1. Spirit Fanfics >
  2. Lembranças >
  3. Delinquentes

História Lembranças - Delinquentes


Escrita por: staargirl

Notas do Autor


Juro que não vou mais demorar uma eternidade!
Finalmente as férias chegaram, os vestibulares acabaram e vou tentar postar mais de duas vezes na semana!
Espero que gostem <3

Capítulo 6 - Delinquentes


Fanfic / Fanfiction Lembranças - Delinquentes


*Dias depois*


- Verdade ou desafio?


Minha cabeça flutuava por nenhum motivo aparente enquanto eu tentava me desvencilhar da barulheira do euro-pop que ecoava por todo o quarto frescurento e feminino, até as almofadas cheiravam a cereja, e eu sabia disso porque estava deitado com a cara enfiada na colcha de cetim de sua cama enquanto alguns de meus colegas curtiam a sexta a noite bem ali no tapete, e com curtir quero dizer "se comerem sem pudor algum" - Verdade ou desafio, Ulrich?


- O que? - levantei o rosto provavelmente amassado e encontrei Helle, a única ainda disposta a brincar com uma garrafa virada em minha direção, sorriu em minha direção, o gloss avermelhado parecia grudar e a impedir de mostrar os dentes, ou sua tentativa de me lançar um sorriso "safado" foi por água abaixo pois a forma como levantou as sobrancelhas finas e exageradamente desenhadas me assustou. Por que presto tanta atenção em detalhes inuteis?


- Verdade ou desafio? - falou a última palavra tateando a língua com força, esperando que eu dissesse desafio e então ela aproveitaria para me corromper naquela cama em segundos, senti um frio na espinha.


- Huh, verdade!


Um estrondo tomou meus ouvidos e fui para trás imediatamente, recuando no colchão com o susto e me dei conta de que ela tinha tacado a garrafa de vidro que já abrigou algum refrigerante, diretamente no chão, cruzou os braços e inflou as bochechas, numa espécie de drama mimado, com a face de quem não ganhou um pônei rosa de natal, revirei os olhos - NIELS!!!- deu um grito fino que atrapalhou até os fogosos que melavam o tapete, fiz uma careta com o pensamento e em seguida o idiota musculoso apareceu trajando apenas a jaqueta do time da escola, a que eu também usava sempre, a diferença é que ele estava sem camisa, mostrando seu abd...Deus, preciso parar de prestar atenção nesses detalhes!- Vem aqui - o puxou e ambos caíram no único tapete ainda livre de coitos, passou a beijá-lo com fervura soltando gemidos forçados e o que me assustou foi que a garota me olhava durante todo o ato como se esperasse que eu fosse descer ali e...


Afundei a cabeça na almofada, e falando em cabeça, a mesma andava tão pesada ultimamente que nem o alto som eletrônico livrou-me dos pensamentos, malditos pensamentos ruivos e raivosos e eu só conseguia sentir a raiva em mim crescer ao lembrar-me do que o idiota do Dave havia me dito na última vez, a forma como me humilhou chamando-me de um "ninguém", gritando que seria tarde demais quando eu finalmente me tocasse...me tocasse do quê? Da minha vida perfeita, da popularidade que sempre me acompanhará? Ele está muito mais do que errado! Eu nunca cairei no esquecimento, todos me amam e minha vida será perfeita para sempre, não há como decair ao nível dele! Sexta feira a noite e estou com os meus amigos, vulgo, os mais populares da escola, só não mais que eu e na mansão de Helle, a garota mais popular e aparentemente bonita que estava me dando trela, apesar de estar beijando outro agora, mas enfim, e estou me divertindo, estou feliz deitado numa cama feminina sozinha, me sinto feliz, é, estou feliz, não preciso me preocupar com que ele me disse, amo minha vida...E o que aquele energumeno avermelhado deve estar fazendo?


Mordi os lábios enquanto Bee Gees estrondava em meus ouvidos. Será que ele estava deitado naquele quarto esquisito, tão esquisito quanto ele? Será que estava tocando sua guitarra? O que será que ele toca? Será que estava comendo? Assistindo televisão? Tacando o terror com aquela cara maldosa? Será que...Desviei os pensamentos quando senti a mão de Helle agarrando em minha perna, me soltei cuidadosamente.
- QUAL É O SEU PROBLEMA, ULRICH? - outro grito fino e dessa vez todos pararam e voltaram a atenção para mim.


