História Meu Anjo (Camren) - Amigas

Lauren

Ela falou de sua mãe pra mim, eu sentia tanta verdade e tanto amor em sua voz, a relação das duas era muito bonita. Camila ficou devastada com a morte trágica da mãe, deixando-a sozinha no mundo com tão pouca idade. Eu estava olhando pra ela, atenta a cada palavra, até que vejo uma lágrima ameaçando escapar de seus olhos.

Não pensei em mais nada, só queria tirar aquela tristeza de dentro dela.

Quando dei por mim, já a tinha em meus braços, com sua cabeça encaixada no meu pescoço e suas mãos enlaçadas em minhas costas. Minhas duas mãos afagavam seus cabelos.

Senti uma necessidade muito grande de protegê-la, de tirar aquela dor de seu peito. Sabia o que ela sentia, também perdi as pessoas que mais amava. Ficamos naquele abraço por um tempo que não sei quantificar.

Não havia malícia ali, apenas carinho, muito carinho. Eu fazia cafuné em seus cabelos, e aspirava aquele cheirinho gostoso do seu shampoo. Mas de repente me veio um medo de tê-la assustado com esse gesto repentino. Não queria que ela pensasse que a abracei com segundas intenções, pois foi algo que fiz realmente sem pensar. Então achei melhor dizer, enquanto nos soltávamos:

— Camila, quero que você saiba que agora você tem uma amiga, e pode me contar tudo que sentir que precisa. Só escorre pelos olhos o que não cabe mais no coração, sei por experiência própria que guardar tudo não faz bem. Serei sua confidente, e você será a minha.

Eu realmente queria aquilo que disse, eu confiava na mulher a minha frente, mesmo que isso não tenha uma explicação sensata.

— Lauren, eu não sei nem como agradecer, você me receber em sua casa, me tratar tão bem e me fazer sentir confortável pra contar coisas que estavam entaladas aqui — Após acompanhar seus dedos que apontaram para sua garganta, meu olhar subiu pra sua boca, e por um segundo me imaginei a deitando no sofá e tomando pra mim aqueles lábios maravilhosos.

“Amiga, Lauren. É só o que você quer ser dela.”, me convenci em pensamento. É só o que poderíamos ser. E é só o que seríamos.  

— Obrigada por tudo — ela disse olhando nos meus olhos, e continuou após alguns segundos — eu acho que vou agora antes que fique muito tarde. Quero deixar você descansar. —disse, preocupada.

—Por mim conversaríamos mais, mas está ficando tarde mesmo, você deve querer descansar. Vamos, vou colocar Isa na cadeirinha no carro e te levo em casa. — disse, já me levantando.

Camila praticamente pulou do sofá dizendo que não queria que eu acordasse Isa apenas para levá-la em casa. Ela fez um jogo emocional injusto, dizendo que a pequena deveria estar dormindo como um anjo agora e seria muito ruim acordá-la. A chuva havia cessado e ela alegou também que morávamos perto e não teria problema ir de uber. 

Ela conferiu no celular que o motorista já estava perto. 

— Obrigada por tudo — falei o que meu coração queria dizer.

— Eu que tenho que agradecer — sorriu lindamente.

Nos abraçamos de novo, agora de pé, mas nos separamos rápido. A vontade de beijá-la ainda não havia passado, não era seguro tê-la tão perto de mim por muito tempo.

E assim Camila foi pra casa, deixando-me com pensamentos e sentimentos estranhos.

Amigas, Lauren.

Amigas.

Camila

Ter uma amiga deve ser maravilhoso, mas confesso que queria mais que isso com Lauren. Não é certo eu sentir vontade de beijar uma amiga, né? Senti-me mal por ter esses pensamentos. Lauren é uma pessoa maravilhosa, seu abraço foi como um porto seguro. Ficaria aninhada em seu peito por um dia todo se eu pudesse.

Amigas...

Certamente Lauren é uma amiga incrível. E como eu sempre soube, é muita areia pro meu caminhãozinho. Bem sucedida, inteligente, mãe dedicada, pessoa humilde, gentil “e como se não bastasse, é completamente deslumbrante” completei em minha mente, para logo em seguida me martirizar por tal pensamento.

Tenha respeito, Camila! É óbvio que Lauren só quer ser sua amiga, então é assim que vai ser.

Fui dormir pensando nela.

SEGUNDA-FEIRA, 12:30h
           Jauregui Tecnologia Ltda.

Tinha acabado de chegar na empresa, vim de ônibus hoje também, pois constatei que o problema do meu carro era o carburador – e não tenho dinheiro pra consertar agora. O amigo da minha mãe que trabalhava em uma mecânica faleceu ano passado. Era ele que sempre me auxiliava com os problemas do meu carrinho.

Percebi que não havia ninguém no meu andar. Eu me preveni saindo com antecedência, para caso acontecesse algum problema com o ônibus, mas o percurso foi tranquilo e então acabei chegando antes.

Liguei meu computador e me entretive no meu projeto. Estava tendo progressos, o que me deixa muito empolgada!

Minha concentração foi retirada da tela do computador por uma voz doce:

— Oi, Camila — era Normani, que sorria e me olhava de um jeito que me deixou envergonhada.

— Oi, Normani — respondi educada, sorrindo também.

— Estava pensando aqui, amanhã inaugura o restaurante de um grande amigo — fez uma pausa e sorriu pra mim… uau, ela é realmente estonteante — Você quer ir comigo?

Devo ter feito uma cara de surpresa muito besta. Então eu estava certa quando achei que ela tivesse dado em cima de mim no primeiro dia em que conversamos?? Mas ela tem a idade de Lauren e também é um mulherão. Por que quer sair comigo?

E falando em Lauren, se uma de suas melhores amigas está me chamando pra sair, certamente ela não quer mesmo nada além de amizade comigo. “E você ainda tinha alguma dúvida, Camila?”, e com esse pensamento me coloquei em meu devido lugar.

— Fui muito direta? Desculpa — Mani falou, sorrindo ainda mais maravilhosa. 

— Não precisa se desculpar. Eu gosto de gente direta — respondi, entrando no jogo dela.

Recebi um sorriso cheio de segundas intenções.

Conversamos mais um pouco e combinamos de ir com seu carro direto do trabalho amanhã. Falei que estava de ônibus e ela disse que me levaria em casa depois sem problemas.

Não acho legal sair com alguém pra tentar tirar outra pessoa da cabeça, mas Mani não me parece uma pessoa que liga para isso. O seu jeito sedutor denuncia que ela deve ficar com muitas mulheres. E talvez ela nem queira mesmo ficar comigo após o jantar.

Voltei a me concentrar no computador. Mas confesso que um olho estava na tela e o outro no elevador lá no final do ambiente, esperando... Não tem como negar, é fato que meus dias sempre melhoram depois que vejo Lauren.