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História Lust for Life - Capítulo I


Escrita por: Mommo___

Notas do Autor


Olá!
Demorei um pouco, mas as responsabilidades crescem a cada dia!

Gostaria de agradecer aos favoritos e comentários! Achei que a fanfic não seria muito visualizada, mas para um prólogo, até que consegui despertar o interesse dos leitores!

Eu estou sem beta, então me avisem caso encontrem algum erro grotesco! kkk

Boa leitura!

Capítulo 2 - Capítulo I


LUST FOR LIFE

Capítulo I

—Vamos começar...

A voz. Aquela voz. Rouca e sombria.

Ele nunca havia visto o dono dela, já que apenas a escutava através das caixas de sons, mas quando mais novo, imaginava uma figura alta e esguia, deformada e não humana. Às vezes tinha pesadelos, acordando todo suado no meio da madrugada. Mas agora tinha seus 15 anos. A época do monstro tinha passado, mas algo naquele timbre ainda lhe causava calafrios.

— Agora, 105. – essa ele conhecia, apesar de estar do outro lado do vidro com insulfilm, sabia que tratava-se de Ardyn, seu responsável naquele lugar. 

O som de metal e engrenagens ecoou pela sala.

Ela era grande e possuía um formato retangular, com 900 metros de distância da parede inicial em que ele se encontrava, até a parede final, do outro lado. E cerca de 550 metros de largura.

A sala contava com uma boa iluminação. Suas paredes e pisos eram brancos, mas por trás do revestimento claro, grossas camadas de metal e concreto blindavam o espaço de treinamentos com armamento pesado.

À primeira vista, parecia um lugar pacífico e tranquilo, porém, estava equipada com armas mortais, e a tecnologia de ponta era utilizada para os alvos e obstáculos escondidos por todo o espaço.

“Respira”

O jovem disse para si mesmo mentalmente, fechando os olhos e inspirando fundo.

“1... 2... 3...”

Engatilhou a sua Desert Eagle e disparou logo em seguia, com velocidade, ao ouvir o barulho do primeiro obstáculo.

Diferente das outras salas de treinamento, aquela não possuía apenas alvos que se moviam. Havia armas automáticas, adagas e kunais, que saíam de compartimentos secretos nas paredes; todas capazes de detectar o mísero movimento corporal.

Aquilo não era para treinar;

Era para matar.

“O teste final”, Ardyn dissera.

Basicamente ele precisava chegar ao outro lado da sala sem nenhum ferimento. Algo que seria considerado humanamente impossível para qualquer um sem o treinamento intenso e necessário. Mesmo pessoas capacitadas achariam muito se alguém conseguisse chegar vivo.

Mas eles não queriam pessoas capacitadas.

Não queriam nem ao menos pessoas.

Eles queriam máquinas.

Capazes de matar.

Duas metralhadoras surgiram em suportes no teto. O jovem esquivou-se dos tiros enquanto corria em direção às armas, que acompanhavam seus movimentos. Os dois tiros certeiros nos suportes de sustentação fizeram com que os disparos automáticos cessassem.

Ele estava ofegando quando se jogou no chão. Uma kunai japonesa passou raspando pelo seu rosto. A sequência de disparos das kunais acontecia enquanto ele rolava para o outro lado para pegar dois calibres .500 S&W MAGNUM e atirar nos alvos que surgiam.

Mais uma vez no teto, uma AK-47 se preparava para engatilhar. Apesar do medo pelos 600 tiros que ela podia disparar por minuto, ele foi mais rápido, derrubando-a do suporte. Os lançamentos de kunais haviam parado, e cinco alvos de movimento apareceram.

O jovem prendeu a respiração.

Aqueles alvos explodiam caso não fossem destruídos a tempo. Aprendeu sobre eles no dia anterior.

Ele deixou os dois calibres no chão e pegou o fuzil.

3...

2...

1...

