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História Lorde Sasuke - Sonhando com o Lorde


Escrita por: Pequena-Uchiha

Notas do Autor


O sentido da história é o mesmo, terá um pequeno epílogo extra, mas alguns detalhes eu mudei. O sonho do início, por exemplo... Preferi colocar uma coisa mais temáica com o resto da história.

Capítulo 4 - Sonhando com o Lorde


Eu estava num lugar muito bonito. 

Um pasto verde com flores campestres me cercavam de modo a me transmitir uma espécie absoluta de paz. 

O céu era absurdamente azul e a sensação que preenchia todo o meu corpo poderia ser comparada com uma espécie de Nirvana. Se eu me concentrasse bastante, era possível, ainda, sentir o cheiro das flores e o calor do sol. Aquilo era um sonho? Só podia ser um sonho! Pois não havia nenhum espaço como aquele dentro da cidade grande. Para completar, eu também não conseguia me lembrar de como eu tinha chegado ali, então, com certeza, aquilo era um sonho. 

Um agradável sonho. Fazia tempo que eu não me sentia tão relaxada como estava me sentindo até aquele momento. Aproveitei para, inclusive, me deitar sobre a grama e relaxar.

Quando eu já estava quase me esquecendo de tudo, me sentindo uma verdadeira camponesa ali passando o tempo no meio da flora, começo a ouvir um trote ritmado se aproximar. 

Minha cabeça rapidamente se levanta, me colocando atenta a qualquer aproximação. Se eu apertasse os olhos e colocasse a mão em minha testa, eu conseguiria ver um ponto branco se aproximando de mim.

Um cavalo branco. Mas não qualquer cavalo. O cavalo que se aproximava de mim era grande, de raça, bem cuidado e rápido. Se eu estivesse na vida real, provavelmente ficaria preocupada, tentaria me esconder ou correr daquele que se aproximava montado no corcel. Porém, como eu sabia que aquilo era um sonho, preferi esperar ali sentada até que o cavaleiro se apresentasse. 

Quando mais perto o cavalo chegava perto de mim, mas eu podia sentir meu coração batendo forte no peito, e mais o sonho começava a se desfazer. 

Sabe quando você sente que está quase acordando, mas tenta se prender no sonho apenas para prolongar um pouquinho mais ali? Pois bem, era exatamente isso que eu estava fazendo. 

As flores antes rosas, roxas e azuis perdiam as cores, eu já não podia me sentir acolhida ali dentro daquele cenário fantasioso. Mesmo assim eu obrigava meu corpo a continuar dormindo - eu precisava saber quem está em cima daquele cavalo! -.

Quando o animal finalmente chega perto o suficiente para eu ver quem o montava, meu coração quase pula para fora tamanha a emoção que sinto vendo Sasuke ali, montado naquelas roupas de época, como se ele fosse um verdadeiro Lorde.

Ah não! — Sasuke? — minha pergunta é a última coisa que faço antes de finalmente deixar meu corpo acordar. 

Quando abro meus olhos, posso senti-los pesados. Eu ainda estava me acostumando com a realidade e, por causa disso, me sinto desconfortável com a luz que ilumina meu quarto. 

O que acontece em seguida é tão bizarro que penso estar num sonho dentro de outro sonho. 

— Então você sonha comigo? Hum, interessante.

— Sasuke? — sem entender muito bem o porquê do moreno estar sentado bem ali, do lado da minha cama, começo a praguejar baixinho sobre a possibilidade de eu ter chamado seu nome não apenas em sonho, mas também na vida real. Tenho vontade de me explicar, dizer que fora aquela vez eu nunca tinha sonhado com ele, mas engulo cada palavra ciente de que tentar explicar qualquer coisa só iria piorar toda a situação. 

— Bom dia, Sakura. — sem me olhar diretamente, ele continua fazendo o que estava fazendo antes de eu acordar, mas agora, com um sorriso torto no rosto. 

Não eram nem sete da manhã e eu já tinha inflado o ego do Lorde Sasuke. 

Respiro pesadamente aceitando a derrota de ter sonhado com ele, e pior, chamado seu nome enquanto ainda dormia e me pego distraída enquanto o observo concentrado em sua tarefa.

— O que está fazendo? — pergunto curiosa sentindo meu pulso machucado sendo analisado por seus toques leves e olhar atento. Quando tento ficar sentada na cama sua mão se sobrepõe em meu pulso, o que me causa uma dor incômoda e me obriga a ficar quieta no mesmo lugar. — Ai. 

