritante.

— Do que se trata a empresa dos seus pais? — O interrogo, aproveitando para matar a curiosidade. 

— Fontes de energia. — Desanimo acompanha sua resposta, sem nem um pouco de interesse. 

— Tipo?

— Petróleo. — Diz, e posso me arriscar que esteja insatisfeito. 

— Nossa! Isso sim é demais. — Enuncio, encantada. Afinal, dirigir um veículo, carregar o celular ou tomar um daqueles maravilhosos cafés da manhã de Pattie — do qual não me dou ao luxo —, provavelmente tem a empresa deles envolvida. E agora, tenho certeza absoluta que nadem em dinheiro e até entenda o porquê do modo como vivem. 

— Não tanto quando eles planejam que eu tome conta de tudo assim que fizer dezoito.

— E você não gosta?

— Eu até gosto, mas... Não é o que eu quero fazer quando me formar. Se quiser, ela é toda sua.

Sorrio ironicamente em negação, já que ele diz como se eu fosse de fato, sua irmã legítima. Se realmente pudesse ser minha, eu aceitaria sem dificuldades. Às vezes, minha ganancia por dinheiro me assusta.

Em pouco tempo, o sol estaria se pondo e Justin estaciona no mesmo lugar de sempre, em frente à sua casa – Raramente usando a garagem. Permaneço imóvel, à espera de que deixe o veículo primeiro.

— Porque precisa de um psicólogo? — O fito, procurando palavras para não respondê-lo diretamente. 

— Não é nada demais. E é por isso que eu sei que será perda de tempo frequentar um.

— Geralmente as pessoas com mais problemas pensam assim. - Acanho a sobrancelha e concordo com a cabeça. 

— Bem, como você mesmo disse mais cedo, você não tem nada a ver com isto. — Justin olha para frente, nitidamente não gostando do que ouvira, mas sábio de que não possa fazer ou falar nada, já que faço das suas palavras, a minha. 

— O que está esperando? — Questiona-me. 

— Você está sentado em cima do meu celular. — Com rispidez, o respondo, já não aguentando mais permanecer ali. 

Ao elevar seu corpo, faz sua mão palpar o banco abaixo de si. Ao pegar o aparelho, me entrega e não adio mais a saída. Entro na casa, a espera de que Pattie me pergunte se tudo havia ocorrido bem e me divertido, mas recordo que esta avisara que estaria em sua empresa até tarde. Neste caso, melhor para mim.

Apresso-me em chegar ao quarto e logo — já que está dando quase seis da tarde — ligo o notbook para acessar a página de e-mail. Retiro de dentro da bolsa, o papel que Thomas me entregara e começo a digitar todas as informações que ele precise. Quando tenho que escrever sobre meu problema, como ele dissera — e isto, deixo por último — congelo em frente a tela iluminada. E se ele contar a Justin? Mas ele não ganhará nada com isso, e eu estou pagando, não tem este direito. Mas ele também não tinha o direito de subornar a faculdade. Resolvo apenas colocar transtorno alimentar e logo em seguida, reforço para que fique em sigilo. Reviso o pequeno documento no mínimo duas vezes e o envio.

[17:56, 02/8/2018] Tracy: Oi, aqui é a Tracy. Já enviei o que me pediu.

Aguardo por um tempo, e o medo que ele demore para ver a mensagem se alastra por todo o meu corpo.

[18:02, 02/8/2018] Thomas Frist: Ok.

Um grunhido toma conta daquele cômodo silencioso e como de costume, o estômago me apunhala por dentro, como castigo após tê-lo deixado desocupado por mais de um dia — já que a última refeição digerida, fora a picanha no almoço de ontem­. Como consequência, toda minha extensão se acalora e minha cabeça parece ter sido sacudida diversas vezes. Eu odeio os efeitos colaterais, se fosse uma pessoa, eu com certeza o esganaria.

Afogo meu corpo sobre os travesseiros arrumados e após algum tempo me concentrando em não sentir tanta fraqueza, direciono-me ao banheiro, no qual pude receber a ducha mais fria que eu já havia tomado em toda minha vida. Mas é o que precisamos.

Sete e trinta e oito.

Termino de colocar meu pijama — um short rosa com detalhes de renda preta, e a blusa também preta — e permito ficar feliz, já que a pequena blusa está mais folgada do que de costume, e o short que antes se agarrava as minhas coxas, também está mais largo.

Isso é doentio.

Não, isso é um passo a mais para a perfeição.

Ao estar com a garganta praticamente seca, água é o essencial para manter o foco, e me culpo por não estar me dando nem mesmo, este prazer. Desço a escada, segurando forte no corrimão de madeira. Você está tão fraquinha, eu tenho orgulho de você. Já na cozinha, pego a garrafa d’água na geladeira acompanhada de dois limões, os levando até a pia e cortando o primeiro ao meio, celeremente, o espremendo no copo. Ao completa-lo com água, num desespero, o líquido invade minha boca. Graças a Deus.

— Justin não me falou que trouxe uma garota para cá hoje. — Viro-me rapidamente e tenho a visão do garoto de cabelos pouco compridos, e um pequeno bigode em destaque no buço. Recordo-me ser um dos amigos de Justin, dos quais ficam todos sentados na mesma mesa do refeitório, em volta do que se acha o maior. — Espera, você não é a...

