“Eu precisei estar nessa situação a ponto de perdê-la, para dar-me conta do quanto a necessito.”
Londres, Inglaterra
Agosto de 2021
Matteo Balsano
As horas seguintes foram perturbadoras e durante todo o tempo que estivemos no hospital não recebemos nenhuma notícia da Luna. O clima era de total tensão, todos estavam preocupados e sem saber o que pensar. Por mais que não dissessem, a cara das enfermeiras que entravam e saíam da sala por onde a levaram não era das melhores.
Apenas o Gastón acompanhou-me até o hospital, ele achou melhor que a Nina voltasse para o quarto de hotel com a Amelia e depois de tanto ele insistir, ela acabou cedendo e foi. Isso significava que de cinco em cinco minutos ela enviava uma mensagem perguntando sobre o estado da amiga, já havia desligado o meu celular porque isso fazia o meu desespero aumentar.
Não me encontrava confortável com os olhares que um garoto direcionava a mim. Reconheci-o sendo o mesmo que estava com ela quando nos esbarramos na feira central de Notting Hill. Pelo jeito que me olhava, tinha a certeza que a Luna havia falado sobre nossa conturbada relação a ele, então tinha a impressão que ele me julgava pelo que eu fiz no passado. Tentei ignorar ao máximo, nada iria fazer com que eu saísse dali sem notícias da Luna, seria uma tortura maior.
— Será que podemos conversar? — Só percebi que alguém vinha na minha direção quando a pessoa já estava ao meu lado tocando meu ombro.
Era o amigo da Luna. Tinha uma noção do que ele queria falar comigo, mas tentei não demonstrar nada. Apesar de que por dentro eu tivesse com medo de que ele dissesse que eu não tinha o direito de estar ali, que todo mal que aconteceu a ela, era culpa minha.
— Claro. — Foi tudo que eu consegui falar.
Levantei da cadeira e comecei a caminhar atrás dele, até que paramos quando chegamos a lanchonete. Ele pediu um café com leite e uma fatia de bolo de chocolate, eu optei por nada, não sentia fome.
Sentamos em uma mesa um pouco afastada e os minutos que se passaram depois foram em silêncio total. Ele estava nervoso. Eu estava nervoso.
— O que está fazendo aqui? — Ele foi firme e direto na pergunta. — Eu sei o que aconteceu com vocês dois no passado e o quanto a Luna sofreu por isso, então por que voltou agora? —- Já imaginava. E ouvir outra pessoa dizendo o quanto eu a machuquei, piorava a dor da culpa.
Perceber que talvez esse sentimento ruim nunca saia de você é desesperador. A única coisa que eu desejava era conseguir deixar tudo isso no passado, toda a mágoa e sofrimento.
— Eu não sei — fui sincero. — Eu me importo com a Luna, mais do que você possa imaginar. Talvez depois de tudo que eu causei você ache que é mentira, mas durante todo esse tempo eu mantive contato com pessoas próximas a ela que me passavam informações de como ela estava. Eu sofri por muito tempo com o final que nós dois tivemos, acho que sofro até hoje, e cada vez que eu recordava das lágrimas que desciam por seu rosto meu coração apertava, porque fui eu quem a causou aquela dor e eu tinha a certeza de que nunca me perdoaria por aquilo. Passei muito tempo dormindo a base de remédios porque tinha insônia, sonhos com a Luna eram sempre frequentes, sonhava com algo a afastando de mim e no final eu percebia que era eu mesmo que o fazia. Sonhava com os momentos que passamos juntos e felizes, esses sem dúvidas eram os mais dolorosos, pois traziam lembranças de momentos que nunca mais voltariam a acontecer — minha voz saía cortada por conta do choro que eu não fazia questão de esconder. — Vê-la caída no chão daquela pista quase sem vida foi o suficiente para que eu percebesse que nada na minha vida fazia sentido, nenhum desses anos longe dela fizeram com que eu a esquecesse, e sei que isso nunca acontecerá.
Agora tudo que o Gastón falou fazia sentindo em minha cabeça. Eu precisei estar nessa situação, a ponto de perdê-la, para dar-me conta do quanto a necessito. Nós não confiamos no amor, no que sentíamos, e só quando algo ruim aconteceu que percebemos o quanto fomos feito um para o outro.
— Eu acredito em você, vejo em seus olhos a sinceridade ao falar que se importa com ela — ele disse e franziu o nariz. — Mas se você a ama tanto assim como diz, por que decidiu ficar longe por tantos anos?
