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História Meu vizinho Chanyeol - Penúltimo capitulo


Escrita por: kroth

Notas do Autor


As minhas mãos estão geladas e eu sinto que vou falar até os meus dedos perderem todas as digitais. Eu tô me segurando askjkdsj gente eu não sei terminar fanfic akjhdkasjbkj isso é tão triste, meu deus....

São quase dois anos dando o máximo de sem-gracisse pra formar uma fanfic, e por mais que eu tenha cortado e cortado, ainda ficou gigante Ç.Ç então se alguém se aventurar a ler de dia, aí tem coragem

Eu aconselho a ler de noite, mas vocês devem ter aula amanhã. Não sei, eu não quero incomodar, leiam quando puderem. Eu quero pedir desculpas pelos erros e pela minha escrita fraca, e quero agradecer por vocês terem acompanhado assim mesmo até aqui, eu tô lamentando nas notas iniciais porque tô ouvindo more than words e foi essa música que originou mvc, tô mais sensivel do que tudo na vida (e eu sou um ogro / qual o feminino de ogro? eu nasci loira)

Aaaa eu tenho tanta coisa pra dizer mas vou falar o essencial, eu to passando mal

Boa leitura gatinhas

Capítulo 49 - Penúltimo capitulo


—  Eu achei que seria mais rápido se fosse direto, mas Baekhyun já passou mal duas vezes. - ele começou, voltando a comer seu Jjajjangmyun —  Então vou tentar de outra forma, certo?
—  Certo.
Assentimos, e sem qualquer pausa adicional o pai de Chanyeol arqueou a sobrancelha.

 

 

XXX

 


—  Há quanto tempo vocês namoram mesmo?


Eu engasguei.


—  D-esculpe? —  senti meu fôlego indo embora de novo, ele sabia. Mas que idiota, claro que ele sabia, a pergunta esclarecia que ele só precisava saber desde quando aquilo acontecia. Minha vista começou a escurecer, eu estava morrendo, eu não queria abrir a boca e falar por puro charme e medo de levar um prato de Jjajjangmyun  na cara. Então Chanyeol deu um soco forte nas minhas costas, tomando a vez antes que eu pudesse falar e me desengasgando de uma forma bastante agressiva.


—  Já faz um tempinho, appa. 


—  Hm... —  Siwon murmurou, como se ainda processasse tudo aquilo. Minhas mãos estavam geladas o suficiente para competir com a neve lá fora. — Ah —  ele levantou o dedo no ar, parecendo pensar um pouco antes de falar —  E vocês, hm... gostam disso?


—  Disso o quê? —  Falei nervoso, intercalando o olhar entre ele e Chanyeol. Eu estava desesperado, diga-se de passagem.


—  Disso —  ele apontou para nós dois tranquilamente. —  de namorar.


—  Ah. —  Não consegui falar mais do que isso.


Em dezessete-quase-dezoito anos de vida, eu nunca havia ficado sem palavras de uma forma tão drástica, nem mesmo em frente ao diretor Heechul. E olha que o diretor Heechul era o que se chama de dementador da vida real, um verdadeiro sugador de palavras e lembranças felizes.


Mas vamos ao momento em que Chanyeol ficou sério, e após segurar a minha mão sem qualquer resquício de medo, respondeu.


—  Eu posso ser sincero?  Eu amo o Baekhyun. E se isso for referente a estarmos juntos, então sim, eu gosto disso.


Senti meu estômago revirar quando ele disse aquilo, mas aproveitei a chance para me explicar. Eu me sentia na obrigação de dar desculpas sobre ter escondido algo importante por tanto tempo.


—  Nós não contamos antes porque era um assunto mais nosso do que dos nossos pais. Eu peço desculpas por isso. —  Tentei parecer tranquilo, mas tudo foi por água abaixo quando soldei um suspiro aliviado e afundei as costas no sofá macio. Chanyeol me olhou, olhou para o pai e em seguida sorriu amarelo quando o pai bateu nas próprias coxas.


Eu disse algo errado? Não sei, Só sei que Siwon gargalhou alto, me fazendo saltar de susto.


—  Não precisa se desculpar! —  Disse ele, em um tom alegre e inocente —  Eu já imaginava que estivessem juntos, eu até conversei com a sua mãe. —  ele me encarou, apontando o dedo entre mim e seu filho. —  Além do mais, Chanyeol não é nada discreto e não desgruda de você!


"Além do mais, Chanyeol não é nada discreto e não desgruda de você!". 


—  Já ouvimos isso antes. —  Ri de nervoso, dando um beliscão no braço do meu namorado. Eu estava com aquela vontade na mente desde a primeira vez que Chanyeol falou. De repente, senti o braço de Chanyeol vir sem medo em direção a minha cintura, dessa vez a rodeando e nos aproximando no sofá. Olhei pelo canto dos olhos e o pai dele nos olhava um pouco assustado. Me afastei dele e pigarreei, seguido de Siwon.


—  De qualquer forma, eu fico feliz por vocês. Isso é legal, sabe? E eu espero que acima de qualquer coisa, vocês não deixem de ser amigos... —  Ele falou, tentando dar um sorriso, mesmo que esfregasse as pernas e fosse visível que ele não sabia muito bem como lidar conosco, igual o meu pai. Eu optei por relevar aquilo por fora.


Assenti com a cabeça para não precisar dizer nada, eu tinha certeza absoluta de que se abrisse a boca não sairia nada de bom graças a minha interpretação precária do que ele havia dito. 


Eu não sei para Chanyeol, mas para mim aquilo havia soado como um "se vocês não derem certo por favor não se odeiem". Respirei fundo.


—  Se alguém me dissesse que eu iria namorar o cara que eu conheci por pura maldade do destino, eu não acreditaria. —  Acabei disparando no automático, sentindo o frio na barriga aumentar com o silêncio que veio depois disso.


Porém, para a minha surpresa, Siwon me olhou e deu de ombros.


—  Como você conheceu o Yeol não chega aos pés de como eu e Sejeong nos conhecemos. —  Ele se gabou, olhando para o nada como se lembrasse do dia em questão. —  Ah! Ela estava linda sentada ao piano! Era meu primeiro trabalho solo e eu não conseguia tirar os olhos dela, então eu cheguei falando "Vamos tocar aquela peça a quatro mãos e duas bocas*?", e puft!


Chanyeol soltou uma gargalhada escancarada agarrando o meu braço, e o pai seguiu o mesmo caminho, jogando o controle da TV no chão. E eu fiquei no meio do nada, sem entender a graça naquilo.


—  Sério que isso deu certo?  —  Chanyeol perguntou incrédulo, ao que o pai nos olhou com o nariz empinado.


—  E quem resistiria a uma proposta dessas?


Eles riram abertamente, e eu continuei rindo de nervoso até Chanyeol me segurar pela mão. "Depois eu te explico", ele sussurrou, então selou meus lábios e encarou o pai fazendo um som de surpresa.


—  Appa, esqueci de comentar, nós vamos usar o estúdio! Por favor nos acompanhe hoje! — Ele falou de uma vez, levantando e apertando a minha mão.  


—  Não sei se é uma boa ideia. —  Siwon coçou a nuca, olhando para o relógio em seguida.


—  Por favor, venha conosco. —   Tentei ser solidário, mas eu não sabia o que diabos Chanyeol queria naquele estúdio, naquele mesmo dia!
Meu namorado sorriu tão abertamente esperando pela resposta que fiquei com medo dele se desapontar com um não bem direto, mas Siwon era coração mole e extremamente interessado nos filhos, como pude perceber. E mesmo que tenha hesitado um pouco ele acabou aceitando, indo conosco para o estúdio caseiro onde Chanyeol tanto parecia precisar ir.


Faço uma pausa mental para as minhas ideias e levanto, seguindo os dois até a parte debaixo da casa sem perguntar mais nada. Entramos e nos acomodamos, e o dia passou bastante confortável naquele lugar. Não tinha muito barulho e eu tive a oportunidade de interagir mais com o pai do meu namorado sem sentir medo de Sunny surgir e acabar destruindo a minha imagem. Da última vez que havia ido naquele estúdio Jongin ficou perturbando a minha paz até o último segundo, o que me fez não prestar muita atenção no lugar. Mas dessa  vez eu estava memorizando tudo.


—  Like a flower that grows, life just wants you to know, é assim que você tem que cantar, não anasala! Vai de novo.


—  Eu não quero. —  resmunguei baixo, encarando a folha com a letra daquela música. —  E eu achei brega. —  e era mesmo. 


Ele havia me feito ir até ali para gravar aquela música que, segundo ele, seria nossa chave de ouro. Era uma música antiga, bem antiga, o que tirava totalmente a minha ilusão de realmente mostrar do que eu era capaz e me deixava entediado por ser tão melosa.


—  Pode ser brega, mas me lembra a gente. —  Ele disse, largando o violão de lado e mordendo os meus lábios levemente. Acabei retribuindo depois de alguns selinhos, passando as mãos em sua cintura e dando pequenos arfares entre o beijo até ouvir os passos do pai dele voltando para o estúdio ruidosamente. Me afastei e pigareei.


—  Não parece com a gente, mas se você gosta, tudo bem. —  Toquei no suporte do microfone e tentei focar nele para não levantar o rosto e mostrar meus lábios vermelhos a Siwon. E assim se passaram mais incontáveis e torturantes tentativas de gravação.


Chanyeol conectou o celular ao computador assim que terminamos de gravar, voltando ao seu típico interesse menor em mim e maior por editores. Mas segui firme e foquei em Siwon, que tentava insistir na minha pessoa e tentava me ensinar um pouco sobre seus instrumentos de corda.


