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História Liberdade - Capítulo 3 - Confiança


Escrita por: luzinanda e imakinox

Notas do Autor


Gabi: oioioi gente! tudo bem?
mil perdões! atrasamos um pouco (muito) para postarmos, aconteceu muita coisa de fato, mas a inspiração baixou e escrevemos um capítulo grandinho pra redimirmos o atraso! queremos capítulos grandes então nos passem o feedback de vocês! surtamos tanto escrevendo, espero que gostem! 🥰

Liza: Gente, tudo bem? Peço desculpas pela demora, as últimas semanas foram difíceis e muito cansativas - nada realmente novo - porém eu prefiro escrever quando estou bem, mesmo que a inspiração para essa história seja constante. De qualquer forma, espero que esse capítulo enorme e cheio de pontos importantes seja o suficiente para ser perdoada. 🤗 Boa leitura a todxs.

Legenda:
"Reprendre la discussion en français." - Retome a discussão em francês.
"Il est possible que notre envoi soit intercepté à la frontière." - Nossa remessa pode ser interceptada na fronteira.
"Tu es responsable de cette merde, percez-en autant que vous voulez, je m'en fiche tant que c'est fini." - Você é responsável por essa merda, fure quantos quiser, não me importo, desde que resolva.

Capítulo 3 - Capítulo 3 - Confiança


Levi ficou três dias cuidando de Eren, conhecendo melhor o garoto e o acalmando. Não estava sendo fácil e por mais que estivesse sendo incrivelmente paciente, Eren chorava em muitos momentos. O choque era perceptível e Levi notou claramente como Eren não tinha habilidade social alguma. Sempre que ficava perto de muitas pessoas ou via alguém diferente, se encolhia ficando extremamente acanhado.

Aquilo era um problema, principalmente se ele fosse ficar ali – e em sua cabeça ele ficaria. Sabia que algo de errado acontecia dentro da casa Jaeger, não era comum que um jovem de dezoito anos não soubesse de absolutamente nada que acontece no mundo lá fora, não é normal que ele não tenha amigos ou redes sociais. Era algo assustador, quase como se ele estivesse dentro de uma muralha isolado de tudo e todos.

Aquilo o deixou profundamente irritado, Eren não falava muitas coisas do que acontecia sem chorar. As lembranças da antiga família deixavam Eren saudoso, manhoso e extremamente triste, fazendo com que ficasse agarrado à Levi o tempo todo, sempre tremendo e buscando mais contato. 

Nesses três dias dedicados totalmente à Eren, Levi notou o quão privado de simples escolhas ele era. Coisas simples como escolher suas próprias roupas, o que queria comer, o que assistir – e se assustou quando descobriu que ele sequer sabia da existência de séries, plataformas de streaming era uma total novidade para ele – e quando colocou o controle da televisão nas mãos pequenininhas, ele inclinou a cabeça parecendo nervoso e confuso com tantas opções e quando o poster do filme parecia um pouco mais quente, por assim dizer, o via ficar profundamente envergonhado e vermelho, passando com rapidez aquilo e olhando para os lados para ver se alguém tinha visto. Mais uma coisa para anotar, por mais que já desconfiasse: Eren não sabia absolutamente nada sobre relacionamentos e principalmente sobre sexo. Não podia deixar de achar aquilo adorável e fofo, sua necessidade de protegê-lo apenas cresceu mais durante esses dias.

E como já imaginava, não conseguiu nenhuma informação relevante sobre Grisha, Carla e o assassino, tocar no assunto não era uma boa ideia e mesmo quando conseguia algumas respostas, eram vagas e confusas; Eren não tinha ideia do que estava acontecendo, do porquê ou quem matou seus pais.

Pensava nisso tudo enquanto banhava Eren na banheira de sempre, pois Moblit disse que iria visitá-lo para falar algo a respeito dos exames do garoto e sabia que Erwin aparecia ali com seu submisso para a reunião que se sucederia naquele dia. 

Poderia dizer que descansou esses três dias sem estar cem por cento focado em assuntos relacionados à máfia e ao clube, de uma forma estranha se sentiu revigorado estando ao lado de Eren e cuidando do pequeno com um carinho até mesmo novo para si.

Eren estava quieto no banho, parecendo reflexivo e pensativo, além de mais vermelho que o habitual. Estava se sentindo estranho, mais especificamente quente. Seu corpo reagia de uma forma diferente quando Levi o tocava, era diferente de quando sua mãe o fazia.

Sentia arrepios estranhos por todo o seu corpo e pequenos choques quando aquelas mãos grandes tocavam certos locais, como coxas, seu peito – mais precisamente nos mamilos – e o órgão no meio das suas pernas nunca estimulado antes na vida. Não sabia dizer o que era aquilo, mas vinha notando essas mudanças estranhas sempre que era banhado ou quando Levi trocava suas roupas.

Era uma sensibilidade desconhecida, um rastro quente deixado pelos dedos grandes do homem mais velho que fazia seu corpo reagir de uma forma totalmente nova; um arrepio profundo que subia quente por toda sua coluna até descansar em suas bochechas, certamente deixando-as mais vermelhas do que antes.

Quando seus pais lhe davam banho, mais comumente sua mãe, era normal, às vezes divertido e às vezes profundamente entediante, mas nunca daquela forma esquisita que fazia suas coxas se esfregarem uma contra a outra e seu estômago esquentar enquanto uma pressão mais esquisita ainda parecia se formar em seu sistema urinário.

Estava com vontade de fazer xixi? Era estranho e isso não explicaria os arrepios involuntários que tomavam seu corpo hora e outra.

Quando Levi terminou o banho foi quase aliviador. As sensações anteriores não eram ruins, mas confusas o suficiente para desejar que terminasse logo, mesmo que enquanto viu Levi se afastar da banheira para pegar uma toalha algo desconfortável surgiu no lugar da pressão esquisita, ao menos agora sabia o que sentia.

Frustração.

Mas porquê? Não fazia sentido, nada havia acontecido e Levi estava ali cuidando dele e sendo gentil e paciente como sempre, então por que seu corpo parecia querer reclamar? 

— Eren? Você está bem? — A voz forte de Levi fez o garoto pular de susto, tão perdido em seus pensamentos que não percebeu o Ackerman tentando chamar sua atenção para sair do banho. — Por que está tão vermelho? A água está muito quente?

— Uh? Não, está bom. — Respondeu baixinho, sentindo-se de repente exposto diante o outro homem. 

— Está com febre? — Levi estava genuinamente preocupado quando estendeu uma das mãos para medir a temperatura do garoto de olhos diferentes, seus próprios olhos azuis escaneando todo o corpo pequeno na água, procurando um possível motivo para aquela reação. Eren esperou pacientemente ele analisar a situação, enrugando as sobrancelhas quando percebeu Levi olhando tempo demais para um ponto específico na água.

Seguiu a mesma direção, enxergando na água turva de sabão seu órgão excretor urinário um pouco maior do que normalmente ficava, como se estivesse semi inflado, como um balão. Tal coisa fez Eren abrir a boca surpreso, percebendo que a pressão sentida anteriormente era exatamente ali 

— Po-por que estou enchendo como se fosse um balão? — Sua voz despertou Levi do breve choque e Eren viu com curiosidade ele piscar várias vezes enquanto olhava, agora mais pálido do que antes, o rosto do Jaeger.

— Secar. — Levi mandou, seco e parecendo muito mais distante do que antes, Eren encolheu os ombros se perguntando o que tinha feito de errado para chatear o Ackerman.

 Não demorou a obedecer, deixando que seu corpo fosse manuseado como já estava acostumado, logo estava vestido com peças totalmente brancas e meias curtas de renda. Levi estava mais quieto e sério do que o normal, além de desviar o olhar sempre que Eren tentava manter algum contato visual.

Ele estava mesmo chateado, mas qual poderia ter sido o motivo? Eren não conseguia lembrar de algo que poderia ter deixado o homem bravo. Sabia que ele não gostava de nenhuma bagunça, nem mesmo as pequenas, nem de barulhos altos, já que sempre ouvia ele pedindo para que fizessem silêncio. Também lembrava de ver ele jogando fora todos os cafés que a mulher chamada Hanji fazia, então ele não devia gostar nem um pouco da bebida.

Será que estava tão distraído que não percebeu algo que fez? Não queria chatear Levi, de jeito nenhum, o homem cuidava muito bem dele e nunca reclamava ou brigava, Levi na verdade sempre permitia que Eren fizesse coisas que sua mãe surtaria se visse e mesmo que alguma culpa sempre estivesse presente, era tão satisfatório quanto.

— O que há com você hoje? — Levi perguntou, parado na porta do quarto com o pente nas mãos, Eren mal notou ele saindo.

— Me desculpe. — Falou baixo, temendo chatear ainda mais Levi.

— Só venha aqui, você ainda está uma bagunça. — Em passos curtos Eren seguiu o mais alto, Levi levando os dois até o lugar já costumeiro na cama, onde sentaram-se nas posições rotineiras para a tarefa diária. — Você não precisa se desculpar, eu estava apenas te chamando.

— Me desculpe.

Levi enrugou o cenho, parando os movimentos suaves que fazia com o pente nos fios castanhos longos que batiam no meio das costas do pequeno Jaeger.

— O que eu acabei de dizer?

— Des- — Tombando a cabeça para o lado, Eren se interrompeu enquanto pensava em uma resposta adequada. — Tudo bem.

— Bom. — Complementando sua fala, Levi iniciou um cafuné leve no topo da cabeça de Eren quando terminou a tarefa de desembaraçar os pequenos nós do cabelo. — Eren, preciso que preste atenção.

Eren sinalizou que sim, movimentando a cabeça lentamente, mesmo que sua vontade fosse de se inclinar e fechar os olhos com o carinho que recebia – aquilo sim era algo que lembrava sua mãe, não a coisa esquisita da banheira.

— Algumas pessoas virão aqui hoje, além disso, vou precisar sair. — Levi informou e Eren sentiu seus músculos tensionar, não queria ficar sozinho e menos ainda na presença de outras pessoas, Levi estava tão chateado que queria ficar longe? Tinha sido tão ruim? — Alguém vai ficar com você, não vai estar sozinho.

Aquilo não tranquilizou o Jaeger, que tentou abrir a boca para falar, mas nada saiu, não conseguiu, afinal, nem ao menos sabia como se referir ao homem, alguns chamavam de senhor, outros de mestre e alguns até de chefe, era confuso e bagunçava sua cabeça.

Acabou não dizendo nada, apenas sinalizando com a cabeça como costumava fazer a maior parte do tempo, recebendo um suspiro cansado de Levi em resposta. 

Talvez o homem precisasse de um tempo longe para que pudesse desocupá-lo e se fosse assim, então aguentaria a distância, ou ao menos tentaria, mesmo que a sensação já conhecida de perda pesasse em seu coração.

Por que já estava tão apegado e confiava tanto em Levi? Ele não era mal, mas também não era muito sorridente ou extrovertido como as pessoas usualmente eram. Analisando superficialmente, ninguém imaginaria que seria logo Levi quem Eren poderia escolher como um porto seguro, mas o Jaeger sabia; quando foi encontrado no meio do sangue e da dor de perder seus pais, era Levi quem estava lá, acariciando suas costas e sussurrando palavras de conforto, demonstrando uma preocupação e cuidados genuínos demais para que pudessem ser ignorados.

Eren sempre foi bom com seus instintos e logo de cara eles disseram que Levi era uma boa escolha.

A campainha tocou e foi preciso parar com o carinho. Levi levantou, estendendo uma mão para Eren que olhou duas vezes antes de se mover, claramente cauteloso em ter que falar com outras pessoas.

— Você quer ficar aqui? — Levi não parecia chateado ao perguntar, o que gerou uma resposta honesta de Eren, que confirmou com a cabeça. — Tudo bem, fique aqui, se precisar chamo você, pode ser?

Mais animado, Eren confirmou novamente enquanto via Levi sair do quarto, ligando a televisão que havia ali para se distrair. A sensação de vazio era ruim, ainda doía, mas Levi voltaria, então ficaria tudo bem.

Quando atendeu a porta, Levi encarou o subordinado levemente encolhido do outro lado por dez segundos inteiros antes de dizer qualquer coisa ou dar espaço para que pudesse entrar, era algo divertido ver como os subs que trabalhavam na organização cediam o controle mesmo quando não estavam em cena.

— Pode entrar. — Deu a permissão, dando dois passos para o lado, observando o rapaz que de forma tímida, descansou a maleta que carregava na mesinha de centro.

Fechando a porta com suavidade, Levi decidiu que era hora de parar. Não era culpa de Moblit que estivesse tanto tempo longe das masmorras e de sua forma preferida de relaxamento e diversão, então seria um dom decente e não assustaria mais o pobre homem.

— Você disse que queria falar pessoalmente sobre os exames do Jaeger. — Foi direto ao ponto, sentando em uma das poltronas confortáveis na sala enquanto esperava algum tipo de discurso tedioso e cheio de termos técnicos.

Mas Moblit ficou muito sério, sério demais para ser algo simples e de rápida solução. 

— É sobre o sangue que colhi, senhor. — O homem começou, além de sério, parecia nervoso. Abriu a maleta, pegando alguns papéis e encarando-os. 

— Pois diga. Eren tem alguma doença? Está com déficit de alguma vitamina? — Levi pareceu impaciente enquanto cruzava as pernas, detestava que pessoas dessem voltas demais e não fossem diretamente ao assunto.

— Quanto a isso, está tudo bem. Apesar de pequeno, ele é incrivelmente saudável. Não possui nenhuma doença, os índices estão bons, mas… — Ele pareceu parar quando leu um documento, tentando procurar as melhores palavras para tal. — Bom, como posso dizer isso… Eren tem taxas extremamente elevadas de hormônios que inibem crescimento e puberdade. 

Levi arqueou as sobrancelhas, descruzando as pernas e parecendo mais sério. Aquilo significava que…

— Os exames apontaram uma quantidade consideravelmente grande desses hormônios. Pelos meus estudos, isso vem sendo aplicado em Eren quando ele ainda era uma criança… — Moblit pareceu hesitar um pouco ao ver o rosto de Levi se contorcer em claro sinal de raiva e engoliu seco. — Eren é pequeno dessa forma provavelmente por conta disso, não sei dizer, mas notou ausência de pêlos? — Levi apenas assentiu com a cabeça, respondendo silenciosamente às perguntas. — Bem, a ausência de pêlos, a altura pequena e outras características são efeitos desses hormônios. Eu fiz diversas vezes esse exame para ter a certeza antes de falar qualquer coisa ao senhor, mas os efeitos são irreversíveis e... 

— O quê? — Levi arqueou as sobrancelhas, se levantando no impulso, alterando um pouco a voz. Moblit encolheu os ombros e abaixou a cabeça, esperando a permissão para falar novamente. Logo, Levi notou o tom usado e a expressão do enfermeiro e suspirou fundo, massageando as têmporas, extremamente cansado. — Prossiga.

 — Eren ficará dessa forma para sempre. Não temos como “resgatar” algo que sequer foi desenvolvido. Se as dosagens altíssimas foram feitas desde a infância, segundo o meu palpite, não tem o que ser feito. Não mais. — Ele suspirou fundo. — Sinto muito.

