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História Itália, prisão de cristal - Orgulho ferido


Escrita por: MrsReddington

Notas do Autor


Olá galera, tudo bom? Demorei um pouco para terminar esse capítulo simplesmente porque ele é extremamente importante para que todo mundo entenda a próxima fase da história é quase como um season finale! E depois desse capítulo eu vou demorar um pouco (Não vou sumir!) porque preciso organizar no meu caderninho como serão as próximas cenas!
Então se deliciem com esse neném! E podem comentar teorias, críticas construtivas e elegantes ou até alguma cena que não entendeu, titia ama essas coisas <3
Link da playlist da história nas notas finais!
Beijos e até a próxima <3

Capítulo 13 - Orgulho ferido


Viena, dezoito anos antes.

Uma pancada no fim do corredor, um grito seguido de um barulho seco que parecia com alguém caindo. Foi o suficiente para fazer a garotinha despertar. Ela sentou na cama assustada, mas não teve coragem de levantar e ir até lá.

— Papai! — Chamou com voz trêmula.

Dessa vez ouviu estampido seco e ensurdecedor. Saltou da cama e encostou-se a uma parte mais escondida atrás de um guarda-roupa. Ouviu vozes, pareciam dois homens discutindo entre si, porém, não conseguia entender nada do que falavam. Pensou se não era algum amigo dos seus pais.

Relaxou, caminhando até a porta.

— Não, por favor! Ela não! — A voz de sua mãe pairou. Ela chorava e dava para sentir a dificuldade com o que falava: ofegante e soluçando.

Seu corpo enrijeceu de nervosismo. Sentiu os pés pisarem em algo molhado e se voltou para o short do próprio pijama. Aquilo de novo não! Ouvia seus pais conversarem no jantar sobre a sua dificuldade em segurar o xixi quando estava dormindo, eles riram, mas aquilo lhe deixou envergonhada.

Mas o líquido era grudento, viscoso, grosso. A meia luz do corredor entrou no quarto e notou que era vermelho também. Afastou-se enojada e sentiu o cheiro de ferro no ar.

— Por favor, ela não! Constanza é só uma criança! — Sua mãe gritava novamente. Ela gemeu com uma pancada e choramingou baixo.

Então, abriu a porta pesada de madeira e correu os olhos pelo homem com uma arma na mão. Ele não pareceu se incomodar com sua presença. Bateu com o cabo da arma no pescoço da sua mãe e ela lutou para se manter acordada.

— Corra, meu amor, corra. Eu vou ficar bem — Ela gemeu quando o homem lhe deu as costas chamando por outro que estava na escada no fim do corredor. Esticou as mãos, tocando seus pés cobertos pelas meias e os apertando com o carinho. — Eu vou ficar bem, agora vá!

Tentou obedecer, mas ao ver o corpo caído na escada e o sangue descendo pelo corredor percebeu no que pisara antes. Sangue do seu pai. Gritou. Correu até lá e se ajoelhou, sacolejando o corpo inerte. Os olhos estavam abertos, mas ele não se mexia. Então o sacolejou mais.

— Papai, papai! Acorda! — Soluçou entendendo que ele não estava mais ali. — Por favor, papai. — Abraçou-o e seus dedos pequenos ficaram sujos de sangue, tocavam uma superfície fria e sem vida e percebeu um pedaço de pele que se descolava. Saltou ao percebeu o corte no pescoço dele.

Um homem lhe equilibrou e segurou seus pulsos, outro caminhou duramente até sua mãe e apontou algo que não dava para ver por causa da penumbra.

— Por favor, não. Eu não conto nada! Por favor, imploro, pelo amor de Deus! — Ela chorava olhando para aquilo que ele apontava.

Gritou, esperneou, chorou. O desespero fazia seu coração acelerar tanto que sentia que iria morrer.

— Não faz nada com ela! — A mãe gritou e o mesmo som seco foi libertado. Um gemido antes dele chegar e depois silêncio.

Tudo silenciou.

O sangue escorreu pela testa dela e garotinha caiu de joelhos. O homem que assassinara sua mãe virou-se para ela. Arrastou seu corpo para perto do da mãe, jogou-a por lá. A menina ameaçou se aproximar, mas sentiu medo. Desesperou-se mais ainda e soluçou. Então viu mais duas pessoas. Um homem mais alto e um rapaz um pouco menor. Os dois se pareciam e tinham os olhos claros.

— Está esperando o que para matar a garota? — O mais velho se direcionou a um dos homens.

— Alberto, ela é uma criança... — O outro homem interviu.

Parou de prestar atenção naquilo e olhou para a situação. O sangue, a morte, os corpos. Seus pais. Estavam mortos. Viu quando sua mãe pediu por sua vida. Lembrou-se de quando ela mesma lhe deu um beijo de boa noite, de quando seu pai conversou consigo antes de dormir. Eles nunca mais estariam ali. Sabia que era assim. Quando a avó morrera também nunca mais estiveram lá.

O mais novo dos novos participantes falou:

— Pai, deixe que eu faça isso.

Virou-se para o rapaz e ele se aproximou. Pegou-a no colo. Resistiu nos primeiros minutos, gritou e o estapeou.

— Vou te tirar daqui. — Ele sussurrou em seu ouvido. Passando os dedos por seus cabelos.

Não se acalmou, mas deixou que ele lhe tirasse de lá. Concentrou-se numa mancha que ele tinha atrás da orelha para não ver os corpos. Soluçou algumas vezes. A mancha era redonda e saia por detrás da orelha indo em direção ao pescoço. Virou-se para Alberto e de relance viu que ele tinha uma parecida.

O rapaz afastou o corpo do seu pai da frente da escada e ele girou pelos degraus. Mais sangue escorreu no andar de baixo e se sentiu nauseada. Virou para aquele que lhe carregava e se debateu. Voltou a empurra-lo.

— Volte, Giuliano! Deixe os profissionais fazerem o trabalho deles. Não suje as mãos quando não for necessário!

— Eu quero sentir como é matar uma pessoa. — Sorriu para o pai.

Constanza pulou sentada na cama. Buscou o ar como se estivesse sufocada. As lembranças daquela noite voltaram. A noite do assassinato dos seus pais. Depois de anos de terapia conseguiu esquecer o que lhe causava pesadelos todas as noites desde aquele dia maldito.

A marca que o Premie carregava era idêntica a do garoto que lhe tirou da casa. E muito semelhante também a existente no mais velho, Alberto, que anos depois Constanza chegou a conclusão que era o mandante daquilo tudo.

Na noite anterior o gatilho que não queria ter lhe fez relembrar aquele inferno.

— Tudo bem? Constanza vou pegar uma água. Calma, eu já volto!

Enquanto ela desapareceu. Voltou a raciocinar. O premie estava envolvido naquilo. Ele era o garoto mais novo que lhe tirou de lá. Era óbvio, lembrava-se de no sonho ele ser chamado de Giuliano. O nome do presidente do conselho era Giuliano Bocarelli. Giuliano tinha a mesma marca do desgraçado que matou seus pais, e que queria lhe matar também. Provavelmente os dois eram pai e filho.

Seu coração estava disparado. Sua pele queimava e ainda não conseguia respirar direito. Arquejou e o mal estar fez seu estômago embrulhar. Tentou respirar, tentou lembrar o que o psicólogo sempre lhe dizia. Que estava tudo bem, que aquilo era só sua mente, que não estava morrendo, que não tinha ninguém lhe perseguindo nem lhe seguindo, era só sua mente.

— Toma, pega. Bebe um pouco. — Caroline entregou o copo a ela.

Bebeu e se engasgou algumas vezes.

— Foi só um pesadelo, calma, está tudo bem. Nada do que estava lá é real. Respira — Caroline disse. — Minha mãe sempre falava isso quando eu tinha pesadelos.

Precisava pensar com clareza. Não podia ser vencida por si mesma. Já havia passado todo o tempo da sua vida atormentada com aquilo. Precisava raciocinar. Seja quem fosse Giuliano, ele era filho de um monstro, e também era um. Naquele momento ele falou que queria saber como matar alguém, e iria testar consigo.

Tinha uma lacuna de tempo, porque pelo soube por sua tia, ficou desaparecida por um dia e reapareceu no quintal dela. E não se lembrava de nada. Talvez tivesse fugido dele. Não dava para ter certeza. De qualquer forma o que sabia causaria problemas demais para gente poderosa.

— Estou bem. — Disse tentando ser firme. — Onde está a Laura?

Laura era filha de um senador. Provavelmente conhecia Giuliano. Se soubesse de suas suspeitas poderia contar para alguém e não podia deixar que ninguém soubesse nada naquele momento. Não podia!

— No meu quarto se arrumando. Ela vai pra universidade. Depois eu vou contigo.

Assentiu e voltou a deitar.

— Eu acho que não vou agora de manhã. Não descansei o suficiente e ainda tenho um trabalho para enviar para um professor... — Mentiu. Precisava pensar em si mesma, reagir e pesquisar, conversar com sua tia. Queria só não ter que ver aquele homem na sua frente. Ele poderia lhe reconhecer, ou do jeito que estava seu psicológico, teria uma crise de ansiedade na frente dele. — Pode ir com ela.

Caroline negou.

— Se quiser eu fico com você. — Sentia que Constanza não estava bem e não confessava. Ficaria com ela para não deixa-la sozinha e também não queria ir para universidade durante a manhã. Estava com o mesmo desanimo da noite anterior e sem vontade de ir para a bendita reunião. — Sem problemas, eu também não estou com vontade de ir pra lá antes da feira. Falamos com o Luca e eu digo que estou cuidando de você.

— Não, pode ir. Pode ser bom pra sua situação com Anika. Está cheio de pessoas importantes que podem fazer alguma coisa por você.

Caroline pensou um pouco suspirou.

— Verdade, mas eu também teria vergonha de falar sobre isso para alguém. Não serviria pra nada. Fico com você sem problemas. — Insistiu.

— Vá Caroline. Eu vou procurar um psicólogo hoje também. Preciso me acalmar. É só estresse por me sentir pressionada. Ele vai me aconselhar e eu vou ficar bem para ir à tarde. Não precisa me acompanhar. Talvez seja melhor passar um tempo sozinha.

