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História Lost Minds - You're a supernova


Escrita por: paynedesire

Notas do Autor


HEY! ♥
voltei depois de quase um mês e só tenho que pedir desculpas rs
eu realmente tava CHEIA de atividades pra fazer, o ead ta acabando comigo. no meio disso minha vó fez uma cirurgia e eu também andei ocupada por causa disso, espero que entendam.
espero muuuito que gostem desse capítulo ♥

boa leitura. ♥

→ a música que dá nome a esse capítulo é Space Bound, do Eminem. sou suspeita pra falar, mas eu amo essa música.

Capítulo 28 - You're a supernova


Parte 27

Você é uma supernova

 

Uma garrafa de whisky mais tarde e eu finalmente coloco os saltos para que possamos ir para a festa de Halloween.

— Esses tênis são para quê? —Cassie pergunta, quando me vê colocando o par de tênis brancos dentro da sua bolsa.

— Você acha que eu vou aguentar esses saltos durante toda a noite? Com certeza não. —respondo. 

Depois de guardá-lo junto com a garrafa de whisky vazia, eu borrifo um pouco de perfume e me certifico mais uma vez que a peruca está bem colocada. Pego uma embalagem de chicletes na gaveta da mesa de cabeceira, fico com um deles e dou um para cada uma das meninas.

— Sua mãe e Charles sabem que você está bebendo hoje? 

— Claro que não. —Cassandra responde à minha pergunta enquanto se olha mais uma vez no espelho. — Mas não vão ficar sabendo, então não tem importância. 

— Eles podem aparecer por lá, —diz Emma. — quero dizer, é um evento público, qualquer um pode simplesmente chegar lá. 

— Halloween é para os jovens. Eles vão aproveitar essa folga para transarem, sei lá —minha amiga dá de ombros. — Vamos? 

Meu pai e Mary estão na cozinha fazendo o jantar quando eu e as meninas saímos da minha casa, então tudo o que eu faço é aumentar o tom de voz para avisar que estamos saindo e que eu estou levando celular e chave de casa para que nenhum deles precise vir até nós e assim perceber que estivemos bebendo. 

Não demoramos muito para chegar na localização da festa —ou evento— de Halloween. O parque repleto de árvores está tão enfeitado com todo o tipo de decoração de Halloween quanto qualquer outra casa da cidade. As barracas de jogos e alimentação estão todas arrumadas e várias pessoas já circulam pelo local. 

— Eu ainda não entendi como Charles aceitou pagar por tudo isso.

— Ele basicamente alugou os brinquedos, Adele, e dessa forma ele também ganha pelo preço dos ingressos, por exemplo. Uma parte desse dinheiro também vai para a escola, claro. 

— Ainda assim é muito dinheiro gasto em uma festa de Halloween do ensino médio. 

— É importante para mim e essa é a primeira vez que eu estou pondo os pés para fora de casa para uma festa de verdade desde que tudo aconteceu, então… —Cassie respira fundo. — Acho que ele quer me agradar. 

— Deve ser ótimo ter um padrasto rico. —Emma comenta, tirando da sua bolsa uma câmera fotográfica. — Vou registrar algumas coisas para o jornal da cidade. 

Eu passo os olhos pelo local. Os brinquedos não são tão grandes e impressionantes quanto as atrações de um parque de diversões de verdade, mas ainda assim são muito mais do que qualquer outra festa de Halloween oferecida pela escola de Oaks Field já teve para ofertar aos alunos. Não há montanha-russa, mas a roda-gigante é alta e incrível, além de que o carrossel é lindo, brilhante e barulhento, também há uma casa do terror, além de várias barraquinhas com jogos que premiam os vencedores.

— Até que horas isso aqui vai? —eu pergunto, enquanto caminhamos. 

— Pouco mais de uma da madrugada, eu acho. Depois vamos para uma festa na casa do Mike.

— Cassie? —é Emma quem expressa sua confusão. — Você só está começando a ser liberada do seu castigo, ou seja lá como você chama esse período de reclusão e sobriedade, agora e você já quer ir para uma festa na casa do Mike? 

— Ah, desculpe senhorita faço-tudo-certinho. —Cassie revira os olhos. — Qual é? Você acabou de beber uma garrafa de whisky inteira comigo, qual é a diferença? Todo mundo vai estar lá, não é justo que eu fique de fora. 

— Eu tô do lado da Emma nessa. Qual é? Já vamos ficar até uma hora por aqui, é o suficiente. 

— Você acha isso o suficiente para o nosso último Halloween juntas? —minha amiga rebate, ajeitando o decote da sua fantasia de Jackie Brown. 

— Esse não vai ser o nosso…

— Claro que vai. —ela interrompe Emma. — E vocês sabem disso. Em junho do próximo ano cada uma de nós estará em uma universidade diferente, talvez nem estejamos na porra da Dakota do Norte. 

— Isso não significa que nós não vamos mais nos ver e passar algum tempo juntas. —eu digo, embora uma parte de mim tema que eu esteja errada. 

— Não temos como ter certeza disso. Se tudo der certo e, por Deus, eu espero que dê, em algum tempo eu vou estar viajando pelos Estados Unidos em competições de natação, vou estar bastante ocupada. Gracie continuará enfiada na porra da igreja, Emma vai estar em uma redação escrevendo sem parar e a Adele… —Cassie ri. — Eu nem sei o que você quer fazer. 

— Ir embora. —respondo, de prontidão. — E desde que eu seja aceita em uma universidade, vou ter um ano lá dentro para decidir, então não tô muito preocupada com isso, para falar a verdade. 

— Mudando de assunto… —Emma finalmente dá o pontapé inicial para que esse assunto de merda acabe. — O seu namorado raspou o cabelo, Cassie? 

Cassandra para de caminhar, olhando para Emma com uma expressão de confusão. Ems aponta discretamente para a barraquinha de tiro ao alvo. 