Levi sentiu a raiva o atingir com força, quase como se um balde de água fria tivesse sido jogada na sua cabeça ou um soco bem na boca do estômago. A imagem de Grisha e Carla sorrindo vieram imediatamente à sua mente e mais uma vez o ódio o acometeu. Como poderiam sorrir sendo tão negligentes assim com Eren? Será que ele sabia que isso estava acontecendo? Será que tinha a noção que algo tão forte assim era colocado dentro do seu organismo para tais finalidades? Por que motivo eles fizeram aquilo com ele? Como seriam coniventes com algo como aquilo?

A necessidade de proteção, carinho e cuidado cresceu mais e mais. O rosto iluminado de Eren e seu pequeno sorriso estamparam seus pensamentos e se perguntou como alguém poderia fazer algo de ruim a ele. Era tão espontâneo e puro que chegava a ser adorável e fofo – e detestava coisas fofas, mas Eren era diferente. 

A situação de mais cedo, mais especificamente no fim do banho, surgiu em sua mente com imagens não muito apropriadas. Eren estava excitado e isso não seria estranho, não quando Levi precisava tocá-lo para limpar, o que assustou o Ackerman de verdade foi o fato de Eren não entender o que estava acontecendo, de não saber porque seu pênis estava ficando duro. O garoto nunca tinha tido uma ereção ou nunca percebeu que tinha uma? Em que ponto a loucura da família Jaeger chegou? Sem que percebesse, Levi estava apertando a mandíbula em uma mordida tão forte que marcou seu rosto de forma assustadora, fazendo Moblit dar alguns passos para trás.

Apertou os punhos com força e suspirou fundo enquanto dispensava Moblit. Caminhou com passos longos e duros até o quarto onde Eren estava, abrindo a porta com força, encontrando-o assistindo alguma coisa na televisão de barriga para baixo e pernas levantadas balançando inocentemente em um ritmo qualquer enquanto o rosto bonito estava apoiado nas mãos. 

— Eren. — Ele chamou, vendo os olhos bicolores grandes o encararem em dúvida e um sorriso pequeno se fez presente no rosto bonito. 

Eren achou que Levi fosse demorar mais, mas pelo visto não aconteceu isso, mas o jeito que a porta abriu o deixou levemente nervoso. Ele estava bravo?

Viu Levi se aproximar da cama aos poucos e sentar-se ao seu lado, uma mão foi até seu cabelo, fazendo aquele carinho gostoso que tanto gostava e sem que percebesse seus músculos não estavam mais tensos. 

— Eu posso te pedir uma coisa? — Levi sussurrou e Eren inclinou a cabeça, se sentando na cama. 

— Uh? Pode, eu acho… — Eren sussurrou baixinho. 

— Confia em mim para cuidar de você? — Levi perguntou, surpreendendo até a si próprio. Era um desejo que estava escondido ali, mas não o negaria. Não era de se desvencilhar de coisas que queria ou negar algo que almejava. Ele era prático. 

Os olhos de Eren cresceram mais e brilharam, o rubor veio nas maçãs redondinhas e Levi teve a vontade de morder para sentir se eram tão fofas e macias quanto aparentava. Timidamente o Jaeger assentiu com a cabeça, olhando para um canto qualquer. 

— Eu… eu já confio. — Ele gaguejou um pouco, mas estava sendo sincero. — Eu gosto da sua companhia. — Não sabia como colocar direito em palavras, mas gostava de estar perto de Levi, por mais que muitas vezes estivessem no mais absoluto silêncio.

Levi suspirou, aliviado dessa vez. Queria cuidar de Eren e fazê-lo viver tudo o que não viveu nesses dezoito anos e se assustou um pouco com essa contestação. Por que, de repente, toda essa fixação pelo Jaeger?

Eren engatinhou na cama até estar no colo de Levi novamente, inalando aquele cheiro que o acalmava e o deixava mais leve. Sentiu mãos fazendo um carinho pequeno e superficial nos braços e costas, era singelo e repleto de zelo e Eren se sentiu seguro ali; temia falar algo que deixasse Levi nervoso novamente, então ficou quieto, apenas aproveitando o momento gostoso que estavam tendo. 

Mas não demoraram muito, pois passos e vozes ecoavam pelo apartamento e Levi os reconheceu bem; no entanto, enquanto colocava Eren na cama novamente, duas figuras entraram no quarto, chamando a atenção dos dois. 

Eren reconheceu o loiro alto e musculoso, se a memória não falhava, seu nome era Erwin, parecia ser próximo de Levi, já que estavam sempre conversando. 

O outro loiro era novo. Era baixinho, assim como ele, mas algo chamou sua atenção e atiçou sua curiosidade: ele vestia uma jardineira de saia jeans, um top azul e meias brancas curtas, havia também uma coleira fina e delicada preta adornando o pequeno pescoço. O rosto, fino, com as maçãs vermelhinhas de tom natural ornavam com toda aquela aura terrivelmente angelical, mas havia algo de diferente naquele olhar. Os olhos pareciam um oceano de tão azuis e grandes, eram sagazes, contrastando radicalmente com a aparência gentil que as roupas, o cabelo e o rosto mostravam. Eram perspicazes, espertos e, se Eren fosse ver bem, astutos, emitindo uma malícia bem camuflada com todo aquele aspecto fofo. 

Era lindo, mas parecia perigoso. 

E incrivelmente tentador ao mesmo tempo.

Naquele momento, além de curiosidade, uma ponta de empolgação e alívio surgiu dentro de Eren, que mexia os dedos, apertando-os com força na barra da saia de pregas branca que usava, com a excitação de, finalmente, ter encontrado alguém como ele. Claramente o loiro era um garoto, mas vestia roupas ditas femininas, assim como ele. 

Os olhos bicolores analisaram com curiosidade os dois se aproximarem, Eren viu o loiro menor se aproximar da cama e sorrir de forma amigável, estendendo a mão. 

— Oi! Meu nome é Armin. — Ele falou, sorrindo com os olhos. — Seus olhos são lindos!

Eren inclinou a cabeça, olhando para Levi e depois para o garoto que agora sabia que se chamava Armin e assentiu levemente com a cabeça. 

Armin também não parecia uma má pessoa. Na verdade, era igual a ele. Pequeno, fofo e vestia uma jardineira adorável jeans. Estranhamente se sentiu confortável a se abrir com ele, assim como com Levi. 

— Eren… — Ele sussurrou, estendendo a mão pequena e pegando na do loirinho. — Obrigado. É a primeira vez que eu vejo alguém sorrir com os olhos, é bonito. 

Levi e Erwin arquearam as sobrancelhas em surpresa ao pequeno diálogo que havia se iniciado e somente de Eren ter se aberto com outra pessoa que não fosse o Ackerman, poderiam dizer que era uma evolução. Se encararam e trocaram olhares em uma conversa silenciosa. 

Armin sentou-se na beirada da cama, vendo Levi se levantar lentamente e, ainda sorrindo para Eren, pensou em uma forma de conversar e puxar assunto. Sabia que o garoto não falava com ninguém, Erwin, seu dom, havia contado por cima o que estava acontecendo e o estado catatônico que o Jaeger se encontrava. 

Bom, havia conseguido arrancar mais de três palavras dele, estava indo no caminho certo. 

— Qual a sua idade? — Ele perguntou a primeira coisa que veio na sua cabeça. 

— Hum? Fiz dezoito há alguns dias atrás… — Eren sussurrou, se perguntando se deveria rebater a pergunta. Sua curiosidade matando por dentro, mas sua mãe sempre dizia para não questionar ninguém sobre idade. Isso era indelicado. 

Mas Armin era perspicaz, os olhos azuis viram a pequena inquietação surgir em pequenos movimentos corporais de Eren e concluiu que ele também queria saber sua idade. 

— Eu tenho vinte e um! — Ele sorriu. — Você é tão pequeno, jamais adivinharia sua idade! Eu gostei da sua saia, tenho uma igual, mas na cor azul. 

— Sério? — Eren inclinou a cabeça, olhos brilhando quando viu o loiro assentir sorrindo. — Eu tenho mais três dessa de cores diferentes. 

— Depois você podia me mostrar, não é? — Armin deu uma piscadinha. 

— Levi! Eren! — Hanji falou, entrando pela porta gritando do jeito que sabia fazer com maestria, assustando os quatro ali presentes. — Oi, Erwin, Armin. 

— O que foi? Precisa gritar, caralho? — Levi arqueou as sobrancelhas e viu a mulher gargalhar. 

— Bem, precisa. — Ela piscou. — O quarto do Eren está pronto!

Eren pareceu surpreso e olhou para Levi, tentando entender o que era tudo aquilo. Como assim quarto? Um quarto dele? Ele já tinha um e era onde todos estavam. 

— Meu quarto? — Ele perguntou inocente, arrancando um riso tenebroso da mulher de óculos. 

— Sim! Levi quem mandou fazer, tudo sob medida. — Ela piscou enquanto gesticulava agitadamente as mãos. — Ele queria que você se sentisse em casa. 

Eren piscou algumas vezes e assistiu com vislumbre quando as bochechas de Levi ficaram levemente vermelhas com o que Hanji havia dito. Ele estava ajudando-o da melhor forma, lhe dando carinhos, vestindo-o, banhando-o e lhe dando proteção. 

Levi era realmente uma boa pessoa. Que sorte tê-lo ali consigo. 

Armin olhou para Eren que parecia encolhido e lhe estendeu a mão. 

— Que tal vermos juntos? 

Eren olhou com curiosidade para Armin e depois para Levi, que assentiu minimamente com a cabeça, quase como dizendo para ele ir com o loiro. Concordando com a cabeça minimamente, Eren engatinhou até a beirada da cama e seguiu Armin que foi até o quarto onde Hanji havia dito que agora seria o de Eren. 

Ao abrir a porta, os olhos bicolores do Jaeger brilharam instantaneamente. O quarto parecia muito com o seu antigo em relação às cores, mas era um pouco mais moderno. Em tons claros e pastéis, as paredes eram amarelas e a madeira de todo o quarto era bem clarinha, um marrom leve e liso; a cama ao lado da parede era espaçosa e tinha muitos travesseiros e ursos, parecia incrivelmente confortável e macia também, a colcha tinha algumas flores pequenas e delicadas desenhadas, enquanto o lençol era um rosa bebê e os travesseiros e almofadas eram brancos; havia uma pequena penteadeira branca e uma cadeira almofadada na cor rosa bebê de frente para a cama com algumas tiaras e laços em cima; havia também uma pequena mesa de cabeceira e um guarda-roupa, além de um espelho grande ao lado. 

Não era gigante, mas era perfeito para si. Parou no meio do quarto observando cada pequeno detalhe, sendo observado por Armin e uma coisa em especial fez com que andasse mais e parasse de frente a mesinha de cabeceira: havia um porta-retrato ali. 

Era uma foto de seus pais, mais especificamente de Carla ainda grávida com um longo e elegante vestido vermelho deixando bem evidente a barriga grande. Grisha estava abraçando-a pelas costas, mãos grandes na barriga e as da esposa por cima das suas, ambos sorrindo e alegres com aquela nova fase e a criança que sempre desejaram. Aquele porta-retrato estava em seu quarto na casa Jaeger e sentiu um aperto no peito ao ver seus pais pela primeira vez depois de tudo o que aconteceu. 

Armin observou Eren e viu os ombros pequenos se encolherem e chacoalhar levemente. Se aproximou aos poucos e com cuidado, vendo que o Jaeger estava chorando enquanto tocava com cuidado a foto dos pais. 

— Eren, vem. Vamos lá para fora e… — Ele tentou pegar com cuidado na mão de Eren que a tirou com força, chorando e se encolhendo mais ainda, tremendo em alguns momentos. 

Armin pensou um pouco e o nome “Levi” veio na sua cabeça imediatamente, ele sussurrou um “eu já volto” e saiu para avisar o Ackerman sobre o estado do Jaeger. 

Chegando próximo de onde eles estavam, ele ouviu a voz grave de Levi ecoar de dentro da cozinha. 

— Erwin, isso é crime! Puta que pariu! Ele não se desenvolveu da forma que deveria, foi proibido até disso! Eu não tenho ideia do que faziam com ele lá, que caralho! Ele não consegue nem escolher um canal de televisão para assistir! — Levi parecia bravo, prestes a explodir. 

Armin parou na porta, chamando a atenção dos três e Erwin o encarou. 

— O que foi, bebê? — Smith questionou. 

— É o Eren, ele está chorando muito… — Armin falou e nem foi preciso dizer mais nada, pois o Ackerman se movimentou automaticamente para onde Eren estava, a fúria em seu rosto se desfazendo para uma expressão preocupada, com Hanji em sua cola. Armin olhou para Erwin e se aproximou mais um pouco. — Tem algo que eu quero pedir. 

— O que é?

— Eu quero passar mais tempo com o Eren… — O loirinho falou enquanto sentia-se ser abraçado por Erwin. — Eu quero ajudá-lo. 

— Ele parece gostar de você. 

— Sim. E eu também gosto dele, só dá para ver que ele ainda está traumatizado com tudo… é bem recente. Mas mesmo assim eu quero ajudá-lo. — Armin deixa um selinho em Erwin que concorda e diz que tudo bem e volta para o quarto, vendo uma cena um tanto que incomum. 

Levi estava com Eren no colo, aninhando-o com todo zelo do mundo enquanto limpava as lágrimas que caíam no rosto bonito com cuidado. 

Armin encarou Hanji e logo os dois estavam observando com atenção toda a interação. Era um fato que aquilo era inédito, quem era aquele Levi? 

Com um raspar de garganta, os dois parados na porta entenderam que Levi queria que ambos saíssem e assim fizeram. 

Levi embalou Eren por pouco tempo antes que o Jaeger fosse derrubado pelo sono; as pequenas mãos agarradas firmemente no blazer que o mais velho vestia e o rosto enterrado no peito dele, aspirando a colônia cara que usava todos os dias.

O Ackerman desejou ficar mais um pouco ali, assistindo Eren e garantindo a segurança dele, mas o tempo não estava a seu favor e infelizmente tinha que sair logo. A contragosto deixou o corpo menor entre os ursos na cama, aconchegando-o o melhor que pôde antes de sair do quarto a passos leves, abrindo e fechando a porta devagar no processo.

Não se surpreendeu ao encontrar Hanji e Armin parados no corredor, ambos com expressões astutas e olhos curiosos, principalmente o loiro, que analisava sem disfarçar o mais velho.

— Senhor, estou surpreso. — Armin começou, um sorriso de canto nascendo em seus lábios pintados de rosa clarinho. Levi revirou os olhos, já cansado daquela mesma baboseira de sempre. — O Eren me recebeu bem, levando em conta o trauma, fico feliz em perceber que ele deu espaço para outra pessoa que não seja o senhor se aproximar.

O cenho de Levi enrugou-se ao perceber o que Armin fazia, o merdinha estava obviamente brincando de manipular, mas não cairia no jogo do submisso espertinho.

— Sim, é bom que você passe um tempo com ele. — Praticamente rosnou a resposta, recebendo uma risada debochada de Hanji e um sorriso satisfeito de Armin em resposta. — Sem mais palavras, chega, Eren está dormindo, façam silêncio.

Resmungou a última parte, caminhando até a cozinha com os outros em seu encalço. Erwin estava lá, o loiro estupidamente grande – na visão de Levi –, sentado desajeitadamente em uma das banquetas de café da manhã na cozinha.

