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História Irmãos até que o amor nos separe - Real smile.


Escrita por: Jeff-Sama

Notas do Autor


Gente boa, tudo bem com vocês? :D

Espero que gostem do capítulo.
Ele tem muitos detalhes importantes e revelações.

Ah, sim. Preciso deixar esclarecido que o Gray tem 16 anos, e a Wendy 14. Ele está no segundo ano, assim como o Natsu, a Lucy, Erza. Já a Wendy está no nono ano do fundamental.
Acredito que comentei sobre a média da idade dos personagens no início da fic. Se não, perdon.

Boa leitura.

Capítulo 47 - Real smile.


Fanfic / Fanfiction Irmãos até que o amor nos separe - Real smile.

 

Autor

― Wendy... ― Ambos se fitam por alguns segundos, respirando com extrema necessidade após o longo beijo.

― Um funcionário logo vai vir tirar você daqui, maninho. Vou procurar os meus amigos agora, a gente combinou de ir num outro brinquedo antes de ir embora. ― Ela vai se afastando, explodindo de felicidade, embora estivesse contendo isso. Apenas se vira uma última vez, sorrindo corada para ele. ― Nos vemos mais tarde, em casa.

O moreno fica ali, pensativo e acorrentado.

Havia experimentado algo que não deveria, e que jamais pensou em fazer. Mas o estrago estava feito, tinha beijado sua irmã adotiva, a quem tinha extremo carinho. De repente, Wendy já não parecia a indefesa e inocente menina de 14 anos.

 

~ * ~

Mirajane e Erza compravam os espetinhos na barraca, enquanto Natsu e Jellal esperavam sentados a uma mesa pouco atrás delas. Ambos olhavam em direções aleatórias, fingindo distração com os brinquedos próximos.

De repente, Jellal decide pôr seu orgulho de lado para poder matar sua curiosidade. Não tinha nada em particular contra Natsu, se não por ele ser “inimigo” de Sting.

― Então, você e a Mirajane estão em um relacionamento?

A pergunta deixa Natsu de cabeça leve por um tempo, uma sobrancelha sobe na expressão surpresa.

― E isso te interessa?

― Se não me interessasse, não teria perguntado. ― Retruca meio sem graça, olhando para as garotas a frente. Elas ainda estavam indecisas, ele tinha tempo. ― Eu pedi a Erza em namoro, então preciso me dar bem com as amigas dela. Gosto da Mirajane, acho ela muito educada. Por isso, me interessa saber se estão juntos.

Natsu o encara sério. Realmente não esperava que aquele “amigo do mauricinho” fosse tão curioso com a vida alheia, e nem tão direto. Também não acreditava que ele tinha pedido Erza em namoro, simplesmente não conseguia imaginar tal casal.

Ele decide ser franco.

― Não. Não temos nenhum lance. E já que tocou no assunto, acho bom que respeite a cabelo de sangue. Ela é uma boa pessoa, e não merece ser machucada.

― Claro que vou respeitar a Erza. Um relacionamento só funciona com base em três pontos: Confiança, respeito e afeição. Nós dois identificamos esses pontos um no outro, e por isso tivemos coragem de confessar nossos sentimentos.

Ambos se calam quando notam as garotas chegando.

― Aqui, Natsu! ― Mirajane o entrega um espetinho de carne bem caprichado. Natsu a faz rir com aquela cara de admiração, parecia uma criança faminta. ― Espero que esteja gostoso.

― Hmm... Sim, tá bem gostoso! ― Ele estranha aquele espeto de doces que ela mordiscava tão devagarinho. ― O que é isso?!

― Ah, o meu é de uvas com cobertura de chocolate e marshmallows. Quer experimentar?

― Quero, parece muito bom.

A albina cora ao vê-lo tão próximo. Natsu aguardava com a mão estirada, mas ela aproxima o doce de sua boca. Jellal e Erza observavam tudo com rubor nas bochechas, e então a ruiva faz o mesmo com ele.

― Jellal... quer um docinho também?

