O quarto começou a ficar mais claro conforme o sol foi nascendo e eu sentei na cama para poder ver Brendon direito. Ele havia perdido a coberta durante a noite. Estava sem camisa e com uma calça de moletom. Deitado todo torto, com o rosto embaixo da mão e a barriga para baixo. Eu vi seus braços arrepiados.
Levantei e puxei a coberta dele, embolada no pé da cama, e estiquei em cima de seu corpo. Ele nem se mexeu. Voltei a deitar, mas não dormi nada. Até que Brendon acordou.
Ele sentou na cama e esfregou os olhos. Esticou os braços, espreguiçando-se, e pensei em como queria acordar ao seu lado todos os dias. Ele esfregou a testa e fez uma careta, então me olhou.
- Ryan... - Falou e voltou a esfregar a testa.
- Tá tudo bem?
- Minha cabeça tá horrível.
Eu levantei da cama e comecei a mexer em minhas coisas procurando um remédio que eu tinha em algum lugar. Eu o encontrei e levei para Brendon. Ele tomou e deitou na cama, escondendo o rosto nas mãos.
- Tá doendo muito, é ruim até de abrir os olhos.
Sentei na ponta de cama de Brendon e me debrucei um pouco para alcançá-lo. Coloquei um dedo em cada lateral de sua cabeça, ao lado dos olhos, e comecei a massageá-lo. Ele ficou imóvel e eu continuei. Eu não lembrava como eu sabia daquilo, mas eu fazia em mim quando tinha dor de cabeça forte e costumava ajudar.
Eu continuei por um tempo. Já estava ruim a posição e meus dedos doíam quando Brendon resolveu sentar na cama. Eu ergui meu corpo e sentei também.
- Melhorou um pouco. - Ele disse. - Vamos comer algo, eu não vejo a hora de ir pra casa.
Assenti e descemos. A mãe de Brendon estava na cozinha e ela trocou algumas palavras com ele enquanto tomávamos café. Ele anunciou que íamos embora e ela reclamou, então ele inventou que trabalharia ainda naquele dia. Eu percebi que ela não estava no melhor humor para ficar debatendo, e eles não disseram mais nada.
Estávamos no ônibus. Eu bocejei pela milésima vez e Brendon me olhou.
- Você dormiu direito? - Perguntou.
- Não consegui dormir.
- Você não dormiu nada?
- Não...
- Tente dormir agora.
- Eu tô bem, durmo em casa.
Brendon abriu sua mala e tirou um casaco. Ele virou um pouco de lado e ajeitou o casaco em seu peito. Puxou meu braço para que eu deitasse nele. Eu encostei a cabeça em seu peito e ele passou os braços em volta de mim. Ele parecia estar torto demais em seu banco, mas fiquei com vergonha de dizer qualquer coisa.
- Tudo que você fez até agora foi cuidar de mim, você precisa descansar um pouco.
A blusa de Brendon tinha cheiro de Brendon. Brendon tinha cheiro de Brendon. Então eu dormi em seus braços.
Eu só acordei quando ouvi a voz de Brendon me chamar. Abri os olhos e notei que eu ainda estava deitado nele. Afastei-me e o olhei. Ele ajeitou as costas. Pela janela do ônibus, percebi que havíamos chegado.
- Desculpe, não queria dormir em você o caminho inteiro. - Falei.
- Não tem problema. Acabei dormindo um pouco também.
- Como você tá?
- Acho que estou melhor.
Eu sorri de lado e peguei minhas coisas para irmos embora.
Saímos do ônibus e ficamos parados nos olhando. Eu não sabia bem o que Brendon faria agora.
- Você vai tocar hoje a noite? - Perguntou.
- Sim.
- Não sei se estarei disposto para ir, mas qualquer coisa eu apareço.
- Não se preocupe. Descanse bastante, você precisa.
- Ryan, obrigado por tudo.
Eu sorri de lado e ele me abraçou. Correspondi. Ele beijou minha testa discretamente e foi embora. Eu o assisti se afastando de mim e fiquei pensando em nossa situação e o que ele queria de verdade comigo.
Atirei-me em meu sofá depois que almocei e não quis sair dali nunca mais. Eu dormi um pouco e acordei com o inferfone. Levantei sem vontade e atendi. Jon estava aqui. Deixei ele subir e voltei para o sofá.