— Mestre. — Armin saudou, sorrindo para o outro loiro. Levi torceu o nariz quando eles se abraçaram. — O senhor Ackerman permitiu que eu passasse algum tempo com o Eren.

Hanji e Levi se entreolharam ao ver o implacável Erwin derreter para o loirinho que exibia uma falsa inocência em seu sorriso, toda a organização sabia o quanto Armin era inteligente e perigoso, isto é, todos menos seu dom.

— Isso é bom, coelhinho, você é a pessoa perfeita para ajudar o pequeno Jaeger. — Armin assentiu antes de ter sua testa beijada com afeto.

— Chega dessa merda. — Levi falou, cortando totalmente o clima afetuoso. — Smith, temos uma reunião em dez minutos, você também, Zoe.

Os dois citados suspiraram, já sabendo que não seria uma ocasião fácil, as coisas não estavam indo bem para eles.

— Senhor Ackerman, posso usar sua cozinha? Acho que Eren vai acordar com fome. — Armin pediu docemente, levando as mãos para trás do corpo e se balançando lentamente de um lado para o outro, Erwin suspirou com a visão adorável, Hanji riu e Levi estalou a língua.

— Faça a merda que quiser, só não deixe Eren sozinho aqui. — Balançou uma das mãos, deixando claro que não se importava com isso. — Faça algo doce para o pirralho comer também, ele gosta dessas merdas.

Os olhos de Armin brilharam na direção do chefe, mas o loiro sabia qual era o limite dele, então não disse nada, deixando – dessa vez – aquilo passar.

— O 'pirralho' gosta, hum? — Hanji disse, a morena também sabia o limite, mas não se importava minimamente com ele. — É importante agradar o pirralho, hein?

— Cala a porra da boca, filha da puta. — Levi respondeu já caminhando em direção a porta, onde sairiam no corredor que dava acesso às salas privadas do clube, algumas delas destinadas às reuniões de 'Asas da Liberdade’.

Erwin riu baixinho, mas não comentou nada. O loiro não costumava falar muito, apenas o fazia quando seus longos discursos eram necessários, o que não era o caso. Era comum ver o loiro abrindo a boca para falar apenas em situações importantes ou com seu submisso, Armin.

Entraram na sala encontrando poucas pessoas já em seus lugares na enorme mesa retangular, bem ao lado da cabeceira estava Mikasa, uma pistola desmontada em sua frente e um pano de flanela em uma das mãos. Seu espartilho preto marcando sua cintura e destacando seus seios grandes, a mulher parecia entediada com sua expressão estóica comum.

Petra estava ao lado da Ackerman, afiando duas facas curvas com atenção, as pernas elegantemente cruzadas debaixo de seu vestido tubinho vermelho sangue.

E distante das duas, com os braços cruzados e expressão cansada estava Mike, que foi o único que se virou para acompanhar os três que chegavam no local.

— É a primeira vez. — Mikasa disse sem tirar a atenção de seu trabalho nas peças da arma que limpava e encaixava. Levi não disse nada, caminhando tranquilamente até seu lugar na cabeceira da mesa, Erwin sentou ao seu lado, de frente para Mikasa enquanto Hanji sentou ao lado dele.

A sala navegou no silêncio por mais um instante enquanto Mikasa terminava de montar a pistola, o barulho das peças encaixando sendo a única coisa que cortava o ambiente.

— Você não estava aqui quando cheguei. — Mikasa completou, finalmente levantando o rosto para encarar o irmão mais velho.

Alguns rostos se viraram para encarar a dupla, ninguém estava preocupado em disfarçar a curiosidade.

— Tive alguns contratempos. — Levi resmungou em resposta, sabendo que não seria bom mentir para sua irmã, que sorriu ao ouvir a resposta evasiva.

— Imagino que sim. — Ainda encarando, a Ackerman não desviou o olhar do irmão mesmo quando a porta se abriu e mais pessoas chegaram.

Isabel foi a primeira a entrar, acenando animadamente para Levi antes de tomar seu lugar. Ymir sentou silenciosamente e Eld, Gunther e Oluo entraram conversando baixo antes de se acomodarem, os três cumprimentaram os outros rapidamente antes de retornarem a conversa.

Levi observou seu relógio, travando o maxilar quando o ponteiro marcou o horário exato da reunião e a porta se abriu, revelando Pixis e Shadis, o primeiro com sua garrafinha de álcool nas mãos. Quando os dois homens mais velhos se sentaram, finalmente o último deles chegou, respirando auditivamente Nilo ocupou seu lugar, desviando os olhos do chefe quando foi encarado.

Todos os presentes possuíam elevadas posições dentro da organização, respondendo diretamente a Levi, sendo todos de extrema confiança do chefe. A grande maioria também era dom, participando ativamente não apenas da organização mafiosa como também do clube abaixo deles, com exceção de Hanji, que era uma switcher*, nada realmente surpreendente vindo dela.

Com a sala cheia, Levi olhou para Erwin, acenando levemente para o loiro que coçou a garganta, chamando a atenção antes de começar a falar:

— O senhor Ackerman organizou essa reunião para que todos possam relatar tudo o que conseguiram sobre os titãs nos últimos dias. — Começou o loiro, puxando uma pasta de dentro de seu blazer, colocando-a na mesa. — Como sabem, Grisha e Carla Jaeger foram mortos recentemente, a casa estava pichada e seus pescoços cortados, suas orelhas não estavam nem nos corpos nem na casa.

Os celulares de todos apitaram com o recebimento das fotos dos corpos e da casa.

— Grisha era um dos nossos mais antigos, desde que Kenny era o Dom. Perder alguém como ele deixa uma grande lacuna. — Erwin encarou cada uma das pessoas presentes, os azuis de seus olhos não vacilando em momento algum. — Grisha não foi o único, no mesmo dia mais dois corpos foram achados, Darius Zackley, juiz e como todos sabem, aliado recente da organização. 

Fotos do corpo de Darius foram enviadas para todos os presentes da mesma forma que as da família Jaeger.

— E Thomas Wagner, um dos nossos contadores. — Erwin mexeu no celular, enviando os outros arquivos. — Todos mortos sob as mesmas circunstâncias que Grisha e Carla. Infelizmente ninguém foi pego, mesmo sabendo que os responsáveis são os Titãs, nada foi encontrado até agora.

Limpando a garganta e sabendo que é sua deixa para falar, Mike completou:

— Todas as câmeras de segurança das áreas dos assassinatos foram desativadas dois dias antes, ninguém na vizinhança viu ou ouviu nada de diferente e nossos homens que cobrem as áreas também não perceberam nada, eles não foram abatidos mas também não perceberam a aproximação.

— Eles estão claramente tentando nos desestabilizar. — Disse Hanji, ajeitando seus óculos. — Isso não é trabalho de amador, não estamos mais lidando com uma pequena gangue de rua.

— E nossos informantes? — Isabel perguntou, virando-se para Shadis.

— Nada, aparentemente não existe nenhuma movimentação acontecendo nas favelas ultimamente. — O homem falava com o cenho franzido, claramente desconfiado de algo que não tinha coragem de falar.

— Na polícia também não conseguimos nada. — Revelou Nilo, o delegado de um dos distritos de Trost e também aliado antigo da organização. — Todos estão quietos.

— Nas ruas não tem nada grande acontecendo, tudo está completamente normal. — Oluo quem falou, olhando diretamente para Levi, que acenou a cabeça, virando-se então para Erwin.

Encontrando o olhar azulado do subordinado, Levi percebeu que o loiro também tirava conclusões daquilo tudo. Era óbvio que algo acontecia debaixo dos panos e mais óbvio ainda que informações importantes estavam escapando, isto é, informações que apenas pessoas de cargo elevado poderiam saber. Nenhum dos dois se atreveu a falar aquilo em voz alta.

Havia um traidor entre eles.

(...)

Seus pais estavam ali, os dedos ensanguentados apontando em sua direção, as roupas pingando, encharcadas de sangue, sangue esse que escorria de seus pescoços dilacerados.

As paredes amarelas e os ursos não eram o suficiente para acalmar as batidas fortes se seu coração, seu corpo tremia violentamente e grossas lágrimas escorriam de seus olhos bicolores.

Seus pais estavam mortos e ele estava sozinho, completamente sozinho.

Piscou e não havia mais nada, o quarto estava limpo e sem a presença dos cadáveres sujos de seus pais, porém o desespero ainda estava lá, o medo e a angústia permaneceram pelos dois minutos que permaneceu imóvel encarando a parede, esperando que as imagens assustadoras aparecessem novamente.

Agarrou com força um dos ursos dispostos à sua volta, limpou as lágrimas com a manga de sua blusa branca e rolou para fora da cama. Estava chateado e queria Levi, queria o colo e o aconchego do homem gentil que sempre lhe acalmava, queria sentir o cheiro reconfortante da única pessoa capaz de afastar aqueles fantasmas.

Ignorando seus sapatos, Eren arrasta os pés cobertos pelas meias curtas de renda pelo chão até a cozinha, onde encontra Armin de costas para ele, o loiro cozinhando algo no fogão está distraído, tanto que nem percebeu o Jaeger entrando e saindo no ambiente.

Eren tinha gostado dele e com certeza tentaria conversar com ele depois, talvez eles pudessem se divertir juntos e Armin até poderia ensiná-lo a cozinhar, mas não naquele momento, pois o que precisava era Levi e nada iria lhe impedir de chegar até ele.

Foi em todos os cômodos do apartamento, se deparando apenas com o silêncio e o vazio do lugar.

Mordendo os lábios e tremendo de nervoso, Eren se arrisca até a porta da frente, abrindo lentamente para não chamar a atenção do menino na cozinha. Quando saiu do apartamento não esperava encontrar um corredor pouco iluminado, cercado por muitas outras portas.

Contudo não deu importância a isso, encontrar Levi era seu objetivo e nada podia ser mais importante. Apertando o urso em seus braços arrastou os pés até a próxima porta, debaixo dela não saía nenhuma luz e através dela não saía nenhum som, então aparentemente estava vazia.

Eren seguiu em frente e analisou cada uma das portas, parando às vezes para encostar a orelha na madeira de algumas delas para escutar melhor, mas como das outras vezes, estava silencioso e aparentemente vazio.

Mesmo com sua coragem repentina em ir atrás de Levi, Eren não se atreveu a abrir nenhuma delas, o medo de deixar o homem chateado era maior do que a adrenalina em seu sangue.

Travou quando vozes altas surgiram de uma das portas, havia luz saindo por baixo dela e com certeza pessoas falando lá dentro. Eren prendeu a respiração e se aproximou, tentando ouvir melhor o que falavam.

Alívio tomou conta de seu corpo quando a voz forte de Levi sobrepôs às outras, seu coração disparou dentro do peito e a ansiedade para ver o homem fez com que abrisse a porta sem cerimônias, entrando alguns passos para que pudesse visualizar o lugar e localizar o Ackerman.

Toda a falação anterior parou com sua entrada, rostos desconhecidos se viraram em sua direção e mesmo tremendo por isso, Eren engole toda a coragem que reuniu antes de se mover até encontrar quem procurava, seus olhos praticamente brilharam e um alívio quente tomou conta do seu corpo, fazendo-o choramingar antes de se mover na direção de Levi.

O Ackerman estava surpreso e confuso, mas não impediu Eren de subir em seu colo, que enterrou o rosto em seu peito, se escondendo das pessoas que olhavam a cena estupefatos e em choque.

— Você está bem? — Sua preocupação falou mais alto, fazendo-o esquecer momentaneamente da plateia. Eren movimentou a cabeça em positivo.

— Você não estava lá. — O Jaeger fala baixinho, a voz abafada por estar com o rosto pressionado fortemente contra o mais velho.

Levi encara Eren em silêncio, sua mente trabalhando para entender o que pode ter acontecido, Eren claramente não estava bem, o corpo pequeno tremia e quando ele chegou, seus olhos estavam vermelhos e inchados, indicando choro recente, além do coração ainda acelerado que sentia bater contra seu corpo.

— Senhor? — Alguém pergunta. Eren não se move muito, apenas o suficiente para ver parte do rosto de Levi, que levanta os olhos para todos os curiosos na sala.

Levi coça a garganta, encarando cada um dos subordinados antes de começar a falar.

— Reprendre la discussion en français. —  Eren não entendeu nada, piscando confuso com a língua diferente que o Ackerman começou a falar de repente.

— Il est possible que notre envoi soit intercepté à la frontière. — Uma voz feminina falou, ainda usando a língua que Eren não conhecia.

— Tu es responsable de cette merde, percez-en autant que vous voulez, je m'en fiche tant que c'est fini. — Levi respondeu, sua voz vibrando no peito e embalando Eren, que se aconchegou mais, aspirando o cheiro já conhecido antes de fechar os olhos, finalmente relaxando e se deixando levar pelo cansaço emocional recente, dormindo rapidamente.

Levi encarou cada um dos subordinados com indiferença, deixando que a discussão continuasse entre eles, ele normalmente não falava mais do que o necessário nas reuniões, deixando o trabalho de falar e fazer política com Erwin, que gostava de dar discursos longos e lições de moral.

Alguns ainda encaravam a pessoa no colo de Levi atordoados, claramente perdidos com a visão, era íntimo, confortável e afetuoso.

Nada daquilo fazia sentido, não quando a segunda pessoa envolvida era Levi.

Todos já assistiram muitas cenas do Ackerman para saber que ele era implacável com os submissos que admitia, ele não ultrapassava os limites acordados, logicamente, era cuidadoso e fazia os pós cenas como qualquer outro, entretanto sempre era impessoal, frio e claramente não passava de obrigação.

Era como se estivessem vendo algo caseiro, confortável e natural; Levi sem perceber passava os dedos na lateral do corpo pequeno e moreno, fazendo um carinho leve enquanto prestava atenção em cada tópico discutido na reunião. 

Outra surpresa era o fato do homem não ter repreendido o garoto por ter invadido e interrompido uma reunião, nenhum dos submissos pertencentes aos dons na sala tinham permissão para tal, os únicos que já participaram foram Armin ou Moblit, o último não possuía uma coleira no pescoço, mas era confiável o suficiente.

Hanji não disfarçava sua animação, se mexendo em sua cadeira enquanto seus olhos encaravam Eren quase sem piscar. Erwin está com o rosto apoiado em umas mãos com um sorriso malicioso no rosto e Mikasa encara o irmão em choque, sem conseguir se recuperar tão rápido quanto queria.

— O senhor quer que eu leve…? — Isabel pergunta, encarando a situação com preocupação.

Levi levantou uma das sobrancelhas, não respondendo, apenas um "tch" escapando de sua boca em resposta. Era óbvio que ele não deixaria nenhuma daquelas pessoas tocar em Eren.

Nilo e Oluo estavam claramente contrariados em continuar a reunião com alguém não autorizado na sala, porém não tiveram coragem – como Isabel –, de falar qualquer coisa.

— Essa não é a filha do Jaeger? — Pixis pergunta, finalmente citando o elefante na sala. O homem aponta para Eren, olhando com diversão para Levi, que trincou o maxilar quando todas as atenções parecem estar novamente em Eren.

Puxando o corpo mole e relaxado do Jaeger para mais perto, Levi praticamente esconde o pequeno entre seus braços enquanto fulmina o velho careca, um aviso claro em seus olhos. O homem levanta os braços, rindo suavemente da aura ameaçadora do chefe.

