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História Meu Anjo (Camren) - Confissões


Escrita por: CamrenJu

Capítulo 6 - Confissões


Residência Jauregui

Lauren

Insisti em buscá-la em casa, pois o problema em seu carro tinha se mostrado mais sério do que ela pensava. Mas Camila foi firme dizendo que pegaria um ônibus que passa na frente de sua casa e cujo trajeto inclui a rua atrás da minha. O dia estava bom, e a morena poderia se sentir mal se insistisse em buscá-la. Então nos despedimos pelo telefone e combinamos que ela viria em 1 hora.

Camila deve estar chegando por agora.

Não consegui conter o sorriso que apareceu em meu rosto ao pensar nela. As pessoas ficam felizes por receberem amigas em casa, não é?

 

— Boa tarde, Camila — disse para a mulher que estava parada na porta com um sorriso envergonhado.

— MILAAA — Isa veio dando gritinhos de alegria e pulou no colo dela.

Fiquei assistindo a cena com um sorriso bobo no rosto. Essa abertura e carinho por parte de Isa não era normal, Camila tem realmente algo diferente. Seu sorriso é capaz de iluminar qualquer lugar e seu olhar me passa verdade, mas também um sofrimento. Só o que sei é que a cada vez que a encontro, quero conhecê-la mais. E isso me assusta, de verdade. É tão mais fácil se manter distante quando as pessoas são só uma casca, ou pelo menos demonstram ser só isso.

A tarde passou voando, minha filha não deu descanso pra Camila nem por um segundo. Brincamos muito e estávamos há um tempo no quarto de Isa, até que resolvi vir preparar um lanche pra todas.

A porta estava toda aberta, mas parei um pouco antes pois conseguia ver o interior do quarto pelo espelho grande que ficava no corredor, e observei a interação e conexão das duas. Camila não conseguiria me ver pois estava de costas. Quando ia anunciar minha chegada, ouvi Isa perguntar:

— Mila, você conheceu minha outra mamãe?

Percebi que Camila foi pega de surpresa, assim como eu.

— Não conheci, pequena. Mas sei que era uma mulher maravilhosa.

— A mamãe diz que ela era, mas como você sabe? — Isa perguntou com os olhinhos brilhando.

— Ah, pequena. Tem pessoas que são especiais, e essas cativam outras que também são. Se a mamãe Lauren amava..na verdade, ama tanto sua mamãe Amanda, é porque ela com certeza era especial, pois Lauren também é. Entendeu, minha linda?

— Acho que entendi — minha pequena parecia um pouco confusa com a explicação de Camila.

Mas se em Isa gerou confusão, a fala de Camila em mim fez os batimentos acelerarem de uma forma que não faziam há tempos. Essa foi a coisa mais linda e sincera que já falaram pra mim depois de toda a tragédia. Na verdade a morena não falou pra mim, mas por força do destino eu estava aqui pra escutar.

Camila não conheceu Amanda, mas demonstrava um respeito por ela e por minha pequena, que fez com que meus olhos marejassem. Pessoas assim são raras. Esperei alguns segundos pra me recuperar e depois entrei no quarto, oferecendo os lanches. As duas devoraram rapidamente, Camila parecia uma criança também nesse momento. Os melhores adultos são aqueles que não abandonaram suas crianças interiores. 

Fiquei no quarto e me juntei às brincadeiras, e pouco tempo depois, Isa já bocejava denunciando seu sono. Esperamos a pequena fechar os olhinhos. Antes disso, ela deu beijos carinhosos por toda extensão do meu rosto e do de Camila, e dormiu segurando a mão dela.

Agora éramos só nos duas...

Chovia lá fora. Descemos as escadas e nos sentamos no sofá da sala. Meu coração batia mais forte, meus pensamentos me confundiam.

Só quero que isso passe.

Camila

20h

O dia foi maravilhoso, eu me senti a pessoa mais sortuda do mundo por poder passar umas horas com essa criança incrível. Sinto até que minha alma ficou mais leve depois disso.

Agora somos só eu e ela... e pareço uma adolescente no primeiro encontro sem saber o que falar.

“Camila, ela é sua chefe e te convidou pra casa dela pra deixar a filha feliz, só isso”, pensei.