— Eu não sei, talvez fosse medo. Só tinha a certeza de que não queria fazê-la sofrer, nem me fazer sofrer. — Isso era o mais engraçado, porque essa distância apenas fez com que a minha dor aumentasse. — Eu tinha medo que ela percebesse que eu não era o melhor para ela e que encontrasse um cara que lhe desse tudo que eu não podia dar — suspirei.
— Mas o que te fez pensar isso? — ele perguntou e eu abaixei a cabeça sorrindo sem graça.
— Eu nunca fui uma pessoa aberta a sentimentos. Por causa da profissão dos meus pais eu me mudava constantemente, meu futuro era incerto. Luna foi a primeira e única garota a qual eu amei de verdade, e quando esses sentimentos começaram a ser notórios eu tentei negar para mim mesmo, não sabia agir com tudo aquilo que existia aqui dentro. — Coloquei a mão em cima do meu coração. — Quando eu voltei de férias com a notícia de que teria que estudar em Oxford, meu mundo caiu, não sabia o que fazer, então na minha cabeça a melhor opção era manter a Luna afastada, assim ela não iria nutrir falsas esperanças, já que no final eu não poderia permanecer com ela. Com isso veio todas as mentiras, eu sabia que tinha que dizer a verdade, mas não fazia ideia de como o fazer e quando Luna descobriu, ela odiou-me com todas as forças, eu me senti horrível. Depois de confrontar meu pai fiz de tudo para conquistar novamente o seu amor e a sua confiança, porém como sempre, eu fui um babaca e deixei que coisas superficiais subissem para a minha cabeça, a Luna não concordava com as minhas atitudes para ser o melhor e chegar ao topo, e foi assim que nosso relacionamento chegou ao fim.
— Sabe, eu já tinha conhecimento sobre isso tudo, mas é sempre bom ter um visão diferente sobre a mesma história. — Tinha quase certeza disso, mas não me preocupei em poupar os detalhes. Era a primeira vez que eu abria-me com alguém que eu conheci a tão pouco tempo, mas eu precisava desse desabafo. — Mas por qual motivo você não lutou por ela quando pôde? Lá em Cancún?
— Eu ia, eu realmente ia fazer isso. Depois da competição, fui até a praia espairecer um pouco a mente. Queria conversar com a Luna, dizer a ela tudo o que eu sentia e o quanto estava arrependido por todo o mal que a causei. Mas algo me impediu. — Olhava-me com expectativa, esperando que eu continuasse aquela parte da história que ele não tinha conhecimento.
Mexi-me na cadeira, tentando encontrar uma posição confortável. Passei a mão pelo rosto para conter as lágrimas que estavam acumulando-se abaixo dos meus olhos.
— Eu a vi, ela estava perto do mar abraçada com o Simón. Naquele momento eu percebi que tinha a perdido, eu não era capaz de transmitir para ela aquela confiança, aquela segurança que ele passava. Por mais que eu a amasse, sabia que isso não seria suficiente, ela precisava mais do que o meu amor e na minha cabeça, a melhor opção era manter-me afastado dela. Eu não poderia ser aquela pessoa que ela tanto buscava. Não que eu pensasse que eles estivessem juntos de uma forma amorosa, não foi isso, eu apenas não podia ser a pessoa a qual ela buscaria como abrigo ao final do dia, não sabia como ser — arfei exasperado, sentindo o ardor subir por minha garganta a cada palavra dita.
— Você deveria ter aberto o jogo com ela, conversado e esclarecido tudo — ele disse e eu soltei uma risada irônica.
— Não é tão fácil, nunca fui bom em expressar meus sentimentos, sempre que eu e a Luna tentávamos conversar nunca dava em lugar algum — minha voz saiu quebrada e eu respirei fundo para não desabar ali mesmo. Eu tinha que ser forte.
— Não posso te conhecer, mas com tudo que a Luna me disse eu percebi qual era o problema dos dois. Já falei isso para a Luna e agora vou dizer a você: ambos não deixavam que o outro se explicasse e acabavam criando mil teorias na cabeça, onde nenhuma delas era a verdadeira. — Aquelas palavras foram como um balde de água fria sendo jogado em cima da minha cabeça. Eu tinha noção daquilo, mas ter uma pessoa que via as coisas por fora falando a verdade, era mil vezes mais doloroso. — Se vocês tivessem sentado para conversar, talvez a Luna teria conhecimento do seu medo de não ser o suficiente para ela, e que quando a viu abraçada com o amigo deduziu que não seria capaz de a fazer bem. Talvez agora você soubesse que o lugar seguro para Luna era qualquer um, desde que você estivesse junto lá, e que a única coisa que ela pensava enquanto abraçava o Simón na praia era em você. Ela queria que fosse você ali.
