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História Marcas de Guerra (Espólios de Guerra 1) - Trauma


Escrita por: scararmst

Notas do Autor


Eiei, scararmst aqui de novo :D
Segundo capítulo fresquinho pra vocês, espero que gostem :D

Capítulo 2 - Trauma


17 de junho de 1998
 

O quarto no sótão da Toca tinha suas vantagens. Era o mais escuro da casa, então Rony dormia com mais facilidade. Era mais difícil de entrar, então seus irmãos não costumavam fazer isso com tanta frequência. E era relativamente grande, se comparado com os outros quartos da casa. Mas naquela noite, assim como em quase todas as anteriores, o escuro do quarto não estava ajudando Rony a dormir. Ele olhou para o poleiro perto da janela onde Pichitinho, sua pequena coruja estava, coçando embaixo da asa com o bico.

Píchi se tornara sua companheira de noites inteiras. Rony custava a dormir, e quando conseguia acordava precocemente, muitas vezes suando frio, e mais vezes do que gostaria de lembrar com a mão na varinha que ficava embaixo de seu travesseiro agora.

Já faziam duas horas que ele estava rolando na cama de um lado para o outro. Acabou desistindo. Se levantou e foi para a janela, e no mesmo instante Píchi levantou voo do poleiro e pousou no ombro dele.

O sol estava quase começando a nascer. Rony sabia que estava com olheiras enormes, e descer para o café-da-manhã mais uma vez com cara de quem não vinha dormindo ia deixar sua mãe ainda mais preocupada. Ele considerou voltar para a cama e fingir que tinha dormido além da conta, mas seria uma mentira óbvia considerando as olheiras em seu rosto, ele também estava cansado de ficar deitado na cama, rolando de um lado para o outro a troco de nada. Por mais que estivesse precisando dormir, sabia que não ia conseguir, então era melhor seguir em frente.

Ele desceu para o café-da-manhã assim que sentiu o cheiro de pão saindo do forno. Assim que ele pisou na cozinha, antes mesmo de Percy, viu o olhar no rosto de Molly que ele sabia que significava o quão preocupada ela ficava sempre que o via de pé tão cedo, sendo que antigamente ele dormia a tarde inteira se lhe deixassem. Ela sabia só de olhar para o filho que ele não tinha simplesmente acordado cedo. Ele não tinha conseguido dormir.

De novo.

— Bom dia, Rony. — ela disse, colocando uma grande torta de frutas vermelhas em cima da mesa.

Isso também era novidade. Molly não costumava ser tão carinhosa com ele antes. Não que não cuidasse dele, mas ela sempre fora o tipo de mãe mais rígida e atarefada. Agora ela estava quase o tratando como tratava Harry.

Rony se perguntava se isso não seria efeito do choque de perder um dos filhos. Talvez fosse.

Ele respondeu com um aceno de cabeça e olhou para a comida por um tempo. Além da torta e do pão, também tinha ovos mexidos com bacon, sanduíches de carne enlatada,  que ele continuava sem gostar de comer, leite e suco de laranja.

Ele não queria nada. Não vinha conseguindo comer muito também, e se existia algum indicativo no mundo de que Rony não estava bem eram os hábitos alimentares dele. Ele pegou um pedaço de torta consideravelmente menor do que teria pego no ano anterior, e começou a cutucar a comida, enrolando para comer.

Rony achou melhor fingir não ter visto a cara muito preocupada de Molly para seu prato. Não era que ele não sentisse fome, porque sentia, tanto quanto antes. A diferença era que ele vinha vomitando com muita frequência, então comer muito tinha se tornado um problema mais do que qualquer outra coisa.

— Rony, querido, experimente um pouco dos ovos.

Ele negou, engolindo umas duas garfadas de torta. Era uma torta muito boa, como tudo que sua mãe cozinhava, mas um pedaço foi mais que o suficiente e ele se levantou no mesmo instante que Percy apareceu na cozinha, apressado.

— Percy sente-se e coma direito! — Molly brigou, com a colher de pau na mão.

Rony engoliu em seco. Ela estava mesmo o tratando diferente.

Percy negou, colocou ovos em um pedaço de pão e saiu pela porta da frente, resmungando que tinha muitos julgamentos para acompanhar com Kinglsey naquele dia. Ele mal tinha saído pela porta quando Rony viu Gina chegar, com a vassoura de corrida em uma mão dizendo que ia voar um pouco na parte da manhã. Ela recusou o café da manhã e saiu meio às pressas também. E assim Rony e Molly ficaram sozinhos na cozinha de novo. E ele só tinha dado duas garfadas em sua torta.