Em meio aos animais de pelúcia que servem de prêmios, aos patinhos de madeira que se movem na estrutura e às pessoas que, usando pequenas armas coloridas, tentam acertar as bolinhas na quantidade de patinhos o suficiente para ganharem um dos ursos idiotas, lá estão o trio fiel. À primeira vista são Tupac Shakur, Jason Voorhees e Cliff Booth —o que não tem concordância nenhuma com o que eu falei anteriormente sobre se tratar de um trio fiel—, mas as pessoas por trás dessas fantasias se encaixam na designação que eu dei: Michael Morris, Kevin West e Dominick Corbyn, nessa ordem. 

— Ele raspou o cabelo..., —Cassie pensa alto, caminhando em direção à barraca. Eu e Emma vamos logo atrás. — Mike?! 

— Oi, gata. —ele responde, piscando para ela, enquanto entrega a arma amarela para um outro garoto que estuda com a gente. — Você tem cinco chances, precisa acertar três patos para ganhar o prêmio maior, irmão. —Mike passa as instruções para o garoto. — Quer que eu consiga um ursinho para você, Cass? 

— Onde estão suas tranças? Quando você raspou o cabelo?

— Foi para a minha fantasia. Eu tô a cara do Tupac, não tô? 

Os dois continuam conversando, enquanto Dominick tenta puxar papo com Emma, que nunca percebe que as suas investidas são cheia de intenção, ao passo que ele também parece não realizar que Ems realmente não está interessada em nenhum tipo de relação que ultrapasse os limites estabelecidos por um bom relacionamento entre ex-namorados que têm amigos em comum. Em paralelo a isso, Kevin, com o braço apoiado em um dos pilares de madeira da barraca, parece especialmente assustador e nem é por causa da máscara de Jason. Mesmo com o objeto cobrindo o seu rosto eu sei que ele está olhando para mim e eu sei que o modo com que ele me olha nada tem a ver com a maneira que olhava antes de ter seu nariz quebrado por Zayn. 

— Você está fantasiada de namorada de traficante, Adele? —Kevin me pergunta, embora eu tenha olhado para ele pelo mínimo de tempo possível, como se pudesse ler a minha mente e adivinhar que era ele quem estava nela. — Combina com você. 

— O Jason também combina com você, Kevin, principalmente por causa da sua cara deformada. 

Dominick dá risada e ajeita os óculos escuros na ponta do nariz antes de pegar um dos ursos de pelúcia menores para dar ao garoto que só conseguiu derrubar dois patos. Só quando ele entrega o prêmio à garota ao seu lado que eu percebo que ambos estão na minha classe de biologia. Emma aproveita para fotografá-los e depois também tira uma foto de Cassie e Mike. A companhia dos três meninos é qualquer coisa menos confortável, e isso se deve ao acontecimento no estacionamento da escola, mas é difícil não estar junto com eles, uma vez que Cassandra namora Mike.

Avisto uma garrafa de água perto da caixa onde eles estão guardando o dinheiro arrecadado com a barraca e estico o braço para pegá-la. Giro a tampa e levo o gargalo até a boca. Quando o conteúdo transparente enche minha boca eu percebo que não se trata de água, mas é tarde demais e o que me resta é engolir e fazer uma careta enquanto a vodka desce pela minha garganta. 

— Vocês poderiam ter me avisado. —eu reclamo. 

— É uma festa de Halloween, Adele. —Mike pega a garrafa das minhas mãos. — Ficar bêbado é tão importante quanto usar uma fantasia. 

 

Mike estava certo e é por isso que eu me embebedei. Claro que eu não estou bêbada no nível que eu fico durante as festas, mas já é um começo. Estou bêbada o suficiente parar rir de qualquer besteira, mas também o suficiente para conseguir impedir Cassandra de voltar ao carrossel —onde ela vomitou. 

A maior desvantagem de estar no último ano do ensino médio é que você ainda é a porra de um estudante de ensino médio, mas a maior vantagem é que os professores estão mais ocupados tomando conta dos alunos mais novos e por isso não percebem o quão bêbado você está. 

— Eu tirei fotos ótimas lá dentro! —diz Emma, dando risada, enquanto saímos da casa dos espelhos. 

— Agora eu quero ir na roda-gigante. —Cassie tira do sutiã o dinheiro que juntamos para comprar bilhetes para as atrações e tira do bolso da calça o seu celular. — Vou encontrar Mike antes que ele vá para casa, daqui a pouco todo mundo estará lá para a festa. 

— Eu queria que o carrossel fosse nosso último brinquedo. —Emma resmunga. 

— De jeito nenhum. Eu, como a mais sóbria de nós, decido que não vamos voltar para o carrossel nem fodendo. —eu faço careta, lembrando-me do que se passou pouco mais de uma hora atrás. — Você se esqueceu da cena horrorosa de Cassie vomitando depois da primeira vez que fomos? Não quero repetir a dose. 

— Roda-gigante, então. —Cassandra mostra a língua e tropeça no próprio pé quando dá o primeiro passo em direção à barraca onde os bilhetes estão sendo vendidos. — Vou comprar mais um para cada uma de nós e depois da roda-gigante vamos para a festa. 

Eu e Emma vamos para a fila da roda-gigante enquanto esperamos que Cassandra compre os bilhetes. Um barulho irritante no microfone me faz enrugar a testa e Ems se assusta. É o diretor da escola quem está no palco improvisado e com o microfone na mão. 

— Já que entramos na última meia hora de festa, eu preciso vir aqui agradecer a todos os alunos e professores que trabalharam duro arrecadando dinheiro, decorando o parque e organizando tudo. Preciso também fazer um agradecimento especial ao Charles Watson, um dos mais brilhantes advogados do Estado da Dakota do norte, que temos a honra de ter como um morador de Oaks Field e que se disponibilizou para ajudar com a festa de Halloween. Essa é certamente a maior de todas que a escola tem a oportunidade de dar. —Cassie volta para onde estamos com um tubarão de pelúcia nos braços e um sorriso no rosto, graças à última frase dita pelo diretor. — Quero também agradecer à presença de todos. Tenham uma boa noite e feliz Halloween! 