― Vo-Vou adorar experimentar, Erza.

O azulado mordisca uma das uvas, sentindo-se quente com aquele beijo indireto. Natsu, por sua vez, havia pego duas de uma só vez.

― Hmm, ham... É muito bom!!

― Não é? ― Mirajane se derrete, balançando-se para os lados. ― Eu amo os doces, porque eles são agradáveis aos nossos olhos e depois ao paladar! Quando os como, fico mais feliz sem motivo algum.

― É-É mesmo? ― O rosado fica surpreso, e depois sorri para ela, voltando a comer sua carne. ― Qualquer dia desses, vou retribuir por esse lanchinho de hoje. Pode escolher o doce que quiser, Mira!

― Ah... Não precisa! Não se sinta obrigado a devolver nada, por favor, Natsu.

― Não é por obrigação, só quero devolver a gentileza da “garota caramelo” e vê-la feliz comendo muitos doces.

Ela desvia o olhar, sentindo-se leve. Queria poder gritar para todos naquele parque que finalmente estava se sentindo mais próxima do cara que gostava.

Todos terminam de comer e depois vão tomar um suco.

Natsu fica contente ao ver seu amigo se aproximando com um saquinho de água na mão. Um peixinho dourado nadava naquele espaço mínimo.

― Rogue, pensei que tivesse ido embora depois de perder tantas vezes lá no tiro ao alvo. ― Ele o atiça, fazendo uma carinha maldosa.

― Natsu-kun, pois saiba que eu consegui... Depois de umas trinta vezes, mas consegui. Aquela menina filha de uma mãe e de um pai continuou me atazanando até o fim, então isso torna a minha vitória ainda mais grandiosa!

Só então Rogue percebe que Natsu não estava sozinho ali. Ele faz uma reverência leve, cumprimentando aos demais.

― Boa noite, nerd... Digo, Rogue, perdão!! ― O rosto da ruiva ganha a cor de seus cabelos, enquanto todos dão risada. ― Desculpa mesmo, é que acabei pegando o palavreado da Lucy!!

― Tem problema não, ruiva maligna. ― Ajeita os óculos, altivo, erguendo o saquinho a altura de seu rosto. ― Gosto de ser nerd, me torna um pouco superior aos demais. Olha aqui meu peixinho, que consegui graças aos meus cálculos matemáticos.

― Parabéns, Rogue! ― Mirajane bate palmas, olhando atentamente mais de perto. ― É um lindo peixinho. Natsu doou o dele para um garotinho que havia perdido o seu.

― Natsu-kun fez isso por uma criancinha?! ― Segura o rosado pelo ombro, seus olhos brilhantes. ― Meu herói! Isso sim que é ser altruísta, isso que é ser homem, isso que é ser humano!

Natsu desvia o olhar, num bico.

― Tá me deixando sem graça...

― Natsu, você é um cara legal. Precisa aceitar os elogios quando eles vêm por mérito. ― Erza o surpreende, mostrando o polegar. ― Me arrependi por tê-lo julgado mal no começo, e concordo com o Rogue em tudo que disse.

― Ah, valeu...

Jellal estava apenas observando, um tanto tímido e ciumento. Ele sorri para a ruiva, pegando sua mão.

― Vamos embora, Erza? Amanhã precisamos acordar cedo, todos nós.

― Vamos sim. ― Ela acena. ― Até amanhã meus amigos.

― Até!

Mirajane se encolhe, esfregando seus braços. Estava arrepiada com a corrente fria reaparecendo por ali.

― Acho que também vou indo. Meninos, foi muito divertido passar essa noite aqui com vocês.

― Se você já vai, vou acompanha-la até em casa. ― Mirajane fica em êxtase ao ouvi-lo. Jamais esperava por isso. ― Vambora, Mira.

― Natsu... tem certeza que pode me acompanhar? E depois para você voltar, é um caminho considerável até sua casa...

― Eu caminho depressa. Gosto de andar pela noite, fazia isso as vezes quando fugia do orfanato.

Rogue não tinha gostado tanto disso.

