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História Lorde Sasuke - A festa acabou


Escrita por: Pequena-Uchiha

Capítulo 23 - A festa acabou


 

— Esse? Tem certeza? — Sasori estava de saco cheio de me ver perguntar sobre qual dos dois biquínis que eu havia comprado na minha última ida ao shopping. 

— Uhum. Seu namorado vai te achar linda, mesmo eu não entendendo como você ainda pode cogitar ir nessa festa. — seu desânimo era palpável. Assim que ele me respondeu pela quinta vez, deixou sua cabeça cair para trás na poltrona para fitar o teto. — Agora, por favor, vamos pedir uma pizza, estou morrendo de fome.

— Eu ainda prefiro o verde...

— “Porque combina com meus olhos” — Sasori faz uma imitação fajuta da minha voz enquanto seu nível de desalento só aumentava. — Por favor, Sakura, vamos pedir uma pizza.

— Da última vez você disse que era a pessoa mais paciente do mundo. — cantarolo cedendo ao seu pedido de ligar para a pizzaria.

— Claro. Eu consigo ser paciente, quando não estou sendo torturado com falta de comida e sendo intimado a escolher biquíni para minha ex namorada ficar bonita para seu atual.

— Boa noite, queria pedir uma pizza média. Isso. Não, de dois sabores. Metade calabresa e a outra metade de brócolis com bacon. Isso. Troco pra cinquenta.

— Brócolis com bacon? — a careta que Sasori faz é impagável. 

Achei engraçado.

— Vai demorar uma meia hora. — começo a me vestir colocando um short e uma blusa por cima do biquíni. 

— Sério? Brócolis com bacon? — Sasori ainda me olhava incrédulo.

— Cala a boca. — pego o controle remoto de sua mão e começo a brincar de mudar de canal, mas nada me interessa. — Sasori?

— Fala. 

— Algum dos meninos te mandaram mensagem?

— Sobre?

— A minha saída do apartamento. 

Meus dedos não apertam mais o botão de trocar os canais. Estou olhando fixamente para o ruivo que pensa bastante antes de continuar o assunto.

— O que quer saber?

— Não sei. — sou de ombros tentando reorganizar meus pensamentos. — Qualquer comentário.

— Você quer saber como seu namorado está? Por que não liga pra ele? Sabe, da mesma maneira que você ligou para a pizzaria, é fácil. 

— Você está comparando meu namorado a uma pizza?

— Uma pizza bem sem graça e sem gosto. 

— Isso está me cheirando a ciúmes. 

— Não tenho ciúmes, Sakura

— Aham. — ignoro seu último comentário. — Mas então, você sabe de alguma coisa? Não só com Sasuke, mas com todos…

— Você quer mesmo saber? — Sasori me olha pela primeira vez sério, e eu sinto um arrepio cortar minha coluna. 

— Aham. — posso sentir meus olhos vidrados em cada palavra que Sasori fala. Talvez eu estivesse mais ansiosa para aquele relato do que poderia imaginar. 

— Ino brigou com Karin, tipo, feio mesmo, sabe? Gaara e Neji tiveram que intervir, o que foi triste porque elas brigavam por um cara que não tem um relacionamento com nenhuma das duas. Os dois foram atingidos por chutes e unhadas. — Sasori ri dessa parte e eu dou um soquinho em seu ombro. —  Gaara disse que sua saída de lá foi a gota d’água. Parece que todas as máscaras caíram, como se ninguém mais suportasse todo o teatrinho que Ino ou toda a manipulação que há naquelas relações. Hinata não fala mais com a loira, Neji e Gaara não conseguem nem mais ser vizinhos de Ino e Gaara até me pediu uma vaga aqui, nesse apartamento. 

— E os outros meninos? Sasuke e Naruto?

— Pelo que eu fiquei sabendo, estão procurando uma casa nova para morar. Eles estão procurando desde que Sasuke cogitava terminar com Ino, mas isso era meio que segredo, agora Gaara não vê porque não contar… Sasuke conversou com Karin e Ino, separadamente… Ino está fingindo que tudo está bem, mas Naruto deu um ultimato para Karin. Diz que a levará para sua cidade natal, parece que ela vai começar um tratamento adequado, vai trancar a faculdade por enquanto. Ela não devia ter ficado longe dos remédios e perto de Sasuke. Ino só serviu como dinamizador, para acelerar todo o processo de inimizade entre a ruiva e você.  

— Você acha que o cabelo…?

— Foi a Ino. Em algum momento ela jogou isso na cara da Karin. Pelo menos foi isso que Gaara me disse na mensagem que me mandou.

Fico boquiaberta. Ele tinha resumido a vida de todos naquela casa nas últimas horas.

— Não sabia que Gaara era fofoqueiro. — tento prestar atenção na televisão, mas aquilo estava cada vez mais difícil.

— Ele disse que se você for à festa, é para tomar cuidado. É provável que Ino te afogue.

— Como assim?

Sasori respira fundo antes de continuar a falar, como se pensasse em cada palavra antes de continuar a conversa: — Sakura, você deveria se afastar disso tudo. Sério. Você não deveria estar experimentando biquínis para ir à festa da piscina, mas aproveitando essa festa para pegar o resto das suas coisas de lá e se mudar de vez. 

— Jura? — falo dando uma risada histérica.

— Só… Toma cuidado. — ele desabafa soltando o ar de maneira lenta.

— Aquela casa se tornou um inferno.

— O clima no apartamento ficou insuportável mesmo. Além disso, parece que os meninos gostavam mais de você do que gostam de Ino.

— Sou irresistível. — tento fazer piada daquele momento tão delicado, mas minha boca de repente fica amarga.

— Enfim, o que você vai fazer?

— Eu não sei. Eu acho que eu estou usando essa festa como uma desculpa para ver todo mundo e tirar algumas coisas a limpo.  

— E você quer ver Sasuke na festa, quer mesmo desfilar com ele por aí? Enquanto a poeira ainda não baixou e Ino ainda tem mágoas de você?

— Não, não é isso.

— Então por que se importar tanto com um biquíni?