Percy tinha escolhido se enfiar em trabalho para lidar com o que tinha acontecido, e não era o único. Rony nem se lembrava de quando tinha visto Hermione pela última vez. Às vezes se perguntava se não tinha sonhado com os dois dias nos quais foram namorados antes que ela começasse a trabalhar tanto e ele se tornasse incapaz de seguir a vida em um ritmo normal. Gina parecia determinada a seguir carreira de jogadora de quadribol e decidira começar com isso sendo a nova capitã do time da grifinória em seu último ano em Hogwarts, e agora passava mais tempo em cima da vassoura do que com os pés no chão.

Mesmo Jorge encontrara o que fazer. E Rony mal conseguia manter a vida no lugar.

— Eu acho que vou dormir. — ele murmurou, terminando a torta.

— Ah. — Molly olhou para a escada. — Seu pai não voltou ontem à noite. Tem muita coisa de Você-Sabe-Quem para ser desfeita no meio dos trouxas, muita coisa…

A mulher fez um aceno com a varinha e um pedaço de pão, um copo de leite, um prato de ovos com bacon e um pedaço de torta voaram para uma bandeja.

— Pode levar para seu irmão na subida? — ela perguntou. — Não acho que ele vá descer...

Rony suspirou e concordou. As coisas tinham mesmo mudado. Em outra ocasião ela diria que quem não descesse para o café ia ficar sem ele.

Ele levitou a bandeja com a varinha e começou a subir as escadas de volta para seu quarto, parando no meio do caminho e batendo na porta do quarto de Fred e Jorge.

Não. Do quarto de Jorge.

Ele precisou bater umas duas vezes até que Jorge abrisse a porta. A visão do irmão com cabelo chegando nos ombros e dois dedos de barba descuidada não era nenhuma novidade para Rony, mas ele levantou uma sobrancelha ao ver que ele estava coberto de pó vermelho brilhante.

— O que está fazendo?

— É uma das ideias antigas de Fred. Não tínhamos feito funcionar, mas acho que dessa vez vai. — ele esticou a cabeça sobre o ombro de Rony, vendo a bandeja flutuando atrás dele. — Isso aí é pra mim?

— Ah. Sim.

Jorge saiu do quarto e pegou a bandeja com as mãos.

— Agradeça a mamãe por mim. Depois que eu fizer isso aqui pegar no tranco só vão faltar mais umas duas invenções para eu reabrir a loja.

Rony abriu um sorriso pequeno.

— Fred ficaria orgulhoso. E muito feliz.

— Eu sei. — Jorge respondeu, abrindo um sorriso também pequeno em resposta.

Então Jorge colocou a bandeja em cima de uma das mesas e fechou a porta do quarto.

Rony terminou o caminho para seu quarto e se jogou na cama novamente. Estava cansado, então era provável que fosse conseguir dormir. Só não sabia por quanto tempo.

Às vezes ele se perguntava se não devia procurar algo para fazer também. Talvez se passasse mais tempo no mundo e menos em casa, se ao menos tentasse seguir em frente como seus irmãos estavam fazendo… 

Jorge tinha ficado completamente devastado depois de perder Fred. Rony, seus irmãos e seus pais tinham ficado muito preocupados. Jorge parecia ter perdido a vontade de viver. Então, um dia, ele desceu para a mesa do café com um caderno de anotações de Fred que tinha achado arrumando as coisas dele. Um caderno de ideias para a Weasley & Weasley que eles nunca tinham colocado em prática.

Ele começou a trabalhar nisso no mesmo instante, e mesmo Molly tinha apoiado, ajudando Jorge a conseguir materiais e dando comida no quarto desde que ele estivesse se ocupando com alguma coisa.

Era um alívio ver Jorge entrando nos trilhos de novo, embora ainda estivessem todos de olho nele. Mas isso tinha feito um pouco da atenção se desviar para Rony também, e ele não sabia como se sentia sobre isso.

Todo mundo sabia assim que olhavam para ele que ele tinha passado por coisas com Hermione e Harry que não conseguiriam entender, mas com exceção de Bill e Fleur ninguém sabia que Rony tinha passado parte desse tempo sozinho, depois de uma discussão com os amigos. Não era seu tempo com Harry e Hermione que estava povoando seus pesadelos.