Olhei pra mulher sentada a minha frente no sofá da grande sala.

— Obrigada por ter me convidado, Lauren. Foi maravilhoso passar essas horas com sua filha, ela é realmente uma criança especial.

— Eu que agradeço por ter vindo, mas você sabe que agora ela vai querer te ver sempre...-ela disse em um tom de voz receoso- tudo bem se você não puder, sei que além de trabalhar no período da tarde lá na empresa, você faz consertos e instalação de computadores por fora de manhã. Deve chegar em casa de noite só querendo descansar, e nos fins de semana sair com seus amigos. — ela falou, demonstrando não querer me deixar em uma situação difícil.

— Lauren, eu chego sim cansada em casa, mas gosto muito de sua filha, e se você não achar ruim quero continuar a vê-la. —falei com medo de sua resposta. Eu queria mesmo continuar tendo contato com sua filha, mas Lauren provavelmente não gostaria de ver uma funcionária nova querendo essa aproximação com a pequena... eu sou muito folgada, isso sim!

Na hora que ia me desculpar dizendo que tinha sido petulante, ela respondeu:

— Claro que não acho ruim! Só o que eu quero é que minha filha esteja cercada de pessoas que a fazem bem. — disse sorrindo e olhando no fundo dos meus olhos. Eu acho que até meu nome eu esqueci depois disso.

Desde a morte da minha mãe, não consegui me conectar e me abrir para as pessoas. Lauren falou sobre eu querer sair com meus amigos no fim de semana, mal sabe ela que não tenho nenhum. Conheci boas pessoas na faculdade, mas sempre fugi de qualquer contato mais íntimo. Não desenvolvi nenhuma amizade de verdade devido a isso. Quando me sentia muito sozinha em casa, ia aos bares perto da universidade e dava em cima de algumas mulheres pra tentar simplesmente sentir alguma coisa. Fiquei com algumas, intimamente, mas era só desejo, nada que preenchesse o vazio que impera até hoje aqui dentro.

— Confesso que fiquei curiosa para saber aonde seu pensamento foi. — Lauren disse me despertando dos devaneios.

Aaai que vergonha! Eu devo ter ficado quase um minuto olhando pro nada. Eu tenho que parar de fazer isso!

— Ah, desculpe, Lauren! Que vergonha — falei colocando a mão no rosto.

Lauren me presenteou com uma risada gostosa e disse:

— Não precisa se desculpar, eu achei meio engraçado na verdade, você estava totalmente perdida nos pensamentos.

Ah, Lauren, você tem que parar de ser tão perfeita...

— Acho que, pra me redimir, devo uma explicação sobre onde estava minha mente — falei receosa.

— Não vou dizer que não quero — Lauren respondeu divertida.

Sorri, achando seu jeitinho a coisa mais fofa.

—Bom, estava pensando no que você disse, sobre eu querer sair com meus amigos… é que, digamos assim, não sou uma pessoa muito popular — falei envergonhada pela confissão.

— Como assim? —Lauren perguntou curiosa.

— É que não sou de me abrir para as pessoas. Tinha alguns amigos da época de criança, mas após a morte da minha mãe me afastei de todos eles. Fiquei algum tempo apenas saindo de casa pra faculdade, e da faculdade pra casa. Por esse motivo também não fiz amigos na universidade. Eu me sinto feliz trabalhando com o que amo, e acho que isso basta pra mim.

Despejei tudo isso sem nem pensar, nunca tinha falado essas coisas pra ninguém. Por que o fiz agora? E com a minha chefe??

Essa facilidade com que meus pensamentos voam da minha boca quando estou com ela está começando a me preocupar.

— Você disse que não é de se abrir com as pessoas, mas se abriu agora pra mim — Lauren falou, cortando o silêncio que tinha se estabelecido no ambiente.

Sua resposta me deixou surpresa, será que ela queria que eu agora explicasse o porquê de ter feito isso? Mas nem eu sei. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela continuou.

— Eu também não sou de me abrir com ninguém. Eu costumava ser, antes do acidente… mas depois, algo mudou. Guardei muita coisa a sete chaves, e mesmo tendo Ally, Mani e Dinah sempre prontas a me ajudar, preferi manter certas coisas só pra mim. — disse, e eu senti a sinceridade com que proferia cada palavra.