— Pelo amor, esquece o biquíni! Eu só achei ele no meio das minhas coisas quando eu fui arrumar minha mochila. Eu só quero estar bonita. Eu quero, de alguma forma, parecer não estar tão atingida por essa situação de merda.

— Sakura? Não, não chora, se esse é seu jeito de encarar toda essa situação, que seja. — sinto os braços de Sasori me rodearem e me puxarem para mais perto dele. — Agora a gente vai comer pizza, e eu tenho sorvete também. Se você quiser a gente faz brigadeiro e amanhã você vai vestir aquele biquíni e vai se exibir na frente do Lorde Sasuke, de Ino e de todas os convidados daquela festa idiota.

— “Lorde Sasuke”?

— Todos já sabem desse apelido. — sinto o peito de Sasori subir e descer por causa das suas risadas abafadas. — Mas você ouviu só essa parte ou tudo que eu falei? 

— Ouvi tudo. Obrigada Sasori.

— De nada. 

#

Quando chegamos ainda havia resquícios da briga. O clima desconfortável pairava no ar. Como se todo mundo ali não fosse bem-vindo, e talvez não fosse mesmo. 

Aquela lá não era mais minha casa. 

— Sasuke! Você voltou! 

Sinto os braços finos de Karin em volta de mim. Ela me abraça com força e eu me sinto completamente sem lugar, como se estivesse preso numa armadilha ou algo do tipo. Sei que ela não vai fazer nenhum mal para mim, mas não quero continuar ali. 

Posso ver Naruto por cima do ombro de Karin. Ele estala a língua desgostoso, vindo em nossa direção, pronto para fazer mais um discurso de: pára com isso, Karin, Sasuke não gosta desse tipo de contato. Mas eu resolvo fazer o contrário, e quando retribuo o abraço, todos que estão no cômodo se calam. 

Ino, inclusive, nem pisca, como se o simples ato de piscar fosse fazer aquela miragem "Sasuke abraçando Karin" desaparecer.

— Precisamos conversar, Karin. — sei que minha voz tem um tom grave, mas tento ser o mais amável com ela. 

Assim que ela ouve minha voz, estica o pescoço a fim de encarar meus olhos. Estou levemente bêbado, mas são o suficiente para dar continuidade ao fim. Precisávamos de um desfecho… A única coisa que eu tinha aprendido nas últimas semanas era que correr de Karin e mentir estava se tornando insustentável. Por mais que Sakura fosse uma consequência boa, o resto, não era. 

— Precisamos?

— Sasuke… — Naruto tenta me advertir de alguma coisa, mas desiste no meio da frase. 

— Sim, precisamos. 

Com calma, a conduzo até meu quarto, precisávamos de privacidade. Quando fecho a porta e encaro seu rosto, vejo um grande sorriso desenhar seu rosto e, ironicamente, isso me parte o coração. 

Eu nunca pensei que fosse ter pena de Karin, mas lá estava eu, com pena dela, pena das coisas que eu teria que dizer naquele momento. 

— O que aconteceu, Sasukezinho? 

Molho os lábios. Não sei por onde começar ou o que falar. Sei que qualquer coisa que eu disser vai magoá-la, mas mesmo assim, então tento fazer uma prévia seleção de palavras dentro da minha cabeça antes de realmente dizê-las.

— Eu não gosto quando você me chama assim…

— Não gosta? Mesmo quando sou eu, sua amiga de infância falando assim?

— Naruto não me chama assim, e ele é meu melhor amigo. Nem minha mãe nunca me chamou assim, Karin. Me incomoda que você insista nisso. 

— Tá bom, e como você quer que eu te chame? 

— Sasuke. — falo da maneira mais clara e calma que consigo, e ela repete meu nome como um aluno dedicado que estava aprendendo uma palavra nova. 

— Sasuke. 

Aceno positivamente esperando uma reação negativa, mas ela parece finalmente entender o teor da conversa e se senta na beirada da minha cama, atenta a qualquer fala ou ato meu. 

— A Sakura… Ela já te chamou assim algumas vezes. 

— Se ela o fez foi para me tirar do sério, e te atingir também. 

— Isso seria infantil…

— Sim, bastante. — não posso evitar de sorrir. Karin tinha razão, porém mal sabia ela que tudo tinha sido infantil: as brincadeiras, o namoro, as provocações… No fim ela tinha sido a parte mais madura de toda a história. — Mas eu gosto dela, Karin. Você entende, eu gosto dela.

— Então você não gosta de mim? — seus olhos marejam, as mãos começam a fazer movimentos repetitivos bruscos, como se ela tivesse tocando um piano invisível em suas coxas e, pela primeira vez reparo que estou realmente vendo seu semblante. Vejo sua tristeza e sua confusão e presto atenção nela. Quando era mais novo não tinha cabeça para isso e agora, mais velho, nunca me importei com seus sentimentos. Mas agora eu o estava vendo, e prestando atenção neles. 

— Não desse jeito.

— Você gosta mesmo de Ino?

— Não!

— Então por que não me dá uma chance?

— Eu gosto da Sakura. — reafirmo. 

— Você… Você continuou recebendo minhas cartas? Por que nunca me respondeu? Sasuke, eu sempre te amei. 

Lembro vagamente das cartas que ela me escrevia quando éramos mais novos. Todas elas em Paris ornamentado, com sua assinatura padrão, mas há muito tempo eu não lia alguma coisa escrita por Karin. Eu pensava, inclusive, que com ela tomando os remédios, ela não voltaria a fazer coisas assim. 

— Karin, eu não sei quanto tempo tem que eu não recebo uma carta sua… Mas tem anos que nada seu chega até mim.

Seus olhos parecem maiores por detrás das lentes dos óculos. 

Como se estivesse fazendo a conta mais difícil de todas, Karin começa a pensar, os gestos em suas pernas se tornando mais repetitivos, rápidos e fortes. 

Não sei como intervir, e quando tento falar alguma coisa, Karin é mais rápida, então permaneço calado esperando que ela termine sua linha de raciocínio.

