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História Itália, prisão de cristal - Mundos diferentes


Escrita por: MrsReddington

Notas do Autor


HELLOOOO!!!!
Ansiosos? Como estamos? Tudo bem com você? Comigo tudo bem graças a Deus!
O capítulo demorou um pouco por uns perrengues desse últimos dias. Minha doguinha que está na família há quase 10 anos teve pela segunda vez uma doença agressiva e que mata muitos cãezinhos por aí e o pior ela já está praticamente idosa e junto com isso veio uma possibilidade de doença renal e uma catarata. Bomba atrás de bomba hahaaha Devem imaginar que não tem sido fácil lidar com um monte de remédio e uma recuperação lenta e demorada de um ser da família. Quem tem pet sabe o quanto eles são parte do nosso lar.
Justifico a ausência peço desculpas desde já se não está bom. Eu sei o quanto essa cena é importante pra você e também é pra mim, não queria causar mais suspense e decidi postar mesmo não estando tão bom quanto eu planejei durante todos os anos que planejo e escrevo essa história. São os momentos.
Como meu professor de saúde mental sempre diz, a gente sempre faz o que pode. Levem pra vida. Não tentem carregar um fardo de "tenho que fazer", quando não se pode fazer. Os impossíveis pertencem a Deus e os possíveis a nós. Façam o que podem, sejam honestos com suas habilidades e também com suas inabilidades. Ninguém é perfeito.
Isso vale pra Enem também. Sei que tenho uns favoritos de uma galerinha que está passando por essa tormenta que é fase de vestibular. Tranquilidade é essencial e a lista de espera é uma opção bem válida, passei em uma no curso que estou até hoje porque minha nota, mesmo fazendo que eu podia, não foi como esperado. Moral da história: Faça o seu melhor sempre, se o seu melhor não deu dessa vez, dará em outra. Assim segue a vida. Enquanto há vida, há esperança. Não se desesperem por isso. Real. Realmente escutem o conselho de quem há fez muito enem na vida! O mundo não acaba quando o sisu fechar oficialmente!
Agradeço demais cada comentário que recebo, cada MP que me mandam pra falar da história, significa muito pra mim! Continuem vivos! Beijos e Deus abençoe e guie vocês nessas decisões tensas da vida. Confiem e peçam ajuda a ele que dá tudo certo. Não é na nossa força, é na força dele. Nós é fraquinho, mas Jesus ajuda nós e dá tudo certo<3

Capítulo 25 - Mundos diferentes


Dia 29

Trento, 08h03min da manhã.

Caroline adentrou a sala da administração mais calma do que deveria estar. Estranhou a mensagem de Raena lhe pedindo para ir urgentemente ao restaurante, porém não se preocupou completamente. Achou não ter motivos.

Máximo a cumprimentou com um aceno e com um sorriso debochado cheio de fúria. Caroline sentiu o clima. Não deveria ter tanto ódio no ambiente. Sentou na cadeira com a sensação gritante que tinha algo muito errado acontecendo e começou a balançar os pés, ansiosa.

Alternava os olhares entre Raena, que estava nervosa e até mesmo triste, e com Máximo. O homem tinha um sorriso cada vez mais crescente.

— Tudo bem Raena? — Perguntou com receio da resposta. O silêncio era tão pesado que chegava a doer ter que quebra-lo.

Raena fez que sim com a cabeça, com medo de falar. Máximo a interrompeu antes que a senhora completasse a respiração e iniciasse o assunto.

— Fiquei surpreso que tivesse um namorado... — Ele falou baixo, analisando o olhar de Caroline se tornar levemente confuso.

— Não tenho um namorado. — Fez questão de salientar. Ajeitou-se na cadeira com uma postura mais firme. — Mas não imaginei que isso realmente fosse assunto seu.

Máximo controlou o ímpeto de gritar. Chegou até a imaginar apertando a mandíbula da mulher a sua frente. Ela era atrevida, sem saber que brincava com fogo.

— Que estranho, pois eu vi um homem com você ontem à noite. Aqui na frente do restaurante. De longe eu não tive certeza, mas ele parece alguém conhecido... — Soprou o ar para passar uma tranquilidade inexistente.

Caroline apertou os olhos e pela primeira vez se sentiu atemorizada completamente, sentia-se vigiada. Baixou o olhar e em seguida se encolheu um pouco mais na cadeira.

— Ele não é meu namorado e isso não deveria ser importante. — Recuperou-se rapidamente. — Aconteceu alguma coisa? Por que me chamaram aqui?

Máximo sentou na cadeira que era de Pepe e acariciou a madeira da mesa com certa admiração.

— Nada importante... — Ele deu de ombros a ironizando — É só para avisar que estamos sob nova direção, e por isso, decidi reformar essas escalas do restaurante. A recepção é um problema no almoço, sempre Kiara te substitui, e acabamos perdendo uma garçonete na cozinha por consequência. A demanda que teremos no horário de almoço será muito grande e seu horário não dá essa flexibilidade.

— E o que isso quer dizer? — Tremulou a voz com a ideia do que ele queria. Buscou Raena com um olhar e a encontrou com os olhos marejados. — Estou demitida? Eu posso cancelar alguma aula, posso mudar algo, posso ficar mais aqui durante o dia... Se for esse o problema, eu dou um jeito...

Raena assentiu, agarrando as mãos de Caroline.

— Eu falei isso. Eu tentei de qualquer maneira. Perdão Carol, a decisão dele é definitiva. Eu estou tentando, eu ainda sou dona de metade desse restaurante... E tudo só estar acertado quando estivermos em um consenso.  Isso é a decisão dele... Não a minha!

Caroline esfregou o rosto sentindo as bochechas arderem, queria chorar, queria muito despejar sua frustração em lágrimas.  Porém somente confirmou com a cabeça. Olhou para Máximo com um misto de raiva com desprezo e se aproximou da mesa.

— Está tudo bem Raena... Não se sinta culpada. A culpa não é a sua. — Encarou Máximo, o enfrentando.

Não entendia as razões dele completamente, mas não tinha relação com a administração do restaurante e as escalas que ele citou. Disso Caroline tinha absoluta certeza.

— Não está demitida... Está afastada temporariamente até conseguirmos entrar num consenso. — Raena reiterou.  — Eu te juro que vou fazer o possível para te ajudar. Eu juro Carol.

Máximo bateu na mesa, obrigando as duas a darem atenção a ele.

— Aqui é um negócio, não um cabide emocional para amigos. Quero pleno funcionamento! — Ele bateu na mesa outras vezes, animado.

Raena o olhou de canto de olho e evitou olhá-lo enquanto falava:

— Só porque o assunto acontece na sua frente não te dá o direito de intervir Máximo. O assunto é entre eu e Caroline, se está incomodado, saia desse escritório.

Máximo fez uma expressão falsamente ofendida, mas Caroline poderia chutar que ele realmente se sentiu insultado. Sorriu sem querer com a expressão injuriada dele e abraçou Raena.

— Está tudo bem, Raena. Eu vou dar um jeito por enquanto, até termos uma definição. Preocupe-se com você também. Precisa descansar um pouco. Caso eu realmente esteja demitida, o melhor sempre está por vir, e tudo coopera para o bem dos que amam a Deus. Eu sei que haverá um jeito.

Raena acariciou os cabelos de Caroline e se aproximou do ouvido dela.

— Eu tiro Máximo daqui antes que ele tire você ou qualquer outra pessoa que ele não goste.

Caroline fez que sim. Raena não perderia o espírito esperançoso e brincalhão, não por Máximo. Ela ainda tinha muita energia, e não iria perder uma queda de braço com ele.

Caroline deixou a sala aliviada por ver que Raena estava forte. Mas por outro lado, se questionou se teria mais ânimo para tentar mais uma vez.

Desceu as escadas com o olhar penoso dos outros funcionários que já estavam na cozinha. Agradeceu mentalmente por Kiara não estar ali e não ter que preocupa-la, e conhecendo Kiara  como conhecia, ela faria Máximo comer a mesa do escritório.

Ergueu a cabeça e os cumprimentou, se despedindo com um aceno simpático. Fechou a porta de entrada do restaurante e sentiu as primeiras lágrimas descerem por seu rosto já na calçada. Precisava de um trabalho em vista ou fixo, e se não o tivesse, não teria como continuar na Itália.

Ao chegar ao portão do prédio já estava controlando os soluços. O porteiro tratou de puxar assunto e elogiar Marcela, porém somente pegou Fifi no corredor com Carmen e os deixou com um pedido de desculpas e a justificativa de que não estava muito bem.

— O que há com essa menina? — Carmem perguntou a Léon duvidosa.

— Não sei... Mas ela sempre foi estranha dona Carmen. Nada mais me surpreende com ela.

Soltou Fifi no chão e viu quando ela não procurou pelo sofá, mas parou e se virou para onde estava. A cachorrinha lhe olhou com uma expressão triste e se enroscou por suas pernas, como se querendo lhe passar algum apoio.

— É Fifi, estou mais uma vez sem saber o que fazer...

Trento, 09h22min da manhã.

Giuliano bebia um chá encostando ao balcão de mármore da cozinha de Laura. A loira enrolava os fios da franja, aflita e andando de um lado a outro da sala. Ela tentava a todo custo que Caroline atendesse suas ligações, que não eram respondidas.

— Não deveria se preocupar, ela quer um tempo. Normal. Para alguém que está sofrendo tantos baques, ela precisa. — Ele analisou as folhas do chá no fundo da xícara. — Eu preciso de café, não disso.

— Emília lhe pediu que parasse. Vai acabar enfartando pelo excesso de cafeína. — Laura disse já largando o celular no sofá.  — Caroline é capaz de muita coisa quando está sozinha. Ela se reergue, mas caí muito fundo antes disso. Você não a entende. Sem emprego, sem condições financeiras, ela está vendo as esperanças ruírem novamente.

Ele deu de ombros, despreocupado.

— Realmente entender Caroline é para profissionais da área psiquiátrica. — Giuliano colocou a xícara na mesa, desistindo do chá.

— E lá vamos nós de novo...

— Certo. Não irei reclamar agora. Mas pode me explicar porque o escândalo?

— Kiara me ligou perguntando por Carol, achou que ela estivesse comigo. Máximo quer demiti-la, e Raena não. Parece que ela está suspensa até alguém vença essa guerra. Eu e todo mundo achamos que Máximo vai ganhar, ele fará de tudo pra isso pelo menos.

Giuliano fez uma expressão confusa. Os olhos verdes se fixaram num ponto da sala.

— Máximo é o cara que queria comprar o leilão não é?

— Na realidade ele é o doente psicológico que realmente precisa de ajuda psiquiátrica. — O olhou significativamente. — Eu desconfio que ele ficou obcecado pela Caroline, porém quando viu que não teria o que queria com ela e alguém o venceu nos lances, pra ele foi um sinal de que havia alguém mais, você. E ele resolveu descontar essa frustração no alvo do próprio desejo. Ou seja, Caroline. Por que fez essa cara? O que pensou? Já ouviu falar algo dele?

Giuliano moveu os lábios com um sinal de que não era nada de interessante.

— Máximo Messina? Nada. Pensei outra coisa.

— Luca conseguiu algumas coisas interessantes... — Laura não conseguia manter a calma como Giuliano. Ela pegou algumas folhas guardadas numa gaveta e o entregou.

— Está colaborando em conjunto com Luca? — Giuliano a observou fixamente. Laura o olhou de volta com uma expressão de tédio.  — Cuidado. Não acho que seja bom você tão perto dele.

Laura negou com uma expressão óbvia e abriu uma das páginas.

— Ele é um narcotraficante italiano, porém atua na América do Sul. Máximo coordena uma rede de tráfico de drogas e influencia, porém, atua sobre a identidade de outra pessoa. Ele criou um personagem e paga alguém para assumi-lo.  Agindo na distribuição e venda de drogas. O personagem dele é El dominador. Talvez Máximo queira a administração do restaurante para lavar dinheiro, ou quem sabe expandir o império das drogas.

Giuliano soltou uma risada de quem achava aquilo tudo muito engraçado.

— Primeiramente, que nome as pessoas arranjam para fazer um cartel de drogas... Soa ridículo. Porém o mais importante de tudo isso, como juntou as coisas? Luca chegou a isso tudo?

— Luca descobriu que ele vendia cocaína colombiana. Verifiquei na lista da Interpol e achei o El dominador muito atuante na região. Depois peguei o rastro de um dos últimos assassinatos cometidos pelo tal. A vítima antes de morrer o definiu como um homem com pelo menos 1,85 de altura, cabelos castanhos e olhos negros. O El dominador não tem essa altura na ficha da polícia colombiana. Verifiquei as contas de uma laranja conhecida pelo FBI do personagem, e encontrei Máximo como dono de uma empresa de fertilizantes que recebeu milhões como pagamento por algumas vendas. Os federais americanos deixaram passar porque acharam que a empresa era lícita, porém investiguei a região, e apesar de haver um dono, o meu homem lá notou que o que vendiam estava fora da validade. O que indica que não há nenhum outro comprador que não seja a laranja do El dominador para a empresa de Máximo. — Respirou fundo ao parar de falar. — Ele lavou dinheiro.

— Descobriu isso tudo de ontem para hoje? — Soprou admirado.

— Acredite se quiser, sim. — Ela fechou as páginas. — Um político americano me contratou há alguns anos para fazer um veneno para matar um senador francês. Pedi educadamente para que ele me cedesse os arquivos da investigação do El dominador. O que eu não peço chorando para os meus clientes que eles não fazem sorrindo. — Piscou para Giuliano.

— Imagino como ele deve ter feito sorrindo, morrendo que fizesse com ele o que fez com o senador. Eu lembro a história do senador francês. Tivemos que tirar aquele investigador curioso demais de Paris. Joseph não é? — Laura confirmou com um sorriso com a lembrança de Giuliano indo salvar sua pele. — Pedi uns favores também ao ministro da defesa para colocar Joseph o mais longe possível das investigações. Seu bilhetinho o assustou. O homem está morrendo de medo até hoje.

Laura lembrou que Joseph trabalhava com Pierre, o homem que Giuliano queria para substituir Dimitri.

— Como anda com Pierre? Injetar um dos meus venenos na garota filhote dos Scorpions, que estava envolvida na morte de Giovana pode levantar suspeitas em Joseph. O corpo daquela mulher encontrado naquela região pode suscitar Joseph de novo contra mim.