Ah, e eu entendi a piada das quatro mãos, descobri o porquê do nome da Sunny ser esse e acabei desvendando um gosto particular de Chanyeol por músicas antigas, já que ele me fez decorar a tal letra depois de horas seguidas pedindo para gravar de novo e de novo toda vez que eu fechava a boca. E olha que secretamente eu sou muito ruim em inglês.


Eu não tinha noção de quanto tempo passamos trancafiados ali, mas meu namorado parecia entusiasmado com a gravação o suficiente para não notar que eu estava cansado e com fome. Eu não queria mais gravar aquilo, e quase agradeci aos deuses quando o pai dele finalmente interrompeu, dizendo que estava bom ou não iriamos conseguir editar aquilo a tempo do baile.


—  Eu vou subir e pegar algo para vocês comerem.


—  Tudo bem. —  respondeu Chanyeol, ao que Siwon piscou para mim e subiu as escadas rapidamente em direção a cozinha. Eu até pensei que ele podia ler pensamentos quando se ofereceu para pegar comida. Ou isso ou eu estava fazendo cara de sofrido a tempo suficiente para ele ter sentido piedade de mim.


Mesmo com todo aquele contato e convivência com o pai do meu namorado, eu ainda estava em um estado congelante apenas por lembrar que ele sabia da gente, mas Chanyeol parecia não dar mais a mínima, e muitos minutos depois ele finalmente abandonou o computador.


—  Terminou?


—  Quase. —  Ele riu, guardando o celular dentro do bolso. —  Na verdade eu pensei em terminar na sua casa. Pela hora, minha irmã vai chegar logo e vai trazer o namorado pra cá. —   ele fez uma careta.


— Então quer dizer que vou ficar sozinho com a Solzinho? —  Siwon falou alto o suficiente para chamar nossa atenção, logo nos entregando duas caixinhas de pepero —  Vocês não acharam que eu ia cozinhar, né? —  eu e Chanyeol nos entreolhamos. —  Então, vão me abandonar mesmo?

 

 

XXX

 

 

— Uau, essa casa ficou bem interessante mobiliada! — Siwon falou ao entrar na minha casa, ao que sorri calidamente e assenti.
Nós havíamos ido para a minha casa depois de comer, e Siwon acabou vindo junto depois de fazer um drama digno de quem carrega o sobrenome Park. Na família de Chanyeol quem tem limite é município, o drama é para todos. Pelo menos agora eu já sei para quem Chanyeol puxou...


Nós estávamos sentados enquanto o senhor Park vasculhava tudo. Chanyeol mal tirou os olhos do meu notebook, depois que chegou em casa apenas largou a mochila com roupas em cima da minha cama e desceu com o ele no colo e um antigo e esquecido gorro meu nas mãos. Extremamente comunicativo, como podem ver. E o pior é que eu estava com vontade de ficar sozinho com ele.


— Ainda tem muita coisa pra organizar, mas confesso que também estou gostando da casa assim.


— Ela é bastante aconchegante. — Chanyeol me completou sem virar ou nos olhar. — Appa, você pode me ajudar com isso aqui? 


— Claro — Siwon falou, prontamente se colocando atrás da cadeira do filho e olhando para a tela. Eu só via umas linhas parecidas com gráficos e não entendi nada, mas eles começaram a conversar tranquilamente sobre aquilo, usufruindo de um monte de termos que vou me poupar de escrever para evitar eventuais equívocos.


Sabe quando você tá na aula e não entende nada do que os outros estão falando? é mais ou menos essa sensação.


Mas aproveitei a distração deles com a edição para me levantar rumo a porta e ir lá para fora. Estava frio porque estava nevando desde cedo da manhã, os minutos atravessando a rua não saíam da minha cabeça — e a vontade de agarrar Chanyeol também não. Mesmo que eu não me desse tão bem assim com aquela época do ano, eu adorava ver a neve cobrindo tudo e dando uma aparência mais fofinha ao chão,  transformando a terra num marshmallow gigante e tirando toda a impureza possível de mentes do mal como a minha.


Senti um cheiro bom vindo do lado de fora. Pelo visto, alguém estava tentando seduzir a vizinhança com aquele cheiro de comida recém-pronta. Eu estava tão envolvido no aroma que pude identificar quase todos os ingredientes em alguns segundos, voltando a realidade quando percebi que aquilo era estranho.


Abracei meu próprio corpo assim que fechei a porta de casa, passando a caminhar lentamente até a calçada e logo indo em direção ao fim da rua sem qualquer pressa, apenas apreciando a imagem da minha vizinhança em um dia de neve confortável. Arrumei meu gorro na cabeça e apertei mais meu próprio corpo na tentativa de compensar o frio— e minha burrice de não ter pego um casaco mais grosso —  conforme me aproximava daquela casa de esquina tão conhecida a qual meus pés me levaram inconscientemente.


Eu havia saído tão repentinamente que falei um obrigado mental a Chanyeol por ter descido do meu quarto com aquele gorro e tê-la colocado em mim.


Não-munido do frio do lugar, a minha única proteção era aquela na cabeça.


Apressei um pouco meus passos ao atravessar a rua, e assim que passei pelo portão entreaberto pude ver a luz vinda de dentro daquela casa, assim como a imagem de Kris e Tao enfeitando a uma árvore de natal.


A imagem daqueles dois organizando tudo em uma tranquilidade atípica foi uma das mais bonitas e raras que eu já vi. Kris raramente esboçada alguma expressão quando parecia falar algo, ao contrário de Zi Tao, que fazia caretas o tempo todo, como se estivesse se opondo a ele. E eu fiquei vasculhando uma posição melhor para observá-los até o momento em que o loiro levantou para buscar algo e seus olhos aterrissaram em mim, do lado de fora da casa e não deixando em segredo que eu os observava com um brilho nos olhos.


Me afastei totalmente sem graça enquanto ele avisou Yi Fan. Na minha mente eu já tinha noção de que seria chamado de tarado, ou apenas de intrometido ou curioso. Eu, na posição deles, enfiaria um sapato na minha boca por bisbilhotar.


Ainda bem que eu não sou o Kris.


Com um gesto de mão, Tao simbolizou para que eu ficasse parado ali, coisa que prontamente obedeci já que meus pés congelaram naquele ponto sem previsão de voltar ao normal. E não demorou mais do que alguns segundos para Yifan abrir a porta e finalmente sorrir, me abraçando rapidamente e de surpresa.


— Baek! Entra, está frio aqui fora! — ele disse em um tom cálido já me puxando para dentro da casa. — como você está? —  Ele esfregou as maos nos meus antebraços, tentando os aquecer.


— Bem, eu acho. Desculpe por olhar pela janela... — falei sem graça e fracassando no meu plano de parecer calmo. Tao riu, negando com a cabeça.


Então notei o quão vermelhas estavam seu nariz e bochechas.


— Ah, sem problemas, isso é uma gota d'água no oceano. Mas você bem que podia nos ajudar aqui.


Kris suspirou e Tao colocou as mãos dentro de uma caixa, tirando um bolo de enfeites para a árvore e fazendo uma careta que me fez rir. Há quantos anos Yifan tinha aquilo?


— Eram da minha avó, ela me deu antes de vir para Seul. Eu prometi que usaria um dia... — ele falou como se lesse a minha mente, terminando de arrumar as luzes na árvore. — eu apenas precisava ter alguém especial do meu lado para me fazer usá-las direito.


Voltei meus olhos para Tao, que riu sem graça e jogou uma das meias de enfeite em Kris, nos fazendo rir. Ele parecia bastante comigo e com Chanyeol.


— Eu posso ajudar sim. Minha mãe me tornou expert em enfeites de natal. — Disse eu, me sentando junto de Tao e começando a separar tudo, organizando pela cor. Estava realmente uma bagunça! Mas graças a minha formação em separar luzinhas e enfeites desde os cinco anos de idade nós conseguimos terminar tudo em uns vinte, talvez trinta minutos, e não chegou a ser nem um pouquinho chato.


Uma das melhores coisas sobre esses hyungs era que, não importa o que você tiver feito, eles sempre vão fazer o clima se desfazer em alguns segundos. Kris era o tipo de pessoa carinhosa porém não grudenta que me fazia sentir confortável e em casa. E Tao, ainda que estivesse com uma aparência abatida e fosse um pouco estressado conseguiu ser simpático e puxar variados assuntos para que eu não voltasse a lembrar que eu estava espionando mais cedo.


Eu olhava a casa em volta e vez ou outra batia o olhar em Tao. Pelo visto ele não entendia o que eu estava fazendo ali de verdade, e por mais que negasse isso o deixava curioso, assim como eu também queria saber porquê ele parecia tão mal, embora tivesse quase certeza de que estava doente. Mas evitei tocar no assunto para não parecer mal educado.


Assim que terminamos com os enfeites eu fui para a cozinha e lavei a louça, Tao arrumou a sala e Kris foi para cima, a arrumar os quartos e o corredor. Nós fizemos uma limpeza completa na casa naquele dia, e no fim sentamos os três no sofá,  exaustos. Mas o lado bom foi que Tao conseguiu consertar o aquecedor da casa, o que nos deixou ainda mais confortáveis quando o cansaço se esvaiu dos corpinhos mais lindos do bairro.


— Eu ainda acho que não é uma boa ideia trazer as minhas coisas. — Tao quebrou o silêncio,  um pouco ofegante. — Não tem muito espaço,  vou deixar muita coisa pra trás.


— Se você quiser eu me livro dos meus móveis e a gente usa os seus. — Kris respondeu, encarando Tao. O que me deixou um pouco desconfortável e feliz. Feliz porque eles pareciam estar muito bem, e desconfortável porque eu estava no meio do sofá, entre eles dois.
A vela estava quase queimando os meus dedos quando pigarreei, criando coragem de falar.