— Sim! — Hanji praticamente gritou, batendo as mãos na mesa. — É o pequeno Jaeger, Eren. Levi está cuidando dele, não é adorável?

A forma como os olhos de Levi queimaram cada um na sala faz com que todos desviem o olhar, se encolhendo de medo do homem assustador e ameaçador na cabeceira da mesa.

— Smith, termine com eles. — Levi falou baixo, sua voz rouca vibrando no tímpano de cada subordinado na sala.

Ninguém ousa olhar na direção dele quando sai.

Levi está fervendo. Enquanto caminha em direção ao apartamento, a sensação abrasadora de raiva parece piorar, um sentimento amargo tomando sua boca e deixando sua língua dormente e mesmo que seja difícil admitir, Levi sabe.

Não é aceitável reagir assim, mas ele não pôde controlar, não quando todos olhavam com tanto interesse e atenção para Eren, quando todos prestavam atenção no pequeno garoto relaxado em seus braços, usando uma saia curta e uma blusa apertada, não quando Eren parecia tão perfeito e puro vestido de branco daquele jeito, com seus enormes e chorosos olhos coloridos.

Ele já sabia que sentia uma necessidade de proteção além do normal por Eren, já tinha se tocado que estava alimentando esse sentimento e até aquele ponto, não tinha negado isso, deixando acontecer; Eren precisava dele, então ele faria tudo que fosse possível.

Mas Levi não estava preparado para a onda de possessividade que tomou seu corpo, nem para os sentimentos confusos que deixavam sua cabeça tonta e fazia com que agisse sem pensar, apertando Eren em seus braços e rosnando para quem ousasse olhar na direção dele.

Levi não estava preparado para perceber que uma coleira naquele pescoço moreno acalmaria metade de sua raiva, não ele, um homem que nunca teve um submisso, que nunca se interessou em firmar um relacionamento além do físico com ninguém. Ele não era alguém que pudesse sentir isso, se apegar ou dar a afeição necessária. Levi acreditava que nunca fosse sentir vontade de fazer algo assim.

Então ali estava ele, ajustando cuidadosamente Eren em seu colo enquanto sentava no sofá da sala, olhando intensamente para o rosto bonito de Eren.

O garoto nem fazia parte da comunidade, era uma criança inocente e não sabia nada sobre o mínimo e mesmo assim, a possessividade permanecia lá, tomando seus sentidos e vontades, gritando em sua cabeça para tornar o garoto seu, determinar o que já era uma verdade. Sacudindo a cabeça, Levi se esforçou para colocar a cabeça no lugar, ele precisava ser racional, ele não era alguém para Eren, não ele.

— Senhor Ackerman? — Armin apareceu no cômodo com o rosto pálido. — Deus, Eren foi atrás de você? Eu procurei por ele pela casa inteira, estava pronto para ligar para alguém e pedir ajuda.

— Ele apareceu na reunião, estava assustado. — Esclareceu, seus olhos presos em Eren. — Ele tem tido muitos pesadelos, provavelmente foi por isso que saiu sem avisar.

— Ele está bem? — Armin perguntou, claramente preocupado. 

— Não muito. — Respondeu ainda sem olhar para o loiro, que observou tal atitude com mais atenção, mesmo que já tivesse percebido o recente apego entre aqueles dois, ainda era surpreendente assistir aquela demonstração despreocupada de afeto. — Ele merece descansar, vou colocá-lo no quarto.

Armin viu Levi se levantar e ir até o quarto com Eren no seu colo. Não demorou para mandar uma mensagem para Erwin e avisar que o almoço estava pronto. Estava interessado em saber que tipo de relação os dois tinham, nunca havia visto Levi daquele jeito e o jeitinho de Eren era peculiar. Decidiu que iria falar sobre isso com Erwin quando os dois estivessem sozinhos.

Não demorou para Erwin chegar e serviu o loiro maior em um costume diário, gostava de mimá-lo e vê-lo se derreter por si, era bom para sustentar o personagem de sub fofo e inocente que faria de tudo por ele; no fundo, era uma verdade, mas era mais esperto do que Erwin pensava que fosse, no fim.

Hanji apareceu logo após com um sorriso no rosto e tagarelando completamente enquanto deixava sua arma sobre o balcão e se preparava para comer e não demorou muito para Levi aparecer na porta da cozinha, indo lavar suas mãos antes de comer.

— Como foi o fim daquela merda? — Ele perguntou entre os dentes enquanto colocava um pouco de comida no prato e se sentava.

— Só a mesma falação de sempre. — Hanji falou. — Estão curiosos sobre o Eren, sabe, não é comum alguém não autorizado invadir e muito menos ver você fazendo carinhos e trocando afetos. Adorável, simplesmente adorável. — Ela balançou as mãos de forma agitada, arrancando um risinho fofo de Armin, que fez Erwin se derreter mais uma vez e Levi revirou os olhos.

— Precisamos conversar depois. Nós três, sozinhos. — Ele enfatizou a última palavra, olhando para a cara cínica de Armin que se contorceu em um drama mal disfarçado.

— Não fica assim, coelhinho. São coisas importantes, você sabe. — Erwin acariciou os cabelos loiros do menor, fazendo Levi revirar os olhos com toda aquela demonstração de carinho.

— Dá pra parar com essa merda na minha frente? Eu ‘tô comendo, querem que eu vomite a comida com toda essa melação? — Ele encarou o casal com cara de poucos amigos e Hanji sorriu maligna.

— Não seja hipócrita, Ackerman! — Ela começou. — Ou você quer mesmo que eu fale sobre…

— Ou você cala a porra da boca, ou eu uso essa faca pra cortar a sua garganta, quatro olhos de merda. — Levi praticamente rosnou, recebendo gargalhadas dos três em resposta.

Antes mesmo de iniciarem outro assunto, a atenção dos três foi chamada para a porta da cozinha novamente, onde um Eren com os cabelos levemente bagunçados e olhos inchados e vermelhos apareceu, indicando que muito provavelmente havia acabado de acordar de um possível pesadelo.

Levi vai até lá, vendo que o Jaeger tremia e com carinho tirou alguns fios longos de cabelo que caíam sobre o rosto bonito, colocando-os atrás da orelha.

— O que aconteceu? Você está bem? 

— Eu tive outro pesadelo. Será que algum dia vou conseguir dormir em paz? — Eren resmungou, voz um pouco anasalada que quebrou o coração do Ackerman, que suspirou cansado.

— Você quer comer algo? O almoço está pronto. — Levi perguntou e Eren apenas assentiu com a cabeça levemente e estendeu os braços para que fosse carregado e sequer houve questionamento, já que no instante seguinte o Ackerman o pegou no colo e o guiou até a mesa, colocando-o sentado ao seu lado, observando os olhares interessados do trio que estava em silêncio.

Após colocar uma quantidade que observou nos dias anteriores Eren comer e colocou em sua frente, vendo-o observar o prato com as mãos sobre as coxas e postura ereta na cadeira.

Eren olhava para o próprio prato e depois para Levi, seu estômago roncou alto e se encolheu na cadeira com vergonha. O Ackerman o olhou, vendo que ele ainda não havia mexido no prato e com cuidado pegou um pouco da comida que estava ali e levou até a boca do pequeno Jaeger, alimentando-o com carinho e devoção quase nova.

— Enfim, a hipocrisia. — Hanji falou, depois de se segurar o máximo que podia. 

— Eu não estava brincando, Hanji. — O alerta fez a morena rir e Eren o encarou confuso, com a cabeça pendendo para o lado.

— Mas você brinca comigo. — Foi o que o Jaeger disse e essa fala foi o suficiente para a morena explodir em gargalhadas ao ver a expressão sem graça no rosto de Levi.

— Que lindo, estou realmente tocada. — Hanji falou, quase cantarolando de felicidade. — Nos diga, Eren. Ele é engraçado?

— Uhum. — Eren concordou com a cabeça, timidamente, enquanto bebia um pouco de refrigerante pelo canudo em um copo que Levi havia pego. 

Os olhos bicolores atentos pousaram no balcão, onde algo chamou sua atenção: havia uma pistola descansando ali em cima. Não entendia muito bem de armas, mas tinha certeza que se parecia com uma dessas que viu em jornais que seu pai assistia após o trabalho.  

Piscou algumas vezes confuso, o olhar de inocência tomando conta e dando lado para a curiosidade e então inclinou a cabeça e soltou a dúvida que martelava em sua cabeça. 

— Por que tem uma arma aqui? — Ele perguntou para Levi, apontando para a arma em cima do balcão. 

Os quatro presentes sequer lembraram de retirar a arma dali, visto que era algo tão comum que não viam motivos para isso. Bom, agora era diferente, havia uma pessoa que não sabia sobre o mundo que trabalhavam e viviam e o olhar mortal de Levi para Hanji somente expôs a raiva e a fúria que sentia naquele momento pela morena ser tão relaxada naquele ponto. 

Um silêncio tenso tomou conta do local, os quatro observavam a expressão linda e inocente do Jaeger, até Armin raspar a garganta pensando rápido e sendo ágil como sempre era. 

— É para o trabalho deles, Eren. — Explicou de forma calma. — Sabe, eles precisam se proteger, então precisam de uma. 

Eren piscou os olhos algumas vezes para absorver a informação e assentiu com a cabeça levemente. 

— Ah, sim. Que legal. — Ele falou, pondo um fim aquele assunto. 

Para Eren, apenas policiais usavam armas. Bom, era isso que ele via nos jornais da televisão e foi isso que cogitou em sua cabecinha: provavelmente algum dos três trabalhavam com a polícia e por isso a arma. 

Fazia algum sentido lá no fundo. 

Levi ia dizer algo, mas foi interrompido por Shadis, Oluo e Isabel que entraram pela cozinha.

— Boa tarde, senhor. — Os três falaram juntos e Levi apenas acenou com a cabeça.

— Senhor, tenho algumas informações que acabei de receber logo que a reunião acabou, achei pertinente repassar. — Shadis falou, apontando para um canto da cozinha e Levi assentiu com a cabeça, olhando para os outros dois.

— Preciso complementar algo que esqueci de comentar na reunião, senhor. — Oluo falou.

— Estou aqui só por ser curiosa mesmo, fazia um tempo que não vinha até aqui. — Ela riu, olhando para todos que estavam ali. — Oi, Armin! Quanto tempo. Erwin, Hanji, nos vimos na reunião.

Isabel era alguém muito importante para Levi, quase como uma irmãzinha. Sendo amigos de infância, a ruiva e seu submisso, Farlan, criaram raízes profundas com ele, ficando ao seu lado quando todo o império Ackerman caiu e vendo com louvor Levi reconstruí-lo do zero, até ser a potência que era nos dias atuais. Tinham orgulho de tudo o que o amigo construiu, renascendo das cinzas como uma fênix.

Eren a observou, vendo que a mulher era simpática e entusiasmada com todos. Não demorou muito para Armin vir para o seu lado, falar sobre qualquer coisa na intenção de se aproximar.

— Eren, que tipo de série você gosta? — O loiro perguntou, sentando-se ao lado de Eren, vendo que os doms não estavam tão longe assim, mas preferiu se afastar.

— Huh? — Ele inclinou a cabeça. — Eu não podia assistir essas coisas na minha antiga casa, então eu não posso dizer alguma preferência. Não acho que vou ser capaz de escolher algum gênero, também… — Ele pareceu encolher os ombros, se abraçando e aquelas palavras quebraram Armin que se aproximou para fazer um carinho nos cachos macios.

— A gente vai assistir uma juntos, ‘tá? E você vai escolher! — Arlert disse animado, vendo os olhos bicolores brilharem e logo a cabeça assentiu minimamente.

— Mesmo? 

— Eu digo sério! — Armin sorriu grande e Eren também sorriu docemente.

— Oi, meninos! O que estão conversando? — Isabel parecia animada ao se aproximar e encarava Eren com curiosidade. — Eu sou Isabel, prazer! Acho que você é o Eren, né? Vi você com o senhor Levi há pouco tempo na reunião. Você é muito fofo e esses olhos! Meu Deus.

Eren apenas acenou com a cabeça, visivelmente nervoso com a aproximação repentina e se escondeu atrás de Armin. Nunca havia falado com outras pessoas antes sem a presença dos seus pais, suas habilidade sociais eram quase inexistentes, para não dizer nulas. Gostava mais de observar, conseguiu uma aproximação com Armin porque sentiu uma conexão os ligar assim que o viu com a jardineira jeans impecável,  eles eram iguais.

Isabel parecia divertida e tagarelava com Armin animadamente, então preferiu apenas observar e responder somente quando lhe perguntavam algo, mas sempre distante fisicamente. As mãos pequenas foram na barra da saia, apertando ali, enquanto o corpo balançava para frente e para trás de forma inquieta. 

Por um momento estava preso na conversa de Armin e Isabel, se esquecendo completamente de Levi que estava do outro lado do cômodo. 

Na sua visão, Levi deveria ser algum chefe de todos, já que todos o chamavam de senhor. Levi era um homem bom e gentil, que estava fornecendo sua casa e lhe dando o que comer, deveria agradecê-lo em algum momento, pois não se lembrava se algum dia havia feito isso. 

Estava se sentindo um pouco deslocado ali e com cautela se afastou da ruiva e do loiro, saindo da cozinha sem chamar atenção e foi diretamente para seu quarto. Estava com um sentimento ruim no peito, principalmente quando se lembrou o motivo de estar ali e de Levi estar cuidando de si.

Estava se esforçando, e muito, para conseguir superar, mas não era fácil e mentiria se dissesse que fosse. Sempre foi ele, sua mãe e seu pai, nunca houve terceiros, sempre viveu com os dois, eram seu escudo e fortaleza e foram tirados de si de uma forma cruel, sem aviso prévio e como foi doloroso vê-los naquela situação.

Os rostos ensanguentados apareciam com uma frequência assustadora em seus sonhos, o rosto sem vida da sua mãe ou o olhar sem brilho do seu pai. Tudo estava mudando tão rápido, foram tantas coisas para absorver e aquilo o deixava perdido, confuso. Não sabia como agir diante muitas situações, não sabia se comunicar com outras pessoas e por mais que quisesse muito isso, tinha um receio muito grande em quem confiar. 

Estava se sentindo quebrado por dentro, um aperto dolorido tomava conta do seu peito toda vez que pensava nos momentos que teve com sua família. Carla e Grisha eram tudo em sua vida, eram carinhosos e amorosos e como sentia falta dos abraços apertados e das risadas diárias.

Sentou-se na cama, abraçando as pernas e enterrou a cara nos joelhos, se sentindo exausto. Os olhos já ardiam das lágrimas que caíam e o nó na garganta era presente, o sufocando com palavras e gritos que queria dar, mas não conseguia. Estava sem força alguma para falar sobre aquilo com alguém, na sua cabeça tudo ainda era recente e a dor da falta das pessoas mais importantes da sua vida era avassaladora. 

Doía, queimava, rasgava sua alma em tantos fragmentos que era quase impossível não chorar. As lágrimas aliviavam um pouco todo aquele turbilhão de sentimentos, em palavras e desabafos nunca ditos em voz alta e se perguntou se um dia confiaria em alguém a ponto de se abrir e falar sobre aquela dor nova o incomodando ali.