Giuliano minimizou a situação.

— Joseph está tremendo de medo. Está chamando atenção da pessoa certa. Pierre Duffour está esperando pelo momento certo para te descobrir, surpresa ele terá quando conhecer a mim. Preciso dele o mais rápido possível, ainda mais com o caso de Roberta e Norma. Com Roberta me preocupo menos. Pensei numa estratégia que vai começar a tirar Roberta de circulação. Preciso de você pra isso.

Laura vincou a testa, preocupada e cruzou os braços.

— O que pensou?

— A filha de Roberta. Ela tem um blog de fofocas, usando uma conta fake, você tinha me falado isso esses dias, lembra? — Questionou e Laura ficou curiosa. — Soube que ela anda querendo as atenções de Giampiero, o filho do prefeito de Trento e que vem falando mal de todas as mulheres que andam com ele. Faça algo com que ele te note e te dê atenção para que ela fique louca de ciúmes. Quero que Karine faça uma postagem no blog. Quando ela te dizer alguns desaforos no blog dela... — Ele insinuou.

Laura mordeu os lábios. Sabia como aquilo terminaria.

— Eu a processarei e então a polícia teria um mandado para verificar os computadores da casa e pegaria as movimentações ilícitas de Roberta.

— Exatamente! — Giuliano desencostou do Mármore e abraçou Laura pelas costas. — Pode fazer isso por mim?

Laura acariciou o rosto do homem que estava encaixado em seu pescoço.

— Claro que posso. Você sabe.

— Obrigada. — Giuliano a colocou de frente e soprou sua franja. — Obrigada por me ajudar. Não tenho como retribuir o que fez por mim durante todos esses anos.

Laura deu de ombros e beijou o queixo dele, subindo as mãos pelas costas masculinas e definidas, desenhando na pele dele com as unhas.

— Nem muito menos eu saberia retribuir.

***

Giuliano tirou o rosto de dentro de dentro do travesseiro vendo Laura se erguer da cama. A expressão dela era de preocupação e logo se converteu em urgência. A loira arrumava as próprias roupas numa correria desenfreada.

— O que foi agora? — Resmungou.

— Kiara e Constanza foram ver Caroline, vou aproveitar a deixa e ir também. Está todo mundo no apartamento dela, inclusive Raena. Seria interessante que fosse também, prestar algum apoio.

Giuliano olhou para teto, pensativo.

— Você está certa. Eu tenho que ir lá.

Laura parou de pentear os cabelos e se direcionou a ele.

— Não se perguntou por que o nome do Máximo é El dominador?

— Um nome brega de um traficante qualquer? — Giuliano levantou procurando com os olhos as peças de roupa que estavam espalhadas.

Laura negou com a cabeça.

— Quando ele se torna obcecado por alguma mulher é como um psicopata. Ele dá a ela tudo que ela quiser, cede a tudo, porém na mesma proporção que vem o desejo, vem o ódio. Então quando elas tentam fugir das maluquices dele, tentando enfrenta-lo, ele as mata.  Ele pode tentar o mesmo com a Caroline, ou com a próxima garota que ele ver. A vítima que te falei. A que deu as características dele. Ela foi uma das mulheres que ele se relacionou. Ele fez coisas horríveis com ela, que se ela tivesse permanecido viva, talvez estivesse morta emocionalmente.

— Ele é quase um novo Oliver? — Giuliano abotoou a camisa rapidamente.

— Oliver matava porque contava segredos às garotas e queria destruir os próprios segredos as matando. Máximo não inventa uma justificativa tão tola. O amor vira simplesmente ódio.

— A Caroline virou o alvo dele... Essa mulher parece que é um imã para malucos problemáticos... — Bufou.

— Não está preocupado? Não fazer nada? — Estava quase indignada.

— Luca fará. Você me disse que ele já está no rastro de Máximo. Se há alguém que está fazendo isso por mim, não há para que gastar meu tempo. — Deu de ombros.  — Caroline já tem quem cuide dela, além dela mesma, não precisa de mim e muito menos que logo eu tente ajuda-la.

— Luca pode até querer protege-la, mas também quer te ver pelas costas. Qualquer erro e está arruinado com ela. Constanza e Mikaela estão com ele...

— Não vou me meter nisso, Laura. Não precisamos nos preocupar, Luca vai afastar as possíveis ameaças.

Laura pensou se Luca intervindo naquilo não seria mais uma brecha, mas não quis continuar uma discussão com Giuliano. Afinal, ele sempre faria o que achava melhor e defender Caroline não parecia estar em seus planos, muito pelo contrário, para ele parecia ser um gasto de energia desnecessário.

— Não me disse como terminou o encontro ontem. O que houve?

Giuliano fez uma expressão debochada.

— Um pouco mais que antes de ontem, mas não ainda o suficiente. Ela é resistente, tem medo. Inclusive notei algo novo. Existiu alguém no passado dela, alguém que a fez ter medo, por isso ela se fechou para qualquer homem que tentasse se aproximar.

Laura pareceu sofrer um estalo de memória porque levantou imediatamente do pequeno sofá em frente ao espelho.

— Claro! Por isso! — Falou para si mesma. — Eu já tinha notado que em determinados assuntos ela simplesmente se apaga, principalmente quando se fala em relacionamentos amorosos que a envolva. Notei isso quando mencionei Peter nesse sentido. Sei que pode ter relação com o avô dela. Ela me disse no dia em que viajamos para as Cinco Terras que na época que o avô morreu muitas coisas aconteceram e de repente ficou com aquela expressão triste e silenciosa demais. Talvez tenha relação com a morte do avô e com algo mais...

Giuliano concluiu que deveriam ser situações diferentes que aconteceram ao mesmo tempo e que juntas tiveram muito peso.

— O algo mais é um homem. Um homem que fez algo de muito doloroso pra ela. Precisamos descobrir quem e o que aconteceu nessa história. Tente arrancar mais alguma coisa dela, se possível. Se não descobrirmos, talvez ela tenha algumas coisas a esconder, e isso é perigoso, porque estaremos um passo atrás. E nunca fique um passo atrás.

Laura assentiu guardando a informação. Iria dar um jeito de descobrir aquilo.

— Eu sempre ouvi isso, se não pode estar um passo a frente, só permita estar lado a lado. Você que me ensinou! — Acariciou as sobrancelhas dele. — Aconteceu algo mais? — Pegou a bolsa a arrumando com o que precisava.

— Além de ela ser complicada, lenta e difícil? — Ironizou. — Respeitei os limites dela, afinal existe algum problema com ela que eu ainda não sei a proporção, porém não caminhámos tanto quanto seria necessário. Se isso fosse real, eu estaria sendo basicamente enrolado por causa de um trauma dela. Uma situação ridícula. — Giuliano fez uma expressão de tédio.

— E o que vai fazer? Porque não sei se compreendo esses níveis de relacionamento de vocês...

Ele puxou Laura para um beijo, para desfazer o bico que ela tinha quando falava mal de Caroline, e em seguida explicou:

— Preciso de algo mais significativo para ficar mais perto do casamento que eles querem. Algo como um beijo. Para ela que é tão inocente, vai significar muito, significa que temos algo mais sério. E foi o que eu disse, se nos beijarmos não seremos mais só amigos. Mas ela é puritana demais pra isso e tem muito medo, e se envergonhou, parecia algo de outro mundo. É isso que tenho que tentar conseguir. Um beijo, um simples beijo.

— Um beijo? — Laura pensou que isso não seria tão difícil, mas quando ele falava parecia fazer um grande esforço. — Por que essa sensação de que está carregando um peso? Por causa de um beijo?

— Porque não sabe o quanto tentei, porém, nada muito útil. Será que é tão difícil um beijo? Só isso... Nada complicado. — Parecia revoltado.

Laura cruzou os braços de frente a ele. Giuliano terminava de calçar os sapatos e continuava resmungando das dificuldades, frustrado. Levantou o queixo dele, o olhando nos olhos e perguntou com um sorriso duvidoso:

— Quer beijar a Caroline?

— Faz parte de ser um casal. Nada de fora do plano. Não invente Laura.

— Não estou inventando nada, parece que quer muito beijá-la.

Giuliano a olhou por alguns segundos buscando que Laura dissesse que aquilo era uma brincadeira.

— Não vou responder isso... Não comece!

— Cuidado para não se apaixonar por ela com esse jogo todo que criou. — Alertou.

Ele riu como se fosse à coisa mais engraçada que tinha visto naquele dia.

— Não se preocupe, não corro esse risco. Admiro a pessoa que ela é. Gentil e é compreensiva. Parece feita para ajudar os outros. Mas esse tipo de sentimento, com ela, não faz sentido... Como se diz mesmo? Caroline não faz meu tipo. Isso, ela não me atrai. Até pensei quando a vi por foto que poderia ter uma atração física por ela, mas não. E eu não sou tão sensível a esse tipo de sentimentos.

Laura sentiu que por mais que para ele isso fosse claro.  Talvez não fosse para sempre. Talvez ele ainda tivesse chances de mudar de conceitos.

— Como será o plano. Onde encontrarei com Giampiero? — Mudou de assunto vendo que Giuliano já ria da sua expressão desacreditada.

Ele se colocou mais concentrado imediatamente. Agir para pegar Roberta era mais sério e importante. Era o momento de tirar do caminho quem tinha assassinado Giovana.

— Haverá o baile de fim de ano aqui em Trento, aquele filantrópico, no dia 31. Giampiero vai, Karine vai, e eu sei que irá também. Pode fazer isso realmente?

— Confio no meu poder de sedução. — Laura piscou para ele e abriu a porta de saída do apartamento. — Vamos ver como Caroline está.

Trento, 11h36min da manhã.

O apartamento com tantas pessoas lhe dava a sensação de que estava cada vez mais sufocada. Caroline abraçou as próprias pernas ouvindo Constanza ler os classificados em um jornal do dia com possíveis novos trabalhos. Olívia e Raena discutiam na cozinha como fazer Máximo mudar de ideia. Kiara lia alguns anúncios na internet e vez ou outra parava por estar tendo algum pensamento assassino envolvendo Máximo.

— Acha que isso vai dar certo? — Perguntou para Constanza quando ela falou sobre trabalhar num salão de beleza. — Primeiramente a rotina é muito intensa.

Constanza riscou concordando com a amiga.

— Acho que pode vender algum doce na universidade também. Você faz umas coisas bem legais de comer. Poderia ajudar. — Kiara sugeriu.

Caroline já tinha pensado naquela possibilidade então fez que sim.

— Poderia ser uma ajuda. O problema é que os lucros são inconstantes demais. Teria que ter algo fixo para não correr riscos, mas vale o esforço.

— Que tal bartender em algum bar da região. A maioria fecha um pouco depois das 2hrs da manhã. Mas não seria uma coisa tão grave... — Kiara continuou.

— Poderia sim. Conhece algum lugar que precise? Não sei fazer nada disso, mas posso aprender. — Sorriu animada um pouco menos aflita.

Constanza procurou alguma coisa na mente e depois nos classificados. Não havia nada ali naquele dia, mas poderia aparecer nos próximos.

— Vamos dar um jeito. Sozinha e na rua você não fica. — Constanza afirmou dobrando o jornal e o colocando de lado.

Caroline abraçou as duas e deu um beijo na testa de cada uma. Sua mente pedia para ficar sozinha, mas sua alma lhe dizia que não iria fazer nada de útil se fizesse isso. Todas aquelas pessoas queriam seu bem e lhe cercavam de afeto, não precisava ficar em um silêncio onde só teria a vontade de chorar como companhia. Chorar faz bem em algumas horas, mas por tempo demais, se tornava prejudicial.

— Obrigada, de verdade. — Disse a elas e as duas sorriram para lhe passar apoio.

O som da porta batendo foi o alerta. Uma olhou para a outra se questionando quem poderia ser. Antes que Caroline se levantasse completamente Raena saiu da cozinha com um avental e uma colher de pau nas mãos para abrir a porta. Ela obrigou Caroline a sentar e destrancou a fechadura.

Laura entrou esbaforida já se jogando nos braços de Caroline. A morena sorriu recebendo um abraço de urso.

— Eu vou meter a mão na cara dele! — Laura fez cara feia.

— Acredito que sim, mas não quero que vá para cadeia — Riu.

— É a pessoa mais animada que conheço em situações ruins! — Apertou os ombros de Caroline.

— Você chegou quando estou mais calma. Chorei muito já...

Raena pigarreou, chamando a atenção de Caroline que se interrompeu para olhar para ela. Todos os outros se calaram e encontrou o olhar de Giuliano. Ele estava na porta apertando os próprios dedos. Parecia esperar que o convidasse para entrar.

— Laura me disse. Eu posso entrar?

Caroline assentiu um pouco débil e ele descruzou os braços, caminhando para dentro do seu pequeno lar. Tudo ali destoava daquele homem aparentemente austero e de suas roupas de grife acostumadas a frequentar lugares muito requintados. Seu apartamento não era desorganizado, muito pelo contrário, porém ainda não parecia em nada com Giuliano.

Ele olhou ao redor e aos poucos pareceu se habituar. Acenou para as mulheres, as cumprimentando. Todos esperavam alguma coisa que Caroline não sabia o que era e só restou a ela ficar sem jeito. Raena bateu com a colher de pau em Olívia e sinalizou que ela fosse para a cozinha, e logo as outras entenderam o recado.

— Licença, vamos ajudar no almoço. — Kiara disse quase em coro com as outras.

Constanza respirou fundo e se afastou, sendo a última da fila a entrar na minúscula cozinha. Todas queriam permanecer lá dentro, porém tentado ouvir o que eles conversariam. Chiaram entre si em pedidos de silêncio e se encostaram as paredes, querendo ouvir.

Caroline sorriu sabendo que elas estavam fofocando na cozinha e com certeza brigando para ouvir tudo.

— Ele te deu alguma justificativa? Alguma razão para te demitir? — Giuliano manteve-se atrás do sofá pela postura mais fechada de Caroline.

— Disse que eu não tinha tempo para me dedicar o suficiente ao trabalho... Não sinto que era a verdade. — Descruzou os braços e completamente envergonhada ficou de costas arrumando as folhas de jornal que Constanza deixou por ali. 