As pessoas aplaudem e Cassandra também, mas é muito mais porque conseguiu dar a maior festa de Halloween que essa cidade já viu. Felizmente, não demoramos muito na fila e em pouco tempo já estamos sentadas nos bancos da roda-gigante. 

— Você pode prometer que não vai vomitar dessa vez? —peço para Cassandra, que, com o meu celular que ela manteve guardado no bolso do seu casaco durante todo o tempo da festa, junto com a minha chave, tira selfies com o tubarão que Mike ganhou para ela na barraca de tiro ao alvo.

— Eu estava bêbada demais naquela hora, agora já me sinto melhor.  —ela sorri, tentando parecer confiável. — Agora o seu celular tem ótimas fotos minhas com o meu tubarão de pelúcia. 

Cassandra me entrega o meu celular e a chave, e eu não tenho onde guardá-lo porque esse vestido não tem bolsos e, por causa do decote do vestido, eu não estou usando sutiã, então apenas seguro o aparelho na mão. Aproveito para checar a hora —pouco mais de uma da madrugada— e as notificações, mas não há nada muito interessante ou importante por aqui.

— Eu não consigo me lembrar da última vez que fiquei tão bêbada. —Emma murmura, sorrindo.

Todas nós já estivemos em um momento de muito mais embriaguez do que agora, mas ainda assim, estamos bêbadas. E como a facilidade de Cassandra para vomitar depois de beber álcool é sempre inquestionável, o medo de que ela venha a fazer isso de novo é muito real. 

Quando a roda-gigante começa a girar é inevitável olhar para o parque que, à medida que vamos subindo, se distancia de nós. Daqui do alto do brinquedo é possível enxergar toda a extensão da área ocupada pela festa e a região arborizada em torno do parque também. E como as árvores não são tão altas e também não há uma grande concentração delas, também conseguimos ver os carros estacionados. 

— Olha lá, Mike está indo para casa. —Cassie aponta e nós conseguimos ver Morris, Dominick e Kevin saindo do parque junto com alguns outros garotos do time de futebol. — E lá está Ben e Alexa junto com… Quem é aquela pessoa?

Eu imediatamente olho na direção que Cassandra está apontando, imaginando que vou ver Zayn, mas ele não está lá. 

Ben não usa fantasia e isso não é nada surpreendente. Alexa, que provavelmente vai para a festa na casa de Mike, usa botas de cano alto, cinto e casaco da mesma cor, um vermelho bem aberto, short jeans e uma camiseta branca com estampa de flores, e eu não consigo reconhecer a fantasia. A garota ao seu lado usa um vestido vermelho e luvas roxas, o que é simples mas cumpre o papel de caracterização de Jessica Rabbit, principalmente junto com os cabelos ruivos. 

— Quem é ela? 

Eu levo poucos segundos para me lembrar porque ela não me parece estranha e rapidamente responder à pergunta de Emma. 

— Violet. 

— Vocês se conhecem? —Cassie fica curiosa. — Ela não é daqui, certo? Eu nunca vi ela antes. 

— Não, não conheço. —digo. — Ben falou alguma coisa sobre ela da última vez que fomos lá, só isso. 

Não consigo não pensar nas coisas que Ben disse e tudo parece fazer sentido. Sei que Zayn tenha dito que nunca nem mesmo encostou nela, mas tendo em mente o seu histórico, mentir sobre isso não seria nada demais, considerando que ele já mentiu sobre coisas muito piores. E quando mais eu olho para ela, se torna mais difícil acreditar no que Zayn disse. 

Eu nunca fui alguém que sente vergonha do próprio corpo ou que tem muitas inseguranças. Eu sei que eu sou bonita. Mas eu também sei admitir quando outras mulheres também são e Violet é linda, até de longe assim. Me comparar com ela e, dessa forma, criar qualquer tipo de rivalidade entre nós duas, principalmente sem que sequer tenhamos trocado uma palavra, vai contra todas as coisas que eu acredito, então eu me esforço para me limitar a apenas concluir que Ben muito provavelmente estava falando a verdade. 

— O que ele falou? —Cassandra pergunta, me puxando de volta para a realidade. Eu olho para ela, confusa. — O que Ben disse sobre essa garota? Tinha alguma coisa a ver com Zayn? 

Emma aperta os olhos e uma linha surge entre as suas sobrancelhas. Sei que ela deve estar pensando que merda Cassie sabe sobre Zayn. 

— Por que teria alguma coisa a ver com ele? —ela questiona.

— Porque da última vez que eu fui no estúdio do Ben com a Adele, ela e Zayn discutiram sobre alguma coisa que eu não sabia o que era. 

Percebo a conversa tomando rumos que eu não queria, de jeito nenhum, que tomassem. Definitivamente estamos bêbadas demais para falar sobre Zayn e eu sinto que se fizermos isso a pessoa que vai vomitar será eu, não Cassie. Claro que existe uma vantagem no fato de nós três termos bebido o suficiente para tropeçar nos próprios pés, dar risada de besteiras e nos sentirmos um pouco tontas, e esse ponto positivo é que elas talvez nem se lembrem disso amanhã. Mas a parte negativa de tudo isso é que tanto quanto a bebida pode fazê-las apagar essa conversa da memória, pode me fazer falar demais. 

— Meninas… —Cassandra quebra o silêncio que se instala depois do que ela disse sobre a discussão. — Ok, que porra tá rolando? Vocês sabem de alguma coisa que eu não sei, já percebi. 

— Cassie… 

— Você está saindo com o Zayn ou algo assim? —ela me interrompe. 

— Não está mais, eu espero. —Emma responde por mim. 

— Emma, isso não é sobre você. —eu só percebo o quão grossa fui depois que já falei. — Me desculpa falar isso, mas é verdade. Eu sei que você pensa que tá me protegendo mas as coisas não funcionam desse jeito, você nem o conhece.

— A mesma história de novo. —ela revira os olhos. 