E destruiu os cinco alvos em três segundos.

As coisas se acalmaram e o adolescente constou que estava no meio do percurso. Isso significava que seria o teste de equilíbrio e agilidade. E era esse o problema. Podia ser rápido, mas era constantemente desastrado.

“Não agora... Se não você vai morrer”.

Grades o cercaram em um espaço delimitado, pela frente e por traz, sem escapatória. Iam de uma parede até a outra, com uma largura de quatro metros, mais ou menos.

As paredes e o teto acima do espaço das grades se abriram e uma lança de 30 centímetros com ponta de metal foi lançada da parede esquerda. E mais outra do teto, um segundo depois. Ele percebeu que esse seria o intervalo entre os disparos e elas poderiam vir de qualquer direção, sem padrão.

Enquanto ficava atento e desviava dos objetos que poderiam fazer um belo estrago, ele percebeu que as grades tinham formatos quadriculados e facilitavam uma escalada.

“Isso!”

Ao pegar impulso com os braços e subir, seu coração palpitou.

As grades estavam esquentando.

No momento de distração, uma lança surgiu no teto e foi em direção à sua cabeça. O adolescente soltou a mão e o pé direito, ficando apoiado apenas pelos membros esquerdos. Com graciosidade inesperada, tomou impulso e voltou a se segurar com as duas mãos, instantes antes de outra lança passar voando no lugar em que antes estavam suas costas.

As grades estavam mais mornas, quase quentes a ponto de incomodar quando o garoto chegou ao topo. Ele passou as pernas, uma de cada vez, para o outro lado, e começou a descer rápido.

Estava prestes a pular a dois metros e meio do chão, mas quase caiu quando viu o piso próximo as grades se abrindo em uma largura de três metros. Em baixo havia um líquido de cheiro forte e ele reconheceu como sendo ácido fluorídrico.

Claramente a ideia não era dissolver um corpo, afinal, essa coisa de ácidos derretendo humanos funcionava só em filmes, mas o estrago que faria em sua pele poderia matá-lo se não tratado imediatamente.

As grades estavam esquentando mais. Ele trocou a mão de apoio, mas não aguentaria por muito tempo. Precisava pegar impulso para pular da maneira correta, sem se machucar.

“Respira...”

O garoto soltou a respiração e abriu os olhos, com um brilho azul determinado. Pegou impulso e se jogou para além do tanque de ácido.

Ele dobrou os joelhos e cotovelos, protegeu a cabeça e caiu em uma posição em que seus músculos absorvessem o impacto, sem deixar o corpo rígido. Rolou um pouco ao atingir o chão e gemeu por conta da queda, mas o mais importante era que ainda conseguia se mexer com aptidão.

As grades foram recolhidas e o chão voltou ao posicionamento original, como se nunca tivesses existido.

Olhando para as palmas de suas mãos, percebeu que estavam avermelhadas. Formigavam um pouco, mas a pele estava intacta, sem nenhum sinal de bolhas.

“Isso é bom... Falta pouco”.

O garoto preparou-se para avançar quando ouviu um barulho e olhou para trás. No começo da sala, duas portas, cada uma em um dos cantos da parede, se abriram.

De lá saíram protótipos simples de robôs. Não possuíam forma humana, apenas esqueletos rústicos de metais e fios. Portavam armas de fogo de duas mãos.

“Teste de precisão”.

Olhando em volta ele avistou um rifle sniper com três pentes ao lado e um protetor de ouvidos. As demais armas de fogo do local tinham silenciadores para evitar o barulho, mas o rifle, não. Se não usasse o protetor, era certo que acabaria surdo.

 Os robôs andavam em marcha e, sem perder tempo, correu para pegar a arma e montá-la em uma superfície de metal em formato de cubo, com um metro de altura, que poderia usar para proteger-se dos tiros.