Caroline concordou silenciosamente. Se ela tinha decidido tomar seu próprio espaço respeitaria. Seria pior se insistisse e ela se afastasse mais ainda ou não procurasse por ajuda profissional por vergonha de fazer na sua frente.

— Certo. Eu vou com a Laura, mas qualquer coisa me ligue. Largo aquilo tudo e venho ficar com você — Sorriu sinceramente. — Fiz o café da manhã, o seu está coberto na mesa. Bom dia e fique bem.

Caroline a viu anuir antes que fechasse a porta e saísse. Encostou-se à porta trancada e recapitulou: Estava na cozinha quando a ouviu gritar e falar coisas que não fazia sentido. Somente palavras soltas. Bateu a porta e entrou quando ela não respondeu aos seus chamados. Viu-a praticamente sufocando e rolando de um lado para outro. Acordou-a e tentou mostrar que estava tudo bem, ajudar. Mas se Constanza queria o tempo dela, iria somente ficar de olho.

Quando entrou no quarto, Laura estava terminando de se maquiar. Ela avaliou negativamente suas roupas. Uma calça flare preta, blusa amarela com um decote V e que tinha mangas longas.

— Nem vem. Estou arrumadinha hoje. — Reclamou e colocou outra blusa na bolsa. Sempre andava com uma reserva. — Até de sapatilhas eu estou. Aprecie.

— Não está mal. Eu queria fazer uma maquiagem, mas você não deixa.

Caroline revirou os olhos, entediada.

— É porque eu já fiz isso. Pó compacto, batom rosa claro, rímel, e lápis de olho bem discreto. Fiz mais hoje do que já fiz em um ano nesse lugar. Gosto de praticidade e principalmente naturalidade. Está cedo e o evento maior é mais tarde, lá eu te deixo fazer uma coisinha melhor.

— Chata! — Laura fez bico.

— Impertinente! —Retrucou.— Agora vamos que temos que chegar cedo.

Trento, 06h47min.

Um ano antes, quando Laura engravidou as coisas eram mais fáceis do que vieram a se tornar. Uma semana depois do aborto, Enrico liderou uma ofensiva no senado que quase lhe rendeu a perca do cargo. Foi justamente nesse pequeno espaço de tempo de três meses que a organização mandou a proposta. Casaria, com Laura ou não, mas casaria. Naquelas circusntâncias, não seria Laura.

Laura então se tornaria seu braço direito no plano descabido e ridículo de conquista. Ela aceitou sem pestanejar. Dificilmente alguém recusa alguma ordem. Casar com ela antes da gravidez

Antes tinha sido sua salvação para não estar naquele inferno agora.

Quem lhe diria que estaria naquela situação? Prestes a ter que se submeter ao processo mais complicado, caprichoso e idiota que a organização poderia lhe propor.

Giovana lhe entregou um café enquanto avaliava rapidamente a última foto de Caroline que recebera. Ela estava sentada num restaurante na Piazza Duomo com um garoto em seu colo. Ela parecia concentrada em conversar algo com ele. Desligou a tela com um suspiro irritado.

— Está nervoso? — Giovana lhe questionou.

— A palavra certa seria com ódio.

Ela lhe apertou as mãos.

— Você pode se apaixonar por ela...

Giuliano deu uma risada.

— Você age como se isso fosse a melhor coisa que poderia acontecer...

Giovana não retrucou. Somente apertou seus ombros, se despedindo e indo direto para a universidade. Ela voltaria no mesmo avião para Roma dali a algumas horas. Ele levantou do assentou e engoliu em seco. A porta estava aberta e o clima de Trento estava tão frio que o vento externo quase congelava seu nariz.

Pelo menos uma centena de repórteres lhe esperava na saída do aeroporto. Falavam alto e perguntavam coisas que pouco se deu ao trabalho de entender. Virou para um deles e sorriu falsamente. Explicou rapidamente sobre o projeto da reforma e acenou para se despedir. Entrou no carro num impulso e deu de cara com o ministro de educação.

— Caiu da cama? — Mostrou uma imagem que começara a circular na internet. Sua expressão fechada quando desceu do avião.

Suavizou a tensão na mandíbula e sorriu.

— Nem dormi. Espero fazer isso por alguns minutos quando chegar no hotel.

***

 

A porta do hotel estava mais uma vez lotada pelos jornalistas. Dessa vez havia populares e várias policiais tentando conter a confusão que começava a acontecer. Parecia estar acontecendo uma manifestação, pessoas gritando palavras de ordem, cartolinas em suas mãos com frases a respeito da nova confusão política da Itália. O projeto de lei que dava mais autonomia ainda as províncias. O projeto que poderia tirar o Tirol da Itália de vez e dá-lo totalmente a influência da Aústria.

O homem loiro, alto e com a faixa da Polizia se aproximou com discrição. Dimitri lhe olhou de esguelha lhe perguntando com um olhar se era para deixa-lo se aproximar. Giuliano assentiu e o dispensou com um gesto nas mãos. Segui o homem até o elevador de serviço sem mais ninguém em seu encalço. Ali dentro só estariam os dois.

— Está vendo? Precisa demonstrar sua escolha.

— Não tenho qualquer poder de decisão sobre isso — Fez-se de desentendido.

— Eles te criaram para ser um gênio, Giuliano. Você sequer consegue parecer idiota.

Giuliano deu uma risada tensa, olhando para o chão prateado do elevador.

— Eu não quero tomar qualquer decisão sobre isso.

— Nem tudo é do jeito que quer...

— Irônico se tratando de quem mandou você aqui, de quem me criou. Uma arrogância imensa em querer algo que manipula o mundo inteiro. Controverso.

— Exatamente, se trata de quem te criou! — O homem se virou para Giuliano, tocando seu peito com o indicador. — Eles mandam, você não.

Giuliano o analisou, segurou o braço dele e retirou o dedo que pressionava seu peito. Ajustou a camisa que se amassou. Deu um sorriso simpático e tocou os ombros dele.

— Não posso fazer nada.

— Você é líder do partido com maioria no congresso, no senado, os ministros comem na sua mão. Você sabe que a sua palavra é lei. O que se inclinar a opinar será acatado de forma passiva. Já sabe o que precisa fazer, já sabe as ordens sobre isso. Escolha o que eles mandaram!

— Nesse momento não faz parte da minha estratégia me comprometer. Discuti isso com eles. Tenho planos melhores.

O elevador se abriu, Giuliano saiu e parou no corredor, esperando se aquele homem lhe seguiria. Girou os calcanhares, e ele desaparecera. Respirou fundo e caminhou até o apartamento que estava em seu nome. Discou o número de Giovana. Era possível ouvir o barulho de pessoas conversando ao redor dela.

— O que houve, meu filho? Você não me liga assim...

— Precisamos conversar sobre o projeto de lei. Estou sendo pressionado... — Deixou no ar. Ela saberia quem estava lhe pressionando.

— Quando estivermos em Roma, nós conversamos com mais calma. Estou cuidado da inauguração aqui. Descanse e nos vemos em algumas horas.

Giuliano bufou ao desligar a ligação e se encostou ao parapeito da enorme janela. Dimitri entrou no apartamento distraidamente e nem se deu ao trabalho de puxar assunto.

Observou a multidão praticamente se matando do lado de fora. Exigiam que intervisse, que correspondesse a alguma posição. Andou de um lado para o outro, pensativo. Retirou o pea coat preto, o arrumando com cuidado em uma cadeira. Tornava-se cada vez mais sistemático quando precisava refletir.

Desabotoou a camisa, sentindo o calor do aquecedor em sua pele.

— Pensei que quisesse dormir... — Dimitri levantou uma sobrancelha. Seu sotaque russo se sobressaia.

— Perdi o sono. Vou me arrumar e ir direto pra Universidade. Avise aos outros ministros que vou mais cedo, ligue para o motorista e diga que estou descendo. Quero encontrar com a garota o mais rápido possível.  Vou resolver um problema logo.

***

 

Luca tamborilava os dedos na mesa. Suas olheiras pesavam ao redor dos olhos. Remexeu o café na xícara. Se antes detestava a ideia de Giuliano se aproximar de Caroline somente por uma ordem da organização, agora era doloroso saber simplesmente que eles estariam próximos.

Saber que só poderia contar com a estratégia de afastar Caroline dele lhe corróia, lhe tornava um fraco. No fim a organização conseguiu o que queria. Tinham o pretexto perfeito para fazer daquele encontro armado uma simples coincidência e posteriormente uma ilusão de uma grade história de amor.

— Luca!

Alguém interrompeu sua solidão com batidas na porta. Podia reconhecer como a voz de Peter. Arrumou os cabelos brevemente e pediu que ele entrasse.

— Bom dia! Animado para os eventos? — Ele sorria, nem parecendo que estavam no fim do período.

Luca lhe ofereceu uma xícara de café.

— Estou exausto. Passei a noite corrigindo provas e colocando notas no sistema. — Sorriu sem vontade e se jogou na cadeira. — Mas você me parece muito feliz.

— Estou ansioso. É uma reunião com muita gente importante. — Ele arregalava os graúdos olhos azuis. Visivelmente animado.

— Fique tranquilo. São pessoas normais com cargos importantes... Garanto que não dispenso a companhia de vocês pela deles... e...

Luca se interrompeu com a gritaria na porta. Dava pra ouvir os berros de Caroline e Laura no corredor do lado de fora. Peter lhe olhou e se levantou para abrir a porta. Nem precisou. As duas entraram sem bater, Laura brigava com Caroline enquanto ela tentava limpar a blusa e a calça que estavam molhadas de um líquido marrom que cheirava a chocolate.

Caroline berrou com Laura de volta e distraída tropeçou no fio do notebook, caiu por cima da estante, derrubando um jarro e metade das pastas de provas que havia em cima.

— Santo Deus! — Luca gritou levantando da cadeira num pulo.

Caroline sentou no chão com uma expressão culpada. Laura estava de olhos arregalados e Peter estava morrendo de rir da situação.

— Mais um objeto da minha sala que você quebra...  — Luca cruzou os braços.

— Desculpa! Eu juro que foi sem querer!

— Eu sei que foi. — Luca negou com a cabeça e a ajudou a levantar e sentar no sofá. — Se machucou?