Apenas aquelas palavras foram necessários para me dar um choque de realidade. Eu estava sem chão, não sabia o que falar nem como falar. Foi quando as lágrimas vieram, uma por uma escorrendo por meu rosto, cada uma transparecendo o arrependimento e a tristeza que eu sentia.
Arrependimento. É uma palavra muito forte, se parar para pensar, você faz uma coisa e depois percebe que não era aquilo que queria fazer. Mas a realidade aparece, só para machucar e jogar na sua cara o que você perdeu, são coisas que você não aprende com a escola muito menos em casa, esse aprendizado vem com a vida, e vem da forma mais dolorosa, porque você simplesmente não foi preparado para passar por isso. Em certo ponto na vida todas as pessoas já tiveram o tipo de arrependimento que destrói a alma. Não importa qual seja, pode ser uma escolha de curso errada, uma palavra não dita ou até mesmo uma palavra dita que machucou uma pessoa importante.
Mas o que as pessoas muitas vezes não percebiam é que sempre existia uma segunda, terceira ou quarta chance, que é possível reverter a situação e que nada é permanente a menos que você queira que seja, e nem mesmo assim será. Em algum momento você terá que dizer um adeus eterno a todo o mundo, porque nada é para sempre. Todo sempre chega ao seu fim.
— A Luna precisa de você, ela não vai admitir isso, não agora, mas ela precisa. Principalmente porque não sabemos o que acontecerá com ela depois desse acidente. Então por favor, não volte a abandoná-la nem a machuque. — Levantou-se da cadeira onde estava sentado e passou por mim dando leves batidinhas no meu ombro.
Eu não vou. Aquela era uma promessa que eu fazia a mim mesmo, não iria desperdiçar mais essa chance, dessa vez faria tudo certo, nada nem ninguém no mundo seria capaz de me fazer ficar longe. Ela é tudo que eu necessitava.
Havia passado cinco horas depois da conversa que eu tive com o Rafael. E fazia duas horas que a médica que estava a frente do caso da Luna apareceu para nos dizer que ainda não tinham nenhuma informação concreta do estado dela, apenas que precisou levar alguns pontos na testa por causa de um corte causado pela batida na bancada e que fraturou o braço esquerdo. Porém ainda não tinham certeza se a batida na parte dorsal da cabeça causou algum dano interno, então teriam que fazer mais alguns exames e esperar que ela acordasse para terem a confirmação do que já cogitavam.
Não nos falaram o que poderia ser, e foi exatamente essa falta de informações que me deixou aflito. Várias possibilidades passavam-se por minha cabeça e em nenhuma delas o resultado era feliz e satisfatório. Eu me sentia horrível estando naquela situação, sem saber como reagir.
Tinha noção de que os pais da Luna já estavam cientes do acidente que ocorreu com a filha. Além de que já estava estampado em todas as revistas e sites de fofocas, lembrava de que assim que chegamos no hospital, o cara que descobri ser o treinador da Luna, falava com alguém ao telefone e citou o nome dos Valente, pedindo desculpas por ter permitido que aquilo acontecesse.
O tic tac do relógio analógico pendurado na parede era insuportável, o silêncio predominante na sala tornava aquela barulho agoniante. Os segundos pareciam demorar horas a passarem, queria que alguém aparecesse para acabar com aquela angústia e apreensão que rondava o local.
— Parentes de Luna Valente? — Já era noite do dia seguinte quando a mesma médica que veio aqui horas atrás apareceu segurando uma prancheta em mãos.
O Felipe, treinador da Luna, havia esclarecido que ele era o responsável por ela, já que seus pais moravam em Buenos Aires e que demorariam um pouco para chegarem até Londres.
— O quadro de saúde dela é complicado, mas felizmente conseguimos estabilizá-lo e agora ela descansa no quarto. — Voltou a olhar para prancheta antes de continuar descrevendo a situação da Luna. — Nós suspeitamos que pela forte pancada na parte occipital do crânio, ela possa ter perdido a visão ou parte dela.