— E por que você usaria os móveis dele? — estralei o pescoço enquanto eles se entreolharam e riram, tentando decidir se respondiam ou não a minha pergunta. E ao fim, Zi Tao me olhou sorridente e ainda segurando a minha mão, disse uma das coisas que mais aqueceu o meu coração naquele dia.


— Porque nós conversamos muito, Baek, e decidimos que seria melhor se morássemos juntos. — Ele olhou para YiFan, que deixou um sorriso brincando em seus lábios bonitos.


— Eu decidi que não vou deixar ele escapar de mim outra vez. E se pra isso for necessário que eu encha a casa com coisas dele, eu vendo todos os móveis e ele vem.


Senti meu coração bater mais forte quando eles voltaram a se olhar, sorrindo tão sinceramente que eu realmente senti que Tao e Yifan eram pessoas com um sentimento puro um pelo outro. Algo que eu apreciava e torcia para dar certo, e agora via as peças tentando se encaixar bem em frente aos meus olhos. Aquela cena era fantástica.


Não era Wu Yifan, o garoto da bicicleta, ou muito menos Huang Zi Tao, o dono estressado da lanchonete Huang. Ali eram Tao e Kris, pessoas que cometiam erros e mais erros, mas acertavam em cheio ao procurar entenderem um ao outro e dividir daquela sensação tão intensa sem medo de ser feliz.


Tentei me recompor quando parei de encarar os meus pensamentos e foquei nos dois correndo apressadamente até a cozinha. Tao batia no pescoço do maior com as luvas de cozinha, tomando a frente e indo a geladeira para pegar o que acreditei serem chocolates em barras, mas assim que me aproximei e vi que era chocolate amargo desisti de pedir um pouco.


— O Tao achou que eu tinha deixado o assado queimar. — explicou, dando de ombros — Não sei como ele consegue comer isso. — Kris reclamou enquanto Tao mordeu um dos pedaços, guardando o resto e nos ignorando.


— Não precisa por na geladeira, ninguém vai comer seu chocolate amargo! — desdenhei, ao que Kris riu comigo. Tao revirou os olhos fingindo ofensa.


— A culpa não é minha se vocês tem um paladar menor que o meu mindinho. Chocolate amargo é uma delicia e faz muito bem quando se sente dor de cabeça.


— Se você diz. — Yifan falou, ao que eu assenti e dei de cara com seu relógio de pulso. Segundo ele eu estava fora há quase uma hora, aquilo era tempo suficiente para que Chanyeol e seu pai tivessem terminado o que estavam fazendo e começar a procurar por mim.


— Bem, foi muito legal ficar aqui com vocês, mas eu realmente preciso ir. — me despedi rapidamente enquanto ainda pensava na hora. Pensando por um lado, além de eu ser bem crescido, Chanyeol e o pai estavam distraídos o suficiente para não se preocuparem com o meu sumiço. Mas eu ainda tinha um baile para ir mais tarde, e isso significava a necessidade de ficar em casa e me preparar para ele.


— Ei, ei, pra onde você acha que vai? — Tao puxou meu braço, me fazendo virar para ele. — Tá fugindo sem me ajudar a fazer comida?


— Não é isso. — bati em sua mão, negando — é que eu tenho que me arrumar para o baile. —  falei sincero, tentando me afastar e sentindo a mão de Kris dessa vez.


— É só você se arrumar aqui! A gente ainda vai, lembra?


— É. Mas minhas coisas estão em casa, Kris. — Ele riu baixo, sibilando um "ahh" ao se lembrar desse detalhe. — eu realmente preciso...


— E se a gente for pra sua casa e se arrumar lá? — Tao levantou a mão, sugerindo aquilo. — Minhas roupas estão  aqui, mas nós pretendíamos mesmo falar com você sobre irmos todos juntos. O convite foi seu, afinal, não posso ser arrastado sozinho...


— E eu quero mesmo reviver a sensação de me arrumar para o baile de formatura! — Kris completou, cruzando os braços. — mas então, o que você acha?


— Vocês estão tentando me prender aqui pra fazer a comida de vocês, não é? — arqueei uma sobrancelha. Não demorou mais do que alguns segundos para eles assentirem, dando uma gargalhada conjunta que acabou por me contagiar.

Afinal, como recusar um pedido vindo dos hyungs mais atrapalhados que já conheci?

 

 

XXX

 

 

 

Depois do almoço eu Tao e Kris refizemos a pé o curto caminho para a minha casa, que não demorou muito já que Tao andava mais rápido que nós dois e nos fez apresar o passo para continuarmos a conversar sobre os pratos que ele prometeu me ensinar a preparar. Só de pensar em incluir mais coisinhas na minha lista de "pratos que vou usar para convencer meus pais a me darem as coisas" já fiquei animado. Quando menos esperei já estávamos em frente da minha casa, e Chanyeol simplesmente fechou o notebook apressado quando me viu entrando e sacudindo os braços pelo frio.


— Onde você estava? Meu pai achou que você tinha sido sequestrado!


— Relaxa. A gente usou a comida dele como recompensa.


Dei um tapa no ombro de Tao quando falou aquilo, ao que ele continuou rindo e foi até a cozinha mexer na geladeira. Um cosplay perfeito de Kyungsoo.


— Eu fui a casa do Yifan e acabei deixando a hora passar, almoçamos e eles decidiram ir conosco ao baile. 


— E eles podem? — Chanyeol perguntou, tomando água em sua garrafinha.


— Claro que podem. — Dei de ombros, era óbvio! — Kris e meu convidado e convidou o namorado. Sendo assim, os dois são meus convidados, e ainda sobram os dois dos meus pais. — expliquei, ao que ele assentiu — mas e você, terminou o que queria com seu pai?


Chanyeol assentiu.


— Ah, sobre isso, foi um pequeno erro técnico... — ele mudou a expressão confusa para uma envergonhada, coçando a nuca. — Eu fiz uma pequena confusão e acabei destruindo o áudio inteiro.


— Não vai tocar?


Ele deu de ombros, sorrindo.


— Bem, tem uma pequena chance de dar errado, mas meu pai me assegurou que é realmente minúscula!


— Hm, menos mal assim. —  Minha voz saiu meio rouca e eu senti que iria espirrar, mas apertei o nariz até a sensação ir embora.


Tao não hesitou em entrar e vasculhar a minha casa, abrindo a porta e bisbilhotando a varanda, o quintal, entrando para a área de serviço, mexendo as almofadas da sala, encontrando a caixinha de primeiros socorros que eu nem lembrava que existia...


Enquanto isso Kris se sentou confortavelmente no sofá depois que eu convidei, aceitou fazer um lanche quando eu ofereci e concordou em conversar quando eu dei a primeira palavra. Ele era extremamente recatado quando dentro da casa alheia.


E deve ter demorado uma meia hora até Tao encontrar meu celular, descer com ele nas mãos e jogar no meu colo.


— Você é a primeira pessoa que eu conheço que deixa o celular longe do corpo.


Dei uma risada quando ele torceu o nariz, indignado.


— Eu uso outro. —  expliquei, colocando a mão no bolso, guardando o celular após mostrá-lo. —  Além do mais, eu não sou viciado nisso.
— Aham. —  falou meu namorado, apoiando os cotovelos na bancada da cozinha e entrelaçando as mãos em frente ao rosto. Que traíra! E acabou que eu não falei nada para me defender.


Houve um silêncio estranho na sala até um toque de celular ecoar.


— Appa? —  Chanyeol fez um bico, atendendo o celular como se estivesse sozinho. —  Ah, sem problemas, eu vou ver o que faço aqui. —  ele riu —  Sério? sendo assim é melhor ainda! Diga que eu a amo muito e que estou com saudades. Tchau!


—  Saudades de quem, Chanyeol? —  Tao perguntou, sentando no braço do sofá e olhando para mim com um olhar suspeito.


—  Estávamos falando sobre a minha mãe. —  Ele deu de ombros. —  Faz um tempo que não nos falamos direito, e ela passou o dia na casa do "namorado da Sunny".


Abaixei o rosto quando o vi revirar os olhos apenas por lembrar do namoro de Sunny. Tão ciumento! 


Nota mental: Ajudar Chanyeol a superar o ciúme extremo dentro desse corpinho magrelo.


—  Nossa, agora que as coisas estavam ficando boas. —  Tao disse com voz de tédio, atraindo minha atenção de volta a ele. —  Ah, o seu sofá é tão confortável...


Ele empurrou o corpo para trás, deitando no sofá largado o suficiente para eu achar que ele se sentia mais em casa do que eu. Kris prontamente deixou que ele apoiasse a cabeça em sua coxa e passou a mão nos fios loiros do namorado, em uma carícia completamente invejável.


Queria que Chanyeol fizesse esse tipo de coisa, mas da última vez que ficamos juntos no sofá ele quase me matou sem fôlego, então deixa quieto.


Assim que encarei Chanyeol ele levantou e caminhou para perto. Deduzi que ele tivesse lido a minha mente carente, e quando sentou ao meu lado eu até mesmo comecei a me despedir do oxigênio em antecedência ao previsível abraço assassino. Mas Chanyeol me surpreendeu quando sentou-se normalmente e puxou minhas pernas para o seu colo, mexendo nos meus pés.


— Eu estava aqui pensando, nós não estamos um pouco parecidos hoje? —  Chanyeol falou, chamando nossa atenção. — Eu digo, vocês são um casal e a gente também, vocês vão ao baile, vocês também estão cansados, estamos todos com olheiras...


—  E com os cabelos muito feios. —  Tao falou, nos fazendo rir assim que olhamos bem uns aos outros e notamos que, sim, aquele detalhe era verídico.


A raiz tanto de Kris quanto de Chanyeol estavam maiores do que a minha fome, o que logo formou uma ideia na minha cabeça.


