História Last Days - 01- Na saúde e na Doença.

Selena olhava emocionada para o reflexo a sua frente. O vestido tomara que caia cheio de brilhos — como ela queria quando foi escolher seu vestido —, a longa cauda, estava parecendo uma atriz de um remake de cinderela.

Sabia que aprovaria a escolha desde o momento que bateu o olho no vestido, se apaixonou logo de cara. Sua mãe olhava chorosa para ela, com um orgulho que exalava o cômodo. Seu sorriso ia de orelha a orelha. Perguntava-se como seria a reação de Harry quando a visse, certamente aprovaria a escolha assim como ela aprovou.

Dentro de pouco tempo se casaria com o homem da sua vida, o homem que escolheu para passar o resto de sua vida.  Amava-o tanto! Que mal poderia esperar para vê-lo. Era certo que ele estava ansioso para a cerimônia tanto quanto ela.

Seu longo cabelo castanho estava solto, caindo como cascatas em suas costas, cheio de cachos perfeitos. Seu colo estava enfeitado pelo belo cordão de diamante que lhe fora dado por sua sogra, juntamente com brincos que também eram de diamantes que enfeitavam sua orelha — uma herança de família, ela tinha dito. Sua maquiagem estava leve, devido ao excesso de brilho que ela já tinha — o vestido e as joias.

Olhou nos olhos da mãe, controlando-se para não derramar uma lágrima e borrar a maquiagem. Abraçou-a rapidamente antes de respirar fundo e encarar a porta em que sairia dentre poucos minutos.

Estava apenas esperando a confirmação da organizadora. Horas atrás tranquilizou Selena afirmando que Harry já estava lá e aparentemente bastante nervoso e inquieto. Na mesma hora, ela quis ir para lá, mas não podia, pois, não estava pronta.

Quando a organizadora bateu na porta avisando que já podiam ir, o coração de Selena deu um solavanco de nervosismo. Finalmente a hora tinha chegado!

Quando se viu de frente á igreja esperando dentro do carro para que entrasse, o nervosismo já tomava conta dela. O medo de que tudo desse errado não parava de importuná-la. Seu pai apertou sua mão em um sinal de que estaria lá para tudo que ela precisasse. Ela sorriu verdadeiramente agradecida por ter seus pais do seu lado.

Quando se viu de frente para Harry, seu futuro marido, suas pernas travaram. Seus olhos estavam presos nos dele, um sorriso verdadeiro estampava o rosto de ambos. Respirou fundo e junto com seu pai, andou em direção ao seu novo futuro.  Harry tinha os olhos marejados devido à emoção, o que tornava o tom de verde dos seus olhos ainda mais bonito.

Quando o padre perguntou se ela aceitava casar com Harry, o sim escapuliu de sua boca sem precisar pensar. Quando ele disse que poderia beijá-la, Harry tomou-a em um beijo cálido. Sorrindo para ela, estampando-o sua alegria.

Quando chegaram ao hotel, ela sendo carregada por Harry como tradição, olharam-se apaixonados e cheios de alegria. Riam sem motivo algum. Abriram um champanhe para comemorar à recém-vida de casados que teriam pela frente.

 Com a ajuda de Harry, Selena tirou o longo vestido e colocou-o na poltrona perto da cama. Ficando apenas de lingerie vermelha. Era sua noite de núpcias, afinal. Seria o dia mais especial deles! Ele a olhava com um olhar de admiração e ao mesmo tempo de paixão.  Harry segurou o rosto delicado dela e olhando no fundo de seus olhos castanhos, mais uma vez declarou-se a ela dizendo o quanto a amava.

— Eu sou tão sortudo por ter você.

Assustou-se, quando de repente Selena começou a tossir desesperadamente. Preocupado, Harry tentava a todo custo ajudar sua esposa. Quando ela olhou para suas mãos, estavam cheias de sangue.  Selena olhou para Harry com um olhar de desespero, estava assustada e não conseguiu controlar seus olhos começando a lacrimejar.

Uma fraqueza assolou seu corpo de repente, fazendo-a a ficar tonta. Desesperado, Harry vestiu-o seu blazer nela antes de pegá-la no colo e ir correndo buscar ajuda.

...

