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História Kiss me, Mors - Contrato Fechado


Escrita por: MoonyQueen

Capítulo 7 - Contrato Fechado


Fanfic / Fanfiction Kiss me, Mors - Contrato Fechado

TAEHYUNG

Três semanas haviam se passado desde o dia em que eu tinha recebido um fora de Nahee. Aliás, sinceramente, quem estava perdendo era ela, afinal, foi ela quem abandonou a grande chance de ficar rica. Não. Bilionária.

Mas eu não.

Eu continuava decidido a seguir com o meu objetivo. A meta antes era somente arrancar uma boa quantia de dinheiro dela, mas agora ia muito além disso. Eu precisava me tornar o diretor da rede de hotéis Bae Shidae e, para isso, teria de me casar com Irene.

Eu não mediria esforços. E era isso o que eu repetia para mim mesmo ao colocar de qualquer maneira o uniforme do clube de tênis em minha mochila. Essa porcaria me custou uma bagatela e nem me fazia parecer mais bonito.

Com a ajuda de Wendy, resolvi me inscrever no clube de tênis também pertencente à família de Irene, assim, conseguiria me aproximar dela de maneira mais... natural. Hoje era o meu quarto dia, e estava morto – tanto por trabalhar até tarde, quanto por ter que me empenhar em fazer aquele coração de gelo da 10 bilhões derreter. Acordar de manhã cedo para ir jogar tênis após uma longa noite repleta de bebidas e de sorrisos forçados não era fácil, mas o maior desafio era colocar aquela roupinha ridícula.

Mas hoje eu tinha um plano preparado.

Ao chegar ao clube e ir ao vestiário trocar de roupa, logo me encaminhei para a quadra. Irene já estava treinando com Sooyoung e, ao me ver, acenou rapidamente – bem, pelo menos agora ela não finge mais que eu não existo – e eu me encaminhei para a quadra livre que estava ao lado.

Jin logo chegou e, infelizmente, tive de treinar com ele – por que a Wendy não chegou antes, hein? – o que eu detestava, já que ele parecia sentir um ódio gratuito por mim. A intenção dele nem era fazer pontos, na verdade, seus olhos estavam em chamas para que conseguisse acertar uma bola bem no meio de minha testa. Ou em algum lugar pior.

Era irritante jogar com ele, mas pelo menos era divertido. Jin era a pessoa mais desengonçada que eu já havia conhecido. Em uma de suas tentativas de pegar um dos saques que enviei com força, ele caiu no chão e, após rir, aproveitei a chance para olhar Irene rapidamente.

Enquanto eu jogava com uma garça desajeitada, 10 bilhões era um perfeito cisne delicado. Como poderia ter tido tanta sorte na vida? Era rica e, além disso, bonita. Cada movimento seu através da quadra era hipnotizante, seu cabelo castanho brilhava sob o sol e balançava com graça. E, apesar do esforço físico, a criatura parecia não suar.

Entretanto, meus pensamentos foram interrompidos por uma bola de tênis que atingiu o meu nariz em cheio.

Jin, seu filho de uma...

“Por que você fez isso, seu idiota?!” Gritei enraivecido, após finalmente retomar o equilíbrio, mas ainda sentia uma dor aguda em meu rosto, além de sentir uma momentânea falta de ar.

Jin apenas sorriu.

“Machucou?” Ele fingiu estar preocupado ao ver que a atenção de Irene e Sooyoung tinha se voltado para nós. “Ah, desculpe!”

“Seu...” Ao retirar a mão do nariz, percebi que estava sangrando. “Você quebrou meu nariz!”

Jin novamente atuou como se estivesse chocado, colocando uma mão sobre a boca. Joguei a raquete no chão e me encaminhei na direção dos vestiários. Esse idiota, se meu nariz estivesse mesmo quebrado ele iria pagar. Eu precisava do meu rosto para trabalhar.

Ao olhar no espelho, deparei-me com um Taehyung completamente ensanguentado. Apressadamente, abri a torneira e joguei água na cara. Olhei-me de novo, analisando bem o nariz para me assegurar que estava tudo bem. E estava, aparentemente não estava quebrado, mas a dor insistia.