― Natsu-kun, vai me abandonar?! E o Gray, ele ainda não deu as caras depois de ter sumido com você naquela hora.

― Gray encontrou a irmã pouco depois que nos separamos. Ele com certeza vai embora com ela. Acho melhor cê pegar um táxi até sua casa, tá com dinheiro né?

― Sim. Então tchau, até amanhã. Mira-chan, cuidado para não dar de cara com uma barraca de comida pelo caminho, senão esse comilão aí vai zerar sua carteira.

A albina ri junto dele.

― Obrigada pelo aviso, Rogue.

Natsu e Mirajane vão embora e Rogue fica aguardando o táxi na saída do parque. Ao longe, Juvia observava tudo, segurando o algodão doce ainda intocado desde que comprara. Havia ido até lá para poder se distrair um pouco, mas viu quando Gray saiu correndo atrás de sua irmã e ambos foram de mãos dadas para casa.

Aquilo fez sua noite ficar ainda mais escura e fria. Seu algodão é jogado no chão e pisoteado. Ela seca a lágrima solitária que ameaçava cair por seu rosto.

Preciso dar um jeito de me aproximar do Gray. Se não posso ter amigos, preciso de um namorado que fique comigo em todos os momentos difíceis. Vou conquistá-lo, nem que para isso precise arrebentar com aquela mini-piranha Wendy.

 

~ * ~

A ficha ainda não tinha caído, mesmo depois de ter ido todo o caminho ao lado de Natsu. Quase não conversaram da metade do trajeto até chegar em sua casa. Estava na hora de encarar sua vergonha e mandá-la ir embora.

― É aqui que cê mora? ― O rosado indaga, olhando brevemente para a casa. Ele estranha o comportamento dela, que não tirava os olhos do chão, as mãos apertando o tecido do vestido. ― Mira, que que tá pegando?

― É que... Estou muito feliz que tenha me trazido até em casa, Natsu. Não faz ideia do quanto estou surtando internamente por causa disso. ― Natsu fica sem reação. Ela consegue fazer um esforço para encará-lo. ― Muito obrigada, você é um anjo para mim.

― Valeu, mas... Passo bem longe de ter asas. ― Diz, coçando a cabeça enquanto olha em volta. Mirajane ri baixinho, achando-o ainda mais angelical. ― Então, vou nessa. Está entregue, Mira.

― Hu. ― Ela assente, com aquele sorriso tímido de olhos fechados.

Antes que Natsu pudesse virar as costas, uma voz alta e perturbada estrondeia pelo outro lado da porta da casa. Elfman a abre violentamente, deixando ambos assustados.

― Mirajane, estava esperando você voltar para pegá-la no flagra quando tentasse entrar de fininho em casa. Mas você ainda tem a indecência de chegar aqui acompanhada por um moleque?! ― O portão estava aberto, foi uma questão de três segundos até puxá-la para dentro. Ele fecha, e em seguida vai caminhando até Natsu. ― Não tem educação, moleque? Sair numa hora dessa atrás de uma garota decente é coisa de marginal!

― Irmão, pare, por favor! Ele é meu amigo, só estava me fazendo companhia para que eu chegasse bem em casa!

― Cala a boca, a gente vai conversar depois, lá dentro!

Elfman dá um empurrão em Natsu, instigando-o para uma briga. Era mais alto e de porte físico mais elevado que ele. Tinha certeza que o quebraria na primeira tentativa que ele fizesse em acertá-lo.

― O que foi, vai arregar? Se meteu com minha irmã, então vai ter que acertar as contas comigo agora!

― Irmão dela, você? ― Diz calmamente, intercalando para a albina atrás do portão e para o grandão a sua frente. ― Não tem nada a ver com ela. A Mira é uma pessoa boa demais para tê-lo como família.

Elfman não espera ouvir mais nada, e joga o braço rapidamente para acertar um soco em seu rosto. Natsu desvia, dando-lhe uma rasteira que o leva ao chão. Elfman tenta se levantar, mas sua visão estava o dobro de turva agora, e suas costas doíam muito.