Quando acordou, se viu em um quarto branco com uma luz que doía sua vista, fazendo-a fechar seus olhos. Harry cochilava em uma poltrona, aparentemente bastante cansado. Quando tentou se sentar, uma dor alucinante tomou conta dela, fazendo-a gritar de dor, o que ocasionou um susto nele. Harry levantou imediatamente preocupado com o repentino grito que Selena tinha dado.

Já estava naquele quarto há horas sem ter nenhuma informação do que Selena tinha ou de quando ela iria acordar. A preocupação fazia seu peito doer.

Quando o médico chegou ao quarto, tinha o semblante triste, como se fosse dizer naquele momento que Selena iria morrer. Seu peito doeu ainda mais.

— O que ela tem doutor? — Harry se viu perguntando.

— Infelizmente... Selena...  — o médico não sabia como dar essa notícia, principalmente quando o rapaz a sua frente tinha dito que eles tinham acabado de se casar. — Infelizmente, ela tem uma doença que está bastaste avançada, que começou a dar sinais no corpo dela apenas agora. A doença que ela tem é miocardite, uma infecção viral do tecido do coração, que faz com que as funções do coração vá parando aos poucos.

Os dois olharam assustados para o médico, Selena com uma doença avançada? Pensamentos horríveis passavam pela cabeça da morena.

— Mas tem cura, não é?

— Infelizmente não. — nesse momento, Harry jurou que iria morrer de tão forte que seu coração batia. — O estado dela já está bastante avançado e com as filas enormes de transplante seria quase impossível conseguir um a tempo. Eu sinto muito por vocês, mas ela tem apenas meses de vida, talvez seis ou sete.

Nenhum dos dois conseguia dizer algo ou expressar alguma coisa depois daquilo. O médico resolveu deixar os dois a sós após a notícia drástica. Selena começou a chorar baixinho, a ficha de que iria morrer em poucos meses começava a cair e o medo da morte a possuía. Harry não conseguia encontrar palavras para tranquilizá-la apenas abraçou-a tentando dar todo o suporte possível para ela.

Quando ela se acalmou, os dois estavam ainda abraçados, tentando passar alguma tranquilidade para o outro. Harry enxugando as lágrimas que ainda caiam pelo rosto dela, com uma voz rouca e um sorriso frio apenas disse:

— Que ótimo jeito de passar a noite de núpcias.

Selena não sabia o que responder diante daquela frase, ele estava sendo irônico como sempre tentando de alguma forma fazê-la sorrir.

— Nós somos um casal diferente, não poderia ser de outro jeito. — respondeu com um sorriso melancólico.

A dor interna que sentia era enorme, finalmente quando estava vivendo o melhor momento de sua vida, casando com o homem que amava, a vida vinha lá e dava uma rasteira nela.

Tentava ser otimista, pelo menos não iria morrer no dia seguinte, mas o pessimismo não deixava. Tinha no máximo sete meses de vida, sete meses para viver o restante dela. Tinha apenas vinte e seis anos, pensava que tinha a vida toda pela frente e agora descobre que tinha apenas sete meses.

— Eu vou estar aqui independente de tudo, ouviu? — o ouviu dizer.

— Na saúde e na tristeza, até que a morte nos separe, afinal. — respondeu fria.

...

Selena estava calada há dias, mas precisamente há quatro dias. Nada conseguia fazê-la expressar algo. O médico tinha dito que não era para forçá-la a nada, o choque de descobrir que tinha meses de vida ainda estava presente.

A mãe de Selena ficou devastada quando soube da notícia, tiveram que interná-la para que se acalmasse.

Harry não aguentava vê-la naquele estado deprimente. Estava tentando a todo custo não mostrar sua tristeza na frente dela de modo algum, não queria fazê-la sofrer ainda mais com olhares de pena.

A família inteira estava de luto sem ao menos ela ter morrido, Harry odiava isso. O médico tinha dado esperança que talvez ela tivesse mais do que dez meses de vida, talvez mais de um ano, mas não era nada confirmado.

Quando Harry, bastante animado foi contar a ela, Selena não esboçou nenhuma reação feliz, apenas disse:

— Vou morrer de qualquer jeito, não? Meses a mais ou a menos, que diferença faz?