— Naruto foi para a casa dos meus tios num final de semana, numa das conversas, contou que estava morando com você. Eu… Eu fiquei super empolgada, pensei que ele podia ser nosso cupido! Os pais deles pediram o endereço para saber onde o filho estava morando e eu anotei num bloco de notas no celular e passei a mandar cartas regularmente para você… De novo. E não obtive nenhuma resposta.

— Karin, seus remédios… 

Sei que ela vai chorar. Na verdade, ela faz uma força tremenda para não desabar bem ali na minha frente. Mas seu tom de voz deixa claro que se ela não estivesse conversando comigo, ela já estaria aos prantos. 

— Você é um dos meus gatilhos, Sasuke. Quando a possibilidade de estar com você passa pela minha cabeça eu me sinto… Inebriada, viva, como se estivesse drogada, e então eu para com os remédios pois eu quero sentir cada ínfima sensação que te amar pode me proporcionar. 

— Então eu faço mais mal para você do que pensava. Você não pode parar o tratamento por mim, Karin. 

— Se… Se você nem recebeu as cartas, quem as guardava? 

— Karin, isso não importa. 

— Importa sim. Importa porque isso não está certo, Sasuke! Do mesmo jeito que cortarem o meu cabelo também não foi certo. 

Os movimentos de suas mãos ficam mais elétricos e eu me pergunto se ela sempre fez isso quando ficava nervosa e eu nunca percebi. 

— Karin…

— Eu gostaria de ser a vilã da história, mas parece que eu sou, assim como Sakura, um efeito colateral. 

Perco a paciência com sua linha de raciocínio. Não sei exatamente do que ela está falando e ela não parece com muita vontade de me explicar. 

— Karin, eu acho que estamos perdendo o foco aqui. 

Minha fala parece incomodá-la profundamente, como se eu não estivesse entendendo o que se passa pela sua cabeça, e na verdade, eu não entendia mesmo. 

— Eu tenho a porra dos meus problemas, Sasuke, mas eu não sou burra. Dramática, exagerada, doente eu sei que sou, mas uma imbecil, não! 

— Karin. 

— Eu já entendi que você não me quer, eu entendi que você está apaixonado pela duende de cabelos cor de rosa, mas eu não entendi onde enfiaram as minhas cartas e é ISSO que me incomoda. 

Sem me dar tempo para responder, Karin sai pisando duro do meu quarto. 

De todas as maneiras que eu tinha imaginado que essa situação acabasse, ela entendendo o que eu queria dizer e preocupada com outras coisas foi uma das possibilidades que eu julgava impossível.

Pisco algumas vezes tentando entender até onde seus pensamentos poderiam a ter levado, e penso que talvez ela tenha ido ao quarto de Sakura para procurar tais cartas. 

Saio correndo indo até o quarto vizinho, mas não encontro ninguém ali, apenas as coisas de Sakura remexidas como ela havia deixado.

— O que você pensa que está fazendo? 

A voz de Ino funciona como a última peça do quebra cabeça que construo mentalmente. 

Karin não achava que Sakura havia roubado as cartas, mas Ino.

Não preciso ir até o local para saber que Karin está revisando as coisas da minha "ex" procurando tais documentos, posso ouvir o som das gavetas sendo brutalmente abertas e perguntas de "onde elas estão" sendo repetidas diversas vezes.

Não demora muito também para Karin voltar até a sala com um bolo de papel nas mãos. Todos os envelopes parecem abertos e guardados de maneira meticulosa.

A ruiva praticamente me empurra aquilo tudo e olha dentro dos meus olhos, como se implorasse para que eu aceitasse as cartas. Como se fosse uma espécie de último pedido. 

Aceno positivamente segurando os papéis em mãos. 

— Você não vai entender, ninguém entende, mas às vezes eu me sinto perdida dentro de mim mesma. — ela soltou um longo suspiro. — Sabe, eu gosto mesmo de você.

— Eu acredito que sim.

— Sempre gostei na verdade. — ela balança os ombros. — Você vai à festa da Ino?

— Por que iria? — estava ficando sem paciência. Não por causa da ruiva, ela até que tinha reagido bem a conversa toda, mas por causa de tudo que aconteceu nas últimas 24 horas.

— Porque eu acho que Sakura vai.

— E o que tem isso?

— Não sei, só acho que aquele “eu gosto de você” foi mais um ultimato. Em vez de você ter ido beber com meu primo você deveria ter ido atrás dela. É como se tivesse um cronômetro em cima da sua relação com ela. Se você chegar tarde demais... — ela deixou a frase morrer no ar.

— Desde quando você ficou assim?

— Desde cinco minutos atrás. Daqui a pouco eu mudo novamente. É o inferno. — ela ri sem graça. Os olhos marejados deixam claro que em algum momento, provavelmente enquanto estava procurando pelas cartas, ela deixou uma ou duas lágrimas escaparem. 

— Karin, eu posso te perguntar uma coisa?

— Claro. 

Olho por cima de sua silhueta e posso ver Ino na porta do seu quarto, como se estivesse esperando alguma reação minha sobre toda aquela história. 

Por causa da plateia, diminuo o tom de voz e espero que nem Naruto possa ouvir o que estou falando com sua prima, mesmo ele estando mais ptoximo a mim.

— Quem cortou seu cabelo aquele dia? Foi você mesma?

— Não.

— Sakura?

— Por favor, Sasuke. Você não sabe mesmo quem foi? — Karin sorri amargamente. — Mas só para constar, a ideia de tentar aproximar Sakura do ex foi minha… 

Não sei o que falar. Quero repreendê-la como se ela fosse uma criança mal criada, mas sei que não posso fazê-lo e sei que se eu fizer, de nada vai adiantar.

Então respiro fundo. Não consigo não fuzilar Ino de longe. Eu precisava acabar com aquela novela o quanto antes! Já tinha fechado um capítulo, mas outros precisavam ser finalizados.

— Até a festa, Sasuke. 

A voz de Karin me traz de volta a realidade. Sua silhueta se despede de Naruto antes de sair do apartamento. 