É verdade, é a mesma história. Eu continuo repetindo as mesmas coisas, mesmo depois de toda a merda e todas as discussões fodidas. 

— Se Adele estiver saindo com esse cara, qual é o problema?

— O problema é que ele é um traficante em nível internacional e só vai colocar Adele em perigo.

— Ele é o que? —Cassie ri de um jeito nervoso. — Emma, você tá exagerando. No máximo ele é como a Alexa que vende cocaína para os meninos, só isso. Eu sei que, de qualquer forma, não é algo legal ou admirável, mas não faz sentido você tentar transformar o cara no Pablo Escobar. Além disso, não é como se a Adele estivesse apaixonada por ele. 

Eu me sinto aliviada à medida que a roda-gigante diminui a frequência dos giros porque eu quero sair logo daqui e acabar o mais breve possível com esse assunto. 

— Cassie, o quão bêbada você tá? —Emma rebate. — É óbvio que ela tá apaixonada, se não tivesse ela já teria caído fora. 

— Ems, você realmente não conhece o cara. Talvez ele seja ótimo com a Adele, o que acontece entre os dois não é da sua conta e nem da minha, nós não temos nada a ver com isso. 

— Não acontece nada entre nós dois, na verdade. —eu murmuro, mas ninguém presta muita atenção, porque rapidamente Emma volta a falar. 

— Quando o cara que você tá a fim é a porra de um criminoso não importa se ele é ótimo com você. Na verdade, isso é o mínimo! —ela diz, enquanto descemos do nosso banco e colocamos os pés no chão. — Eu sei, ele é lindo e blablablá, mas isso não importa quando ele pode ser preso a qualquer momento. 

— Emma, você tá maluca? —digo, perdendo a paciência. — Ele não vai ser preso, meu Deus. E eu já falei, nós não nos vemos mais há dias. 

— É questão de tempo até se verem de novo. —ela é rápida na resposta. — Eu sei que eu não tenho nada a ver com isso, mas nada nessa história cheira bem. A única explicação possível para o seu interesse nesse cara é que ele preenche algum buraco que a sua mãe deixou quando foi embora, talvez você seja meio carente e por isso…

— Emma! —Cassandra a corta. 

Cassie fixa o olhar no chão, sem coragem de olhar para mim ou para Emma. 

— O que aconteceu com aquele papinho sobre não querer ser a pessoa que tenta dizer para mim quem eu posso ou não amar e toda aquela merda que você disse? —questiono. — Você não precisava ter me pedido desculpas naquele dia se ia repetir tudo o que disse e ainda dizer coisas piores. 

— Não briguem, meninas. —Cassie tenta acalmar os ânimos. — Nós bebemos, estamos falando besteiras. 

— Alguém precisava dizer isso para você. —Emma insiste no papo insuportável dela.

— Esse assunto acabou! —a voz de Cassie se faz mais alta e ainda assim mais calma do que a minha e de Emma. — Vamos logo para a festa do Mike antes que vocês comecem a se estapear ou algo assim. 

— Podem ir, eu encontro vocês lá. —enquanto Emma não parece nada surpresa, Cassie parece o oposto. 

Não espero resposta alguma, apenas dou as costas para as duas e caminho em direção à área de alimentação. Eu preciso de água. Não olho para trás em nenhum momento do trajeto até o primeiro food truck que eu visualizo. Tiro o único dinheiro que me sobrou de dentro da meia e compro uma água. Agradeço depois de já estar com a garrafa em mãos e bebo longos goles enquanto dou alguns passos de volta para onde estão as atrações do parque. Não vejo nenhuma fantasia de Thelma ou de Jackie Brown e assim sei que as meninas já foram para a festa na casa de Mike. Em pouco tempo eu acabo com a água e por isso me dirijo até a lixeira mais próxima, onde eu jogo a garrafa e também a droga de peruca loira de Elvira Hancock. Dou uma balançada nos meus cabelos para tentar disfarçar que eles estiveram presos em um coque durante todo esse tempo.

Odeio pensar no quão grande é a probabilidade de Emma estar certa. Talvez seja realmente isso. Talvez minha mãe nunca tenha realmente se importado comigo e o jeito do meu pai tentar demonstrar carinho por mim —passando tempo comigo enquanto eu ajudo na oficina— não tenha sido o suficiente. Talvez eu só aceite o caos que Zayn oferece porque, no fim das contas, é algum tipo de atenção. 

— Oi, Addy! —quando eu ouço aquele apelido pelo qual só uma pessoa me chama eu imediatamente sei que quem está atrás de mim é Alexa, e eu giro nos calcanhares para vê-la. — Eu adorei a sua fantasia!

Alexa está sorrindo e felizmente Ben não está mais com ela e com Violet. 

— Obrigada. —respondo. — A sua também é legal, mesmo que eu não tenha entendido direito. 

— É daquele filme que eu falei para você outro dia, lembra? Poderosa Afrodite. 

O filme que a fez escolher o Allen como seu falso sobrenome, claro. 

— Sim, lembro. 

— Essa é Violet, uma amiga de alguns anos, ela veio passar o uns dias aqui. E, Violet, essa é Adelaide, aquela sobre quem eu tinha falado antes. —Alexa nos apresenta uma à outra.

Eu não prestei tanta atenção na ruiva nas fotos que enfeitavam a geladeira de Alexa, mas pelo que me lembro, Violet é ainda mais bonita pessoalmente. 

— Oi, Addy. —ela diz, sorrindo, me chamando pelo apelido que até então era exclusivo de Alexa.

Eu tento sorrir de volta, mas com certeza parece forçado. 

— Nós estamos indo para a festa na casa do Morris, você vai? —balanço a cabeça de um lado para o outro, negando. — Por que não? 

— Tô cansada, só isso. —Alexa levanta uma das sobrancelhas, duvidando da minha resposta. 

Eu constantemente me lembro de que ela sabia o tempo inteiro que Zayn estava mentindo e me enganando e não fez nada sobre isso, e isso torna o fato de eu estar conversando quase normalmente com Alexa ainda mais estranho. 