Soube que a negação era normal, mas não aguentava mais vê-la naquele estado, fria e seca. Queria que ela aproveitasse a sua vida nos seus últimos meses restantes. Seu peito doía ao lembrar-se disso.

Tentava se mostrar otimista, mas todo dia que sentava naquela cadeira de acompanhante para passar mais um dia ao lado de sua esposa, a tristeza vinha. Lágrimas caiam e soluços escapuliam. Devido aos remédios que tomava Selena não ouvia o momento de fraqueza de seu marido, que a todo custo tentava dar seu melhor por ela.

Um dia, de repente, Harry acordou diferente, saiu cedo do hospital e diferente dos outros dias que tentava animar Selena, nesse ele tinha sumido. Ninguém sabia onde tinha ido. Todos cochichavam que ele tinha a abandonado, que tinha escolhido refazer sua vida longe da doença de Selena. E isso acabou chegando até Selena, mas claro, sem querer.

Ela fingiu indiferença — como sempre —, dizendo que ele estava certo em recomeçar, que não merecia ficar preso ao lado dela. Porém, por dentro, ela estava acabada. A verdade era que não suportava mais tudo aquilo, todo aquele clima mórbido de como se ela já estivesse morta. Queria negar para si mesma que tudo aquilo era mentira, que ela não iria morrer e que teria uma vida inteira pela frente, ao lado de Harry. 

Mas tudo tinha mudado, ela iria morrer, Harry tinha ido e sua vida tinha se transformado em um inferno.

...

Quando Harry voltou pelo fim da tarde, trazia duas malas na mão: uma delas era azul marinho e a outra bege.  Ele não entendia o porquê de todos estarem olhando para ele, como se a presença dele ai fosse algo diferente.

Quando entrou novamente no quarto tão conhecido, estranhou a cara de surpresa de Selena quando o viu.

— Pensei que tinha ido embora. — ela disse de repente. O semblante confuso de Harry a fez explicar o porquê. — Era o que todos estavam dizendo.

— Então eu acho que você e eles não me conhecem. — respondeu com um falso sorriso no rosto, a decepção estampada em sua face.

Selena notou que Harry tinha trago malas, reconheceu sendo as mesmas que ela tinha arrumado para passarem a lua de mel. Só não entendia o que elas estavam fazendo ali.  

— Vamos viajar.  — Harry respondeu a inquisição do olhar de Selena para com as malas. — Já conversei com o médico, está tudo certo.  A medicação já foi passada. A única coisa que precisa se preocupar agora é de aproveitar sua vida.

— E quem disse que eu quero isso? — perguntou apática.

De repente, o clima naquele pequeno espaço ficou tenso. A amargura de Selena deixava Harry irritado. Ele não conseguiria ver Selena morrendo aos poucos em uma cama de hospital, não poderia.

— É isso, então? Vai viver os últimos meses da sua vida enfornada em uma cama de hospital? Fingindo que não se importa com nada quando eu sei que isso não é verdade e que você apenas...

— Você não sabe de nada! — Selena explodiu de repente — Não finja que me entende quando na verdade você não entende! Eu estou cansada de ver as pessoas me olharem com pena, já não me basta eu própria?

Harry não esperava aquela reação dela, ficou parado olhando para ela tentando absorver tudo que ela tinha dito. Ajoelhou-se ao lado dela, segurando firme nas mãos trêmulas de sua esposa.  Quando disse em um tom sofrido:

— Você tem razão, eu não te entendo. Mas eu estou fazendo o possível, me diga o que fazer.

Selena olhava para Harry ajoelhado ao lado dela, os olhos de ambos lacrimejados. Apenas fechou os olhos e deixou com que as lágrimas escorressem. Soluçava sem conseguir se conter e nem queria se conter. Já tinha aguentado tanto nas últimas semanas. Sentiu quando ele enxugou suas lágrimas de um jeito carinhoso como há muito tempo não fazia. Não queria ter sido rude com ele.

— Desculpa... — começou dizendo atraindo rapidamente a atenção do moreno. — eu não queria ter sido rude com você.

— Selena, você não precisa se desculpar por nada. Só me diga o que fazer.

— Só fique aqui comigo.

— Eu sempre irei ficar. — respondeu dando um beijo delicado em sua testa.