Em pleno anos 90, Hyungwon era um adolescente totalmente despreocupado, não ligava pra nada e só queria saber de farra e sendo descolado e popular isso era o que não lhe faltava. De segunda a segunda você veria o garoto em alguma festa de rua, batalhas de canto que acontecia em qualquer lugar, organizadas tão superficialmente.
É até apavorante saber que com dezoito anos ele frequentava todo o tipo de lugar, mas apesar de tudo, pelo menos um pouco de juízo o garoto tinha.
Mas aquela semana estava totalmente diferente. O colégio tinha comunicado aos seus pais tudo que ele não queria que eles soubessem e se engana quem pensa que só por ser maior de idade os pais não lhe dariam um puxão de orelha e um castigo bem dado, porque foi exatamente isso que aconteceu. Sentado na sacada com um livro de química nas mãos em plena sexta feira, relembrando o quanto seus velhos dias — lê-se semana passada — de farra eram bons. Respirou fundo ouvindo um som alto não muito longe dali, ou vendo alguns carros passando com adolescentes animados, a juventude é cruel.
Ele suspirou e se jogou na cama, a calça do pijama um pouco larga no quadril tinha descido um pouco para baixo, o vento frio que vinha da janela tocava a pele do dorso desnudo arrepiando um pouco, a melodia forte de we will rock you também entrava e fazia as parede tremerem.
Com um suspiro forte ele levantou da cama e fechou o vidro, tentando de algum modo bloquear a passagem do som e fazer sua cabecinha de adolescente esquecer que ele devia estar na festa que ele mesmo organizou.
Para falar a verdade, Chae sempre foi esse tipo de jovem, festeiro e fanfarrão.
A pressão que tinha dos pais sempre o fizera dentro da escola já era o bastante, então para aliviar tudo festas e distração era uma boa.
Conseguir conciliar boas notas com um bom entretenimento até o primeiro ano do ensino médio foi fácil, mas quando a popularidade começou a "pesar" os estudos acabaram ficando de lado e as notas caindo, brigas na escola, relacionamentos que segundo os pais "tiravam o foco".
O menino suspirou fundo mais uma vez antes de sua mãe bater na porta.
— Eu e seu pai estamos saindo, teve uma emergência na família, se eu souber que você colocou o pé pra fora dessa casa, está perdido.
Chae nem fez questão de concordar, pelo menos ela não tinha o obrigado a ir junto, ele revirou os olhos, mas antes da mãe fechar a porta ela voltou.
— E nada de trazer alguém aqui 'pra dentro. Você já sabe das experiências horríveis que tivemos por conta da sua falta de responsabilidade, espero que dessa vez seja diferente. — Ela bateu a porta e Hyungwon se sentou na cama.
Na verdade, todo esse castigo tinha sido por conta de uma reprova em matemática e uma briga com o representante de sala — que veio fazer piada sobre o menino no meio do discurso. — E no final, lhe rendeu uma suspensão e um roxo na mandíbula perfeita, além de claro, o castigo dos pais.
O menino ouviu o carro dos pais partir, levantou procurando a garrafa do uísque caro que sempre deixava escondida, em todos esses anos nessa indústria vital não ficar alto em plena sexta feira a noite era meio esquisita e quando finalmente achou não perdeu muito tempo virando um gole da garrafa.
A cabeça de adolescente, cheia de ideias e maneiras de se livrar daquela prisão que chamava de lar, deu uma acalmada quando o álcool entrou na corrente sanguínea.
Hyungwon foi até a caixa de discos e puxou o do Green Day, conseguiu equilibrar a garrafa da bebida embaixo do braço e com um pouco de dificuldade conseguiu colocar o disco para tocar.
Basket Case começou com a voz forte de Billie Joe Armstrong ressoando pelo quarto todo, ele sorriu um pouco com a letra.
"Você tem um tempo para me ouvir choramingar, sobre tudo e nada, de uma vez só?"
Ele se jogou na cama, não se preocupando em se levantar para beber, não seria problema engasgar com a bebida e morrer de vez.
Os olhos foram em direção ao porta-retrato pendurado na parede em sua frente.
Lee Hoseok, melhor amigo e ex namorado.
Era engraçado para Chae pensar que um dia achou mesmo que Hoseok seria seu. Tudo tinha caído por terra quando encontrou o cara que chamava de namorado fudendo no banco de trás do Cadillac cor de rosa com uma garota que ele nem fez questão de lembrar o nome.
Depois disso ele sumiu, jurou de pé junto que nunca mais queria Hoseok dentro de sua vida e assim foi feito.
Vez ou outra eles se esbarravam em alguma festa por conta do ciclo de amizade, ou quando bebiam demais em uma festa e acabavam se beijando encostados em um muro qualquer, mas nada a mais que isso.
No momento de reflexão percebeu a garrafa vazia, o disco já tinha começado a tocar pela segunda vez.
O moreno levantou e abaixou um pouco o volume, mais uma vez ele se identificou com a letra. Ele era "paranoico até os ossos".
Antes de conseguir voar pra cama novamente, ele ouviu os barulhinhos de pedra na janela, talvez fosse alguns dos amigos o tentando tirar de casa, eles tinham esse costume de não tocar a campainha para despistar os pais.
Andou rindo um pouco, lento demais para uma pessoa normal, seu corpo entorpecido e mole com o álcool, abriu a porta da varanda um pouco confuso com a sombra que viu na fora.
— O que você está fazendo aqui? — O sorriso morreu no rosto bonito e suas mãos apertaram o parapeito.