Giuliano colocou as mãos nos ombros dela, fazendo com que ela parasse de arrumar. Caroline se virou um pouco desnorteada com o toque inesperado. Sabia que era ele, todavia isso não lhe afligia menos.

— Sinto muito. Máximo perdeu a melhor garçonete da história. Ela não sabe escolher vinhos, e joga água no cliente, mas é bonita, sorridente, e dança tango muito bem para quem só dançou uma vez. — Ele deu um sorriso leve de quem queria aliviar a tensão.

— Eu realmente tenho que tomar cuidado com essa sua memória...

— O que pensar em fazer agora? Vi os classificados em suas mãos, não posso evitar a pergunta.  — Ele apontou para as folhas que agora estavam dobradas em cima do centro da sala. — Algum outro emprego em vista?

Caroline disse pela linguagem corporal que não, mas com a boca falou que sim. Giuliano avaliou a boca franzida e os olhos pensativos a direita dela. Ela estava tentando lhe convencer que estava tudo sob controle.

— Estou tecnicamente suspensa até Máximo vencer Raena, ou ela o vencer. Vi algumas coisas e pensei em continuar nesse ramo por ser à noite o meu maior tempo, tem muitos bares aqui. Vou ver algo nesse sentido. Posso usar meus dotes culinários na universidade. Universitário sempre está com fome, vou tentar também. — Explicou sem nenhuma certeza na voz. Não tinha pensado ainda, mas não queria parecer tão perdida.

— Eu acho completamente injusto que passe por tudo isso. Eu sei o quanto é esforçada, corre atrás e faz o que pode para se manter aqui. Eu queria poder te ajudar de algum jeito.

Caroline abriu a boca e fechou sem saber o que dizer. Achava interessante ele querer lhe ajudar, porém não seria aproveitadora a ponto de realmente esperar que ele fizesse algo.

— Não precisa... Sempre há um jeito. As coisas vão se ajeitar.

Giuliano pensou um pouco e lembrou uma maneira de ajuda-la.

— Você sabe sobre o baile anual da caridade que acontece aqui em Trento?

Ela negou com receio do que esperar.

— Não tenho ideia. Por quê?

— Uma maneira de te ajudar. Um trabalho. Freelancer na festa. Eu sei que eles pagam muito bem e vai te deixar confortável por alguns dias. Eu soube que estão precisando de ajuda. — Sugestionou.

Ele viu os olhos de Caroline brilhar ansiosos e em seguida ela tossir para disfarçar.

—Não quero incomodar. Não precisa de verdade se preocupar com isso. Eu juro. Se for algo muito difícil não precisa.

O homem deu um sorriso discreto e se achegou mais a ela a acariciando nas bochechas, como se secasse lágrimas invisíveis.

— Eu quero realmente ajudar. E é lógico que me preocupo. Somos amigos não somos?

— Sim. É uma coisa que amigos fazem um pelo o outro. — Caroline sorriu com a piada interna que aquilo já estava se tornando.

— Vou falar com a organizadora que eu conheço... — Ele foi diminuindo a fala mandando uma mensagem. Caroline observava ansiosamente. — Só esperar ela responder.

— Obrigada. — Não podia negar que precisava daquele trabalho e ficou mais feliz ainda dele se demonstrar presente. Abraçou-o sem novas cerimônias. Já estava habituada aquilo e mais ainda quando ele segurava suas costas com cuidado, os juntando.  — Só por tentar eu já fico feliz.

Giuliano não a soltou mesmo quando o tempo normal de um agradecimento já tivesse acabado. Acariciou os ombros dela.

— Será muito bom que vá a essa festa. Vou ter para quem olhar o resto da noite. Essas festas costumam serem um pouco entediantes se não temos uma boa companhia.

Ele a sentiu rir quando escondeu o rosto em seu peito. Caroline aspirou o perfume dele. Constatou em si mesma a falta daquele cheiro. Era um apego viciante. Sabia que estava brincando com fogo não sabendo ainda o que queria.

— Vou estar lá como empregada, terá muitas coisas para ver. Mas é bom ter essa ilusão.

— Todos estarão mascarados, mas eu vou te achar.

— Mascarados?! Tipo um baile de máscaras? Sempre quis ir a um. Há males que vem para o bem. Realizarei o meu sonho adolescente.

— Sonho adolescente? E como terminava?

Caroline mexeu nos cabelos dele notando uma mancha discreta atrás da orelha.

— Gosto de mexer nos seus cabelos. É macio. E eu sonhava com um baile de máscaras na Itália... Que mancha é essa? — Mudou de assunto quase que completamente.

— Nascença. Mas me conte do sonho... Era algo como uma noite de verão, um céu estrelado... Certo príncipe encantado? — Permaneceu no mesmo tema já pensando em alguma coisa.

— Giuliano, era meu sonho de adolescência, não de infância. Príncipe encantado é algo de criança. Mas acho que nesse sonho tinha um cara. Você não sabe de nada sobre adolescentes. Já passou dessa fase há muito tempo, é velho, deve ter esquecido.

Giuliano revirou os olhos, ofendido.

— Eu não sou velho. E realmente quem não saiu da adolescência e você. Olha o seu tamanho. — Retrucou ouvindo-a rir. — Me chamar de velho é muito inconveniente... — Não a soltou, porém virou o rosto para o outro lado.

Caroline sentiu segurança o suficiente para colocar as mãos no rosto dele, o segurando.

— Eu meio que gosto de certo velhinho que está aqui na minha casa. Ele tem uns olhos muito bonitos, um tom de verde que sempre muda e eu me distraio notando que elas alternam. — Sorriu de maneira boba.

Giuliano lhe fitou de maneira convencida. Caroline pensou sobre onde estava indo e parou. Ele imediatamente entendeu que não aconteceria nada. Estava óbvio. Decidiu não criar outra situação que ela não tivesse motivos para fugir.

— E você meio que está me fazendo ter vontade de beijar você... — Deixou a frase morrer com um sorriso envergonhado.

Caroline o soltou com uma expressão culpada.

— Desculpe!

— Não por isso. A culpa é minha. Vou ver se Elettra já me respondeu.

Murmúrios contrariados foram ouvidos da cozinha. Caroline olhou rapidamente e as cabeças curiosas se voltaram para dentro imediatamente.

Não sabia se sentia frustrada, revoltada ou com raiva de si mesmo. Sentia mais raiva de si mesma do que suas expectadoras podiam imaginar. Sentou no sofá e esfregou as mãos no rosto. Ele sentou ao seu lado e demorou a nota-lo lá.

— Ela disse que te espera no local que vou te mandar hoje ás quatro da tarde. — Chamou a atenção dela.

— Desculpe. Eu sou uma bagunça. E muito obrigada pela ajuda, eu não vou saber retribuir. — Virou-se para ele com uma expressão, culpada.

— Não estou incomodado que seja. Só sinto que estou te pressionando. Não quero isso. Eu posso ser persistente, mas se for incomodo, eu nunca vou te forçar a sentir coisas que não quer sentir. Desculpe, eu é que estou equivocado. — Cruzou os braços. — Não vou desistir até que me diga isso Caroline.

Caroline sentiu-se pressionada não por ele, mas por si mesma. Estava deixando o medo e a insegurança interromperem sua vida. Precisava mudar aquilo ou ficaria presa num ciclo discreto de infelicidade.  Sentiu em seu coração que precisava ser forte para passar pelas lutas que viriam, e que não poderia ter medo de tudo.

Porém, ele não precisava carregar aquele peso. Giuliano era um homem de vida amorosa mais animada, ao que sabia, porém silenciosa. Pensou que talvez não valesse o tempo que ele estava perdendo. Não queria causar problemas a ninguém.  Nem a si mesma e muito menos a ele. Se fosse melhor a distância do que dar esperanças limitadas, talvez fosse esse o caminho certo. Ele não merecia perder tempo esperando por suas dúvidas e paranoias.

— Sou egoísta por querer que fique por perto. Eu sou um problema. Um problema que pode não valer o esforço e o seu tempo. Não sou as mulheres incríveis e bem-resolvidas com quem está acostumado. E eu me sinto muito idiota por pensar isso agora... — Fechou os olhos tentando se calar ou não pararia de falar coisas constrangedoras.

Giuliano não falou nada. Somente a abraçou antes que ela tentasse explicar o que passava em sua mente e acabasse enrolando uma decisão que não estava clara. Era melhor deixar como estava. Separou o abraço e antes de sair se virou na direção dela.

— Preciso ir, vou voltar para Roma. Eu estarei na festa... Mande notícias.

— Me mande à localização do local que a mulher lá quer me ver. — Pediu.

Giuliano assentiu e saiu, trancando a porta.

Entendeu completamente o lado dele, mas isso não lhe impediu de sentir a falta imediata. As coisas estariam estranhas demais para manter o mesmo contato e nem fazia sentido que isso acontecesse. Parecia que havia acontecido uma briga, todavia não houve discussão, não entendia completamente o que ele quis dizer com aquele abraço e a saída rápida.

— Juro que não entendo vocês dois! — Kiara saiu da cozinha sem esconder que estava espionando a conversa.

— Eu acho que entendi, mas não tenho certeza... — Caroline deu de ombros olhando para a parede como se estivesse refletindo. — Não sei se ele me deu espaço, porque foi compreensivo ou se ficou chateado pelos meus problemas. Eu realmente não entendi.

— Vocês dois são duas mulas! — Raena bufou passando a mão no rosto num sinal claro de impaciência. — Quanto mais jovens, mais problemáticos.  Você precisa se abrir e ele precisa explicar que tipo de sinal ele deu nisso tudo porque nós não captamos.

Caroline deu uma gargalhada. Queria chorar, mas rir era melhor.

— Giuliano bem que poderia explicar as coisas! — Laura passou as mãos na franja, decepcionada. — E eu achando que ia sair beijão...

— Não me decepciono tanto desde a morte do Stefan em The Vampire Diares... — Olívia sentou do lado de Caroline.

Raena soltou um murmúrio impaciente e voltou para a cozinha dizendo que ia terminar o almoço.

— Vamos deixar de pressionar a Carol um pouco... Ela leva o tempo dela. E deve ter algum motivo. Vamos calma. — Constanza aconselhou.

Laura estava intrigada se Constanza sabia de algo que ela não sabia. Caroline continuava rindo daquela situação e levantou dizendo que iria ajudar Raena. Antes de sair mandou uma piscadela para a austríaca em sinal de agradecimento pela compreensão.

— Sinto que minha torcida de casal está desfalecendo... — Kiara dramatizou sentando do outro lado. — Vamos ter que fazer um bolão de apostas de novo... — Falou mais baixo com medo de Raena ouvir, afinal o último bolão foi entre ela e Pepe.

— Eu aposto cinco euros que o beijo sai antes do Reveillon... — Olívia colocou o dinheiro na mesa.

— Defina isso! Antes do Revéillon é muito genérico, espertinha.  — Kiara abria o bloco de notas para salvar as apostas. — Eu aposto sete euros que sai na virada mesmo. Não sei como, mas eu sinto que esse eu ganho! — Digitou com determinação, ciente da vitória.

Olívia a olhou com falso desprezo.

— Muito convencida. Eu aposto dez que vai ser algumas horas antes da virada. Tipo à tarde, ou cedo da noite. Um fim de tarde na neve. Ele vai roubar ela de lá e nem para festa eles vão. O gostosão gosta dessas coisas.

— Todo mundo concorda que não vai demorar não é. — Laura apurou medindo o termômetro das outras quanto ao casal. — Eu aposto dez que vai ser na festa na virada.

Kiara guardou o celular terminando de anotar as apostas.

—Ninguém conta para Caroline que estamos fazendo isso. Não pode ter influencia de nenhuma de nós nessa decisão. É contra as regras!

Constanza acompanhava tudo, seus pensamentos viajavam entre achar cômico ou achar trágico.  Precisava avisar a Luca do tal baile de máscaras, sem dúvida Giuliano iria agir e algum proveito poderia encontrar para cavar mais um pouco o buraco de problemas que Giuliano teria. Seja para atrapalhar, seja para vigiá-lo.

Recebia convites para aqueles eventos, porém sempre os recusava. Não gostava de grandes multidões. Todavia, os dois convites que tinha serviriam para uma boa causa.

Trento, 15h55min da tarde.

Caroline parou em frente aos portões abertos de um casarão antigo, mas muito bem conservado numa região mais afastada das ruas apertadas e sem espaço para uma grande frota de carros do centro da comuna. O local tinha um enorme jardim com uma fonte que estava seca e alguns bancos ao redor.

O prédio tinha duas cores, verde escuro para todas as paredes externas e o telhado era branco. Alguns afrescos se estendiam imponentes no teto quadrado e um caminho de pedra guiava o caminho até uma porta de entrada principal de madeira maciça.  Pessoas circulavam de um lugar ao outro carregando coisas e consertando ou pintando parte da mansão.

A neve fazia o terror dos funcionários que carregavam as mesas escuras quadradas de madeira negra. Com o peso do móvel ficava ainda mais difícil não afundar na neve fofa demais. Nos cantos, vindo das outras portas, existiam alguns funcionários retirando os flocos. Parecia que a arrumação tinha recém começado.

Pensou em pedir auxílio a um homem que estava com os papéis nas mãos, mas assim que ele lhe viu, e antes que falasse qualquer coisa, apontou para uma mulher embaixo de um das escadas de degraus largos e perfeitamente lustrados. Desceu um degrau e observou enquanto caminhava o suntuoso mosaico de pedra no chão de mármore amarelado.

— Caroline. Imagino. Meu nome é Elettra. Senhora D’agostino para os mais distantes. Mas seremos amigas. — A mulher disse olhando para o celular. Deu uma ordem ou outra para alguém que passava e mais uma para alguém que perguntou de um assunto que Caroline não entendeu. Virou para a morena e puxou-a para um abraço distante que somente serviu para parecer falso. — Fiquei surpresa quando Giuliano me falou de você.

— Como sabia... Quem eu era... Achei... — Perguntou com um sorriso simpático. O homem simplesmente apontou para onde deveria ir como se já soubesse e talvez ele realmente soubesse.

A mulher de cabelos curtos e extremamente lisos lhe cravou os olhos cor âmbar e a interrompeu:

— Giuliano me disse seu nome e eu pesquisei. Aquele é o Arthuro, meu secretário. É bom que saiba que ele conhece tudo sobre você. — Piscou com um sorriso ameaçador.