“Você está bem?” Ouvi uma voz suave e até mesmo incerta entrar no vestiário. Ao olhar pelo reflexo do espelho, vi que era Irene entrando timidamente parecendo preocupada.

“Não sei...” Respondi, colocando a melhor expressão de sofrimento em meu rosto enquanto me apoiava sobre a pia. “Acho que aquele seu amigo idiota quebrou meu nariz.” Menti. Precisava fazer um drama.

“Não fale assim do Jin...” Ela disse, parecendo levemente ofendida enquanto dava mais alguns passos hesitantes em minha direção. “Tenho certeza de que ele não fez por mal... É que... Ele não sabe jogar muito bem.”

Ah, disso eu sei.

Olhei-a resignado. Não adiantaria discutir sobre o seu amigo, e nem era isso o que eu queria, jamais o foco de nossa conversa mereceria ser ele.

“Vai ficar tudo bem...” Lhe assegurei, voltando a abrir a torneira e limpar o resto de sangue de meu rosto.

Irene se aproximou, dessa vez mais assertiva, e pegou uma toalha que estava sobre o balcão.

“Deixa eu te ajudar.” Ela disse, sua voz denotando um certo tom autoritário. Logo após, molhou a ponta da toalha na água e pegou meu queixo com firmeza forçando a virar meu rosto em sua direção. Ainda segurando meu queixo, começou a limpar meu rosto. Por ser bem mais baixa que eu, instintivamente inclinei meu rosto em sua direção. “Se você abaixar o rosto vai voltar a sangrar.”

Voltei a levantá-lo, mas mantive meus olhos fixos nela. Esse seria o momento perfeito para beijá-la, mas ainda era muito cedo para isso. Eu precisava me assegurar de que minha presa estivesse completamente em minhas mãos antes de avançar.

Ao terminar, Irene lavou rapidamente a toalha e a colocou em um canto dizendo que pediria a um dos funcionários que fosse pegá-la para lavar. Antes de se encaminhar para a saída, fez questão de deixar claro que só tinha ido me ajudar por ser sua obrigação, já que o acidente tinha ocorrido no clube de sua família. Revirei meus olhos.

E então lembrei. Meu plano.

“Irene!” Ela já estava caminhando pelo corredor bem iluminado para ir embora, mas se virou ao me ouvir com uma expressão interrogativa.

Rapidamente me encaminhei aos armários e peguei minha bolsa. Ela voltou a se aproximar, ainda parecendo confusa.

 “Pensei que talvez nós poderíamos ir a uma apresentação de música erudita, então...” Eu disse, retirando dois ingressos de minha bolsa. Mas o que importava não eram os ingressos em si – já que eram falsificados, eu os havia imprimido de um site qualquer – mas sim o que estava por baixo deles. Assim que puxei os papeis, um cartão caiu no chão, bem próximo aos pés de Irene. Isso, meu plano estava saindo como o esperado. “Ah!” Eu exclamei, fingindo surpresa.

Ela se abaixou educadamente, pegando o cartão e o erguendo para entregá-lo a mim.

“Um convite de casamento?” Ela questionou curiosamente ao se dar conta do que se tratava.

“Não é nada.” Com um sorriso amarelo, estendi minhas mãos para pegar o convite de volta. Ela não soltou.

“Deixe-me ver.” Ela disse interessada, puxando o convite novamente em sua direção. Ai, caramba, isso estava indo melhor do que imaginava. Tive de segurar um sorriso. “Kim Taehyung...?” Foi a primeira coisa que ela leu com um tom impreciso ao abrir o cartão.

“É meu nome.”

“Então Taehyung é seu verdadeiro nome...” Ela murmurou, um ligeiro e discreto sorriso tomando conta de seus lábios enquanto me devolvia o convite de vez. Pronto, agora ela sabia meu verdadeiro nome, menos uma barreira entre nós. Ou melhor, menos um obstáculo entre mim e os meus 10 bilhões.

“Isso.” Lhe respondi, olhando o convite em minhas mãos de modo contemplativo enquanto me recostava sobre uma das paredes. “Uma amiga de infância vai se casar. Eu não a vejo há muitos anos, então não pretendo ir...”