De alguma maneira, ela acabou de se abrir pra mim também, e eu não sei o que fazer. A vontade é de abraçá-la, mas tenho autocontrole. Certamente ela não gostaria que uma funcionária nova se atrevesse a quebrar a barreira da formalidade. 

Lauren

Camila contou coisas bem pessoais para mim, e eu senti algo muito forte que fez eu querer me abrir um pouco pra ela também. Eu não sei o que essa mulher faz comigo, só sei que agora o que mais queria era seu abraço.

Não sou uma pessoa de abraços, pelo menos não depois do acidente. Os únicos que aceito são os das minhas três mulheres maravilhosas, e claro, o da minha filha. Esse último consegue me fazer esquecer as coisas ruins da vida nos segundos que dura.

Mas mesmo não sabendo o porquê, senti uma necessidade de abraçar a mulher sentada na outra ponta do sofá. Claro que me contive, ela pensaria que sou louca. Ou pior, que estou aproveitando da minha posição como sua chefe pra me aproveitar dela! Abusos em ambientes de trabalho acontecem com frequência, claro que tendo como agente quase sempre alguém do gênero masculino. Mas agora ela já sabe que sou lésbica, que já fui casada com uma mulher. Tenho medo de que ela pense mal de mim se me aproximar muito.

Ela me olhava de um jeito diferente, mas via que ela estava tentando encontrar palavras pra responder a minha confissão.

O toque de meu celular interrompeu o silêncio que imperava no ambiente. Olhei no visor e era Mani.

Voltei meu olhar para Camila, e esta fez um gesto para que eu atendesse.

— Oi, Mani — falei.

Camila fez uma cara diferente quando eu disse o nome de Mani, será que…

—Miga sua loouca — Mani falou do outro lado da linha — Só “Oi, Mani” ? Tá doente, é?

— Não, Mani, mas do que se trata? — tentei soar o mais normal possível. Em outras circunstâncias eu atenderia o telefone dizendo “faaala, gostosa!”.

— Oxi, sua estranha. Só liguei pra saber como está a pequena. Faz quase duas semanas que não vou aí, tô me sentindo a pior tia de todas.

— A Isa tá ótima, Mani. Amanhã a gente conversa mais sobre ela — tentei encerrar a conversa.

— Ah, mais uma coisa. Segunda-feira vou convidar a nova gata do Desenvolvimento pra sair, Camilinha... só pra avisar que vou ficar com mais uma mina da empresa— riu e mandou beijo, logo em seguida encerrou a ligação.

Minha cara fechou totalmente, e óbvio que Camila percebeu.

— Está tudo bem, Lauren? —perguntou preocupada.

— Está sim, Camila. Mani só falou de um problema na papelada da área administrativa, mas resolvo na segunda sem problemas — menti, tranquilizando a pequena.

Mas não consegui tirar o que Mani disse da cabeça. Ela queria Camila, e quando ela quer... ela consegue. Normani é estonteante, e se Camila for lésbica ou bi, certamente irá aceitar. A verdade é que Mani já fez até algumas “héteros” descobrirem que gostam de mulher.

Isso não deveria me incomodar. Isso não pode me incomodar! O que minha amiga e meus funcionários fazem fora do horário de trabalho nada tem a ver comigo, e pronto.

O olhar da mulher a minha frente me fez esquecer um pouco esses pensamentos. Ela sorriu pra mim e continuamos conversando.

Camila

O tempo passou voando. Conversar com Lauren é tão bom, tão leve. As palavras fluem. Descobri muitas coisas sobre sua vida, sobre a relação de confiança que tinha com seus pais, e sobre seu grande amor, Amanda. É muito lindo o jeito que Lauren fala dela, o amor de verdade realmente nunca se apaga.

Contei pra ela sobre minha mãe, uma mulher que fez tudo por mim. Falei o que estava no fundo da minha alma, nunca expus nada disso antes, pra ninguém. Colocar isso pra fora fez com que saíssem algumas lágrimas de meus olhos, involuntariamente.

O que aconteceu depois disso fez meu coração praticamente sair pela boca.



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