Era o tempo que tinha passado sem eles.

Ele sabia que, olhando a fundo, esse tempo era sua culpa. Era ele quem tinha saído depois da discussão, de forma impulsiva e até um pouco infantil. Ele sabia que era o único responsável pelo que tinha acontecido. Tinha pagado o preço por isso. Tinha pagado demais.

Quantos pedaços de sua alma tinha perdido?

O bruxo se sentou na cama, pegando um retrato em sua mesa de cabeceira. Eram ele, Harry e Hermione, em um fim de semana em Hogsmeade no quinto ano. Estava nevando na foto e, apesar de estarem vivendo um ano complicado, eles pareciam muito felizes. De certa forma, mais felizes naquela foto do que Rony se sentia agora, depois de tudo ter acabado.

Harry ainda via Hermione com frequência no Ministério, mas Rony estava completamente separado dos dois. E era culpa dele. Hermione tinha o visitado algumas vezes, mas ele se sentia tão vazio que era como visitar uma estátua. Aos poucos, ela parara de vir, acreditando que Rony precisava de um tempo sozinho para processar tudo. E ele concordava. Ele tinha mais para processar.

Não que fosse diminuir o que os amigos tinham passado. Harry tinha morrido. Hermione tinha sido torturada por Bellatrix um andar acima dele. Não, não era sobre o que tinham passado. Era sobre o que tinham feito. E ele tinha feito mais, e pior. Sabia disso. Tinha certeza.

Não podia ficar remoendo isso por muito mais tempo. Ia enlouquecer… Tinha que fazer alguma coisa com sua vida, qualquer uma. Qualquer coisa que fosse. Ele devolveu a foto à mesa de cabeceira, pegou sua varinha e aparatou para o Ministério da Magia.

Rony sabia, mesmo em seus momentos de mais desespero, quando sua mente voltava para aqueles dias e ele tremia e suava de desespero em sua cama, que a única coisa que o fazia se sentir melhor era ter a varinha em mãos. Então parecia simplesmente correto que ele procurasse algo para fazer que mantivesse a varinha com ele.

Precisava ver Harry. Sabia que ele era a pessoa certa para isso. Assim que chegou no Ministério e se deu conta de que tinha aparatado de pijama e tudo, percebeu que, realmente, precisava dar um rumo em sua vida.

Fred teria rido, pensou. Teria caçoado dele a semana inteira por aparatar no saguão de pijama.

Ele suspirou, e atravessou o saguão.

Não havia estátua nenhuma na fonte. Tinham removido a monstruosidade que Voldemort deixara lá e ainda não tinham substituído por nada. Rony imaginou por um instante uma estátua dele, Hermione e Harry, e não pode deixar de sorrir. Talvez deixasse essa sugestão em algum lugar anonimamente.

Por falar em anonimato…

— Ronald Weasley!!!

...lá se ia o dele.

Era curioso, Rony pensou, em como até alguns meses atrás daria qualquer coisa pra ter a atenção que Harry recebia. Agora tudo que ele queria era poder sair de casa de pijama em paz, o carma decidida dar para ele a fama que ele tanto desejara exatamente naquele momento de sua vida.

— Nunca ouvi falar. — ele respondeu, abaixando o rosto e atravessando a multidão na direção contrária.

A quantidade de “ahs” e “ohs” que ele ouviu atrás dele deixou claro que não estava conseguindo passar exatamente escondido pelo ministério. Ele soltou um palavrão baixo, massageando o cenho com os dedos. Estava começando a ter uma dor de cabeça.

Ele nunca desejou tanto em sua vida que soubesse os feitiços de Hermione para disfarçar aparência. Mal conseguiu atravessar o saguão principal, e dali ir para o corredor, mas percebeu pelo aglomerado de pessoas que não seria tão simples assim entrar em um dos elevadores.

Definitivamente não era assim tão bom ser famoso. Não quando tudo que se queria era estar em paz.

— Rony?

O ruivo suspirou de alívio, audivelmente. Harry vinha em sua direção, sem fazer esforço nenhum para abrir caminho em meio às pessoas. E agora haviam dois integrantes do famoso Trio de Ouro no meio do salão principal, o que atraiu ainda mais atenção.

— Rony! Céus, Rony, porque não me disse que vinha? É tão bom te ver!