Menti.

Olhei para um ponto fixo no chão, tentando colocar a melhor cara de tristeza que podia. Eu tinha treinado isso em frente ao espelho por dias.

“Por quê?” Ela indagou, com a visão periférica, pude ver que ela apertava com suas mãos a barra de sua saia branca.

Após alguns segundos em silêncio para aumentar a dramatização, respirei fundo e lhe respondi.

“Eu não tenho boas memórias da minha infância...” Suspirei. “Além disso, eu teria de ir sozinho, então...”

Mais alguns segundos de silêncio, Irene mordeu seu lábio inferior, parecendo indecisa. Seus punhos se fecharam com ainda mais força.

“Você quer que eu vá com você?” Ela falou rapidamente, suas palavras quase atropelando umas às outras. Dirigi meu olhar a ela, que parecia ter se arrependido por um segundo de sua oferta, mas logo em seguida sorriu docemente para mim, e seu sorriso parecia genuíno.

Ao contrário do meu ao lhe agradecer e aceitar que fosse minha companhia.

____________

Uma semana havia se passado desde o dia do meu plano bem sucedido. Sorri ao me olhar no espelho enquanto ajeitava a gravata, orgulhoso por saber que, como esperado, eu conseguiria os meus 10 bilhões sem ajuda daquela... Girei os olhos, tentando tirar a imagem de Nahee de minha mente.

Hoje eu daria prosseguimento ao plano. Se tudo correr como o esperado, hoje será o dia em que Irene começará a se apaixonar definitivamente por mim. Sorri novamente.

Dei comida aos peixes e me assegurei de que o terno estava em perfeitas condições, logo saí de casa para buscar Irene para irmos ao casamento. Entretanto, após descer alguns lances de escada, parei, olhando a figura um tanto fantasmagórica no final das escadas.

“Na...hee?” Ao murmurar seu nome, ela se virou. E não parecia nada bem. Usava as roupas pretas de sempre, seus olhos estavam fundos, seus lábios pareciam desidratados e seu rosto pálido. Desci os degraus em sua direção, e ela apenas me encarava. “O que tá fazendo aqui?”

Ela não me respondeu, apenas me encarava sem parecer saber o que dizer. Aproximei-me mais, ficando apenas a alguns centímetros dela. Franzi a testa, ela só poderia estar aqui por um motivo: tinha se arrependido e queria manter o contrato. Ri com deboche, girando os olhos; eu sabia que isso aconteceria. É claro que, se tivesse sua ajuda, eu conseguiria o que queria com muito mais rapidez e perfeição, já que poderia corrigir qualquer situação voltando ao passado, entretanto, queria fazê-la sofrer um pouco.

“Se arrependeu, não é?” Eu lhe encarei, colocando as mãos no bolso enquanto a olhava com superioridade; eu já era alguns centímetros mais alto naturalmente, mas por estar de pé sobre um degrau acima dela, sentia total domínio da situação. “Pois saiba que não preciso mais de sua ajuda.” Continuei, aumentando ainda mais meu sorriso debochado. “Caso queira saber, agora mesmo estou indo me encontrar com os 10 bilhões, para-.”

Ao dizer isso, ela levantou o olhar, e pude ver um estranho brilho em seus olhos, mas não era de felicidade. Em um brusco movimento, ela segurou meu rosto entre suas mãos, e meus músculos se enrijeceram.

“Deixe esse seu encontro para a próxima.” Ela disse, quase em um sussurro, e eu continuei parado com os olhos arregalados sem saber como reagir. Tive a mesma sensação de nosso primeiro encontro, mas dessa vez, além de um certo grau de medo, também me sentia confuso.

Rapidamente ela aproximou seus lábios dos meus e me beijou.

Antes de apagar completamente, pude sentir um ligeiro gosto salgado em minha boca, o qual não consegui reconhecer a origem, e também tive um último pensamento: como eu odeio essa garota.