― Ele sempre fica bêbado assim, Mira? ― Indaga, vendo-a se aproximar dele em passos grogues.

― S-Sim...

Ela Já não aguentava aquele mesmo filme, que se repetia quase todos os dias. Novamente, teria que arrastar seu irmão até o banheiro, e deixar que a ducha gelada quebrasse parte de sua inconsciência.

Natsu a ajuda a carregá-lo para dentro de casa. Elfman balbuciava palavras desconexas a todo momento, fazendo-os repudiar o forte hálito de álcool.

― Perdão, Natsu... Você não tem nada a ver com isso, e ainda assim está aqui aturando o meu irmão bêbado comigo. ― Suas lágrimas caiam sem parar, enquanto observava a água cair sobre o mesmo esparramado no chão. ― Eu só queria que tudo isso acabasse... Que Elfman voltasse a ser o meu irmão carinhoso e sábio. Não aguento mais vê-lo se perdendo em bebidas e amargura.

O rosado permanece em silêncio, pensativo. De repente ele desliga o chuveiro, vendo-a curiosa.

― Cê sabe fazer café, né?

― Ca-Café? Sim...

― Então faz um bem forte pro seu irmão, ele vai ajudar a quebrar o efeito da bebida também.

― Nunca tentei isso, mas vou fazer agora mesmo. ― Ela se apressa, mas volta antes de pôr o outro pé fora dali. ― Mas e ele...

― Vou ficar vigiando, pode ir sem medo.

― Tá!!

Natsu encara Elfman com um semblante de dar medo. O homem ainda estava um tanto grogue, mas conseguia sentir os arrepios por estar sendo alvo daquele estranho em sua frente.

― Irmãos mais velhos deveriam cuidar de seus irmãos mais novos, né não? É assim que funciona. A sua irmã o admirava, ela acreditava em você. Não é ruim se sentir um lixo, perder o valor que tinha aos olhos dela?

― Qu-Quem é você para me dizer essas coisas... ― A pergunta sai entre cortes e soluços. Natsu continua sério, paciente. ― A minha irmã morreu faz tempo... não preciso mais ser bondoso... porque ela se foi e deixou uma bruxa no lugar.

O rosado fica surpreso ao vê-lo chorando.

Aquele grandalhão estava mostrando um lado sensível que há muito tempo havia selado do mundo exterior.

― Eu continuo mantendo essa porcaria de vida adiante porque... a minha vozona gostaria que eu fizesse isso por ela... pela bruxa que tirou sua vida. Minha vozona tinha um coração tão grande, que mesmo sendo traída pela própria neta, tenho certeza que a perdoou lá do céu.

― ....

 

~ * ~

Elfman já estava quase cem por cento lúcido. Só sentia-se um pouco zonzo e desconfortável, mas o banho frio e café forte o trouxeram à realidade. Natsu havia o ajudado a ir até o quarto para se trocar. E mesmo assim, ainda não gostava da ideia de um estranho estar sentado no sofá a sua frente, encarando-o como se fosse um guarda vigiando um louco no manicômio.

― Por favor, me prometa que vai ser gentil com a sua irmã.

― Pela milésima vez, quem diabos é você para me dizer o que devo ou não fazer com ela?! Sou eu que coloco comida na mesa dela, e que pago aquela porra de escola!

― Elfman!!

― Sou amigo dela, e vou fazer da sua vida um inferno ainda pior do que aquele que cê comentou viver, se não passar a tratá-la bem.

― Ela... ― O de cabelos brancos espetados a encara com desgosto. Mirajane estava aflita, de pé entre eles, sentia seu peito doer de tanta tensão e culpa. ― Ela matou a nossa avó!! Como quer que eu a trate bem, você não sabe de nada!!

O rosado levanta-se rapidamente, furioso.

― Coloco as minhas duas mãos no fogo... ou melhor, posso me atirar dentro da fogueira se for preciso provar que acredito na Mira! Não sei como e porque pensa isso dela, mas eu sei que jamais faria isso com alguém, muito menos com a própria avó!!