- M-meu problema?


- Está insinuando que há algo de errado comigo? - segurou o rosto com as duas mãos e passou a chorar, me desesperei, o que diabos? - É isso? - parou de frente ao espelho e todos me fitavam com maldade no olhar.

- Você é um babaca, cara- Niels me empurrou e foi consolá-la.


Olhei ao redor e tudo me enojou. O ambiente "feliz", a música adequada, os adolescentes babacas, os costumes tradicionais idiotas que fingiam seguir, a hipocrisia que eu era refém, a pressão em minha cabeça - Que se dane! Vou pra casa.


Desci correndo as escadas, sentindo um ódio me percorrer, não era bem ódio, mas um sentimento estranho de aperto e insatisfação, desconhecidos por mim, e isso começou a me preocupar, deveria procurar um médico? 


Chutei algumas pedras durante o caminho até em casa já que papai havia proibido o carro desde o último acidente e parei de frente ao meu jardim, sabendo que não teria ninguém em casa e isso me apavorou. A solidão. Ela sempre apavora, sempre temi ficar sozinho, não ter ninguém ao meu lado nem que seja para dizer uma mínima palavra já que meus pais viajavam bastante e sempre recorria aos meus amigos ou a qualquer pessoa da escola, sempre queriam me fazer companhia, mas de algumas semanas para cá o aperto só aumento e só havia uma explicação para isso, para toda a mínima desgraça que começou a me perseguir. Aquele maldito! 


Mudei imediatamente de rumo e apressei os passos sendo levado pela minha fúria e apenas alguns minutos depois parei de frente a porta que guardava todo o desprezo que carregava nas costas e apertei a campainha sem parar com o intuito de ensurdecer que diabos estivesse ali dentro e então ele abriu, Dave me fitou de cima a baixo, estava sozinho pois as luzes estavam apagadas, e foi de repente que esqueci o estava fazendo ali e o motivo pelo qual deveria xingá-lo, fiz uma careta visível de desconforto, vamos lá, só o xingue de qualquer coisa. Dave ergueu as sobrancelhas e entortou o rosto, ainda me fitando, deu passos em minha direção e caminhei para trás ainda surpreso com a diferença de tamanho - O que tá pegando, Dunga? - bateu a porta e sentou no batente da escada.


Fitei as escadas onde Dave estava sentado e por um breve momento os degraus me pareceram tão confortáveis que dei passos rápidos e me sentei ao seu lado, e por incrível que pareça ele não me empurrou e nem me ofendeu, apenas olhou para frente.


Soltei um breve suspiro e deitei a cabeça em meus joelhos - Oh Deus, isso é um colapso, mas acho que você está certo- dei tapas em meu rosto- Minha vida está arruinada!


- É o que?- sua voz soou baixa e nem ousei levantar o rosto


- Você tem razão, você tem razão, eu me rendo! Não passo de um idiota fútil com uma vida fútil e amigos futeis, eu não tenho personalidade, eu sou um ninguém, o que eu vou fazer, Dave? Irei morrer na desgraça, sem ninguém, rodeado de poeira fútil, ar fútil, fantasmas futeis...


- Para de ser dramático, você é um idiota, só isso.


- Só isso?


- Você tem personalidade, só precisa parar de seguir os outros e bota pra fora, sacou, cara?


- Saquei? - levantei o rosto - Mas por que diabos você está me escutando e dando conselhos?


Enfiei minhas mãos no bolso esperando que ele fosse me bater a qualquer momento, mas ele parecia tão perdido quanto eu e por um momento quis sorrir e apontar quando vi seus olhos vermelhos, ele estava chorando? Que idiota!


Um cheiro estranho tomou minhas narinas, inalei por segundos me sentindo tonto até meu olhar ir em direção as mãos pálidas e grandes de Dave, ele segurava um cigarro muito fino e estranho e o levou até o boca, posicionou-o entre os lábios e tragou com força, o afastou e toda a fumaça escapou, o encarei de mais perto e notei seus olhos ainda mais avermelhados. Meu Deus, aquilo era droga!!!! 