____________

Abri os olhos. Senti que segurava algo em minha mão direita, ao levantá-la, me dei conta de que era uma raquete. Droga, eu tinha voltado à quadra de tênis, ou seja, Irene ainda não tinha sido convidada para o casamento. Trinquei os dentes e apertei a raquete com força. Nahee poderia se considerar uma garota morta.

Mas antes que pudesse continuar com meu acesso de raiva, fui atingido por uma bola bem no meio do rosto. E a dor, assim como antes, foi tremenda.

Caí no chão, atordoado, mas isso só contribuiu mais com a minha raiva. Levantei-me rapidamente.

“Aish!” Gritei, jogando a raquete com força no chão. Não me dei o trabalho nem de me dirigir a Jin como fizera antes, apenas me encaminhei diretamente ao banheiro para que pudesse lavar o rosto de todo aquele sangue para sair logo dali.

Jin, Sooyoung e Irene me olhavam confusos enquanto eu caminhava pesadamente até os vestiários.

Quando estava saindo, com a mochila já nos ombros, Irene veio correndo em minha direção perguntando se estava tudo bem, mas eu a rejeitei – da forma mais educada possível, eu acho – dizendo que tinha algo a resolver e que não poderia esperar. Tinha um objetivo muito maior agora. Depois eu poderia me resolver com ela.

Não me dei conta nem de quanto tempo demorei para chegar até sua casa, a impressão que tive foi de que apenas alguns minutos se passaram após sair do clube em Gangnam e atravessar o jardim em que aquela senhorinha novamente regava as plantas.

Subi as escadas apressadamente, de dois em dois degraus, e assim que me detive em frente à porta de Nahee, bati com força.

“Yah! Nahee! Abra a port-!” Mas não precisei prosseguir, já que após dois socos na porta de madeira, me dei conta de que estava aberta. Empurrei-a de qualquer maneira, entrando em sua casa sem nem mesmo pedir permissão. Seu apartamento também tinha apenas um ambiente, mas diferente do meu, era bem mais organizado e iluminado. Era óbvio o toque feminino que havia ali, já que as cores predominantes eram branco e pêssego, assim como o uso frequente de estampas florais. Mas provavelmente se abríssemos seu armário só encontraríamos roupas escuras. Nahee estava sentada em sua cama, encostada na janela, e olhava contemplativamente para fora. Parecia não se importar com minha presença, ou então já esperava que eu aparecesse por ali. “Por acaso você tá querendo se vingar de mim?!” Eu comecei, jogando minha mochila no chão e avançando em sua direção com as mãos na cintura. Não me preocupei em tirar os sapatos para pisar sobre o carpete felpudo e branco sob meus pés. “Você estragou tudo! Eu estava a ponto de sair pela primeira vez com a Irene!” Nahee continuava olhando pela janela, sua testa recostada sobre o vidro frio. Aproximei-me mais para olhar seu rosto, já que ela não reagia às minhas palavras. “Aliás, você não tinha dito que me queria fora de sua vida...?”

Minha voz foi se apagando ao compreender o motivo de seu silêncio. Seus olhos estavam tão profundos quanto da última vez que a vi, antes do beijo, suas bochechas estavam úmidas e seu nariz levemente avermelhado.

“Você tá chorando?” Perguntei incrédulo, meus braços deslizaram de minha cintura para ficarem suspensos ao lado de meu corpo.

“Não...” Ela respondeu, tentando esconder seu rosto com algumas mechas de cabelo.

Idiota. Coloquei um de meus joelhos sobre a cama para me apoiar, e estendi meu braço em direção a seu rosto, segurei seu queixo e a forcei a me olhar. Ela não se opôs à minha investida, mas desviou seus olhos dos meus e se fixou em algum ponto do carpete.

“Está chorando sim.” Concluí, soltando seu queixo e apoiando uma de minhas mãos na cadeira de sua escrivaninha, a outra coloquei sobre minha cintura, mantendo, assim, uma postura inquisitiva. Ela voltou a olhar através da janela. “O que houve?”

Nahee continuou calada, mas pude ver suas mãos apertando nervosamente a barra de seu suéter, e também mordia seu lábio inferior. Ela não iria me responder, revirei meus olhos.