— Sim. — Volto a encher o copo outra vez, e fazer a mesma coisa com o segundo limão, enquanto o interrompo, já sabendo o que irá perguntar. Todos falam e perguntam a mesma coisa. — Eu sou a intercambista. Prazer, Tracy. — Apresento-me tediosa, ainda de costa, e deposito novamente, o copo na boca. Todos os amigos dele devem ser iguais, o que significa que logo, estará rindo de mim. 

— Eu sou o Chaz. — O fito, enquanto dirige-se até a geladeira. — Não sabia que você e ele já... Ele é mesmo foda. — O moreno diz, impressionado com a sua suposição. 

— Não rolou nada entre a gente! — Reviro os olhos e bufo alto, impaciente, jogando as casas da fruta no lixo. 

— E porque você está de pijama na cozinha dele? — Olho para baixo assim que ele faz o mesmo. Céus, ele deve estar nauseado em ter a visão de meu corpo. 

— Talvez porque eu vou morar aqui por um ano? — Chaz parece pensativo ao cessar suas palavras, me dando a oportunidade de tomar sua frente e guardar a garrafa de volta em seu lugar. 

— É, isso realmente explica tudo. Vem cá, sabe onde estão as cervejas? Elas costumam ficar aqui. — Ele massageia a nuca, enquanto segura a porta do eletrodoméstico aberto, observando todos os alimentos. 

— Hum, não, mas... — Abro algumas gavetas e em seguida, escancaro a porta do freezer, as encontrando. Sério que ele não pensou nisto? 

— Ufa, valeu. — Já animado, começa a coloca-las debaixo do braço. 

— Tudo bem. Meu pai costuma deixa-las no mesmo lugar. — Sorrio, mostrando simpatia ao lembrar de Gary. — Hãm, boa noite. — Desejo, pronta para sair, afinal, eu não serei mais útil em seu interrogatório. 

— Espera. — Outra vez o olho, e ele tenta se equilibrar com duas garras debaixo de cada braço, e três em cada mão. — Sabe jogar truco?

— Claro que sim. — Digo, convencida o bastante. É claro que Gary também tivera dedo nisso. 

— Perfeito. Vem. — Ao tentar caminhar, quase derruba os vidros, então ligeiramente retiro as que estão debaixo de seu braço, as agarrando. 

— Eu te ajudo com isso, mas não vou jogar.

— Qual é! Porque não? — Enquanto faz perguntas, começa a caminhar para fora, não me dando mais opções a não ser o seguir. 

— Eu estou meio enferrujada, então...

— Bobagem. Todos estamos. — Contrariando minha negação, é claro que ele falara qualquer coisa para conseguir me convencer. Como se diz que não quero ficar perto de Justin? 

Passamos pela sala e entramos em um corredor enorme, repleto de portas. Ao termina-las, nos direcionamos a direita e novamente, outro corredor só que mais espaçoso que o anterior, e a última porta frente a nós, me dá a visão do quão iluminado o cômodo está, já sendo perceptível as risadas — a casa é bem maior do que eu imaginara. Assim que adentro, minha atenção vai para o projetor no teto, e o jogo de futebol passando por toda a parede extensa a sua frente. O carpete vermelho, uma ampla mesa colossal de baralho, outra de sinuca e diversos sofás caramelos. Uma sala de jogos perfeita. Justin e mais dois estão jogados de qualquer jeito no sofá em frente ao jogo, e a mesa de centro, repleta de latas e garrafas. Ao nos aproximarmos, todos concentram-se em nós.

— Até que enfim. — Um dos que possui o cabelo mais aparado dentre eles, se levanta às pressas, e ao me ver, cessa sua ação. — Olha só.... Chaz vai pegar a breja e volta com um bônus. — Meu Deus, como são idiotas. 

— Cala a boca, Chris. — Justin resmunga, também se levantando e retira uma das garrafas da mão do amigo. 

— Acho que Justin esqueceu de nos contar que a garota nova está morando com ele. — Ao colocar os vidros em outra mesa, o acompanho, para fazer o mesmo. 

— Porque eu não estou surpreso. — O garoto com pouco cabelo, que na verdade, parece ter raspado, diz e todos, exceto o mesmo, vão para a mesa de baralho. 

— Vem, Tracy. — Chaz chama-me e ao analisa-los, Justin o fuzila com os olhos. 

— O que? — É claro que ele não está contente. 

— Ryan não vai jogar, e ela disse que sabe.

— Eu acho melhor... — Digo, sem poder terminar a frase. Com certeza não quero participar. 

— Não! Vem, vem, eu já estou embaralhando. — Chaz novamente diz, fascinado no baralho. Talvez seja um fanático e desesperado por tal. 

Sento-me em frente a Justin, que não para de me encarar de forma rude. E só então, lembro-me que já que iremos jogar truco, é preciso de quatro pessoas para pares, e sentar de frente para si, nos faz uma dupla. Ele só está com raiva porque pensa que vai perder, me tendo como sua dupla. O que pode acontecer, já que Chaz parece ser sedento por isto.

Todos já temos três cartas em mãos. Justin vira uma carta do monte para determinar as manilhas, e o jogo começa.

{...}

A primeira rodada se encerra em empate. Minha dupla está, de certo modo, me ignorando o máximo que consegue, tentando jogar sozinho, e por sorte, consegue empatar com Chaz e Chris.