Havia cerca de quinze protótipos e cada um possuía uma marcação na testa, se é que ele podia chamar aquela parte por um nome tão... Humano. Percebeu então que era ali que precisava acertar, mas antes de começar, verificou que cada pente tinha 5 tiros. Nada a mais, nada a menos.

“Eu não posso errar...”.

Pela centésima vez o garoto respirou fundo para controlar o próprio corpo. Colocou o primeiro pente e mirou no exército.

O primeiro disparo acertou em cheio. A máquina chiou e se retorceu antes de cair.

Como se fosse programado para acontecer, os catorze robôs seguintes colocaram as armas a postos, iniciando os disparos. Cada tiro era disparado em um intervalo de seis segundos, então esse era o tempo necessário para eliminar as máquinas uma a uma.

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O suor escorria pela sua testa, grudando os fios de cabelo. Os olhos frios estavam concentrados ao olhar para cada pedaço de sucata que caía. A cada disparo, seu coração palpitava uma batida. O sangue quente corria em suas veias, e ele se confortava com isso, pois era o que o diferenciava daqueles protótipos.

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A sensação da arma fria em suas mãos era boa. Gostava do choque a cada tiro e até mesmo da adrenalina que esses momentos lhe causavam. Durante muito tempo sentiu-se fraco e inútil, mas havia treinado muito para aquele dia. O dia em que poderia mostrar seu valor. O dia em que precisava mostrar.

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Eles iam caindo. Chiando e entrando em curto circuito à medida que se aproximavam. Desviou fácil dos tiros vindos dos robôs e acertava sempre o meio do alvo sem muita dificuldade. Era um excelente atirador.

“Apenas mais um”

O último protótipo estava a 200 metros de distância.

O garoto apertou o gatilho lentamente.

A bala saiu em disparada, acertando em cheio o alvo indicado. Uma pequena explosão o obrigou a proteger o próprio corpo para não ser atingido pelos destroços.

Ele estava ofegante, mas levantou rápido enquanto retirava os protetores de ouvido. Precisava se manter atento, e mexia o corpo ao máximo para não perder o pico de energia. Caso parasse de se movimentar, a adrenalina se converteria em uma série de tremedeiras e fadiga.

Não havia acabado.

As paredes blindadas possuíam portas secretas e automáticas, podendo apenas ser manuseadas pela sala de controle do lado de fora. Assim como as saídas de armas, era impossível enxergar essas portas pelo lado de dentro. Era necessária atenção para saber de onde sairia o próximo obstáculo.

Faltavam pouquíssimos metros para alcançar o outro lado. O garoto pensou em prosseguir, mas firmou os pés no chão ao ouvir o barulho de abertura vindo da parede direita.

Era uma porta.

Uma figura alta surgia pouco a pouco da escuridão, e ele estreitou os olhos até o corpo estar totalmente iluminado pela luz. A entrada se fechou, sem nenhum indício de que havia uma entrada há poucos segundos.

Ele arregalou os olhos.

A armadura cobria o corpo magro, porém esbelto, e os ornamentos chamavam a atenção. Sua cabeça era protegida por um capacete, mas ele não cobria todo o rosto, sendo possível identifica-lo. Entretanto, o acessório de defesa logo foi retirado pela mulher, deixando a mostra as belas linhas faciais e seu cabelo curto e acinzentado.

Era a Número 01.  

— Aranea... – o garoto sussurrou.

Aquele seria o combate corpo a corpo.

Mais uma de suas habilidades falhas.

Lá, homens e mulheres eram treinados igualmente. Não havia distinção de gênero, então nenhum deles foi ensinado a hesitar. O fato de seu adversário ser uma garota não era de se espantar. O que lhe deixava intimidado era o que o número que ela portava não foi dado sem mérito.

Aranea era a pessoa mais forte e habilidosa dentro daquele lugar.

Já havia visto alguns de seus treinamentos e a quantidade de ossos que a garota podia quebrar em menos de 1 minuto...