— Vai com a gente, Addy! —ela pede e eu nego, novamente. — Por favor… Vai ser legal!

Me pergunto se Violet faz o mesmo que Alexa e Zayn, mas rapidamente concluo que sim, do contrário ela não estaria passando o Halloween aqui. E a pergunta que vem à minha mente em seguida é ainda pior: é coincidência que ela tenha vindo para Oaks Field depois que eu e Zayn nos afastamos ou ela tá aqui só agora exatamente por isso? 

Que merda.

Um trovão se faz mais alto do que o barulho dos brinquedos e das conversas paralelas pelo parque. Mesmo que eu esperasse que a chuva viesse só pela manhã, não será nada surpreendente se começar a chover agora, afinal, o calor que me permitiu usar um vestido de alcinhas em pleno final de outubro de Oaks Field, essa droga de cidade onde o frio é uma das características principais. 

— É melhor eu ir para casa antes que comece a chover. 

Alexa faz um beicinho e abaixa os ombros, com sua melhor cara de cachorrinho que caiu do caminhão da mudança. Mas isso não é o suficiente para me fazer mudar de ideia e tanto quanto eu ainda não consegui passar por cima da minha mágoa com ela, eu também não quero estar na festa com Emma. 

— Se divirtam. —eu digo. — Até mais. 

— Boa noite, Addy. 

— Legal conhecer você. —Violet diz. 

É nítido que ela está se esforçando para ser simpática, então eu faço o mesmo. 

— Também. 

Assim, elas vão para um lado e eu para o outro. Depois de caminhar umas três quadras sozinha ouvindo os trovões e torcendo para que a chuva espere que eu já esteja em casa para cair, meu celular começa a tocar. O nome de Gracie Benett no visor é mais assustador do que os barulhos que antecipam uma tempestade, já que são quase duas horas da manhã e ela nunca está acordada nesse horário.

— O que houve? —é a primeira coisa que eu pergunto, porque com certeza alguma coisa aconteceu. 

Ele é um psicopata, Adele, não tem outra explicação senão essa. —sua voz está tremendo e eu imediatamente entendo que ela está falando de Finn.

— O que ele fez dessa vez? 

Papai acabou de me ligar porque esqueceu a chave de casa e o controle do portão da garagem e eu me levantei para deixar a chave dele do lado de fora, embaixo do tapete, para que ele possa entrar quando voltar da festa, e eu encontrei uma coisa. —eu espero um pouco até que ela termine de falar e escuto Gracie fechando uma porta. — Adele, ele me filmou. 

Paro de caminhar. 

— Que filho da puta. Como você sabe? 

Encontrei um envelope embaixo do tapete e eu não sei o que teria acontecido se não tivesse sido eu a pessoa a encontrar. Tinha quatro fotos dentro e parecem capturas de tela de uma gravação feitas por alguma câmera escondida ou algo assim. 

— Gracie, porra, você precisa ser mais específica, o que vocês estão fazendo nessas fotos? 

Consigo ouvir sua respiração. Ela está nervosa e demora para me responder. 

Eu não consigo falar, você precisa ver. Você precisa me ajudar, eu não sei o que fazer. Você pode vir aqui? 

— Você sabe que horas são? —o fato de Gracie ter me pedido para ir até a sua casa numa hora dessas só torna tudo mais assustador para mim porque reforça o quão assustada ela está. — Que merda, Gracie. Eu tô indo aí. 

Mudo a direção dos meus passos, caminhando direto para a casa de Gracie. Felizmente eu troquei de sapatos e agora o par de saltos está na bolsa de Cassandra e, graças a Deus, não está nos meus pés. O vento que vem junto com todos os outros anúncios de chuva começa a me fazer sentir frio e eu já penso na possibilidade de pedir pra Gracie um casaco emprestado para voltar para casa. 

Quando eu chego na casa de Gracie eu envio uma mensagem de texto para ela, que abre a porta silenciosamente. Ela não diz nenhuma palavra, só põe o dedo indicador na frente dos lábios, me pedindo para fazer silêncio. Eu entro na sua casa pé por pé e subo as escadas atrás dela em direção ao seu quarto. 

— Está tudo aqui. —ela diz, baixinho, me entregando um envelope amarelo.

Eu abro o envelope e tiro de dentro dele as quatro fotos. Na primeira foto Gracie está sentada no que parece ser a cama de Finn. Além de estranho, é nojento olhar demais para essas fotos, então vou logo para a segunda. Nesta, Gracie está usando só saia e calcinha. Na próxima há menos roupa. Na última não há roupa nenhuma. E o que todas as fotos têm em comum é que em nenhuma delas dá para identificar Finn, mesmo que seus braços apareçam em algumas delas, tocando Gracie. 

Eu coloco as fotos em cima da cama e verifico se não há mais nada dentro do envelope. Depois viro cada uma das fotos e atrás daquela em que Gracie aparece nua, há algo escrito. 

Eu estava falando sério.

São 10 mil agora, ou sua gravação vai parar na internet. Quero esse dinheiro até segunda-feira.

— Você viu isso aqui? —eu pergunto, mais apavorada ainda. — Sobre o que ele tá falando?

— Eu encontrei isso no meu armário na escola, na segunda-feira. —Gracie, envergonhada e vermelha como um tomate, com os olhos marejados, me entrega um pedaço de folha de caderno. — Leia.

Eu faço o que ela pede. 

Você deveria ser mais cuidadosa antes de tirar a roupa em qualquer lugar.

Cinco mil dólares é o quanto eu quero para dar um fim nos registros do tempo em que estivemos juntos.. Você tem até sexta-feira para me entregar o dinheiro.” 

— Ele está chantageando você… —concluo, em voz alta. — Por que você não me falou sobre isso antes?

— Porque eu estava com vergonha. 

— Gracie, você não tem que ter vergonha. Porra, para que ele quer tanto dinheiro? 

— Eu não faço a menor ideia e eu também não tenho tudo isso. —e com essa frase ela começa a chorar, se levantando da cama e abrindo a última das gavetas do seu armário. — Isso é tudo o que eu tenho. 