— Certo. Já que empatamos, essa segunda rodada decidirá quem irá ganhar. Quem trucar primeiro, vence. — Chris diz, enquanto distribui as cartas. 

— E quem perder... — Chaz se levanta, e volta com uma garrafa de Rum, cuja cor marrom escura me impressiona, depositando-a na mesa. — Já sabe.

Engulo seco, afinal, eles haviam ganhado primeiro e Justin consegue empatar por pouco. São realmente bons.

Finalmente minhas cartas são boas, zaps e copas. Após algum tempo de jogo, fixo o olhar em Justin, assim como ele está fixado em mim, e pisco para ele, o fazendo analisar suas cartas. Logo, ele alça disfarçadamente uma de suas sobrancelhas, me informando através do sinal, que tem um sete de copas, e mesmo que o jogo ainda esteja no começo, decido arriscar.

— Truco! — Digo, com a voz alteada. 

— SEIS! SEIS! — Chaz grita, escandalosamente, socando a mesa o mesmo número de vezes no qual repete as palavras. 

— NOVE! — E é a vez de minha dupla se expressar. Todos nos entreolhamos e Chaz suspira fundo, ele ainda poderia pedir doze, e poderíamos perder. Mas ele foge, apenas jogando as cartas na mesa, decepcionado. Vencemos. 

— É! É! É! É! — Justin praticamente pula da cadeira, também distribuindo vários socos pela mesa, expondo felicidade ao ter vencido. Sorrio, rindo da cena, me divertindo horrores. 

— Meus parabéns. — Ao estender a mão, Chaz parece decepcionado, mas ao mesmo tempo, impressionado, e eu o cumprimento. 

— Está arrependido por ter me chamado para jogar? — Caçoo, aproveitando. 

— Talvez. — Sorrimos e Justin ainda comemora, bebendo cerveja e apressadamente empurra a garrafa de bebida alcoólica para o amigo. 

 — Você e depois, você Chris.

— Certo, certo. Mas isso não vai ficar assim! — Chris resmunga. 

Ambos bebem, quase deixando a garrafa vazia, me possibilitando ficar chocada. Tomei apenas um copo de cerveja na fogueira e posso dizer que me senti mal, imagina tomar algo que deva ser mil vezes mais forte que cerveja, como se estivessem bebendo água, da maneira que estão fazendo.

— Eu vou precisar de pizza agora. — Após esfregar a mão na boca para limpá-la enquanto faz careta, Chaz comenta. 

— Eu peço! — Ryan, que estava deitado no sofá, rapidamente se eleva, já pegando o celular. 

— Bem, essa é minha deixa. — Todos estão tão concentrados em beber, que certamente ninguém escuta o que digo, então aproveito para sair, sem que percebam. Chaz provavelmente poderia insistir para que eu ficasse e eu não irei ingerir 420 calorias de um pedaço de pizza de quatro queijos. 

— Hey. — Antes que eu saia do corredor, ouço e o observo se aproximar. — Pode ficar se quiser. — Justin com a cerveja em mãos, deixa as palavras saírem com certa calma. 

— Tudo bem. Estou cansada então já vou me deitar. — Informo, ao colocar uma mexa de cabelo para trás. 

— Certo. — Ao dar a costa para mim, faço o mesmo, destinando ao meu quarto. 

Por outro lado, os vendo naquele momento, não parecem tão idiotas e crianças como julgo. Os amigos dele parecem ser legais e de certo modo, aquilo me anima.

Uma chamada perdida de minha mãe, e logo, a mensagem da mesma, agradecendo por ter dado importância à nossa conversa de mais cedo e dizendo estar orgulhosa de mim, por aceitar o acompanhamento médico — coitada. Então, Thomas havia conseguido envia-la. Comemoro, pulando na cama e me esticando sobre a mesma, mais calma do que qualquer dia desde que cheguei.

{...}

Geórgia, Atlanta.

03 de agosto. – Quarta, 6h05.

Desperto com a ajuda do celular, e decido ficar na cama por mais cinco minutos. Ainda dormente, sento-me olhando para os lados. Eu estou definitivamente sem coragem para sair da cama hoje. Apática e com lentidão, caminho até o banheiro, onde pude mergulhar o corpo na água, em tentativa de um despertar melhor.

Trajada pelo uniforme, decido que não irei com o blazer, o calor é imenso, e a blusa de manga consegue ser suficientemente calorenta. Milagrosamente, meus lábios recebem brilho e deixo apenas um pouco do cabelo da frente e parte da franja — que não é mais franja, por estar comprida —  preso para trás. Nada mal. Mas eu ainda estou cansada, tão cansada ao ponto de poder dizer que parece que não tivera uma noite de sono. Você só está com fome, imbecil.

Desço vagarosamente os degraus, e dirijo-me até a cozinha. Pattie não está, mas uma mulher, quase chegando em sua vida idosa, de cabelos castanhos, mas ainda assim, repletos de fios brancos, presos a um rabo de cavalo e com um vestido preto que atinge os joelhos, acompanhado a um avental branco na cintura, está colocando pães na torradeira.

— Hãm, oi. — Deposito a mochila em um dos banquinhos da bancada e a examino. Em minha casa, Dona Cássia não é tão formal quanto esta. 