— Cento e cinco – respondeu com formalidade – Não vou facilitar para você.

O garoto fechou o semblante, ofendido.

Ele havia chegado até lá, oras!

—Eu não espero que facilite – sua voz saiu cortante, e ele se colocou em posição de ataque.

Aranea sorriu levemente e recolocou seu elmo.

Ele sabia sobre o teste corpo a corpo, mas não imaginou que seu desafio seria enfrentar a N.01.

Ardyn sempre dissera para prestar atenção nas técnicas de combate utilizadas e era obrigatório saber se defender de todas elas, pois o teste final era aleatório.

Aranea praticava Taijutsu, já que era exímia em diversas artes marciais. O garoto, por outro lado, evitava movimentos com os membros inferiores, pois costumava se desequilibrar. Sua preferência era o boxe.

Para vencer ele teria que derrubá-la, mas isso não seria fácil. Aranea se movimentava com graça e destreza.

Ela correu em sua direção.

Ao se aproximar, tentou desferir um chute circular médio, mas ele defendeu com a canela. Pela força aplicada no quadril, percebeu que ela utilizaria técnicas de Muay Thai, uma boa escolha visto que seria necessário apenas um golpe para imobilizá-lo. Ele já estava dolorido pelo esforço.

O garoto avançou com uma sequência de socos que foram muito bem defendidos e desviados. Aranea investiu em se aproximar para golpeá-lo com os cotovelos, e caso um deles atingisse uma de suas têmporas, a morte era garantida.

Enquanto defendia as sequências com braços firmes e sem desviar o contato visual para não denunciar seu movimento, ele tentou acertar seu joelho no abdômen da adversária com um frontal, mas habilmente ela pulou para trás com um mortal, e sem pausa voltou a investir com um low-kick. O garoto se desvencilhou, perdendo um pouco do equilíbrio.

Aranea percebeu a falha e investiu um rotativo de calcanhar. Seria o seu fim caso não deslizasse a perna direita para se abaixar e apoiasse as palmas das mãos no chão para se equilibrar novamente.

A mulher não contava com o reflexo rápido do oponente, e não fixou o olhar em um ponto fixo para realizar o movimento. Isso lhe causou uma leve e rápida tontura, mas foi o suficiente para ser atingida por um chute circular em sua costela.

— Ahn... – o ar se fez necessário em seus pulmões e ela pressionou a área com as mãos, inclinando-se para o lado.

O garoto aproveitou a guarda baixa para acertar uma joelhada frontal em seu estômago, e Aranea caiu de joelhos, encolhida, abrindo a boca desesperadamente em busca de ar.

Ele estava dominado por um frenesi. Se aproximava a passos lentos do corpo ofegante, pronto para desferir um último golpe. A adrenalina em suas veias impedia que sua sanidade falasse mais alto.

“Preciso acabar com isso”, ele repetia em sua mente.

Até que uma voz estrondosa e aterrorizante o despertou de seu devaneio sangrento.

— CHEGA, 105!

Como um sonho que se desfaz em meio à névoa, o menino piscou várias vezes enquanto focava sua visão no ambiente. Aranea estava caída próximo aos seus pés enquanto respirava com dificuldade, produzindo ruídos grotescos com a garganta.

Ele olhou em volta, um pouco perdido. A aura negra que inundava seu olhar se dispersou.

A atenção dos dois presentes foi direcionada para a porta que se abria na parede à frente. Passos fortes ecoavam pelo ambiente. A primeira figura a aparecer foi a de Ardyn. Ele sorria, orgulhoso, enquanto abria os braços para parabenizar seu pupilo.

O garoto aceitou o abraço, feliz e aliviado, mas logo se afastou e voltou sua atenção para a outra pessoa que surgia das sombras.

