História Mermaid - Larry Stylinson - Bênção de Afrodite

– Vo-você não tem pelo que agradecer. – Gaguejou e eu sorri ainda mais, tentando pensar como ele conseguia ser ainda mais especial e amável.

– Você literalmente salvou a minha vida, se eu não puder agradecer por isso, pelo que mais poderei? – Mantinha meu sorriso no rosto, mas troquei por uma ruga de preocupação quando ouvi vozes próximas falando em uma língua que eu não reconhecia. – Vamos sair daqui, é perigoso. – Tirei minha camiseta e minha calça e coloquei sobre uma pedra, prendendo-as.

– Por que está tirando suas roupas? – Ele disse corado. – Você não as usa para cobrir suas partes íntimas? – Ele era curioso e envergonhado ao mesmo tempo.

– Eu vou manter essa roupa aqui, não se preocupe. – Apontei para minha boxer e ele assentiu. – Posso te pedir mais uma coisa? – Eu olhei para ele, despertando seu olhar que percorria todo o meu corpo, principalmente minhas pernas nuas, o que também me fez corar. Ele assentiu rápido em resposta e eu entrei na água morna mesmo à noite no verão mediterrâneo. – Me leve para um lugar em que pudermos ficar sozinhos. – Ele mordeu o lábio parecendo indeciso por um tempo. – Você pode me explicar porque sumiu por todo esse tempo e eu te conto o que você quiser. – Ele me olhou apreensivo. – Por favor, Harry.

– Promete que se eu te levar e te contar tudo, você não vai fugir de mim? 

– Eu jamais fugiria de você. Na verdade, na maioria do tempo eu me sinto tentado a me jogar em seus braços e nunca mais soltar. 

– Esse é o problema. – Agora eu fiquei confuso. – Me prometa que depois que eu explicar tudo, vai me deixar te trazer até aqui em segurança e vai entender quando eu te deixar. 

– Mas, Harry...

– Me prometa.

Eu não queria prometer que ia aceitar que ele me deixasse. Harry não era só a realização de toda a minha vida científica, ele era a realização de meu sonho e o que eu sentia por ele era tão forte e me tomava tanto que eu começava a pensar que sentimentos muito mais profundos e primitivos me atraiam até ele.

– Eu prometo. 

Ele assentiu sério e estendeu a mão para mim, quando eu a toquei senti o choque característicos das narrativas clichês tomar meu corpo, engoli com alguma dificuldade e encarei seus olhos que brilhavam em um verde escuro e misterioso sob a luz do luar. Mesmo assim, apenas me entreguei, deixei ele me colocar em suas costas e abracei seu corpo másculo e forte, sentindo todo o meu copo responder a esse estímulo. 

– Seu coração está acelerado. – Ele comentou levemente preocupado. 

– Você faz o meu coração acelerar. – Não tinha a intenção de soar como um flerte, mas não pude resistir. 

–Você está com medo? – Ele virou o rosto levemente para poder me ver. 

– Não. – Disse firme, deixando que ele sentisse que eu estava preparado. – Me leve para onde quiser, Harry, o tritão. – Ele pareceu relaxar um pouco com a piada e se preparou para submergir.

– Vou fazer intervalos curtos, não se preocupe. 

– Eu não estou preocupado. – Ele fez uma careta e finalmente mergulhou. 

Senti meu corpo todo ser tomado pela sensação reconfortante que só o mar trazia e abri meus olhos, mas não foi possível mantê-los assim por muito tempo, pois Harry se movia com uma velocidade impressionante, tanto que quando emergiu, a praia estava muito longe. 

– Uau, isso foi... – Disse ofegante, tanto pelo tempo sem respirar quanto pela surpresa de estar ali. – Estou oficialmente em alto mar e isso não durou nem um minuto. Você é incrível! Podemos repetir isso quando eu estiver com meu equipamento de mergulho?

– Não vamos repetir isso, Louis. Nunca mais... – Sua voz soou distante e eu arriscava dizer triste. – Está pronto? – Ele me olhou de lado e eu me limitei a assentir. 

Tenho que admitir que mesmo sendo uma experiência incrível a cada mergulho, eu não aproveitei tanto assim a viagem quanto gostaria depois dele ter me confessado que essa seria a última vez. 

Eu imaginava que um relacionamento com uma sereia não era uma coisa fácil. E para ser sincero, Harry tinha me dado até agora muito mais do que eu já sonhei na vida. Mas parecia tão pouco perto do que eu imaginava para nós dois agora. Tão pouco perto do que eu sentia por ele agora. 

Avistei uma ilha próxima e percebi que ele rumava até lá. Me soltei dele e mergulhei em direção à praia para olhar ao redor. Mesmo à noite era possível observar algumas ruínas por ali, além de ser um ótimo lugar para Harry, com muitas pedras e lugares em que ele poderia se aconchegar. 