Agarrou um dos ursos que estavam ali e se deitou. Seu estômago cheio foi o suficiente para seu corpo amolecer e cochilar. Como sempre, dormir era complicado, seu inconsciente trazendo imagens vívidas do que queria esquecer; repetindo o pior dia da sua vida.

Levi logo percebeu a ausência do pequeno Jaeger, seus olhos azuis examinaram cada canto da cozinha com preocupação, até parar em Armin em uma pergunta muda, o loirinho negou com a cabeça e indicou o corredor com os olhos.

Seguiu diretamente até o próprio quarto, se preocupando ainda mais ao não encontrar Eren lá, o que seria o comum pois ele sempre preferia ficar o mais próximo possível. Sua segunda opção era o quarto do garoto, que até aquele momento permanecia praticamente intocado. 

Observou o pequeno corpo encolhido na cama, um estranho alívio tomando conta de seu peito com a verificação, Eren estava bem, em um sono agitado, mas bem, o que deu segurança para Levi voltar até a cozinha, onde precisava terminar de discutir com seus subordinados as informações que recebeu, discussão que também incluía Erwin e Hanji, que cercaram ele junto dos outros assim que voltou. Levi ignorou completamente os olhares de Armin e Isabel queimando em suas costas, os dois claramente tinham algo a dizer sobre Eren, contudo o Ackerman não estava com a mínima vontade de escutar.

(...)

O dia passou rapidamente, Eren não demorou a acordar de seu cochilo, se juntando novamente a Armin na cozinha. Isabel, Shadis, Oluo, Erwin, Hanji e Levi não estavam mais lá, Armin explicou que eles precisaram sair para lidar com seus trabalhos, o que acalmou o Jaeger e para passar o tempo, eles desfizeram a mala do mais novo, organizando suas roupas por cor e modelo no guarda roupas e cômoda no quarto decorado por Hanji.

— Eren, esse vestido é lindo! — Armin exclamou animado, um vestido preto de corte reto, curto e de gola tradicional branca em suas mãos. — Eu nunca consegui um desses no meu tamanho.

Eren sorriu para o loiro, admirando o brilho dos olhos azuis por um segundo antes de falar.

— Uh, eu nunca usei esse, ele fica um pouco grande em mim. — Eren tocou a peça, lembranças de sua mãe enchendo sua mente. — Uma amiga da mamãe mandou de presente, acho que natal, ela errou o tamanho mas como era alguém especial, mamãe achou educado guardar.

Armin observou a peça por um tempo antes de colocá-la de volta no cabide, porém Eren impediu que terminasse, cobrindo suas mãos.

— Pode ficar, eu não acho que essa pessoa desconhecida vá descobrir, de qualquer forma. — Eren sorriu e Armin sorriu de volta.

— É uma lembrança da sua mãe, não é melhor…

— É um presente, só aceite. — Eren insistiu, empurrando o vestido. — Você pode me pagar posando para mim, gostaria de reproduzir a cor dos seus olhos, são lindos.

— Posando? — Armin piscou, confuso, Eren corou enquanto olhava para baixo.

— Sim, eu gosto de pintar quadros. 

— Oh, isso parece incrível, Eren, eu vou adorar. — Com os olhos brilhando novamente, Armin dobrou delicadamente o vestido, colocando dentro da mochila que carregava nas costas.

Eles conversaram por bastante tempo no quarto de Eren até Armin precisar ir, o loiro tinha alguns compromissos. O Jaeger não ficou muito tempo sozinho, pois Levi logo apareceu na soleira da porta, vestia um terno italiano listrado e um chapéu descansava em suas mãos, ele parecia cansado, o que preocupou Eren.

— Tudo bem? — Perguntou cauteloso, ainda não sabia como se dirigir à Levi, sentia que devia algum respeito especial a ele, especialmente depois da manhã daquele dia em que o mais velho parecia irritado com alguma coisa que fez. Ainda não tinha descoberto.

— Sim, queria te entregar uma coisa. — Naquele momento Eren percebeu que Levi carregava uma pequena sacola pendurada nos pulsos, ele se aproximou até estar sentado na cama e de frente para o mais novo. — A partir de amanhã eu precisarei sair com mais frequência, resolver coisas do… trabalho. Você tem liberdade para fazer o que quiser no apartamento, a televisão tem todos os canais que quiser assistir e Hanji contratou alguns serviços de streaming, a cozinha está abastecida, mandei que fizessem compras decentes para que você possa comer, quero que fique a vontade, Eren, você não tem restrições aqui.

Eren abriu a boca em um cômico 'o', os olhos bicolores arregalados e surpresos. Porém Levi não tinha acabado, ele puxou uma caixa bonita de dentro da bolsa pendurada em seu pulso.

— Se ficar entediado, você pode sair, o corredor que passou ontem termina em duas escadas, à esquerda você vai para o clube, à direita você tem acesso direto à garagem, onde pode pedir um motorista para te acompanhar ou sair a pé. Tomei a liberdade de deixar meu número, de Erwin, Armin e Hanji salvos aqui. — Ele tirou um iPhone rose novo da caixa junto de um cartão preto, estendendo para Eren. — Então só preciso que me avise que está saindo e para onde, para caso precise de ajuda, o cartão é para você comprar o que quiser, não precisa de senha.

Eren olhou para o celular estendido com os olhos ainda mais abertos, seu coração batia tão forte que ele suspeitava que Levi poderia escutá-lo. Não conseguia acreditar no que seus olhos viam e no que seus ouvidos escutavam.

— É… é para mim? — Eren não sabia como reagir com aquelas informações, ele poderia sair?

— Sim, eu não instalei nada, só coloquei um chip e registrei os números que falei, você pode ficar a vontade para colocar os aplicativos que desejar. — Eren finalmente segurou o que era estendido, pegando com delicadeza os objetos, as mãos tremiam e seus olhos brilhavam a ponto de fazer um frio esquisito tomar conta da barriga do Ackerman, que limpou a garganta quando percebeu estar a tempo demais encarando a cena. — Eu prezo por seu livre arbítrio, Eren, você merece viver tudo que tem vontade, não serei eu a te proibir de qualquer coisa.

Admirou o sorriso bonito que tomou aquele rosto antes que um abraço apertado circulasse seu corpo, Eren estava com o rosto contra seu peito e os braços em volta de seu tórax. Levi ignorou a forma como seu coração parecia acelerar com o contato repentino.

— A menos que coloque sua vida em perigo. — Aquilo era para ser uma piada, mas seu tom sério apenas fez com que Eren se afastasse rapidamente, tão sério quanto ele e balançando a cabeça para cima e para baixo com determinação, o celular preso firmemente entre seus dedos. — Eu ainda preciso trabalhar, logo estarei de volta, você já comeu?

— Armin deixou dois pratos na geladeira para a gente. 

— Eu como quando voltar, você pode fazer isso sozinho, Eren? — Instruiu, vendo a forma como os olhos verdes vacilaram antes que ele pudesse mover a cabeça em concordância. — Por mim? Não quero que fique doente.

Sua última fala conseguiu tirar um aceno mais firme dessa vez e satisfeito com a resposta, Levi saiu, deixando Eren distraído com o celular.

Apertando os passos, Levi saiu do apartamento e foi até o fim do corredor naquele mesmo andar, onde Erwin esperava de pé em frente a um homem amarrado firmemente em uma cadeira. Encaixou na cabeça o chapéu que segurava antes que fosse notado.

Levi trancou a porta quando entrou, mesmo que não fosse seu costume, agora com Eren no mesmo andar tinha medo de que ele descobrisse o que fazia em seu 'trabalho'. Não conseguia achar minimamente saudável que o garoto tivesse acesso aquele tipo de violência. 

Foi pelo mesmo motivo que decidiu entregar o celular antes de terminar o que tinha que fazer ali, não queria falar com Eren com as mãos sujas de sangue.

Sinalizou para Erwin enquanto se acomodava em uma poltrona nos fundos da sala, o homem na cadeira assistiu seus movimentos com os olhos arregalados, desviando a atenção do loiro que segurava uma navalha em uma das mãos.

— Há quanto tempo você está com os Titãs? — Erwin perguntou, sua voz forte soando democrática, quase como se aquela conversa fosse totalmente consensual, não havia violência em sua postura.

— Eu não sou um Titã! — O homem respondeu assim que sua boca foi liberada. Erwin levantou uma das sobrancelhas antes de puxar o cabelo castanho do outro para o lado, expondo sua orelha esquerda e bem atrás dela, o símbolo da gangue tatuado em tinta preta. 

— Vamos tentar de novo. — Erwin falou calmamente, segurando firmemente a cabeça do homem com os dedos entre os fios castanhos. A navalha escorregou de sua mão até a tatuagem, onde fincou apenas para romper a primeira camada de pele. — Há quanto tempo está com os titãs?

O homem gemeu de dor, tentando inútilmente se debater contra o aperto forte.

— Por favor…

— Eu não dou terceiras chances. — Erwin suspirou, quase como se estivesse com pena.

Levi assistiu o loiro retirar com precisão quase cirúrgica a pele tatuada daquela parte do corpo do outro homem, que já estava amordaçado novamente para que seus gritos não incomodassem quem estivesse se divertindo no andar abaixo.

— Então, o que tem a me dizer? — Erwin perguntou enquanto guardava o pedaço de pele em uma maleta resfriada. — Tempo?

O homem choramingou, sangue escorrendo de seu pescoço até suas roupas, Levi olhou com nojo para a bagunça que Erwin estava fazendo.

— Eu ainda tenho cerca de noventa e cinco por cento de pele para retirar e mesmo depois disso, você estará vivo e será capaz de falar, então iremos para os próximos passos. — Erwin avisou, sua voz saindo suave como se estivesse falando sobre o dia. O homem estremeceu, porém não disse nada, seus olhos castanhos indo até a figura de Levi no canto escuro da sala.

— Eu trabalhava para você! — O homem gemeu abafado contra o pano em sua boca, sendo completamente ignorado por Levi. — É assim que trata quem ajuda essa organização de merda?

Erwin o ignorou completamente, estendendo a navalha até a testa do homem, onde recomeçou seu trabalho meticuloso de separar a pele da carne. Os gritos dolorosos não atingiram nenhuma das outras pessoas da sala, uma delas bocejando levemente com a demora naquilo.

— Arranque uma das orelhas. — Levi disse, fazendo Erwin parar imediatamente, deixando o trabalho pela metade. Sua voz rouca enchendo o ambiente e cortando os choramingos do homem de cabelos castanhos, que chiou e sacudiu os braços amarrados ao perceber que Erwin estava prestes a obedecer. — É um bom presente para a esposa 

O homem então ficou em silêncio, seus olhos se arregalando e um engasgo profundo subindo por sua garganta, Levi podia sentir o desespero chegar à superfície.

— Não, por favor não a envolva nisso. — Ele implorou, baba escapando pelos lados do pano amarrado em sua boca. Levi então se levantou, caminhando até estar de frente para o homem na cadeira que desviou o olhar, tremendo com sua proximidade. — E-eu digo, por favor, minha família não faz parte disso.

— Você pensou na sua família quando vendeu nossas informações para os Titãs? — Erwin perguntou, a navalha em sua mão brilhando intensamente. — Nós pagamos a vocês, porcos da polícia, muito bem para que coisas desse tipo não precisem acontecer.

Levi estalou a língua, fazendo o homem ficar tenso e travado, já estava claro para ele quem dava as cartas ali. O Ackerman então segurou em seu queixo, as digitais empurrando dolorosamente seu rosto para cima, forçando-o a encarar os gélidos olhos cinzentos.

— Não estou convencido. — A voz de Levi surgiu novamente, forte e intimidador o suficiente para fazer a pessoa entre seus dedos engolir em seco.

— Dez meses. — O homem disse, os olhos fechando de medo, fazendo o aperto de Levi se tornar mais doloroso.

— Quanto? — Erwin voltou a perguntar, as mãos agora para trás em uma postura elegante. 

— Na-nada, eles ameaçaram minha família. — O homem cuspiu, parecendo mais nervoso que antes. — Porra, eles vão- eles vão…

— O que te levou a acreditar que eles podiam ser piores que nós? — Erwin debochou, seus olhos azuis brilhando na sala escura. — Você deveria saber, sua família mora em nossa área, ninguém passaria por eles sem o nosso conhecimento, temos homens cuidando de cada casa da lei dessa maldita cidade.

Erwin agora parecia irritado, o que enviou uma onda de arrepios para a espinha do homem.

E Levi entendia, era um sistema simples porém caro, eles não apenas subornavam a polícia como também ofereciam proteção para sua família, para Levi, a lealdade podia ser facilmente corrompida com dinheiro ou dor física, então seu braço direito, Erwin, construiu um sistema muito mais forte. Lealdade, o que era muito importante para cada membro pertencente à organização. 

— Eu vou estar lá embaixo enquanto você termina com isso. — Levi disse baixo, fazendo o homem na cadeira saltar de susto. Seus dedos soltaram o rosto trêmulo antes que se afastasse. — Consiga o que puder, tranque a porta.

Com a licença do chefe, Erwin sorriu sombriamente, acenando para Levi antes que o mais baixo saísse do cômodo.

— Você não deveria ter nos traído. — Escutou o loiro dizer antes de desaparecer no corredor, descendo as escadas de acesso ao clube.

A música na pista de dança estava alta e o bar a todo vapor, o lugar estava cheio e os funcionários lutavam para atender a demanda, Levi ignorou toda a massa de corpos suados, caminhando suavemente até o outro lado, onde ficava as masmorras, a porta sendo cuidada por dois seguranças armados.

Tirando seu chapéu, Levi foi parado na porta apenas para receber um par de luvas pretas de látex, agradeceu enquanto entregava o outro acessório e finalmente entrou, o palco estava vazio e muitos casais andavam por ali, as poltronas vermelhas estavam ocupadas e o bar também, alguns submissos sem coleira conversavam baixo com dons também sozinhos.

Petra surgiu na sua frente, vestia um vestido decotado de couro que apertava todo seu corpo escultural até os joelhos, saltos elegantes e os lábios pintados. Ela sorriu maliciosa na direção de Levi enquanto se aproximava, seu submisso de cabeça baixa logo atrás.

— Chefe, queria pedir um favor. — A forma como ela falava era lasciva, porém Levi não se afetou, já acostumado com os truques sujos da mulher de cabelos ruivos. 

— Eu não faço favores. — Respondeu sem dar atenção para a mulher, logo um copo de whisky já estava em suas mãos, deixado por um garçom que passava por ali. 

— Você é chato. — Petra resmungou, mordendo os lábios sedutoramente, não recebendo nada além de um olhar perigoso do chefe em sua direção. — Desculpe, eu preciso da sua ajuda.

Antes que pudesse receber outra negativa, Petra puxou o submisso que lhe seguia, deixando-o na frente de Levi.

— Marco está comigo a pouco tempo e como eu tenho tido muito trabalho nos últimos dias, não pude testá-lo ainda. — Levi cerrou os olhos, observando a pele morena e familiar que cobria o corpo bonito do rapaz.

— Eu não treino iniciantes. — Petra riu.

— Ele não é um iniciante, senhor, apenas não teve uma dona intensa como eu. — Ela coçou o queixo de Marco carinhosamente. — Mostre seu rosto, gatinho.

Corando, Marco finalmente tirou os olhos do chão, fitando Levi com curiosidade enquanto era analisado.