— Não reclama. — ele fala com a voz calma, mas firme. Sasuke parecia simplesmente me ignorar enquanto analisava meu pulso inchado. 

Por dois segundos me perco na imagem refletida no espelho que ficava pendurado atrás da porta para só depois entender que, mesmo com “boas intenções” a presença de Sasuke ali no quarto não era um evento que eu poderia considerar normal.

— Solta meu braço. — peço ainda sem entender o que estava acontecendo.

— Naruto me obrigou a vir aqui dar uma olhada no seu pulso ontem à noite. Mas eu cheguei mais tarde do que eu pretendia e estava bastante cansado. — ele começa a se explicar ainda sem me soltar. Rapidamente passa a mão livre em seu pescoço, como se para ilustrar que estava com dores em alguns lugares do seu corpo. — Acordei agora e estou quase acabando aqui, então fica quieta que isso logo acaba. Já basta ele ter me enfiado a pizza goela a baixo. 

Então ele tinha cumprido sua promessa? Naruto realmente havia feito Sasuke engolir a bendita pizza de brócolis com bacon? Aquilo me faz sorrir por longos segundos. 

Particularmente eu gostaria de ter visto a cena, mas só de imaginar Naruto explicando todo o trabalho que eu tive ao me propor fazer uma pizza que Sasuke gostava, me deixou alegre. 

Meus olhos descem do rosto arrogante do Sasuke até pararem em meu pulso que já estava sendo enfaixado.

— Por quê? — pergunto ainda sonolenta, aceitando finalmente de bom grado a ajuda de Sasuke.

— Já expliquei: Naruto. Ele, quando quer, consegue ser mais chato do que você. — por conta de seu tom de voz grosso, até chego a pensar por um momento que Sasuke está com raiva de mim, ou de Naruto, mas quando o observo atentamente, vejo o resquício de um sorriso, o que me faz concluir que ele apenas acha toda a situação cômica, mas não necessariamente ruim.

Seu mau humor me faz revirar os olhos, mas não consigo não deixar de sorrir

— Se ele fica mais chato do que eu, então você deve achar ele insuportável, né? 

— Mais ou menos por aí. — vejo seus lábios formarem uma linha torta para cima. Um pequeno sorriso torto. Considero aquilo como uma vitória pessoal. Talvez Sasuke tivesse algum senso de humor - ou talvez aquele fosse o primeiro sinal do apocalipse -.

No momento seguinte, seu olhar cruza com o meu por milésimos de segundos, o que me faz meditar sobre como eu devia estar horrorosa: cabelo despenteado, bafo matinal e olheiras. 

Ainda bem que eu não tinha nenhum tipo de atração por ele - ainda bem -.

Fugindo do foco daqueles dois pontos negros e profundos, finjo encarar o trabalho que Sasuke estava fazendo no meu pulso quando, na verdade, aproveito o momento para analisá-lo. Seus cabelos pretos estavam milimetricamente bagunçados. Ele ainda estava sem camisa e só usava uma calça de moletom preta. Engulo a seco e desvio o olhar do seu corpo. Fico com medo de além de ser arrogante, Sasuke soubesse ler mentes.

Soube que aquela brincadeira de “médico e paciente” havia acabado quando sinto que suas mãos soltam delicadamente meu pulso lesionado.

— Acabou? — pergunto analisando a faixa branca que fazia com que meu pulso ficasse mais firme. A dor tinha melhorado bastante.

— Não foi nada grave. Você nem ao menos trincou o local. Massageei e passei uma pomada para diminuir a dor.

— Como você sabe disso tudo? — pergunto me sentindo uma criança curiosa. 

— Eu faço medicina. Não formei ainda, mas tenho os conhecimentos básicos. — ele é seco enquanto me explicava, mas não parecia com raiva ou algo do tipo, apenas profissional. 

Sasuke não deixa de encarar meus olhos nem por um momento enquanto falava. 

Após sua explicação fica um silêncio constrangedor entre nós.

Um encara o outro.

 Não sei porque ele não tinha ido embora já que tinha acabado seu “trabalho”.

— Obrigada. — sussurro meio sem graça. Ele assente com a cabeça. — Por ontem e por hoje. — completo alisando meu próprio pulso. Mesmo que já não nos déssemos muito bem, não fazia sentido eu não agradecê-lo por sua ajuda. Mesmo que não fosse uma coisa programada, se ele não tivesse aberto o portão para mim ontem, eu não sabia o que poderia ter acontecido comigo. Além disso, a presença dele ali me deixou mais segura, mesmo que eu não admitisse 

Sinto um aperto no meu coração e respiro fundo tentando parar de me lembrar dos  flashbacks que voltavam a me incomodar.