A médica continuou falando, porém, eu não ouvia mais nada. Minhas pernas fraquejaram e antes que meu corpo entrasse em contato com o chão senti braços segurando-me pelos ombros e ajudando-me a sentar em uma das cadeiras.
Não poderia ser, tinha a consciência de que algo bem pior poderia ter acontecido, como ela ter morrido. Mas não conseguia imaginar minha menina delivery sem enxergar, queria que ela olhasse em meus olhos enquanto eu dizia que a amava com todas as minhas forças, que nada seria capaz de fazer esse sentimento acabar. Nem mesmo o tempo e a distância foram capazes de fazerem isso acontecer.
— Pelo quadro instável da paciente ela ainda não está aberta a visitas, então apenas uma pessoa poderá permanecer no quarto com ela — a médica disse enquanto fazia algumas anotações na prancheta em suas mãos, olhando logo em seguida para todos naquela sala esperando pela resposta de quem ficaria com a Luna.
Eu desejava mais que tudo ficar ao lado dela naquele momento, principalmente quando ela acordasse. Mas não queria nem imaginar a reação que ela teria ao me ter ali, sem contar que não pretendia enfrentar os dois adultos responsáveis por ela, que sem dúvidas um deles iria querer ir.
— Eu acho que a pessoa mais adequada para ficar com ela nesse momento é o Matteo. — Levantei a cabeça em um sobressalto quando ouvi a voz do Rafael dizendo aquilo. A cara de espanto do homem e da mulher a minha frente só não era pior que a minha.
Não tinha noção do quanto eles sabiam da minha relação com a Luna, talvez apenas o que as revistas de fofoca conseguiram descobrir pelos vídeos antigos que tinham de nós dois juntos, principalmente no canal da Jazmín e da Delfi. Isso era suficiente para que eles não se sentissem confiantes em relação a mim.
— Matteo é a pessoa daqui que a conhece a mais tempo, sabe como ela vai agir e tem noção do que fazer diante essa situação. — explicou. E mesmo ainda em dúvida, os dois concordaram com ele e afirmaram que não seria um problema.
Estava surpreso, não passava pela minha cabeça que o Rafael pensava aquilo sobre mim e sobre a minha relação com a Luna, mesmo depois da conversa que tivemos.
Concordei com a cabeça sem dizer uma palavra sequer e segui a médica pelo imenso corredor completamente branco que me sufocava a cada passada que eu dava. Ela parou em frente a porta de número 257, passou algumas instruções antes de abri-la e dar passagem para que eu entrasse.
Continuei olhando para trás sem ter coragem de encarar a minha menina delivery deitada em uma cama de hospital, até que a médica fechou completamente a porta e eu permaneci com os olhos fixos no pedaço de madeira branco por diversos minutos. Criei coragem e virei meu corpo lentamente, assim que pousei meus olhos na Luna senti as paredes do meu diafragma contraírem quando eu prendi a respiração por impulso. Naquele instante senti que aquelas paredes brancas fechavam-se ao meu redor, acabando com qualquer oxigênio presente no ambiente.
Aproximei-me da cama com cuidado para não acordá-la, era capaz de sentir o gosto salgado das lágrimas que saíam dos meus olhos e atingiam os meus lábios.
— Oi — minha voz não passou de um mero sussurro. Cheguei mais perto da beirada da cama e passei meus dedos delicadamente pelo seu rosto.
Um pequeno curativo cobria a sua testa, onde eu deduzi ter sido o local do corte. Um tubo estava em sua boca para que ela recebesse oxigênio. E o que mais me deixava abalado e triste, era a faixa envolta de seus olhos, não me permitindo ver os seus cílios batendo levemente como sempre acontecia enquanto ela dormia. Queria ver os seus olhos e me perder naquela imensidão verde que fazia meu amor por ela aumentar.
Tossi para tentar eliminar qualquer coisa presa em minha garganta impedindo a minha voz de sair. — Eu sinto muito, por tudo. Por não ter te escutado quando tive a chance, por não ter acreditado no seu amor e tê-lo jogado fora, não foi a minha intenção. Eu apenas queria que você fosse feliz, e algo dentro do meu coração dizia que você não encontraria isso comigo. Éramos imaturos demais para entender a dor do outro, nos machucamos sem ao menos nos dar conta. — As lágrimas já embaçavam minha vista e os soluços presos em minha garganta dificultavam a minha fala.
Suspirei profundamente e apertei os olhos com força, inclinando minha cabeça um pouco para trás tentando conter as lágrimas que não davam trégua.