E quando Harry o abraçou um pouco desajeitado por estar segurando uma pasta, Rony percebeu que algumas coisas não mudavam nunca. O amigo continuava ainda mais alheio a sentimentos alheios do que o próprio Rony era.

— Acha que podemos conversar em um lugar menos… abarrotado?

— Hã?

Harry escolheu esse momento para olhar em volta, e pareceu perceber ali que Rony não estava acostumado aos holofotes como ele estava. Rony sentiu a mão do amigo se fechar em seu ombro e logo eles aparataram.

A famosa sensação de ser espremido e arrastado tomou conta de Rony, mas ele se deixou levar sem preocupações. Tinha estrunchado uma vez, e fora ruim o bastante para toda uma vida. Quando o bruxo sentiu o chão firme sob seus pés novamente, e abriu os olhos, estavam dentro do que parecia ser uma sala de reuniões.

— Eu pedi Hermione para enfeitiçá-la. Só eu posso aparatar aqui dentro. Ou outra pessoa, se acompanhada comigo. — Harry explicou, se sentando em uma das cadeiras.

Havia ao menos seis cadeiras, todas iguais, sem nenhuma diferenciação. Um lugar para se sentar ao lado de Harry, e não com uma mesa entre eles.

— Hm… A visita pode ser, talvez, profissional, Harry.

— Oh.

O auror brandiu a varinha, e um cabinete se abriu atrás dele. Uma garrafa de vidro e dois copos vieram voando em direção aos dois, e Harry serviu o Uísque de Fogo para eles. Rony pegou o seu um pouco relutante. Não sabia se devia beber em seu estado atual, mas ao mesmo tempo, não ligava tanto quanto sabia que deveria.

Ele acabou decidindo beber, e a sensação do álcool foi um pouco mais relaxante do que ele esperava que seria.

— Então. Em que posso ajudar?

Rony percebeu naquele instante, enquanto olhava para o uísque em seu copo, que pedir um emprego para Harry era muito mais fácil na teoria do que na prática. Nunca gostara de pedir nada a ninguém. Nunca gostara de ganhar coisas porque Harry era importante. Era orgulhoso demais para isso. Morder esse orgulho era… complicado.

— Você ainda está capturando sobressalentes?

Talvez fosse bom começar com conversa casual.

— Ah… Sim. — Harry suspirou. — Eu gostaria que fossem só sobressalentes, porém. Acho que o trabalho nunca vai estar terminado.

Rony franziu a testa. A guerra tinha acabado. Estavam varrendo a bagunça. Só.

— Como assim?

— Uma coisa que Kingsley me disse. Existe um motivo pelo qual Voldemort foi o segundo bruxo das trevas com o mesmo propósito. Essa batalha não é contra Grindewald, ou Voldemort. É contra ideais. E ideais não morrem, Rony. Sempre existe alguém para os pegar de volta. E eu acho que ele tem razão. Quer dizer, já é a segunda vez, não é?

Bem. Isso era uma surpresa. Não que outros grupos de supremacia bruxa estivessem surgindo, não. Isso fazia sentido. A surpresa era a forma sábia como Harry tinha se dirigido a isso.

De repente, Rony percebeu que Harry parecia muito solitário e cansado. Exatamente como ele se sentia. Não tinha motivo para estar assim, certo? Sempre tinham sido os dois contra o mundo, mesmo antes de Hermione se juntar a eles. Só precisavam estar juntos de novo, e aquele peso que os sufocava tanto ia desaparecer. Tinha certeza disso.

— Bem… Parece uma batalha longa. E cansativa. Precisa de um braço direito?

Rony viu a surpresa no rosto de Harry, e de repente quis se bater por não ter pensado nisso antes. Sim, era claro que isso era a melhor ideia! Para os dois!

— Isso… É sério?

— Bem… Não sei se tem vagas, se está precisando, mas eu estou. E… Hm… Nós trabalhamos bem juntos, não é?

Rony não precisou dizer mais nada. Um sorriso se espalhou no rosto de Harry e ele se levantou depressa, disse que ia atrás da papelada necessária.

Um sorriso pequeno se abriu no sorriso de Rony. Esse era um bom primeiro passo. Talvez conseguisse colocar sua vida no lugar.

Tinha que colocar sua vida no lugar.

Ele virou seu copo de uísque. Agora tinha trabalho a fazer.


Notas Finais


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Jornal da primeira fic: https://www.spiritfanfiction.com/jornais/homem-de-gelo-e-os-novos-mutantes--interativa-17051135


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