Mirajane sente-se transportada para outro mundo. Natsu estava à frente da situação, como seu escudo. A dor em seu peito ainda era grande, e a garganta começava a se fechar novamente para as palavras que ela jamais conseguia dizer.

Aquele momento não se repetiria outra vez. O garoto por qual ela nutria fortes sentimentos estava ao seu lado, defendendo-a às cegas, contando com o pouco que a conhecia. Natsu estava sendo seu anjo a frente da guerra travada por seu irmão há tanto tempo, lutando por ela com espada e escudo.

Era sua chance de chegar ao outro lado do campo de batalha, e pôr um ponto final no pesadelo.

― Cala a boca, fora da minha casa, moleque!!

― Não vou embora até que se acalme e prometa que vai deixar a sua irmã em paz!!

― Eu tô perdendo a paciência de vez, vai agora...

A albina gesticula para que ele permaneça sentado.

Elfman fica chocado com aquela expressão contida, que por trás claramente estava em pranto. Nunca havia a visto daquela forma.

― Elfman, vou lhe dizer exatamente o que aconteceu naquele dia...

 

*

Desde pequenos criados pela avó, os irmãos Strauss nutriam grande amor e admiração pela mesma. Vovó Zina era sempre muito sorridente. Nada nunca era ruim o suficiente para que ficasse irritada ou triste, pois para ela, coisas piores poderiam estar acontecendo.

Sua filha, a quem deu tudo de si, acabou se perdendo no mundo das drogas quando se envolveu com más influências depois de perder o marido para outra mulher. Zina pensava mais nos outros do que em si mesma, e com isso, amava seus netos imensuravelmente, como se fosse a própria mãe deles. Jamais os deixariam tomar o mesmo caminho que sua filha.

Elfman não se importava tanto, mas sua irmã caçula fazia questão de acompanhá-la para todos os lugares quando possível. Um dia, Zina preparou muitas sacolinhas com seus biscoitos caseiros de chocolate e as duas foram até um orfanato para poder distribuí-los.

― Vovó, então aqui é um lar de crianças sem pai e mãe? ― Pergunta em sua inocência, tendo uma pequena noção pelo que vira em novelas e filmes. ― Deve ser triste para as crianças que moram aqui, não poder conhecê-los.

― Em alguns momentos, sim, netinha. ― Diz, de mãos dadas com a pequena que carregava a cesta. Seguiam a educadora pelos corredores. ― Mas eles têm uns aos outros, e acabam formando uma família de muitos irmãos. Como brincam, comem, estudam e até dormem juntos, a tristeza quase não tem tempo de fazer nada com eles.

A menina fica deslumbrada com aquelas palavras, vendo o sorriso fofo que a boa senhora lhe mostrava. Saber que os órfãos não sofriam tanto como mostravam na novela, a deixava aliviada.

― Crianças, esta é a senhora Zina, ela veio aqui para entregar algo bem gostoso para vocês. Deem as boas-vindas!

Bem-vinda, senhora Zinaaa! ― Cumprimentaram em uníssono, com grande alegria.

Era sempre uma surpresa boa receber alguém de fora do orfanato, pois sabiam que só poderia se tratar de duas coisas: Presentes ou uma chance de serem adotadas.

Mirajane fica encolhida atrás da velhinha, um tanto tímida como seu habitual. Lhe chamara a atenção que, dentre as trinta crianças presentes naquela sala de estudos, uma única permanecera em silêncio, concentrado no que fazia em seu caderno. Aquele menino de boné e curativo no nariz faz rabo de olho para ela por um instante, fazendo-a encolher-se mais.

Zina começara a distribuir as sacolinhas, passando por entre as mesas com quatro crianças cada. Sua neta a seguia, segurando em sua blusa.

― Tia Rose, o boboca do Dragneel está usando boné outra vez, e disse que ninguém vai fazer ele tirar! ― Dedura um colega, apontando para o mesmo na mesa mais ao fundo. ― E tem mais, ele disse que...