Volto a minha atenção a Sasuke, eu inocente pensei que em seguida ele ia pedir desculpas por seu comportamento imbecil e infantil que estava tendo nos dois dias que convivemos juntos. Ou que ia agradecer pela pizza que eu havia feito pra ele. Porém, quando levanto meus olhos ele já estava saindo do meu quarto fechando a porta.

 — Idiota! — falo um pouco alto de propósito, fazendo-o me ouvir. 

#

Depois de uma semana me adaptando a minha nova rotina e ao apartamento, as aulas finalmente começariam. Estava nervosa. Já havia imprimido todo o cronograma e colado no meu quadro de avisos que ficava em cima da minha escrivaninha. Eu era bem desatenta com algumas coisas e, até me acostumar com os horários das aulas, talvez eu precisasse daquela “cola”.

Devo dizer que estava orgulhosa de mim mesma. Eu tinha sobrevivido aos primeiros dias morando no apartamento da Ino, coisa que eu particularmente duvidava que ia conseguir. Como se já não bastasse as personalidades de nós quatro, eu Naruto, Ino e Sasuke, nossos vizinhos também eram tão presentes em minha rotina que, em alguns momentos eu acreditava que todos nós morávamos juntos.

Facilmente voltei a ter com Hinata a mesma cumplicidade que eu tinha quando estudávamos juntas, o que infelizmente eu não consegui reestabelecer com Ino, mas sem entender muito bem o porquê, assumi que isso era apenas implicância na minha cabeça e que, provavelmente, mais cedo ou mais tarde, voltaríamos a ter a mesma afinidade que tínhamos quando mais novas.

De maneira geral, eu me dei bem com os meninos, o humor de Neji e Naruto, misturados com o tédio de Gaara deixavam meu dia interessante. No meio de todo contexto, apenas minha aproximação com Sasuke que não tinha evoluído em nada. Eu passei a conviver razoavelmente bem com todos ali, mas Sasuke era uma grande e irritante exceção à regra. 

Alguns dias ele era tão silencioso e se comportava de maneira tão alheia a tudo e a todos que eu me pegava refletindo se no dia da pizza eu não devia ter me aventurado em colocar algum tipo de purgante só para ver se ele demonstraria algum tipo de emoção.

Talvez um cu frouxo o tornasse mais humano.

Então, quando o primeiro dia de faculdade chegou fiquei feliz especialmente por dois motivos: eu finalmente começaria a estudar o que eu sempre quis e teria uma rotina.

Me levanto empolgada, pouco me importando, inclusive, de ser refletida naquele espelho odioso ainda pendurado atrás da minha porta. Me espreguiço e me viro na cama até chegar no meu celular. Desbloqueio a tela e vejo que era 8:01 da manhã. - só mais cinco minutinhos - meu cérebro sussurra para mim mesma, me fazendo virar pro outro lado da cama.

Espera, aí!

— Porra! — esbravejo chutando minha roupa de cama. Minha aula começava às 8:30 e eu não fazia ideia como eu ia chegar à faculdade. Acho que os meninos deviam ter carro, na verdade, para ser mais específica, eu me lembrava que apenas Naruto tinha, mas pelas minhas contas não caberiam todos os inquilinos - e vizinhos - do apartamento lá dentro. Pelo menos não ia ME caber lá dentro.

Quando tento rodar a maçaneta do banheiro praticamente tive um dejavú da minha primeira noite. 

Puta que pariu.

— SASUKE! — me esqueço que a donzela tomava banho todas as manhãs.

— Bom dia, coelhinha. — Neji tinha um sorriso divertido enquanto saia da cozinha calmamente com sua xícara de café fumegante em mãos.

— Não liga de chegar atrasado? — pergunto ignorando completamente o comentário sarcástico sobre minha escolha infantil para pijamas. Em todo meu short e blusa haviam coelhinhos brancos desenhados.

— Primeiro dia de aula, gata. Quem disse que eu vou? — essa foi toda nossa conversa. Apenas. Depois disso, ele seguiu em direção à sala

— Bom dia. — dou um pulo me assustando com a presença de Gaara. Ele era muito quieto quando queria - o que era quase sempre - .

— Bom dia, Gaara. — respondo educadamente. Minhas mãos ainda abraçavam a maçaneta da porta do banheiro como se minha vida dependesse daquilo. Bom, pelo menos a minha carreira de medicina estava em jogo. Droga!

Vejo o ruivo seguir para a cozinha devagar. Eu era a única estressada ali?