— Ah, bom dia! Me chamo Bridget. Você vai me ver muito por aqui... Principalmente na cozinha! Era para mim voltar só na semana que vem, mas a Sra. Pattie precisou voltar ao trabalho antes, então, eu também. Não se preocupe com nada, já conversamos e o que precisar, pode falar comigo. — Bridget sorri, mas sei que não está contente pela mudança de planos. 

— Entendo. Tudo bem, obrigada. — Digo e na geladeira, retiro um dos sucos iguais ao que Pattie havia me entregado ontem, sem excitar em toma-lo ali mesmo. Talvez agora seja mais fácil ainda, fugir dos carboidratos. Prestes a deixa-la para trás sem mais questionamentos, esfrego o dedo no couro cabeludo, cheia de dúvida. — Sabe me dizer em que lugar eu posso pegar o ônibus?

— Ele passa na esquina. Você verá uma placa. Mas as pessoas aqui não costumam usar esse tipo de transporte, então é bom que você chegue cedo. O motorista geralmente está acostumado a passar reto.

Apenas concordo com a cabeça e a deixo sozinha. Me sinto desvalida após suas palavras, eu entendo que todos aqui nasceram em berço de ouro, e não preciso mais que ninguém deixe isto claro.

Agarro as alças da mochila enquanto caminho até a esquina da rua, apreciando todas as casas. A casinha do cachorro que está na frente de um dos imóveis, certamente é maior que minha casa, e tais pensamentos causam-me sorrisos, já que me indigna a quão dramática sou.

— Onde está indo? — Justin aparece em seu carro, ao meu lado e mantenho minha posição ereta para não mostrar o pequeno susto que me dera. 

— Escola. — Lanço o olhar para baixo, fitando minha roupa, como se estivesse explicito demais, e eu sei que ele está ciente disto. 

— Entra aí. — O motor do carro cessa, me deixando um pouco mais à frente do mesmo, já que permaneço caminhando, mas logo travo os passos. 

— Pode deixar, eu estou bem. — Insisto. — Acho que amanhã Pattie já poderá me levar. — Redireciono-me para o caminho de início e o ouço rindo. — Você só sabe fazer isso? Rir da minha cara? — Sem paciência, volto para frente da janela do passageiro, para lhe mostrar minha face de brava. 

— Eu não estou rindo da sua cara! É só que você é ingênua demais.

— Ingênua? Porque? — Espero uma resposta de braços cruzado. Assim que ele olha para frente, também observo na direção, e o ônibus está passando direto para a rua de cima. Ótimo. O encaro, repleta de raiva e ele acanha ambas sobrancelhas, me fazendo revirar os olhos e entrar mais uma vez em seu carro. 

— Parece que Pattie não conseguiu brincar de casinha por muito tempo. — Diz, ao recomeçar a dirigir. 

— O que quer dizer? Aliás, ela não voltou para casa ontem?

— Tarde. Bem tarde. É bom que você se acostume com a ausência deles. Eles saem de manhã, voltam tarde da noite e talvez se estiver acordada, consegue vê-la, alguns dias ela fica em casa e a maioria dos fins de semana também. Mas é daquele jeito. Talvez agora tire mais folgas, por sua causa, claro.

Mantenho-me calada e provavelmente, é por isso que ele tenha sentido tanta raiva nos dias em que Pattie estava em casa; por ser raro e ela ainda, tinha toda a atenção para mim.

Ao chegarmos no colégio, noto que estaciona no mesmo lugar de sempre — assim como em sua casa, como se todos já soubessem que é exclusivamente seu espaço — e sou impedida até mesmo de abrir a porta.

— Pode voltar comigo. — O fito, demonstrando ironia. 

— Para você fazer como fez segunda? Eu me viro, pode deixar.

— É sério. Desta vez é verdade. — Resolvo apenas pensar sobre, não lhe dou resposta alguma. “Desta vez é verdade”, eu sou mesmo ingênua. — Espera. Sábado vamos para a casa do lago dos meus pais e voltaremos domingo à noite. Não é muito longe, apenas umas duas horas daqui. O que acha?

— Está me convidando?

— Pode levar quem você quiser, é só para os mais chegados. A gente vai encher a cara e fazer o que der vontade. Pode ir de carro comigo, é só uma sugestão.

— Tudo bem, eu te aviso. — Respondo após alguns segundos em silêncio. 

Desço calmamente do automóvel e me encaminho para dentro do prédio. Ainda com dificuldade para abrir meu armário, seguro-me para não o esmurrar, e quando estou prestes para tal ação, o cadeado se abre. Até quem enfim. Enquanto retiro os livros de história americana e inglês, imagino como irei decorar aquele pequeno espaço. Muitas fotos de modelos magérrimas irão ficar espetacular e você ainda, poderá se motivar. É, talvez amanhã, eu comece todos este trabalho.

Desloco-me para a sala quatorze e meu dia acaba de ficar ainda mais iluminado. Nick está sentado na última carteira da última fileira — já que hoje as carteiras estão arrumadas em fileiras únicas. Disparo, praticamente correndo, para a carteira a sua frente, e ele só nota minha presença quando sento bruscamente, sem delongas em virar para trás.

— Quer me matar do coração? — Enfurecida, solto não me importando com o volume de minha voz. 

— Calminha...