A visão daquele rosto foi mais agradável do que Levi esperava. Marco possuía cabelos e olhos castanhos escuros, porém o que chamava atenção era sua beleza. Sardas pequenas contornavam suas maçãs proeminentes, seu queixo era fino e sua boca pequena e carnuda e o que principalmente segurou Levi era aquela expressão inocente, expressão que somada a pele morena, conseguiu tirar o Ackerman do eixo por dois segundos.

— Tch. — Olhou para Petra. — Coloque-o no palco.

Sua aceitação repentina tirou um sorriso animado da Ral, que empurrou Marco até o centro do lugar com Levi logo atrás, o mais velho vestia suas luvas enquanto ouvia Petra falar com o submisso.

— Você sabe as regras, ele vai testar seus limites, não brinque com ele, se não aguenta, fale as palavras de segurança ou solte a bolinha, entendeu? 

A beleza de Marco era um destaque, não era sedutora como a de Petra, ou feroz como a dele ou Mikasa, nem mesmo clássica como a de Erwin, não, a beleza de Marco era pura e inocente, uma falsa visão imaculada que se assemelha muito a-

Cortou seus pensamentos, focando sua atenção no submisso parado de frente para a mesa preta já disposta no meio do palco. Levi observou as roupas de couro dele, dos pés até o rosto, ignorando propositalmente o olhar que recebeu.

— Sem roupas. — Mandou, dirigindo-se até um varal preso a parede onde alguns acessórios estavam pendurados, Levi ignorou a maioria deles, pegando uma corda fina que estava bem enrolada e uma bolinha pequena e vermelha. — Verde, prosseguimos, amarelo paro o que estou fazendo e vermelho terminamos a cena, alguma dúvida?

Marco negou com a cabeça antes de começar a se despir lentamente. As pessoas em volta notando-os ali, já estavam se movimentando para se sentar e assistir a cena que se seguiria.

— Eu te darei isso para caso não consiga falar, você solta se não aguentar mais, significa o mesmo que vermelho, se quiser continuar, porém de outro jeito, você apenas aperta. — Levi apertou a bola em sua mão, que chiou em um barulho alto. — Não fale sem a minha permissão, não olhe para mim sem minha permissão, não me toque sem a minha permissão e não goze sem a minha permissão.

Os avisos fizeram com que cada centímetro de pele de Marco se arrepiasse, era a primeira vez que o submisso era 'emprestado' a outro dom, além de nunca ter tido contato com alguém como aquele à sua frente.

— Barriga para baixo. — Levi comandou, batendo uma das mãos nela. Marco se apressou em obedecer. — Bom.

Por dois minutos inteiros Levi apenas observou o belo corpo moreno, alimentando a tensão e ansiedade de Marco. Seus olhos seguiam cada curva com atenção, estudando os pontos de pressão que poderia usar, a corda entre seus dedos coçando para ser usada.

Com o corpo de Marco debruçado sobre a mesa, a bunda exposta e a pele morena evidente para todos. Uma ideia passou pela sua cabeça e sorriu sádico, esticando um pouco a corda em suas mãos e parando de frente para o submisso, para que ele o visse. 

— Estenda seus braços. — Ordenou e logo foi obedecido, sentindo a corda marrom juntar seus punhos e circulá-los com facilidade e agilidade, prendendo-os em um suporte na mesa próprio para isso e com um último nó Levi o encarou, dando a bolinha pequena para que segurasse. — Vou pegar leve com você. 

Puxando as sobras da corda por cima, Levi envolveu em volta do pescoço do submisso com cuidado, deixando a pressão necessária nelas antes de amarrá-las então em cada tornozelo, forçando Marco a dobrar as pernas para trás. Levi observou sua obra satisfeito enquanto Marco ofegava, o medo de se asfixiar mantendo o Bodt arqueado, porém não aberto o suficiente para seu gosto.

Olhando para o varal novamente, viu algo que chamou a sua atenção e foi até lá, pegando um spreader bar*. “Perfeito”, ele pensou enquanto pegava o objeto e ia até onde Marco estava, abaixando-se para instalar corretamente. 

Prendeu as tiras nas panturrilhas, próximas aos tornozelos, a barra firme deixando as pernas do submisso bem abertas. Fazia parte do show mostrá-lo para todos, fazê-lo se sentir envergonhado e excitado por estar sendo exposto daquela forma e notou o rosto com sardas ficar vermelho e o volume começar a aparecer no meio das pernas. 

“Bom”, pensou. Faltava mais alguma coisa, queria testá-lo para ver até onde ele aguentava. Notou as pernas tremerem levemente pela posição, mas não se importou, indo dessa vez até uma espécie de mesa com diversos dildos e vibradores de diferentes tamanhos. 

Pegou um vibrador de tamanho médio em que pudesse controlar a velocidade das vibrações. Seria bom para testar o quão resistente ao orgasmo ele seria. Pegou também um lubrificante e voltou até onde ele estava. 

— Está vendo isso? — Levi falou de frente a Marco, encarando a expressão inocente e envergonhada ao ver o vibrador em sua mão. — Vou colocá-lo em você, até ver o quanto você aguenta. Não goze sem a minha permissão, lixo, ou será punido imediatamente.

Marco apenas assentiu com a cabeça, tremendo e abaixando o olhar assim que viu Levi despejar o lubrificante no vibrador e não demorou muito para sentir o líquido frio ser despejado em sua bunda. 

Estremeceu com aquilo, se remexendo um pouco. Estava preparado, Petra pediu para fazer isso com um dildo de borracha mais cedo e Levi notou ao ver a entrada um pouco mais aberta e melada do que normalmente esperaria. 

“Petra já fez um bom trabalho aqui”, ele pensou. Não ter que prepará-lo já era um passo bom e não demorou muito para terminar de despejar a quantidade de lubrificante necessária para não machucá-lo. 

Após lambuza-lo o suficiente, pegou o vibrador e colocou em sua entrada aos poucos, empurrando-o com cuidado, vendo as pernas tremerem e vacilarem por um instante. 

Quando viu que já estava na metade, pegou o controle e o ligou. O aparelho tinha dez velocidades, ligando na terceira e assistindo com prazer o submisso se contorcer em cima da mesa. 

Deu um riso sádico, precisava de mais. Aquilo não era absolutamente nada. 

Olhou para o varal com os diversos objetos de açoite pendurados e foi até lá, pegando uma chibata preta, voltando para o ponto de visão de Marco. 

— Olhe para mim. — Ordenou, vendo a expressão inocente de Marco ser direcionada para si. 

Olhos lacrimejando, bochechas coradas e lábios sendo mordidos de forma incrivelmente adorável, combinando com sua aura ingênua e inocente. No mesmo instante o rosto de Eren surgiu em sua mente, o corpo pequeno naquela mesma posição e o rosto bonito tremendo em expectativa. 

Mas que merda era essa que estava pensando?

— Eu quero que você conte até quando eu parar. — Levi falou. — Se errar a conta ou parar, te punirei. Se for demais e não aguentar, solte a bola ou diga vermelho. Estamos entendidos?

— Sim. — Marco falou, mas no instante seguinte sentiu seus cabelos negros serem puxados com violência e encarou as orbes cinzentas intensas. 

— Sim, senhor. — Levi rugiu, fazendo Marco estremecer mais ainda e concordar com a cabeça. 

Impacientemente foi até a parte traseira do submisso e deu uma chibatada que estalou na carne, deixando uma marca avermelhada. 

— Conte comigo. Um. — Levi falou, ouvindo Marco murmurar o número. — Mais alto. 

— U-Um… — Ele falou. 

— Bom. Vamos continuar. — Levi disse, dando outra chibatada na outra banda. 

— Do-dois… — Marco falou sôfrego, sentindo a pele arder. 

As mãos de Levi coçavam, querendo mais e mais. Os suspiros e arfadas que Marco liberava foram o suficiente para sua mente ir longe, imaginando Eren debruçado naquela mesa, naquela mesma posição, contando enquanto o espancava e o dava tudo que tinha, ouvindo gemidos gostosos em resposta. 

Oh, isso seria adorável. 

Balançou a cabeça levemente, voltando à realidade quando apertou o botão do vibrador, aumentando para a velocidade quatro. Viu Marco jogar a cabeça para trás e as pernas tremerem e golpeou mais uma vez a chibata na carne, ouvindo-o contar em meio a suspiros e arfadas. 

Não havia chego a dez em suas contas quando viu o corpo a sua frente tremendo e um grito extasiado escapando dos lábios carnudinhos, agora vermelhos e inchados pelas mordidas que dava em si mesmo. Levi não precisou mover Marco para saber que sua barriga estava lotada de esperma.

Suspirou frustrado, nem havia começado aquela merda e aquele novato já havia gozado sem a sua permissão. Com certeza puniria ele de alguma forma que fosse dolorosa o suficiente, talvez com o dobro de açoites que planejava dar em um iniciante. Quando aumentou a velocidade do vibrador para seis, largando o controle em seguida para pegar com força no cabelo preto, ergueu e desceu com tudo a chibata, batendo com o triplo de força e iniciando a punição; ouviu os murmúrios de súplica serem ditos. 

— Vermelho. — Marco falou. — Eu… eu não aguento mais do que isso, senhor. 

“Mas que merda”, Levi pensou antes de assentir e desligar o vibrador, tirando-o de dentro de Marco e logo após soltando-o das amarras e das tiras do bastão nos tornozelos. 

— Vamos limpar essa nojeira. — Ele murmurou, se referindo a pequena bagunça que o submisso fez. 

Petra apareceu segurando um cobertor escuro, seus olhos não faiscavam mais como antes. Levi não precisava dizer, estava claro para os dois que Marco precisava de um pouco mais de resistência, ele era bom mas não o bastante para alguém como a ruiva.

Levi apostava suas bolas que o antigo dom do moreno era mais inexperiente que o sub.

Suspirando, o Ackerman pegou o cobertor, jogando em Marco e cobrindo-o para em seguida pegar o corpo mole no colo. Não era carinhoso e íntimo como acontecia com Eren, seus cuidados pós sessão eram totalmente automáticos e não foi diferente com Marco. Com a mente menos nebulosa agora que não existia mais uma cena para comandar, Levi não conseguia entender o motivo de comparar Marco com Eren.

Petra ficou no palco, auxiliando os empregados na limpeza total enquanto Levi carregava Marco até uma das salas privativas das masmorras, passando direto até o banheiro. Deixou o submisso sentado no vaso enquanto enchia a banheira com sais de alfazema.

— Obrigado, senhor. — Marco agradeceu, suas bochechas agradavelmente vermelhas e seus olhos levemente caídos.

— Não precisa agradecer, criança, é meu papel cuidar do seu bem estar após uma cena. — Deu uma pausa, voltando a olhar para a água. — Por mais curta que seja.

Talvez o tempo com Marco fosse o suficiente para qualquer outro dom, porém para Levi tudo não passou de cinco minutos de brincadeira, ele não ficava satisfeito facilmente e aquele submisso não teve sorte em ter sido testado logo por ele.

— Desculpe. — Podia apostar que o garoto estava roxo de vergonha, porém Levi não se afetou, puxando o cobertor para fora quando a banheira finalmente encheu. 

Levi limpou e massageou o corpo de Marco rapidamente, era frio e impessoal e o Ackerman sabia que o Bodt percebia isso pois quando olhou o rosto, estava cabisbaixo e talvez até um pouco triste, seu rosto gentil e inocente parecia um pouco contorcido.

E porra, Levi poderia praguejar mil anos, pois novamente a imagem de Eren no lugar daquele garoto encheu sua mente.

— Peça a Petra para iniciar um treinamento, não deixe que ela te empreste a outro dom novamente, você tem direito de escolha. — Disse, se arrependendo assim que as palavras saíram de sua boca. Levi não gostava de soar gentil. — Você não precisa passar por isso de novo.

Então foi como se o mundo estivesse se abrindo para o sardento, que sorriu e acenou com a cabeça, mais relaxado com a fala do dom.

Quando o banho chegou ao fim, a porta se abriu e Petra entrou segurando peças limpas de roupas.

— Você pode ir, chefe, depois de tudo é minha obrigação cuidar dele. — Petra falava com Levi, porém seus olhos estavam em Marco, que estava corado e de cabeça baixa. O Ackerman olhou o submisso e somente quando recebeu um aceno se retirou, deixando o casal lidar com sua própria merda.

Era por isso que ele não assumia esse tipo de compromisso.

Foi automático chegar em casa e ir direto para o banho, Levi se sentia sujo e extremamente frustrado, então não foi surpresa para si mesmo quando percebeu que não tinha levado nada para o banheiro, sendo obrigado a ir para o quarto apenas de toalha.

Por sorte Eren não estava por lá, apesar de já ser madrugada, o garoto provavelmente tinha dormido mexendo no celular. E dito e feito, Levi se vestiu e passou no quarto de Eren, encontrando-o largado no meio dos ursos com o celular grudado no rosto, precisou suprimir o riso que quis sair para não acordar o pirralho na cama.

Foi até a cozinha e comeu rapidamente, gostando de ver que o prato de Eren não estava na geladeira. Se jogou na cama e se enrolou nos lençóis, esperando o cansaço forçar seu sono rapidamente, porém não aconteceu e depois de duas horas rolando no colchão macio, Levi fez algo que sabia que acabaria se arrependendo.

Eren nem mesmo se mexeu quando foi erguido em seus braços, logo os dois estavam na cama king size, os braços morenos automaticamente procurando por Levi, que suspirou, relaxando.

Ele finalmente conseguiu dormir.

(...)

Eren acordou sozinho, porém o cheiro de Levi ainda persistia nos lençóis e isso foi motivo o suficiente para o Jaeger ficar por lá mais horas do que deveria. Rolou e aspirou o perfume reconfortante que saía da cama até que seu estômago roncou e sua bexiga cheia doeu, provavelmente já estava perto da hora do almoço e Eren ainda estava lá, sonhando acordado.

Se espreguiçando, o Jaeger parou um segundo para analisar o quarto e finalmente se tocar da situação, como ele tinha ido parar ali? Se lembrava de estar vendo alguns vídeos no youtube antes de apagar com o celular na cara, porém não haviam lembranças de ter ido até aquele quarto, ele nem mesmo tinha visto Levi chegar.

Ainda confuso, Eren se arrastou até o banheiro, se aliviando enquanto pensava na roupa que escolheria para o banho naquela manhã, ele preferia quando Levi fazia isso porém não podia esperar o Ackerman quando não sabia quando eles se veriam novamente.

Seu peito se apertou em angústia e Eren se forçou a esquecer isso enquanto ia até seu quarto, encontrando um short preto de corte reto e uma blusa branca de babados, além de uma calcinha simples, tudo dobrado e separado por Levi para que vestisse naquele dia, era simples e confortável e Eren não pôde evitar se sentir melhor com esse gesto.

Como não tinha nada para proteger seus pés que tinham a pele muito fina, Eren pegou um par de meias branquinhas que cobriam até a panturrilha.

O banho foi rápido e não tão divertido e interessante quando era com Levi, Eren podia fazer isso sozinho, às vezes era necessário quando sua mãe não tinha tempo, porém com Levi havia algo a mais que ainda não havia descoberto, aquelas sensações quentes que arrepiaram seu corpo antes, ele nem mesmo tinha perguntado a Levi sobre isso ainda.