“Você foi egoísta o suficiente para me procurar somente quando precisou de mim. E estragou todo o meu plano.” Eu disse impacientemente. “O mínimo que você pode fazer agora é me contar o que está acontecendo.”

Ela respirou profundamente, apertando seu suéter com ainda mais força.

“Minha avó...” Nahee começou, sua voz era um mero sussurro e eu tive de fazer um imenso esforço para escutá-la. “Ela vai morrer hoje.”

Um leve nó se formou em minha garganta quando ela se virou finalmente para me olhar e, então, pude ver lágrimas se acumulando em seus olhos, mas claramente ela se esforçava para que não caíssem. Engoli em seco. Bufei.

“O que você está fazendo aqui então? Vá logo vê-la.” Sentei-me em sua cama, ainda mantendo distância. “Foi por isso que você voltou no tempo, não foi?”

Nahee abriu a boca para falar algo, mas não conseguiu pronunciar uma palavra sequer, parecia estar se engasgando com o ar, e então baixou sua cabeça, encarando seus joelhos dobrados. Logo, pude ver as pesadas lágrimas caindo sobre suas mãos.

“Mesmo que eu vá vê-la.” Ela disse, sua voz trêmula. “Ainda assim, ela vai morrer.”

Agora foi a minha vez de respirar profundamente. Desviei meu olhar. Sua avó, muito provavelmente estava doente, por isso não adiantaria voltar ao passado. Sua morte não poderia ser evitada. Por mais que essa garota me desse nos nervos, nunca achei que a veria assim. Nahee parecia uma garota decidida, pelo menos o pouco que conheci de sua personalidade me deu essa impressão, e agora ela estava aqui, quebrada em pedacinhos bem na minha frente. Eu sabia o que era perder alguém querido, então conhecia sua dor. Foi aí que me dei conta de que voltar no tempo é uma dádiva e tanto, entretanto, nem isso era capaz de vencer a morte. No final, poderíamos voltar quantas vezes quiséssemos, mas em algum lugar, em algum momento, a morte estaria nos esperando e não haveria fuga ou beijo que nos salvasse.

Mas ainda assim ela tinha a chance de se despedir. Pelo menos isso.

“Você está com medo de vê-la em seus momentos finais, não é?” Lhe questionei, mas foi mais uma pergunta retórica, já que eu não precisava de uma resposta. Sem me importar se teria permissão ou não, deixei-me cair de costas sobre sua cama, olhando para o teto e para as cortinas de linho branco que adornavam a janela. “Ainda assim, isso me parece um privilégio.”

Inevitavelmente, lembranças de meu passado doloroso vieram à tona. Nahee me olhou confusa, suas lágrimas ainda escorrendo por seu rosto.

“Você pode vê-la uma última vez... É bem pior quando você não tem nem a chance de se despedir.” Eu pronunciei essas palavras sem nem mesmo perceber, já que estava entre devaneios de minhas memórias. Os gritos daquela noite, o frio, o sentimento de impotência. Tudo voltava à minha mente.

“O que você quer dizer?” A voz de Nahee me fez voltar à realidade.

Levantei-me em um movimento só, ficando de pé na sua frente. Ela ergueu o rosto, ainda com sua expressão de um misto de tristeza e confusão.

“Se você não pretende fazer nada, então não volte no tempo.” Eu lhe disse com frieza, lhe dando as costas e caminhando em direção à saída. Peguei a mochila do chão, a joguei sobre o ombro e abri a porta.

“Eu vou.” Ouvi atrás de mim. Parei com minha mão sobre a maçaneta.

Ao me virar lentamente, encontrei Nahee de pé, secando as lágrimas de seu rosto e me olhando decididamente.

____________

Nahee hesitou bem na porta do quarto do hospital. Dentro, podíamos ouvir uma senhora tossindo fortemente enquanto a enfermeira lhe perguntava se estava se sentindo bem. Nesse momento, Nahee deu um passo para trás, mas eu me mantive de pé firmemente atrás dela para o caso de uma possível tentativa de fuga. Ao bater em mim, ela parou, já entendendo a mensagem. Coloquei uma mão sobre seu ombro, apertando ligeiramente como incentivo para que prosseguisse.