— Me queimei com o chocolate quente que inventei de comprar na rua. Sujei minha roupa e agora devo ganhar uns hematomas. Mas tá tudo bem, nada grave. — Caroline sorriu dando algumas tapinhas nos braços de Luca.

Os olhos azuis de Luca caíram sobre seu corpo com uma expressão preocupada que parecia muito com a expressão que tinha quando chegou a Trento.

— Tudo bem, Luca?

Ele meneou com a cabeça com um sorriso triste. Caroline estranhou e tocou seus pulsos, lhe impedindo de se afastar.

— Veio arrumada mas a vida não colabora contigo — Disfarçou. Caroline gargalhou parecendo esquecer a tristeza havia percebido. — Qual o motivo da discussão das duas na minha porta?

— Caroline disse que não vai voltar para trocar de roupa. Eu não sei como ela pretende ficar nessa universidade toda suja de chocolate!

Caroline se intrometeu antes que Luca tomasse as dores dela.

— Se eu for pra casa, não voltarei mais! É longe e tenho roupa na bolsa. Estou tentando dizer isso desde a rua, mas você não me deixa... E não há nada demais em cheirar a chocolate, chocolate é muito gostoso!

— Vai trocar de roupa logo Carol... — Luca apontou para o banheiro da sua sala. Laura ainda resmungava e Peter juntava as provas que Caroline derrubara quando caiu.

Ela saiu de dentro do banheiro ainda terminando de fechar os botões da blusa rosa.

— Satisfeita, Laura?

— Caroline, você não vai entrar lá com esse jeans! Isso é uma calça skinny! Não se usa esse tipo de roupa numa visita como essa! Eu vou te arranjar alguma roupa, desse jeito você não vai!

Caroline revirou os olhos e se avaliou. Estava mais simples do que com a primeira roupa, mas não via nada demais com a calça jeans e muito menos com a blusa.

— Vou ficar assim e pronto!

Vestiu o casaco de veludo preto e se sentiu mais aquecida. Laura reclamou mais ainda, mas como já tinha avisado que não mudaria de ideia em voltar pra casa ou aceitar qualquer roupa de Laura, ela acabou desistindo. Depois de uma breve conversa na sala de Luca, ele avisou que precisava ir para uma reunião com o reitor em alguns minutos.

Ele trancou a porta da sala com Caroline ao seu lado. Ela de repente parou de tagarelar e deu pra ver os olhinhos castanhos brilhantes lhe analisar com um sorriso compreensivo. Desabou os ombros sem conseguir tirar a atenção dela e continuar andando.

— Eu não sei o que aconteceu... — Apertou as mãos dele. — Mas vai ficar tudo bem!

Ela se encaixou em seu peito num abraço terno. Podia sentir a respiração quente em sua camisa e engoliu em seco ao sentir o arrepio começar por aquela região e irradiar por todo o seu corpo. Sentiu-se mais culpado que todos os dias. Ela estava somente sendo gentil e seus sentimentos traiçoeiros se expressavam ao mínimo toque de Caroline.

Fechou os olhos com força. Seu coração se apertou dolorosamente e uma lágrima ficou presa em suas pálpebras. Acariciou os fios soltos pelo rabo de cavalo num lapso de falta de razão e inalou o cheiro de chocolate que tinha no cabelo. Sorriu imaginando que Caroline sujara até os cabelos. Tão ela mesma.

Beijou sua testa com um sorriso que não saia de sua boca e agradeceu num murmúrio.

— Obrigada. Está tudo bem, meu pequeno furacão. Nada que eu não possa suportar.

Caroline riu e negou com a cabeça. Luca teve a impressão que um mar de boa vontade e carinho havia desaguado em sua frente quando Caroline sorria. Parecia querer carregar tanta sinceridade e bondade que era impossível não gostar dela.

Laura a chamou e Caroline revirou os olhos. Passou os lábios rosados por sua bochecha e se afastou correndo. Fechou os olhos passando as mãos pelo local e deu um sorriso sem jeito. Torceu para não estar com cara de idiota quando chegou na sala de reuniões. Ela estava lotada de pessoas e quase deu meia volta ao ver Giuliano sorrindo abertamente ao lhe ver sentado na ponta da grande mesa.

— O que foi que eu fiz pra merecer isso...? — Sussurrou pra si mesmo.

Giuliano lhe interrompeu, chamando atenção da mesa inteira.

— Parece irritado meu primo... Houve algum problema? ­

Luca sorriu sem um pingo de vontade para os presentes e procurou uma cadeira com os olhos. Só restava uma, ao lado de Giuliano. Gemeu de raiva e se jogou no assento. Virou para Giuliano e ele ainda tinha o sorriso debochado mais aberto que nunca.

— “ Meu primo” Que expressão mais antiga! Em que mundo você vive? — Deixou o tom mal criado ser bem evidente.

— Primeiro: Isso não é antigo, é nossa relação de parentesco. Segundo: Eu moro em Roma, tudo lá já cheira a naftalina de tão antigo e suponho que você não devesse se incomodar com termos antigos. Você é professor de história. Meu orgulho!

Giuliano lhe abraçou como se fosse os parentes mais amigos da face da terra. Luca fez uma careta ainda sendo obrigado a agarrá-lo.

— Se eu pudesse te quebrava todos os dentes agora! — Luca falou baixo no ouvido do primo. O empurrou, mas Giuliano ainda permaneceu lá.

— Eu quebrava sua cara inteira nessa mesa, se tivesse oportunidade... — Giuliano retrucou. — Sorria e vamos fingir que nos amamos e estamos com muitas saudades um do outro. Aproveite e limpe a mancha de batom na bochecha.

Ele lhe empurrou com pouco cuidado e Luca passou as mãos pela bochecha novamente. Era o batom de Caroline. Seu rosto enrubesceu. Giuliano lhe deu um lenço e limpou rapidamente. Passar tempo com Caroline estava lhe deixando tão atrapalhado quanto ela.

O Reitor deu inicio a prestação de contas sobre os projetos da universidade e Luca fingia prestar atenção. Giuliano parecia muito atento e sempre perguntava alguma coisa. O ministro de interiores estava tão alheio quanto si mesmo e mexia no celular constantemente.

— Foi ela a dona do batom? Está corrompendo minha futura esposinha inocente?

Giuliano sussurrou do seu lado. Quase saltou da cadeira de susto. Podia jurar que ele tinha lhe esquecido.

 — Fala dela com tanta naturalidade... Nem parece que vai mentir descaradamente e que vai feri-la sem que ela perceba.

— Eu não vou feri-la.  Longe de mim! Eu sou um cavalheiro! — Ironizou. — Jamais terei o veneno tão potente quanto o seu Luca.

Luca perdeu a paciência.

— Veio aqui nessa reunião pra me provocar não é? Seu compromisso é só as nove. — Sua voz escapou por seus lábios.

Notou o olhar de Giuliano sobre si no momento seguinte. Ele parou de prestar atenção na reunião e se virou pra o seu lado.

— Ao contrário de você, eu tenho coisas importantes a fazer e não passo o tempo todo me ocupando com a destruição de coisas que são maiores que eu e estão longe do que posso controlar. Pense no macro Luca, sei que é inteligente para isso. Isso é só um pedacinho do grande iceberg. Pare de se preocupar com isso.

Luca levantou uma sobrancelha, estava acostumado a não entender os motivos que levaram aquela escolha por Caroline. Ponderou que se perguntasse a Giuliano ele não responderia, ou porque não queria ou porque realmente não sabia.

— Você não tem medo que tudo te engula e que você morra afogado nisso? – Os olhos azuis encaram os de Giuliano com pena.

— Não, eu aprendi a nadar Luca.

Giuliano sorriu novamente, como se estivessem tendo uma conversa tranquila e voltou à atenção ao papel que estava lendo antes.

O reitor parecia à beira de sair aos pulos de empolgação ao lhe mostrar os números que representavam a boa escolha que o ministro de educação havia feito em apoiar com mais projetos o Centro de Engenharia. Giuliano só poderia concordar. Foi sua recomendação que o ministro investisse algum dinheiro lá. Sentia-se tão pai do projeto quanto o reitor.

Parabenizou o senhor esguio e de olhos escuros que brilhavam em orgulho.

Luca revirou os olhos e olhou para a janela tentando não continuar a ver a cena que transcorria na sua frente. Giuliano e o reitor conversavam empolgados com algum assunto que ele não conseguia ter vontade de prestar atenção e Giuliano sorria tão gentilmente que nem parecia com ele mesmo.

— Pareço agradável. Estou tão nervoso. Será que ela vai gostar de mim? — Brilhou os olhos falsamente ansiosos.

— Você é um camaleão... Finge se adequar a situação para agradar quem quer que seja — Luca girou a caneta na mão de forma impaciente.

— Dizem que as mulheres gostam de homens simpáticos. Será que devo tentar isso, ou ser mais misterioso? — Ignorou a frase de Luca.

— Você tem problemas Giuliano, de verdade! — Luca levantou da cadeira e outro o encarou com um sorriso de vencedor.

Conseguiu provocar Luca o suficiente.

— Já vai? — O Reitor chamou sua atenção.

Sua concentração estava perdida há muito tempo desde que Giuliano começara com aquele jogo ridículo. Ele estava adorando ver sua expressão clara de incomodo quando falava de Caroline. Ele estava se divertindo em espezinhar em seus sentimentos e zombava mais ainda quando falava dos futuros sentimentos dela. Aquilo era desprezível.

— Desculpe, eu tenho que resolver uns problemas com a turma do intercambio — Luca avisou educadamente e observou Giuliano mexer a caneta de um lado para o outro cinicamente.

Sentia-se sufocado. Giuliano era o mais intragável dos homens. Só que travestido em capa bonita de democrático e doce. Seu pulso e suas cicatrizes de perfurações com o vidro de mesa de centro sempre faziam questão de lhe lembrar do gentil Giuliano.

O reitor concordou:

— Vá meu filho, e não se esqueça de avisar que eles devem estar no auditório em trinta minutos.

Giuliano mordeu o lábio para não rir. Por mais que fugisse, Luca teria que estar bem a sua frente e depois representar, como orientador, a turma do intercambio. O dia definitivamente não era de Luca.