– É lindo. – Eu disse sorridente enquanto me aproximava apara sentar ao lado dele em uma pedra em que as ondas batiam de forma branda bem diferente do que deveria ser a essa hora da noite. – Como eu nunca vi essa ilha?

– Você não poderia, muitas lendas cercam esse lugar. Dizem que só pode ser encontrada por criaturas mágicas, como eu. – Ele disse evasivo. 

– Mas então eu não poderia estar aqui. – Disse confuso. 

– Eu não sabia como isso iria funcionar, tinha grandes chances de que você não a visse mesmo, mas como eu disse, muitas lendas. 

– Que tipo de lendas? – Eu perguntei e ele suspirou. 

– Dizem que essa ilha foi um presente de Afrodite para que um casal apaixonado pudesse se amar sem que os empecilhos de sua natureza intervisse. A lenda diz que o amor dos dois era proibido não só por serem diferentes, mas porque os outros jamais aceitariam que eles estivessem juntos. A ilha é uma fortaleza, coberta da magia de Afrodite, então, apenas um casal apaixonado poderia encontrar esse lugar e apenas pessoas realmente ligadas a eles poderiam estar aqui, pessoas que não o julgariam.

Ficamos os dois em silêncio por um tempo, absorvendo a história contada por Harry. E eu não podia discordar dele, eu estava apaixonado e eu nem sabia quando e como isso havia acontecido. Agora não havia mais como negarmos isso. 

– Espera, isso foi um teste? – Eu me virei para ele ao perceber que ele havia me trazido ali sem ter certeza de que daria certo. Mas diferente do que eu imaginei, ele olhou para mim com os olhos marejados.

– Me desculpe.

– Ei, calma... – Eu o puxei para meus braços e isso só o fez chorar ainda mais. – Harry, tudo bem sentir algo assim por alguém. É bom, é puro e bonito...

– Você não entende. – Ele se afastou e enxugou as lágrimas. – Você não está apaixonado por mim, Louis. Está apaixonado pela criatura em mim. 

– O quê? – Eu perguntei confuso. 

– É isso que eu faço com os humanos, eu os seduzo e... – Ele olhou para o oceano e de repente o fato de estar quase nu começou a pesar e o vento frio da noite fez meu corpo todo ser percorrido por um calafrio. – E eu os afogo. – Eu fiquei em silêncio, absorvendo as novas informações. – As lendas são reais. Nós somos crueis e...

– É isso que você quer fazer comigo? – Eu perguntei, olhando novamente em seus olhos. 

– Não... – Ele confessou e seus olhos marejaram de novo. – Mas é tarde demais, você já está apaixonado e isso significa que você fará qualquer coisa que eu pedir e que enlouquecerá longe de mim. Não há saída, Louis! – Ele disse em desespero. 

 – Na verdade, eu não acredito nisso. – Disse calmo, tentando acalmá-lo também. É claro que isso tudo era chocante e assustador, mas quando dizia respeito a Harry, a criatura doce e inocente a minha frente. – Você me disse que essa será a última noite em que nos veremos e que depois você vai se afastar, mas eu não estou convencido disso, porque desde que você falou eu estou pensando em formas de te manter por perto, o que significa que eu não vou fazer tudo o que você mandar. Mas você tem razão de dizer que eu enlouqueceria longe de você, porque é isso que as pessoas apaixonadas fazem: elas enlouquecem quando estão longe de quem elas amam. Pode ser que a sua espécie tenha sido criada com esse detalhe em sua natureza, mas isso não significa que você tenha sido, porque você não quer fazer mal a mim. – Eu segurei seu rosto em minhas mãos e sorri enquanto enxugava suas lágrimas. – Outros antes de nós conseguiram e essa ilha é a representação disso. Não chore e não tema, meu amor. – Ele sorriu minimamente e eu o aconcheguei em meus braços, fazendo o frio que antes havia me tomado ir embora.

– Não é uma história com final feliz. – Ele comentou. 

– Você já reparou que nenhuma história que envolve Afrodite tem um final feliz? – Eu ri, lembrando-me dos contos trágicos que conhecia. 

– Meu amigo Niall diz que ela não proporciona amor de verdade, porque ela tem prazer no sofrimento, nos amores desesperados, nas grandes tragédias que nunca têm um final feliz. Nós nascemos com uma missão dada por Poseidon e a bênção de Afrodite. Somos como as ondas do oceano, graciosos e sorrateiros, do tipo que pode agraciar seus pés em uma tarde de calor ou engoli-lo em uma noite de fúria.

– O que houve com eles? – Perguntei aconchegando-o ainda mais em meus braços e sorrindo quando o vi corar ao tocar o rosto em meu peito nu.