—  A gente podia aproveitar o resto do tempo e resolver isso. —  Falei para Tao, que abriu os olhos rapidamente. —  Digo, eu posso falar com Kyungsoo, ele vai saber o que fazer com a gente e não vamos parecer dois desinteressados pelo baile.


—  Eu sou um desinteressado pelo baile. —  ele riu, revirando os olhos dramaticamente—  Mas gostei da ideia, quando ele vêm?


Desbloqueei meu celular e procurei o contato de Kyungsoo.


—  Se a gente tiver sorte, ainda esse século.

 

 

XXX

 

 

—  O que é que você quer?


Esse é o jeito Kyungsoo de dizer oi ao melhor amigo.


Em outros casos e situações eu teria me ofendido, mas aqueles olhos brilhantes e exalando fofura —  a qual Kyungsoo jura de pés juntos não possuir —  não me permitiram fazer outra coisa além de receber meu bolinho carinhosamente exatos dez minutos após ligar e pedir ajuda. Ao contrário do que a crença popular prometia ele estava bem caridoso naquele dia, apesar de eu ser um monstro e exigir mais do que deveria dele. Apertei sua bochecha e dei um riso forçado, tentando disfarçar a falta de educação do meu melhor amigo.


—  Awn, que fofo. Agora seja educado e diga oi. 


—  Muito engraçado, Baekhyun. Mas infelizmente não é o melhor momento para isso. —  Kyungsoo abraçou a roupa em seu colo, ficando ainda mais fofo. O casaco azul marinho grosso que usava aliado à mochila e os braços juntos formavam um conjunto adorável que eu queria morder e ver se fazia som de pelúcia.


Ah, e não vamos esquecer os lábios bochechas, que estavam vermelhos, e nem o fato de que ele estava mastigando algo. 


Calculando a fofura: Kyungsoo no frio casaco fofo bochechas vermelhas Kyungsoo comendo mochila grande braços cruzados = MOCHI KYUNGSOO.


—  Você tá muito estressado pra um serzinho tão pequeno. —  Kris comentou, fazendo Kyungsoo bufar irritado.


— Eu estava me preparando para o baile quando esses homo otárius me ligou. — Ele respondeu de braços cruzados, ainda em frente a mim.


— Pelo menos você veio. — toquei seu ombro gentilmente, o trazendo para dentro. —  Eu realmente preciso da sua ajuda, Soo!


— E eu tenho cara de 129 pra ser chamado em emergência?


Revirei os olhos com o drama de Kyungsoo.


— Me desculpe se te atrapalhei enquanto terminava de pintar a muralha da China. — Arqueei uma sobrancelha, ao que ele sorriu levemente, abraçando ainda mais a roupa coberta pelo plástico de proteção de alguma lavanderia.


— De qualquer forma, pelo menos nós vamos juntos ao baile. —Joguei as cartas certas, esperando que ele as aceitasse. — Você sabe, o melhor casal daquele colégio precisa se unir até o último dia. — ele sorriu de canto quando falei isso. 


Eu estava acostumado a ouvir ele dizer esse tipo de coisa a mim, mas era a primeira vez que invertia os papéis. Kyungsoo adorava se referir a gente como um casal, e ficou tão feliz com o que eu disse que deixou seu drama de lado, coçando a cabeça.


— Almas gêmeas como a gente devem andar juntas. — ele falou baixinho, revirando os olhos em seguida. Ele se rendeu. — Tá, tá. Qual a sua emergência? 


— Não é visível? —  apontei para o meu cabelo, puxando para trás e deixando a raiz mais visível. — Tao, Kris e Chanyeol tem o mesmo problema. — me apressei a falar.


Kyungsoo pisou no meu pé.


— Seu aproveitador! E você quer que eu faça tudo sozinho?! — Ele gritou arregalando os olhos ao ver o estado do cabelo dos outros. Era trabalho demais em pouco tempo, eu sabia. Mas fiz o quê?


Dei um sorriso amarelo.


Tao mordeu os lábios enquanto nos observava falar e Kris se escondeu atrás dele, tão nervoso quanto eu. Eu nunca havia visto Kyungsoo demorar muito tempo a responder porque ele sempre tinha algo na ponta da língua, o que me leva a pensar que naquele dia ele demorou só para nos deixar nervosos. Eu sabia que era exigir demais dele, visto que ele tinha um discurso para ensaiar e deveria ser o mais nervoso entre nós. Mas ele era meu amigo, e eu não tinha mais ninguém que eu confiasse o suficiente para aquilo...


— Ai, Baekhyun, você é uma peste. — ele respirou fundo, me tirando dos meus pensamentos com uma risada rouquinha. —  Felizmente para você, eu já estava planejando resolver o seu problema. — Ele tirou a mochila das costas — Agora leva pra mim.


— Tá muito pesado. — Falei com a voz abafada já que assim que peguei a mochila cambaleei levemente. Estava muito mais pesada do que aparentava e ele a jogou em cima de mim. — O que tem aqui dentro? Um navio?


— Um corpo humano. — ele respondeu de uma vez.  — O que você acha, Baekhyun?


Fiquei calado enquanto Kris, Tao e Kyungsoo subiram as escadas e me deixaram para trás. O único que restou ali foi Chanyeol, mas ele nem se ofereceu a carregar para mim, só chegou perto por curiosidade.


— Você acha mesmo que tem um corpo aí? — ele perguntou, ao que eu mordi sua bochecha e subi as escadas.


— É melhor não arriscar.


Felizmente para os meus longos anos de amizade com Do Kyungsoo eu estava acostumado a ver termos peculiares saindo daquela boquinha em formato de coração. E naquele dia ele  trouxe mais um deles. Corpo humano.


Corpo humano referia-se a tudo o que monta a imagem de uma pessoa. Roupa, perfumes, cremes, maquiagem, eletrodomésticos para cabelo, máscaras e afins. O termo surgiu enquanto assistíamos videos no YouTube e vimos uma mulher tirando toda a maquiagem do rosto e molhando o cabelo, dando origem a uma pessoa totalmente diferente quando o corpo dela derreteu — palavras do meu melhor amigo.
Fomos todos para o meu quarto a fim de ver o tal corpo que eu carregava no colo. E assim que o dono abriu a mochila eu tive vontade de rir do rosto dos outros. Tratavam-se de secadores e outros desses negócios para cabelo, alguns cremes e a tinta japonesa que eu conhecia muito bem  porque ele sempre a usava em mim. Também tinha uma roupa reserva na parte de baixo, alguns livros no fundo e dois vidros de perfume.


— Eu dormi na casa do Luhan ontem. — ele respondeu quando viu que eu encarava muito. Pensei em perguntar sobre Jongin mas fiquei desconcertado e me afastei. —  Espera, senta logo aí. — Ele apontou para a cadeira do meu lado — Você vai ser o primeiro, junto com o Tao.


Zi Tao trocou um olhar estranho comigo e em seguida Kyung o encarou.


— Aliás, eu não lembro se já disse porque tenho muita coisa pra fazer, mas me desculpe pelo que eu fiz com você.  Sabe... seu dente. — ele falou de uma vez, apontando para a boca. 


— Tudo bem. Já passou. — Tao riu sem graça tocando a própria cabeça. — E foi fácil de resolver...


— Que bom! — Kyung deu seu raro sorriso — assim você continua tão bonito.


Fiquei sem palavras com o que ouvi. Kyungsoo estava elogiando alguém?


— Obrigado —  Tao respondeu sem graça e pigarreou tentando contornar o assunto, afastando a cadeira da mesa de estudos e se acomodando em seguida, apertando as laterais da cabeça.


Logo após ele, eu sentei na cadeira indicada e fiquei calado mexendo no meu boneco do Sem-rosto enquanto meu melhor amigo remexeu suas coisas na mochila, retirando um dos secadores e jogando no meu colo enquanto respirava fundo.


— Acho melhor fazerem fila porque isso vai demorar. — foi a última coisa que ele disse enquanto abriu alguns pacotes plásticos e misturou em um recipiente tranquilamente. — Vamos começar. Chanyeol, mistura isso pra mim.

Chanyeol?

É claro que aquilo apenas me deixou mais nervoso. Mesmo que confiasse cegamente no meu melhor amigo e soubesse que ele apenas estava tentando agir o mais rápido possível desde que chegou, eu sabia que eu não era a pessoa mais sortuda do mundo, e por mais que eu adorasse mudar meu visual, ficar careca não entrava nos planos. Além de que Chanyeol, sendo o meu namorado, já havia me mostrado ser uma desgracinha ambulante, o que me deixou ainda mais tenso. Por que diabos ele chamou  justo Chanyeol sendo que Kris estava ali?

Isso, meus amigos, é vontade de me matar.

Mas vamos para a parte em que Kyungsoo passou o mesmo produto que sempre usava nos meus cabelos, prendendo as mechas com várias de suas presilhas verde-musgo que me fizeram reclamar de novo.

—  Verde? — retruquei, mas assim que aquele bolo de cabelos vermelhos me olhou com uma cara nada boa eu abaixei o rosto, sentindo um frio tipico enquanto ele passava a mesma mistura na minha testa, em porção menor.


— Verde! — Ele falou alto. — cor da liberdade, da esperança, da vitalidade que falta nos seus cabelos — bateu no meu ombro — e cor dos taurinos.


Torci o nariz.


— Kyungsoo, por que você passou na testa dele? — perguntou Chanyeol reprimindo uma risada e cutucando Kyungsoo, que o olhou com uma cara nada boa.


— Você quer um namorado todo manchado como companhia no baile? — Chanyeol riu amarelo quando Kyungsoo arqueou uma sobrancelha e tomou o recipiente de suas mãos. — foi o que eu pensei.