Luca estava visivelmente agoniado em engolir tantos sapos, e ele estava adorando se divertir com aquilo. Ponderou que não poderia fugir da besta de Giuliano nem que se escondesse num poço na Sibéria.

— Eu avisarei sim — Cruzou os braços tentando não olhar para as feições risonhas de Giuliano.

— Tchau Luca, Faça-me uma visita em Roma! — Giuliano acenou com um tom de desdém que nenhum outro ocupante da sala pareceu notar. Ver Luca perder a pose era impagável.

Giuliano cruzou os braços e esperou ansioso que ele finalmente lhe respondesse com alguma grosseria.

— Sim... Farei uma visita — Saiu antes que Giuliano fizesse outra graça. Controlando-se para não dar a confusão que Giuliano queria.

***

O auditório recém-construído estava lotado. Uma quantidade enorme de pessoas passava de um lado para o outro procurando por algum lugar para sentar, mesmo que não houvesse mais nada disponível. Câmeras por todos os lados e  emissoras de Trento filmavam o local por todos os lados.

Laura havia lhe arranjado um lugar bem na frente. Estavam em pé, mas dadas as circunstâncias foi o máximo que ela pode fazer.

— Estou preocupada com a Constanza... — Comentou.

Laura alçou as sobrancelhas loiras, confusa.

— Estranho ela faltar justo hoje. O dia que o Premiê vem visitar a Universidade...

Caroline não pensava daquele jeito. Não se tinha dia para ficar doente. Sua preocupação era por ela não lhe dar uma mísera notícia. Não tinha dado certeza se estaria na feira a tarde, não respondia suas mensagens, tão pouco atendia as suas ligações.

— Vou ligar de novo — Avisou já saindo de lá e Laura puxou seu braço.

— Agora não. Deixa a inauguração terminar!

Caroline pensou em retrucar, mas Luca entrou em seu campo e visão. Ele estava com vincos na testa e parecia atribulado.

— Mas que dia estranho viu... — Pensou alto. Soltou-se de Laura e caminho ao encontro dele.

— Constanza chegou? Me pediram pra ver se todos de vocês estavam por aqui. — Luca interrompeu o que tinha certeza que Caroline perguntaria. O que estava acontecendo.

— Não, não acho que ela vem. Ela não me atende. Vi quase todo mundo e Laura disse que acha que está todo mundo por aqui... — Olhava para os lados. — Mas o que está acontecendo para estar com essa cara?

Luca respirou fundo.

— Nada. Só não me dou bem com meu primo. — Sorriu a empurrando para o lugar onde Laura estava.

Caroline parou de andar e segurou seu braço antes que ele lhe deixasse sozinha perto de Laura novamente.

— O que se passa entre vocês? Sei que não é da minha conta mas...

Luca segurou seus ombros, lhe fincando no chão.

— Nada. Só birra entre primos. Agora fique no seu lugar para eu não te perder de vista e começarmos a reunião assim que a inauguração terminar.

Caroline até pensou até em perguntar mais alguma coisa. Mas ele tinha razão em não falar nada para tecnicamente uma estranha. Estava sendo intrometida. Talvez fosse isso que ele estava querendo lhe dizer.

— Problemas no paraíso? — Laura debochou.

Caroline estava de cabeça baixa, pensativa e vez ou outra olhava para Luca.

— Você sabe de alguma desavença entre o Luca e esse primo que seja tão séria?

Laura abriu a boca para falar, mas não tinha ideia do que dizer. Se hesitasse Caroline saberia, perceberia que não falaria a verdade e destruiria a pouca confiança que ela lhe dava. Foi salva por um triz. Giuliano entrou no auditório.

O burburinho começou. Pessoas batiam palmas e outras vaiavam. O barulho era alto, quase insano. Caroline apertou os olhos para ver aquelas pessoas mais de perto enquanto elas passavam pelo corredor estreito e lotado de gente impedindo a passagem. Os seguranças afastavam as pessoas que ameaçavam a sair da faixa de segurança.

O primeiro- ministro apareceu em seu campo de visão. Ele acenava para algumas pessoas e vez ou outra falava algo no ouvido do segurança. Não mudava nada das fotos que o elogiavam, pelo contrário, parecia mais bonito ainda. Andava com vivacidade, empolgado, mas examinava tudo ao seu redor com duas pedras malaquitas que chamava de olhos.

Não desmontava a expressão nem quando sorria. Altivo e com um queixo erguido. Não dava para não confundi-lo com um modelo. E qualquer lugar seria sua passarela. Todos pareciam simplesmente orbitar ao seu redor.

— Ele não se parece com o Luca — Comentou com Laura.

— São gostosos do mesmo jeito.

Pensou em retrucar, mas por um breve momento, dois segundos, talvez mais, seus olhos se encontraram. Foi o suficiente para perceber a dúvida pairar nos belos olhos verdes e em seguida ele lhe olhar de cima a baixo com uma expressão nada agradável, como se não aprovasse o que visse.

Caroline se sentiu quase nua e cruzou os braços numa tentativa envergonhada de se esconder. Não tinha porque ter chamado a atenção dele e muito menos para desagradá-lo. Mexeu com a cabeça para tirar aquela sensação de lá, mas ela aumentava mais ainda.

Olhou novamente e ele já estava no palco, apertando as mãos de outras pessoas. Só podia ter sido coisa da sua cabeça.

— Ele é estranho. Tem algo nele... não me parece confiável, nem quando aparenta. Eu não gosto dele. Não me sinto confortável. — Sue corpo se arrepiava com o pressentimento ruim lhe corroendo. Era como se pudesse ouvir algo lhe dizendo que por mais que ele parecesse bom, não era o que parecia.

— O que? — Laura arregalou os olhos. — Como assim? Pelo amor de Deus, vocês nem se conhecem... — Sussurrou sem levar a sério aquela conversa de Caroline.

— Não sei, não confio nele. Vou sair daqui, vou dar uma volta, antes do final, eu volto.

Caroline se mexeu procurando uma maneira de sair de lá e Laura segurou seu braço.

— Não tem como sair daqui. Está ficando maluca? Não me diga que está se levando pela conversa do Luca. Está agindo como uma louca, sabia? — Tentou mante-la lá.

— Vou tentar falar com a Constanza de novo. Já volto. — Empurrou o braço da amiga e se afastou.

Giuliano olhou para Laura, perguntando a ela o que estava acontecendo. Laura negou sem saber como explicar o que estava se passando.

Luca ergueu a cabeça pela primeira vez que desde que Giuliano tinha entrado lá. Pôde ver Caroline deixar o auditório como se estivesse sendo perseguida por uma manada de elefantes furiosos.

— Onde ela foi? — Perguntou a Laura com urgência saindo de seu lugar.  Viu que Giuliano já falava algo no ouvido do guarda russo que carregava para todos os lados, iria mandar alguém atrás dela.

— Não sei. Não tenho ideia. Seja lá o que fez, eu vou descobrir Luca. Você vai se ver comigo!

Luca a ignorou e saiu do seu lugar, mesmo vários outros professores querendo lhe convencer a ficar. Entrou por um corredor de pessoas e alcançou Dimitri.

— Você não chega perto dela. — Estreitou os olhos.

— Giuliano...

Luca o interrompeu.

— Eu me viro com ele. Mas você não vai atrás dela! Não vai mesmo! — Colocou-se a frente da parede loira de tamanho considerável. — Volte para o seu lugar.

Dimitri soltou o ar sem ter mais o que fazer. E se afastou. Luca lhe deu as costas e voltou para o seu lugar ao lado dos professores. Não faria Caroline voltar para aquela inauguração. Não tinha ideia do motivo que a tirou de lá, mas tinha vindo muito bem a calhar.

Caroline balançou a cabeça várias vezes tentando tirar aquilo da cabeça. Laura estava certa, estava agindo como uma louca. Mas de certa forma não se sentia errada pelo que intuía, só como reagiu.

— Constanza! Assim que receber meu recado, por favor, me liga de volta, eu estou morrendo de preocupação. Luca perguntou por você. Estou sem saber o que fazer.

Deixou o recado e bufou assim que guardou o celular no bolso. Sentou num banco de concreto do lado de fora e esperou o coração parar de palpitar. Não sabia o que motivava aquela sensação. Era como se ele fosse uma ameaça. Respirou fundo e começou a caminhar para voltar para auditório. Entrou dentro da sala lotada e todo mundo já batia palmas para alguém falava. Tentou chegar perto de Laura novamente, mas estava tudo muito tumultuado. Desistiu e se encostou ao canto de uma parede.

Agradeceu a Deus por ele não mais parecer lhe notar. Toda vez que recordava aquela mínima troca de olhares relembrava o sentimento ruim que sentiu. Era como se pudesse ter sentido sua alma. E ela era agoniante. Nunca tinha se sentindo tão mal perto de alguém.

Estava distraída quando ele tomou o microfone e começou a falar. Sua voz era tranquila, mas forte e imponente. Seu sotaque era um dos mais fortes que já tinha ouvido. Ele falou sobre a alegria de ver a universidade prosperando e poder participar daquilo, de se orgulhar de ver tantos alunos interessados em política e que isso lhe incentivava todos os dias a fazer um bom trabalho para ser o exemplo que aquela geração precisava. Por um momento se deixou seduzir por suas palavras, mas no final. Por mais bonitas e bem estruturadas que fossem, pareciam tão falsas que quase podia sentir nojo.

Ao fim, todos bateram palmas e se obrigou a fazer o mesmo. Como a maioria das pessoas parecia ir embora a sala foi ficando cada vez mais vazia. Aproximou-se de Laura e ela colocou a mão no peito, aliviada por lhe ver.

— Onde esteve?

— Fui só lá fora. Tentei falar com a Constanza. Ela continua não atendendo.

— O que me falou sobre Giuliano... Não entendi nada... — Laura puxou o assunto. Caroline se encolheu parecendo envergonhada.

— Não é nada... Foi só uma impressão.

— Que te deixou tensa.

— Cadê o Luca? Quero saber que horas começa a reunião, estou com fome. — Mudou de assunto, constrangida.

Laura franziu os lábios, desgostosa, mas sabia que não poderia a pressionar mais que aquilo.

— Ele passou por aqui e disse que ficasse pelo auditório que vão chamar vocês para uma sala de reuniões daqui a uns cinco minutos.