— Bom dia, Sakura!

“Bom-dia”, “bom-dia” Vai todo mundo à merda! Sufoco minha vontade de ser a pessoa mais sem educação do mundo e, ao contrário do que eu queria fazer, respondo educadamente: — Bom dia, Naruto. — minha voz sai irônica e cansada. — Abre a porta, Sasuke! Não fode com meu primeiro dia de aula!

— Não sei pra que todo esse stress, Testuda. Hoje é o primeiro dia de aula, quase ninguém vai! Normalmente tem aquelas palestras chatas e educativas. Ou professores que nos passam o que eles irão nos dar em todo semestre, e depois nos liberam. — ela balança a mão como se para demonstrar o quão inútil era ir no primeiro dia de aula. 

— Ano passado foi a palestra das camisinhas... — Naruto completa a fala de Ino abrindo a geladeira despreocupadamente e, como se ela fosse uma grande tela de TV, fica ali analisando a comida, provavelmente procurando algo que não tivesse nome.

— Nem me lembra. — ouço a doce voz de Hinata soar da cozinha.

Começo a rir histericamente. Imaginei  a meiga Hinata vendo uma palestra sobre camisinhas... Pelos Deuses, eles estavam querendo acabar com a pureza da única pessoa casta do mundo? Eu sei que o assunto era importante, mas Hinata às vezes me passava a sensação de que talvez ela fosse a próxima Virgem Maria.

Escorrego meu corpo pela porta do banheiro e me sento no chão encostada ali. Começo a bater minhas costas na porta em sinal de protesto, mas sem me machucar.

— Para! — a voz de Sasuke parecia estar com raiva e aquilo tinha me feito ficar satisfeita. Então continuo a bater minhas costas na porta. 

— Eu. Preciso. Tomar. Banho! — grito para o rei do banheiro. Não tinha como acordar de bom humor com aquele ser humano na mesma casa.

Meio segundo depois que eu me recostei na porta sinto meu corpo desabar pra trás.

Sasuke tinha aberto a porta bem quando eu estava tomando impulso para bater de novo com as costas na porta.

Todo o movimento me fez bater com a cabeça no chão com certa força. Quando abro os olhos, olho desnorteada para cima e bom, Sasuke tinha acabado de sair do banho. Ele estava com toalha, somente com a toalha, devo enfatizar. Então, meio que quando eu olhei para cima eu vi as partes que eram para estarem tapadas.

— O que você está fazendo? — sua voz soa tediosa, mas eu sabia que ele podia ver para onde eu estava olhando.

Não presto atenção no que ele diz e apenas levo minhas mãos aos olhos.

Meu rosto fica quente de vergonha. Eu não tinha visto exatamente tudo, mas eu vi seu membro ali balançando livre, leve e solto.

— Desculpa, desculpa, desculpa.

— Irritante. — nem um pouco afetado, Sasuke me responde preguiçosamente, já rumando para seu quarto, provavelmente para trocar de roupa.

Sem encarar o resto dos habitantes daquele apartamento que deviam ter visto toda aquela cena de camarote, me arrasto como posso até o banheiro. Bato a porta e fico ali escorada nela, ainda sentada no chão, mas agora do lado de dentro.

— Eu vi... — penso alto comigo mesma. Balanço minha cabeça em negação, tirando minha roupa apressadamente dando ridículos pulinhos.

Abro o chuveiro correndo.

Nem espero a água esquentar pra entrar lá de baixo.

— Fria, fria, fria. — abraço meu próprio corpo rezando pra não ter um ataque térmico.

Depois que a água finalmente esquenta, tomo o banho mais rápido do mundo. Já no meu quarto, me visto com tanta pressa e, assim que me vejo de frente no espelho eu acho que, na verdade, eu estava menos arrumada do que quando estava vestida com meu pijama enfeitado com coelhos.

Ignorando minha autocrítica, sem perder a pressa, corro com minha toalha pra lavanderia e a penduro no varal da área de serviços.

— Como eu faço pra ir até a faculdade? — pergunto pra Ino enquanto eu roubava um pedaço do café da manhã do Naruto.

— Ei! Que intimidade é essa? — ele reclama com um sorriso no rosto. Beijo sua bochecha rapidamente.

— Sério que você está preocupada com o primeiro dia de aula? Pelo amor de Deus, case com Sasuke de uma vez. — Ino fala derrotada. Ela parecia estar de mau humor, mas eu não tenho muita certeza sobre. 

Olho ao redor e encontro Sasuke arrumado tomando um energético. 