Caroline apertou os olhos. Havia entendido o que ela estava querendo dizer. Assentiu e começou a seguir Elettra. Ela andava de um lugar a outro e às vezes tinha dúvida se ela queria lhe explicar alguma coisa, se estava falando ao telefone, ou sozinha mesmo.

— Aqui será nosso salão de dança. Todas as festas tem o conceito das máscaras. As máscaras nos escondem. Permitem sermos nós, sem que os outros saibam disso. A ideia é que assim, os convidados doem sem sentirem constrangidos de serem vistos. Além de é claro, lembrar os bailes do carnaval veneziano. — Elettra disse quando voltou onde tinha começado.

O local era realmente imenso por dentro e por fora. Viu o salão principal, onde estava, e duas salas mais íntimas, uma em cada lado da casa, além dos oito quartos que serviam para que se algum convidado quisesse. Entrou também na sala da segurança, onde somente o pessoal autorizado e a empresa estariam presentes.

A cozinha industrial onde funcionaria o armazenamento e organização dos comes e bebes do evento ficava no andar de baixo, numa porta do lado da grande escada. As mesas grandes que viu sendo carregadas se mantinham nos cantos do salão. Algumas cadeiras e mesas menores eram distribuídas no andar de cima, perto da proteção e ao redor das escadarias.

— Você ficará responsável por ajudar na decoração das mesas e tudo que as envolve. Como viu, temos 30 mesas lá em cima e elas precisam de limpeza também e que fique nesse modelo que está vendo. — Entregou as folhas a Caroline.

Nas fotos mostravam os mil e um arranjos que teriam que estar lá. A mulher continuou.

— Algumas coisas dos arranjos ainda não chegaram, Somente amanhã de manhã estarão aqui. Verifique a chegada deles, ou seja, se estão inteiros, se dará para todas as mesas e se precisa fazer mais algum pedido. Como seu trabalho seria em tese somente amanhã à noite, eu decidi por bem que ajudasse no controle da festa do dia que vai acontecer no prédio anexo. Estamos tendo problema na cozinha e no resto. Estou te mandando uma lista de fornecedores com os seus devidos números. Pode me ajudar nisso querida?

Caroline tentou assimilar tudo de uma vez e assentiu positivamente. Não havia entendido tanta coisa assim, mas o suficiente para começar. Quando se voltou a Elettra para perguntar onde era o prédio anexo, ela já tinha sumido.

— É o mestre dos magos? — Resmungou em português já saindo do local e procurando pelo outro prédio.

Diferente do outro, coberto de vintage de cima abaixo, a arquitetura desse era muito mais moderna. A escada era de inox e madeira e várias plantas enchiam o ambiente. Esculturas intimistas e modernas preenchiam o ambiente e um DJ montava os equipamentos no alto de uma varanda. As mesas eram de aço e vidro e em vez de várias cadeiras, como no outro prédio, cada mesa só tinha duas.

A cozinha era bem menor também e lá dentro estava um completo caos.

— A comida não era para ter chegado hoje... — Caroline imaginou ao ver pessoas discutindo e apontando para a comida. Resolveu se pronunciar—: Pessoal! A senhora D’Agostino me mandou para auxiliar vocês.

As pessoas se viraram em completamente para ela. Talvez não tivesse sido a melhor maneira de começar.

— Precisamos saber o que fazer com essa comida. O chef pediu que mandassem os materiais, mas eles mandaram as porções de pratos, feitos e ainda por cima errado. Ninguém aqui pediu carne de crocodilo! — Uma senhora baixinha reclamou com tanto fervor que Caroline se recriminou mentalmente ao imaginar que ela acabaria alçando voo.

Caroline se virou para o chefe, um homem alto, esguio, e de olhar fechado, rígido.

— Se veio a mando de Elettra preciso que mande tudo isso de volta. Preciso começar a preparar alguns pratos, ou não estarão prontos a tempo. Não irei continuar aqui se tudo não estiver em perfeita ordem em duas horas. — Ele tirou o chapéu de chefe e bateu a porta, deixando o ambiente.

— Não podemos ficar sem chef! — Outra senhora choramingou em um estresse coletivo.

Caroline não entendeu primeiramente como uma pessoa que trabalhava com comida tinha uma expressão tão infeliz, mas deixou pra lá. Cada um com seus motivos e seus problemas. Quis saber pelos fornecedores que trouxeram a comida e os buscou na lista que Elettra lhe mandara. Foi uma longa e interminável espera passando por milhares de setores da empresa. E não conseguiu ser atendida por um funcionário que lhe colocasse no caminho certo.

Todos a olhavam no misto de desdém com descrença. Eles não acreditavam que aquilo seria resolvido, porém sabia que não trabalhava com o que eles achavam. Não fugia de desafios e não fugiria daquele.

— Eu confio em no Senhor. Ajuda eu sair dessa e resolver a festa dessa galera meu pai. — Pediu de olhos fechados e em português enquanto ouvia os resmungos dos funcionários atrás de si.

Então, suas preces foram atendidas quase imediatamente depois que a fez. Levou como um sinal que precisava aprender a não confiar tanto em suas próprias habilidades que poderiam falhar. Sorriu agradecida para os céus e fez uma dancinha da vitória.

— Oi, preciso que me ajude a resolver uns probleminhas aqui. Vocês enviaram tudo errado, mas vamos resolver sem estresse. Mas antes de qualquer coisa, bom dia! Como está?

Dia 31

Trento, 05h21min da manhã.

O dia nem amanhecera, mas estava ali, na mansão do evento noturno. Seus olhos estavam roxos de tantas olheiras. Não havia dormido quase nada nos últimos dias chegando tarde demais em casa e muito cedo à mansão. Porém foi recompensador vendo os problemas da cozinha da festa do dia sendo resolvido. O chef sorriu, mas começou a gritar depois, dando ordens a todos e sem nem saber a quem.

Elettra até parecia satisfeita, porém não demonstrava mais do que um sorriso de canto de boca. Os arranjos já estavam contados e verificados, e enquanto o DJ passava o som na casa maior, aproveitou que estava praticamente sozinha naquela área e começou a dançar tentando afastar o sono enquanto arrumava as mesas que deixou pela metade. A dança era até condizente com a música, porém um pouco desengonçada demais para não chamar atenção.

O Jovem Giampiero entrava no ambiente, observando com o pai as instalações da primeira festa que ia desde que chegara de Berlim. Com a chegada Elettra, de desanimada, se tornou extremamente cordial e feliz com tudo e todos.  

O rapaz analisava o ambiente até observar a mulher dançando no alto da escada, suas atenções foram direcionadas ali por tanto tempo que Elettra virou-se para onde Giampiero olhava.

— Caroline! — Deu um grito que assustou o prefeito e logo pediu desculpas com um sorriso falso. — Querida, eu tinha avisado que não precisávamos de alguém aqui nessa parte agora de manhã tão cedo. Deveria estar no salão menor ou na cozinha...

Caroline parou de dançar imediatamente e olhou para os estranhos com os olhos arregalados. Bem que tinha achado estranho não haver nenhuma correria ali. Só queria enfiar a cabeça num buraco e só sair quando tivesse certeza que não encontraria aquelas pessoas nunca mais.

— Ontem não deu tempo de terminar essa parte e eu resolvi não atrasar por que... — Não tinha uma justificativa plausível. Simplesmente não lembrou que não era para estar ali. — Desculpe, vou voltar a minha insignificância — Se corrigiu imediatamente colocando a mão no rosto — Digo, voltar à cozinha. Isso a cozinha! Tchau!

Não soube por que disse que iria para a cozinha se o caminho mais rápido era ir para os outros salões. Não precisava ser coerente e apenas seguiu o corredor até o final e buscou ar. Queria poder abrir a janela, mas morreria de frio, então se contentou com o pensamento de que não adiantava chorar sobre a vergonha passada.

Assim que se passaram pelo menos meia hora, Caroline, muito sorrateira, voltou ao salão maior. Notou o silêncio e o vazio e das escadas viu Elettra conversar com o homem mais velho do lado de fora. Terminou de arrumar os arranjos o mais rápido que conseguia e guardou algumas ferramentas numa caixa de papelão e a carregou até a cozinha. Deixou aquela casa e foi até o anexo sentindo frio incomodar suas pernas. Precisava usar calças mais grossas.

Diferente da casa maior, o anexo estava aos burburinhos. Eliana, uma jovem com quem tinha conversado no almoço do dia anterior falava sobre alguma coisa que ficou sabendo e logo sorriu ao lhe ver. Ela ainda era praticamente uma menina ainda, só tinha altura, inocência e simpatia.

— Parabéns pelo seu aniversário! — Caroline a abraçou chamando a atenção de todos.

— Meu Deus, é seu aniversário? — A senhora baixinha que Caroline sempre esquecia o nome abraçou Eliana também.

Até o chef desemproou e sorriu ao parabeniza-la.

Eliana era filha de um dos garçons e de uma arrumadeira e como estava de férias da universidade foi ajudar o pai e ganhar um extra. Ela foi criada em meio às festas que os pais trabalhavam e sempre estava escondida em alguma cozinha de alguma festa chique promovida pela alta sociedade.

Tinha os cabelos em um tom de castanho muito claro e algumas mechas de loiro acobreado. Os olhos eram meio puxados, denotando algum traço oriental na família, e oriental também estava em seus gostos musicais.

Eliana passou o almoço do dia anterior falando com Caroline sobre algum músico coreano que ela já não fazia mais ideia do nome por mais que tentasse lembrar.  Mostrou a ela até músicas do grupo. Caroline só lembrava uma música que grudou em sua cabeça, porém também não sabia cantá-la, somente imitar o ritmo.

— Como é ter nascido praticamente em outro ano? — Caroline puxou assunto enquanto lustrava as taças.

Eliana tinha nascido exatamente ás onze horas e cinquenta e sete minutos do dia 31. Por pouco não nasceu um ano depois.

— Na verdade não tem muita coisa, só é engraçado quando contamos a história do parto dentro de uma minivan Hippie do meu tio.

Caroline já tinha ouvido a história. E era realmente de chorar de rir como a mãe dela contava.

Estavam tão distraídas arrumando os últimos detalhes da festa que não notaram Giampiero as observar, mais precisamente observar Caroline. Esperou ela ir até o salão para tentar algum assunto.

Ela poderia não se vestir como uma das mulheres que veria a noite, coberta de ouro e vestidos caros até o último fio de cabelo, mas era tão bonita quanto mesmo sem nada daquilo naquele momento.

— Bom dia! — Saudou envergonhado.

Caroline se virou ao ouvir a voz masculina.

— Bom dia! — Sorriu e acenou com a cabeça num cumprimento. 

Ela pediu a Eliana que voltassem na cozinha para verificarem se as bebidas do bar tinham chegado como o barman pediu. Giampiero baixou o rosto um pouco desesperançado.

— Desculpe, não quero incomodar... Mas te vi dançando e fiquei curioso. Como é seu nome?

Caroline arregalou os olhos e abriu a boca, abismada.

— Ai que vergonha... — Murmurou para si mesma. — Meu nome é Caroline Martins. Desculpe, de verdade, achei que estava sozinha.

— Não! Não peça desculpas... Eu só queria saber algo sobre a senhorita. — Ele parou pela primeira vez se questionando se ela tinha compromisso. Observou a mão dela e não viu nenhum anel, não era significativo, mas pelo menos era algum indício. Continuou a falar —: Eu fiquei um pouco impressionado. Não sabia como ter algum assunto em comum. Meu nome é Giampiero. Como bem viu, sou filho do prefeito.

Caroline riu de surpresa e ao mesmo tempo de vergonha. Vergonha na frente de pessoas chiques deveria ser sua especialidade. E não que o rapaz não fosse uma pessoa agradável, ele era. E parecia realmente alguém honesto e educado e isso era bom.

Era visível que ele tinha dezenove ou vinte anos. Mas o arroubo dele não foi recíproco. Em sua cabeça pensou que ele merecia uma oportunidade, mas de uma garota legal, bonita e muito gentil, e que um ajudasse o outro a ser melhor. Sentiu que ele merecia aquilo. Ele não era má pessoa.

— Fico feliz que tenha chamado atenção de maneira positiva... Mas... Mas no momento eu... — Não sabia como dizer aquilo de maneira de gentil. — Estou meio que em outra...

Giampiero fez juntou as sobrancelhas.

— Em outra... o que?

— Em outras circunstâncias...  — Apertou os olhos tentando explicar.

A cara de dúvida dele aumentou mais ainda.

— Não quer algo sério, é isso? — Ele imaginou algo muito diferente dela do que alguém que gostava e preferia relacionamentos casuais.  — Desculpe.

Caroline fez gestos exagerados buscando na mente uma palavra que já conhecia. Segurou nos ombros do rapaz e despejou tudo que pensava de uma vez já faltando o ar.

— Eu estou saindo com alguém... E eu gosto muito dessa pessoa. Algo legal está começando e talvez eu tenha estragado tudo esses dias... — Pensou um pouco e continuou —: E eu sinto muito por não te dar uma chance, mas olhe em volta. Existem muitas meninas lindas e de bom coração, querendo uma coisa mais séria por aí. Essas coisas meio que se atraem... E eu torço muito por isso, porque você chegou de uma maneira muito gentil e é um rapaz bom. Existe uma quantidade gigante de babacas por aí, você não sabe quantos!

Giampiero sorriu da extrema sinceridade dela. Apesar do fora, era quase impossível se sentir envergonhado com ela. Caroline se encolheu tímida depois do breve surto de palavras desenfreadas.

— Ele é um cara de sorte. Mas acho que quero te conhecer melhor apesar disso, como amigos.

— Você não iria querer uma amiga como eu que fala desse jeito quando fica nervosa. Não quer mesmo. — Mordeu os lábios encabulada.

— No mundo que eu vivo, é sufocante conviver com pessoas tão superficiais... A sua sinceridade é quase como uma janela no meio de um quarto fechado, entende? Preciso me cercar de pessoas reais. E você é uma e com certeza deve conhecer pessoas assim também. Sinto isso.