Caroline agradeceu com um aceno e logo saiu de perto de Laura, caminhando onde estava Peter. Ele lhe abraçou apertado e lhe ofereceu uma cadeira para sentar. Tentava se distrair com o que diziam e começou a gargalhar quando Yume comentou sobre um rapaz da primeira fila que tocou nos braços do Premiê e jogou um bilhete com o número de telefone no bolso dele.

Luca apareceu um pouco atrapalhado e atordoado. Falou algo com Laura e ela saiu emburrada.

— Expulsei a penetra. Venham comigo que a reunião vai ser na sala de conferências.

Seguiram animados pelos corredores e por um momento Caroline ignorou a sensação ruim que crescia cada vez mais e se concentrou em rir um pouco com a graças de Yume e Dhiren. Peter lhe agarrou pela cintura assim que chegaram à porta e Luca os separou.

— Deixem pra se agarrar lá fora! — Encarou um Peter confuso com sua atitude.

— Relaxe Luca, a visita já está acabando. — Caroline bateu duas vezes em seu ombro entendendo sua tensão como parte daquela visita.

Ele bateu algumas vezes na porta e a abriu. Deu passagem aos alunos. Caroline observou o local. A sala era grande e tinha uma grande mesa em formato oval e era iluminada pelas enormes janelas de vidro que estavam fechadas. Estava bem decorada e tinha um pequeno lanche em outra mesa menor. Agradeceu por aquilo, estava morrendo de fome.

Giuliano sorriu abertamente para eles e se colocou na frente de todos. Sorria e suas bochechas se franziam, parecendo bem misterioso e impaciente.

— Como vocês estão? Espero que se beneficiem da reforma!

Caroline reconheceu que ele estava tentando ser simpático, mas continuava incomodada com aquele homem.

A reunião começou quando ele pediu que sentassem em ordem alfabética de país, assim poderia ficar mais fácil para trazer suas impressões sobre a experiência e que ele os recordasse. Sentiu aquilo um pouco desnecessário, mas obedeceu. Hesitou quando notou que ele estaria bem do seu lado, já que Constanza havia faltado. Peter sentou do outro lado e isso lhe deixou de certa forma mais segura. Ele interrompeu sua reflexão.

— E então, por onde vamos começar?

Caroline levantou a cabeça e o encarou novamente e ele lhe olhou do mesmo jeito, só que dessa vez brevemente desdenhoso. Deu um sorrisinho que ninguém mais pareceu perceber.

—Eu... Acho que começa com o A e como ela não veio, sou do país B... — Começou a falar já que todos estavam excitados demais pra chegar ao consenso.

O premiê lhe interrompeu grosseiramente e sem nem olhar para a sua cara.

— Não, querida. Vamos fazer diferente. Começa pelo Z, tem alguém de algum lugar com Z? — Ignoro-a.

Caroline fechou a boca e se encolheu ao ver alguns dos colegas lhe olharem sentindo vergonha alheia por aquela tirada. Começou com o Kamali e ela era de Uganda. Ela descreveu como foi seus estudos no seu próprio país e os comparou com a sua experiência na Itália. Falou um pouco sobre as dificuldades e como era conviver com Italianos e também com os colegas de outros países. Ele pareceu satisfeito e comentou alguma coisa ou outra e pulou para o próximo.

— Certo... letra S... — Chamou e ele notou estar perto de Caroline.

— Aqui! — Peter levantou a mão.

— Espera, você é americano... Stati uniti d´america. S. Não era para estar do lado de Kamali? — Perguntou e fez toda a sala rir. — Americanos sempre americanos. Modificaram até a ordem alfabética.

— Tecnicamente sim. Mas eu quis sentar do lado da minha morena.

Todos desataram a rir e até Luca, mesmo avesso a toda aquele evento, achou graça. Menos Caroline. Ela arregalou os olhos para o americano e o empurrou de leve.

— Enlouqueceu foi? — Reclamou tentando parecer séria, mas estava tão constrangida que sua voz saiu trêmula.

Novamente seus olhos se cruzaram quando ele se inclinou na mesa para lhe ouvir. Imediatamente se afastou um pouco ao ver aquelas esmeraldas lhe fitando. Dessa vez ele sustentou o olhar e por trás daquela postura toda de pacificidade existia uma fúria quase que incontrolável. Ele novamente torceu o nariz desgostoso e voltou a observar a mesa.

Caroline levantou a sobrancelha de surpresa. Ele estava realmente lhe medindo.

Ele pediu os mesmos tópicos de Kamali a todos e teve a nítida impressão que ele não estava lhe ouvindo com atenção porque vez ou outra pedia que repetisse alguma palavra, alegando não estar compreendendo o que dizia e por fim não comentou nada, diferente dos outros.

Assim que aquela parte terminou e as câmeras oficiais registraram todas as gravações que achavam necessário, o Ministro de educação, muito alegremente disse que estava dormindo tranquilo depois de saber que o propósito do trabalho estava dando certo e fez mais algumas perguntas livres que Caroline não levantou a mão para responder.

Quando toda a parte constrangedora parecia ter passado eles os convidou para comer. Ele conversava animadamente entre os ministros e os professores e coordenadores. Caroline respirou aliviada por aquilo ter acabado e todo mundo pareceu relaxar.

— Você realmente não desiste não é Peter? — Perguntou assim que ele sentou do seu lado no sofá.

— Não mesmo morena. Se tudo der certo eu vou conseguir o aval de alguém importante pra poder te carregar pra o meu país! — Brincou.

— Ah, é? — cruzou os braços. — E minha vontade?

— Você já me ama, só não sabe disso — Deu uma piscadela.

O silêncio pairou quando novamente o Premiê levantou a mão e se meteu no meio da roda dos intercambistas.

— Alguém pode me explicar,  o que há entre vocês,  letra B e S?

Os intercambistas caíram mais uma vez na risada. Um ou outro tentou explicar, mas sempre se interrompiam e Giuliano se divertia mais ainda. Caroline fechou os olhos implorando pra Peter não continuar aquele assunto, como imaginava que ele faria.

— Eu quero namorar a Caroline, mas ela é difícil senhor! — Peter choramingou e Caroline colocou a mão na testa, balançando com a cabeça não acreditando que estava passando aquela vergonha.

-- Mas quem é Caroline?  — Ele disse de uma vez e todos apontaram para ela - Ah, desculpa, eu ainda esqueci seu nome, são tantos alunos... — a olhou de soslaio com desinteresse, como se não estivesse em sua frente.

Caroline quase retrucou alguma coisa, mas o loiro que parecia ser segurança sorriu como se pedisse desculpas. Não que se importasse. Mas o desprezo dele se tornava claro. Pois olhava para todos de forma igual menos a si e algumas pessoas já notavam.

— Luca, você não olha essas crianças?  — Giuliano ralhou e todos, menos Caroline, riam alto. Até Luca que logo se eximiu da culpa e deu de ombros.

— A gente casa, passa 6 meses no Brasil e 6 meses nos Estados Unidos — Peter explicou e os outros ministros que até então estavam de fora, começaram a gargalharam também.

Todo mundo parecia se divertir, mas seu rosto estava vermelho de vergonha e o pior, de raiva.

— Eu vou bater em você Peter, tenha certeza disso! — Avisou e se deu conta que falara em português e somente Luca e Giuliano lhe olharam sem ter uma interrogação na testa.

— Acho que não será necessário muito trabalho para lhe conquistar, esse amor e ódio é gasolina perto do fogo — Ele novamente lhe olhou com arrogância.

O seu sangue ferveu no momento que ele disse e dessa vez, ele a olhou com cuidado, a analisando de cima a baixo com mais altivez ainda. Luca tinha um vinco de confusão formado na testa.

Qual é o problema desse idiota mesmo? Pensou. Quase soltou um “Deve saber disso, pode ser sua técnica de sedução, típico de cafajeste que deve ser!" Mas se conteve.

— Peter, sabe que eu posso celebrar casamentos... — Revelou e Caroline o olhou estupefata que aquilo ainda estava acontecendo — Eu vos declaro marido e mulher.

Peter lhe tascou um beijo na bochecha e Caroline olhou o ministro dar um sorrisinho e voltar a sentar com quase todo mundo batendo palma e rindo.

Não conseguiria ficar quieta e aqueles dentes perfeitamente enfileirados sendo mostrados em pura demonstração de que se sentia melhor que todo mundo, pelo ou menos, melhor que ela, lhe fez perder a pouca paciência que ainda tinha.

— Claro, vou casar só porque vossa alteza italiana deseja... Um playboy endinheirado e arrogante não me dá ordens! — Resmungou mal criada em português e ele lhe olhou rapidamente de boca aberta, surpreso. Sorriu imitando a arrogância dele e levantou do sofá, lhe dando as costas.

Quase ninguém a ouvira, pois todos estavam distraídos demais e mesmo se escutassem, nunca entenderiam.

Luca teve uma crise de riso, que não sabia se era alívio ou deboche por Giuliano finalmente ter sua arrogância posta no lugar e engasgou. Recebeu uma olhada feia do primo e teve que fingir que nada estava acontecendo.

Giuliano não respondeu e sequer lhe dirigiu a palavra e por Caroline aquela reunião já podia acabar, mas os seus colegas pareciam animados demais para largar o bom osso e a prioridade de poderem conversar com ele e ficaram lá até a hora estipulada, nem um minuto a menos, para o seu desgosto.

No momento de ir embora, ele parecia bastante comovido. Caroline franziu a asa do nariz, enojada. O premiê distribuiu beijos nas bochechas de todos como diz a moda italiana e quando chegou a Caroline ele sorriu mais abertamente que os outros.

Ela franziu a testa sem compreender o motivo de tanta alegria e no momento que ele fez menção de se aproximar do seu rosto, Caroline afastou um pouco e estendeu as mãos. Não sabia exatamente o porquê de não deixar aquilo, mas não queria que ele chegasse perto demais. Ele apertou suas mãos de forma firme e Caroline fez a sua melhor de quem nem queria estar ali.