Fico lendo as cartas apaixonadas pelo resto da tarde. 

Não sei o que fazer com elas. 

Jogo fora da maneira mais respeitosa que consigo fazer. Queimo todas de maneira dramática. 

Karin ia gostar disso, eu acho.

#

— Ai. — reclamo pelo que deve ser a milésima vez enquanto Sasori tenta fazer uma trança espinha de peixe no meu cabelo.

— Cara, esse tutorial é muito difícil. — ele e eu já estávamos devidamente vestidos para a festa, mas ainda faltava o cabelo.

Eu tinha até passado uma maquiagem leve convencida de que não ia entrar na piscina. Até aquele momento eu tentei ser totalmente positiva, mas Sasori estava levando tanto tempo no meu cabelo, que eu tive tempo para pensar e querer desistir de tudo. 

— E se isso for algum tipo de sinal?

— Um sinal?

— De que eu não devo ir à festa. — explico. 

— Eu, uma pessoa completamente leiga não conseguindo fazer seu cabelo do jeito que você quer é um sinal? Mas eu falando literalmente para você não ir não significa nada? 

Respiro fundo com sua acusação, me limitando a ficar quieta durante o resto da tortura. 

— Preciso de um cigarro. 

Levo um puxão proposital no cabelo por esse comentário.

— Você ainda não parou com essa mania nojenta?

— Stress só faz piorar, você sabe disso.

— Ei, não precisa ficar chateada. — ele me responde concentradíssimo no tutorial que havíamos encontrado no YouTube. — Eu vou estar lá, Hinata também… Seus outros amigos do apartamento. Vai dar tudo certo, eu acho. — a última parte é dita no meio de um sorriso nervoso, posso ver seu reflexo no espelho. 

— Acabou?

— Acho que sim. 

Depois de 15 minutos tentando, ele havia pegado o jeito da coisa.

— Obrigada. — analiso o resultado. — Fico bom, muito bom na verdade.

— E então, qual é o plano? Quer que eu faça ciúmes?

— NÃO! Chega desses planos de "namorados falsos”. 

Um segundo depois de ter falado o que eu falei é que eu percebo que eu havia entregado mais do que eu deveria. 

— Não me diga que seu namoro com Sasuke era de mentirinha.

— Talvez.

— Cara, eu não acredito nisso, Sakura! E aí vocês acabaram se apaixonando? Você sabe que se eu ligar agora na sessão da tarde deve tá passando alguma coisa parecida. — teatralmente ele liga a televisão procurando um filme meloso só para enfatizar seu argumento.

— Para!

— Sério. —  falou largando o controle remoto em cima do sofá. — Todos vão morar numa mesma casa e você acaba se apaixonando pelo cara mau? 

— Sasori… Chega. 

— Clichê, Sakura. Clichê. 

— Alguém me explica porque eu aceitei esse plano de me candidatar a ajudante de mudança enquanto os dois brincam de salão de beleza? — Neji reclama pela centésima vez enquanto coloca, junto com Gaara, meu colchão em um canto da sala de Saori.

A gente realmente tinha aproveitado que todos estariam na festa para fazer minha mudança provisória.

Gaara e Neji desmontaram meus móveis e trouxeram todas as minhas coisas num utilitário de um amigo deles da faculdade que havia cobrado baratinho pelo serviço. 

— Os seus colegas de casa não vão achar ruim esse tanto de coisa espalhada por aí?

— Acho que não. 

— Você já tem lugar pra ir, Sakura? — Neji pergunta

— Não faço ideia. 

— Você sabe que essa foi a melhor solução. — Gaara fala já arrumado com uns óculos escuros no rosto enquanto passava o que deveria ser a terceira camada de protetor solar nos braços e rosto. — Ino e Hinata já foram pra festa na casa do Lee. Não tinha oportunidade melhor para sair sem deixar pistas.

— Acho que você tem razão. — Neji concorda com um sorriso no rosto. — Parece que até Naruto e Sasuke tiveram a mesma ideia.

— Como assim? —  minha curiosidade faz minha língua coçar e perguntar. 

— Neji. Qual a dificuldade de não sair por aí espalhando essas coisas?

— Pelo amor de Deus né, Gaara. Como se desse para esconder isso da Sakura por muito tempo. Eu só fui prático e acelerei as coisas. — o moreno de longos cabelos tinha conseguido ter completamente minha atenção. — Naruto e Sasuke se mudaram hoje. Não sabemos para onde eles foram, me parece que foram morar juntos numa casa mais antiga com um aluguel barato.

— Como assim? — ainda bem que eu já estava sentada, porque senão eu tinha caído. Minhas pernas estavam super bambas.

— Eles pediram para não te avisar… — Gaara fuzila Neji com o olhar, mesmo com os óculos escuros dava pra perceber. — Mas eles não estavam mais conseguindo viver com Ino, Karin e toda aquela confusão.

— Mas...

— “Mas”, nada. Vamos para a festa. Deixe isso para lá, Sakura. A época de reinado da Ino acabou, vamos encarar essa festa como uma festa de ano novo onde fazemos votos e promessas de que “tudo será diferente”.

— Não sei mais nem se eu quero ir à festa. 

— Deixe de drama. É quase um crime ficar bonita desse jeito e desistir de sair. 

— Ele tem razão. — Gaara acaba quebrando o silêncio que havia se formado e dando de ombros e não consigo não ficar encabulada com seu elogio. 

— Além disso, Sakura, você não tem escolha depois que eu passei mais de trinta minutos fazendo essa trança no seu cabelo. 

Sei que Sasori está brincando, que se eu desistisse de ir ele iria me apoiar e provavelmente arrumar qualquer coisa para fazer, mas levo sua ameaça a sério para entrar na brincadeira. 

Como Sasuke e Naruto conseguiram organizar uma mudança do dia pro outro? Onde eu iria morar? O que aconteceria naquela festa?  Minha cabeça vagava por meia dúzia de questionamentos até que eu senti alguém colocando um capacete na minha cabeça.

— Ei!

— Proteção em primeiro lugar, querida. Espero que nenhum fio dessa trança se desalinhe. Eu fiz uma obra de arte. 

