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História L'ultimo Ballo - Sette


Escrita por: lutteando

Notas do Autor


>>Música do capítulo: Devuélveme El Corazón – Sebastian Yatra<<

PLÁGIO É CRIME! ©
Boa Leituraaa

Capítulo 8 - Sette


Fanfic / Fanfiction L'ultimo Ballo - Sette

“Eu sinto uma falta imensurável da Luna, está sendo mais difícil do que eu cheguei a pensar”


Oxford, Inglaterra
Fevereiro de 2018

Matteo Balsano

— Vocês têm que entender que para ser músico não basta apenas saber cantar. Vocês precisam dominar a voz, descobrir até que nota suas cordas vocais são capazes de atingir. Saber usar o diafragma ao seu favor e não contra vocês. E o mais importante, saber controlar as suas emoções, vocês não podem deixar transparecer para o público o medo que estão sentindo. Podem aprender isso e muito mais no curso ou podem sair daqui da mesma maneira que chegaram, perdidos. É uma escolha totalmente de vocês, nós apenas iremos ajudar, dar-lhes uma base, uma orientação, não depende de nós o vosso sucesso — a professora Marie Sgreev falava e eu mexia-me desconfortavelmente na poltrona acolchoada de um dos enormes auditórios que tinham espalhados pelo prédio. As palavras dela me causavam calafrios, será que eu serei capaz de chegar até o final? Ou serei um completo fracasso? Isso estava me perturbando.

As duas primeiras semanas foram apenas de aulas de extensivo de inglês, já que era obrigatório para a grade curricular de intercambistas. E nas duas semanas seguintes tivemos algumas seleções para saber quem continuaria no curso e quem daria adeus ao sonho de ser um músico. A cada eliminação que ocorria eu suava frio com medo de não conseguir chegar até o final. Por mais que eu não fosse pegar toda a grade curricular do curso, necessitava passar pelo teste também.

Chegamos aqui como um grupo com mais de mil pessoas e agora não passávamos de duzentos. E todos lutaram incansavelmente para conseguir chegar aos 40 finalistas que teriam uma bolsa para iniciar e se especializar no curso.

— Muitos chegam aqui sabendo cantar, porém, são poucos os que saem daqui como verdadeiros músicos. E podem ter certeza que eu vou sugar tudo o que vocês têm, até que saíam por aquelas portas como profissionais dedicados e já com opções de trabalho em mãos. Espero que vocês façam o mesmo comigo e com todos os outros professores, não se importem em sanar suas dúvidas até não termos mais nada para oferecer. Já disse e voltarei a repetir: tudo depende de vocês — terminou de falar e o eco dos aplausos zumbiu em meus ouvidos. Estava tão em choque que não conseguia realizar a simples ação de bater uma mão contra a outra para aplaudir.

— Agora nós iremos fazer a Seleção final. — Outra professora começou a falar. Diferente da Marie, ela deveria está na faixa dos cinquenta anos e sua voz era calma e transmitia tranquilidade, se não me engano seu nome é Silvana Cook. — Cada orientador ficará responsável por cinco alunos. Então, na medida que forem sendo chamados, sigam o professor para fora do palco e ele irá direcionar vocês para uma sala, lá ele irá passar as informações necessárias e como vai funcionar tudo dentro do curso. Para os que não conseguiram, nós sentimos muito e agradecemos por terem tentado, mas infelizmente, não foi dessa vez. Muito obrigada. — Ela terminou de falar e todos voltaram a aplaudir. Agora eu já estava mais relaxado e aplaudi juntamente com os outros.

Na medida que os orientadores chamavam os selecionados, o ar do ambiente ia ficando cada vez mais cheio de tensão. O desespero já estava presente em cada pessoa naquela sala que ainda não teve o seu nome chamado. Eu era uma dessas muitas pessoas, o desespero apenas cresceu quando percebi que só faltavam dois orientadores a anunciarem os últimos alunos que entrariam. Somente mais dez pessoas. Respira Matteo, você é o melhor e irá conseguir.

A próxima foi a professora Marie Sgreev, ela tinha um papel em mãos e suas feições eram sérias, nenhuma novidade, já que desde a primeira vez que a vi sua expressão era fechada.

— Boocker, Amelia.

— Holster, Dylan.

— Balsano, Matteo.

Levantei a cabeça rapidamente ao ouvir meu nome, um suspiro de alívio foi eximido de meus lábios. Eu consegui, puta merda, eu realmente consegui. Pisquei os olhos algumas vezes voltando para a realidade e levantando da poltrona onde esperava. Ela chamou as outras duas pessoas que faltavam e a seguimos para fora do palco, onde paramos em um corredor extenso com várias portas fechadas.