Gracie tira da gaveta uma caixinha de madeira fechada. Na tampa da caixa há uma cruz gravada e o cadeado que deveria mantê-la fechada está aberto. O objeto pequeno é afastado da caixa e Gracie a abre. Dentro da caixa há algumas notas de dinheiro e até algumas moedas. Na parte interior da tampa de madeira há uma imagem de Jesus Cristo. 

— Isso é o que eu tô pensando que é? —Gracie continua em silêncio, tremendo enquanto tira as cédulas da caixa para poder contá-las. — Gracie, esse dinheiro é da igreja?

— São cinco mil e alguma coisa. Eu peguei ontem, depois da missa. 

— Você não pode roubar da Igreja, Gracie, você ficou louca? —eu elevo o tom de voz e ela arregala os olhos em resposta. Nenhuma de nós quer acordar a sua mãe, então eu trato de me recompor. — Eu tô falando sério, você não pode fazer isso. Isso é demais até para mim, imagina pra você. 

— Eu por acaso tenho outra opção? 

— Como você pretende explicar o dinheiro que sumiu da igreja, sua maluca? 

— Adele, eu não tenho nenhuma outra coisa para fazer senão isso e ainda assim eu não tenho o suficiente. O que me resta é tentar falar com Finn e esperar que ele aceite o valor inicial de cinco mil. Isso foi tudo o que sobrou depois das reformas da igreja que nós fizemos com aqueles sete mil reais que algum benfeitor anônimo nos deixou...

Não consigo ouvir mais nada do que ela diz depois dessas palavras. Minha mente acelera. Quem mais doaria sete mil dólares para a igreja, senão alguém que vai sozinho rezar depois da morte de um amigo? 

Finalmente eu entendo. Zayn não podia ir ao velório de Bruce porque a relação dos dois era estritamente “profissional” e provavelmente se sentia culpado o suficiente para sentir a necessidade de pedir perdão na igreja. Talvez ele se sinta culpado o bastante —por todas as coisas das quais ele, de fato, tem uma parcela de culpa— para doar para a igreja e, dessa forma, sentir que está fazendo algo por uma instituição que, por vezes, é a salvação daqueles que enfiam um pé na cova ao comprarem as coisas que ele vende. 

— Eu vou conseguir esse dinheiro para você. —eu a interrompo. — Coloca todo esse dinheiro nessa caixa, tranca essa merda e coloca isso de volta no lugar o mais rápido possível. Eu vou trazer os dez mil para você. 

— De onde você vai tirar dez mil dólares, Adelaide? 

— Isso é um problema meu. —tento ser não grossa ao dizer isso. — Finn quer o dinheiro até segunda-feira, certo? Eu vou chegar na escola com os dez mil. Eu já me fodi por causa de fotos e eu não vou deixar que isso aconteça com você. 

Gracie recolhe as suas fotos de cima da cama e eu abro a porta do seu quarto. Ela me segue escadaria abaixo e eu mesma abro a porta. 

— Adele…

— Relaxa, tá bom? Vai dar tudo certo. —falo, convicta do que digo. — Te vejo na segunda. 

Caminho para fora da sua casa e ouço-a fechando a porta. Acelero os passos enquanto busco por um número nos meus contatos e antes mesmo que eu o encontre as pequenas gotas de chuva já começam a molhar a tela do meu celular. Quando encontro o número, clico na tela para fazer a ligação. Já são duas horas da madrugada, mas eu já liguei em horários e situações piores. 

A chuva se intensifica com uma rapidez que consegue me irritar e só aí eu percebo que esqueci de pedir um casaco para Gracie. Tenho tempo de caminhar até o primeiro local com uma varanda onde eu possa me abrigar até que a minha chamada seja atendida. 

O que aconteceu? 

Só nesse momento eu percebo que eu não pensei nem por um mísero segundo antes de ligar para Zayn. O que eu tenho para dizer? São duas da madrugada e eu preciso de dez mil dólares? Eu podia ter ligado para ele amanhã de manhã, até porque Finn só quer o dinheiro na segunda, então não é como se fosse algo de extrema urgência. Mas eu não pensei, eu só liguei. 

É exatamente no momento em que eu percebo isso que eu desligo o celular. 

E leva só alguns segundos para que ele me ligue de volta.

Que merda aconteceu, Adele? 

— Preciso que você faça algo por mim. —peço, falando alto para que a chuva não atrapalhe que ele me ouça. — Você se lembra de toda aquela merda com Gracie e Finn? —do outro lado da linha, Zayn resmunga que sim. — Ele quer…

Sair da cidade, eu já sei. 

— Eu não falei nada disso. Como você sabe isso, Zayn? 

Ouço Zayn respirar fundo e ouço alguns barulhos ao fundo, como um armário sendo aberto. 

Isso não é assunto pra falar por ligação. Onde você tá? 

Eu sei exatamente o que vai acontecer se eu responder —mas também sei que eu não faria nada diferente disso, respondê-lo. Sei que isso precede uma cena comum: nós dois, dentro do carro, falando merda um para o outro. Mas qualquer coisa é melhor do que esperar a chuva passar embaixo do pequeno telhado da varanda da igreja e, de qualquer forma, eu preciso de dinheiro e se tem algo que Zayn tem de sobra é dinheiro. 

— Na igreja. 

Zayn expira pelo nariz e parece com uma risada, provavelmente porque ele esperava qualquer resposta menos essa. 

Já tô quase aí. 

Ele finaliza a ligação. Sei que ele não está, de fato, quase aqui, mas fico ansiosa como se ele realmente estivesse prestes a chegar. A chuva atinge o chão com violência e eu dou alguns passos para trás até encostar minhas costas na parede da igreja. 

