A sensação de tê-lo ali junto a mim, agora acreditando fielmente em minhas palavras, me fazia um bem que eu jamais imaginaria que sentiria novamente. Era claro que as esperanças disso voltar a acontecer estavam enraizadas dentro de mim desde que tudo aconteceu, porém conforme o tempo passava, era como se as raízes tivessem ficado bem mais fracas, e a desmotivação tivesse sido crescente.
A ponta de cada dedo meu conseguia sentir a suave costura do casaco que o outro usava, e conforme eles deslizavam inquietos pelo tecido e minhas narinas conseguiam capturar mais e mais do cheiro que exalava dos lugares característicos de onde borrifava o perfume, conseguia me sentir mais feliz.
Nossos corpos permaneciam grudados um no outro, enquanto praticamente ocupávamos o caminho do corredor daquele prédio. Fora quando então passos, que com certeza não eram de uma única pessoa, soaram no local que notamos não estarmos mais sozinhos. Meu pescoço virou o máximo que podia para trás, e vendo que aquilo não era o suficiente, notei que era necessário me desprender, nem que fosse um pouco do corpo do mais velho para poder ver quem estava conosco.
Namjoon e Taehyung estavam parados também no meio do corredor, lado a lado como uma forte dupla de amigos inseparáveis. Em meio a todo o desespero que me cobria desde cedo naquele dia, nem sequer havia percebido que os dois estavam usando sapatos iguais: um par de tênis brancos com detalhes azuis, rosas e amarelos em tons pastéis.
Chegava a ser uma situação engraçada, em vista de que talvez nem eles mesmos tivessem notado a coincidência. Os cabelos de Taehyung estava jogados sobre a testa e a lâmpada presa ao teto se encarregava de iluminar os fios mais claros. Namjoon tinha o cabelo em um penteado diferente, algo que se assemelhava a um topete, e que o deixava definitivamente com uma aura mais madura. Era de certa forma impactante como não havia sequer prestado atenção em pequenos detalhes, tudo por causa da mente ocupada com problemas demais. Perceber naquele instante as coisinhas engraçadas que eu havia deixado de notar, me fizera questionar quais seriam as outras coisas que voaram a frente de meus olhos e eu nem sequer reparei.
Meus lábios enfim deslizaram pelo rosto, formando um sorriso que não mostrava os dentes. Eu queria que eles entendessem tudo sem que eu precisasse dizer nem mesmo uma palavra, e foi o que aconteceu. As faces que antes estavam enrustidas em uma preocupação compreensível, em vista de terem acabado de chegar e não saber de nada do que estava acontecendo, conseguiram então se desapegar e mostrar a suavidade que era estarem com o peito repleto de alívio.
Antes mesmo que eu enfim pudesse dizer mais alguma coisa, os dois pareceram ter a mesma ideia e aparentemente no mesmo instante, começando a andar em nossa direção ao mesmo tempo.
O calor que antes era dividido apenas entre meu corpo e o de Hoseok, agora poderia ser compartilhado em um abraço de quatro pessoas no meio do corredor do prédio. Ora ou outra risadinhas fofas eram soltas por bocas aleatórias de quem estava dentro do abraço, e talvez isso tudo fosse apenas a felicidade excessiva sendo repartida entre todos ali.
Fora em pouco tempo que eu parei para perceber que toda aquela confusão que fora resolvida há minutos atrás tinha acontecido na manhã do mesmo dia. Era quase que impossível pensar que algo tão extremo teria sido solucionado em tão pouco tempo, porém eu não me sentia tão surpresa. A força de vontade fez com que eu me mantivesse forte em relação ao que eu queria, e não tinha nada que eu quisesse mais do que ter Hoseok de volta.
Momentos pequenos onde eu pensei que fosse impossível ter o que queria não deixaram de surgir, mas a garra era tão forte que conseguia desmanchar os pensamentos mais destrutivos que minha mente criava de uma forma muito simplória, assim como quando mergulha-se as cerdas de um pincel em um pote de água, fazendo com que a tinta que antes estava impregnada em cada fio se mesclasse a água acromática.
Toda a dor poderia perdurar por muito mais tempo, e talvez nem sequer chegar perto de uma solução concreta, mas tudo seria apenas uma questão de se manter firme. Eu tinha conseguido rápido, e ainda bem que tinha sido assim, entretanto, mesmo que tudo tivesse sido diferente, a minha força de vontade seria a mesma, porque eu sei que é a luta constante que traz a vitória.
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Nosso apartamento, 18:54
— Então você vai passar a noite na casa do Taehyung? Não acham melhor eu levar vocês? Tá ficando tarde. — as sobrancelhas baixas e quase juntas de Hoseok me faziam pensar que ele estava realmente preocupado, mas não com o fato de dormir eu e Taehyung no mesmo quarto, mas sim pelo horário.
— Não se preocupa, vai dar tudo certo, a casa do Tae não é tão longe, e de qualquer for... — em tão pouco tempo de fala, já havia sido interrompida por Hoseok, que pôs sua mão sobre a minha.