 

 

XXX

 

 

 

Era quase fim das 19:00 horas quando Tao e Kris passaram a elogiar um ao outro em frente ao espelho e finalmente Kyung deixou que eu fosse lavar meus cabelos, alegando que precisava tirar o excesso. Conhecendo bem as colorações dele eu não recusei, além de que precisava me arrumar para o baile logo. Chanyeol aproveitou a situação para me fazer tomar banho consigo para que "eu não visse a cor".


Não vou negar que por um lado gostei da ideia já que a surpresa seria total, mas por outra fiquei extremamente constrangido por meus amigos saberem que estávamos tomando banho juntos. E ele fez questão de me constranger ainda mais quando lavou meu cabelo — como se eu não tivesse um par de mãos boas para isso —  porém, em troca, eu também lavei os dele, o que me permitiu recuperar uma gotinha de dignidade e fazê-lo sorrir com o gesto.


Chanyeol estava tão lindo, eu olhava para sua pele e podia jurar que o sol competiria consigo para ver quem brilhava mais. Porque mesmo sem roupas e cheio de espuma, ele era esplêndido, até a pintinha na bunda era. Eu queria socá-lo por me deixar confuso entre por ele ou eu na primeira posição de coreano mais atraente.


Mas voltando ao ponto. Não demoramos mais do que alguns minutos no nosso banho em dupla e ele saiu com uma toalha enrolada na cintura, me deixando para trás enquanto tentava evitar olhar para o chão e ver o excesso de tinta correndo pelo ralo, por mais que fosse tentador. Eu queria uma surpresa de verdade então decidi fazer a minha parte. Depois que ele saiu eu escovei os dentes, coloquei uma toalha na cintura e sai do banheiro com a cara e a coragem pra me olhar no espelho. Como um espírito maligno em frente ao Vaticano passei reto por Tao, Kris e Kyungsoo, respirei fundo e sem esperar uma permissão dada pelo D.O, apenas encarei meu reflexo no espelho antes que a ansiedade - ou ele - me matasse.

Eu só não esperava ver aquilo.

Passei as mãos no cabelo ainda úmido enquanto meu sorriso se desfez em uma velocidade que até então achei ser impossível, e por pouquíssimas gotas de dignidade segurei a vontade de chorar igual um bebê, porém, minha cara ainda se contorceu quando ouvi meu melhor amigo rindo e vindo para mais perto de mim. E eu ainda não conseguia acreditar nos meus olhos.


— Kyungsoo, você me odeia?


— Mais do que tudo no mundo. — ele piscou, ficando atrás de mim e mexendo meus cabelos. — mas você tem que assumir, eu levo jeito pra isso, não é?


— Aigoo, não... como eu vou sair de casa assim???


Senti meu rosto esquentar conforme a vontade de batê-lo aumentava. Isso tudo porque, bem, eu havia confiado meu cabelo a ele. Meu cabelo. Algo que além de receber grande parte do meu amor ainda era extremamente importante para a minha auto-estima e para a paz mundial, e ele simplesmente veio, descoloriu tudo e deixou meu cabelo em um inacreditável tom de verde. VERDE.

Eu queria arrancar aquele sorriso do rosto dele com uma pinça e colar nas costas.

Mas como nem tudo na vida é do nosso jeito, eu apenas sentei na cama e acabei desabando.

Tao e Kris se entreolharam e saíram do quarto na ponta dos pés após notarem que eu realmente estava chorando, o que deu a mim e a Kyungsoo mais tempo e espaço para sentir a tensão pairando no ar. O que me dava mais raiva era que Chanyeol havia acompanhado todo o processo, e se eu tivesse dito a ele sobre minha aversão a verde teria sido tudo diferente. Se eu tivesse usado a minha língua grande pra uma coisa útil pelo menos uma vez na vida.

Mas gente, como eu vou evoluir se não deixo de ser idiota?

— Você ficou bonito com essa cor. Baek, relaxa. — disse Kyungsoo sentando do meu lado, mas quando tentou passar o braço nos meus ombros eu me afastei, me jogando dramaticamente na cama.
Depois de ver o meu estado de calamidade eu  tentei fingir que só queria me fundir naquele colchão macio e não ter que ir a baile nenhum, porem considerando meu emocional extremamente dramático e carente, talvez se ele me abraçasse e tentasse dar um apoio moral melhor — ou fosse chamar meu namorado — eu voltaria ao normal. É, isso resolveria.

Mas se você pensa que Do Kyungsoo é do tipo de amigo que consola você e diz que tudo vai ficar bem, você errou. 
Assim que me joguei na cama ele literalmente arrotou, bateu na minha coxa, disse que precisava tomar um banho, pegou a mochila e avisou que usaria o banheiro dos meus pais, me deixando com ainda mais raiva e sozinho.

Nota mental: descobrir o que Kyungsoo fez para merecer a minha amizade. Porque não está dando.

Sentei na cama e respirei fundo enquanto mexia meus cabelos. Eu estava tão cego de raiva e desespero que tudo o que se passava na minha mente era que eu não queria aquilo, qualquer cor seria boa, qualquer uma que não fosse aquela. Por que verde? até onde eu notei Tao estava ruivo, Kris com o cabelo retocado assim como Chanyeol, e eu estava.... verde.

Eu devia ter gravado o arroto dele e enviado pro Jongin, só pra ele aprender a me respeitar!

— O que eu faço? — choraminguei sozinho, pouco me importando em estar apenas de toalha em cima da cama. Eu queria uma solução específica, rápida e que não me deixasse careca. E após pensar um pouco eu até tinha em mentir que Kyungsoo não sabia da minha raiva por aquela cor, e provavelmente me ajudaria a mudar a cor caso eu implorasse — o que planejei fazer assim que o visse saindo do banho — mas o problema agora era me humilhar pra ele, já que eu nunca gostei de implorar por nada. Passei as mãos nos fios e respirei fundo.

— Isso e uma questão de honra, não importa o lado. — falei sozinho, ainda tocando meus cabelos e franzindo o cenho. Era uma faca de dois gumes.

Me rebaixar e arrumar meu cabelo.

Empinar o nariz e passar vergonha.

Qual era menos pior?

 

Era um dilema sem resposta visto o meu estado. Eu apenas não conseguia decidir de qual lado da ponte queria me jogar, então fiquei bem triste até coçar a cabeça e me assustar com a textura dos meus fios.


Foi quando a magia negra começou.


Minha vontade de matar Kyungsoo repentinamente passou a diminuir a cada vez que sentia meu cabelo entre os dedos enquanto tentava afastar da minha mente a imagem dele se transformando em um chiclete na segunda mão de tinta. E por um lado, de repente, assim que lembrei da minha imagem no espelho meu cabelo pareceu realmente hidratado, a textura estava muito macia e quem o olhasse nem imaginaria que havia quebrado tanto.

Mas por outro, eu ainda não gostava de verde.

— Mas, até que não ficou ruim.

Demorei alguns minutos reflexivos para me arrastar preguiçosamente até o espelho e me admirar, mexendo nos fios delicadamente e pensando um  pouco mais sobre o meu problema, que era menor do que eu imaginava.

Maldito seja Do Kyungsoo e aquelas tintas japonesas cheirosinhas. Ficou muito bom mesmo.

Sabe, geralmente quando você tem amigos eles te ajudam no que podem, mas acho que Kyungsoo é o único amigo do mundo que atrapalha e te faz aceitar isso sem bater nele. Só de lembrar daquele sorriso fofinho e dos olhinhos arregalados a raiva passa.


Mas não vou dizer que foi instantâneo. Demorei uns minutos em frente ao espelho repetindo que eu estava lindo até alcançar a famosa aceitação. E quando enfim consegui, eu simplesmente tive vontade de sair do quarto e mostrar a todos o quanto Byun Baekhyun consegue ficar mais atraente com diferentes cores de cabelo.


Olhei no relógio. Ainda tínhamos quarenta minutos para nos arrumarmos e ir ao baile, então me apressei a pegar minha roupa sobre a cama e comecei a me vestir ainda repetindo meu mantra do "você é mais do que maravilhoso, você é Byun Baekhyun" por precaução, mas assim que estava terminando de calçar meus sapatos, Chanyeol surgiu saindo do meu banheiro — onde eu nem mesmo notei que ele havia entrado — com um sorriso no rosto que por pouco não me distraiu de suas roupas, mas após olhar para mim mesmo e para ele, aquilo foi inevitável.
Ele vestiu uma camisa básica, gravata, calça e sapatos sociais. Eu não sabia se encarava mais a mim mesmo ou a ele, que se admirava em frente ao espelho e mexia nos cabelos recém-hidratados por Kyungsoo.


Foi uma questão de segundos até eu cutucar seu ombro.


— Você, hum, vai assim ?


É claro que não aguentei calado, eu tinha que perguntar. O traje pedido no convite era claro, mas Chanyeol apenas assentiu e deu de ombros.


— Eu gosto assim. — disse ele tranquilamente, dando um sorriso sem mostrar os dentes em seguida enquanto vi Kyungsoo entrar, nos ignorando e ligando o secador.


— Mas o convite deixou fixo que a roupa não é assim. — eu retruquei, ao que ele revirou os olhos e foi até o outro lado do quarto, tirou um blazer escuro da mochila largada sobre a minha cama e voltou para perto de mim, me olhando como se aquela peça fizesse toda a diferença.


— Eu vou usar isso lá. — constatou.


— Você só pode estar brincando. — virei para Kyungsoo, que arrumava a franja vermelha para cima tranquilamente. — Soo, o Chanyeol quer ir assim, vê se...  — arregalei os olhos quando notei que ele estava tão informal quanto Chanyeol. — mas cadê a sua roupa?!


— No meu corpo. — deu de ombros.


ri de nervoso.


— Eu não acredito que você vai assim! — me aproximei rapidamente e apontei para o rosto dele, ainda tentando me impor. — no convite diz em letras mais do que legíveis que... — fui interrompido quando Kyung entortou meu dedo sem piedade, me fazendo resmungar de dor enquanto ele manteve-se calmo.