Ela deu um suspiro. E entrou.

Afastei-me um pouco, mas continuei observando. Nahee ainda dava passos vacilantes, mas aos poucos se aproximava do leito de sua avó.

“Vovó.” Ela murmurou temerosamente. A senhorinha de rosto redondo e cabelos brancos como a neve parou de tossir e levantou a cabeça.

“Nahee!” Ela exclamou entre gemidos de dor, sua expressão denotava surpresa, mas principalmente alegria. Um sorriso enorme adornou seu rosto, destacando as profundas rugas. “Eu estou tão feliz em te ver.”

Nahee se aproximou ainda mais, segurando a mão de sua avó entre as suas. Ela estava de costas para mim, mas através do reflexo da janela, pude ver que forçava um sorriso para sua avó. Um sorriso triste, mas ainda assim tranquilizador.

 Foi aí que decidi me afastar. Não queria ser espectador desse momento tão importante da vida de Nahee, não queria me intrometer em algo tão pessoal e tão triste.

E enquanto caminhava pelo frio corredor do hospital, além de escutar meus passos ecoando, também podia ouvir a inveja gritando em meu peito, bem lá no fundo. Nahee não sabia a sorte que tinha.

____________

Sentado em um banco sob o sol, olhava as nuvens passando no céu preguiçosamente. Após umas duas horas, Nahee abriu a porta de vidro do hospital para o jardim em que eu estava, parou sobre seus calcanhares e me olhou surpresa.

“Você ainda está aqui?” Ela perguntou, caminhando lentamente em minha direção.

“Isso é jeito de falar comigo depois do encontro romântico que tivemos hoje?” Eu lhe respondi em tom de deboche enquanto apertava meus olhos devido aos raios de sol que insistiam em atingir meu rosto diretamente, e girei em minhas mãos a lata de café que havia comprado.

Nahee pareceu não se afetar, continuou a me olhar desconfiadamente, e pude ver que sua aparência estava bem melhor.

“Por quê?” Ela perguntou com simplicidade. Girei os olhos.

“Não fique achando que é por sua causa.” Lhe disse, batendo os pés impacientemente no chão enquanto a olhava com uma de minhas sobrancelhas erguidas. “Se eu não tivesse vindo com você, com certeza você iria querer voltar no tempo novamente. E aí o meu plano de conquistar meus 10 bilhões iria por água abaixo. Você tem o dom incrível de sempre estragar tudo.” Ela continuou me encarando seriamente. “É só por isso.”

Finalizei, erguendo meu braço e lhe entregando a bebida. Nahee mantinha sua cara fechada e olhava profundamente em meus olhos. Se eu não soubesse que ela era apenas uma entregadora com um incrível dom de voltar ao passado, eu diria que ela era realmente uma bruxa e estava lendo minha alma neste exato momento. Mas se ela procurava alguma mentira ali, não encontraria, pois eu dizia a verdade. Absolutamente.

Meu braço começou a doer, já que Nahee não pegou o café de minhas mãos. Trouxe a bebida de volta a mim, abri o lacre e insistentemente voltei a oferecê-la. Ela então olhou da bebida para mim, e então de volta para a bebida. Resignada, inclinou um pouco a cabeça para o lado, suspirou e logo em seguida ergueu os braços e finalmente pegou a lata de café de minhas mãos. Deixei escapar um leve sorriso.

 Após tomar um gole, sentou-se a meu lado. Ficamos em silêncio por um tempo, apenas escutando o vento balançar as folhas das árvores e movimentar as flores do jardim.

“Você viu os momentos finais dela?” Eu lhe perguntei sem nem mesmo a olhar.

“Ela ainda está viva.” Nahee respondeu após alguns segundos. Olhei-a surpreso e ela também se virou para mim. “Parece que ela vai viver um pouco mais do que antes.”

“Talvez seja porque você veio visitá-la?”

“Eu não sei.”

“É isso.” Eu afirmei sorrindo enquanto a observava olhar o céu. “Tudo graças ao time leap.” Pude ver Nahee discretamente girando os olhos. “Tá vendo? Você pode sim ser feliz.”