Caroline sabia em que meio ele vivia, era o mesmo que Giuliano. Se realmente houvesse algo mais sério e oficial entre eles teria que entender que mundo era aquele. Teria que vivê-lo junto a Giuliano. A imensidão de problemas que teria lhe fez sentir uma dor em algum lugar da sua mente.

As conversas com ele nos últimos dias tinham sido sobre o trabalho e coisas básicas. E evitava desgastar o emocional já abalado por ele não falando sobre o último dia que se viram pessoalmente. Era estranho, confortável, mas lhe deixava com muitas dúvidas dos sentimentos atuais dele. E se quando resolveu aceitar o que sentia completamente ele mudou de ideia.

— Eu te entendo... E conheço várias pessoas reais. — Riu do termo que ele usou. — Eliana! — Chamou a garota. — Ele quer saber como é o nosso mundo, o mundo das pessoas reais. Pode me ajudar a mostrar a ele?

Eliana sorriu num cumprimento ao rapaz. Ele lhe chamou atenção, porém guardou aquilo dentro de si. Não daria esperança a si mesma.

— Pessoas reais tem muita louça para lavar. O que acha de ajudar a gente? — Ela propôs.

Ele fez uma expressão de dor falsa.

— Gente como nós lava louça e roupa, muita roupa... —Caroline deu duas tapinhas nos ombros dele, o motivando.

— Meu pai está nesse ramo há anos. A cozinha é o melhor lugar de uma festa, é onde a vida acontece de verdade! — Ela abriu as portas da cozinha.

Giampiero vislumbrou pessoas correndo, gritos, resmungos, reclamações, pessoas desabafando e contando histórias engraçados de fracassos e derrotas. Pilhas de louças para lavar, bandejas para arrumar e muita gente real que não precisava de máscaras ou jogos para viver.

Sorriu para Eliana e para Caroline.

— Mãos a obra, garotas!

Trento 13h26min da tarde.

— A festa irá começar em pelo menos trinta minutos. Os ajustes já foram feitos, tudo está dentro do controle. Lembrem que precisamos estar atentos, cuidado com desconhecidos na cozinha, não conversem com os convidados, Não deixem faltar bebida e reponham sempre a comida! O resto vocês já conhecem as regras. A todos, bom trabalho! — Elettra discursou pela primeira vez realmente entusiasmada. — Caroline, venha comigo.

Caroline olhou de canto de olho para Eliana sem imaginar o que a organizadora queria. Seguiu atrás dela até o lado de fora e de longe viu Giampiero deixar a cozinha. Ele realmente tinha sido de grande ajuda, até o chef carrancudo gostou do rapaz. Eliana acenou para ele e o rapaz correspondeu o aceno do outro lado para ela.

— Quero que faça um favor agora à tarde. Eu sei que combinamos que ficaria na supervisão à noite e de dia, mas tivemos um problema com a equipe de garçons, sei que já trabalhou em um restaurante tradicional... Pode me ajudar por favor?

Pela primeira vez Elettra lhe pedia “por favor” para alguma coisa não estando na frente de alguém importante.

Confirmou determinada a agradar.

— Certo... Os uniformes já chegaram ao armário. Percebi que se tornou amiga de Eliana, ela pode te ajudar ou tirar dúvidas. Depois da metade da festa o movimento dos garçons é reduzido, e você está dispensada até a noite, tudo bem? Como combinamos, a roupa da noite é por sua conta e risco, pegue o ponto eletrônico — Entregou uma caixinha pequena a Caroline. — Estaremos sempre em contato. De onze e meia estará liberada para amanhã a tarde vir ajudar na limpeza. É comunicativa demais, isso é bom, mas sem conversas com os convidados, estamos entendidas?

Caroline já estava estranhando o tom até educado da organizadora.

— Vou buscar meu uniforme. — Avisou já saindo. — Obrigada.

— Cuidado. Esse tipo de festa precisa de segurança pela quantidade de pessoas importantes que temos aqui. Se encontrar algo estranho, avise a segurança. Não dê espaço para desconhecidos quando estiver passando com as bebidas, alguém pode fazer alguma coisa. Cuidado e vigilância sempre!

Assentiu e voltou para dentro do prédio anexo. Eliana lhe puxou para um dos quartos no andar de baixo e era lá que os funcionários se arrumavam. A roupa era um macacão longo de cor branca e com mangas longas até os cotovelos e um cinto prateado. Na peça existia uma insígnia discreta da empresa de eventos no canto do peito. A roupa era mais bonita do que imaginava.

Eliana lhe disse como deveria ser a maquiagem, simples e sem muitos exageros. Prendeu o cabelo num coque padrão e bem frouxo, soltando alguns fios dos lados. Arrumou a máscara que até os funcionárias usavam, todos do mesmo jeito e já estava curiosa para saber como era o padrão dos homens.

— Acha que foi errado o Giampiero na cozinha? — Eliana questionou num sussurro enquanto terminava de amarrar o sapato.

— Elettra permitiu. Claro que depois que ele conversou com ela um pouco. — Não se preocupava totalmente.

— Eu me importo... Já vi muitas coisas nesses eventos Carol. Existem pessoas horríveis, pessoas quem matam as outras em festas como essa... Acho que não vejo as pessoas da mesma forma mais. — Sorriu envergonhada pelo desabafo.

— Eu entendo isso... Essas pessoas podem ser traiçoeiras. É triste. Mas Deus ama todos nós, então temos que fazer o mesmo... Não vi Giampiero fazendo nada de suspeito, se quer saber.

— Não confio completamente em pessoas do nível dele, é isso.

Caroline até riu.

— Entendo você completamente! Pessoas importantes e suas vidas complicadas... Vamos? — Chamou quando ela terminou de abotoar o salto prateado. — Ele é um cara legal. Eu sinto que é. Ele precisa de amigos legais também.

***

Caroline já sentia os pés incharem. Estava há pelo menos duas horas carregando bebidas. A festa fervia, o som era alto. O DJ soube selecionar tudo muito bem. Notou que a festa do dia era mais para os jovens porque viu poucas pessoas de idade acima dos trinta cinco anos no salão.

Já evitava o andar de cima para não perder o emprego. Viu um grupo de jovens de pelo menos uns vinte anos usando uma grande quantidade de cocaína em um dos corredores e aquilo lhe fez sentir um pouco mal. Não tinha tanto estômago para ver algo assim e não ter vontade de tirar o pó branco das mãos daquelas pessoas. Estavam se destruindo. O pior de todos foi os ver incentivando uma menina que não parecia nem ter quinze anos a fazer o mesmo.

Não tinha nada a ver com a vida deles e com suas decisões, mas isso não lhe impedia de pensar por si própria a respeito das coisas que via.

Porém Elettra lhe mandou subir e servir alguns convidados que estavam nos quartos e foi forçada pela necessidade. Passou pelo grupinho e a menina que viu antes sendo motivada estava deitada no chão com uma expressão triste. Desiludida. Passou rápido para se obrigar a terminar o trabalho. Bateu na porta de um quarto e um homem a abriu.

Ele a olhou de cima de baixo enquanto servia a bebida.

— Quem é você linda? — Ele tentou tirar sua máscara, visivelmente bêbado e já seminu.

Uma mulher já estava deitada na cama toda amarrada e Caroline se afastou terminando de colocar o champanhe na taça louca para sair daquele lugar. Ele não desistiu quando o ignorou e pegou em seu braço quando já estava no corredor. Virou pronta a tentar se defender de qualquer jeito, mas uma mão masculina interviu e empurrou o homem de leve.

— Tem certeza que quer descobrir?

Caroline se virou assustada. Reconheceu os traços de Giampiero por baixo da máscara. Sorriu agradecida e o homem ao ver que ela não estava sozinha recuou olhando para os lados procurando pelas câmeras de segurança.

— Cuidado aonde vai aqui. Sempre há alguns doentes que passam dos limites. — Ele aconselhou quando Caroline já se aproximava da escada.

O coração ainda estava pulsando no pescoço quando passou rápido pelo grupo que estava sentado no corredor.

— Obrigada, de verdade. — Disse parando na escada. Buscou o ar que já lhe faltava. — Eu não imaginava que as pessoas usavam esses quartos para essas coisas. Eu deveria ter imaginado.

O rapaz riu.

— Não sei como eles têm coragem... — Olhou para trás vendo se Elettra estava por perto. Caroline levaria uma bronca se ela lhe visse. — Queria te agradecer pela oportunidade de hoje. Foi muito bom. O cara que está com você tem muita sorte.

A menção daquilo fez Caroline procurar olhar para outro lugar. Falar a respeito de Giuliano, mesmo que indiretamente lhe causava uma repuxar no estômago.

— Temos sorte... — Fingiu que entregava uma bebida a ele quando outro garçom passou. — A garota que tiver seu coração também será muito feliz Giampiero. Acredite, eu já conheci muita gente na sua posição que era muito ruim. Tem um futuro brilhante.

O rapaz sorriu.

— Quer ajuda? — Ele perguntou pegando a bandeja que já tremia em suas mãos com algumas taças.

Estava com os braços cansados demais e a cada minuto que passava com eles erguidos sentia que iria desmoronar. Negou educadamente a gentileza de Giampiero. Ele era um convidado e tecnicamente nem podia estar ali conversando. Deixou o rapaz com um agradecimento discreto e desceu as escadas se embrenhando na multidão dançante. Esbarrou em um homem muito mais alto quando ele passou em sua frente de repente.

— Perdão! — Falou atônita, verificando na bandeja se alguma taça teria derramado.

— Tudo bem. Machucou? — Ele questionou atencioso.

Caroline reconheceu a voz e se virou por impulso. Os olhos azuis brilhantes lhe fitaram com certa dúvida quando ergueu o rosto na direção dele. Luca. Era impossível não ter certeza que era ele mesmo com a máscara.

— Caroline? — Ele lhe perguntou duvidoso.

Não tinha dito a ele que Máximo lhe demitira, menos ainda que estivesse trabalhando naquele evento. Não existia mais uma relação tão próxima para que isso acontecesse. Sorriu timidamente para sinalizar que sim e tentou passar rápido por ali.

— Eu fiquei sabendo do que aconteceu... Não tive tempo de perguntar... As coisas ficaram um pouco loucas esses dias e...

Algo o interrompeu, na realidade, uma mão feminina e com unhas muito bem pintadas segurou Luca pelos ombros, tirando sua atenção brevemente. Caroline já ia dizer que ele não precisava se preocupar quando percebeu quem era a mulher que o chamava. Franziu o cenho e se sentiu humilhada pela segunda vez naquela tarde. Anika a mediu com os olhos afiados de quem não tinha mudado tanto assim o comportamento mesmo com a proposta de trabalho juntas.

— Quem é essa? — Anika perguntou não contendo o ciúme.

Caroline deu um passo para trás para que uma garota passasse. Luca olhou feio para Anika, de maneira que ela tirou as mãos dos ombros dele. Tentou entender o que basicamente estava acontecendo, mas as coisas não pareciam encaixar tão bem. Meneou a cabeça e sorriu para eles. Seria sua deixa para sair dali.

Não tinha conversado com Luca desde o dia do leilão. Estava tudo num silêncio constrangedor entre os dois e preferiu não incomodá-lo mais com seus problemas, ainda mais quando sua breve solução, o trabalho no evento, tinha lhe deixando numa rotina exaustiva que mal lhe dava tempo de dormir a noite.

— Sou Caroline. Luca e Anika, eu preciso voltar ao trabalho, com licença.

Colocou a bandeja na mesa e puxou a máscara por um instante. Soltou o ar acumulado que estava em seus pulmões como se aquilo fosse diminuir o peso que sentia. Precisava de um tempo somente olhando para o teto tentando assimilar tantas coisas acontecendo em tão pouco tempo. Mas tinha que reconhecer quem em meio a tanto, tinha certeza que Luca fazia muita falta em sua vida. E como qualquer amizade quebrada, Luca estava lhe quebrando também.

Pegou um pouco de água e sentou na cadeira, massageando as pernas e braços que queimavam. Não era acostumada há estar tanto tempo servindo e a falta de hábito estava lhe matando. Os outros garçons estavam praticamente normais, mas já se sentia exausta.

Arthuro, o secretário de Elettra entrou na cozinha. Deu algumas ordens e dispensou algumas pessoas, o que incluiu Caroline.

— Venha à noite vestida apropriadamente para uma festa mais chique. — Ele avisou enquanto ela já tirava a máscara e guardava na mochila.

Caroline agradeceu tanto a Deus por ter sido liberada no momento que estava mais cansada que não parou de sorrir até deixar o anexo. Mandou uma mensagem para Laura, avisando que já iria para casa dela e mandou outra para Giuliano perguntando, cheia de vergonha, se ele estaria no evento à noite.

Pediu um UBER que lhe deixasse no prédio de Laura enquanto abotoava o casaco, estava frio demais para esperar sem agasalho. Fez a viagem num silêncio confortável. O motorista notou que estava querendo mais dormir do que manter diálogo e não fez muitas perguntas. O que era uma pena, amava conversar com os motoristas, mas estava cansada demais.

— Desculpe mesmo moço. Estou acabada demais para conversar. Mas vou lhe dar cinco estrelas porque o senhor é ótimo. — Disse ao trancar a porta e entregar o dinheiro.

Ele avisou que não se preocupasse e pediu que tomasse cuidado à noite, com as festas a cidade ficava agitada demais e isso chamava atenção de mal intencionados. Ainda acrescentou que tomasse cuidado dentro do evento que estava.

Preferiu acreditar que ele se referia a algum cuidado com os possíveis marginais soltos, mas teve a impressão que não era somente a isso que ele se referia. Chegou até pensar se ele não estava tendo alguma premonição. Tentou se atentar  somente em ser cuidadosa e entrou no elevador guardando o receio dos olhos do homem no coração. Seria cuidadosa.

Laura lhe recebeu na porta com um sorriso de quem estava aprontando de novo.

— Se me colocar em outro leilão, eu não respondo por mim franjinha! — Reclamou logo no batente e já retirando os saltos.

— Não! Não faço mais isso. Estou sorrindo assim porque acabaram de chegar os nossos vestidos para noite.