São necessários só alguns segundos sozinha para que a minha mente acabe me levando de volta para o momento de discussão com Emma. Ao mesmo tempo que, preciso admitir, eu concordo com ela, eu também me sinto especialmente machucada. Especialmente porque Emma é a uma das únicas pessoas das quais eu nunca esperei uma reação como essa. Gracie fala o que vem na sua mente, tanto quanto Cassie, mas Emma costuma ser mais racional. Costumava, pelo menos. É claro que eu sei que a minha mãe é e sempre foi uma figura importantíssima na minha vida e que ter essa figura importante tão longe teve grandes impactos na minha vida e, consequentemente, na minha personalidade. Entretanto, ainda assim é horrível ouvir de uma das minhas melhores amigas que eu aceitei me relacionar com alguém que não presta porque minha mãe não me amou o suficiente para que eu aprendesse o que é amor —e embora Emma não tenha usado essas exatas palavras, eu sei que foi isso o que ela quis dizer. 

O carro de Zayn entra na rua da igreja cantando pneu e a velocidade do veículo explica a rapidez com que ele chegou aqui. Sinto um frio na barriga que se intensifica à medida que o Landau se aproxima. Zayn não estaciona o carro, só para o veículo na frente da igreja, quase em cima da calçada, e estica o braço, abrindo a porta por dentro. Eu caminho depressa, tentando evitar que a chuva me deixe enxercada, e entro no carro. 

É uma sensação de nostalgia que mais parece com uma faca sendo enfiada no meu estômago. No instante em que eu fecho a porta eu reparo que a little tree que balança, pendurada no espelho retrovisor, é nova. É do mesmo aroma que usava antes, Black Ice, mas o cheiro é mais intenso. Evito olhar para Zayn, mas aquilo que é contemplado pela minha visão periférica é tentador, minha mente se torna volúvel e eu traio a mim mesma quando viro o rosto.

Seus lábios apertam um cigarro cuja fumaça sai pela mesma fresta da sua janela aberta pela qual a chuva entra. Sua mão esquerda está sobre o volante e a outra se mantem na alavanca de marcha e ele volta a acelerar depois da curva. 

— Tá chovendo demais para você dirigir nessa velocidade. —eu digo, preenchendo um pouco o silêncio. 

Ele reduz a marcha e pisa menos no acelerador. Eu não protesto quando ele tira dos lábios o cigarro, que já está chegando no filtro, e o joga pela janela. Também não digo nada quando ele diminui o volume da música que toca no rádio e que só agora eu percebo que está tocando. 

— Como você sabe que Finn quer sair da cidade? 

— Eu mandei ele sair. —ele responde, indiferente, como se aquilo não significasse coisa alguma. — Você disse que precisa que eu faça algo por você. O que é? 

— Eu preciso de dinheiro. 

Zayn olha para mim de canto de olho. É a primeira vez que ele coloca seus olhos em mim desde aquele dia no hotel em Larimore e eu não consigo explicar como até o seu olhar pesa sobre mim como se ele estivesse, de fato, me tocando. 

— Dinheiro? De que você tá falando? 

— Eu preciso de dez mil dólares. 

Ele aproxima as sobrancelhas, franzindo o cenho, e depois finalmente volta a olhar para a rua quase deserta e imensamente molhada enquanto a chuva continua a cair, os trovões continuam a cantar e os relâmpagos iluminam o céu em tons de lilás. 

— Acho que eu não entendi. 

— É o seguinte, —eu limpo a garganta antes de continuar. — Finn está chantageando Gracie. Ele gravou os dois, sem o consentimento dela, e agora está ameaçando colocar as fotos e gravações na internet caso ela não lhe der dez mil dólares. E como assim você mandou ele ir embora? 

Zayn respira fundo. 

E não me responde. 

— Eu tô falando com você. —digo, impaciente. 

— Eu mandei ele embora, Adele, exatamente isso o que eu já disse. Eu ameacei ele. 

— Você tem que ser mais específico, eu não tenho bola de cristal. 

— Eu fiquei de olho nele por uns dias, descobri que ele faz uma caminhada todos os dias das cinco às seis da manhã, então em um dia eu esperei na porta dos fundos da sua casa e quando ele voltou eu o ameacei e perguntei se ele sabe o que acontece com caras como ele no presídio.

— Você o que? —eu estou tão perplexa que minha voz quase não sai. 

— Perguntei se ele sabe que pedófilos viram putinhas nos presídios. Depois mandei ele ir embora dessa merda e disse que se não fosse ele ia acabar morto. 

— Você ficou maluco, Zayn? Você não pode sair por aí tentando resolver os meus problemas, seu idiota! Primeiro você bate no Kevin, e eu sei que foi você, depois ameaça matar o meu professor? 

Ele olha para mim de novo. 

— Eu não vou matar ninguém, Adele, eu só queria que ele ficasse assustado, você acha que eu sou burro? 

— Eu acho que você é inconsequente, porque agora eu preciso de dez mil para que ele não vaze as fotos da minha amiga! —quando eu percebo, já estou gritando. — Você vai ter que me dar esse dinheiro.

— Você realmente quer dar dez mil para o filho da puta do Finn? Ele é um pedófilo de merda, Adele, eu não vou dar porra nenhuma para ele. 

— Você tem um plano melhor? 

Zayn passa a língua pelos lábios, batendo com os dedos no volante. 

— Eu sempre tenho. 

— Ótimo, e qual é? 

— Se ele não tiver registro nenhum de que a sua amiga esteve na casa dele ele não vai ter mais nada com o que chantagear ela, certo? —eu concordo. — Nós só precisamos entrar na casa dele, encontrar as fotos e gravações e dar um fim em tudo. 

— Se nós formos pegos estaremos fodidos.

— Adele, você esqueceu quem eu sou? Eu já lidei com coisas bem piores. —respiro fundo, analisando a sua ideia que inicialmente parece incabível, mas agora parece uma boa hipótese. — Pode confiar em mim, eu não vou meter você em problemas. 

— Nós vamos fazer isso agora? 

— Não, claro que não. Isso tem que ser planejado. 