— Calminha? Você viu minhas mensagens? Porque não respondeu?

— Eu precisava ficar sozinho, e longe de tudo. Desculpa!

— Caramba, Nick! Você me abandonou ontem. Eu não fiquei com a Lisa e as outras, passei a manhã toda te procurando! — Desesperada, digo como se ele tivesse cometido traição. 

— Calma, Tracy! Eu já pedi desculpas, tudo bem? Já disse, precisava de um momento, para não entrar em pânico só de pensar em reviver as mesmas coisas de antes.

— Eu só vou te desculpar se me contar o que aconteceu. — Ordeno, autoritária. — Eu estou aqui, se lembra? Não vou deixar você sozinho e nem deixar que façam algo com você.

— Você é a melhor, obrigada por isto. — Exuberando gratidão em seus olhos, recebo seu sorriso aliviado. — E eu vou te contar, só não aqui e nem agora.

— Bom dia, turma! Guardem celulares e qualquer coisa relacionado a isto. Caso contrário, a diretoria os aguardam. — O professor entra, sem manter contato visual. 

— Tudo bem, mas eu vou querer saber e nem pense em me enrolar! — Cochicho, murchando os olhos. — E ah! Sábado temos compromisso, te explico no intervalo.

Na verdade, considero ir para a tal casa do lago de Justin, assim que vejo que Nick está fisicamente bem, e resolvo deixar claro que iremos sim, será bom para recompensa-lo e ajudá-lo a se enturmar, como dissera para mim, assim que nos conhecemos. E por mais um momento, meu coração sente conforto.

{...}

História não é o meu forte e isto faz com que eu sinta aquela aula sendo uma eternidade. Ao soar o sinal, Nick apressa-se em ir para a sala de inglês 8 enquanto sigo para a de inglês 9, na qual também está dividida em duplas, como na aula de francês e outra vez, Jaxon me faz companhia — com exceção de meu novo melhor amigo, ele é a única pessoa que não me decepcionou após lhe conhecer, pelo menos ainda não.

— Foi sem pensar, sabe. Eu comentei sobre a bunda de um dos jogadores de basquete, e aquela amiga da Lisa, como é o nome mesmo... Chloe! Estava ao meu lado. — Enquanto nos sentamos na mesa do refeitório, ouço atentamente sobre o ocorrido. — Ela me olhou estranho, muito estranho, e falou que eu era...

— E aí, vencedora! — Recebo um toque no ombro, e ao olhar para o mesmo, não vejo ninguém, mas logo, Chaz está sentado conosco. — Não se acostuma, porque logo logo você vai me chamar assim!

— E aí, Chaz. — Sorrio, animada. — Ainda não superou? A primeira fase é a negação, daqui a pouco você aceita.

— Você é boa, quem diria. — Rimos. — Quero ver ganhar de mim de novo! Revanche? — Ouvimos um assovio alastrado e logo, Chaz lança seu olhar para trás de meu corpo, já se elevando. ­— Ou está com medo? Vamos estar as oito no mesmo lugar de ontem, te espero para perder. — Divertido e convencido, joga a mochila na costa e nos deixa para trás. Nego, ainda sorrindo, do jeito como diz. Volto a concentração em Nick, que está agora, me olhando com as sobrancelhas arqueadas. 

— O que foi?

— O que eu perdi? — Cheio de malícia, apresso-me em contraria-lo. 

— Não, não é nada disso! Eu só jóquei duas rodadas de truco com eles.

— E como você foi parar na casa de um deles? — Nick entorta seu pescoço para trás, e faço o mesmo, notando que ele tem toda a atenção na mesa de Justin. — Ah! Claro, como eu sou idiota. Você está morando na casa do gostosão que se meteu em uma briga.

— Nick! — O reprendo, rindo da maneira naturalista como diz. 

— O que é? É verdade. Eu preciso ir mais vezes na sua casa.

— Ar, isso não importa. A propósito, vamos para a casa do lago dele no sábado, vai ter bebida mas acho que não vai ser para tantas pessoas como na Fogueira. Agora, só continua o que estava falando.

Ao voltar a se animar com o que eu acabara de lhe anunciar, dá continuação ao ocorrido com si. A verdade é que Lisa e as amigas tinham o ofendido preconceituosamente bem em sua cara, e tudo o que tenho vontade, é de estapeá-la.

{...}

Avisto o ônibus sair, e o frio na barriga se expande. Se ele vier com mais desculpas que não poderá me levar, eu irei obriga-lo. Por sorte e para o meu alivio, Justin está sozinho e logo estamos dentro do carro, em direção a sua casa.

— Está mesmo tudo bem se eu levar meu amigo sábado? — Pergunto, garantindo que eu não incomode. — É só ele.

— Fique tranquila.

Assinto, e anseio pela chegada rápida em casa, imaginando o gosto de uma salada de frutas com iogurte, permitindo-me comer a mesma. Você está merecendo.

{...}

O cronograma de Pattie, decerto fora por água abaixo, já que a única coisa produtiva feita por mim naquela quarta-feira, fora jogar truco com eles outra vez. Chaz havia ganho duas e nós, uma. Justin não se pronuncia e nem reclama em fazer dupla comigo novamente.