Ele devia ser viciado em cafeína.

— Por que você não vai com Sasuke? — Gaara dá a sugestão e todos o olham como se ele tivesse declarado a terceira guerra mundial. — O que foi? — ele pergunta encarando todos de volta. — Ele já está pronto, a Sakura já está pronta. Eles até fazem o mesmo curso. Só tô falando que não custa nada ele dar uma carona pra ela. — o ruivo se levanta da cadeira com sua costumeira cara de tédio. — Vocês complicam tudo.

Só aí meu olhar se encontra com aquele par de olhos escuros. Engulo a seco. Sua cara não era nada amigável. Ele parecia ter odiado a ideia do ruivo tanto quanto eu. A diferença era que ao invés de sentir medo, Sasuke parecia estar irritado com o rumo que as coisas de repente haviam tomado.

— Estou indo. — ele amassa a latinha de energético e a joga fora no lixo da cozinha.

— Gaara tem razão Sasuke, não custa nada. — Naruto diz num suspiro derrotado, como se já soubesse que a resposta do amigo fosse 'não'.

— Por que você não a leva então? — ele pergunta para o loiro de maneira séria, suas mãos dentro de seus bolsos de sua jaqueta preta e surrada. Naquele momento eu me sentia como uma criança chata que ninguém quisesse cuidar.

— Porque eu ainda vou demorar. Devo chegar apenas no segundo horário. Além disso, ela se preocupa em ser certinha que nem você. Não custa nada você fazer uma boa ação do dia. 

Ignoro o adjetivo que Naruto usou para me definir, "certinha". 

Não que eu realmente não fosse uma pessoa responsável e que tentasse fazer tudo da maneira correta, mas o sentido pejorativo que ele usa na palavra faz rolar os olhos de maneira tediosa. Eu só não queria faltar no primeiro dia de aula, será que era tão esquisito assim?

— Tsc. Vamos, então. — ele passa por mim me dando um olhar significativo, do tipo: se você quer vir comigo, então mexa-se!

Depois de pegar minha mochila sem conferir se tudo o que eu precisava estava lá, tive meu momento mais constrangedor dentro do elevador. Sem me olhar no rosto, Sasuke apenas digitou algumas coisas no que eu pude ver, de canto de olho, ser o Whatsapp. Sem saber se eu deveria puxar assunto, apenas me encolhi do meu lado na caixa metálica, o imitando - em partes - já que, enquanto ele tinha mensagens a serem respondidas às oito da manhã, eu tinha apenas uns memes repetidos divulgados na timeline do meu Twitter.

— Você dirige uma moto? — entrei em pânico internamente. Não que aquilo fosse totalmente inesperado, afinal uma moto era a cara de Sasuke, mas eu não estava psicologicamente preparada para aquilo.

— Algum problema? — ele me pergunta enquanto passa um capacete para mim. Não pude deixar de notar o sorrisinho cínico que puxa seu lábio para cima. Sasuke estava gostando do meu desespero interno e talvez aquele fosse o único sorriso que eu tinha visto dançar em seu rosto desde nosso momento médico x paciente em meu quarto.

Não posso deixar de ponderar sobre aquilo. Eu queria ter uma relação melhor com o demônio mal humorado, mas daí ter que andar de moto com ele? Aquele era um salto em nossa relação que eu não acreditava que estava completamente preparada.

— Nenhum. — tento parecer confiante, mas eu sentia que iria morrer em poucos minutos.

Coloco a proteção e subo desajeitada no veículo que eu julgava ser o mais perigoso do mundo. Afinal, não é todo dia que você sobe num veículo de duas rodas dirigido pelo próprio Diabo.

Então veio o momento mais difícil: eu teria que colocar minhas mãos em torno da cintura dele... E me controlar para não esmagá-lo e deixá-lo sem ar e vivo.

Engulo a seco tateando a própria moto numa tentativa ridícula de usar o veículo para me equilibrar, já que eu sabia que se eu insistisse nesse tipo de equilíbrio precário, eu provavelmente cairia antes mesmo de chegar à faculdade. 

— Me abrace. — um arrepio involuntário me sobe pela coluna. Eu não estava esperando que ele dissesse isso, ainda mais em tom de ordem.

— Posso? — tento soar educada, mas a verdade é que eu estava extremamente nervosa com aquela situação. 

— Anda logo, já estamos atrasados. — eu teria mesmo que me controlar para não derrubá-lo da moto em movimento, já que se ele caísse, eu também cairia.

Reviro meus olhos cedendo àquilo tudo.