Desde que soubera que a noite estaria livre para usar qualquer roupa com tanto que fosse adequada ao estilo da festa, Laura lhe mandava fotos e mais fotos de vestidos que com certeza eram mais caros que qualquer coisa que já tinha vestido. Tinha dito a ela que daria um jeito, porque apesar de estar se vestindo como se quisesse não queria chamar mais atenção que uma convidada do evento. Mas Laura era persuasiva demais para desistir, e a loira lhe prometeu não exagerar, e acabou elegendo os três que mais gostou e Laura prometeu uma surpresa de qual seria o ganhador.

Caroline soltou o ar, quase aliviada. O preço não lhe deixava ficar completamente relaxada. Porém, tinha absoluta certeza que Laura não escolheria mal.

— Laura, tomou cuidado com os preços?

— Calma! — Avisou e Caroine já esfregou as têmporas, quando Laura pedia calma era para se preocupar. — Eu consegui patrocínio nos dois vestidos. Só precisamos tirar umas fotos com eles aqui ou na festa e postar no meu perfil, se quiser nem precisa mostrar tanto seu rosto... e eu não faço marcação na foto que você estiver. O que acha?

Pela primeira vez as coisas pareciam um pouco mais normais. Concordou com uma expressão desconfiada e entrou na sala. Uma mulher arrumava dois vestidos em cabides. Vestidos lindíssimos. Aproximou-se das peças e tocou um deles.

Um era vermelho e outro era coberto de cima a baixo com brilho. Mexeu no vermelho acompanhando o tecido caro até a barra. Ele era longo e tinha uma fenda que praticamente começava um pouco antes da metade da coxa e o busto era em V com uma faixa mais rígida do mesmo tecido na transversal modelando a cintura abaixo do seio.

— Esse vermelho é lindo! — Comentou virando-se para Laura. Era a cara dela usar algo como aquela fenda. — Vai ficar lindo em você.

Laura concordou com um sorriso animado e fez sinal para mulher que puxou o tecido que cobria o outro cabide, revelando com detalhes o vestido com tecido brilhante prata. Ao contrário do vermelho, o outro vestido tinha uma fenda mais discreta transpassada na perna esquerda e coberto de pedrarias prateadas até a barra. No colo ele tinha uma manga mais baixa que a outra e não tinha praticamente decote. Caroline, admirada tocou o tecido luminoso.

— Gostou desse? — Laura falou baixo sem querer interromper o vislumbre da outra.

Caroline anuiu.

— Esse é maravilhoso. Mas agora estou confusa, qual dos dois é o seu? São todos de certa forma tão ousados... — Pensou alto e Laura riu. — Por que está rindo.

— O brilhante é seu. É seu momento e eu quero que você seja a estrela daquela festa independente se é uma funcionária ou não. Ele não tem muita forma porque seu corpo é muito bonito e o vestido vai se moldar naturalmente em você estrelinha! Esse quadril largo vai ajustar tudo no lugar!

Caroline a olhou quase rindo.

— Laura, eu não sei usar um vestido desse. É muito elegante, exige tanto e...

Laura a interrompeu:

— Cala a boca! Você é bonita e elegante e esse vestido é até simples. O seu corpo vai moldar o resto e eu tenho certeza que vai ficar chique, elegante e seremos as mulheres mais bonitas dessa festa. Você com esses cabelos grandes, essa pele cor de avelã... Vai por mim, eu reconheço uma mulher maravilhosa quando olho pra ela e isso você é!

Caroline sentia até calor de nervosismo. Achou tão lindo aquele vestido, queria nem que fosse uma vez na vida se sentir bem em uma roupa como aquela. Sentiu que daria certo.

— Meu Deus... Espero que isso realmente dê certo.

— Estará de máscara, ninguém vai saber que é você... — Laura piscou.

— Eu vou saber que sou eu! — Reclamou já rindo.

Laura sabia que tinha vencido aquela batalha.

— Para aquele quarto. Tome um belo banho na banheira, está tudo pronto. Estarão te esperando para a depilação!

— Depilação? — Caroline se surpreendeu. Laura não lhe deu chances de perguntar mais nada e a empurrou para o quarto.

— Dia de cinderela, minha gata borralheira! Miau! — Miou enquanto trancava a porta.

Laura esfregou as mãos com a sensação de dever cumprido. Discou o número de Giuliano e ele lhe atendeu depois de alguns toques.

— Sua gatinha borralheira está se transformando em cinderela, seja o príncipe encantado.

Giuliano gargalhou com sua maneira de se expressar.

— Minha família não é da realeza faz tempo. Mas por uma noite eu posso fazer um esforço.

— Esteja pronto, porque aquela festa vai virar de cabeça para baixo com essas duas mulheres maravilhosas!

***

Laura terminava de colocar os brincos de perola negra quando o cabeleireiro lhe chamou. Saiu do quarto que estava se arrumando e foi até a sala. Caroline estava em pé e arrumava os cabelos. As ondas dos cabelos estavam mais organizadas e os fios brilhavam pela hidratação. As curvas femininas estavam muito bem marcadas assim como imaginou e mesmo com o salto o vestido ainda deixava a barra raspar o chão de maneira charmosa.

O contraste dos cabelos escuros no vestido brilhante se atenuava pelo destaque nos olhos. Os olhos castanhos estavam marcados com um delineado suave, mas com sombra um pouco mais escura. A boca reluzia num batom matte cor de vermelho escuro e o cordão dourado um pouco grosso do relógio preto praticamente se escondia no pulso dela.

— Não vou usar esses brincos imensos! — Caroline falou já sorrindo da expressão admirada de Laura.

— Eu sempre soube que você se escondia... Olha esse corpo! — Laura colocou as mãos na cintura da outra. — Onde esconde essa bunda?

Caroline fez uma negativa com a última coisa que ela disse e estendeu um dos pés.

— Eu nunca pensei que iria dizer isso, mas amei esse sapato de salto.

Laura piscou várias vezes.

— Você está maravilhosa! Para de falar de sapato e olha pra mim. Olha esses cílios... Perfeitos. Com a máscara certa eu sempre soube que iam ficar lindos. E essa sobrancelha, ficou ótima, era só dar um jeito melhor, está vendo? Mantenha isso! E essa boca. Que boca Carol! — Ela comentava tocando nos fios dos cabelos dela.

— Realmente ficou tão bom assim? — Mordeu os lábios, insegura.

— Você sabe que eu sou sincera. Mas mais sincera que eu, só dona Lúcia. Vou tirar foto e você manda para ela. Quero só ver se ela não vai te elogiar e me elogiar por desenterrar esse diamante do buraco do estilo confortável!

— Acho que está me xingando, mas estou muito ansiosa para me importar. Tenho medo de me mexer demais e a maquiagem desmontar. Ou o cabelo sair do lugar, ou sei lá. Realmente estou me sentindo meio cinderela. Uma cinderela em Trento, mas uma cinderela.

Depois daquilo Laura voltou correndo para o quarto e voltou com duas caixas pequenas. Caroline já esperava ansiosa vendo que precisava estar lá em alguns minutos. Não queria dar motivo para Elettra falar mal.

— Mandei fazer nossas máscaras. — Laura estendeu a caixa branca a ela.

Caroline abriu sua caixa com ansiedade e encontrou sua máscara. Seus traços eram simples e cada linha era com pedras brilhantes prateadas que desconfiou ser algum tipo de cristal. A de Laura era de um material negro com pontos brilhantes e algumas penas no canto, as linhas que desenhavam seu rosto eram mais largas e o desenho que as completava parecia uma renda em um tom mais claro de preto.

Laura colocou a própria máscara e prendendo-a com a presilha discreta em seus cabelos. Fez o mesmo com Caroline a auxiliando e logo ambas estavam prontas.

— Espero que certo príncipe esteja lá... — Laura comentou para ver a reação dela.

Caroline sentiu outra vez o estômago embrulhar junto com o coração dispara. Aquele homem estava lhe roubando a saúde cardíaca.

— Pare com essas coisas. Estamos naquele clima estranho que te falei, se eu o ver, será só um cumprimento rápido... — Estava sentindo falta dele, era inegável e acabando soando triste.

— Sei... — Laura ironizou. — Precisa parar de ser tão medrosa. Tão insegura. Existe uma mulher linda aqui na minha frente que sempre se esconde e as pessoas estão perdendo isso.

Ela refletiu sobre o conselho, mas não demonstrou uma expressão positiva ao que ouviu. Laura procurou pelo celular e fez algumas fotos e pequenos vídeos dela mascarada, e os enviou para Lúcia pelo celular de Caroline e guardou algumas para a postagem. Caroline pediu que ela não lhe marcasse e Laura obedeceu.

Desceram no elevador, acompanhadas da equipe que as arrumou e um carro as esperava. Laura jogou a chave do carro para um homem também mascarado.

— Quem é? — Caroline questionou por nunca tê-lo visto

— Segurança... Papai tem insistido esses dias que os traga para Trento. Sabe como são os pais.

Caroline assentiu já tensa.

— O baile vai começar cinderela... — Laura disse já abrindo a porta do carro.

Trento, 21h57min da noite.

Giuliano já tinha avistado Constanza e Luca desde que chegara. Eles evitavam estar perto um do outro, porém vez ou outra se olhavam procurando por Caroline com os olhos. Não conseguia imaginar o que Luca estava planejando, já que suas atitudes nos últimos dias tinha sido de distanciamento.

Elettra encostou ao seu lado lhe oferecendo uma bebida.

— A garota que trouxe, é competente.  — Comentou. — Mas estou muito curiosa Giuliano. Quem é ela? Resolveu fazer caridade para os menos favorecidos fora do baile?

Giuliano demorou a responder a observando. Elettra era uma mulher bonita, já passava dos quarenta e cinco anos, mas mantinha exageradamente sua pele sem vincos com cirurgias plásticas.

— Caridade se faz durante todo o ano, não somente nos bailes filantrópicos. — Bebeu um pouco do champanhe, o apreciando.

— O que ela é sua? — Insistiu.

— Uma amiga.

— Íntima? — Elettra assobiou com uma expressão compreensiva. — Não perguntei nada a ela, mas notei o sotaque estrangeiro. Ela não é daqui.

— Brasileira. — Eximiu-se dos outros questionamentos.

Elettra fez uma expressão de dor, contraindo exageradamente da boca.

— Sabe o que às vezes falam das brasileiras... — Tocou os ombros dele. — Se não tomar cuidado estará pagando pensão alimentícia em breve. São bastante férteis. Tive uma experiência péssima, você sabe.

Giuliano riu anasalado com deboche.

— Pode me poupar dos seus conselhos. E não generalize. Seu ex não sofreu um golpe, você sofreu. Ele te traiu com uma brasileira.

Elettra não se afetou.

— Isso não muda que ela era uma aproveitadora querendo cidadania.

Giuliano conhecia a história.

— Realmente. Ela era uma aproveitadora, mas seu marido te traiu e a engravidou. Não era só ela que era uma aproveitadora, ele também se aproveitou para pedir o divórcio e casar com outra pessoa.

Poderia ser que alguém se ofendesse com seu tom, mas ele sabia que Elettra não se ofenderia. A mulher deu uma pequena gargalhada.

— Touché. Mas cuidado com as brasileiras. — Piscou para ele.

— Generalizações. E, além disso, você sabe que também temos fama o mundo. E a fama é que somos muito infiéis. Nada pessoal. Mas não somos todos assim.

Elettra o olhou com uma expressão de desprezo.

— Estou nessa generalização... Uma pena. Não se pode nadar contra a corrente.

Giuliano se absteve de continuar naquele assunto e aproveitou a companhia leve e de poder conversar amenidades com Elettra. Observou de longe Giampiero colado ao pai sem saber com quem conversar e também procurando por alguém. Ele trocou olhares com uma das garçonetes e Giuliano se questionou qual seria a razão.

— A garota se tornou muito amiga da Eliana, a garçonete que você viu o garoto olhar... — Elettra comentou respondendo quase seu questionamento mental. — Giampiero conversou com elas algumas vezes. O menino é deslocado demais. Sabe como é, cresceu fora daqui e não tem muitos amigos. Virou amiga das garçonetes.

— Caroline é muito simpática...  A quantidade de amigos que faz chega a ser assustadora.

Elettra deu de ombros demonstrando que não fazia diferença o que Caroline era ou deixava de ser.

— Maxuel arranjou problemas com ela. Vi pelas câmeras de segurança. Estava naquela orgia particular de todos os anos em um dos quartos do outro prédio. Pedi que a senhorita Martins fosse lá. Arrependi-me. O velho quis puxá-la para o meio da safadeza. Mas parece que Giampiero a salvou. Está rápido o molecote. Estou quase me deixando seduzir por esse garoto. Você sabe que tenho um fraco por homens mais novos... — Olhou para Giuliano de cima a baixo.

Giuliano girou os olhos e Elettra riu.

—Quer dizer que Max resolveu mexer com Caroline? — Ajustou a máscara que saiu um pouco do lugar. — Karine veio? Não a vejo... Fique curioso porque vi Roberta, mas não a vi.

Elettra confirmou para duas coisas.

— Amigos perto, inimigos mais perto ainda?

Ele a olhou sem dar respostas claras, mas Elettra entendeu. Tudo parecia dentro do plano. Karine estava ali, Roberta também e Giampiero bem em seu campo de visão. Era uma coisa simples, porém complicada se pensasse no ponto dos imprevistos. Faltava Laura. Pegou o celular para discar o número dela e antes que a ligação completasse as portas das mansões se abriram e todos se viraram completamente para ver quem chegou. O que era incomum, já que as pessoas chegavam e saiam e ninguém dava muita importância.

Primeiro reconheceu os enormes cabelos loiros e a franja inconfundível. Caminhando como se nada a balasse e com os olhos azuis queimando sobre qualquer pessoa que a olhasse por tempo demais. Laura era sensual mesmo quando não queria, e querendo, o poder de destruição era maior ainda.

Então as atenções se viraram completamente para a mulher atrás dela. A morena de corpo desenhado delicadamente que desfilava de cabeça mais abaixada e passadas seguras do quem um dia Giuliano imaginou que ela pudesse ter. Caroline chamou atenção demais para passar despercebida.

As pessoas cochichavam entre si. Laura sempre foi o centro das atenções, mas a desconhecida moveu a curiosidade daquelas pessoas. Ela ergueu o olhar tentando entender o que acontecia ao seu redor.

— Essa é a Caroline? — Elettra piscava várias vezes. — Um salto e boa maquiagem mudam uma pessoa.