Ele entrou pouco depois e me cumprimentou, então sentou na outra ponta do sofá.
- Estou aliviado que você realmente voltou a tempo.
- Eu disse que voltaria.
- E como foi lá?
- Bom não foi. Velório, enterro, essas coisas. Dormimos na casa dos pais de Brendon e depois voltamos,
- E vocês dormiram juntos?
Jon me olhava maliciosamente e eu revirei os olhos.
- Não.
- Duvido ele não querer ficar com você depois de tudo que você fez por ele.
- Não foi nada demais. E eu não tive essa intenção. Ele precisava de um amigo e foi isso que eu tentei ser.
Jon me olhou e assentiu.
- Bom, ele me beijou, mas...
- Ele te beijou? Eu falei pra você!
- Calma. Ele beijou, mas ele estava chateado. Não sei se significou alguma coisa.
- Eu acho que sim.
- Pare de botar coisa na minha cabeça, Jon.
- Tá, e o que você fez?
- Eu me afastei, não queria que ele pensasse que eu estava me aproveitando dele por ele estar sensível. Achei melhor. Não falamos mais sobre isso depois.
Jon concordou e nós conversamos até termos que sair. Fizemos o show normalmente e Brendon não apareceu, mas eu já imaginava.
Eu achei melhor deixá-lo quieto e dar um tempo, já que seu pai havia acabado de falecer. E com isso nós não nos vimos o fim de semana inteiro. Eu estava começando a ficar entediado pois não tinha muito o que fazer durante a semana. Escrevi algumas coisas, mas passei um bom tempo só esperando o tempo passar.
Eu estava arrumando as coisas com Jon e Nick como fazemos toda vez antes de tocarmos. Já era sexta-feira de novo e eu gostava porque pelo menos eu fazia algo. Eu vi quando Brendon entrou no bar e olhou diretamente para mim. Nós havíamos acabado de entrar no palco. Ele sentou no balcão e pediu algo para o garçom.
Eu tentei me concentrar em tocar e não olhar para ele. Uma vez ou outra que meu olhar encontrou o dele, ele sorriu para mim. Eu sorri de volta discretamente, tentando não pensar nas palavras que eu escrevi pensando nele e agora Jon cantava bem na sua frente. E ele sabia, ele sabia que as letras eram minhas. E ele sabia que eram sobre ele. E ainda assim ele agia naturalmente.
O show acabou e eu ainda juntava minhas coisas quando vi Jon conversando com Brendon. Nick ainda juntava suas coisas também. Ele me olhou e então olhou para onde Jon estava.
- Quem é aquele garoto? - Perguntou.
- Hm, Brendon. - Respondi, olhando para Nick brevemente. - Estudou com a gente na faculdade.
Nick pareceu não dar mais importância. Terminou de pegar suas coisas e foi embora. Nick nunca ficava, ele tinha uma namorada e sempre dizia que iria ficar com ela. Eu fui até onde Jon e Brendon conversavam. Eles pararam de falar quando eu cheguei.
- Oi, Ry. - Brendon falou e sorriu.
- Oi. Vejo que vocês se encontraram, então.
- Pois é. - Jon falou.
- E o que vocês estavam falando? - Perguntei.
- Eu estava me convidando e convidando Brendon para irmos na sua casa beber algo. - Jon respondeu e eu arqueei uma sobrancelha.
- Na minha? - Perguntei.
- Eu acho que vou pra casa daqui a pouco, só vim ver vocês tocarem mesmo e... - Brendon começou a falar mas o interrompi.
- Não, podemos ir, por que não?
Jon sorriu e Brendon pareceu intimidado, então ele assentiu e fomos todos para a minha casa.
Eu lancei um olhar desconfiado para Jon no meio do caminho, porque eu sabia o que ele faria. Eu sabia que ele ficaria no máximo meia hora e diria que precisava ir embora. Eu não precisava de um cupido e queria dizê-lo isso, mas ele parecia satisfeito que estava funcionando.
Eu sentei em uma ponta do meu sofá e Brendon sentou na outra. Jon foi ao banheiro e eu olhei Brendon, que sorriu de lado.
- Você está bem? - Perguntei.
- Sim. Desculpa eu ter sumido, você sabe... Precisava ficar um pouco sozinho.
- Claro, eu imaginei.