— Baekhyun, eu sou a lei. — disse passando tranquilamente por mim, desligando o secador e olhando Chanyeol de cima a baixo. — e não vejo problemas na roupa do seu namorado, ele gosta assim.


— Exatamente. Relaxa, Baekhyun. — concordou Chanyeol, dando dois tapinhas nas minhas costas assim que meu amigo saiu, dizendo um "eu vou ligar pro Yixing vir pegar a gente".


— Espero que não se importe, Baek, mas peguei alguns remédios naquela caixinha da cozinha.


— Se eu soubesse que todo mundo ia de qualquer jeito, eu não teria me arrumado bem... — Disse Kris de repente, entrando depois de Tao, que ainda terminava de beber algo com a água. Ele estava tão arrumado quanto a mim. 


Nós éramos os únicos que estavam seguindo a risca o que havia sido pedido, e ele nem estava se formando naquele dia. Senti meu rosto queimar.


— Não diga isso, hyung. Vocês vão ser os convidados mais elegantes! — Chanyeol falou animado, recebendo um sorriso amarelo de Tao. algo me dizia que ele estava tão chateado quanto eu, mas antes de ter a chance de dizer algo, o pai de Chanyeol surgiu à porta do meu quarto, nos cumprimentando.


Era a primeira vez que eu o via subindo para o meu quarto, e era  também a primeira vez que eu o via arrumado elegantemente.


Siwon — ao contrário do filho  — estava bem arrumado, os cabelos penteados para o lado e ostentava de uma aparência extremamente clara e jovial. Por alguns segundos fiquei imaginando se Chanyeol seria assim quando virasse adulto.


— Precisei ir buscar sua mãe mais cedo. Então eu acho que vou na frente — ele falou após nos cumprimentar de forma gentil. — só vim perguntar se vão comigo.


— Obrigado appa, mas um amigo nosso virá nos buscar. — disse Chanyeol, sorrindo para o pai, que assentiu.


— Tudo bem. Qualquer coisa Sunny ainda não sabe se vai. Vá em casa e a chame se quiser. — Chanyeol assentiu sorrindo. — Até mais tarde, rapazes!


— Até! — dissemos em uníssono enquanto o vimos ir embora.


— Seu pai não envelhece nunca, hein? Ele está com a mesma cara de quando foi para o exército.—  Kris foi o primeiro a comentar, nos fazendo rir quando Chanyeol assentiu,ficando vermelho e se afastando.


Esperei que ele dissesse mais algo, mas apenas ficou virado de costas enquanto eu, Tao e Yifan ainda comentávamos sobre a aparência de seu pai, e por breves segundos pude jurar que ele havia agradecido aos céus por Kyungsoo voltar para o meu quarto, sorrindo ao avisar que Lay já estava vindo e se prontificando a terminar de mexer nos meus cabelos.


Kyungsoo então nos mostrou a parte final de seu kit fantástico para aquela noite,incluindo um tipo de spray, uma escova de cabelo e suas mãos mágicas.


E então, vinte minutos depois, finalmente estávamos prontos. O intervalo entre as escadas e o carro dos pais de Suho e Yixing chegar em frente a casa foi tempo suficiente para Kyungsoo reunir a todos nós do lado de fora, tirar inúmeras fotos e nos obrigar a ir nos bancos de trás para ficar com Yixing nos da frente.


— Então, pessoal — Suho nos chamou a atenção — Sehun mandou avisar que ele está nos esperando na frente, precisamos nos reunir antes de entrar senão vamos nos perder.


— Reunir pra quê? — Kyungsoo perguntou.


— O plano dele para ajudar Chanyeol. — expliquei, ao que Suho assentiu. — eu nem lembro o que é pra eu fazer mesmo, mas tô indo. — bufei.


Chanyeol tirou o celular do bolso e ignorou a conversa que surgiu dentro do carro, sobre algum filme que passou na TV e a série de TV que Kyungsoo enaltecia, e assim correram os poucos minutos até o colégio. Tao era o único que estava recluso e de olhos fechados e eu estava sem entender nada do diálogo mesmo, então quando chegamos eu acabei sendo o primeiro a sair, abrindo a porta em um ato quase desesperado e correndo alguns passos até alguém chamar meu nome.


— Esqueceu? Temos que achar Oh Sehun. — Suho implicou, me segurando pelo braço, mas antes de completar dez segundos eu me soltei, olhando em volta.


O horário no qual chegamos era o mais propício a tumultos. As pessoas ainda estava chegando e como se não bastassem os alunos, ainda haviam os familiares. O limite eram cinco pessoas por formando, e nossa turma ficaria junto com outras duas do terceiro. Então eu já imaginava o sofrimento que passaria durante uma noite inteira e estava cogitando fugir quando finalmente Sehun deu o ar de sua graça, me surpreendendo ao aparecer com os cabelos recém coloridos de preto, hidratados e partidos ao meio. Não lembrava nada o garoto de cabelos coloridos e infantil que eu conhecia.


— Onde está Chanyeol? E por quê você tá parecendo um Miyoguk? — ele perguntou depois de me olhar profundamente, ao que Luhan surgiu com uma mochila enorme nas costas, chegando perto de Sehun e sussurrando algo em seu ouvido (antes de eu ter a oportunidade de dizer que Miyoguk é a avó dele).


Eu não te disse pra esquecer isso? minha mãe conversou com meu pai hoje. — Ele sussurrou a ultima parte, mas todos nós ouvimos claramente. Abaixei o rosto e ri pensando o quê Luhan havia aprontado.


Eu sei o que eu tô fazendo, e agora não dá mais pra você desistir. — Luhan resmungou, sem se preocupar com quem estava ouvindo a conversa e deu um chute no joelho do peguete. — Vai, por favor!


— Eu não sei se...


— Seu mentiroso, você disse que ia!


— Tá, tá, eu vou. Shiu.


— E então, começaram? — Chanyeol  perguntou, se aproximando do grupo e interrompendo aqueles dois.


Sehun e Luhan se entreolharam, então Sehun pigarreou.


— Estávamos te esperando para isso. — Voltou o olhar para mim e em seguida para Chanyeol. — Hm, agora não falta mais ninguém. Ok. — ele colocou as mãos nos bolsos, olhando para o lado. — Eu pedi que se reunissem para repassarmos o plano. Alguém se oferece?
Assentimos sem palavras, olhando para a pessoa do lado consecutivamente. Pelo visto ninguém queria falar.


Sehun cruzou os braços e após receber uma cotovelada de Yixing, Chanyeol tem um passo para frente.


— Eu, Kyungsoo, Kai e Baek entramos primeiro. Lay e Luhan vão para a sala de multimídia junto de Sehun, que vai ajudá-los a passar a fiação. — ele mordeu os lábios, tentando lembrar de mais algo. — Hm, e... Ah, e quando terminarem vamos nos encontrar no banheiro do segundo ano. Tao e Kris fazem o trabalho pesado e o Baek ajuda guiando o DJ para a sala de música, onde Luhan e eu o trancamos. — Ele sorriu, levantando o rosto. — Eu volto para o palco, vocês pros seus lugares e a noite é nossa!


— EXATO! — Sehun assentiu, apontando para Chanyeol. — Mas vamos por um pequeno detalhe, já pulamos a recepção e a cerimônia principal, mas e se o diretor Heechul aparecer?


— Sobre isso, meu pai vai distraí-lo! — Chanyeol foi rápido o suficiente para me surpreender. — Nós já conversamos sobre isso e ele aceitou me ajudar... — explicou, me olhando.


Sehun fez um bico, parecendo pensativo.


— Então está melhor do que eu pensava. — ele massageou a nuca brevemente antes de agarrar o braço de Yixing e Luhan. — Bem, boa sorte a todos e me mantenham atualizado. Qualquer coisa, Suho criou um grupo com todos vocês. Avisem tudo por lá. — Antes de responder qualquer coisa ele se afastou, apresentou os convites, reverenciou e se juntou ao monte de alunos que adentravam organizadamente. Tirei meu celular do bolso e constatei que realmente havia o tal grupo. Bufei.


— Eu preciso de um remédio para dor de cabeça — Zi Tao choramingou baixo, me encarando. Ele estava pálido. — É que essa dor de cabeça está me matando...


— Eu acho que tem alguns do Xing no carro. — Suho cruzou os braços. — vocês podem ir na frente, nós alcançamos.


— Tudo bem. — concordei tocando no ombro de Tao. — Melhoras.


— Obrigado.


Kris seguiu os dois, indo para o carro sem dizer qualquer coisa. Eu estava começando a ficar preocupado com aquela dor de cabeça de Tao, mas não podia fazer muito mais do que desejar que ele ficasse bem logo. Só voltei ao normal quando Kyungsoo tocou meu ombro, alheio a Zi Tao e bastante animado para entrar.


Quem nos via nem imaginava que havíamos passado o ano inteiro falando mal do baile.


Assim que chegamos na porta de entrada entregamos os convites em silêncio, eu estava mais preocupado em olhar para o carro e ver se Tao já havia saído. Tiramos as fotos e passamos para a parte de dentro, que na verdade era nossa quadra — escolhida por votação. Eu ainda estava meio cego pelos flashes quando entramos mas não o suficiente para não notar o garoto desconhecido na "mesa" do DJ que já fazia algumas pessoas dançarem animadamente na pista, ao contrário do nosso grupinho que não pensou duas vezes antes de sair direto as mesas onde a comida estava sendo servida.


Nós não éramos exatamente um exemplo de formandos. Chegamos na hora errada e ainda estávamos acabando a comida como se não houvesse amanhã.