Giuliano finalmente avaliou Caroline mais de perto. A tão famosa mulher que teria que conquistar. Tinha olhos escuros bastante petulantes. O clima estranho pairou e quando se deu conta todos já se posicionavam para a última foto e ainda estava parado da frente de onde aquela mulher no mínimo atrevida esteve. E não era atrevida num bom sentido. Ela lhe deixou sozinho, parado como uma estátua.

Sorriu sem jeito olhando para os outros e Caroline se encaixava com os colegas na ponta da fila. Quando o fotógrafo os liberou, ela foi a primeira a deixar a sala.

Dimitri se aproximou de Giuliano e ele estava com a testa franzida. Completamente surpreso.

— Dimitri, me diga, essa mulher é louca não é? Você viu o que ela me fez? Estendeu as mãos e depois me deixou falando sozinho!

— Você não estava falando naquele momento...

— Mas ainda estava dando um pouco da minha atenção pra ela!

— Que atenção? Você estava visivelmente a desprezando. Ela só é perceptiva e parece não levar desaforo pra casa... — Dimitri deu uma ultima olhada na porta vendo se alguém escutava a conversa. — A propósito, por que estava com essa cara de desgosto?

Giuliano revirou os olhos.

— Precisa me perguntar? Olha pra ela! É sério que a arranjaram? Não tinha melhor?

Dimitri arregalou os olhos e quando se deu conta de que ele já estava saindo da sala.

— Quero que vá atrás dela. Quero conversar com essa mulher. Sozinho!

***

 

Assim que o ar do pátio externo encheu seu nariz o perfume amadeirado e forte dele começava a se dissipar. Laura saltitava ao seu lado, tentando a fazer contar o que havia acontecido na sala. Mas Caroline pisava fundo e andava rápido  o suficiente para Laura sequer conseguir lhe acompanhar.

— Aquele sujeito insuportável! — Apertou as próprias mãos e Laura segurou seus dedos antes que machucasse as mãos com as unhas.

— Carol, você viu o... — Peter começou mas Caroline o interrompeu estendendo o dedo indicador.

— Eu nem sei quem é, e nos conversamos depois!

— Agora, ela vai me matar! — Peter olhou para Laura e ela deu uma tapa leve na barriga do americano como forma de conforto.

Assim que chegaram aos restaurantes. Ela enfiou tanta coisa no próprio prato, a ponto de nem saber o que era e devolver tudo. Bufou frustrada e se controlou. Sentia-se envergonhada, humilhada e frustrada por não ter agido com mais classe, ficando calada, ante a antipatia do Premie.

— Arranja uma água com açúcar e um pacote de doces — Laura disse e puxou para uma mesa vazia mais distante. — Você precisa comer doce, relaxa, mas me conta o que houve pra você sair cuspindo fogo desse jeito!? Eu nunca te vi tão irritada com ninguém!

— Ninguém também provocou o meu lado desaforada! Pelo menos aqui na Itália! — Nem de longe o imaginava daquela maneira. Nem nas suas previsões mais negativas.

— Certo... O que houve?

Caroline pensou em explicar, mas não importava, Laura não entenderia e acabaria vergonhosamente convencida de que fez um escândalo por nada. Ela lhe diria que tudo aquilo era coisa de sua cabeça e que o premiê não estava lhe desprezando desde que chegara naquela bendita sala de reunião.

— Nada Laura, é melhor esquecer — Respirou fundo e tomou a água da garrafa de Laura.

— Senhorita...? — Um homem com roupas pretas, falando com sotaque russo forte a chamou com cuidado para não levantar a atenção dos outros.

— O que é?!  - Gritou. Laura lhe chutou por baixo da mesa — Desculpe, mas o senhor me assustou. — Recompôs-se

— Sinto muito, não era minha intenção — Sorriu tranquilamente — O ministro pede que se encontre na sala de matemática aplicada no segundo andar.

O ar desapareceu de seus pulmões, sua pele se esquentou de repente e olhou de soslaio para Laura, que ainda questionava o que estava acontecendo. O ar pesou e até o vento que balançava as árvores e pequenos arbustos parecia ter cedido.

— Ele? — Sua voz saiu trêmula.  — Agora eu vou ser expulsa da Itália a ponta pés... Aonde é mesmo isso?

Laura abriu a boca sobressaltada com a situação.

— Não é nada demais. Eu vou lhe levar lá.

O homem foi na frente e Caroline o seguia a uma distância segura para que não estranhassem. Sua respiração estava pesada e quando chegou ao final do interminável corredor depois de uma escadaria enorme, o homem se afastou e indicou a sala.

— Meu Deus do céu, no que fui me meter... Me tira dessa confusão, por favor, pai. O primeiro ministro... Senhor é o primeiro ministro... Me ajuda!— Suplicou baixinho.

Abriu o trinco com a expectativa que ele estaria com uma expressão brava. Mas, não, o Premiê estava encostando a uma cadeira e parecia bem mais relaxado do que na reunião. Os olhos verdes se encontraram com os seus novamente e teve que se conter com o medo que sentiu. A sensação de desconfiança voltava com tudo.

Engoliu em seco e teve fé que aquilo não era nada demais, seu coração se esquentou de medo e de arrependimento.  O que fizera foi errado e imprudente, quem sabe se pedisse desculpas, ele as aceitasse.

— O senhor mandou me chamar? — Puxou o assunto. Ele estava calado lhe observando lhe analisando tudo que se sentia quase pelada. Temeu que ele lhe desse outro coice.

— Mandei sim. Caroline! — Disse sorrindo o mais simpático que conseguia.

Caroline concordou e sentou na cadeira que ele apontou com os braços e ele logo sentou ao seu lado. Por mais que não quisesse se sentia acuada de um jeito horrível. Ele lhe causava uma sensação horrível só de estar por perto.

— Senhor...eu...quero pedir desculpas... — Percebeu que falava em português e ele levantou a sobrancelha. Parou de falar frustrada. — Desculpe, eu falo português quando estou nervosa.

— Está nervosa? — Giuliano questionou surpreso. Talvez aquela rebeldia toda fosse pra chamar sua atenção. Seu trabalho seria muito mais fácil. Fogo e gasolina.  Tocou as mãos dela e a olhou no fundo dos olhos. — Não precisa ter medo, eu não vou fazer nada. Só quero entender se ficou magoada com a brincadeira.

Caroline retirou as mãos debaixo das dele. Qualquer outra pessoa fazia isso, mas ele não parecia ter boas intenções. Aquele homem nunca parecia ter boas intenções. Tinha jeito e pose de um cafajeste qualquer.

— Sim! — Omitiu o resto da expressão arrogante que ele tinha consigo. Só queria terminar aquilo logo. — Eu fiquei envergonhada...

Giuliano notou a mentira. Não era só por aquilo.

— Dizem que sou bastante perceptivo...

— Também dizem a mesma coisa de mim — Afastou-se dele.

— Então, notei que não é bem isso que lhe incomoda. Fiz algo, além disso, que lhe incomodou? — Recordou o que Dimitri tinha lhe dito. Talvez ela tivesse notado sua insatisfação em ver que ela era a mulher tão pouca coisa que a organização lhe escolhera.

— Nada, imagine só. — Atrapalhou-se novamente com os dois idiomas e dessa vez ele pareceu pouco surpreso.

— Acho que não, Caroline. — Sorriu presunçoso. Caroline iria ser mais fácil do que pensava. Ela ficava nervosa só numa conversa.

Caroline revirou os olhos pela certeza do que ele achava da situação. Presunçoso o suficiente para achar que nenhuma mulher era imune ao seu charme. Nem sabia ele que o único sentimento que tinha era de medo. Aquele homem carregava a escuridão nas costas.

— Desculpe, mas não está na minha mente. Se era só isso, por favor, peço licença. — Deu a volta nele e foi até a porta.

Giuliano perdeu toda a vontade em continuar fingir paciência com Caroline. Ela estava praticamente se aproveitando de sua bondade depois de toda a humilhação na sala de reuniões. Uma mulher mal-educada, desaforada que teria que suportar pelo plano ridículo deles.

— Não vai me pedir desculpas?

— Já pedi, mil desculpas por agir com grosseria. Agora preciso ir. — Abriu a porta e no momento seguinte ele estava ao seu lado para lhe acompanhar.

— Ainda não!

Caroline se virou novamente por ele.

— Sinto muito te causar algum transtorno.

Caroline piscou várias vezes.

—Tudo bem. Na verdade, por mim tudo já está resolvido. Peço desculpas. Tenho que ir.

— Caroline... espere... — Ele tocou o braço dela. Caroline se afastou como se bicho doente tivesse lhe tocado. — Podemos tomar um café? Eu posso te explicar que na verdade toda essa má impressão é um mal entendido.

Resolveu aproveitar a oportunidade da primeira impressão negativa para criar uma segunda que pudesse lhe oferecer oportunidades melhores.

— Claro que não! — Atravessou a porta e chegou ao corredor. Não iria a lugar nenhum com aquele homem estranho. Meneou com cabeça desconcertada. — Digo, é melhor não. Tenho mais o que fazer... Aliás, muito que fazer! É melhor o senhor me deixar em paz... Digo, é melhor deixar isso pra lá!

Se não saísse de lá acabaria por falar o que não devia. Falar o que realmente estava pensando. Deu as costas e o deixou falando sozinho. Voltou ao pátio, completamente tensa. Sentou na mesma de Laura com uma expressão assustada.

— O que houve? — Ela praticamente pulou na sua frente.

— Nada. Eu só arranjei uma breve confusão, mas parece que tudo vai ficar bem se eu não tiver que ver esse cidadão nunca mais na minha vida.

— O que? Que confusão? Derrubou alguma coisa no Premiê?

Caroline negou. Sentou da cadeira um pouco mais controlada.

— Ele não foi com a minha cara, eu tão pouco com a dele. Ele é arrogante, tem um jeito muito estranho, é um perfeito pretencioso que acha que pode convencer todo mundo com meias palavras, eu sinceramente não gosto desse homem perto de mim. Eu estava certa quando te disse que sentia algo de muito ruim nele. Laura, ele me tratou como um vírus! Parecia que eu era a pessoa mais desprezível dessa sala, ele estava me medindo e me reprovando. Só a mim! Que tipo de pessoa é assim tão grosseira? E no fim de tudo pareceu querer me convencer que era um homem gentil me chamando pra tomar um café. Eu não quero tomar coisa nenhuma com aquele sujeito deplorável e imodesto.