– Com quem? – Ele disse ainda corado, mas parecendo mais relaxado próximo a mim. 

– Com os primeiros moradores da ilha. 

– Eles confiaram na pessoa errada. – Harry suspirou. – É claro que o amor deles era proibido, uma sereia com um humano? Imagina, era um escândalo. A colônia inteira se revoltou, nós sempre aprendemos que humanos não são bons, que eles só sabem matar e ferir. Tentaram afastá-lo por inúmeras vezes. Dizem que ela estava desesperada quando rogou a Afrodite que a ajudasse e então ela lhe deu essa ilha. Mas eu acho que seu desespero não era apenas pelo amor do humano, Anne, que é a sereia responsável por cuidar de todos os pequenos, me contava que um filhote nasceu dessa relação. Ninguém sabe como ou quando, mas é o que ela dizia e eu gosto de pensar que sim. – Ele sorriu involuntariamente e eu fiz o mesmo. – Eu já vi pequenos de vocês e eles são lindos. Meu amigo Niall diz que vocês os chamam de filhos e que são importantes para vocês. – Eu ri da inocência dele.

– Você tem razão, os filhos são muito importantes. Um filho é a consequência do amor entre um casal. Ter um filho é um ato lindo, é amor puro em toda a sua essência. Não funciona assim com vocês?

– Dois de nós se unem com a finalidade da procriação. É feita uma cerimônia quando os dois são escolhidos, toda a colônia se une e os dois se encontram, fazem uma dança e entrelaçam suas caldas, eles produzem um ovo, que vai para a incubadora. A incubadora é cuidada por um grupo de sereias e tritões. E quando nascemos, o chefe da colônia determina a qual grupo pertenceremos. Eu sou um Styles, vivo com os Styles e sigo as ordens que me são passadas por isso, em geral, ficamos encarregados de grandes missões, pois somos parte do clã do chefe. 

– Uma pessoa importante. – Eu ri e deixei um beijo em seus cabelos, o que o fez corar e esconder o rosto em meu peito, o que o fez corar ainda mais e eu sorrir ainda mais. – Vocês são ovíparos, como a maioria dos peixes, isso é bem legal, essa cerimônia é um pouco diferente, mas alguns animais também fazem uma dança de acasalamento. Deve ser uma sensação incrível ser escolhido, como é?

– Eu nunca fui escolhido. – Ele corou forte. – E espero nunca ser. – Sorri mais animado do que gostaria de parecer, mas não pude evitar.

– Eu amo ouvir suas histórias, saber de você e do seu povo. 

– E eu gosto de saber sobre os humanos, mas gosto mais de saber sobre você. Quero que me conte tudo! – Ele disse animado e nós rimos.

– Harry... – Eu o chamei e ele me olhou sem se afastar muito. – Obrigado mesmo por ter me salvado aquele dia. Eu já tinha desistido de tentar...

– Eu percebi. – Ele afastou o corpo do meu, fazendo uma careta de desgosto. – Deuses, foram os piores segundos de minha vida! Você nunca mais vai fazer isso comigo. – Ele disse bravo e eu ri.

– Desculpa... – Ergui as mãos em rendição. – Mas é que eu sabia que tinha uma sereia heroína por perto. – Pisquei e ele revirou os olhos.

– Eu sou um tritão. – Disse entediado.

– Me desculpe, senhor tritão Harry Styles. – Eu forcei a voz para soar sério e o puxei para meus braços novamente, fazendo sua calda roçar em minha perna e um calafrio percorrer meu corpo. – Sei que você deve ter quebrado algumas regras para salvar um humano, então só posso te agradecer eternamente por isso.

– Os humanos não são tão ruins quanto eles dizem.

– Eu gosto de ver como você fala sobre nós, gosto de ver que apesar de toda a maldade que você já viu, você não acha que todos nós somos maus. Eu sou como você, eu ainda tenho fé na humanidade.

– Sabe o que me fez pensar isso? – Eu neguei com a cabeça e ele sorriu levemente, estendendo a mão para tocar meu rosto. – Você. 

Senti uma vontade incontrolável de beijá-lo e demonstrar tudo o que eu sentia, mas sabia que um ato como esse poderia ser demais para ele. Harry era puro e inocente e eu odiaria estragar tudo com ele, odiaria corrompê-lo. Então apenas colei minha testa na sua, fechando os olhos mesmo vendo o quão surpreso ele estava pela atitude, mas ele relaxou logo em seguida.

– Eu amei esse lugar. E a vista é linda. – Disse ainda com nossas testas coladas e mantendo os olhos fechados, mas eu não precisava fazer isso para saber o quanto esse lugar era especial, então apenas abri os olhos apenas para ver os profundos olhos verdes de Harry. – Vou amar passar cada segundo com você aqui.