O olhar de meu melhor amigo vez ou outra encontrava o meu, me lembrando do que realmente tínhamos que fazer ali enquanto o garoto desconhecido apenas fazia seu trabalho alheio aos nossos planos.


— Eu já olhei em volta. Nem sinal do diretor — constatou Jongin se aproximando e pegando alguns petiscos com recheio doce — Hm, que delícia!


 dei um sorriso de ao ver meu melhor amigo tirando o celular do bolso.


— Sehun disse que já estão prontos. E Tao pelo visto ficou no carro. Kris e Suho vão ser a dupla. — Ele me mostrou o celular — Ainda bem que tínhamos ele de reserva. Será que não é melhor levar o Tao ao hospital?


— Ele vai ficar bem, só não gosta de barulho. — meu namorado falou de de boca cheia. — A gente tem que ir logo, avisa o Sehun. 


Achei que Kyungsoo não tivesse escutado, ele ficou calado por alguns segundos. Dois garotos passaram perto da gente e nos olharam torto pela forma que comíamos.


— O que eu tenho que fazer mesmo? — Kai questionou esfregando as pernas, nervoso. 


Chanyeol levantou as sobrancelhas, virando Jongin para a mesa onde o alvo estava.


— Nada, só usar o seu charme para atraí-lo — ele piscou um olho e seu rosto se iluminou em um sorriso. — sei que vai sair bem.


— Sim mas, Kyungsoo está aqui. Como eu faço isso?


Não consigo segurar a vontade de rir. Jongin parecia bastante desconfortável com aquilo, era extremamente charmoso.


— Jongin, não...


— Jongin, esse nervosismo todo é por minha causa? — Kyungsoo disparou, me interrompendo — porque se for eu já passei por uma quase-coisa com Minseok e te devo uma.


Fiquei boquiaberto com as palavras, ele disse mesmo que eu entendi?


Chanyeol ficou sem ação assim como Jongin, que deu dois passos para trás sem acreditar no que havia escutado, e levando em conta os sentimentos dele por Kyungsoo aquilo deveria estar doendo bastante. Depois disso senti um mal pressentimento constante, algo íntimo e que me fazia sentir na posição dele. Meu amigo havia suspeitado tanto do amor e fidelidade de Kim Jongin mas havia sido o primeiro a trair, qual o sentido?


A música foi substituída repentinamente pelo discurso de melhor aluna da turma ao lado da nossa, mas nem mesmo aquilo fez com que um de nós pudesse dizer alguma coisa.


— Nini eu... — meu amigo segurou uma das mãos de namorado entre as dele, nervoso. — eu não disse antes porque você já tinha me visto com ele então eu pensei que...


— Que eu ia adivinhar que você não tem o mínimo de respeito por mim? — ele interrompeu, rindo sem ânimo. — eu achei que te conhecia bem.


— E conhece! — me meti mesmo sabendo da gigante chance de eu fazer merda na  conversa. — Conhece melhor do que qualquer pessoa no mundo!


Sacudi as mãos no ar, nervoso.     Então eu não consegui controlar a minha lingua e acabei falando mais do que o necessário, sentindo as primeiras fisgadas de arrependimento quando Jongin ficou me encarando pelo que pareceram anos.


— Mas ele — Jongin apontou — eu nunca escondi nada dele.


— Aconteceu sem querer, — Kyungsoo agarrou seu pulso. — não foi nada demais... — ele disse, apertando o rosto no peito de namorado. Eu podia jurar que ele choraria.


Pra ser sincero o momento era propício para o término mais indesejado que já vi. O ex jogador do colégio parecia profundamente magoado e meu amigo estava com medo, muito medo do que aconteceria. E o pior era que nem eu nem meu namorado poderíamos nos meter muito naquilo, por mais que eu quisesse.


Eu já estava quase saindo correndo dali, já que além de não poder mover um dedo para ajudar Kyungsoo a sair daquela confusão as pessoas ainda passavam perto da gente, nos encaravam e saiam fazendo comentários. O meu desconforto era total no meio de todos aqueles humanos.


Dei um passo a frente, pronto para dar um fim naquilo.


— Vamos. Não temos muito tempo. — Jongin disse depois de seu silêncio torturante. Um olhar indiferente cruzava seu rosto, fazendo com que a reação de nós três tenha sido a mesma, assentir. Porém, antes de finalmente seguirmos com o plano eu o vi encarar meu amigo dizendo um "Vamos conversar mais tarde" que apenas entendi por ter lido seus lábios. 


Era a primeira vez que eu havia notado uma semelhança estranha dele e de Kyungsoo, ele também não gostava de fazer intriga em qualquer lugar. Preferia explodir quando estivessem sozinhos, e levando em conta que ele e Kyungsoo teriam algo para acertar depois eu apenas desejei mentalmente sorte a Kim Jongin.


Chanyeol tomou a frente assim que começamos a caminhar, abrindo a passagem entre os corpos que vinham entrando em direção a pista. Dei uma última conferida em volta e subimos no palco montado, ao que finalmente nos separamos. Meu melhor amigo apressou-se a ir para sua posição assim como o namorado, que não mais hesitou um mínimo segundo antes de se aproximar do garoto DJ, puxando algum assunto que não entendi. Enfiei a mão no bolso e digitei rapidamente no celular.


"Jongin e Kyungsoo já estão prontos"


Enviei a mensagem e me voltei a Chanyeol do meu lado. Ele parecia distraído o suficiente para não me notar mas conforme os minutos se passaram eu vi um sorriso sacana se formar em seu rosto.


— Por que você tá me encarando? — Li seus lábios e abaixei o rosto, parando de encará-lo imediatamente. Que estranho.


— Desculpe — falei com o tom forte para que ele escutasse, mas ao me responder novamente ele não viu  problema algum em aproximar o rosto do meu e de guiar seus lábios em direção ao meu ouvido. 


— Eu tenho que ir, tchau! 


Então, antes que eu pudesse raciocinar direito aquilo, Chanyeol trouxe os lábios aos meus e após selar rápidamente, sumiu em meio aos outros. Fiquei sem reação alguma enquanto tocava meus lábios e olhava em direção a "pista", e após correr os olhos pelo lugar acabei avistando um rosto conhecido.


Ali embaixo, bem rente ao palco, um garoto e uma garota conversavam e davam alguns passos tímidos tentando desviar um pouco da monotonia. O único problema era que aquele garoto nem deveria estar ali.


— Mas o que essa garota faz dançando com o Taehyung?


Despertei com a voz incrédula do meu melhor amigo ao pé do meu ouvido, me confirmando que aquele garoto era realmente quem eu pensava ser. Taehyung nem ao menos havia nos notado de tão distraído que estava com a garota, o sorriso quase partia o rosto em duas bandas.


— Você acha que os outros vieram? — perguntei a Kyungsoo, ainda encarando aqueles dois.


Ele pareceu  pensativo.


— Devem estar em infiltrados, eles nunca saem separados, ainda mais agora que estão esperando o resultado da audição. Eu só não sei o que eles fazem aqui... — constatou, sacudindo a cabeça. — De qualquer forma, vamos! — ele segurou meu braço.


— Sim, mas e o tal cabo? — perguntei curioso, vendo ele rir e apontar para afiação que acabava na mesa de DJ.


— Aquilo ali? terminei faz tempo.


Me surpreendi com a velocidade dele e a comprovação de que Oh Sehun realmente é um bom observador. O que o garoto de cabelos agora castanhos tinha de teoria, meu melhor amigo tinha de prática.


Sem mais questionamentos nós descemos do palco, nos misturando aos outros alunos enquanto Jongin jogava seu charme no desconhecido, sorrindo abertamente e até passando a mão sobre a tela, tentando mexer em algo. Não demorou muito e ele conseguiu fazer o garoto sair sozinho o deixando seu lugar. Meu celular vibrou.


"Gente"
"Eu acho que Yixing desceu peelo outro lado. Ele não saiu ainda. me avisem qualquer coisa. OSH." 


"que"
"Tao não estava bem e ficou no carro, eu e Kris estamos no banheiro. KJM."
"aliás se vocês derem fim no meu dongsaeng eu processo vocês"


"Provávelmente ele desceu pelo outro lado, vamos nos encontrar com o Chan e trocar. WYF."


"Mas essa não era a deixa do Sehun? PCY."


Respirei fundo e digitei:


 "Kai já está sozinho no palco. O DJ saiu sozinho sabe-se lá pra onde. Mas eu quero saber o porquê de todo mundo se separar!"


— Manda uns emojis. — Kyungsoo falou tentando me ajudar. — vai dramatizar bem mais e eles vão reparar em você.


— Cala a boca.


"Não tenho culpa de nada. Nós não podemos ir para o banheiro e deixar Yixing a mercê de ficar preso, Luhan ainda não desceu, eu não vou deixá-los aqui. "


"Por enquanto Suho fica no nosso lugar e vocês tentam seguir a risca o que der. Tchau. OSH." — Li a mensagem em voz alta, vendo Kyungsoo arregalar os olhos e sair correndo em direção ao vestiário, onde o Dj desconhecido havia entrado. Voltei o olhar para o celular e respirei fundo, pelo visto aquilo realmente não iria acabar bem.

 

 

 

XXX

 

 

Eu pensava que aconteceria algo como nos filmes e que a festa da minha formatura seria realmente bonita, mas algum tempo depois de que chegamos ao local eu notei que as minhas expectativas não seriam nem mesmo alcançadas, e olha que nem era assim tão altas.

Não que estivesse ruim, mas no geral, não fazia meu tipo.