Não querendo admitir, a chama da ambição voltou a queimar em meu peito. Vi, finalmente, após todo o drama de hoje uma chance de trazê-la para o meu lado. Eu poderia seguir em frente com o meu plano sem sua ajuda, mas se eu tivesse seu poder comigo... Tudo seria perfeito.

Nahee separou os lábios ligeiramente, me olhou, mas logo voltou a desviar o olhar.

“Mesmo assim, eu provavelmente só tenho essa habilidade por causa do acidente.” Ela explicou, seu olhar se tornando mais triste.

“Acidente?” Perguntei interessado, me inclinando levemente em sua direção.

“Os garotos que me salvaram morreram.” Ela pressionou a lata de café em suas mãos. “Por isso eu não me sinto no direito de ser feliz. Não é justo.” Nahee parou por um momento, respirando profundamente. “Acho que fui amaldiçoada por ter sido a única sobrevivente.”

Escutei-a com atenção, e ao começar a entender o motivo de sua rejeição à felicidade, levantei a minha sobrancelha surpreso. Não por saber de sua história, mas sim por ver a vida de uma maneira totalmente contrária a ela.

“Algo parecido aconteceu comigo quando eu era criança.” Nahee parou de tomar a bebida e começou a me olhar atentamente. “Eu perdi meu irmão em um acidente.”

Era a primeira vez em muitos anos que eu tocava neste assunto. Eu sempre tentava mantê-lo morto e enterrado e, sinceramente, não sei o que me impulsionava a me abrir dessa maneira com a louca da Nahee, mas desabafar após tanto tempo não era uma sensação tão ruim. Muito pelo contrário, parecia que eu estava tirando de meu peito um peso que eu nem sabia que ainda estava ali.

“Mas ao contrário de você, eu decidi ser feliz por meu irmão também.” Continuei. “Se eu não for, qual o sentido de continuar vivendo?”

Ao terminar de falar, voltei a olhar Nahee. O vento batia em seu rosto, balançando seus cabelos negros suavemente, seus lábios estavam entreabertos, e suas sobrancelhas levemente erguidas, seus olhos brilhavam, mas não me olhavam profundamente como antes, na verdade, agora ela tinha a expressão de quem tinha acabado de descobrir a resposta de uma elaborada questão matemática.

Ao se dar conta de sua expressão, ela virou o rosto.

“Nahee.” Chamei-a, tocando seu ombro para que ela voltasse a me olhar. “Não importa quantas vezes voltemos ao passado, se não fizermos nada de diferente, o resultado será sempre o mesmo. Nós podemos ser felizes, só precisamos fazer as escolhas certas.” Finalizei com um sorriso.

Nahee me encarava com as bochechas levemente coradas.

“Desde quando você passou a filosofar?” Ela finalmente abriu a boca para falar algo. “Não me diga que agora vai querer escrever um livro também?”

Revirei os olhos, mas ignorei o seu sarcasmo, pois sabia que as minhas palavras tinham causado o efeito que eu queria, afinal, aquele rubor em seu rosto não estava ali por acaso. Ela estava em minhas mãos.

Virei o rosto para que não pudesse ver meu sorriso vitorioso.

Levantei-me, colocando as mãos no bolso e caminhando em direção à saída do jardim.

“Ah!” Exclamei, voltando a me virar para olhá-la após me lembrar de algo. “Da próxima vez que quiser me beijar, é só pedir.”

O rubor em seu rosto aumentou ainda mais, e então ela desviou o olhar, fingindo não me escutar. Após acenar, me virei para ir embora.

Sorri.

Contrato fechado.

____________

E escolheu um destino pior que a morte.


Notas Finais


Heey!
Consegui finalmente postar mais um capítulo! E correndo porque daqui a pouco tenho que sair, mas queria postar ainda hoje. xD
E não posso deixar de agradecer aqui à DayaneDutra por divulgar KMM, graças a ela agora temos muito mais leitoras aqui! ♥♥♥
Obrigada por tooodos os comentários ♥ O próximo capítulo não demorará tanto para sair quanto este, já que agora finalmente o período de provas terminou \o/ Então não se preocupem. ;)

Saranghae~ ♥


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