Giuliano guardou o celular observando a maneira como ela ignorou todas as atenções que recebeu e levantou o pescoço, se corrigindo por estar de cabeça baixa tempo demais. Caroline ainda era ela mesma, não era uma nova mulher, era a de sempre, era quem ela sempre foi. E isso não era um defeito.

— Não mudaram. Ela sempre foi assim. — Bebeu o resto do champanhe de uma vez observando Maxuel olhar para Caroline, muito interessado. Uma percepção lhe ocorreu.

***

Giampiero quase engasgou com o que bebia. Caroline parecia reluzir e a famosa Laura Pucci aceitou feliz que não era mais sozinha o centro das atenções.

— Você está... está... está linda —Giampiero gaguejou quando se aproximou dela verificando que Elettra estava muito distraída conversando com um homem.

Caroline sorriu envergonhada.

— As pessoas estão olhando e eu estou morrendo de vergonha. Será que não tem algo errado?

Giampiero negou imediatamente.

— Não existe razão para estar tudo errado. Está tudo certo!

Ela ajustou a máscara e pediu licença, precisava ir até o banheiro e colocar o ponto eletrônico. Olhou-se no espelho surpresa com o que via de si mesma. O caminho até o cômodo foi cercado de gente que lhe observava com a curiosidade latente. Arrumou um pouco alguns fios e ouviu a voz de Elettra em seu ouvido.

— Andar de cima. O DJ precisa de você. Ao trabalho cinderela.

***

Laura caminhou como quem está em eterna passarela até Elettra e a cumprimentou, parabenizando pela organização.  Trocou um abraço cordial com Giuliano.

— O que fez com a minha empregada? — Elettra brincou ao ver Caroline retornar do andar de cima e passar para a cozinha.

Não foi necessário que ela pedisse licença. As pessoas davam o espaço que ela precisasse.

— Nada. Ela nasceu assim. Só precisava de uns ajustes para vir para esse evento. — Esperou alguma reação de Giuliano, mas ele fez uma menção de concordância sem muitos exageros.

Elettra bufou ao ver Giampiero ofereceu uma água a Caroline que aceitou muito agradecida.

— E lá vamos ao garoto de novo... Persistente.

— Com essa força de vontade ele consegue conquistar a América... — Giuliano fez pouco caso.

Uma música recomeçou e algumas pessoas pegaram seus pares para uma dança. Giuliano observou a filha de Roberta olhar para Giampiero esperando que ele desse alguma atenção, mas ele insistia em conversar com Caroline. Laura acompanhou seu raciocínio e discretamente se entenderam.

Elettra desapareceu em algum momento com a desculpa de que precisava ir ver algo na cozinha e Giuliano se virou para Laura. Ambos sabiam o risco que aquilo tudo teria. Se Karine continuasse vendo o homem que gostava com Caroline, seria dela que a filha de Roberta falaria mal.

E isso fugia totalmente do plano.

Laura chegou até Giampiero, aproveitando a deixa da amizade que ele tinha com Caroline e tentou algum assunto quando ela saiu de onde estava para obedecer mais alguma ordem de Elettra. Porém o rapaz não parecia interessado em manter qualquer tipo de relação com ela. Giuliano parecia atônito demais com aquela mudança brusca de planos que por alguns segundos não conseguiu formular o que fazer.

— Essa mulher é uma máquina de problemas! Uma máquina! — Resmungou.

Ajustou a máscara e caminhou por entre os convidados.

Analisou o ambiente enquanto caminhava. Karine fazia uma expressão de birra e cochichava com outra amiga, avistou Luca conversar algo discretamente com Constanza. Ele tinha visto sua movimentação e estava pensando nas hipóteses. Esperou que ele se aproximasse e esbarrou em Luca de propósito, o puxando para um abraço.

— Maxuel Van Dijk. Quer proteger Caroline de alguém? Tire ele daqui. — Falou rápido.

— Você não me dá ordens... — Luca o empurrou, mas Giuliano não se moveu.

— Eu estou tentando protegê-la! Tire Maxuel daqui, e eu tiro a outra ameaça. Caroline é uma máquina de problemas! — Falou baixo o que tornou a frase praticamente um rosnado.

— Do que está falando Giuliano? — Luca enfrentou o primo com um olhar.

Sentia que Giuliano havia a envolvido em algo grande.

— Elettra me contou que hoje à tarde Maxuel tentou puxá-la para uma das festinhas dele. Tenho contatos que me dizem que ele está relacionado com o mesmo esquema de prostituição que Oliver Brown, Roberta e Norma Hahn. Você quer que um homem como esse esteja perto de Caroline?

Luca o olhou com uma expressão altiva e em seguida deu um sorriso.

— Você está com problemas com essas pessoas não é? Talvez Maxuel esteja a mando de algum deles... O que você fez Giuliano?

Não teria jeito de convencer Luca a colaborar se não desse a ele o que ele queria. Puxou Luca discretamente até atrás da escada.

— Norma Hahn está a ameaçando. Ela viu Caroline comigo na minha casa. Acha que ela é minha fraqueza. E ela pode não ser a minha, mas é a sua. E se quer protege-la, tire ele daqui. Eu sei que pode ajudar nisso. Eu encontro você depois.

Luca mexeu nos cabelos pensando no pedido.

— Quer me tirar da festa também?

— Lógico. Mas esse não é meu foco. O que quero da Caroline, eu consigo. Independente de você estar aqui ou não. — Sorriu desdenhoso.  — Você sabe que esse velho execrável faz com as meninas, se Norma pediu algo a ele, pode ter certeza que ele vai executar.

Era interessante quando Giuliano entrava na vida de alguém. Ele destruía tudo de bom que colocava as mãos.

— Eu faço, com algumas condições.

— Eu não preciso de você pra isso. Não é uma negociação.

— Dimitri não trabalha mais pra você. Não tem quem faça seu serviço sujo. Precisa de mim por agora. Tirar o pervertido da festa, por mais que não seja algo grave, ainda é sujo.

— Voltou a ser capanga, estou surpreso, pensei que não cometia mais crimes... — Debochou. — O seu lucro será salvar a mulher que você ama do problema. Não te devo nada, e nem te deverei.

— O problema que ela arranjou por sua causa. Não esqueça esse detalhe.

— Não importa! — Perdeu a paciência.  — Vai fazer isso?

Luca confirmou com um aceno.

— Agora você me deve um favor, e eu também sei cobrar dívidas...

A reação de Giuliano foi imediata. Apertou o colarinho do primo. Afrouxou quando notou as câmeras de segurança. Luca o empurrou com força o suficiente para fazer Giuliano cambalear.

— Tire Maxuel daqui. Vejo você daqui a pouco. Entregue ele a Magno. O garoto saberá para onde leva-lo.

Giuliano deu as costas a Luca e quando se virou para o salão encontrou Caroline dançando com Giampiero. Laura estava bebendo o resto do vinho com uma expressão que chegava a ser interpretada como choque.

— Luca foi resolver um problema, precisamos agora resolver o outro problema. — Olhou de soslaio para Giampiero e Caroline.  — Pensei que Caroline fosse proibida de conversar com os outros convidados...

— Luca resolvendo seus problemas? — O olhou séria. — Primeiro Máximo, agora esse? Pensei que teríamos que manter distância do Luca. E o garoto convenceu Elettra.

— Eu não posso correr o risco de Norma estar por trás do Maxuel. Ele se aproximou de Caroline hoje à tarde e pode não ter sido uma coisa casual. Você sabe, ela nos viu juntos. Norma é perigosa e traiçoeira. Porém, é um favor e eu estou devendo a Luca. Vamos esperar e ver com o que ele vai me cobrar.

Laura observou Karine. A menina chamava Elettra para um canto.

— Karine vai perguntar quem é Caroline. Espero que sua amiga fique de boca calada. Giampiero está cercando tanto Caroline que ela não teve como negar o convite. E como você estava distante, não tive como arranjar uma desculpa, afinal Elettra permitiu.

— Ela não vai ficar calada. Já vimos como ela é volúvel com as próprias regras quando permitiu Giampiero e Caroline dançando mesmo ela sendo uma funcionária. E a menina é manipuladora como à mãe. Vai ter o que quer dela.

— O que vai fazer? — Ela questionou realmente esperando que ele tivesse uma solução para o caos dos últimos minutos.

— Ela está desconfortável. — Comentou apontando com o queixo na direção do casal que dançava.

Laura concordou a termos.

—Está envergonhada. Todo mundo olha para ela. Caroline não faz o perfil que gosta de atenção. E você está incomodado... Ela para você estar lá. — Sugeriu.

Giuliano passou a mão no queixo observando Karine levar Elettra para um canto. A música já estava quase na metade e os casais estavam envolvidos com a música ou com seu próprio par. A neve começava chicotear com o vento do lado de fora. Giuliano estava buscando qualquer outra informação visual que não fosse à expressão curiosa de Laura.  Precisava permitir o ciúme de Karine, mas não podia deixar aquelas pessoas pensarem que Giampiero tinha algo com Caroline e causar um novo caos. Tiraria dos outros a impressão que tinha algo com Giampiero, porém sabia que seria difícil parar Karine.

— Quer dançar comigo? — Puxou as mãos dela.

Laura o olhou como se ele estivesse louco.

— Eu sou um homem tremendamente ciumento, logicamente quero saber o que a minha mulher está fazendo dançando com um garoto muito mais jovem que eu... — Fez uma falsa expressão de raiva.

— Por acaso enlouqueceu? Eu não falei por ciúme.

Ele levou Laura para a pista ainda quase contra a vontade dela. As pessoas olhavam para os dois e Giuliano fingia não dar atenção, observando a conversa sorridente entre o casal que dançava mais próximo. Caroline logo reconheceu Giuliano com Laura dançando do lado e a cara da loira era de surpresa e ao encontrar o olhar de Caroline, ela simplesmente meneou a cabeça em negativa, num sinal de que não estava entendendo nada.

Caroline aproveitou que a música lenta já terminava e se afastou de Giampiero com uma expressão já culpada. Alguns casais já se dispersavam e olhou para os lados, onde Giuliano conversava com Laura, buscando coragem para dar o fora mais dolorido que poderia dar.

— Você é um cara legal. De verdade. Mas eu... eu sinto coisas por outra pessoa... e não é justo que perda seu tempo tendo tantas garotas bonitas e interessantes e não tão velhas como eu. Sei que dançamos como amigos, mas quero que isso tudo fique claro para não se magoar ou algo do tipo. Você tem a vida inteira pela frente e merece uma garota maravilhosa. Talvez ela até esteja nessa festa, ou você já a conheça, não sei, só veio na minha cabeça isso. Mas alguém vai merecer esse coração maravilhoso que você tem.

Giampiero fez uma careta.

— Desculpe. Não queria ser inconveniente.

— Não foi, juro! — Sorriu.

— Espero que esse homem mereça você. Caroline você é um ser humano admirável, e o homem que tiver esse sorriso todos os dias, não precisa de muito mais para ser feliz. Mesmo que vocês agora não estejam se entendendo completamente, como me disse hoje cedo, ele vai perceber que está sendo um idiota.

Caroline torceu a boca.

— Ele não é um idiota sobre isso. Mas estamos um pouco perdidos. As coisas não são tão simples. Gostaria que fossem... — Vincou a testa num sinal de tristeza. Giuliano parecia lhe ignorar de maneira sutil desde que chegou.

Nenhum dos dois notou a aproximação de Giuliano e quando ele chegou perto o suficiente forçou uma tosse. Caroline ergueu o rosto na direção dele e aturdida, demorou alguns segundos para reestabelecer a cabeça no lugar. Giuliano tocou uma das mãos de Caroline, apertando de maneira sútil.

— A próxima dança é minha? — Perguntou a ela

Ela se surpreendeu. Não esperava que ele estivesse ali depois de todos aqueles dias de afastamento e dos últimos momentos que lhe deixara mais no escuro ainda por não se aproximar. Giampiero teve uma postura ameaçadora ao ver que Caroline teve pouca reação.

— O senhor é... — Exigiu.

— Sou o que? — Procurou pela resposta de Caroline.

Sentiu o estômago doer de novo. Aquele tom exigente não era de pressão era realmente de dúvida.

— Amigos. Muito amigos.  — Corrigia-se, sem conseguir controlar as palavras dentro do próprio pensamento.

Giampiero desarmou. Trocou alguns olhares em que Caroline lhe disse que estava tudo bem e se afastou entendendo que esse era o tal homem. Quando ele olhou novamente reconheceu que era o primeiro-ministro. Piscou desordenadamente surpreendido.

Antes que a outra música começasse, Giuliano apertou a cintura dela, os juntando.

— Ainda lembra onde ficam suas mãos? — Provocou lembrando o tango.

Caroline o surpreendeu quando entrelaçou os braços ao redor do pescoço dele. Estava mais vulnerável ainda, mais do que antes, mais do que em qualquer dia. A falta dele lhe deixava atônita e o retorno, débil. Procurou o ar, o buscando com certa dificuldade.

— Pensei que não quisesse me ver e estivesse me ignorando. — Confessou, já se arrependendo por tamanha fragilidade. — Eu estou me sentindo uma idiota por ter falado isso agora.

Giuliano riu.

— Sempre falando sem pensar não é? — Acariciou as costas dela. — Quis te dar um tempo, me dar um tempo também. Você precisava pensar e eu aceitei isso. Mas aí te vi dançando com Giampiero e eu estava resolvendo outros assuntos, ele chegou primeiro. Resolvi dançar com a Laura.

— Você não é tão compreensivo assim... — Mordeu os lábios que ele estava tentando parecer calmo e paciente. — Você é uma pedra de gelo, mas por dentro... Não é assim.

— Não, não sou tão calmo. — Sentiu os dedos femininos brincarem com o colarinho de sua camisa. Movimentou-a por obrigação com a música que tocava. — Sentiu realmente minha falta?

— Não fique abusado. Mas sim. Parece que sinto falta das suas perguntas sobre o tempo.  E eu me sinto cada vez mais idiota por isso. É uma derrota atrás da outra.

Giuliano olhou ao redor pela primeira vez desde que começou a conversar com Caroline e observou os casais chegarem para dançar.

— Sua derrota, minha alegria. — Sorriu.

— Insensível!

Ele mudou completamente de assunto.