O menino arregala os olhos quando o vê com aquela expressão séria de dar medo, amassando várias folhas de caderno para fazer uma bola. Antes que a educadora pudesse intervir, ele atira o amontoado com força para acertá-lo. Mas o resultado não foi o esperado.

Aquela tímida visitante, que viera com sua avó, havia ficado de propósito na frente do garoto, e levara o golpe na testa em seu lugar. A educadora fica pasma, todos no mais profundo silêncio por três segundos.

De repente, as crianças começam a dar risada da testa que ganhara um vermelho depois da bolada. Mirajane começa a chorar baixinho, olhando para todos eles.

― Crianças, parem agora mesmo de rir! Isso não foi nada legal! ― Rose ordena, constrangida. A todo momento buscava o olhar de Zina, que parecia não ter se alterado nenhum pouco com o que fizeram à sua neta. ― Senhora Zina, mil desculpas por isso! Eu juro que conversei com todos, e pedi que se comportassem.

Zina não conseguira abrir a boca para responder. O menino de boné sobe encima da mesa e rosna para todos os colegas, furioso:

― Não riam dela, seus bundões!! Eu queria acertar o Gajeel, então deem risada dele quando eu acertá-lo bem na fuça da próxima vez! ― Todos param imediatamente. Ele salta da mesa, e caminha até chegar na albina, que também cessara o choro com aquele show. Mirajane fica tensa a princípio, vendo-o tirar aquele curativo do nariz e depois colar em sua testa. ― Não tenha nojo, não tem nenhum machucado no meu nariz, tá vendo?

Realmente não havia nenhum arranhão sequer.

O garoto dá uma risadinha, que a deixa de coração acelerado. E então continua:

― Eu só botei ele porque não queria vir pra aula hoje... ― Faz bico, olhando para a educadora. ― Mas a chata da Rose não acreditou que eu tinha batido de cara na pia do banheiro, e cheirou a tinta da caneta vermelha que usei para dizer que era sangue...

― E-Eu...

― Tá tudo bem agora? ― Indaga, vendo-a assentir de olhos brilhantes em lágrimas. Ele encara sua avó, e ousa pegar uma sacolinha de dentro da cesta. ― Valeu, senhora. Pode continuar entregando, se alguém arranjar confusão, eu vou jogar pra fora dessa sala.

Aquela foi a primeira e última vez que Zina levara sua neta naquele lugar. Não por conta do que aconteceu, sabia que crianças poderiam aprontar a qualquer momento, e não tinha sido nada grave. No fim, sua neta saiu dali sorrindo, contente pelo curativo de patinho que ganhou daquele menino.

 

*

Há três anos.

Zina adoecera, ficou extremamente frágil de um momento para outro, e descobriu tarde demais que se tratava de leucemia. Ela enfrentou os tratamentos, com muita fé e força de vontade para poder voltar para casa e continuar ao lado dos netos. Mas infelizmente, isso não foi o suficiente. Acabou sendo internada definitivamente, dependendo de tubos para poder respirar.

Elfman estava responsável pela casa e por cuidar da irmã. Trabalhava o dia inteiro, então não podia fazer visitas constantes para a avó. Sua fé era inabalável ainda assim. Ele contava com Mirajane para que os dias de sua avó não fossem vazios. Quando saia da escola, ela ia diretamente para o hospital, e contava sobre tudo o que acontecia em seu dia.

― Hoje comi bolo de morango, vovó! ― Dizia feliz, fazendo um carinho no braço da mesma. Era tenso ver sua velhinha naquela situação, toda cheia de fios ligados ao corpo e com aquela máscara para ajudá-la a respirar. Havia dias em que saia de lá sem ouvir uma só palavra dela, ou sequer vê-la acordada. Mas continuava conversando, como se estivessem em casa, bem. ― Ah, e depois da aula de educação física, a professora perguntou por você... eu disse que logo vai melhorar, e que vamos poder voltar a cozinhar juntas. Ela está ansiosa para provar aquele guisado de carne que só a senhora sabe fazer.