Encontro com minha host mom, somente quinta-feira à tarde, e a mesma se desculpa por muito tempo, pela ausência, além de me explicar coisas básicas, tais quais Justin já tinha me dito. Além do mais, fica feliz em saber que ele me convidara para a casa do lago, e certamente, está mais pacifica ao saber disto.

Os jogos de truco continuaram rolando durante as noites de quinta e sexta-feira, e mesmo o placar ainda sendo como eu e Justin os que venceram mais vezes, Chaz não aceitava e sempre queria jogar mais e mais para tentar mostrar ser o melhor. Todos são mais legais do que julgo e posso até dizer que meu “irmão” está cedendo-se aos poucos, já que está mais amigável e moderado em relação a minha presença, me permitindo até dizer que eu já esteja um pouco "íntima" deles.

Os episódios de colocar a comida para fora não se repetem mais, já que eu consigo comer pouco, e somente quando quero. Bridget não fica em minha cola tanto quanto Pattie e certamente, facilita um bocado. Finalmente, eu estou feliz com a decisão desta viajem — coisa que nos primeiros dias, achei ser impossível.

{...}

Geórgia, Atlanta.

06 de agosto. – Sábado, 17h48.

Fazem por volta de meia hora que estamos — eu e Nick — no carro de Justin, passando pela pista repleta de vegetação nas laterais. Durante este tempo, somos seguidos por mais quatro carros, e em um deles, Chaz dirige levando Chris e Ryan junto. Não conheço ao certo as outras pessoas dos outros veículos, mas espero que até amanhã, eu os tenha em minha lista de amigos.

Passados mais uma hora e quarenta, finalmente avisto a casa, que mais parece com uma mansão, na qual se contrasta perfeitamente com o lago bem a sua frente e toda plantação ao redor. Ao estacionar, desço rapidamente e posso apreciar o início de uma floresta com arvores enormes, já vistas por mim somente em filmes ou fotos. Direciono-me para frente do lago, e percebo o quão perfeito são os detalhes da entrada da residência. Deixo a atenção agora na água que tem reflexos das árvores sobre, me deixando ainda mais hipnotizada com o efeito natural que o pôr-do-sol fornece para aquela paisagem. Parece um sonho.

 — É o meu lugar preferido. — Justin diz, tirando-me do transe. 

— Seria o meu do mesmo modo... Quer dizer, acho que agora também é o meu. — Exibo meus dentes, ainda fitando o cenário espetacular e como um desmancha prazeres, o estrondo de vidro se quebrando é feito, manifestando uivos de pessoas. 

— Parece que já começaram. — Diz, logo se afastando. — Seus putos! Eu avisei para não quebrarem nada! – Grita, e posso vê-lo correndo para dentro da casa. 

Vejo Nick no porta malas do porshe, retirando nossas pequenas malas. Aproximo-me para ajudá-lo e aproveito agradecer mais ainda, mentalmente, por ele estar presente.

— Já virou a cadelinha do Jay? — Ouço logo em minha costa e paro imediatamente o que estou fazendo, ainda assim, não a olhando, apenas fecho os olhos e respiro fundo. — Ele te leva para passear quantas vezes por dia?

— Eu não tenho nada com ele, está bem? — Viro-me, repleta de coragem e talvez, estar de saco cheio ajude. — E nem quero, ele é todo seu e não precisa se preocupar com isso. Podemos só... Recomeçar?

— Hum, não estou afim de partic...

— Tudo bem, já entendi. — Fecho o porta malas e pego minha bolsa. — Vem Nick. — Passo em sua frente, mas rapidamente, ele está ao meu lado, sorrindo. — Nem me pergunte. — Também esboço felicidade, por finalmente estar conseguindo ter um pouco de valentia. Eu não cobiço ser como no Brasil; calada e deixar que pisem em mim, e o máximo que faço com isso, é chorar escondida e fingir não me importar. Mas essa Tracy, ficou para trás, eu espero. 

Tudo bem, vai dar tudo certo, você só tem que aguentar e simular que ela não esteja aqui até amanhã à noite.

Entramos e tento decidir se a casa de Justin, ou está, é maior. A música já está alta e tenho a certeza de que o que mais os anima é poder deixa-la no volume máximo, sem ter vizinhos para reclamar. Duas meninas estão pulando no sofá, dançando no ritmo do som com garrafas de bebida em mãos, enquanto outros estão na cozinha, conversando. Justin avisa que poderemos escolher qualquer quarto no andar de cima, e nos apressamos em colocar nossas bolsas em um dos primeiros cômodos logo após subir a escada, com paredes cor gelo e apenas uma, da cor cinza escura, a mesma que fica atrás da cama de casal — decidiríamos depois como será para dormir, mas eu realmente não importo em dividir a cama com Nick, creio que não corra risco.

Descemos finalmente de mãos vazias, e fomos para uma parte da casa onde quase todos estão, com alguns sofás e mesas de bebidas. Logo no centro, há outra mesa extensa e copos enfileirados formando um triângulo — me lembrando quando arrumam as bolas de sinuca, antes de começarem a jogar — de um lado, copos vermelhos e do outro, copos azuis.

— Beer Pong, eu adoro isto! — Nick cochicha. 

— Nunca joguei. — Dou de ombros, não cedento tanta moral. 

— Eu preciso mesmo te ensinar muita coisa.