— Durante todos esses anos onde estivemos longe, eu pensei em você todo maldito dia, todo instante. Tudo ao meu redor lembrava a ti. Minha mente insistia em afirmar que aquela foi a melhor decisão, mas o meu coração machucado não dizia isso. — Consegui controlar as lágrimas. Segurei sua mão esquerda entre as minhas e dei um leve apertão. — Eu preciso de você, eu preciso ver os seus olhos brilhando, preciso ver o seu sorriso, preciso ver a minha menina delivery, a mais valente e que não vai deixar que uma queda a detenha. Eu necessito ter você ao meu lado de novo sem nenhum empecilho, apenas nós dois e o nosso amor.
Aproximei o meu rosto do seu e com muito cuidado para não acordá-la, depositei um beijo em sua testa. Para dizer que sempre estaria aqui para resgatá-la, não importando a situação, eu nunca a abandonaria, não novamente.
Estava sentado/deitado na poltrona perto da cama quase dormindo, quando ouvi gritos do lado de fora do quarto, levantei super rápido pelo susto e fui até a Luna verificar se ela não tinha acordado, agradeci por isso. A médica disse que ela iria acordar naturalmente e que não deveríamos nos preocupar nem fazer algo para despertá-la.
Olhei para o relógio preso na parede acima da porta e vi que havia passado das três da madrugada, fazia um bom tempo que a Luna tinha sido transferida para o quarto e que eu estava ali com ela.
Depois de alguns minutos em silêncio, os gritos voltaram e dessa vez estavam mais pertos. Com muito esforço consegui identificar de quem era a voz. Âmbar.
"Nem você nem ninguém irá me impedir de entrar dentro daquele quarto para ver a minha prima." Apesar dos gritos, sua voz era chorosa e quebrada.
"Querida, ela ainda não pode receber visitas, acalme-se e venha comigo tomar um calmante." Acreditava ser uma enfermeira tentando conter o furacão que era Âmbar Smith. Diferente da outra, sua voz era calma e quase não pude ouvir.
"Não quero saber, eu vou entrar e ponto. É a minha prima lá dentro e eu não vou suportar ficar esperando até a boa vontade de alguém liberar a minha entrada." Sua voz que no começo da frase era alterada foi baixando e o final saiu quase que inaudível.
Sabia que a Luna e a Âmbar tinham meio que se acertado, mas não sabia que a relação das duas estava nesse nível. Só pelo tom de voz, eu sabia o quanto a loira estava preocupada e cheia de aflição.
Antes mesmo que eu pudesse reagir, a porta foi aberta em um solavanco e uma cabeleira loira desesperada invadiu o quarto, correndo em direção a cama onde Luna estava deitada. Olhei para a porta vendo que a enfermeira tinha desistido de conter a Âmbar e foi embora.
Ela abraçou o corpo da garota tomando cuidado para não machucá-la. Em meio aos soluços ela falava algo que eu não conseguia identificar, permaneci afastado apenas observando a cena, não queria interromper.
Minutos passaram-se para a loira conseguir se acalmar, quando isso aconteceu ela levantou a cabeça, olhou para mim e sorriu. Pisquei os olhos algumas vezes não entendendo aquela reação, já estava me preparando para os gritos e xingamentos.
Voltei a me sentar na poltrona ao lado da cama e segurei a mão da Luna, acariciando o dorso com o polegar. Âmbar sentou-se no pequeno sofá de dois lugares que tinha no canto do quarto e pegou uma revista para ler, ou coisa do tipo. Fechei os olhos e tentei espairecer a mente, não iria dormir, sei que não conseguiria.
— Matteo. — ouvi um sussurro e abri os olhos, voltando a olhar para direção da Âmbar. Ela estava semi deitada no sofá e dormia. Franzi o nariz, passei tanto tempo acordado e sem ingerir nada que já alucinava com alguém falando.
Retornei a apoiar minha coluna no encosto da poltrona e fechei os olhos. Senti um aperto fraco na minha mão e levantei rapidamente. Luna. Percebi que a Âmbar havia acordado e agora se encontrava em pé do lado oposto ao que eu estava da cama.
Luna voltou a apertar a minha mão e tentou se movimentar, falhando. Seu peito subiu quando ela respirou profundamente. O medidor cardíaco agora indicava que os batimentos dela estavam mais fortes. Ela não usava mais o concentrador de oxigênio, já que a médica apareceu no quarto e tirou dizendo que não era mais necessário.
— O que está acontecendo?
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