Era um homem que certamente beirava seus sessenta e oito anos. Possuía muitas linhas de expressão embaixo dos olhos fundos, e um nariz grande. Os lábios finos eram curvados. Sua expressão facial era sombria. Os cabelos e barba eram grisalhos.

Um frio percorreu a espinha do adolescente.

Seu maxilar tencionou assim que a voz rouca começou a ecoar em meio à respiração pesada de Aranea.

— Você se saiu muito bem, 105. Aliás, quase perdi meu prodígio – ele direcionou um olhar breve para a mulher caída.

— Obrigado, Senhor...

— Verstael.

— Obrigado, Senhor Verstael.

O mais velho nada disse.

Ardyn estava ajudando Aranea a se levantar. Quando a mulher conseguiu se manter em pé, ainda um pouco inclinada, ele se aproximou dos outros dois, dando tapinhas nas costas de seu pupilo.

—Você foi ótimo, garoto. Muito bom mesmo – parou sua fala e pigarreou antes de continuar – Venha conosco – disse – Eu te ajudo, Número 01.

Os quatro saíram da sala de testes, sendo conduzidos por um corredor gelado. Era todo branco, em um formato tubular. Luzes de LED branco contornavam os cantos inferiores das paredes, trilhando o caminho. Não havia janelas, e depois de três minutos de caminhada, o garoto notou uma única porta ao fundo.

Ao se aproximarem, Verstael digitou um código de segurança no painel da fechadura, e precisou fornecer um reconhecimento de sua retina ocular. Qualquer que fosse o conteúdo por trás daquela entrada era muito importante.

A porta se abriu. A sala, diferente da arquitetura do corredor, era quadrada e não muito grande. Luzes se acenderam, revelando uma mulher sentada de qualquer jeito no chão, algemada com as mãos para cima. As correntes de metal pendiam do teto.

Ela estava muito magra, e a camisola branca que vestia passava uma imagem ainda mais frágil.

— Q-quem está aí? – perguntou, levantando rápido a cabeça que antes fitava o chão.

Estava vendada, com um pano também branco.

—Q-quem é!?

O desespero em sua voz era nítido. O garoto queria ajudá-la, mas permaneceu calado.

Ao lado de dentro, próximo à porta, havia um aparador pequeno. Em cima, uma caixa cheia de ornamentos prateados chamou a atenção do mais jovem, que queria desviar seu olhar da figura feminina.

Verstael, percebendo o interesse do mais novo, seguiu em direção à caixa, tomando-a em mãos, e aproximando-se em seguida do garoto envergonhado.

— Este, 105, é o seu último teste.

O coração do jovem começou a acelerar.

Não... Isso não era possível.

Ardyn jamais falara de um teste final...

Ninguém, nenhum dos outros, falara sobre isso.

Vestael abriu a caixa com as insígnias I.N no topo. Seu interior era de veludo vermelho-vinho. Como conteúdo, uma Desert Eagle Magnum 44 reluzia contra os seus olhos.

— Pegue. É sua.

Para uma pistola, aquele calibre era extremamente poderoso.

O garoto pegou a arma em mãos, admirado pelos detalhes. Em seu cano, os números 1.0.5 estavam perfeitamente marcados.

— Feita sob medida! – comentou Ardyn, com entusiasmo.

— O-obrigado, Senhor – disse.

— Quero que a use.

O menino engoliu em seco, percorrendo o olhar pelos três rostos que o encaravam.

— Você consegue! – encorajou Ardyn.

Os quatro dirigiram a atenção à mulher, que começou a gritar e se debater em desespero.

Eles se aproximaram do corpo, e o garoto ficou alguns passos mais a frente.

“Respira...”

Ele segurou a arma com as duas mãos. Ergueu os braços em direção à vítima desesperada.

Aquele seria o seu primeiro homicídio.

Já havia visto assassinatos em treinamentos e brigas, mas jamais praticou um com as próprias mãos. Isso o aterrorizava quase tanto quanto a figura mais velha presente na sala.