— Ok. — passo minhas mãos por sua barriga tentando encostar o mínimo possível em seu corpo.

— Se segure. — ele diz e posso sentir um meio sorriso em seu rosto.

Definitivamente o vadio estava gostando daquilo.

O infeliz sem coração acelera pra caramba. Fico com medo de morrer, e grudo desesperadamente em seu corpo deixando meu plano inicial de não manter contato com ele para escanteio.

Tenho vontade de gritar, mas mordo meu lábio apenas para não passar por tamanha vergonha.

Foi só naquele momento que eu percebi que eu tinha me vestido tão desesperadamente rápido que acabei saindo de casa sem sutiã. E pior, meus seios estavam completamente colados em suas costas. 

Isso é o suficiente para eu ficar remoendo a dúvida por todo o caminho até a faculdade: será que o Lorde havia percebido? A jaqueta parecia grossa o suficiente, mas mesmo assim. 

Que vergonha!

Tento me afastar um pouco do seu corpo, mas toda vez que eu o faço Sasuke acelera de propósito e o medo me faz agarrar a ele novamente. 

Quando finalmente chegamos a faculdade quase pulo da moto, como se Sasuke fosse radioativo ou tóxico. 

 Faço questão de afundar o capacete em seu peito tamanha a raiva que sinto com toda aquela situação e, mesmo vendo o quão puta eu estava com ele, Sasuke não deixa de se mostrar calmo e cheio de bom humor.

Engolindo todo meu orgulho como se fosse uma espécie de pedra que me deixava engasgada na garganta, cruzo meus braços na altura do peito a fim de esconder o fato óbvio que eu estava sem roupa de baixo. — Obrigada. — sussurro entre dentes como se a palavra fosse feita de espinhos. A verdade é que sua demora no banho, sua negação em me levar à aula, somados ao seu silêncio prolongado no elevador e, por fim, a sua velocidade média excessivamente alta me fizeram ter vontade de atropelá-lo com sua própria moto.

— Hum. — ele resmunga tomando seu rumo. — O bloco dos calouros de medicina é pra lá. — ele aponta pra esquerda. Bom, aquela foi a maior gentileza que ele já tinha feito: falar sucintamente pra que lado eu estudaria. Isso porque enfaixar meu pulso não contava, já que ele fez por livre e espontânea pressão de Naruto.

Agradeço minimamente e sigo na direção que ele tinha apontado. Confesso que tive que perguntar para mais uma pessoa onde exatamente seria minha sala, mas não encontro muitos problemas no final das contas. Meu dia tinha começado tão mal, que eu me convenci que o pior já tinha passado, e que agora, o resto, não seria assim de todo ruim. 

#

— Um chá gelado, por favor. — aponto para uma daquelas bebidas industrializadas com sabor de pêssego.

A tarde tinha sido longa, eu estava na cantina e já eram 15:10. Não sei como os meninos achavam que o primeiro dia era inútil, eu já tinha recebido matéria, o cronograma, trabalhos pra fazer e já estava pensando em desistir daquilo tudo. Pra quê faculdade?

 — Obrigada. — agradeço a mulher da cantina, e procuro um lugar sossegado para descansar e pensar numa maneira de voltar para casa sem montar na moto da morte. 

O tempo estava agradável, então prefero ficar mais afastada e me sentar debaixo de uma árvore, já que o campus tinha bastante área verde e todas as mesas do refeitório estavam ocupadas, a ideia foi bem reconfortante, e eu poderia me acostumar àquilo facilmente. 

Abro a garrafinha bebendo calmamente o chá. Aquilo até que era bom. 

— Oi.

— Que susto! Oi, Gaara. 

— Quer um pouco?

— Não, obrigada. — ele me oferece um pouco do que parecia ser milk shake de alguma coisa rosa.

— É o melhor milk shake de todo o campus. Venho até o bloco das ciências biológicas só para comprá-lo. — ele faz questão de fazer aquele barulho engraçado com o canudo, provavelmente o conteúdo já estava acabando.

— Um dia eu experimento. — falo tomando mais um gole do meu chá gelado industrializado.

Ficamos em silêncio, cada qual em seu mundinho divagando sobre a vida de cada estudante que passava para lá e para cá. 

A companhia de Gaara era confortável. O silêncio não chegava a ser constrangedor. Mas em algum momento ele quebra o silêncio atraindo minha atenção.

— Sakura, aproveitando que eu te encontrei, eu preciso te dar um aviso.

— Qual? — viro meu rosto em sua direção o olhando de maneira calma, curiosa sobre o que ele tinha para me falar. 

