História Lua Nova - LEE TAEMIN - (0.01) Prólogo.

O inverno tinha chegado cedo este ano e sua brisa congelante já tinha arrancando todas as folhas das árvores, antes mesmo que ficassem amareladas e secas, fazendo assim a nossa pequena vila ficar coberta de branco. Ah, a neve acumulando cada vez mais na janela do meu quarto cintilava com a luz do sol matinal. E o chão das calçadas permaneciam congeladas especialmente no entardecer, quando elas se tornava cada vez mais escorregadias.

O inverno tinha realmente chegado com toda sua força e esplendor este ano, e com isso toda vila estava se preparando para fazer mais uma oferenda ao famoso devorador de noivas. Dessa vez era a família Kim, quem mandaria alguém. Eles disponibilizaram a sua filha mais velha. Jangmi. Ela é uma moça gentil, bondosa e dona de uma beleza estonteante. E o que todos sempre dizem.

E com ela não aconteceria diferente das outras vezes. Não mesmo. Nem sei como a garota concordou e assinou a própria sentença de morte diante de todos com tamanha felicidade no rosto... Ver todas aquelas pessoas festejando por sacrificar outra pessoa me deixava enjoada e bem irritada com toda essa situação pois já testemunhei várias moças sendo enviadas como oferenda desde muito nova, tudo era bem complexo e todas elas continham um sorriso nos lábios orgulhosas de si mesmas por estarem trazendo prosperidade para a família... Mesmo sabendo que uma vez, uma unica vez que atravessem para outro lado da floresta não teria mais volta. 

Ninguém nunca voltou para contar o que tem lá.

Sou filha bastarda fruto de um romance entre um Duque e sua criada. Tudo isso se mantém em segredo por vários anos. Não sou a típica filha amada por sua mãe muito pelo contrário. Vejo a minha querida mãe rezando pelo dia em que serei um dos sacrifícios para seja lá o que for que há naquela parte sombria da floresta.

Como se eu fosse aceitar de bom grado igual todas as moças tolas e ingênuas que se foram. Pelo contrário. Já tenho um plano feito a anos caso isso venha acontecer.

— O que está fazendo? Vai já fazer os seus afazeres logo. Você e eu não somos nenhuma princesinha S|N. — Sulli chamou minha atenção. — Vamos entrar antes que sua mãe perceba que você não está na cozinha. — Segurou o meu pulso me puxando para fora do pequeno cômodo.

Sulli é minha única e melhor amiga, a única pessoa no mundo que se importa comigo de verdade. Cuidamos uma da outra como irmãs. Sempre.

— Hoje a Jangmi será sacrificada — Comentei. — Nunca irei concordar com essa maldita tradição idiota que o Clero impôs sobre nós! — Me pus a caminhar a seu lado — Isso é uma loucura! Totalmente desumano! Como podem sacrificar pessoas como se fosse algo normal e ainda por a cabeça no travesseiro e dormir a noite!? — Bufei irritada.

— Não diga essas coisas tão alto assim. Você quer ser enforcada por conspiração? — Sussurrou, apenas dei de ombros não me importando. — Lembre-se da última vez que você conspirou contra a filha mais velha do Duque? Ainda dá para notar as cicatrizes nas suas costas! — Disse séria. — E sei que doem a noite.

— Aquela metida... O que não te mata te torna mais forte. Além do mais, eu só disse a verdade. Não tenho culpa se ela se encontra com o filho do general e me incomoda com os seus gritos a noite! — Disse sorrindo e ela me repreendeu com o olhar — Não me olhe assim Su, você sabe muito bem que ela mereceu ser flagrada no ato pela sua requintada duquesa que sempre manteve a sua filhota num pedestal como se fosse uma santa. — Riu fraco — Viu só? Até você concorda comigo.

— Não me comprometa com sua confusões. Vamos antes que a senhora Jung arranque o seu pescoço e sirva no jantar. — Disse segurando o riso.

Chegamos a cozinha e lá estava a minha mãe com o mesmo humor de sempre, sendo a governanta da casa. Era assim que ela mantinha o seu posto e não tolerava atrasos ou qualquer outra falha feita pelos criados.

— As duas estão atrasadas! Vocês são pagas para trabalhar e não para fofocar pelos cantos. Comecem já a limpar o salão antes que eu perca a paciência! — Ríspida e seca olhou para minha amiga. — Espero que isso não se repita Sulli. Eu esperava isso da S|N mas você é quem mais necessita do pagamento. — Sorriu cínica.

— Eu acabei atrasando ela, a senhora sabe muito bem que quase sempre me atraso... foi minha culpa. — Falei séria encarando seus olhos severos — Se a senhora quiser pode descontar do meu pagamento. — Lhe dei as costas pegando os materiais de limpeza e saindo com a Sulli.