— Eu estou de saia, Sasori! Eu não sou fã de motos e você sempre soube disso. Caramba. E como os meninos vão pra casa do Lee? 

— A pé?

— Nossa, vocês são burros ou o quê?

— E o que você sugere?

— Não sei. Uma vez eu ouvi falar de um aplicativo mágico chamado Uber… Eu não sei se esse ser místico existe, mas tenho um sentimento aqui dentro de mim que diz para eu seguir minha intuição.

— Ok. Vamos de Uber então.

#

Eu já estava torrando no sol

— Vai ficar vermelha igual um camarão. — Sasori aparece na minha frente com uma taça de refrigerante.

— Guaraná? Numa taça de plástico? — analiso o objeto com seu conteúdo intrigante dando um generoso gole. Brinco com o guarda chuva colorido colocado ali, tirando um sorriso de Sasori.

— Coisas de Ino. —  o ruivo se deita na espreguiçadeira do meu lado. — Você deveria ser mais sutil ao ficar procurando Sasuke com os olhos. 

— Eu não estou procurando Sasuke com os olhos. — minto descaradamente, limpado as pequenas gotas de suor que insistem em escorrer pela minha testa.

— Claro que não. — seu tom de voz é de deboche.

— Tiro meus óculos de sol - quase os arranco, na verdade - e dou uma boa olhada nos convidados pouco me importando com a  risada irônica que Sasori dá e seu comentário insistente de que eu estava procurando pelo Lorde, uma vez que eu realmente estava procurando-o.

— Talvez ele esteja ocupado com a mudança. — ele ainda tenta me acalmar, mas sem sucesso. 

— Você acha que ele não vem, então?

— Conhecendo ele o pouco que eu conheço, sim, essa possibilidade é bem válida. 

— Então eu vim à toa. 

— Claro que não! Você também veio para pegar um câncer de pele, já que não passa protetor solar direito e para afrontar sua querida amiga, Ino. 

Quando ouço o nome “Ino”, olho diretamente na direção da loira. Claro, porque eu sabia onde ela estava. Talvez eu tenha passado tempo demais encarando sua carranca brava. Eu precisava daquele confronto, da imaturidade de fingir para ela que eu estava bem e que não tinha medo dela, muito menos de aparecer na sua festa mesmo sabendo que minha presença não era bem-vinda ali. 

— Se seus olhos soltassem raios laser, Ino estaria frita. Literalmente. — Sasori parecia se divertir com a novela mexicana que minha vida havia se tornado nos últimos meses. 

— Ela que não para de encarar.

— Ela deve estar perplexa com sua tamanha ousadia.

— Pensei que você me apoiasse, meu bem. — o “meu bem” sai tão irônico pela minha boca, que Sasori me olha fixamente por cima dos seus óculos de sol. 

— Preciso de uma bebida alcóolica para aguentar o resto do dia. 

— Precisa?

— Sim. Aposto que pelo menos uma pessoa dessa festa será jogada na piscina até o final da festa. 

Não sei como me defender dessa indireta, porque talvez - só talvez - eu realmente tivesse me imaginando jogando Ino na piscina uma dúzia de vezes.

Limpo a garganta com mais refrigerante e quando penso em responder a Sasori, alguém grita “BOMBA” e se joga forte na piscina com intuito de jogar água para fora da piscina. 

Não, não deu tempo de raciocinar que aquela voz era do loiro companheiro de apartamento. Não, também não deu pra raciocinar que eu estava perto demais da piscina. E muito menos que, essa combinação de Naruto mais piscina, não poderia dar uma coisa.

— Parece que a dupla dinâmica chegou: alegria e depressão. — Sasori sorri quando vê Naruto emergir de sua grande entrada. 

— Alegria e depressão?

— Sim. Naruto e Sasuke. 

Naruto faz um sinal com a mão e me chama para mais perto da piscina. Era simplesmente incrível a energia que ele sempre trazia consigo. Não posso deixar de sorrir e me sinto atraída como uma criança é atraída por um palhaço de festa. Como no dia que nós dois fizemos bagunça no supermercado, era como se eu esperasse que ele fizesse algo do mesmo teor e ele não me decepciona quando ri do meu descuido e me puxa para dentro da piscina sem nenhuma piedade.  

Me debato na água tentando sentir o chão e percebendo que não dou pé naquela parte da piscina. 

— Sakura, calma. Para de se debater desse jeito. 

— Eu não dou pé! — respondo engolindo água com cloro. — Você molhou minha roupa e meu cabelo.

— Você não desconfiou que eu faria algo assim, sério? Até parece que não me conhece. — Naruto joga a cabeça para trás rindo, depois de conseguir me ajudar a manter minha cabeça para fora da água. 

— Pelo contrário… — respondo com minha cabeça encostada em seu ombro. Meus pulmões respirando ar novamente. — Eu tinha certeza que você faria algo assim. 

— E mesmo assim se aproximou da piscina?

— Talvez eu quisesse uma desculpa para entrar na água. 

— Hum, igual você queria uma desculpa para namorar Sasuke? Por isso você aceitou o namoro de mentirinha?

— Você sabia?

— Eu sou o melhor amigo dele. 

Não posso deixar de olhá-lo incrédula. Ouvir aquilo sair da sua boca tão facilmente era surreal. 

Não sei como continuar aquela conversa. Naruto também não parece muito à vontade com tudo aquilo, e aproveita meu silêncio para passar a mão pelo meu rosto, provavelmente tirando os borrões da minha maquiagem do rosto.

Volto a procurar a presença do demônio que atendia pelo nome de Sasuke enquanto deixo que Naruto me conduza para a parte mais rasa da piscina. Poucas pessoas nadavam ali. 

— Você não vai achá-lo. — a voz de Naruto corta toda minha concentração. Meus olhos finalmente encaram os azuis bem a minha frente. 

— Por quê?

— Só curte a festa, Sakura. 

— O que vocês estão aprontando, Naruto?

— Nada.