— Espere! – a voz sombria se pronunciou, e a ideia de que tudo aquilo não passava de uma piada invadiu as esperanças do garoto – Ardyn, tire a venda dela.

E assim ele o fez.

A mulher o encarou com os olhos arregalados, e as lágrimas gordas rolavam por sua face suja. Seus olhos eram azuis bem claros. O medo era nítido, a ponto de emanar do corpo magro e machucado.

— NÃO! NÃO!

O adolescente desviou sua visão e fechou os olhos com força, mas a arma permanecia apontada. Seu peito subia e descia. Os gritos ecoavam e pareciam cada vez mais altos. Ele rangia os dentes por causa do barulho.

— Faça, 105!

“Faça...”

“Faça...”

— Faça!

A voz era carregada de malícia. Os olhos atentos e o sorriso doentio estampavam o rosto cheio de rugas, deixando-o ainda mais assustador.

— FAÇA!

O menino gritou antes de abrir os olhos e voltar a encarar a mulher, dessa vez com uma expressão séria.

E então três disparos cessaram as súplicas desesperadas.

Ele relaxou o corpo sem deixar de encarar a poça de sangue que se formava ao redor do corpo sem vida

Sangue escorria de dois grandes buracos na testa e a camisola já estava ensopada pelo último tiro disparado contra o peito. As paredes estavam respingadas, e algumas gotas sujaram o rosto do adolescente.

Verstael sorria.

Ardyn estava orgulhoso.

E Aranea mantinha-se neutra, com a mão sobre o estômago.

Os dois homens se aproximaram dele, um de cada lado, pousando suas mãos gentilmente em ombro. Os quatro encaravam a cena, cada qual com seu sentimento.

E aquele foi o primeiro assassinato do Número 105.

**

Quando as portas do elevador se abriram, logo a atenção das mulheres do departamento se voltou para o homem alto que andava elegantemente pelos corredores. A camisa branca social e o colete vermelho vinho desenhavam os músculos bem definidos, e seu estilo despojado, porém chique, deixava o visual ainda mais sexy.

Ele gostava de atrair olhares. Fazia bem para alimentar seu ego.

O olhar misterioso percorria cada mesa de maneira discreta, e um pequeno sorriso estampava o canto de seus lábios. O homem ajeitou os fios de seu cabelo castanho conforme se aproximou da mesa da secretária.

— Às vezes ele acorda meio rebelde – comentou casualmente com Lyana, referindo-se ao próprio cabelo.

A mulher tímida sempre se desconcertava quando Gladiolus Amicitia estava por perto. Ela devia ter pouco mais de 35 anos, e sua estatura era baixa e gordinha.

Lyana ajeitou os óculos de tartaruga para tentar esconder o rubor das bochechas cheias.

— Bom dia, Gladiolus – disse cordial – O Senhor Caelum está no setor de marketing e pediu que o senhor se dirigisse para lá assim que chegasse.

— Algo em especial?

— Ele quer te apresentar o senhor Ignis Scientia, o novo...

— Ah, sim! O cara novo – ele interrompeu a fala da mulher – Havia me esquecido. Obrigado, Lyana!

Gladio piscou para ela, que apenas murmurou um “não há de quê” e voltou aos seus afazeres para se distrair.

Era difícil para ele controlar seu sex appeal, e mesmo sem se interessar de fato por alguém, sua voz rouca e sinais corporais costumavam parecer sempre um flerte.

Gladio era o diretor de arte da renomada empresa Lucis. A imagem visual da companhia era sempre sua prioridade, fosse em propagandas e apresentações no mercado ou até mesmo a aparência de seus superiores perante a sociedade.

E ele executava sua tarefa com perfeição.