Laura abriu e fechou a boca sem saber o que falar. Caroline não falava assim com ninguém. Ela não era tão ríspida e desde que a conhecera nunca vira pessoa tão meiga e diplomática. Dava pra sentir que Caroline não confiava em Giuliano e isso modificava tudo. Ela nunca iria deixar que ele se aproximasse se aquilo continuasse acontecendo.

Mas o que poderia fazer? Avisou que Caroline não fazia o tipo mocinha que se apaixona por cafajestes só por acreditar que seu amor vai os melhorar. Mas Giuliano parecia estar agindo como um e isso era ridículo.

— Ele não é assim, Carol. O Giuliano não é esse monstro que você imagina!

— Não estou dizendo que ele é um monstro. O que estou dizendo é que não confio nele, e isso já me deixou tensa. E ele também não pareceu ir muito com a minha cara. Resultou nessa confusão sem proposito!

Não adiantaria discutir. Laura teve que mudar de assunto.

— Vamos terminar de organizar os stands. É a única coisa que me resta depois desse negócio todo.

***

 

Constanza entrou no pátio com stands armados e começou a arrumar tudo que achou necessário e que já tinha combinado em seu ambiente. Procurou Caroline com os olhos e a notou do outro lado arrumando o seu com ajuda de Laura.

Caminhou até ela para lhe dar notícias. Sabia que ela estava preocupada.

— Recebi seu recado.

Caroline largou tudo o que segurava e a abraçou.

— Fique louca de preocupação! Por que não atendeu ao telefone?

— Na sessão eu não posso estar com o telefone ligado — Sussurrou em seu ouvido para que Laura não ouvisse sobre o psicólogo. — Mas e aqui, como foi com os ministros?

— Foi legal... — Caroline disse e apertou os lábios num sorriso pouco feliz. — Já estou terminando aqui e vou te ajudar.

Constanza notou ela mudar de assunto com uma imensa facilidade de quem queria fugir de tudo aquilo. Laura lhe olhou como se tivesse alguma coisa pra dizer, mas Caroline deu com uma bandeja vazia nas pernas da loira.

Assim que ela apareceu no seu stand começou a organizar sua decoração com agilidade. Sabia que ela estava tensa. Caroline era transparente. Deixou que ela se sentisse segura para falar o que quer que seja. Dava pra ver as palavras brincando dentro da cabeça dela.

— Conheci o tal ministro. — Esperou a reação da austríaca. E ela pareceu pouco surpresa. — Não foi uma experiência legal.

Constanza se interessou pelo assunto.

— Como assim?

— Ele tem alguma coisa que me deixa com medo. Eu sinto que devo me afastar.

— O que? — Perguntou novamente sabendo que ela iria desandar a falar.

—É como se... não sei. Ele carrega um peso ruim. Me assusta. Ainda por cima é arrogante, falso. — Falou a última parte mais perto dela.

— E como sabe disso? — Levantou a sobrancelha.

— Ela quase saiu na tapa com ele duas vezes. — Laura invadiu o Stand com uma bandeja de doce. — Nossa amiga, doce como mel de abelha parece que resolveu destilar o ferrão no Premiê e ele jogou foi o veneno nela. Não duvido nada que se ele aparecer por aqui eles não saiam no braço de verdade!

Constanza deu uma risada descrente e se apoiou na mesa.

— Você e ele? Brigando? Como?

Caroline curvou os ombros, envergonhada.

— Laura é exagerada. Só foi uma sucessão de mal entendidos que culminou na minha plena certeza que não devo confiar nele.

— Já te ocorreu que você não precisa ter que confiar nele? — Laura franziu a testa colocando uma mão no queixo querendo insinuar outra coisa.

Caroline pensou um pouco.

— Eu sei. Também não sei o porquê disso... Mas ele me assusta — Parou de falar pensando em como se sentiu desconfortável numa mínima conversa com ele.  — Deixa isso pra lá. Vamos trabalhar!

***

 

Estava um frio confortável em Trento à noite. Giuliano caminhou por entre a feira cultural que os intercambistas tiveram que organizar junto com a universidade. Estava lotado de pessoas passando de um lado para o outro. Cada aluno parecia ter trazido algo que representava a cultura de seu país para servir de entretenimento para os visitantes. Já tinha visto um stand com plantas típicas de Uganda, outros com esculturas indianas e uma atriz de Bollywood para dar entrevista para rede de televisão local, onde foi exibido num telão um filme que estrearia nos próximos dias. Já começava uma apresentação de Merengue animada que foi trazido para representar a República Dominicana.

— Onde arranjaram dançarinos de merengue em uma semana? — Cochichou no ouvido de Luca. Ele estava sendo obrigado a lhe acompanhar por ser o tutor do intercâmbio.

— Uma amiga de Laura. Ela que pegou as ideias de todo mundo e converteu nisso aqui.

Assim que chegaram ao stand de Caroline, havia uma fileira enorme de comidas típicas. Vinte e oito pratos representando cada estado da federação e o distrito federal. Havia pelo uma centena de fotos de diversas partes do Brasil que cobriam a parede de trás. Eram locais turísticos e alguns até pouco conhecido.

— São fotos pessoais? — Perguntou surpreso. Caroline finalmente notou sua presença. Ela ficou tensa.

— Sim, minha família é grande e juntos acho que visitamos muito lugares. Eles me mandaram as fotos.

Era realmente incrível que nenhuma imagem se repetisse.

Havia uma retrospectiva histórica em uma maquete 3D da colonização do país que circundava todo o stand e chamava a atenção das crianças que se arregalaram os olhos ao saber que uma boa parte do sul da Itália imigrou para o Brasil. No chão havia um cesto enorme de livros para doação. Alguns em português, outros em inglês e a maioria em italiano de literatura brasileira normal quanto folclórica. Uma enorme quantidade de gente se amontoava perguntando se aquilo tudo era realmente doação.

— O que trouxe de atração? — O ministro de educação perguntou enquanto pegava nos pequenos souvenirs do 14-bis.

— Uma coisa que une os brasileiros e italianos no mesmo amor!

Giuliano pensou no que poderia ser até o foco de luz se voltar à parte gramada do pátio. Um campo de futebol em tamanho menor apareceu e as redes estavam sendo arrumadas. Algumas pessoas se ofereceram para jogar e tiveram que escolher quem seriam. Se Brasil ou Itália. Como se fosse tudo um enorme videogame.

O ministro de educação praticamente correu para o local para jogar junto com algumas crianças que já se amontoavam em uma fila organizada pela juíza da partida. Giuliano encostou-se ao stand de Caroline, ela não parecia lhe dar mais que uma atenção necessária. Começava a ficar impaciente. Ela já tinha lhe deixado falando sozinho duas vezes. Sua cabeça fervilhava de ódio.

— Ficou muito bom. — Comentou fazendo com ela levantasse o rosto.

— Obrigada. — Torceu para que ele saísse logo dali.

— Fiquei pensando sobre o que aconteceu na sala. Acho que foi muito grosseiro da sua parte.

— Perdão? — Sorriu indignada. O que ele tem pra querer ressucitar o assunto?

Sim, de certa forma eu me senti bastante ofendido!

Caroline negou com a cabeça. Ele só poderia estar tirando uma com a sua cara.

—Eu já lhe pedi desculpas, o que mais quer de mim? —Irritou-se. — Aliás, o senhor não foi o mais doce dos homens comigo naquela sala. Não prestou a mínima atenção quando eu estava falando, me interrompeu e ainda por cima me envergonhou para parecer uma pessoa legal e ainda vem com isso de novo?

Giuliano pareceu surpreso com a atitude dela. Cruzou os braços e notou que Dimitri estava rindo. Ela estava lhe humilhando.

— O que pensa que é pra me tratar dessa maneira?! Eu não... — Tentou dizer que ela não poderia agir assim com um estranho.

Um lado de Caroline tremeu de medo, mas o outro foi tomado pela coragem! Não iria se humilhar para ele, não iria mesmo! Interrompeu-o:

— Eu não sou ninguém. Mas é isso que realmente é? Um homem prepotente, falso e arrogante! Achou que eu ia aguentar suas grosserias porque aparentemente o senhor é premiê? Ainda tem a ousadia de vir aqui me questionar sobre algo que eu achei ter sido enterrado!

— Está me julgando me conhecendo hoje? — Giuliano se curvou em sua direção. Caroline tinha o tamanho de uma criança em comparação a si.

— Acho que hoje já foi o suficiente!

— Então eu posso julgar conhecendo-a hoje! — Giuliano já havia deixado a educação e todas as boas maneiras bem longe daquela conversa. — É uma mulher paranoica, mal- educada, já que não me deixa nem terminar uma única frase completa desde aquela conversa na sala de matemática! Sua posição de julgar as pessoas por antecipação não lhe faz melhor que ninguém!

Caroline abriu a boca pra falar, mas desistiu. Deu um passo ameaçador para cima dele e o Premie tão pouco saiu do lugar. Sentia-se um Pincher enfrentando um pastor alemão.

— Está me chamando de louca?

— Estou. É louca assim mesmo ou tem alguma disciplina na universidade que ensina isso?

— Faz parte da exigência do cargo agir como uma babaca? Por que eu posso não ser nenhuma maravilha, mas o senhor sequer me pediu desculpas. Quem é grosseiro assim?

Naquela altura Laura estava parada sem saber como é que Giuliano, um homem tão acostumado a discutir com autoridades muito mais atrevidas estava se deixando levar por uma briga idiota. Caroline, tão meiga, parecia à beira de atacá-lo. Eles não estavam em seus estados normais.

— O que está acontecendo...?

Giuliano e Caroline pareceram notar que aquela discussão já tinha passado dos limites e se afastaram. Caroline abraçou um dos braços, envergonhada por aquele show. Começou a se tocar que estava se estranhando com o Presidente do conselho de ministros da Itália.

— Nada. — Giuliano olhou para os lados, sem sabe como reagir. — Minha conversa com a senhorita terminou.

 — Fico profundamente agradecida por tamanho diálogo — Ironizou. No momento seguinte se arrependeu. Sua boca parecia estar com vida própria.

Giuliano se aproximou dela novamente. Aquela garota estava testando sua paciência.