— Eu levo vocês, posso deixá-los um pouco antes do portão caso prefiram... e quanto ao Namjoon... posso te deixar na porta de casa também.
Em meio a um pensamento sensato, cada um de nós chegou a conclusão de que deveríamos ir para outro lugar que não fosse claramente interromper o trajeto de alguém no prédio, e assim viemos parar em uma quase roda, sentados no chão ao redor da mesinha da sala, já dentro do apartamento.
— Eu não sei vocês dois, mas eu aceito a carona. — Namjoon acabou liberando uma risadinha, aproveitando a oportunidade que havia surgido.
— Acho que talvez não tenha problema dele levar a gente, contanto que pare antes... meu pai pode achar estranho.
Não pude nem ao menos discordar, porque simplesmente se o próprio Taehyung concordava com tudo aquilo, já podia ficar tranquila e ceder.
— Tá bom, então eu levo... Namjoon primeiro? — Hoseok tornou a olhar para Namjoon um tanto indiferente, o que me fez ter a vaga lembrança de que a única impressão que ele tinha de Namjoon fora quando o outro me trouxe tarde e bêbada pro apartamento.
Não é como se eles se odiassem, mas claramente ainda havia algum remorso, um desentendimento mal resolvido entre os dois, e talvez já fosse o momento para que ambos resolvessem isso.
— Eu imagino que a casa de Taehyung seja mais próxima... vocês podem aproveitar o tempo juntos pra poder... quem sabe se aproximarem. — fora notável o olhar surpreso que os dois lançaram um para o outro e logo em seguida para mim.
— Não acho que a gente tenha muito o que conversar, não é... Namjoon? — a tentativa de fuga da minha proposta se tornou clara, não apenas pela fala previsível, mas sim também pelo olhar que Hoseok encaminhou para o mais alto dali.
Antes então que Namjoon pudesse dizer algo, mais possivelmente confirmar com o que Hoseok havia dito, fiz questão de interromper com uma fala acompanhada de um sorriso.
— Vocês podem arrumar diversas coisas pra conversar... vamos então? Acho melhor não irmos tão tarde.
Meu corpo se ergueu e foi acompanhado dos rapazes ali presentes, entretanto dois dos corpos pareciam um tanto desanimados e contrariados. Sem pensar muito, estiquei meu braço para segurar a mão de Hoseok, atrelando nossos dedos para o puxar um pouco mais para perto e deixar-lhe um beijinho na bochecha.
— Namjoon é um cara legal, confia em mim. — o polegar deixava um afago lento em sua mão, perdurando até depois de eu cochichar ao pé de seu ouvido.
Fui retribuída apenas com um comprimir de lábios por parte de Hoseok e mais um levantar de ombros, e ao que tudo indicava, ele havia aceitado tudo, mesmo que ainda estivesse se sentindo contrariado em meio a situação. Por outro lado, eu sorria contente, esperando com todas a forças possíveis que houvesse algum tipo de entendimento entre os dois.
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— Aqui, aqui. Eu e a (S/n) podemos seguir a partir daqui. — Taehyung ditou, enquanto apontava de maneira serena para o final de um muro que era coberto de hera.
Sendo assim, Hoseok atendera seu pedido e logo estacionou o carro, virando seu rosto até o meu.
— Fique bem. — senti sua mão se dirigir até meu joelho e deixar um carinho no local.
Eu havia sorrido, porém algo meramente insuficiente para ser uma simples despedida. Meus olhos observaram seu rosto e a luz de um poste mais a frente conseguia iluminar muito bem seus traços, deixando-os ainda mais marcantes.
Cada simples pedaço de Hoseok me fazia feliz e, consequentemente, me fazia amá-lo ainda mais. Assim que baixei meus olhos até a pintinha que ficava por cima de seu lábio superior, me vi motivada a segurar seu rosto de maneira confortável e puxar seus lábios para mim.
Eu poderia ficar envergonhada por terem dois rapazes no banco de trás do carro, mas minha mente entendia que aquele beijo não levaria a nada, apenas serviria como uma digna despedida até que por fim o tempo passasse e eu pudesse voltar pro apartamento.
— Você também. — finalizei com um simples beijinho sobre a ponta de seu nariz e ambos sorrimos, provavelmente por sermos dois bobos apaixonados.
Era a hora. Algumas palavras de despedidas rápidas foram proferidas e logo eu e Taehyung nos encontrávamos na calçada lado a lado, observando Hoseok fazer a manobra com o carro para voltar a pista e assim nós seguirmos nosso caminho até sua casa.
— Eu espero que meu pai não esteja acordado... e talvez não esteja mesmo, a essa hora já deve ter desmaiado caso tenha bebido demais como sempre faz.
Assim que ele citara o próprio pai na nossa conversa, meu corpo sofreu um arrepio, e não no sentido bom. Havia dentro de mim uma sensação ruim, como um pressentimento desagradável, entretanto aquilo poderia ser qualquer coisa, assim como uma simples aversão a tudo que estivesse relacionado ao monstro mais conhecido como Dak-ho.
E eu esperava que fosse apenas essa aversão.
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