- Eu tô chapadão.


Dei um salto - Fica longe de mim com isso! E se os tiras...você é doido?


- É só um baseado, você é assim tão careta?


- NÃO QUERO MORRER! NEM SER PRESO! AINDA TENHO UMA VIDA PELA FRENTE.


Ele sorriu, mas não foi uma gargalhada normal, ele parecia morrer sem ar e vermelhidão de tanto que ria - Você precisa relaxar.


- Não quero. Não sou delinquente que nem você.


- Tudo bem- deu outro trago e passou a me ignorar, ou seja, voltamos ao normal, não que eu me importe com isso.


- Você acha que meus colegas são chegados nisso? - perguntei cabisbaixo fitando meus tênis e corroendo por dentro, sabendo que não deveria ter saído da casa de Helle, ao mesmo tempo que não mais suportava aquele ambiente e a pressão invisível que rondava minha cabeça sem um aparente motivo e isso me enlouquecia, eu estava estragado.


- Aqueles caretas idiotas? - Dave sorriu - Óbvio que não.


- Então eu quero - dei um salto e sentei ao seu lado novamente, Dave ergueu as sobrancelhas.


- Sabe que não vai achar sua personalidade assim, você está fazendo o mesmo só que ao contrário.


- Não entendo nada do que está falando, só deve fazer sentido nessa sua cabeça oca.


Fez uma expressão estranha, como se tivesse ofendido, mas logo gargalhou de novo.


Respirei fundo, pensando nas consequências do que estava prestes a fazer, mesmo sabendo que meus pais piravam na erva quando eram novos, mas ainda assim não queria dar esse desgosto a eles, se bem que eles não davam a mínima para falar a verdade, olhei para o lado e Dave me passou o cigarro esquisito, fitei o mesmo queimando entre meus dedos e o cheiro do mato queimando inundando minhas narinas -É pra hoje! 


Engoli em seco e por fim "dei um trago" na coisa - Só isso? - o devolvi.


- Você só encostou na boca - gargalhou pesadamente e me devolveu.


Repeti o processo e me assustei ao vê-lo encostar em meus dedos e aprofundar o cigarro em meus lábios, desviei o olhar da seda queimando e desci para ele, tentando lhe afastar, quando o mesmo encontrou meus olhos, se afastou sozinho. O ar faltou imediatamente e trouxe consigo uma tosse rouca e desesperada e Dave? Dave sorria.


POV DAVE
Estava escorado na árvore do quintal perdido entre contar quantas casas haviam na rua ou fazer qualquer outra coisa para sanar minha cabeça lenta precisando lidar com o maldito ao meu lado há horas que desde que havia batido o efeito do baseado não parava de sorrir e falar asneiras o tempo todo e eu não sabia o que fazer para me livrar de Lars ao mesmo tempo que não podia deixá-lo voltar para casa nesse estado porque do jeito que o babaca é, capaz de colocar a culpa em mim e me arrumar mais problemas com meus pais.


- Dave.


- O que?


- No que está pensando?


- Hein?


- No que está pensando?


- Não é da sua conta.


- Oras! É só uma pergunta- sorriu novamente- Vamos, me diga, no que está pensando?


- Merda!


- É nisso que está pensando? Sério, você não consegue ser interessante nunc... HEY!- o puxei pelo braço e o arrastei para dentro ignorando suas reclamações assim que o carro dos vizinhos parou de frente para casa e a maldita era tão fofoqueira que só de pensar que poderia contar para minha mãe sobre "os cigarros estranhos" de novo, a tremedeira me perseguia.


- Sério! Você precisa parar com isso - Lars puxou o braço com força e notei que eu ainda o segurava, estávamos escorados na porta, tomei distância ao sentir seus olhos avermelhados me fitarem com confusão - E então, o que vamos fazer, hum? - se jogou no sofá e apoiou os tênis na mesa de centro, e isso me tirava do sério, tudo nele me tirava do sério, o jeito que se achava dono de tudo e todos, querido por todos, como se eu fosse obrigado a aguentá-lo ali e por que diabos ainda não o tinha expulsado.