Zina abre os olhos, se deparando com o genuíno sorriso da garota, que continuava lhe fazendo carinho. Não havia escutado nada do que tinha falado, mas podia imaginar que estava ali narrando seu dia como sempre fizera, cheia de entusiasmo. Mirajane se emociona ao notar que havia acordado.

― O seu sorriso é lindo, netinha. Ele me faz querer sorrir também, e contagia todo mundo ao seu redor... Por isso, sorria sempre, mesmo quando não tiver motivos para isso. Pense que pode estar ajudando a melhorar o dia de alguém.

― Vovó...

*

Dois meses depois, a situação de Zina havia piorado.

Estava demasiada magra, de forma que assustava qualquer um que a tivesse conhecido antes. Aquela velhinha gordinha e sorridente, parecia outra pessoa. Eram constantes os ataques, onde ela sentia uma dor insuportável, que parecia transcender sua carne e ir até a alma. Estar acordada era como estar no purgatório em vida.

― E então, doutora, o que está acontecendo com a minha avó, afinal?! ― Indaga Elfman, com os nervos à flor da pele desde que recebera a ligação da mesma, pedindo para que fosse até lá com urgência. ― Me diga logo, por favor!

― A senhora Zina ficou cega depois que a infecção piorou... Ela teve diversas hemorragias há poucas horas... Estava gritando em muita dor... ― A mulher estava segurando as lágrimas. Sabia que cedo ou tarde teria que dizer aquelas palavras, que teria que se despedir de sua paciente. ― Ela...

― Não... Não...

A garganta da mulher se fecha. Não sabia como dizer aquilo. Ela pede para que a siga até o quarto, explicaria tudo ao chegar lá. Elfman foi em pranto, com um pingo de fé restante em seu coração. Acreditando que sua avó poderia acordar a qualquer momento, que um milagre ainda poderia acontecer.

Quando adentra o quarto, encontra Mirajane com uma expressão vazia, os olhos pareciam querer saltar a qualquer instante, vermelhos de tanto choro. Dois enfermeiros a seguravam pelos braços, enquanto ela continuava tentando se livrar, já sem forças.

― Mi-Minha irmã... O que ela está fazendo aqu...

Ele olha para a cama onde sua avó estava. Os fios e aparelhos que deveriam estar conectados a ela, agora estavam todos jogados ao chão.

― Mas... O que... A minha vozona...

A médica não consegue conter o choro.

― A sua irmã voltou ao quarto ontem à noite, depois de ter fingido que havia ido embora... Ela ficou escondida atrás das cortinas o tempo inteiro... Presenciou tudo o que aconteceu à senhora Zina mais cedo.

― Não, não pode ser...

A mulher olha para Mirajane, que agora havia parado de vez, ajoelhando-se sem força alguma.

― Mirajane desligou o equipamento que a mantinha respirando, lhe tirou todos os fios e tubo... Tudo no intervalo que fizemos para preencher os laudos e contatar o senhor, para saber se desejaria ou não desligá-lo.

― A minha irmã não fez isso... Não, ela não, por favor... Diz que não foi você, mana!!

― .....

― Manaaaaaa!!

Tudo o que a albina conseguia pensar naquele momento, eram nas palavras de sua avó, as quais ela falou no dia anterior depois de ter perdido sua visão. Estava destruída por dentro, incapaz de lidar com o mundo real.

Dia anterior.

― Netinha...é você...?

― Si-Sim, vovó... Sou eu... ― Sua voz sai quase inaudível.

― Está doendo muito... Muito... Por favor, me ajude...

― Vovó, vou vou chamar a enfermeira!

Lágrimas corriam sem parar pelo rosto da velhinha, que já não conseguia enxergar nada, e sequer gritar sua dor. Ela sentia como se buracos fossem abertos por todo seu corpo, as dores eram agonizantes.

― Não... não consigo mais suportar... desliga... desliga tudo... estou implorando...