Suspirando se arrastou até a cozinha depois de se vestir, olhando para o cômodo enorme até parar na fruteira ao lado da geladeira, onde agarrou um pêssego, uma maçã e alguns morangos, lavando rapidamente na pia e jogando em um pote qualquer que conseguiu no armário.

Parecia bom.

Depois de comer e se preparar para voltar para a cama cheirosa de Levi, Eren pulou de susto quando Hanji rompeu exageradamente pela porta, um sorriso grande e assustador em seu rosto.

— Eren! — Ela saudou, mais animada do que o necessário. — Eu vim almoçar com você e adivinha?

Eren já estava encolhido no primeiro canto que achou, se escondendo e protegendo da presença desastrada daquela pessoa, seu coração batendo com força dentro do peito.

— Eu trouxe sorvete, podemos comer de sobremesa, o que acha? — Ela esticou os braços revelando dois potes grandes dentro de um saco transparente, Eren piscou de seu esconderijo se sentindo compelido a dar uma chance, a visão do sorvete sendo tentadora demais para resistir. — O que acha? É sua escolha, querido.

— Minha? — Eren surpreendido não percebeu o sorriso que Hanji esboçou com sua resposta. — Mesmo se eu quisesse almoçar sorvete?

Havia descrença na voz doce do Jaeger, mas Hanji não se abalou com isso.

— Claro que podemos almoçar sorvete! Eu sempre faço isso quando tenho preguiça. 

Eren estava genuinamente chocado com a resposta, mas se animou, saindo lentamente de onde estava e entrando na linha de visão da mulher.

— Podemos mesmo? — Perguntou, tímido, arrancando um sorriso enorme da mulher.

— É claro que sim, Eren. — Os olhos dela brilharam por trás do óculos. — Você é tão adorável.

— Obrigado?

Hanji riu indo para a cozinha e logo ela estava de volta na sala, em suas mãos os dois potes de sorvete com uma colher dentro de cada.

— Espero que você goste de Nutella com banana, disseram que é delicioso. 

— Parece bom. — Eren respondeu, recebendo um dos potes depois de se sentar no sofá, se distanciando de Hanji. — Cheira bem.

— Delicioso. — A mulher disse com a boca cheia enquanto esticava o braço para pegar o controle remoto da televisão, colocando em um desenho animado aleatório que prendeu sua atenção por algum tempo.

Eren comeu sem muita atenção, tão tentado pelo doce que esqueceu a educação que sua mãe tinha lhe dado, ele sabia que não podia comer sem a permissão de alguém, mas aquilo cheirava tão bem e ele estava tão faminto que não aguentou, se enfiando no doce com vontade.

Tão distraído quanto estava, Eren só reparou o que fez depois de ver a umidade tomar o chão perfeitamente limpo do apartamento. Olhou para Hanji desesperado, conseguindo a atenção dela, que desgrudou os olhos da televisão para ver o pequeno estrago que Eren fez.

— Desculpa, senhora, por favor me desculpa, eu prometo que vou limpar. — A voz assustada de Eren fez Hanji parar sua colher cheia de sorvete no ar, a boca aberta e os olhos cerrados de confusão.

— Eren? — Colocou a colher de volta no pote, se virando para o menino. — Está tudo bem, garotinho, não se preocupe com isso, podemos limpar depois.

— Mas e se o-

— Ele que pague alguém para limpar, não se preocupe com isso, tenho certeza que ele não se importará de você fazendo uma bagunça ou outra, é normal.

— Certo. — Eren ainda estava inseguro e Hanji não pôde deixar de anotar mentalmente o comportamento estranho.

— Você está vendo, Eren? — Perguntou dramaticamente, vendo Eren juntar as sobrancelhas, curioso.

— O que?

— A bomba caindo! — Eren não viu a almofada que bateu em seu rosto chegando, então ele precisou se mover para pegar a sua própria almofada para se defender, largando seu pote de sorvete na mesa de centro junto do de Hanji. 

Eles brincaram de guerra de almofada por um bom tempo, Hanji gritava e fazia barulhos esquisitos que tiravam gargalhadas de Eren, que não ria assim a muito tempo, a mulher podia ser esquisita quando queria mas com certeza era divertida e muito legal.

Aquele dia estava sendo incrível.

Eles fizeram uma bagunça na sala e só pararam quando o celular da mulher tocou, revelando que estava na hora de ir, Eren sorriu para ela, ainda evitando contato físico porém mais receptivo a sua presença.

O Jaeger não conseguia ficar chateado por ter ficado para trás sozinho com toda a bagunça para limpar.

Hanji encontrou Armin no fim do corredor, ele vinha do estacionamento enquanto ela se dirigia para lá.

— Você estava com o Eren? — Armin perguntou, astuto.

— Sim, almoçamos sorvete juntos.

— Então Levi pediu para que viesse também? — Armin sorriu maliciosamente com a expressão animada no rosto de Hanji.

— Então ele também te ligou? — Eles se encararam com o mesmo brilho conhecedor nos olhos. — Merda, o baixinho está de quatro pela fofura Jaeger.

— Totalmente. — Armin concordou, se virando para seguir até o apartamento. — É melhor eu não deixar o Eren sozinho, você com certeza deixou ele com a bagunça que fez.

— Uh? — Hanji fingiu se distrair com algo enquanto dava dois passos para trás. 

Balançando a cabeça, Armin constatou sua fala ao entrar e encontrar Eren recolhendo almofadas do chão.

— Armin! — Ele saudou animado, um sorriso suave em seu rosto.

— Olá Eren, quer ajuda? — O moreno concorda com a cabeça, parecendo perdido no meio da bagunça de Hanji. — Acho que precisamos de alguns produtos, o nariz do senhor Ackerman é bom para sujeira.

A última parte ele sussurrou, acreditando que Eren não tinha escutado pois continuou sua tarefa anterior.

— Armin. — Eren chamou depois de alguns minutos de silêncio. — O que o senhor Ackerman faz? Quer dizer, todos chamam ele de chefe ou senhor, parece, uh, importante. 

Eren perguntou, divagando enquanto tombava a cabeça para o lado de forma adorável, Armin admirou a cena fofa enquanto pensava em uma boa resposta.

Estava óbvio para o Arlet que Levi não tinha contado sobre a máfia ou qualquer outro aspecto dela para Eren e se o chefe não queria contar ainda, então Armin não passaria por cima disso, essa é uma informação que apenas ele poderia fornecer a Eren, levando em conta o quão próximo os dois são.

Mas Armin também não gostava de mentir e por isso, contou o que Levi provavelmente acharia aceitável.

— O senhor Ackerman é dono do clube que fica embaixo desse apartamento, é um clube de BDSM, então possui uma masmorra onde ele comanda as sessões, geralmente precisa da autorização dele para isso. Por isso ele é o chefe e também é um dom.

Eren está completamente confuso com a informação, ele claramente não entendeu muito do que escutou. Armin acha essa inocência completamente fofa, Eren era cativante sem tentar.

— Olha minha coleira. — Armin toca afetuosamente sua tira de couro com um fecho forte atrás e uma argola na frente. — Eu tenho uma pois sou um submisso e escolhi pertencer ao Erwin, é uma decisão muito íntima.

— Parece importante. — Eren disse, ainda confuso com aquelas informações.

— E é, eu posso te mostrar um pouco sobre se você quiser. — Armin dá de ombros, despreocupado, Eren é maior de idade e pode muito bem decidir o que gosta e o que não gosta, jovens vivem para experimentar e saber esse tipo de coisa não afetaria negativamente sua vida.

Eren concorda com a cabeça, animado, então eles se apressam com a limpeza antes do moreno calçar sapatilhas pretas para que pudesse acompanhar Armin.

Eles saem do apartamento, Eren está nervoso e segurando na saia de Armin, o loiro sorri e pega em sua mão, procurando acalmar sua ansiedade.

Funciona por um tempo. 

Como Levi explicou, eles descem pelas escadas que davam no clube abaixo e logo Eren se vê em um lugar enorme e meio vazio, poucas pessoas – funcionários – andavam por ali, eles olhavam para a dupla com curiosidade e enquanto Armin cruzava o local com confiança, Eren se escondeu em suas costas, seguindo-o até uma porta protegida por um homem muito grande e intimidador que fez o Jaeger se encolher ainda mais.

O homem nem se mexe e eles atravessam a porta, entrando em um lugar completamente diferente do anterior. Ali a luz é baixa, em alguns pontos ela parece vermelha, se misturando aos móveis de estofado vermelho espalhados em volta de um palco baixo e repleto de coisas estranhas, tem um bar com muitos bancos e algumas poltronas grandes também.

Eren se sentiu ligeiramente tonto com a quantidade de informação, porém ele não pôde perguntar nada a Armin pois duas pessoas se aproximaram, fazendo com que se escondesse atrás do loiro.

— Você é idiota, Connie! Se ficar falando isso por aí, Gunther vai te punir, otário! — Uma menina morena falava e Eren observou suas roupas: vestia um vestido largo preto com meia três quartos e um coturno da mesma cor, havia também uma coleira de couro adornando o pescoço. — Ah, oi, Armin! — Ela riu simpática. 

— Oi, Sasha. E aí, Connie. — O Arlert acenou animado, Eren encolheu mais ainda atrás do loiro, observando o garoto de cabelos curtos platinados sorrir em sua direção; ele vestia uma calça de couro e uma camiseta com uma estampa bem despojada, parecia ser de alguma banda, no seu pescoço também havia uma coleira grossa de couro. 

— Oi! — Ele sorriu. — Quem é esse? Também é submisso? — Connie apontou para Eren que se encolheu mais ainda. 

Armin virou-se para Eren, sussurrando um “está tudo bem” e ficou ao lado do moreno, pegando em sua mão quando o viu tremer. 

— Ele é o Eren, está ficando com o Levi por um tempo. — Armin explicou. 

Sasha e Connie se olharam, talvez fosse o submisso de Levi? Tinham ouvido uma conversa assim entre seus doms. 

— Eu sou Sasha, prazer! — A morena falou, acenando animada. 

— Eu sou Connie.

Eren mexeu as mãos pequenas, postura ereta e assentiu de forma doce, corando um pouco. 

— Muito prazer, me chamo Eren. — Ele falou doce, surpreendendo os três. 

Armin notou o quanto Eren parecia se esforçar para dizer aquelas palavras simples e assentiu com a cabeça, passando alguma confiança para o garoto que sorriu docemente, inclinando a cabeça de forma calma. 

Eren era realmente adorável. Tinha bons modos, era lindo e muito educado, parecia uma verdadeira mocinha se olhasse de perto, as roupas apenas potencializam isso. Era muito fofo. 

— Eren, Sasha é submissa da Mikasa e Connie é submisso do Gunther. Vê as coleiras? Eles têm uma igual a minha. — Armin apontou e Eren observou o objeto adornando o pescoço dos dois. 

— Desculpe, eu não entendo bem sobre isso ainda. — Eren sussurrou com a cabeça inclinada, parecendo organizar os pensamentos e Armin riu docemente para ele, acariciando o rosto fofo com a mão. 

— Vamos sentar? Assim eu te explico melhor! — Armin sugeriu e logo os quatro estavam sentados em uma mesa e pediram algumas bebidas, o Arlert escolheu uma sem álcool para ele e para Eren. — Um submisso é quem faz as vontades de outra pessoa, sendo obediente e humilde com seu dominador. É isso que nós somos. 

— Um submisso pode ou não ter uma coleira, Eren. — Sasha continuou. — Escolhemos ou não termos um mestre ou um dominador, se não tivermos um, não usamos coleira. Se usamos, significa que pertencemos e nos submetemos a alguém. É um relacionamento íntimo de cumplicidade, lealdade e respeito. — Ela continuou, vendo Eren inclinar a cabeça, pensativo. 

Naquele momento um pensamento tomou posse da mente de Eren: será que Levi tinha um submisso? Será que já havia alguém que pertencesse à ele daquela forma? Parecia algo bom para si e por um momento se imaginou usando uma coleira daquela na cor rosa, no lugar da argola um coração enfeitando e caindo sobre o pescoço. 

Será que Levi gostaria de dar uma coleira daquela para si? Será que Levi tinha alguém ou algum submisso? 

As mãos ficaram inquietas batendo no copo com o líquido vermelho e Armin notou a inquietação do Jaeger, sorrindo e se inclinando para cochichar algo em seu ouvido. 

— Levi não tem nenhum submisso. — Falou, rindo da forma que os músculos tensos de Eren pareceram relaxar com a informação. 

Eren não disse nada, só assentiu minimamente e se sentiu aliviado e leve. Não gostaria de dividir Levi com outra pessoa, ele era seu porto seguro, não gostava da ideia de ter outra pessoa o chamando de seu. 

Seu estômago remexeu levemente só com esse pensamento. 

— Olha, aquele é um casal que tem uma relação dom e sub. — Armin apontou para um casal não tão longe, havia uma coleira no pescoço de um e o outro acariciava com carinho os fios de cabelo. — Agora, olhe o garçom, ele não tem uma coleira e é um submisso. Se ele consentir, poderá ter uma relação com qualquer dominador que ainda não tiver um submisso. Consegue entender?

Eren observou o homem a que Armin se referia. Seu uniforme estava sujo – provavelmente alguém havia derrubado algo ali – e levava uma bandeja com duas bebidas para o casal que o Arlert havia usado de exemplo antes; no entanto, o garçom acabou por esbarrar em alguém que Eren reconheceu no mesmo momento ser Levi. 

Levi, Hanji, Erwin, Gunther e Mikasa estavam voltando de uma reunião com um fornecedor e no momento em que o garçom esbarrou sem querer no Ackerman, seu rosto se contorceu em puro nojo e repreensão ao ver seu terno caro ser manchado com uma bebida. 

Ele se afastou do submisso sem delicadeza alguma, claramente irritado com o pequeno acidente e ao ver em quem esbarrou, o homem se ajoelhou instantaneamente com a cabeça baixa e mãos nas coxas. 

— Mestre, me perdoe. Foi sem querer, eu não o vi… — O homem repetia diversas vezes o pedido de desculpas e Eren observou a cena intrigado, sentindo uma pontada estranha no peito e viu Levi dispensar o submisso sem enrolar, olhando em volta e então os olhos dele se encontraram com os seus e viu as orbes cinzentas se abrirem em um susto. 

Eren virou o rosto, prestando atenção na conversa engraçada de Connie e Sasha, vendo que eles eram realmente amigos e sentiu uma pontinha de inveja e tristeza; nunca havia tido um amigo para chamar de seu e naquele momento desejou ter algo do tipo com Armin. 

O grupo de doms se aproximou, Levi notou que Eren não o olhava diretamente e estava com um beicinho fofo e adorável em uma feição levemente fechada e arqueou as sobrancelhas em confusão. O que estava acontecendo? Nem mesmo pular em cima de si o Jaeger havia pulado, como era de costume. 

Levi sentou-se ao lado de Eren, Hanji ao seu lado, enquanto Erwin foi para o lado de Armin, Mikasa ao lado de Sasha e Gunther ao lado de Connie. 

— O que aconteceu? — A pergunta repentina e em tom preocupado vinda de Levi foi música para os ouvidos de seus amigos, que sorriram malignamente em sua direção. 

— O que será que aconteceu, Erwin? — Hanji perguntou debochando da situação enquanto sinalizava com a cabeça. 

— Acho que tem alguém levemente preocupado, sinto o cheiro azedo de longe. — Erwin falou, mas logo sua atenção foi para Armin. 