A primeira vista, Gladio parecia descontraído demais para tamanha responsabilidade, entretanto, ele era tão capacitado quanto o próprio herdeiro em sua função. Conhecia não apenas a sua área de atuação, mas sabia tudo sobre a política e logística da Lucis. Era mestre em contornar escândalos e como apresentar a empresa diante de seus diferentes públicos. Atraía clientes, investidores, fornecedores e impulsionava vendas.

Não era à toa o reconhecimento que tinha do jovem príncipe, apelido pelo qual ele se referia ao herdeiro Caelum, como também do próprio Regis.

— Noctis.

Gladio adentrou a divisão de metal. Noctis mostrava a lista de ramais para o desconhecido, mas ambos viraram para encará-lo.

— Gladio! – ele deu um leve tapa em seu ombro – Este é o diretor que mencionei há pouco, Gladiolus Amicitia – ele disse ao outro homem - Este é Ignis Scientia, Gladdy. O substituto do Hideo.

— Prazer em conhecê-lo, Gladiolus – Ignis estendeu sua mão para um aperto amigável, e foi prontamente correspondido, com um sorriso cordial.

— Gladio, por favor.

Ignis Scientia...

O nome soava bem.

Ele era alto, praticamente a mesma altura de Noctis. Entretanto, Gladio era mais alto que os dois com seus 1,98.

Ignis possuía cabelos em tons loiro grafite, e usava bastante gel para manter os fios perfeitamente arrepiados. As expressões faciais, apesar do queixo levemente pontudo e maxilar marcado, não pesavam em sua aparência. Seus olhos verdes-claros eram simpáticos, mas os óculos transmitiam bastante seriedade. Gladio pensou que uma armação mais jovial cairia bem nele.

— Bom, vou deixá-los agora – Noctis anunciou.

— Muita dor de cabeça? – Gladio perguntou, em seu tom brincalhão de sempre.

— Ah... Já tive semanas piores – ele disse, começando a se retirar do local, mas parou antes de continuar o caminho – Ei, não se esqueça do nosso jantar!

— Estarei lá.

O jovem herdeiro acenou com a cabeça enquanto atendia o celular que começara a tocar. Os outros dois apenas observaram conforme ele ia em direção ao elevador.

— Aquele celular tocou umas cinco vezes enquanto conversávamos – Ignis comentou enquanto arrumava suas coisas na mesa.

— É... Noctis lida com muita coisa - Gladio relaxou os braços que até o momento estavam cruzados - Mas então, senhor Scientia.

— Ignis, por favor – sorriu de canto, e o mais alto gostou do comentário descontraído.

— É justo! – respondeu - Avaliei seu currículo. Você tem bastante experiência para alguém tão jovem!

— Você também não me parece tão velho, Gladio!

Ele gargalhou.

— Prestes a fazer 25. Estou no auge! Mas a julgar pela idade do nosso chefe, idade não significa muita coisa.

— De fato.

Gladio gostou do novo colega descontraído. O ambiente de trabalho ficava sempre melhor com bom humor nas horas certas, principalmente em empresas daquele porte. O clima leve também ajudava a fluir criatividade, habilidade essencial para o seu departamento.

— Bom, vou te passar um panorama do que está acontecendo por aqui. Você vai pegar rápido!

**

— E então, Noctis?

O local em que se encontravam era propositalmente mal iluminado. Os dois amigos estavam lado a lado, sentados em bancos próximos ao bar. A música ambiente fazia o estilo dos dois, rockabilly clássico, e embalava conversas e pessoas.

Estavam reunidos em um pub com sofás de couro, mesa de bilhar e uma decoração vintage sofisticada. Frequentado apenas por pessoas de alto poder aquisitivo devido aos preços e qualidade dos produtos.

Antes de continuar o jovem herdeiro deu um longo gole em sua cuba libre.

— ... Eu vou me casar!

Gladio estava prestes a levar sua caneca de chope até a boca, mas parou no meio do caminho. Encarou o amigo por longos três segundos, mas quando não ouviu nenhum complemento, apenas caiu na risada.