A garota não conseguia acreditar naquele pedido. Seu coração implorava por um milagre, ainda acreditava que sua avó poderia sair daquela situação. Mas no momento em que ouviu ela pedindo aquilo, desistindo, teve certeza de que ela estava certa sobre sua partida.

A médica adentra o quarto rapidamente, assustando-a.

― Mirajane, não pode mais ficar aqui. Vá para casa, entraremos em contato com o seu irmão quando for necessário.

A albina olha uma última vez para ela, e então sai dali. Ficou sentada num banco da lateral do prédio, pensativa sobre o pedido, perdida.

Para ter pedido isso, vovó deve estar sofrendo muito mesmo... Deus... não quero que ela sofra, não quero que sinta mais nenhuma dor!

A albina deu um jeito de entrar por uma janela, que dava para o almoxarifado do térreo. Depois, tentou agir normalmente para não chamar a atenção, tomando cuidado para não ser vista por ninguém da equipe que cuidava de Zina.

Ela adentrou o quarto da avó, e ficou escondida ali detrás das cortinas, observando-a, numa insistência absurda, dando a última chance para que o milagre acontecesse. Zina parecia estar dormindo tranquilamente, sabe-se lá o que fizera a médica, havia deixado ela inconsciente. O resto do dia e noite foi de muita oração. Já não sabia que horas eram, mas estava de dia outra vez. Rompendo o silêncio de muitas horas, Zina acordara aos gritos. Mirajane não se importou mais se iria ou não ser vista, e correu até ela.

Sua avó sangrava pelo nariz e boca, debatendo-se com as poucas forças na cama. As únicas palavras que balbuciava em meio a dor, eram: Socorro, netinha.

― Vovooooó!! Por favor, não vá emboraaaaa!!

Quando menos percebe, estava atendendo ao pedido.

Fio a fio, e depois o aparelho desconectado por suas próprias mãos. Tudo em menos de dois minutos.

― Miraj... ― A médica e as enfermeiras adentram incrédulas, vendo-a em pranto por cima do corpo imóvel.

― Vovoooó!!

 

~ * ~

Agora.

Elfman sentia o suor frio descendo por seu rosto. Assim como Natsu, estava de expressão pasma petrificada para ela. Agora ele entendia o todo, a versão pelos olhos de quem esteve sempre perto de Zina desde que ela fora para aquele hospital. Comparado ao que ele sofreu, Mirajane havia suportado toneladas a mais, todos os dias.

― Mira... Mana... Por que não me contou tudo isso antes...?! ― Diz, rouco, a voz quase falha. ― Por que guardou para si mesma que a vozona pediu para que fizesse isso?!

― Se soubesse que vovó pediu por aquilo, tenho certeza que concordaria em desligar os aparelhos. Fiquei com medo de que você carregasse essa culpa também, Elfman. Só um de nós com as mãos sujas, já bastava.

Elfman vai cambaleando, até abraçá-la. O arrependimento por tratá-la tão mal, por ser frio durante todo aquele tempo, o inundou.

― Perdão, mana! Me perdoa por tudo o que lhe fiz e falei de ruim, você fez tudo pelo bem da vozona e por mim, continuou sendo incrível e eu não lhe dei o mínimo de valor que merecia!

― Está tudo bem, irmão... Você não sabia de nada, pensava que fiz aquilo por imprudência e egoísmo. Foi melhor assim, mas... ― Ela sente-se leve, e tinha certeza que aquelas eram suas últimas lágrimas de sofrimento. Natsu os observava num pequeno sorriso. Tentava conter as lágrimas, mas precisou se virar para secá-las. ― Finalmente poderei sorrir de verdade de agora em diante, como ela queria.

O rosado vai se retirando.

Mirajane o faz parar, e o abraça também, muito forte. Natsu conseguia sentir seus sentimentos, sua enorme gratidão.

― Obrigada por existir, Natsu... Obrigada.


Notas Finais


Revelações, finalmente!
Mirinha ;^; és uma garota incrível.
Natsu, adoro esse seu companheirismo :3


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