Brendon tinha uma sacola na mão e eu estava curioso com aquilo desde que a notei, mas não disse nada. Talvez ele tivesse comprado alguma coisa pra casa dele. Talvez eu devesse cuidar da minha vida e parar de bater o olho na sacola toda hora para ver se conseguia ver algo.
- Você devia cantar mais. - Ele disse de repente.
- Hm?
- Quando você canta para acompanhar o Jon eu sempre penso que você devia cantar mais, sua voz é bonita.
Eu olhei para baixo e sorri de lado tentando disfarçar que eu estava com vergonha e morrendo de vontade de puxar ele pra mim e beijá-lo. Ele sorria quando eu o olhei de novo. Ele ia dizer algo mas Jon voltou para a sala e sentou no sofá menor.
Nós conversamos por um bom tempo e até que Jon não estava indo embora tão logo quanto eu imaginava que ele iria. Ou talvez eu estivesse tão ansioso para que ele simplesmente fosse embora que o tempo parecia passar mais devagar. Ele e Brendon se davam bem e teve momentos que eu nem mesmo sabia o porquê eles estavam rindo, pois alguma coisa sempre me distraía. O sorriso de Brendon, seus olhos, ou minha própria imaginação quando eu pensava nele bem mais perto de mim do que aquilo.
Jon anunciou que ia embora e eu fiquei um pouco preocupado, achando que Brendon aproveitaria para ir também. Mas ele não disse nada. Jon se levantou e andei com ele até a porta. Voltei para o sofá e olhei Brendon.
- Eu comprei uma coisa pra você. - Disse e me entregou a tal sacola.
Apesar de surpreso eu a peguei e olhei dentro. Era uma caixa de chocolates.
- Eu me lembro de quando fui até seu quarto te levar sopa e tudo que você tinha comido em não sei quanto tempo era uma caixa de chocolates igual a essa e... Não queria te trazer más recordações, é claro, mas eu achei que você iria gostar. - Brendon sorriu. - Eu queria te dar algo por você ter ficado ao meu lado semana passada, ter viajado só pra me apoiar e... Enfim, não sei como agradecer você.
Eu sorri.
- Não sei o que falar. - Eu ri nervosamente e Brendon sorriu ainda mais. - Obrigado, já disse que não foi nada. Não precisa me agradecer tanto. E o fato de você ter se lembrado qual chocolate eu comprei... Você tem boa memória.
- Eu prestava atenção em você, acho que foi isso.
Eu sentei perto dele e o abracei de lado, beijei seu rosto e voltei a me afastar.
- Obrigado. - Repeti.
- Você tá diferente.
- Como assim?
- Eu estive pensando em você muito desde que nos reencontramos e, especialmente durante essa semana, percebi que você está diferente. Você está mais... Gentil.
Eu ri.
- Você diz isso porque já nos conhecemos. Acho que eu sempre fui pior em fazer amizades, depois que já conheço a pessoa não é mais um problema.
Brendon sorriu.
- Ei. - Chamou.
Eu o olhei.
Brendon beijou meus lábios. Eu suspirei porque eu imaginava que aquilo aconteceria, eu ansiava e eu até tomaria a iniciativa, mas não agora. Foi repentino. Eu não quis pensar se isso era certo ou não, ele havia tentado isso antes e eu o rejeitei, ele estava tentando de novo e eu não era forte o suficiente para rejeitá-lo outra vez.
Eu segurei sua nuca e aprofundei o beijo. Brendon gemeu baixinho, quase inaudível, mas mesmo assim era um som incrível de ouvir. Ele era incrível e dessa vez eu não queria deixar nada atrapalhar. Dessa vez eu não queria estragar. Eu não podia mais viver evitando ele e tentando resistir. O lugar dele era comigo. Queria mostrá-lo isso. Ou talvez ele já soubesse. Eu torcia para que sim.
Ele me empurrou deitado no sofá e se deitou por cima de mim. Nós começamos a tirar toda a roupa que podíamos um do outro enquanto nos beijávamos no pescoço, na boca, nos ombros, qualquer lugar. Brendon abria minha calça apressadamente e separei nosso beijo faminto.
- Bren, espere. - Ofeguei.
- Ry, não faz isso. - Brendon sussurrou em meu ouvido.
- Que? Não, vamos pro quarto, só isso.
Ele me olhou nos olhos com desejo. E então assentiu.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.