— Na verdade são dois. — Gaara fazia o número dois com os dedos enquanto sorria para mim de maneira amigável. —  Bom, primeiro, hoje tem a festa da calourada. Ino sempre vai nessas festas e com certeza vai te arrastar para lá. Se eu fosse você escondia dela, sei lá, nem que pra isso precise que você fique encolhida no quarto do Sasuke. — ele enfatiza o nome do Sasuke como se salientasse o quanto Ino podia ser insistente. — E segundo e mais constrangedor, ela mandou te entregar isso.

Então ele abre sua mochila e me entrega uma sacolinha preta.

Acho aquilo estranho, mas não perco muito tempo e olho dentro do pacote com certa pressa. Eu não tinha ideia do que aquilo podia ser, já que Ino era imprevisível. Mas quando eu vejo do que se tratava, percebo que ela tinha ido longe demais.

Dentro da sacola tinha um sutiã meu e um bilhetinho da minha “amiga”:

Não mereço ficar te vendo andando por aí com seus peitos saltitantes. Beijinhos.

— Você viu o que era? — pergunto num fio de voz morrendo de vergonha de Gaara sem o encarar diretamente.

— Aham.

— Leu o bilhete?

— Não. Não fui tão longe. — ele dá uma bela sugada na sua bebida doce dando fim a mesma. — Ela disse para te entregar isso o quanto antes. Mas eu cheguei atrasado, já que Naruto resolveu vim só pra terceira aula. Enfim, se esconda, Ino mais bebida nunca é uma mistura saudável. — ele fala se levantando com sua mochila pendurada em apenas um ombro.

— Obrigada de toda forma. — coloco a sacolinha na minha bolsa/mochila. — Ah Gaara, como você vai embora pra casa? — me levanto da grama batendo na minha roupa para tirar a sujeira.

— Vim com Naruto.

— Tem lugar no carro? — pergunto esperançosa. 

— O que foi, não gostou de andar de moto? — ele me pergunta com um sorriso sacana.

— O problema não é a moto em si.

— Entendo. Bom, Ino faltou a aula e Neji também. Tem lugar pra você sim.

Acompanho o passo do ruivo até a gente chegar em um dos estacionamentos da faculdade.

Me encosto no carro enquanto ele ligava para o loiro. — Naruto, eu e Sakura estamos te esperando aqui. Sim, ela está querendo ir com a gente. Ele e Hinata já estão chegando.

Olho em volta e percebo que aquele estacionamento era o mesmo que Sasuke tinha usado para estacionar a moto mais cedo. Como a faculdade era bem grande, cada bloco tinha seu próprio estacionamento.

Pensando no Diabo, acabo vendo ele caminhando em direção a sua moto. Atrás dele, pude jurar ver algumas meninas - e meninos também - virando o pescoço para olhá-lo. 

Coitadas, se eles o conhecessem como eu conheço...

— Se importa? — pergunto ao Gaara tirando um cigarro do bolso.

— Sério? — ele pergunta com uma cara de quem não acreditava que eu fumava. — Pensei que médicos não fumassem.

— Eu sou uma estudante de medicina. — o corrijo dando ênfase à palavra 'estudante'.

— Touché. Mas fique à vontade, só não fume perto do Sasuke, ele custou a largar o vício.

— Posso fazer alguma coisa perto dele? Ou até minha respiração o incomoda? — rio pensando o quão sufocante Sasuke poderia ser.

— Você pode fazer muitas coisas perto dele, menos ter um pacote de farinha de trigo, fumar e andar sem sutiã. — ele lista de maneira sarcástica. Não posso evitar de sorrir. Gaara era uma pessoa legal, meio quieto, mas eu conseguia conversar com ele tranquilamente. Além disso, eu gostava de seu humor ácido e de sua visão simplista da vida. 

— Anotado.

#

Foi bem menos emocionante o caminho de volta para o apartamento, mas minha chegada foi tão conturbada quanto o início do meu dia. — A calourada. — ele reforça ao pé do meu ouvido antes de sairmos do elevador, provavelmente me lembrando de fugir para as montanhas e ficar bem longe de Ino.

Levo seu aviso a sério e trato de correr logo para o banheiro e me trancar lá. Tiro minha roupa e entrei debaixo do chuveiro tentando dessa vez tomar um banho decente.

Só que eu não tinha sorte assim e, assim que eu desligo a água, percebo que tinha esquecido minha toalha.

— Ela tá estendida na lavanderia, droga. — reclamo comigo mesma.