 — É a nossa segunda dança juntos, percebeu?

Caroline olhou para o DJ reconhecendo a letra. Angels do Robbie Willians.

— Sempre achei que essa música fosse de velório...

— Eu sou insensível? Eu gosto dessa música. Lembra-me alguém. Alguém que diz que é uma derrota estar completamente apaixonada por mim.

Ela escondeu o rosto no ombro dele, embaraçada. Deu graças a Deus estar de salto e poder ter aquele privilégio de olhar por cima dos ombros dele e poder fugir dos olhos verdes que sabiam serem inquisidores.

— Eu disse que não é bem assim! Completamente apaixonada é um pouco forte. Talvez só mais um pouquinho mais hoje do que ontem. A impressão que tenho é que estar debochando de mim por gostar de você, sabia?

Giuliano a ignorou por um instante e movimentando-a para um giro. Prendeu o corpo mais perto no retorno. Passou o nariz por entre os fios das têmporas dela e estalou um beijo discreto naquela região. Ela fechou os olhos imediatamente, apreciando os arrepios que começavam no pescoço e desceram até o estômago.

— Senti saudade desse cheiro... — Falou em português cheio de sotaque.

Caroline apreensiva o observou. O coração quase saindo pela boca e as pernas já demonstrando fraqueza.

— E eu senti saudade de você — Tocou a máscara negra que Giuliano usava. Desceu o carinho pelas bochechas, fazendo um caminho tímido até os lábios dele.

Permitiu que ele encostasse o rosto junto ao seu e os lábios dele nas bochechas, pedindo permissão para continuar. Fechou os olhos sentindo o som das batidas do próprio coração, estava acelerado em expectativa e a respiração dele soprando perto demais de sua boca. Colocou as mãos por trás da nuca de Giuliano, o atraindo. Os olhos dele lhe fitaram com um propósito fixo. Ambos já pensavam a mesma coisa. Não tinha para onde fugir. As máscaras os atrapalharam e Giuliano ergueu o adorno.

Ela puxou de leve os lábios dele para mais perto sem mais impedimentos e Giuliano correspondeu ao mesmo tempo, segurou-a pela cintura e continuou a beijando, explorando com uma pressão suave os lábios dela. Caroline retribuiu sentindo o perfume que exalava do pescoço masculino e os juntando mais, experimentando pela primeira vez aquele toque. O último contato veio quando o ar já faltava e ela beijou suavemente o queixo dele, se despedindo.

Afastou-se consciente da revolução que acontecia em sua mente. Olhou para os lados, envergonhada e se sentindo exposta. Giuliano segurou suas mãos, tentando chamar sua atenção. Os olhos dele pediam para que ficasse. Por mais que não quisesse se sentia errada. Mais errada que nunca. Aquelas pessoas a olhavam com um julgamento mudo.

Escapou dos braços dele, deixando para trás uma Laura perplexa. Elettra estava pelo caminho que seguiu até a saída. Pediu permissão com um olhar e ela lhe concedeu. Pela hora, já podia ter ido embora. Ouviu a música se encerrar e pediu que abrissem a porta. Estava se sentindo sufocada, dolorida. As lágrimas se acumulavam em seus olhos e as secou antes de colocar o casaco. O frio lhe pegou desprevenida, os pés congelavam e estava sentindo os dedos formigarem.

Ao chegar ao jardim, puxou o celular querendo um UBER, mas seus dedos tremiam pela falta das luvas. Havia as esquecido na chapelaria.  

— Caroline!

Ouviu Giuliano lhe chamando perto da porta. Não seria infantil de correr então aceitou que teria que explicar o inexplicável. Estava fugindo porque se sentiu envergonhada. Nunca ficou tão agradecida por usar aquela máscara e ninguém lhe reconhecer.

— Desculpa.

Ele a olhou com deboche.

— Pelo menos entende que isso não é normal não é? É algum tipo de complexo de cinderela sair correndo antes da meia noite?

Caroline odiava aquele tom irônico. Estava compreendendo o que o seu psicológico estava fazendo. Arranjando mais defeitos e problemas onde não existiam para lhe sabotar. Ele era irônico de uma maneira maldosa, odiava aquilo, mas era incapaz de dizer que não era apaixonada por ele. Toda aquela exposição lhe fez sentir medo, medo do que diriam e por consequência reprimir o que sentia.

Giuliano se aproximou mais dela.

— O que foi que eu fiz de errado agora?

Sentiu-se mais culpada ainda.

— Nada. Eu que fiz. Perdão. Tem razão de querer se afastar e de me ignorar. — Olhou para o chão. — E se fez algo imprudente, foi me beijar na frente dessas pessoas. Mas eu correspondi, então não é só culpa sua.

A cada segundo se sentia mais exposta e errada. Se fosse para acontecer, não poderia ter sido no meio de tantas pessoas. A culpa já estava lhe corroendo.

— Você é doida. Completamente doida... — Ele sorriu. — Como te ocorre de fugir nesse frio? Depois de me beijar? E ainda por cima me faz sair aqui, para esse frio!

Caroline cedeu os ombros.

— Não sabia que era engraçado... — Sentiu-se idiota. — Giuliano, é sério, é melhor me deixar ir pra casa. Eu sou maluca, eu sou estranha. Eu aceito tudo isso. E pode ter gente aqui e as coisas vão ficar complicadas.

Giuliano fechou o casaco se encostando a um muro baixo de pedras que servia como parte de um pergolado. Soprou o ar frio.

— Está de máscara, ninguém nesse momento sabem quem você é ou de onde veio.

— Por que está aqui? — Perguntou com o celular nas mãos. Não tinha confirmado a viagem esperando se ele iria embora ou não. — E disse bem, nesse momento. Daqui a pouco as coisas estarão longe de estarem normais...

— Estou aqui esperando você decidir o que temos. — Foi áspero. — Eu estou cansado disso. Estou cansado de não ter ideia do que acontece entre a gente. Eu sou velho, preciso de certezas. Eu quero ter você Caroline. Decida se quer isso de mim também e se não, eu nunca mais volto.

Caroline sentou no muro também. Sentiu calor mesmo naquele frio todo.

— Espera é muita pressão.  Eu... Eu quero. — Confessou. Giuliano se virou para ela completamente, esperando pelo resto. — Mas o seu mundo... O seu mundo é esse. Não é o meu. Eu me sinto mal só de imaginar que nos beijamos na frente de todas essas pessoas e... Tecnicamente não temos nada...

Ele respirou profundamente, aproximou-se dela e beijou sua testa. Caroline sentiu que ele lhe deixaria ali. Que faria o mesmo que fez no seu apartamento e sairia sem dizer nada, só que não retornaria mais. Porém, Giuliano segurou seu queixo e o beijou, imitando seu gesto no beijo anterior.

— E desde quando essa coisa de mundos diferentes te impediu de alguma coisa? — Disse tocando nariz com nariz.  — Você veio parar em outro país, em outro mundo, com outras pessoas... E seguindo sua analogia, você entrou em outros mundos, o mundo de outras pessoas que são diferentes de você. Faltam nesse momento dez segundos para o ano novo, quer entrar no meu mundo no ano novo?

As pupilas dela dilataram de surpresa. Giuliano a beijou, pegando-a desprevenida. O silêncio foi rompido pelos fogos de artifício explodindo ao longe em seguida mais perto. Ele apertou o corpo pequeno contra si a abraçando. Caroline o segurou pelos cabelos da nuca, aprofundando o gesto. Partiram o beijo quando ouviram os fogos do jardim começarem. Sorriram um para o outro.

— A gente aprendeu esse negócio de beijar... Está meio difícil parar ou é impressão minha? —Deixou escapar a primeira frase e teve vontade de bater na própria boca. Um sorriso brotou no canto dos lábios dela enquanto ainda estavam abraçados. — A gente virou o ano se beijando mesmo? Planejou isso?

Ele negou veementemente.

— Como qualquer coisa com você, se eu planejar, dá errado...

— E está frio aqui fora. Você está sempre muito preocupado se eu estou com frio. Não, você não faria algo assim... — Acariciou os cabelos dele.

— Vou ter que te beijar de novo. E ainda não sei o que somos...

— Somos namorados. Acho que desde que começamos a nos beijar, somos namorados. É assim que as coisas funcionam comigo... e você disse que seria assim lá nas montanhas.

— Gosto desse termo. Namorados.

— Não sabia que homens como você namoravam. É um pouco velho e é um homem muito importante. — Agradeceu por Giuliano sustentar uma parte de seu peso. Suas pernas não aguentavam mais estar em pé. 

— Normalmente a gente casa logo também... — Pensou que ela sairia correndo de novo, mas Caroline apoiou o rosto no seu ombro com um aspecto cansado mais ainda sorrindo. — O que foi?

— É namorar, temos que namorar pra casar mesmo. Está certo. Não posso nem querer te obrigar a pensar em casar. Pensou antes de mim. — Murmurou. — Estou dolorida, está frio e é cansativo.

— Já pensei num plano do que poderíamos fazer como namorados, mas você vai dormir. Se eu planejar dá errado.

Caroline se firmou para tentar passar uma impressão de menos cansaço.

— O que pensou?

— Tem uma feira em Roma no dia 1. Todo ano tem várias atrações. Quer?

Caroline até tentou se animar, mas ele observou que ela realmente deveria estar cansada demais para viajar tão cedo no dia seguinte. Ela pensou um pouco.

— O que acha de irmos até o restaurante... Fizeram um bolão para ver quando iríamos nos beijar.

Giuliano a olhou com uma expressão de descrença. Ele teve cuidado ao soltá-la porque era possível que ela desabasse no chão. Considerando a última vez que a vira, Caroline parecia mais magra ainda naquele momento que a segurava. Provavelmente a situação com Máximo tinha roubado dela mais algumas energias.

— Sabe quanto apostaram?  — Tocou as clavículas dela. — Está emagrecendo de novo.

— Só sei que tem. Mas não vi as apostas. E acontece. Foram os últimos dias. Em breve eu vou recuperar todo peso perdido. — Ergueu o dedo em riste como se fizesse uma promessa.

Ele a observou com certa preocupação.

— Eu sou velho, mas a doente é você.

— Jura? Ensine-me a ter hábitos melhores. Somos namorados pra isso.

Ele rosnou, num resmungo:

— No que foi que eu me meti com você mesmo?

Caroline o encarou, arrumando os cabelos dele de novo. Ele já notava que o que ela mais gostava de fazer quando estavam juntos era mexer em seu cabelo.

— Se meteu na jornada mais louca da sua vida.

Trento, 00h17min da madrugada.

Luca voltava para o evento um pouco depois da queima de fogos começar.  Constanza tirou o celular do ouvido e soltou o ar, se apoiando em seus próprios joelhos. Ela puxou a máscara o levando para uma parte mais distante da multidão, que estava perto da janela para ver os fogos.

— Onde foi? Simplesmente desapareceu!

Luca deu de ombros e sentou em uma das cadeiras dispostas naquele andar.

— Giuliano meteu Caroline em uma confusão e eu tive resolver. Mais tarde te conto. Estou me sentindo exausto.

Constanza observou o olhar de Luca. Ele estava triste.

— O que aconteceu? Que cara é essa?

— Detesto fazer o que tive que fazer. Só isso.

Constanza recuou um pouco, receosa ao imaginar que tipo de coisa ele fez.

— Matou alguém?

Luca negou veementemente.

— Não chegou a tanto. Mas não me faz bem ter que bater em alguém, participar de todos esses jogos... Isso tudo me enoja!

Constanza imaginou o que ele deveria estar sentindo. Tinha que dizer que tinha visto Giuliano e Caroline se beijando na festa, porém se permitiu calar. Afinal, ele já tinha problemas demais.

— Eu os vi juntos. Estavam se beijando lá fora, no jardim. Giuliano conseguiu. Eu sinto que poderia ter feito algo antes... E ela parece tão feliz. Ele criou pra ela um mundo que não existe, e eu não sei como será quando ele mesmo destruir esse mundo, Constanza... Ela vai ficar destruída.

— Eu também os vi aqui dentro. Não quis te contar agora. E está fazendo algo, sempre esteve. E mesmo que ela viva bem por um tempo, uma hora ou outra, saberá a verdade. A verdade sempre aparece. Não há nada oculto que não seja revelado. Não pode desistir da verdade porque ela machuca. Dói imaginar como ela ficará com todo esse castelo ruindo, eu entendo isso, mas nada dói mais do que viver uma mentira. Experiência própria.

Luca sentia o peito arder de uma dor intensa. A dor de saber que ela estava com Giuliano se tornava a pequena ao imaginar a dor que seria ter que devolvê-la a verdade.

— Eu queria que fosse mais fácil. Que Giuliano não existisse nisso tudo... Que não houvesse tantas mentiras encobertas.

— Quando tudo estiver acabado. Estaremos lá pra ela. É pela felicidade dela que estamos fazendo tudo isso. Para derrotar os enganos que esse mentiroso patológico está criando. E eu sei que ela será feliz livre desse peso, e nós também.

Luca concordou quieto. Preso a própria frustração. Queria tirar aquele sentimento que parecia não ter fim de si, seria tudo mais fácil. Mas imaginar a tristeza dela lhe fazia pensar duas ou mais vezes. Excluiu da própria mente os pensamentos de desistência. Não ia parar até tirar o veneno de Giuliano das veias dela.

— No fim, ela estará livre dele.


Notas Finais


E AÍ ME CONTEM O QUE ACHARAM!!!!!
Gente contem mesmo porque esse capítulo me custou estar acordada até essa hora e eu estou me perguntando se sou louca de não estar dormindo com o tanto de coisa que tenho pra fazer amanhã ahahahahaha. Sério, estou bem curiosa pra saber se gostaram tá?
Gente, na página da história terá sempre spoiler e novidades tá? Quer interagir comigo (e quem sabe com os personagens, acabei de ter uma ideia ahahaha) e conhecer mais da história? Vem seguindo no instagram @italiaoriginalfic e vamos interagir galera!
Beijos, fiquem com Deus e se estiver desesperado com enem e quiser conversar comigo, tamo aqui nesse período crucial tá ;D
Não sou aquela conselheira topper, na medida do possível eu posso tentar ler tudo tá. Vocês estão novos demais pra sofrer tanto (Giuliano Feelings). Beijos e até mais <3


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