Zayn está dirigindo pela cidade sem nenhum destino e ao mesmo tempo que eu quero que ele pare o carro na frente da minha casa para que eu possa descer e fingir que nada disso aconteceu, eu também desejo que esse momento se prolongue, porque eu senti a sua falta mais do que gosto de admitir. 

— Por que você não gostou que eu bati no Kevin? —ele pergunta, me pegando desprevenida. 

— Eu só não gosto que você fique tentando resolver os meus problemas sem falar comigo antes. 

— Eu não resolvi nada, na verdade. —Zayn dá de ombros. — E eu não fiz só por você, fiz por mim também. Acho que ele merecia mais. 

— Você quebrou o nariz dele.

— Queria ter quebrado outras coisas. —ele é rápido na resposta, mas eu sou mais. 

— Isso não é legal. —Zayn ri e eu não entendo. — Por que você tá rindo? 

— Senti falta de você contrariando tudo o que eu digo e falo. —eu fixo o olhar na rua na nossa frente, evitando de olhar para Zayn. Não tenho nada para dizer para ele agora. — Alexa me disse que viu você de Elvira. 

— A peruca já foi pro lixo. —resmungo. — Eu conheci ela, a Violet. 

— Mau momento pra isso, então. 

— Por quê esse é um mau momento? 

— Porque agora é tarde pra você perceber que ela não é nada perto de você. 

Eu quase consigo ouvir o meu coração pulando no meu peito. Sinto os pelos do meu corpo ficando em pé e as palmas das minhas mãos começam a suar. 

— Para com isso, Zayn, por favor. —minhas palavras saem quase como súplica e isso torna tudo ainda mais ridículo. Ou intenso. mas eu me esforço para achar ridículo. 

Ele afasta sua mão direita da alavanca de marcha e mexe o braço. Sei o que ele está fazendo. Sua mão toca meu cabelo, seu polegar toca minha orelha —a que não tem o piercing que Ben colocou— e os seus dedos mergulham no meu cabelo, perto da nuca. Quero fechar os olhos e só sentir. Quero xingar Zayn e mandar ele parar o carro para que eu vá embora. Quero tocar nele também. Quero dizer que eu o odeio. Quero sorrir e beijar ele. Temo que ele também seja capaz de ouvir o meu coração acelerando cada vez mais.

Sinto como se eu fosse sucumbir. 

— Você quer me deixar louca? 

— Você já sabe tudo o que eu quero com você, Adele. —sua voz rouca consegue ser macia ao mesmo tempo em que é grave e tudo sobre ele tem esse toque de bagunça. Esse toque de confusão, de tensão, de eletricidade. Tão natural e intenso como um raio em uma tempestade, que ilumina o céu e faz estragos. — Eu sei que você bebeu o suficiente para ligar para mim, mas eu não sei se essa quantidade o suficiente para isso é muito ou pouco. 

— Você quer saber se eu tô bêbada? —ele assente com a cabeça. — Infelizmente, não. 

— Eu vou ser muito sincero com você agora. Eu tô casado pra caralho de sentir a sua falta. Eu não sei conviver com a dúvida sobre como as coisas teriam acontecido se eu tivesse sido mais corajoso e feito o que eu queria fazer porque eu sempre faço o que eu quero fazer e de covarde ninguém pode me chamar, exceto você. Pedir desculpa nunca foi e nunca vai ser o meu forte mas eu realmente sinto muito por ser sido um filho da puta. 

— Zayn, eu não liguei pra você pra gente voltar para esse assunto. Eu liguei porque queria a sua ajuda com outra coisa. 

— Mas a gente não pode fazer nada quanto aos problemas da sua amiga agora, então ou eu deixo você em casa ou a gente dá um jeito nessa merda. Eu sei que você quer fugir de mim mas quando eu queria fugir das minhas merdas era para você que eu recorria e eu não sei mais fazer de outro jeito. 

Quando eu viro meu rosto na direção dele outra vez, minha bochecha toca no seu pulso. Eu sinto o cheiro do seu perfume, me perco nas tatuagens e sinto uma dor quase física. Não sei como isso pode ser possível, mas ele é a coisa que eu mais quero nesse momento. 

Zayn não me traz quase nenhuma resposta, só mais perguntas. Como ele pode ser tão ruim e tão bom ao mesmo tempo? Foi sorte ou azar ele ter vindo parar justamente aqui? A única certeza que eu tenho é que só há duas maneiras de tudo isso entre nós dóis se desdobrar: se transformando em uma mistura de mágoa, ódio e rancor, ou simplesmente em amor. E eu não consigo imaginar o que pode ser pior, mas, de qualquer forma, vai ser desastroso. 

— É você quem escolhe para onde a gente vai. 

— Nós podemos ficar sozinhos em um lugar de verdade e não um carro?

— Se é o que você quer... —ele responde.

Afasto o seu braço de mim e coloco a sua mão sobre a alavanca de marcha do Landau. Zayn olha para mim, com os lábios entreabertos e uma expressão difícil de ler. O relâmpago ilumina o céu e faz seus olhos brilharem como estrelas. Como uma supernova.

O que eu posso fazer? No final das contas, até as estrelas escolhem a destruição. 

— Então dirige rápido até a sua casa, antes que eu mude de ideia. 

 

❝Nos tocamos, eu sinto uma adrenalina. Nos seguramos, não é muito mas é suficiente pra me fazer pensar o que está reservado pra nós. É desejo, é torturante. Você deve ser uma feiticeira por que você acabou de fazer o impossível: ganhou minha confiança.

Eu não estava procurando mas eu tropecei em você, deve ter sido o destino. Mas tem muita coisa em jogo, que merda mais precisa? Vamos direto ao ponto, mas uma porta fecha na sua cara. Prometa-me que se eu ceder e chorar e me deixar todo exposto eu não estarei cometendo um erro. ❞

Eminem — Space Bound


Notas Finais


espero que tenham gostado ♥♥ perdão pela demora, vou tentar voltar mais rápido pro próximo.
não esqueçam de comentar o que tão achando hihi eu adoro saber a opinião de vcs sobre o que tá rolando.

até o próximoooo!

xoxo♥


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