Mas antes de sairmos do auditório, eu olhei para trás e vi uma mistura de sentimentos estampados nos diversos rostos remanescentes naquela sala e, pela primeira vez desde que a seleção começou eu fiquei triste por aquelas pessoas que não tiveram a chance de realizar esse sonho. Ao longe, vi o menino que falou comigo assim que iniciou o primeiro dia do processo seletivo. Sua pele pálida agora estava em um tom esverdeado e ele suava bastante. Imaginava que eu deveria me encontrar em uma situação não tão diferente da dele.

Entramos em uma sala pequena que acomodava algumas cadeiras dispersas pelo local formando um semicírculo e uma mesa perto da parede. Sentei na cadeira perto de uma garota loira e de altura mediana, acho que seu nome é Amelia. Parei para analisar o restante do grupo, além da Amelia tinha apenas outra garota, uma morena de grandes olhos castanhos e três meninos. Um ruivo de sardas por todo rosto, seu nome era Dylan e se me lembro bem ele era Irlandês, o outro era moreno e tinha a pele bronzeada, ele também fazia aula de inglês e sabia que era brasileiro, se chamava Rodrigo. O último era um loiro com cara de deboche, não sabia muito sobre ele, mas pelo seu sotaque ele era britânico. A sala permaneceu em um completo silêncio por bastante tempo até a senhora Sgreev começar a falar.

— Quero parabenizar vocês, não vejo muita necessidade nisso, mas é de praxe aqui na faculdade — ela falou com um tom sério e autoritário. — Espero que vocês saibam que não estão aqui por serem melhores do que os que não se classificaram. Vocês foram escolhidos porque vimos potencial de crescimento em vocês, vimos dedicação. Não são excelentes, longe disso, vão ter que suar muito para ser alguém de importância nessa carreira. A porcentagem de pessoas que conseguem aderir sucesso nesse ramo é baixíssima e já devem saber isso.

Um calafrio subiu por minha espinha e percorreu por todo o meu corpo. Desde o primeiro momento que a vi eu sabia que ela era extremamente exigente e fiquei com um pouco de receio por ela ser minha orientadora. E pela primeira vez eu não era aquele Matteo confiante que sabia que era o melhor e que sempre teve o que quis. Eu não estava mais naquela bolha na qual vivia em Buenos Aires, aqui tudo era diferente, via pessoas que tinham talento e que passariam por cima de tudo e todos para terem fama e sucesso. Eu já fui como aquelas pessoas, sempre quis ter tudo, mas ao encarar a realidade do mundo, eu percebi que com esses pensamentos egoístas eu não chegaria a lugar algum. Claro que eu ainda tinha confiança e sabia que era bom. Droga. Involuntariamente meus pensamentos pararam nela, na Luna, em como ela me ajudou a ser melhor, não apenas para os outros, mas principalmente para mim mesmo.

— Para quem ainda não me conhece, eu sou a Marie Sgreev, professora de canto e de teatro musical, também sou a atual coordenadora do departamento de música. — Ela apresentou-se para o grupo e seguiu falando. Surpreendi-me ao descobrir que ela era a coordenadora do curso, já que sua aparência era de alguém novo e que aparentava ter acabado de iniciar neste trabalho. Mas a sua voz autoritária e o medo que causava, demonstravam exatamente o contrário. — Espero que vocês tenham entendido que eu não vou dar moleza, saibam que mesmo sendo uma caminhada árdua e cheia de desafios, no final valerá a pena.

Ela seguiu falando sobre a dinâmica do curso e de como ela trabalharia nos orientando. Minha vontade era de sair correndo para fora daquela sala, mas continuei sentado ali, apenas ouvindo tudo que ela tinha para falar. Observando os outros cinco alunos, percebi que não era o único desconfortável e com vontade de sumir. Mas todos disfarçavam muito bem. A professora terminou o discurso e nos liberou logo em seguida.

Estava tão distraído em meus pensamentos que acabei me assustando quando alguém falou perto de mim.

— Só eu que fiquei com medo dela? — a pessoa perguntou enquanto andava ao meu lado e arrumava sua mochila nos ombros.

— Com certeza não. São poucos as pessoas que conseguem me deixar intimidado e ela, foi uma dessas pessoas. — Sorri de lado me permitindo olhar melhor para a garota. Era a loira que estava sentada ao meu lado, olhando por fora a primeira impressão que qualquer um tem é que ela era metida e egocêntrica, mas quando você tem a oportunidade que eu estou tendo de falar alguns segundos com ela, você percebe o quão gentil e espontânea ela é.