— E então, quem vão ser os primeiros a ficar doidões? — Um outro garoto, mais loiro que Justin, pergunta de braços abertos, ao lado da mesa, e ninguém o responde, apenas continuam conversando como se ninguém se importasse. — Qual é, gente! Hoje é sábado, viemos para cá para isso!

— Eu vou! — E depois de alguns minutos ainda sem resposta, Hillary surge ao lado do garoto, balançando o cabelo como se estivesse em uma passarela cheia de flashes. Bufo, e começo a caminhar para sair dali. Apreciar a lua é com certeza a melhor opção. — E eu desafio a Tracy! — Após praticamente gritar, o lugar finalmente fica silencioso e todos os rostos estão me olhando. 

— Qual é Hillary. — Ao se aproximar da vaca, sua mão empurra o abdômen de Justin, o afastando. 

— Está defendendo ela? — Enquanto causa provocações, não tira os olhos de mim. — O que foi Tracy? Está com medo de não aguentar e perder? Ou você fugiu de um convento e não sabe beber?

— Já cheg...

— Certo, eu aceito. — Furiosa e tomada pela ira, me aproximo, sentindo meu rosto quente, não só pela vergonha de ter a atenção de todos, como também pela raiva que suas palavras me causam, raiva essa que me permite não pensar nas regras desta viagem. Ela sabe bem como conseguir o que quer, e como ter inimigos. 

Rapidamente, forma-se uma roda de pessoas a nossa volta, ainda em quietude. Posiciono-me em frente a pirâmide de copos vermelhos e o loiro alemão me entrega uma bolinha de ping-pong, fazendo o mesmo com minha oponente. Nick está louco para isto, porque simplesmente não pode ser ele aqui? O nervosismo se habita, assim que me recordo o quão ruim de mira sou.

— Muito bem, a cada copo que uma de vocês acertarem da outra, essa terá que os beber. Podem começar! — Ao nos avisar, eu só torço para que ela seja pior que eu, e que não esteja acostumada com isto. 

Ainda se exibindo com os cabelos, empina o quadril para trás e arremessa a bolinha para o meu lado, sem êxito. Ufa. Em minha vez de arremessar, acerto um de seus últimos copos, recebendo grunhidos animados, e a fazendo o virar com agressividade. Outra vez ela arremessa, e agora, acerta meu primeiro copo. O pego, sentindo a temperatura gelada do mesmo, e o depositando na boca. A cerveja é bem mais amarga que a da Fogueira e seguro o máximo para não esboçar cara feia e ser zoada.

Algum tempo se passa, e no momento, posso sentir o peso em minha barriga após cinco copos de cerveja e o pior é que eu não posso nem tomar em pequenos goles, é preciso beber de uma vez para que o jogo continue. A Barbie havia tomado apenas três — eu sou mesmo ruim de mira ­— e parece estar em perfeitas condições, o que não posso dizer o mesmo de minha situação. A sensação de que estou anestesiada e pisando em pequenas nuvens está em meu consciente, é uma coisa totalmente nova e estranha para mim, e posso dizer que não é algo que me perturbe, e sim, me deixa satisfeita, por não estar focando em apenas me odiar.

Após meus dez copos estarem vazio — e o dela, apenas cinco — o jogo acaba, e é claro que eu sou a perdedora, e agora, embriagada, a deixando nitidamente satisfeita.

Provavelmente, ela se aproxima para se gabar da vitória, mas não presto atenção, ou não consigo escutá-la certamente. Apenas rio de sua cara, afinal, a vejo como uma retardada, se doendo por pouca coisa, e rir de si me sacia.

— Você está bem? — Nick mal chega ao meu lado, e o abraço. A minha volta, apenas as pessoas andando e deixando borrões de suas movimentações. 

— Eu estou ótima! Eu te amo, sabia? —  Recebo seus braços também em um aperto. 

— Eu também te amo. Você está bem animada, que tal pegarmos um pouco de água?

— Nick eu estou bem! Nunca me senti como agora. Só vamos aproveitar, não é o que você quer? — Cheia de animação, o faço concordar. — Mas antes eu preciso ir ao banheiro.

— Certo, então vou pegar mais cerveja, e te espero aqui.

— Está bem, eu já volto.

O deixo para trás, e mesmo que enxergando com vultos, decido não subir as escadas e procurar um banheiro por ali mesmo. Devagar, aproveito a sensação prazerosa de leveza e sorrio para qualquer pessoa que apareça em minha frente. Algumas portas não tenho êxito em abrir, e quando finalmente consigo, fixo o olhar por pelo menos dois minutos, na roda de meninos em volta de uma mesa, me aproximando para saber o que estão fazendo.

— Olha ela aí! A campeã de truco! — Mesmo que eu não saiba distinguir pela voz, eu sei que é Chaz. 

— E perdedora no Beer Pong. — Completo, analisando a mesa de perto e com certo esforço, no qual há uma espécie de tabuleiro redondo com uma roleta enumerada de 0 a 36, e em volta, vários copos de shot de vidro, repletos de bebidas coloridas. 

— Em alguma coisa você tem que ser. — Ele diz, mas ignoro para não pensar que sou uma perdedora na vida, focando ainda, no centro mesa e pude escutar que me apresenta rapidamente para os outro. 

 — O que é isso?

— Sério? — Balanço os ombros, envergonhada por não saber, já que um deles parece indignado por isto. 