Quero insistir nas perguntas, continuar o assunto, mas sinto algo duro e gelado nas costas e assim eu sei que chegamos à outra extremidade da piscina.

— Ajuda? — olho pra cima vendo Neji me oferecer a mão.

Aceito sem pensar muito sobre e saio da água ainda procurando respostas no olhar de Naruto que não fala mais nada sobre. 

— Eu te odeio, sabia? — praguejo enquanto me sento na borda com meus pés ainda dentro da água.

— Eu sei que não. — Naruto voltara a ser bem humorado. Com as duas mãos, apoia o peso do seu corpo e sobe se sentando ao meu lado.

Meus olhos o filmam enquanto ele bagunça o cabelo para secá-los. Fico com algumas perguntas presas na garganta e Naruto me olha com esperança de que eu não faça mais nenhuma.

E eu não faço. 

Não porque perdi o interesse, mas porque vejo a figura ruiva de sua prima vestida belamente com um biquíni vermelho e um chapéu espalhafatoso. 

Se eu era atrevida por ter ido àquele evento, Karin conseguia ser ainda mais. 

A questão é que, assim que eu olho para ela, ela aponta para um local atrás de mim e, de relance, consigo ver Ino e Sasuke sumirem para dentro da super casa de Lee. 

Meu coração se aperta e não sei o que pensar exatamente. Sei que os dois não estão juntos, mas por que Naruto tinha se esforçado tanto para me distrair e mentir que seu amigo não estava lá?

— Você não vai me falar o que está acontecendo, não é?

— Droga, Karin. — Naruto pragueja ao ver que a prima havia dedurado a localização do melhor amigo. 

— Por que ele está indo com ela lá pra dentro?

— Ele resolveu as coisas com Karin, ele acha justo resolver com Ino também.

Talvez toda aquela loucura que Sasori tinha narrado para mim ontem realmente fizesse sentido. Ino estava por trás de tudo aquilo o tempo todo.

Mas, mesmo assim, mesmo com a explicação sucinta de Naruto, não sei muito bem o que pensar sobre aquele assunto. 

Estou nervosa. Era como se eu estivesse inserida num capítulo final da minha série preferida e não soubesse como tudo ia se desenrolar. 

Começo a  desfazer minha trança que Sasori havia trabalhado com tanto esmero. 

— Sakura… — Naruto tenta procurar por uma justificativa melhor dentro da própria cabeça. Percebo que ele está preocupado com o modo que eu vou reagir àquele evento. Mas ele não parece achar palavras o suficiente para se explicar. — Vai tudo dar certo, confia na gente.

— Eu confio. — sei que o sorriso que brinca em meus lábios é amargo. 

Me levanto como uma lady e caminho como uma felina até a espreguiçadeira que estava a uns minutos atrás. Naruto me segue, cuidadoso. Sei que está atrás de mim e não preciso olhar para ele para saber disso. 

Estendo minha roupa molhada, ouço SAsori reclamar pelo cabelo desfeito e me atento a pergunta de Naruto: — O que você vai fazer? 

— Encher a cara. 

#

— Isso tudo é saudades?

Não posso acreditar no sorriso presunçoso que brinca em seus lábios. Ino parecia estar se deliciando com tudo aquilo.

— Claro que não. — respondo sua pergunta retórica, me sentindo idiota logo em seguida.

Ela ri. Seu sorriso é faceiro e posso notar que ela está flertando comigo. Flertando descaradamente, pois ri da mesma forma que ria no dia em que nos conhecemos.Seus olhos azuis estão calmos e piscam quase que em câmera lenta. Ela era boa naquilo, e eu havia me esquecido disso. 

— Eu só queria conversar com você.

Tento introduzir o assunto. Molho os lábios, e penso em alguns discursos que eu julgava serem bons, mas tudo simplesmente some dentro da minha cabeça. Eu havia julgado mal. Conversar com Ino seria bem mais difícil do que tinha sido conversar com Karin.

— Conversar sobre o quê exatamente, Sasuke? Já sei! Você terminou com a Sakura? Nem precisa falar nada, deu pra perceber o climão do dia que ela saiu do apartamento com o ex. 

A minha inércia deixa espaço o bastante para Ino me atacar verbalmente e minha falta de paciência para seu comportamento infantil quase me faz voltar pela mesma porta que eu entrei e deixar aquela acerto de conta para trás. 

— Eu estou com a Sakura agora.

— Para com isso, Sasuke. Se poupe de tanto drama. Vocês não combinam… Sakura é uma nerd, bonita, mas ela viveu alguns traumas que parecem que a travam até hoje em outros assuntos. É como se ela fosse péssima em lidar com assuntos sociais e viver com alguém assim pode ser insuportável depois de um tempo.

— É desleal você usar os traumas dela como justificativa, Ino. Isso é sujo até para você.

Minhas palavras a atingem de alguma forma. Sei disso porque seu sorriso muda, sei que ela está nervosa, como se tivesse perdido a linha de raciocínio. 

— Pode ser sujo, mas é a verdade. — ela dá de ombros, tentando recuperar a liderança na conversa. Ela era assim, ela sempre foi assim, ela tinha que ser a melhor, a líder, ela não podia ser a segunda em nada. Ino se cobrava demais e ser vitoriosa era sua escravidão pessoal.

— Que seja. Eu só queria deixar tudo claro. Se você acha errado ou qualquer outra coisa, pouco me importa, Ino.

— Isso é patético. Idolatrar Sakura dessa maneira é ridículo.

— Eu já disse que não me importo com a sua opinião.

— Ela ter se apaixonado por você é clichê! E o “badboy” estar rendido pela garota certinha também é tão previsível que chega a ser entediante. — Ino respira antes de continuar, quero interrompê-la, mas não consigo. Ela usa a nossa conversa para desabafar e eu acho isso tão importante quanto os limites que eu queria impôr em nossa atual amizade. — Ela sempre consegue o que quer. — sua voz tem um tom nostálgico, como se ela tivesse um milhão de dores guardadas no peito. — Ela é inteligente pra caramba, agora é médica, conseguiu a amizade de todos da casa e conseguiu você.