— Sou Amelia Boocker, mas pode me chamar de Mia. — Ela se apresentou e estendeu a mão para um cumprimento.

— Matteo Balsano. — Fiz o mesmo processo apertando sua mão. — Você é daqui da Inglaterra?  — perguntei apenas por curiosidade, já que não tinha visto ela nas aulas de inglês, mas também ela não tinha sotaque britânico.

— Não, sou canadense — ela disse. Explicado. — Mas você eu tenho certeza que não é, seu sotaque te entrega bad boy — soltei uma gargalhada com o apelido. Acho que já é algo natural darem apelidos desse gênero para mim. Ao mesmo tempo que sorria eu me sentia desconfortável. Por que tudo tem que me lembrar dela? — De onde você é?

— Sou um pouco daqui e dali, meus pais são diplomatas, então sempre estávamos nos mudando, já morei em vários lugares, mas meu país de origem é a Itália — respondi a sua pergunta enquanto caminhávamos para fora do prédio.

— Que legal, meu sonho sempre foi conhecer a Itália. — Seus olhos brilhavam de empolgação e sua voz era quase cantada.

— Quem sabe um dia. — Sorri com o jeito animado dela. Por incrível que pareça eu estava confortável com a presença dela, o que é bastante difícil. Acho que isso se dava por ela ser extremamente receptiva e falar bastante.

— Acho que seria incrível — ela disse ainda animada e olhou para baixo, conferindo as horas no relógio de pulso que usava. — Essa é minha deixa, até segunda bad boy. — Deu um aceno leve e foi embora.

Segui para fora do prédio antes que me atrasasse e acabasse perdendo o horário do metrô passar.

 

Estava em frente a casa de fraternidade onde acontecia a grande festa de retorno as aulas, que para eles era o fim de suas liberdades.

Adolescentes com hormônios a flor da pele que não perdiam tempo em transar com a primeira opção que aparecesse diante deles. Pelo que fiquei sabendo, qualquer coisa é pretexto para eles organizarem uma festa por aqui.

O cheiro de maconha e de sexo — quase que imperceptíveis do lado de fora — ficava cada vez mais forte na medida em que entrávamos na casa. Aquilo era quase uma orgia e as pessoas ali não estavam preocupadas com nada disso, muito menos em causar uma boa impressão.

No meio da sala, um grupo consideravelmente grande de pessoas formava um círculo em volta de algo que instigava a curiosidade de todos para aproximarem-se e ver o espetáculo que acontecia ali. Eu apenas preferi ignorar aquilo e continuei em direção a cozinha pegar algo para beber.

Antes de chegar no meu destino, voltei a olhar naquela direção e consegui ver a cena que acontecia ali. Uma mulher seminua estava deitada sobre uma mesa com bebida por todo o seu corpo, enquanto outra sugava o líquido lentamente. No momento em que ela lambeu o líquido no vale dos seios da outra, chupando e com um sorriso sacana no rosto, a euforia dos homens presentes e que observavam aquilo foi enorme. Confesso que fiquei extremamente excitado. E quando voltei a olhar para a mesa, jurei que tinha visto a Luna deitada no lugar da mulher. Meu Deus, o que estava acontecendo comigo? Balancei a cabeça tentando tirar aquela imagem da minha mente, a Luna nunca faria uma coisa como aquelas, eu tô enlouquecendo.

Apressei os passos para chegar logo a cozinha e esquecer da... daquilo. Não acreditava que tinha ficado duro só em imaginar a Luna deitada naquela mesa. Segurei forte no balcão e abaixei a cabeça, tentando inalar a quantidade necessária de ar para regularizar a respiração.

Uma mão tocou meu ombro e eu pulei com o susto. Gastón estava ao meu lado com cara de preocupação.

— Por que você tá assim? Te deram um banho ou isso é suor? — ele perguntou, apontando para o meu rosto, que percebi agora está completamente molhado de suor.

— Eu não consigo, eu acabei de imaginar ela deitada naquela mesa, eu a vi deitada naquela maldita mesa.

— Vamos com calma... — Gastón falou e fez uma cara fingida de pensativo. — Com certeza eu sei a quem você está se referindo. Mas, sinto informar que o céu nublado está cobrindo a sua Lua.

— Não tô com paciência para suas piadinhas — falei irritado e com a voz elevada. Corri com as mãos por meus cabelos até chegar na nuca.  — Estou indo embora, essa festa já deu para mim.