Noctis estalou a língua, impaciente:

— Isso é sério, seu idiota!

— Espera... Espera... – o mais velho tentava se recuperar da gargalhada, e foi parando gradativamente, recuperando a compostura – É sério mesmo?

— Gladiolus!

— Cara, não me culpe! Isso foi repentino! Me explica direito.

Mais um gole, e dessa vez seu amigo o acompanhou.

— Lembra a apresentação que fez para a Fleuret?

— Claro! Regis pediu bastante dedicação. Sem falar que – ele deu uma pequena risada antes de continuar – é um pouco difícil esquecer a jovem Lunafreya.

Noctis o encarou emburrado.

— Pois é com ela que irei me casar.

— Mas não faz meu estilo – acrescentou depressa, e o amigo apenas revirou os olhos – Isso já está certo?

— Não... Não sei! Ah! – Noctis esfregou o rosto com as duas mãos – Regis quer que eu vá para Altissia conhecê-la. 

— Foi por isso que ele te chamou ontem?

— Sim... E ele ainda tentou me enrolar! Você sabe Gladio, eu gosto de coisas claras.

— Apenas tente não pensar nisso. Lunafreya é jovem. Talvez não esteja nos planos dela se casar.

— Você também sabe que sempre farei o melhor pela Lucis...

— Eu sei. E nem por isso o melhor será preparar um casamento. Para de sofrer antes da hora!

O jovem herdeiro não respondeu.

O casamento não estava confirmado. Havia inúmeros “poréns” a serem discutidos. Como Gladio pontuou, talvez a menina não quisesse se comprometer com alguém que acabara de conhecer. Além disso, Noctis precisava analisar com cuidado os benefícios de uma parceria com a Fleuret e a capacidade de Lunafreya em administrar tudo. Mas certamente seu pai esperava um investimento sutil da parte dele

Ele apenas chacoalhou a cabeça e decidiu falar sobre outra coisa:

— Mas me fala... O que achou do Scientia?

Gladio mudou sua postura, tencionando o corpo e sorrindo de canto.

— Que tipo de pergunta é essa, Caelum?

— AH, pelo amor de Deus! Só queria saber se você o achou capacitado para o cargo!

— Mas é claro! – ele pigarreou – O currículo dele é impressionante. Ele também aprende rápido e é bem responsável. Às vezes parece sério demais, mas tem senso de humor.

— E você está interessado – comentou enquanto girava o canudo no copo.

— Você me conhece mesmo, amigo!

Às vezes Noctis achava que conhecia Gladio bem até demais. Os anos de amizade fez com que o mais velho se sentisse confortável para compartilhar seus gostos e pensamentos. Era bastante incomum, para não dizer imoral, mas Noctis não se sentia capaz de julgar. Até se interessara por alguns assuntos.

— E o Hon? – o jovem herdeiro perguntou.

— Ah... Ele pulou fora – comentou sem dar muita importância, e sorveu os últimos goles da bebida.

— Sábio garoto!

— Concordo. Ele merece algo sólido.

— O que me preocupa, Gladdy, é que eu não sei o quanto Ignis te despertou interesse – seu tom de voz saiu malicioso.

Antes que Gladio pudesse responder o garçom se aproximou do balcão e colocou dois pratos individuais com hambúrgueres e batatas fritas.

— Hmmm, isso é assunto para outra hora, Príncipe. Vamos comer!

Antes de comer, Noctis abriu o hambúrguer repleto de queijo.

— Mas que droga! Eu pedi sem alface!

Gladio revirou os olhos.

— Passa ‘pra cá.

E a noite terminou sem que nenhum dos dois retomasse assuntos envolvendo relacionamento.

 

 

 

 


Notas Finais


E este foi o primeiro capítulo!

Não se acanhem para comentar, viu?! Preciso saber o que as pessoas estão achando. rs

Até o próximo!!


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