— Me conseguiu?

— E ela nem queria ao princípio. — Ino dá de ombros enquanto desliza pela parede e senta-se no chão. —  Agora até Hinata está contra mim, falando que o fato de seu relacionamento com o hiperativo do Naruto acabou por culpa minha.

— Por que você fez isso tudo?

Sua áurea transmite decepção, não raiva, e eu quase fico com pena dela.

— Fiz o quê?

— Karin me contou sobre o cabelo. Que você deu a ideia, e que você cortou. Que você contou de Sasori. Que ficava tendo esse tipo de ideia para infernizar Sakura.

— Eu queria você. Você me deu uma chance e eu adorei tudo que eu tive em nossa relação. Nunca entendi porque acabou. E aí apareceu a Sakura e eu vi que não ia ter mais chance com você. Eu falei com a Karin que a gente tinha terminado e isso foi o suficiente para estimulá-la a voltar e consequentemente te infernizar. Eu sabia da existência dela, Naruto havia me contado sobre as condições psicológicas. 

— Você é perversa, Ino.

— Sou? 

— Sim, é. 

— Sabe, eu não queria passar pela bruxa da história e a Karin era o personagem perfeito.

— Você ainda me pergunta porque a gente não deu certo.

— É muito fácil me julgar, né? Eu sempre vivi do lado da Sakura e ela sempre foi a melhor em tudo. É sufocante! Mas, mesmo assim eu gostava dela. Só que perder você para ela foi demais. Então eu troquei os remédios da Karin, falei sobre o Sasori, cortei os cabelos da ruiva quando ela mesma não teve coragem. Pensei que vocês acreditariam que foi a Sakura, já que ela tinha motivos para isso e no pior dos casos que foi a própria Karin. Mas nada deu certo na verdade.

Não sei o que falar. 

Estou hiperventilando.

Tenho vontade de xingá-la e sinto nojo por ter algum dia me envolvido com ela ou até mesmo ter aceitado morar junto para diminuir minhas despesas. Mas permaneço sereno por fora. Talvez aquele fosse meu superpoder, ficar puto por dentro, mas não demonstrar minhas emoções. 

— Só enfatizando, tudo acabou. Eu vou embora da sua casa e não quero mais manter algum tipo de relação com você.

— Você vai fazer isso no dia do meu aniversário, sério? Você é um babaca, sabia?

— Aham. — concordo. Não tem porque discordar, ao final das contas. 

Sem motivo algum, ficamos nos olhando por alguns momentos. A conversa já havia acabado, eu poderia muito bem sair dali, mas espero que ela se levante e saia na frente. 

Ino bate a porta do quarto, deixando bem claro o quão insatisfeita ela havia ficado com aquilo tudo. 

Tento digerir o momento, as confirmações sobre os planos mirabolantes. 

Era tudo tão irreal.

Em algum momento um casal alegre e alcoolizado entra sem bater. O batom vermelho na boca dele e dela deixando claro que eles se beijavam forte antes de entrar ali. 

Eu estava atrapalhando e sabia disso. Com um sorriso sem graça, passo por eles voltando para o ambiente da festa: o quintal com piscina e pessoas com trajes de banho.

O céu já atingia aquele tom meio alaranjado, o dia estava acabando, mas a festa parecia longe de terminar. 

— Se divertindo? — Lee aparece do meu lado com um coquetel bem colorido nas mãos. Nós dois observando o movimento até meus olhos focarem em Naruto e Sakura dançando de maneira extravagante enquanto se enbebedavam. 

— Não muito.

— Você sempre com essa cara de tédio. Se solta, gato.

— Amiga! — minha atenção e a do Lee foram atraídas para o grito estridente da Sakura que puxa Hinata em sua direção, substituindo sua presença pela presença da morena que logo se aproveita da chance para dançar com Naruto. 

Talvez não fosse uma boa ideia ter deixado Naruto tomando conta da Sakura. 

— Onde está a Ino? — pergunto para Lee que continua ao meu lado. 

— Não sei. Pensei que ela estava com você.

— Estava. Mas não mais. 

— Hum, entendi. 

Não consigo sair do lugar. Sei que tenho que me aproximar do grupo logo a frente, mas permaneço no lugar e sou entediante o bastante para fazer Lee se afastar, me deixando com um drink de procedência duvidosa em minhas mãos. 

Não sei quanto tempo leva até Naruto me ver e se distanciar das garotas, mas em algum momento ele o faz. A alegria em seu rosto contagiante, as bochechas vermelhas deixando evidente que ele talvez tenha passado da conta.

— Como foi com a Ino? — suas mãos agarraram meus ombros numa tentativa de me balançar e me contagiar com a música que tocava, mas eu não conhecia a letra.

— O que aconteceu enquanto eu estava lá dentro?

— Nada demais. Eu e sua namorada apostamos quem virava 4 shots de tequila mais rápido. Eu ganhei, é óbvio.

Não tinha como uma brincadeira daquela ter “vencedores”.

— Ela só bebeu 4 shots de tequila e ficou assim?

— Tequila não é uma bebida fraca, Sasuke. Ainda mais para uma garota magra de 1.65 de altura.

Nossos olhos viraram de novo para o lugar que Sakura dançava junto a Hinata. Apesar de tudo, elas pareciam estar se divertindo. Senti meu corpo relaxar por um momento. Agora só faltava resolver as coisas com ela. Eu já havia feio minha escolha, deixado claro para as pessoas, mas ainda faltava ela. Se ela não me quisesse eu ia ter apenas que aceitar, mas eu queria muito que ela me aceitasse. 

“Parabéns pra você, nessa data querida…”

As vozes em coro acompanham Ino que traz seu bolo exageradamente ornamentado com mais de três andares. Ela e mais dois caras têm a  tarefa de levar o doce de dentro da casa até o quintal sem deixar nada cair no chão.

Tudo parece feliz, calmo. 

Ino parece ter aceitado bem. Hinata chega mais perto de mim e  Naruto e abraça a cintura do loiro que a acolhe como se fosse um gesto corriqueiro.