— Tem sorte que eu não sou rancoroso. Insolente! Eu tentei ser bonzinho com você!

— Está me ameaçando? Parece pouco democrático. Seu mentiroso. Dispenso seu tipo de simpatia.

Dimitri apertou o braço de Giuliano vendo que iriam começar a se ofender de novo e falou algo no ouvido dele. O premiê se virou para Caroline novamente e apertou as mãos delas sarcasticamente.

— Foi um desprazer lhe conhecer, brasileira! — Ele deu a volta para ir a outro stand.

Caroline piscou os olhos várias vezes e com o coração aos pulos procurou um lugar pra se sentar. O que tinha acabado de acontecer ali? Laura estava de olhos arregalados no mesmo lugar sem saber como abordar o assunto.

— Eu pensei ter visto Pepe e Raena mais jovens aqui! — Riu sem graça. Aquele exemplo nem se aplicava ao que tinha acabado de acontecer ali. Caroline não fazia o tipo implicante e Giuliano tão pouco. Não para desenvolver algum relacionamento.

— Não seja ridícula. — Falou séria. — Você não viu o quanto aquele homem me odiou a primeira vista?

Laura não quis concordar, mas Caroline tinha razão. Nada daquilo tinha sido ensaiado pra acontecer. Eles não podia se odiar a primeira vista. Principalmente Giuliano agindo de forma tão grosseira como estava.

— E você parece que não foi diferente não é?

— São coisas diferentes. Eu realmente não gostei nenhum pouco desse homem, mas ele fez questão de me provocar, e eu cai como uma patinha... E o pior, você viu que ele me ameaçou! — Desesperou-se. — Meu Deus, Laura! Ele pode fazer algo pra me prejudicar mais ainda!

Laura sentou ao lado dela. Secou uma lágrima que caiu pelas bochechas dela.

— Ele não vai fazer isso. Não acho que ele vá querer correr o risco de te prejudicar e todo mundo vai saber. Será ruim pra imagem dele.

— Você acha que ele não compra imprensa e quem mais quer? — Soluçou.

— Eu não vou deixar, ok? Ele não vai querer comprar briga, e se tentar, eu faço da vida dele um inferno. Confie em mim!

Abraçou Laura se perguntando o porquê tinha agido daquela maneira. Luca apareceu no stand alguns minutos depois e parecia saltitante de felicidade. Alegre por tudo ter sido um sucesso. O sorriso dele se desfez ao sentir o clima triste.

— O que foi? Anika falou alguma besteira pra você? — Ajoelhou no gramado.

— Não, eu... Só fui uma idiota e consegui me prejudicar mais ainda brigando com o Premiê.

— O que?! — Luca quase gritou — Você e o Giuliano estavam discutindo? O que?

— Foi. Parecem que sofreram de um caso de ódio à primeira vista! — Laura disse enraivada.

Luca ainda não havia entendido patavinas, mas não exigiu explicações. Estava mais preocupado com o rosto choroso de Caroline.

— O que ele te disse?

— Não importa... O importante é que ele é um homem com poder demais e pode me prejudicar por meu comportamento se bem quiser. Eu estraguei tudo de novo!

Luca tocou as bochechas vermelhas de Caroline e a apertou num abraço desajeitado. Se Giuliano quisesse ele poderia realmente atormenta-la. Então tentou consola-la. Esperando que Giuliano tivesse a decência de não mexer os pauzinhos para prejudica-la mais ainda. Ele deveria estar furioso pelo plano ter dado errado e ainda por cima por ter culminado numa discussão em que deve ter saído abalado moralmente. Poderia sim se vingar e isso era uma possibilidade real.

— Está tudo bem. Vai dar tudo certo. Eu vou sondá-lo, mas não acho que isso vai dar em nada sério. Acalme-se, não precisa chorar desse jeito. Faz mal ao bebê.

Caroline deu uma risada.

— Que bebê, Luca? — Secou as mãos na calça.

— Eu mesmo. Fico estressado de ver o furacão Caroline chorando desse jeito, ainda mais que ela só vive pelos cantos! Meus alunos tem que estar felizes e sorrindo e não vai ser nenhum premiê malvado que vai tirar isso.

— Parece que está conversando com uma criança, Luca! — Gargalhou.

— Chama-se psicologia infantil. Pelo menos te distraiu! — Ele a ergueu da cadeira. — Daqui a quarenta e cinco minutos junte suas coisas que eu levo vocês para o Studentato. Pelo menos uma carona eu posso oferecer depois dessa agonia.

Luca estacionou do lado de fora dos portões e ajudou Constanza com uma caixa pesada que fez parte da ornamentação até chegar na porta do apartamento das duas. Caroline entrou de cabeça baixa a seguindo e Luca apertou seus dedos.

— Ficará tudo á cargo do conselho. Eles vão se reunir em três semanas e vão ver seu caso.

Caroline suspirou. Um problema nem esperava a vez do outro para desabar na sua cabeça.

— O que acha que vai dar?

— Prepare-se para a punição. Não acredito que eles vão te expulsar do programa, mas vão te castigar um pouquinho. Talvez cortem uma parte da sua bolsa, talvez te retirem o alojamento, talvez os dois...

— Ótimo! — Esfregou as têmporas desesperada.

— Calma, não vamos nos desesperar, pior seria se perdesse toda a anuidade. E acho que isso eles não fariam. Pelo menos eu tenho fé que não!

Caroline deu uma risada nervosa.

— Ainda inventei de passar uns dias numa praia com Laura. Mesmo estando tecnicamente falida por antecipação!

Luca levantou uma sobrancelha. O que Laura estaria planejando para aquela viagem para fazer Caroline sair do alojamento? Não sabia, porém não deixaria as duas muito sozinhas, não agora que Giuliano começava a dar as caras. 

— Vai te fazer bem viajar um pouco... — Abraçou Caroline para se despedir. — Vai precisar de forças para lidar com os problemas aqui. Eu vou fazer o que estiver ao meu alcance pra evitar a maior quantidade de danos.

— Obrigada, Luca. Você está sendo um anjo!

— Você que é um — Apertou suas bochechas coradas.

Trento, 02h47min da manhã.

Laura jogou a bolsa no chão do quarto. Giuliano levantou da cama e arrumou os cabelos um pouco bagunçados. Os olhos azuis passearam desejosos pelo peito desnudo dele.

—Ficou maluco?! — Gritou.

Giuliano revirou os olhos ao ver a mudança de humor dela.

— Se veio aqui somente pra me dar sermão pode voltar para o apartamento daquela mal-educada! Mas eu não pretendo falar sobre isso agora... — Giuliano girou Laura e fez as costas dela bater em seu peito. Laura gemeu atirando o salto pra longe e exibindo o pescoço para que ele beijasse. — Eu quero que me faça esquecer as ofensas daquela ignorante.

***

Já ameaçava amanhecer. Giuliano arrumava as malas enquanto Laura penteava os longos cabelos.

— O que pretendia agindo daquele jeito?

— Caroline? É sobre Caroline? — Virou-se pra ela.

— Lógico. Não se finja de idiota, Giuliano. Você agiu como um babaca o tempo todo. Pelo que Caroline me contou ao longo do dia você fez questão de humilha-la na reunião. Se estiver com raiva da organização, isso é um direito seu. Mas ela não sabe de nada e lógico percebeu sua grosseria! Estragou tudo!

— Fala como se a culpa fosse toda minha. Ela não me ajudou em nada me tratando como se eu fosse um inimigo, inclusive me deixou falando sozinha inúmeras vezes.

— Você não colaborou em modificar a impressão ruim, pelo contrário, se deixou levar por suas próprias impressões ruins e terminou sendo o fracasso que foi.

Giuliano bufou.

— Olha aquela garota! De onde tiraram que ela poderia ser ideal pra mim? Uma garota qualquer que se veste simples até demais para uma reunião com um premiê e ainda por cima fica de moletom para fotos públicas? Ela é simplória! Parece um chihuahua de tão pequena e desengonçada! Como vou levar aquilo para um evento?!

Laura arregalou os olhos, completamente atarantada.

— Qual o seu problema?! Olha o que diz com a Caroline! Nunca disse isso com mulher nenhuma! E sinceramente Caroline tem razão em te tratar mal. Você agiu como um babaca!

— Eu não gosto dela!

— Um caso de ódio a primeira vista? Amor eu conhecia, mas ódio é a primeira vez! E ela também te odeia, se quer saber.

— Chame como quiser. Não quero nem ter que pensar que vou ter que continuar essa palhaçada! — Murmurou. — Será que ela é daquele tipo de mulher implicante que tem fetiches com violência? Se for, então devo considerar que começamos muito bem! Ela disse que tinha mais o que fazer a sair comigo para tomar café!

—E você está de orgulho ferido! E Não. Se a Caroline te tratou com essa grosseria é porque ela gosta de você tanto quando você dela. Já a vi agindo com pessoas que tem alguma pretensão com ela. Caroline não é assim.

— Não sei. Só quero esquecer a humilhação que passei na frente daquela mal educada. Ela me deixou falando sozinha, duas vezes! Duas vezes! Eu a chamei naquela sala tentando parecer mais simpático, e ela simplesmente disse que eu a deixasse em paz! Ela é completamente louca!

— Ela te achou falso, mentiroso e é capaz de olhar para o céu para ter certeza da cor caso você diga que ele é azul. Ela não confia em você e sem isso você não tem nada. E ainda por cima a ameaçou. Sabe que ela está desesperada com a possibilidade de perder o mestrado aqui e ela sabe que você tem poder de piorar tudo mais ainda. Não tem condições de ela pensar bem de você. Caroline pode ter não ter ficado no estado normal dela, sendo tão explícita quando não foi com a sua cara, mas você não está ajudando se não ficar no seu estado normal!

— Eu não vou me envolver nessa história. Mas a vontade que tenho é de fazer alguma coisa pra fazer essa garota ter de vir rastejar por essa vaga.  Fazê-la ter que se humilhar pra mim como eu terei que me humilhar para fazer valer esse plano da organização!

 


Notas Finais


Comentem e favoritem <3
Link da Playlist:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLZ9jFeBneJ9Fr7s7kyGJMFOomWhqadY6A
Beijinhos, Fiquem com Deus!


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