— Roleta Russa. É igual aqueles jogos de cassino, tá ligada? Mas aqui a gente ganha de qualquer jeito, ficando bêbado.

— Ou perde, quase morrendo de tanto dar PT. — Eles conversam entre si, rindo um dos outros. 

— Fecha a boca, Pether. Então, Tracy. — Dando continuidade a explicação, Chaz permanece ao meu lado. — São 16 copos e cada um com uma bebida diferente, você só joga a bolinha, o número que cair, você bebe a bebida que está no copo correspondente ao número! Algumas bebidas são mais fortes que outras, e misturamos a maioria para ficar ainda mais divertido. — Ao explicar, fica claro o porque dos copos estarem numerados, e rapidamente ele joga o pequeno plástico e gira a roleta. O número que cai é 24, então ele apenas vira o copo com líquido verde na boca, e comemora. — Você só terá azar se cair em algum número que o copo esteja vazio, e aí você perde a vez e passa para o próximo.

— Eu quero tentar! — Estico a mão para pegar a bolinha de si, mas o mesmo me impossibilita. 

— Hey, hey, calma. Tem certeza? Podemos jogar outra vez ou...

— Me dê logo, Chaz. — Retiro-a de sua mão, e a jogo, girando a roleta assim com o vi fazendo, e cai no número 8. Sem excitar, jogo o líquido branco para dentro da boca e engulo. Uma forte queimação se expande por todo o caminho que a bebida percorre em meu corpo, me fazendo espremer os olhos e tossir um pouco. 

— Essa vodka é das boas! — Alguém comemora, e então sento-me ao lado de um deles, para continuar participando. Respiro fundo, e estou pronta para mais uma.  

{...}

Extremamente desnorteada e risadas saindo para fora de mim, incontrolavelmente, após quatro shots, não posso mais distinguir quem é quem, ou até, quem fale comigo, eu apenas converso como se os conhecesse a muito tempo. Para ser sincera, após falar ou ouvir algo, rapidamente esqueço de tudo. É como se tudo fora apagado e eu fique pronta para dar mais risadas.

— Está muito calor aqui. — Digo, secando algumas gotas de suor pela testa. Eu nunca senti tanto calor como agora. Você dever estar bêbada, é! É tão agradável não pensar o tempo todo sobre o que acham de minha aparência, ou pensar em meu peso e somente querer aproveitar cada segundo. Eu quero ficar assim para sempre. — Este ar condicionado deve estar quebrado. — Levanto-me e abano as mãos em meu rosto. 

— Vem, Tracy, é sua vez. — Talvez não é Chaz que me chama, mas o que importa? 

— Tudo bem. — Suspiro e sem pensar, estou retirando a blusa, ficando apenas de sutiã, logo posso ouvir algumas comemorações idiotas e típicas de meninos. — Está ficando melhor. — Sinto-me um pouco mais refrescante sem a peça. Analiso minha mão e já não sei exatamente onde a deixo. Apenas pego outro shot e o viro em minha boca, tossindo mais que o normal, e a sensação de repulsa me atinge desesperadamente, quase vomitando, mas consigo reprimir. 

— Tracy, acho melhor você parar. Vou te levar para o... — Chaz fica frente a mim, e só por isto sei que é o mesmo. 

— Pare de ser chato! Todos estamos nos divertindo.

— Aí, Tracy. Ainda está calor, porque não tira o short? —  Ouço como eco brisando em meus ouvidos, e começo a desabotoar meu jeans, sorrindo de felicidade. 

— Já chega. – Ao segurar minha mão, a retiro rapidamente empurrando Chaz. 

— Me deixa!

— Tudo bem, já que você quer assim. — Observo sua sombra saindo da sala, e graças a Deus, não achei que ele seria tão estraga prazeres deste jeito. 

Abaixo o jeans, e tropeço levemente ao sair de perto do mesmo. Alguns assovios me encorajam a subir na cadeira cuja estava sentada enquanto jogava com eles. Estico os braços para cima e começo a rodopiar, feliz, tentando alguma dança conforme a batida da música ao lado de fora. Paro, e minha cabeça está girando fortemente, me impossibilitando de ver qualquer coisa a não ser mais manchas coloridas repletas de névoas. Sem saber exatamente o porquê — talvez por pedido dos que estão ali —, lanço os braços para trás, tentando abrir o feixe do sutiã.

Cambaleio e ao pisar a minha frente onde já não se tem mais nada, prevejo que irei cair dali de cima, já despencando, mas logo sinto braços pelo meu corpo, aliviando o impacto, me deixando deitada, posição semelhante à quando os noivos estão indo para a lua de mel, e o homem carrega a mulher no colo. Os braços e corpo da pessoa — que me fazem ficar encostada em tais — estão quentes. Ao tentar olhar para cima, a luz afeta meus olhos, me impossibilitando disto, e a única coisa que me lembro antes de entrar em um emaranhado de escuridão, fora a visão da escada.


Notas Finais


Afinco de curiosidade: https://imaginee-believe.blogspot.com/2019/01/capitulo-5-russian-roulette-intercambio.html

••

Eita! Pela primeira vez, Tracy fica bêbada hahahaha.
Não é obrigatório, mas espero que vocês deixem suas opiniões! O que estão achando?

Um beijo!


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