Quando vejo até eu estou cantando, totalmente contagiado pela cena. 

Ino tem duas velas em suas mãos, ambas explodem como mini fogos de artifício e as luzes do céu parecem finalmente se apagar para que pudéssemos cantar "parabéns para você” iluminados apenas pelas velas e luzes externas. 

Mas por um milésimo de segundo Ino olha em minha direção e eu sei que alguma coisa vai acontecer. 

Procuro Sakura e percebo que ela está muito perto da loira. Quero correr até ela, chamar sua atenção para que saia dali, mas não consigo, estou paralisado. 

Ino não sorri mais, algumas pessoas ainda cantam a música, palmas ganham velocidade e, assim que Ino sopra as velas, rapidamente lhe dão um pratinho e uma faca para ela cortar o primeiro pedaço do bolo. 

Ino enfia a cara de Sakura no primeiro e generoso pedaço. 

Silêncio. 

Não há mais risadas. Ninguém mais canta e nem Ino diz alguma coisa. Apenas espalha glacê pelas bochechas e testa de Sakura.

Alguns pigarros. Alguns olhares, mas ninguém se atreve a dizer nada nem interferir. Ninguém sabe até que ponto é brincadeira. 

Ino havia descontado toda a frustração que sentia pela amiga. Toda a angústia, inveja e toda lástima que sentia pela amizade delas.

Durante o ato, Sakura permanece passiva. Deixa que a loira desconte nela todo o misto de sentimentos. Quando tudo acaba, lentamente, Sakura limpa o rosto e tira a maioria do glacê da cara.

Pensei que ela fosse chorar...

Ou gritar.

Sair correndo talvez?

Mas não.

Delicadamente, enquanto Ino dava dois passos para trás, talvez esperando uma represália por parte de Sakura, ela ignora a loira e corta um pedaço de bolo, vindo em minha direção. Todos a olham confusos - inclusive eu -.

Mas ela desvia um pouquinho, para na frente de Naruto e enche a mão com mais da metade do pedaço de bolo que havia separado a pouco. 

— GUERRA DE COMIDA!

Ela sabia que Naruto não a decepcionaria e corresponderia a altura, já que logo em seguida ele pega o pedaço que sobra no pratinho e esparrama pela cara da Hinata que não tenta impedi-lo.

Num piscar de olhos a festa de adolescentes com bebidas, piscina, música tinha se tornado uma festa de criança com pedaços de bolo e alguns brigadeiros voadores. Sakura tinha conseguido sair de uma péssima situação de uma maneira bastante inusitada.

Como eu estava são, me afasto o máximo possível do núcleo da guerra.

Mas ainda vejo Sakura sendo carregada por Neji e jogada na piscina. Ela não parecia ter levado o ataque direto de Ino como algo ruim, e se o fez, não demonstrou o que sentia de verdade.

Depois de uns cinco minutos a confusão finalmente acabou. 

— Acho melhor irmos embora. — Naruto aparece do meu lado apoiando Sakura no seu corpo.

— O que aconteceu com ela? 

— Nada. — a rosada responde completamente descabelada e com os olhos fechados.

— Overdose de doce e piscina. — Naruto justifica sorrindo. — Talvez um pouco de álcool , mas a piscina e a guerra de doces também ajudaram.

Sakura deu uma risada gostosa antes de começar a falar:

— Não acredito que ela fez isso comigo na frente de todo mundo.

— Ei! Mas você conseguiu dar a volta por cima.

— Pode se dizer que sim. — Sakura diz sofrendo de soluços. — Merda. Odeio soluçar.

— Sasuke você está sóbrio? Podia dirigir.

— Uhum. 

— Vou buscar as chaves então. Já volto. — Naruto entrega o corpo cansado de Sakura. Mesmo sem manter a mesma intimidade, ela ficou encostada em mim com os olhos preguiçosamente abertos.

— Que romântico, estamos vendo o pôr do sol juntos. — Sakura diz irônica soltando mais um de seus soluços.

— O sol já se pôs, Sakura. 

— E você acabou de estragar o romance, Sasuke. 

— Olha rosadinha, não pensei que você fosse capaz de se soltar e animar uma festa assim. Quer dizer, inventar uma guerra de comida para se safar de um bafão daqueles. — Lee comentava, ao mesmo tempo em que comia um pedaço intacto do bolo. A julgar pelo tamanho do bolo que Ino tinha levado lá pra fora e a quantidade de convidados, devia ter mais doce dentro da casa também.

— Hup! — mais um soluço. — Com sua licença. — Sakura ignora completamente o comentário de Lee e passa seu dedo pelo glacê do bolo dele. — Hup! Você não se sujou nem um pouco, Lorde Sasuke. 

Sinto Sakura passando parte do glacê de seu dedo em meu nariz de maneira quase torturante. Ela estava irritantemente bonita toda descabelada, molhada e com alguns resquícios de bolo no rosto.

Limpo meu nariz e lambo meu próprio dedo sem nenhuma cerimônia.

— Não. Hup! Assim não. — Sakura pega mais um pouco do glacê do bolo de Lee e aproxima seu dedo perto do meu rosto, mas especificamente da minha boca. — Diga: Ah! — seus lábios se abrem para me mostrar como eu deveria fazer, e seus olhos fixam na minha boca.

Sem me opor e sem qualquer tipo de resistência, abro minha boca aceitando seu dedo lambuzado pelo doce.

Uma corrente elétrica passa quando seu dedo brinca com minha língua.

Aquilo não tinha nada de inocente.

Tentei prolongar aquele momento ao máximo. E, propositalmente, mordo Sakura de leve, quase mostrando todas as minhas más intenções somente naquele gesto.

Sua respiração fica mais pesada e seu soluço finalmente desaparece.

— Achei as chaves e peguei as coisas da Sakura. Vamos! — quando Naruto volta, Sakura puxa sua mão para o mais longe de mim o mais rápido possível.

— Vamos.


Notas Finais


https://www.instagram.com/spirit._pequena/

Tá acabando! (sentindo que eu tô tirando 50 Kg das costas)


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