- Nada - curto e grosso, agora o expulse, Dave, vamos, o expulse.


- Posso fazer uma lista mental escassa das coisas que você poderia estar pensando - se inclinou nas almofadas- Posso começar com...


- Você não para de falar nunca, né? - o cortei e corri até a vitrola, tentando cobrir o barulho de sua voz irritante - O que curte de música, Lars?


- Não sei, qualquer coisa - sorriu.


- Você não tem uma banda favorita nem nada?


- Não. Por que? É perda de tempo.


- SAI DA MINHA CASA!


Ele gargalhou - Me julge, mas é verdade...não me importo com música.


- E o que você escuta?


- Não sei.


- O que toca nas suas "grandes festas"? 


- Bee Gees, Village People, Abba, essas coisas que enlouquecem as garotas, sabe como é.


- Não sei! Em que mundo você vive??


- No mundo real com pessoas de verdade e não com idiotas como você.


- Você precisa conhecer música de verdade- me abaixei para pegar a caixa repleta de vinis- Senta aqui - e não é que ele veio mesmo... -Estou prestes a mudar sua vida, vai precisar me agradecer até o seu leito de morte.


- O quão chapado você tá?- inclinou a cabeça quase dormindo em meu ombro, o empurrei.


- Não mais que você.


-Vamos começar - tomei distância, meus joelhos doíam no chão frio, mas ficar perto dele feria minha integridade e que, por favor, céus, que meus amigos nem imaginem que o "verme" como o chamamos, está por aqui e ainda tocando em meus albuns - Isso não é bem o que eu ouço porque para chegarmos ao meu patamar de escolha musical você precisa passar por todas as fases, já ouviu Doors?


- Ah, já! Meus pais escutam o tempo todo! Joplin, Hendrix e por aí vai.


- Ótimo, você não está completamente perdido.


- O que é isso?


- Lou Reed.


- Walk On The Wild Side? É sério? -gargalhou e o som de sua risada atravessou a música.


- Não gostou?


- Nah!


- Talvez você seja um dos meus - tirei o disco que minha irmã costuma ouvir o tempo todo - Conhece Kansas?


- O estado? 


- Não, idiota, a banda! - reclamou com o tapa leve que lhe dei no topo da cabeça mas ainda assim, sorriu.


- Não.


- Está prestes a ouvir a melhor coisa da sua vida.


- Duvido.


Abaixei a agulha e ficamos parados no meio da sala por meia hora enquanto o disco tocava, eu particularmente tentando lembrar as partes da música na guitarra e posicionando meus dedos em minhas pernas lembrando das notas enquanto ele não parecia muito surpreso, sendo honesto o efeito deveria estar passando ou o consumindo por inteiro, pois na sétima música, Dust in the wind, sempre sou específico e exagerado quando se trata de música, Lars quase pegava no sono, só não caiu porque o cutuquei, e assim que o fiz, ele subiu o olhar, tão claro que me dava inveja para ser honesto, desviei, ele os fechou, e soube disso porque o encarei - Hey, tá afim de fazer algo amanhã?


Ele levantou o rosto apressadamente, a palidez havia se dissipado, não sei a razão e então ele gargalhou - Tá me chamando pra sair, sério? - sorriu de novo - O que é isso, Dave? Tá me estranhando?


- Não, retardado - outro tapa - Não foi nesse sentido, é que a minha banda vai fazer um show amanhã a noite e como ninguém nunca vai...tá afim?


- Você tem uma banda! Uau! - criou uma alegria falsa que me irritou, logo voltou ao normal - Tenho coisas bem mais importantes para fazer do que presenciar uma dúzia de idiotas que nem você, Dave.


- Claro, é por isso que está na minha sala usufruindo da minha música as onze da noite? Quer saber, esquece, vai se foder, Ulrich! Dá o fora.


- Eu já ia mesmo - pegou a jaqueta com raiva e saiu, por fim, respirei na noite.
 


Notas Finais


E então, o que acharam?


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...