— O que eu sempre quero fazer quando a gente se encontra. — Lee Hoseok tentava se equilibrar na escada que subia na varanda.
— Eu já disse da última vez, quero você fora da minha vida.
— Eu sei, finge que eu sou um homem louco andando por aí, tipo aqueles que você pega nas festas. — Hoseok entrou finalmente na sacada, seus braços ágeis viraram Hyungwon de costas para as grades. — Querendo ou não, você sabe que precisa disso.
— Fala logo, Hoseok! O que você veio fazer aqui. — Chae desviou o corpo do outro e se sentou na cadeira.
— Já falei. — Lee tirou um maço de cigarros do bolso da jaqueta de couro e pegou um. — Tem fogo?
Hyungwon puxou o isqueiro prateado do bolso e acionou a chama em direção ao outro, depois de uma tragada, Hoseok afastou da boca.
— Vamos comigo, 'pra um lugar.
— Estou de castigo, Hoseok. — Hyungwon voltou o olhar para frente, suas mãos tremiam.
— Por favor, Chae. Você sabe que ninguém nunca vai te substituir, esquece isso. — O Lee chegou mais perto, a mão livre segurou o queixo do mais novo, o fazendo direcionar o olhar para ele.
O moreno segurou muito para não desabar ali, Hoseok apesar de passado, era um passado recente, tenso demais para a cabeça fraca de Hyungwon aguentar, mas como já foi dito, ele precisava daquilo.
— Você tem uma hora. Eu preciso sair daqui de qualquer jeito. — Chae levantou e entrou, deixando o outro na varanda.
Não fez questão de trocar a calça do pijama, caçou um moletom preto no guarda roupa, e os all star surrados foram tirados de debaixo da cama.
— Precisamos descer por aqui, você sabe sobre todo o sistema dessa casa. — Sem mais perguntas feitas, eles desceram a escada bamba e foram rapidamente em direção ao Cadillac 1963 cor-de-rosa estacionado um pouco escondido perto de uma árvore.
— Você nunca vai largar desse carro, não é? — Chae falou mais para si mesmo do que para o homem ao seu lado.
— Não, eu não vou.
Eles entraram em silêncio, Hyungwon viu o fardo de Coca-Cola e o violão decorado no banco de trás, não fez questão de colocar o cinto de segurança.
A melodia tranquila de wonderwall preenchia o silêncio que tinha dentro do carro, Hyungwon prestava atenção no caminho e batucada os dedos na janela junto com a música, ele já sabia onde estavam indo.
A floresta atrás da piscina abandonada tinhas várias entradas, mas só uma onde era impossível ser pego, e só Hoseok e Hyungwon sabiam dela.
— Faz tempo que eu não vinha aqui. — Hoseok falou com a voz firme, seu rosto se manteve impassível e os olhos para frente, guiando o carro para finalmente entrar naquela clareira linda demais para ser descrita em palavras.
Hyungwon soltou um muxoxo baixo, só para indicar que tinha escutado, a música tinha mudado para uma mais agitada.
All that She Wants do Ace of Base, tomou conta com a melodia envolvente, o motor do carro foi desligado, mas o som ainda continuou.
— Nossas últimas conversas foram como um adeus. — Hoseok suspirou chegando um pouco mais perto.
— Você sabe que foi, eu não te quero mais na minha vida. — Hyungwon virou o rosto, seus olhos se perderam por uns instantes na floresta escura.
— Tudo bem, eu não vou fazer nada se olhar nos meus olhos e dizer isso. Você não consegue olhar pra mim e pedir para ficar fora da sua vida. — Lee encostou no banco, antes disso pegando uma lata do refrigerante no banco de trás. Hyungwon suspirou virou-se procurando o olhar do outro garoto.
— Você é um fodido de merda, conhece todas as minhas fraquezas e você é a pior delas.
— Eu preciso disso e você precisa disso.
— Você me enganou, eu achei que você nunca poderia quebrar meu coração.
— Cães famintos nunca são leais, Hyungwon.
Chae deixou a cabeça voar, seus olhos prenderam no olhar do menino a sua frente, ele repensou um pouco o que poderia fazer.
Dar um soco no rosto lindo, ou simplesmente deixar tudo rolar.
— Você é a porra de um gostoso, e eu te odeio por ter tanto controle sobre mim.
Chae avançou para o colo do menino, um beijo cheio de desejo e raiva se iniciou e por ironia do destino o rádio do carro tocava No diggity, que fez o moreno rir um pouco.
As mãos fortes e geladas de Hoseok tocaram a pele do amante por baixo do moletom, enquanto isso as mãos ágeis de Hyungwon puxaram um pouco o cabelo do outro.
— Eu tentei seguir em frente, mas ninguém é você. — Os olhos do Lee se encontraram com o rosto do castanho.
Hoseok arrepiou quando depois da frase dita, Hyungwon lambeu o lóbulo de sua orelha.
Lee guiou a cintura do outro, fazendo-o rebolar um pouco, o gemido rouco e os sons dos beijos que Hyungwon dava no pescoço do mais velho.
— O que você diria se eu lhe dissesse que realmente quero te foder agora? — Lee sussurrou passando a mãos pela bunda do outro.
— Eu diria para deixar marcas, idiota. — Mais um beijo cheio de desejo foi dado.
O tesão ali era palpável, o conversível já sem o teto facilitava muito as coisas e o lugar já não importava contanto que eles pudessem se amar, porque em frente as estrelas e longe de todo mundo, as almas perdidas finalmente se encontravam.
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