Levi lançou um olhar mortal para os dois e antes de se virar para Eren, Hanji se aproximou mais, colando a boca em seu ouvido. 

— Ele está com ciúmes da cena que viu agora pouco, bobão. 

Levi arqueou as sobrancelhas e negou a cabeça em seguida, sussurrando de volta. 

— Tch. Como se eu quisesse ter outro submisso. — Ele deu de ombros e Hanji lhe lançou um olhar maligno. 

— Oh, outro? Então você já tem um? — Ela olhou sugestivamente para Eren e depois para Levi, que revirou os olhos, ignorando completamente os comentários da mulher louca. 

Com cuidado, puxou Eren para seu colo, sentindo-o relaxar em seus braços e o aninhou ali, fazendo um carinho sutil na cintura. 

Mikasa observou a interação do irmão com curiosidade e virou-se para Sasha que gargalhava com Connie ainda. 

— Esse aí é…

— É o Eren. — Os dois disseram juntos. — Ele é o submisso do senhor Levi. 

Mikasa poderia dizer que seu irmão retrucaria se ouvisse algo do tipo, mas estava tão imerso em uma conversa baixa o suficiente com o Jaeger, inaudível para todos os outros.

— O que está fazendo aqui, Eren? — Levi questionou enquanto encarava os dois olhos coloridos. 

— Só estava curioso para saber como era aqui embaixo, Armin disse que me mostraria. Então eu vim. — Ele se explicou de forma fofa enquanto dedilhava o terno de Levi. 

— Tudo bem, só tome cuidado. Você não tem coleira e alguém poderia fazer algo com você. 

Eren inclinou a cabeça, ficando pensativo sobre aquele assunto mais uma vez. Se Levi se importasse, ele poderia dar uma coleira para si, certo? Assim ninguém mexeria consigo. 

— Desculpe, eu não farei de novo. — Eren murmurou, visivelmente preocupado, enquanto se encolhia nos braços de Levi. 

— Não precisa se desculpar, você estava com Armin, sei que ele não deixaria que fizessem nada com você. — Levi sussurrou, mas a feição de Eren ainda era preocupada, mordendo os lábios para descontar sua preocupação. 

— Senhor, preciso ir. Mais tarde passo as informações por escrito. — Gunther falou enquanto se levantava com Connie, ambos se despedindo do pequeno grupo.

Eren notou o homem chamar Levi de senhor e lembrou-se do garçom há minutos atrás o chamando de mestre, sentindo-se confuso sobre como deveria se referir a ele. Não queria que Levi ficasse bravo ou chateado consigo de novo, mas essa era uma questão mais delicada do que parecia, de fato.

— Eren, não é? Me chamo Mikasa, sou a irmã mais nova de Levi. — A morena sorriu e Eren acenou com a cabeça, timidamente. — Como você está? Tem algo que eu possa te ajudar?

Eren deu de ombros, claramente fechado e reservado para aquele assunto, se abraçando levemente nervoso. Ele engoliu seco, pensando em suas palavras antes de dizê-las em voz alta.

— O senhor Levi está me ajudando. — Ele sussurrou, sentindo as bochechas ficarem vermelhas com a atenção que estava recebendo de todos naquele momento. Se encolheu no colo de Levi, que o aninhou novamente, lançando um olhar mortal para todos que estavam sentados ali.

Se surpreendeu com o tratamento formal que Eren lhe direcionou. Bom, não esperava que isso fosse acontecer de fato, uma vez que ele estava sempre grudado consigo e sempre o banhava ou o alimentava; mesmo que estivesse em sua carranca usual e diária, Eren não parecia se intimidar e estranhou o comportamento respeitoso de repente.

— Eren, não precisa me chamar de senhor ou mestre, isso é… — Levi tentou falar, mas foi interrompido ao escutar o seu celular tocar. Ele olhou, vendo uma ligação de Nilo e resolveu atender, colocando Eren sentado na cadeira e se afastando um pouco da mesa.

Eren inclinou a cabeça em dúvida, não sabia como se referir a Levi ou como chamá-lo, isso estava martelando na sua cabeça desde o começo daquele dia. Não queria ser desrespeitoso, não quando Levi estava sendo tão gentil e bom consigo. Observou Erwin conversar com Armin baixinho, Mikasa e Sasha faziam o mesmo e suspirou, um muxoxo adorável e fofo se fazendo presente. Hanji observou a expressão confusa na face do pequeno Jaeger e sorriu diabólica, se esgueirando para o lado do pequeno sem dificuldade.

— Eren, se te ajuda, sei de um nome que Levi iria adorar que você o chamasse. — Ela praticamente cochichou no ouvido de Eren, que a encarou no mesmo momento.

Os olhos bicolores brilharam em expectativa e atenção.

— Mesmo? Qual?

A morena sussurrou malignamente o apelido que faria o famoso dom Levi Ackerman ficar com as pernas bambas ao ouvir aquilo sendo dito pelo fofo e adorável Eren. Não demorou muito e Armin puxou Eren para que subissem novamente para o apartamento, Erwin disse que eles teriam um assunto pendente para resolverem aquele dia ainda e ciente que deveria cuidar de Eren, achou melhor levá-lo antes que as masmorras começassem a lotar com o cair da noite.

Armin fez pipoca na máquina que tinha na cozinha e pegou refrigerante, pedindo para Eren escolher algo para assistir na televisão. Eles assistiram a alguns episódios de uma série de comédia que Eren escolheu, com direito a comentários por parte de ambos e risadas gostosas que ecoavam no apartamento silencioso a cada piada feita.

O tempo passou rápido, tão rápido que Eren notou que era tarde quando a porta da sala se abriu, Isabel, Mikasa, Erwin, Hanji e Levi adentraram o apartamento e Eren sorriu grande, se levantando do sofá e indo receber Levi.

— Papai! — Ele estendeu os braços para que fosse pego no colo em um costume já dos dois, só que Levi não reagiu.

Levi travou no mesmo instante ao ouvir o sonoro “papai” sair da boca de Eren, tentando assimilar aquela informação nova que chegou aos seus ouvidos como a mais bela das melodias, a voz doce de Eren o chamando de algo tão íntimo fez sua imaginação ir longe e foi inevitável ficar sem reação.

Voltou à realidade ao ouvir as risadas escandalosas e diabólicas de Hanji ao seu lado e relaxou um pouco, pegando Eren no colo.

— Alguém aqui está ficando mimado. — Levi brinca e Eren infla as bochechas enquanto passa os braços ao redor do pescoço do Ackerman. — O que eu faço com você, hum?

— Eu me sinto seguro nos seus braços, papai. — Eren murmurou, rindo doce em seguida, derretendo totalmente o coração de Levi que não soube o que falar; sabia que jamais conseguiria negar algo para Eren, a necessidade de protegê-lo e vê-lo sorrir gritando dentro de si a cada segundo que passava ao lado dele.

— Não precisa me chamar de “papai”, Eren. — Levi murmurou e Eren piscou os olhos, confuso.

— Desculpa, pensei que o senhor fosse gostar. — Ele sussurrou envergonhado e Levi se amaldiçoou por vê-lo daquela forma. A quem estava querendo enganar?

— Mas se quiser, pode me chamar assim, desde que seja uma escolha sua, está bem? — Levi sorriu minimamente, fazendo um sorriso adornar o rosto do pequeno Jaeger e logo a cabecinha se moveu para cima e para baixo.

— Tudo bem, papai. — Eren sorriu, se aconchegando no peito de Levi.

Somente naquele momento o Ackerman notou que estavam sendo observados com olhares de curiosidade e diversão, escondeu Eren em seus braços e fez sua carranca usual, raspando a garganta.

— Vocês não tem a porra de uma casa não? Olha a hora, vazem daqui antes que eu chute cada bunda magra e seca que está aqui. — Ele praticamente rosnou, ouvindo risadinhas e vendo alguns levantarem os braços em rendição. 

Um por um saiu, deixando-os a sós no apartamento. Levi sentou-se no sofá com Eren, vendo uma vasilha cheia de pipoca ali e algo pausado na televisão.

— O que estava assistindo? — Levi perguntou.

— Hum? Uma série bem divertida com Armin e eu que escolhi. — Eren falou orgulhoso, olhinhos brilhando e aquela fala quebrou Levi. Ele era restringido até mesmo disso em sua casa.

Levi observou os olhinhos brilharem e logo Eren estava apertando suas mãos nas coxas, inquieto. Sabia lê-lo bem depois desse tempo junto com o garoto, sabia que ele queria pedir algo e só acariciou os fios castanhos longos em carinho.

— O que foi? — Levi perguntou, vendo as bochechas ficarem vermelhinhas em seguida.

— Eu queria que você assistisse um filme comigo. Nunca fizemos isso. — Eren pediu, dedos se movendo de forma inquieta e olhar fixo em um ponto que não fosse o rosto do Ackerman.

“Adorável”, Levi pensou, sentindo um desejo terrível de beijar aquelas bochechas coradas. Piscou algumas vezes, espantando aqueles pensamentos e pegou a maçã rosada com o polegar e indicador, ouvindo uma risadinha em seguida.

Como poderia negar algo quando Eren tinha olhos pedintes tão lindos?

— Só se tiver pipoca e você escolher o filme. — Levi falou e viu com louvor e satisfação os olhos coloridos brilharem e um sorriso grande adornou o rosto de Eren.

Fizeram mais um pouco de pipoca e sentaram no sofá grande da sala, Eren sentou-se entre as pernas de Levi com o balde de pipoca e demorou um pouco para escolher o filme, mas o Ackerman o esperou com uma paciência nova até mesmo para ele.

Assistiram o filme juntinhos, Eren fazia um carinho na coxa de Levi involuntário sempre que sentia seus fios castanhos serem acariciados com zelo. Era bom, gostava daquilo. Sentia-se seguro com Levi, gostava daquelas mãos o tocando ou da respiração em sua nuca. Sentia algo diferente quanto aquilo, não sabia ao certo o que era, mas era uma coisa gostosa, totalmente nova.

Quando o filme acabou, ambos se encararam e Eren se assustou quando ouviu um trovão romper o céu, se encolhendo e abraçando Levi em um ato involuntário. 

— Eu não gosto de chuvas… — Eren confessou baixinho.

— Por quê? — Levi perguntou calmo, acariciando a lateral do corpo pequeno enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha do Jaeger. Era incrível como conseguia ser paciente e complacente com Eren e somente com ele.

— Foi em um dia chuvoso que eu encontrei os meus pais… — Eren tentou falar, mas sentiu um nó na garganta e as lágrimas vieram automaticamente sobre seus olhos. — Papai, eu tento superar, mas eu sinto muita falta deles… — Eren desabafou e Levi não soube o que dizer, somente o abraçou com força, sentindo as lágrimas molharem sua camisa, mas não ligou para aquilo no momento.

Levi sabia que aquele era um momento importante para Eren. Se ele estava se abrindo quanto a uma questão delicada como a morte dos pais, sabia que o Jaeger estava confiando em si de uma forma que se sentiu confortável para compartilhar suas dores e medos.

— Eu os vejo sempre nos meus sonhos, as gargantas, as orelhas… Tem tanto sangue… — Eren murmurava sôfrego. — Eu sinto falta de tudo! Dos abraços que a mamãe me dava ou as piadas que meu pai contava… Sinto falta dos nossos almoços e dos nossos jantares… Eu não consigo lidar com essa dor avassaladora bem aqui… — Ele colocou a mão no próprio peito, mordendo o lábio inferior. — Parece que vou morrer sufocado! Sempre cresci com mamãe e meu pai, isso tudo está acontecendo rápido demais, eu não consigo absorver nada direito… Eles simplesmente partiram da minha vida… Eles eram as coisas mais preciosas que eu tinha, hoje eu não tenho nada… — Eren chorava, passando as mãos pequenas nos olhos, tentando, em vão, conter as lágrimas que saíam incessantemente. — Eu estou sozinho, não consigo lidar com isso… Dói muito.

Levi acariciava o rosto, agora vermelho, de Eren com cuidado e carinho, limpando as lágrimas que escorriam nas bochechas, olhando e ouvindo tudo com atenção, tentando compreender toda a dor que o pequeno estava enfrentando. Com certeza deveria ser dolorido e mesmo que tivesse raiva de Grisha e Carla por negligenciarem a criação de Eren, viu o quão importante eles eram na visão do filho que, por incrível que pareça, não parecia sentir raiva ou rancor; pelo contrário, nutria um amor e admiração grandes pelos dois e isso ficou explícito no desabafo que estava acontecendo ali naquele momento.

— Você não está sozinho, Eren. Eu estou aqui com você agora, prometo que tudo vai ficar bem… — Levi murmurou, sentindo o pequeno abraçá-lo e as mãos pequenas rodearam seu pescoço. — Shh, eu estarei sempre do seu lado.

Eren tremeu um pouco e assentiu com a cabeça, piscando os olhos, sentindo as lágrimas escorrerem mais uma vez pelo seu rosto e as mãos grandes de Levi foram cuidadosas em limpá-las com ternura. 

— Conte comigo para tudo. — Levi sussurrou, vendo Eren assentir novamente, levemente envergonhado.

— Obrigado, papai. Você me passou confiança desde o começo, algo me dizia que podia confiar em você… Que bom que não me enganei, você é muito bom comigo. — Eren confessou, sentindo as bochechas queimarem com as palavras.

Ficaram naquela posição por mais alguns minutos com Levi sussurrando palavras doces para acalmar o pequeno Eren, que parecia ficar mais calmo aos poucos, relaxando em seus braços de uma forma nova.

— Eu… Podemos dormir juntos? — Eren murmurou, se encolhendo logo após o pedido e Levi não disse nada, somente o pegou no colo, levando-o até o próprio quarto após pegar e vestir Eren com o seu pijama rosa bebê de corações vermelhos. 

Depois de trocar-se no banheiro que havia no seu quarto, Levi foi em direção a cama, onde Eren o esperava pacientemente, segurando os lençóis entre os dedos enquanto o esperava deitar.

Observou a cena, pensando que poderia se acostumar com aquela visão diariamente. Deitou-se no meio da cama e deu duas batidas em seu peito, indicando que Eren poderia se deitar ali caso desejasse e não demorou muito para sentir os braços curtos circularem seu abdômen e logo o cheiro de morangos invadiu suas narinas quando os fios chocolates de Eren ficaram próximos ao seu rosto. O abraçou, trazendo o corpo pequeno para mais perto, sentindo o cansaço o atingir.

— Boa noite, Eren.

— Boa noite, papai.

Não foi preciso mais que cinco minutos para que ambos pegassem no sono e, coincidência ou não, naquela noite Eren não teve pesadelos e Levi não teve insônia.

















 


Notas Finais


Gabi: O LEVI TENDO O VERDADEIRO EREN PANIC AKKFKSNDKEKEJD O VELHO VAI INFARTAR NAO VAI DEMORAR! o eren nao é agradável?? vou morrer de amor! 😩🥰 tem tanta coisa pra surtar que olha, EU MORRO ESCREVENDO ALDKSKSKDN SOCORRO


Liza: Gente, kkkkk o Eren vai matar o velho do coração kkkkkkkkk enfim, eu traduzi as falas em francês no Google, então se alguém aqui sabe francês pode corrigir que eu conserto, ok? Até o próximo ❤️


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