— SAI DAÍ TESTUDA. HOJE VOCÊ NÃO ESCAPA! — minha espinha se arrepia completamente assim que eu ouço a voz de Ino do outro lado da porta.

Droga! Mil vezes droga! 

Num ato de desespero pego a toalha preta que estava ali linda, limpa e sequinha e me enrolo nela. Espero atrás da porta até não ouvir nenhum barulho e saio às pressas.

O problema é que eu, ao invés de olhar para frente, dei uma boa olhada para trás, vigiando para ter certeza que Ino não estava me seguindo ou vindo da sala, então acabo tropeçando em meus próprios pés e trombando em alguém.

— Ai! — eu tinha esbarrado violentamente num corpo estranho. Quando abro meus olhos percebo que o corpo estranho era na verdade Sasuke. — Merda! Desculpa. — falo bufando. Eu sabia que ele ia ficar puto comigo a qualquer momento. Eu já estava aceitando que eu não ia conseguir ser amiga dele, ou qualquer coisa do tipo. Mas naquele exato momento, minha prioridade era tirar a toalha do corpo e colocar uma roupa e, se possível, passar o resto do dia trancafiada dentro do quarto me fingindo de morta para que Ino não me achasse.

— Por que você está usando minha toalha? — ele pergunta enquanto ainda me segura para eu não cair no chão.

— É que... — não consigo pensar em nada acreditável, e as coisas ficam ainda piores quando quando ouço os passos da loira descendo a escada que ligava a sala aos quartos superiores.

— TESTUDA! — pelo jeito que ela gritava com certeza estava já estava bêbada. Não que eu estivesse julgando, mas se bem eu me lembrava, Ino nunca ia a uma festa totalmente sóbria. Ela era a rainha dos “esquentas”, e já que ela tinha faltado ao primeiro dia de aula, não duvidava nada dela já ter começado a beber antes da própria calourada.

— Depois te explico. — empurro o corpo de Sasuke querendo chegar ao meu quarto o mais rápido possível.

— Minha toalha, Sakura. — eu não acreditava que ele ia insistir naquilo.

Ele por acaso sabia que eu estava pelada debaixo daquela toalha? Porra, eu ia devolver depois!

— Eu sei! Mas, não dá tempo agora. — eu não conseguia sair de seus braços, ele não deixava.

— Aí está você. — Ino finalmente tinha me alcançado.

— Mas que merda, Sasuke! — o xingo fazendo força e puxei-o para dentro do seu próprio quarto que era o mais perto e estava aberto. Puxo a porta e a tranco.

— O que você está fazendo, Sakura?

— Eu não quero ter que aguentar a Ino bêbada. Eu não quero sair com ela! — falo encostada na porta tentando ouvir lá fora.

— E eu quero minha toalha de volta.

— Agora? Sério? — tento deixar claro o quanto eu achava que ele estava sendo infantil, mas ele parece não ligar. 

— Ou você sai do meu quarto e devolve minha toalha, ou você fica e me devolve ela. — Sasuke chega perto, perto demais. Sua voz acaricia meu ouvido me fazendo sentir arrepios em diversos lugares do meu corpo ainda molhado. Engulo a seco fazendo meu cérebro funcionar.

Eu estava cansada de entrar naquele quarto. Que inferno!

Bufo impaciente: — Tenho uma ideia melhor. — virei meu corpo para ele destrancando a porta sorrateiramente.

— Ino, querida! Eu estava convencendo Sasuke a ir conosco. — puxei seu corpo sedutor para fora de seu quarto.

— Sasuke? Pensei que ele não se misturasse mais com a gente. Mas e aí, me conta, você teve que dar pra ele para convencê—lo? — ela me perguntou na maior cara de pau apontando para meu estado de semi nudez. Com certeza já estava mais alta do que eu pensava.

Antes que eu pudesse me defender, Naruto gritou empolgado demais: — O quê? O Sasuke vai? Agora eu não perco essa calourada por nada! — Naruto também já estava bêbado. Bom, bem provavelmente, já que ele vinha da mesma direção que Ino, o que me levava supor que estava bebendo com ela. 

— Eu não concordei com isso. — Sasuke começou a falar, mas eu o interrompi.

— Se você recusar, vou falar que você tentou me beijar.

— O quê?

— E que está loucamente apaixonado por mim. — completei sussurrando em sua direção.

— Você é louca!

— Ele e eu vamos. Vou só colocar uma roupa. — falei pros meninos dando fim a minha discussão particular com o moreno.

Se eu ia passar por aquela merda toda, ele também ia. Era isso ou eu o faria engolir a toalha idiota.


Notas Finais




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