Passamos a tarde limpando a casa do duque que é enorme. Inclusive tivemos que limpar todos os cômodos não que realmente fosse necessário mas todos os dias era a mesma coisa, minha mãe fazia isso como forma de punir nós duas. Mais já nos acostumamos. E já passavam das oito horas isso significava que o sacrifício já havia acontecido.

— Viu ele? — Sulli perguntou.

— Não.

Eu e ela estávamos no jardim procurando pelo bichinho de estimação da duquesa. Segundo ela o animal teria fugido sorrateiramente na direção do jardim o que eu duvido. Procuramos esse gato por toda a parte e não o encontramos. De repente nós duas nos assustamos quando vimos alguns soldados do clero adentrando a casa.

— O que esses demônios vieram fazer aqui? — Perguntei baixinho.

— Não faço idéia mais algo me diz que não é nada bom. — Disse esfregando as mãos sobre os braços na esperança de se proteger do frio. — Vamos entrar. Talvez possamos saber de algo. — Assenti e caminhamos até a porta dos fundos da casa.

Lá estavam todas as criadas. Elas estavam estranhamente inquietas como se estivessem assustadas ou com medo de algo. Sulli me olhou por alguns minutos notavelmente preocupada.

— Que bom encontrar todas vocês juntas! O Duque quer a presença de todas vocês na sala de estar. — Disse minha mãe adentrando a cozinha com um sorriso quanto tanto esquisito nos lábios, me olhando — Se apressem e vão logo, não deixem o Duque esperando. Principalmente você querida. — Sussurrou me segurando perto dela.

— Estou com um mal pressentimento S|N… 

— Não se preocupe. Aconteça o que acontecer vamos encarar tudo juntas. — Segurei sua mão fortemente. — Somos irmãs certo. — Ela riu. — Não de sangue. Mas confie em mim, hum?

Assim que chegamos a sala de estar nos deparamos com o líder do Clero a nossa espera, uma sensação ruim tomou conta do meu corpo enquanto formamos uma fila contendo sete mulheres incluindo a Sulli e eu.

— Essas são as melhores criadas da casa. Todas são moças puras e se encaixam perfeitamente no perfil que o senhor está procurando! — Disse o duque.

— Você tem mesmo razão. Todas elas são tão lindas quanto a filha do Conde Kim. — Sorriu pretensioso observando cada uma de nós atentamente. A mim principalmente. — Descobrimos que a filha mais velha dele não era uma moça pura como pede a tradição... Assim tivemos que devolvê-la para sua família e correr contra o tempo para encontrar uma substituta à altura! — Disse próximo a mim me encarando nos olhos com um brilho negro queimando. Senti seus dedos em minha bochecha antes de passar a brincar com uma das mechas que havia se libertado do coque.

— O nosso líder irá escolher uma de vocês para substituí-la. Com isso a família da escolhida ganhará uma compensação generosa da minha parte! — Disse o Duque.

Como posso ser filha de um homem como ele? É tão repugnante e agindo dessa forma só me faz odiá-lo ainda mais.

O líder do clero observou todas nós mais uma vez, uma por uma. Parecendo procurar por algo que não sei bem como explicar o que era, e quando terminou sua inspeção sorriu macabro mirando Sulli. Se eu fosse outro tipo de pessoa ficaria feliz. Mas ela era como uma irmã pra mim. Apertei meus dedos no pulso dela que se mantinha agarrada em minha saia, vi bem na hora que aquele homem olhou atentamente isso. Como um cão sentindo o cheiro do medo.

— Eu já escolhi qual delas será o nosso sacrifício. Ao meu ver ela se sairá melhor do que a anterior! — Disse e andou até a Sulli — Essa moça é perfeita. Como não poderemos retomar o ritual agora vamos prepará-la para amanhã bem cedo! — Disse me deixando incrédula — Sabemos que elas tem que ir de livre e espontânea vontade... — Sussurrou como se estivesse me dando uma escolha.

— S|N não... — Sulli sussurrou sabendo o que eu pretendia.

— Não pode levá-la... Por favor me leve no lugar dela! — Digo alterada e ele riu contente vendo as lágrimas escorrerem solitárias nas maçãs de meu rosto. — Estou avisando! Não irei deixar que a levem! — Me coloquei à frente da Sulli a protegendo daquele homem.

— Muito corajosa para uma fedelha! — Ele lambeu os lábios como uma víbora. Senti o aperto de seus dedos no meu queixo quando o Duque fez um simples e rápido movimento consentindo — Podem levar. É essa atrevida aqui.

Mesmo sendo menor e mais fraca eu lutei até o último momento sendo arrastada para fora da casa sem ao menos me despedir de Sulli.