Não me importei em pedir licença ou desculpas para as pessoas com quem esbarrei. Respirei aliviado quando me encontrei no exterior da casa, tudo lá dentro me sufocava. Olhei para o céu em busca de algum auxílio, de uma resposta. Decidi que iria voltar para o apartamento caminhando, já que precisava espairecer a mente. Meus planos de beber para esquecer tudo foi arruinado no exato momento em que coloquei os pés naquela casa, então precisava encontrar outra maneira de fazê-lo e não tinha jeito melhor do que andar sentindo as rajadas de vento cortando o meu rosto.

Já fazia uns dez minutos que eu andava quando senti algumas partículas de água me atingir, pouco a pouco a chuva foi ficando cada vez mais forte, até o ponto de eu me encontrar completamente encharcado. Meu cabelo estava grudado na testa e gotículas que se encontravam acumuladas nele caiam sobre o meu rosto. A sensação era maravilhosa e eu estava me sentindo bem mais aliviado, toda a tensão se esvaindo do meu organismo.

Um dia eu sei que irei superar, um dia.

Passei o final de semana de cama por causa do banho de chuva que acabei tomando na sexta feira. Minha cabeça parecia pesar mil quilos, minha garganta ardia, principalmente quando falava ou tentava comer alguma coisa, sem contar que o meu corpo estava completamente dolorido.

Era segunda e apesar de não estar cem por cento renovado, arrumava-me para ir a faculdade. No primeiro horário começaria a minha tortura com as aulas de administração, depois seguiria para o prédio de artes e teria finalmente a primeira aula de música. Coloquei minha bolsa no ombro e caminhei junto com Gastón até a estação para pegarmos o metrô.

A minha primeira aula do dia era de teoria geral da administração, nunca senti tanto sono. No segundo horário tive aula de fundamentos da música, onde estudávamos sobre o surgimento das primeiras notas musicais, cifras e mais um monte de baboseiras que na minha opinião eram desnecessárias. As outras duas aulas foram igualmente entediantes e tive apenas uma junto com a Amelia, que foi exatamente a última.

Agora andávamos lado a lado pelos extensos corredores para fora do prédio, enquanto conversávamos sobre coisas triviais. Concordei em acompanhá-la para comer alguma coisa em uma lanchonete que tinha ali perto.

— E então, o que está achando dessas incríveis primeiras aulas? — ela perguntou irônica enquanto seguia para uma mesa mais escondida e se acomodava em uma cadeira.

— Esplêndidas — falei rindo enquanto sentava na cadeira em frente a sua.

— Não te vi no primeiro horário, houve algum problema? — Pegou o cardápio que tinha em cima da mesa e começou a ver as opções.

— Na verdade eu sou mesmo aluno do curso de administração, de música eu só pego algumas disciplinas extras — disse pegando o cardápio que ela me estendia por cima da mesa.

Pedimos a nossa comida e ela começou a puxar assunto, perguntando como era viajar pelo mundo e conhecer milhares de lugares diferentes, contou que seu maior sonho era viajar por todo o mundo e que nunca saiu dos arredores da América do norte até decidir ir estudar em Oxford. Em resposta a sua pergunta, eu disse que era ótimo conhecer e vivenciar culturas diferentes, mas que com o tempo você acaba cansando de se mudar constantemente e que deseja criar vínculos verdadeiros com outras pessoas, sem ter a possibilidade de nunca mais vê-la. Mesmo depois que a comida chegou, continuamos conversando enquanto eu comia e ela praticamente devorava a comida a sua frente. Ames era uma garota extrovertida que não conseguia manter a boca fechada, eu sentia-me confortável em dividir esses momentos com ela, não que eu vá chegar e contar todos os meus mais sujos segredos, mas percebia que estava nascendo uma grande amizade entre nós dois e eu ficava realmente contente com isso.

A semana passou rapidamente, e as semanas seguintes também. Sempre depois das aulas eu seguia juntamente com a Amelia para a lanchonete que fomos da primeira vez, nos dias que eu não tinha nenhuma aula de música, combinávamos de nos encontrar na lanchonete e passávamos horas conversando sobre nossas vidas e compartilhando histórias engraçadas.

Como muitos devem pensar, não estava sendo nada fácil. Eu sentia uma falta imensurável da Luna, era mais difícil do que eu cheguei a pensar, meu coração doía a cada vez que me lembrava dos seus lindos olhos verdes banhados em lágrimas quando fui embora daquele quarto de hotel e rompi de vez com todos os laços que um dia tivemos. Ainda sinto o seu pequeno corpo colado ao meu, com o seu cheiro impregnado em mim, deixando um rastro de saudades por toda a minha alma.


Notas Finais




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