A cerimônia principal havia encerrado, os professores estavam misturados, meus pais haviam chego há poucos minutos e tudo o que recebi foi um abraço e uma pergunta de onde podia pegar comida, e depois que apontei para o lado certo meus pais desapareceram, sem fazer um mísero comentário sobre o meu cabelo verde. A música tocava alto e eu sentia a batida pulsar dentro de mim, Chanyeol — assim como a maioria — havia sumido e eu apenas conseguia pensar no quão gordo eu ficaria após comer todos os salgadinhos possíveis. 
O único que ainda não havia desaparecido era Jongin, que estava na mesa de som junto comigo, observando alguns pais se despedirem dos filhos e indo para as mesas na parte climatizada enquanto os filhos morriam ali mesmo. Outro detalhe interessante foi que Zi Tao estava há uns três minutos no palco, surgiu afirmando que estava bem e que sentia muito por ter quebrado a ordem das coisas — embora a culpa fosse toda de Sehun, e eu também não tivesse ajudado em praticamente nada naquele plano.


Eu já estava suando pelo ambiente estar ficando abafado e Kai estava esgotado, visivelmente tão cansado quanto eu e caçando Kyungsoo com os olhos, já que ele não havia mais dado sinal de vida desde que seguiu o DJ. 


— Você tá bem? — Guardei todo o meu receio de puxar assunto e toquei seu ombro. E ele, ao contrário do que eu imaginava, simplesmente deixou a postura cair, fazendo uma careta desgostosa.


— Tô morrendo — ele revirou os olhos, fazendo um biquinho que do meu ponto de vista foi adorável demais para uma pessoinha daquelas. — Baek, você pode me fazer um favor?


— Claro. — Ele sorriu. Eu quase pude ver Deus naquele sorriso. Amém Kim Jongin. Minha garganta estava seca e eu estava com dor de cabeça pelo barulho, mas dei meu máximo para escutar sua voz quando ele se aproximou de mim, falando próximo ao meu ouvido. 


— Vai do outro lado e pega algo pra eu beber, por favor. —  Praticamente gritou para mim, mas assim que o encarei não consegui conter o desconforto por outra coisa.


— Mas Jongin, do outro lado tá ainda mais lotado!


— Eu sei, cara, mas por favooor. — Ele juntou as mãos, cemi-cerrando os olhos dramaticamente. — Vai logo antes que eu caia, faz esse sacrifício.


— Mas é que... — Hesitei, mas depois de focalizar a expressão triste e digna de Oscar feita por Kim Jongin, acabei voltando atrás. 


Assenti e me afastei rapidamente, apelando para um preparo psicológico intenso antes de me aventurar a passar entre aquele monte de seres humanos animados e constatar que ali embaixo estava ainda mais quente. Nem se jogassem uma caixa de cubos de gelo ali a temperatura mudaria. O cheiro misto de perfume me deixou ainda mais zonzo e com vontade de desistir daquela missão. Mas Kim Jongin era tão fofo.


Afastei dois garotos e quase agradeci aos céus quando finalmente pude ver a mesa, próxima  a porta. Eu teria ar fresco e acesso as bebidas, tudo de uma vez, era quase um sonho. 


— Agora vai! — bati no meu próprio peito e me enchi de coragem para dar os últimos passos. Faltava tão, mas tão pouco. 


Foi quando meu celular vibrou no bolso.


Enfiei a mão apressadamente e o retirei para ver quem havia dado sinal de vida e continuei caminhando quando, de repente, duas garotas passaram apressadamente por mim e me empurraram direto para a mesa.


Ouso dizer que a velocidade com a qual eu calculei uma queda menos brusca do meu celular no chão foi digna de uma medalha Fields. Eu amorteci a queda com o pé e deixei que minhas mãos ficassem na frente do corpo, parando diretamente dentro da taça de ponche enquanto eu bati a bochecha no canto da mesa. Um micão só!


Felizmente aquilo passou despercebido por grande parte dos alunos, já que estavam mais interessados em Tao, um dos poucos que viram minha queda e tentou camuflar o momento pegando o microfone e dando inicio a sua fase do plano, a tal batalha de rap com ninguém mais improvisado do que Kim Jongin.


Ah, detalhe importante: Jongin, aquele desgraçado, estava comum copo na mão.


O maldito me fez atravessar o oceano pra porcaria nenhuma.


Eu queria arrancar aquele microfone das mãos de Tao e enfiar na garganta de Jongin.


Tentei me levantar rápidamente e salvar o pouco da minha roupa que não havia molhado e manchado com o ponche onde minhas mãos caíram em cheio. Eu estava com um cheiro horrível e molhado, mas precisei pegar meu celular do chão quando mais pessoas vieram na minha direção, recolhi o aparelho com a ponta dos dedos e coloquei no bolso.


— Ótimo, o que eu faço agora? — olhei para os lados procurando meus pais, eles não estavam por perto, eu não conhecia ninguém e mesmo se conhecesse estavam ocupados demais para me ajudar a procurar um guardanapo ou toalha. Dei a volta até o vestiário e os chuveiros estavam com o box trancado, as pias estavam com as torneiras travadas e no auge do meu desespero os armários que abri estavam — obviamente — vazios.


Saí apressadamente dali e voltei para perto da mesa, quase chorando de desespero. Tinha muita gente para enfrentar até voltar para perto de Tao e implorar ajuda, meu celular não parava de vibrar e eu não encontrava nada para secar aquilo das minhas mãos. Olhei em volta pela milésima vez e foi então que tive uma ideia muito, mas muito nojenta.


Mas era necessário, questão de vida ou morte.


Em um ato de fugitivo da polícia olhei por cima do ombro para ver se tinha muita gente olhando e quando notei que não, tentei alcançar a mesa com o objetivo nojento e desesperado de limpar as mãos na toalha limpinha e decorada, mas meu plano foi interrompido nos últimos instantes por uma voz feminina suave.


Virei de costas e dei de cara com uma garota extremamente bonita, os cabelos estavam presos em uma trança lateral, mas alguns fios soltos se desequilibravam do penteado — provavelmente ela estava dançando. Por alguns instantes eu me senti congelado enquanto a observava minusciosamente, em uma onda hipnotizante muito parecida com a que apenas Yifan me fez sentir antes.


— Oi! ... BaekHyun Byun, certo? — Assenti, arqueando a sobrancelha enquanto a garota ainda parecia receosa se falava com a pessoa certa. Eu tive a impressão de já tê-la visto mas não lembrava onde. — eu sou Fan Yunjiao, a "garçonete". — ela fez aspas, rindo sem graça. 
Aquilo deveria ser uma piada interna entre mim e ela? Ela era chinesa? Por quê chineses me deixam desestabilizado?


Minha cabeça estava cheia de interrogações enquanto ela me encarou nervosa, esperando por algo que eu definitivamente não fiz. Mas não por não querer mas por não saber o que seria. Então, após o nosso silêncio mútuo ela tentou de novo.


— Eu sou aquela garota, juntaram nossas turmas uma vez, aula de tecnologia... e nós nos encontramos no restaurante também uma vez, lembra? 

Não

— AHH, Leeembro, lembro sim! — assenti rapidamente quando notei que seria ainda mais constrangedor dizer que não lembrava de nada daquilo e me agradeci mentalmente por isso já que ela abriu uma pequena bolsa, me estendeu um lenço para secar as mãos e sorriu. Ela explicou sobre já ter tentado falar comigo outras vezes mas ter ficado envergonhada, falou que me achava bonito e perguntou se estava sozinho, recebendo apenas um sorriso de volta, já que eu jurei ter visto Yixing passando e acabei me desinteressando por todo o resto quando meu celular voltou a vibrar. E ela lá, atenta a um possível diálogo mais longo entre nós.


Infelizmente eu não soube disfarçar muito bem que meu interesse era maior no lenço do que nela, então não demorou muito até ambos ficarmos constrangidos por nosso diálogo não ter uma forma menos falsa de continuar. Ela estava me dando mole e fazia questão de enfatizar que não era a primeira vez que havia se aproximado, mas eu não lembrava dela e ela estava extremamente graça com isso.


— Hm, tome cuidado, suas mãos podem ficar lisas e com cheiro pro um tempo... — ela sorriu gentilmente, esbanjando um carisma que me deixou triplamente envergonhado por não me lembrar. Ela era realmente linda. — É, foi bom te encontrar de novo... acho que, nos vemos por aí.


Eu queria ter sido mais educado e puxado algum assunto antes dela sumir, mas não esperei mais do que alguns segundos para enfiar as mãos no bolso e tirar meu celular quando ela se afastou. Saí dali direto para o vestiário vazio, pensando no que Sehun poderia estar querendo agora, já que o nome dele aparecia na tela de bloqueio como mensagem privada, e não em grupo.


Rapidamente desbloqueei a tela ainda com os dedos lisos e quando finalmente li a mensagem senti meu estômago embrulhar.

" Luha tá preso na tubulaçço"

Senti minha pressão cair instantaneamente quando li aquilo escrito errado e não consegui ler todo o resto, minha única atitude foi sair disparado para fora da quadra, escorregando no ponche derramado na porta e no corredor e me recompondo rapidamente.


Eu sabia que aquele plano era idiota! A altura do duto era a mesma do meu braço, eles poderiam ter sofrido coisa ainda pior. Só de pensar naquilo eu sentia meus olhos arderem e apressei ainda mais meus passos enquanto liguei para Chanyeol, pouco me importando do quê ele fazia ou onde.


Eu nem conferi se era o número dele, só sai apertando a primeira coisa que apareceu, sendo atendido no terceiro toque.

— Pizza Hut Myeongdong, boa noite?

— Ah

Desliguei e liguei de novo.

— Baek? — ele atendeu no segundo toque, confirmando que era o certo quando ouvi a voz de Kyungsoo no fundo — Nós já tranca...

— O LUHAN TÁ PRESO, PRESO, O LUHAN VAI MORRER! — gritei descontroladamente com o celular no auto-falante.

— O quê? Como isso aconteceu?

— Eu não sei! eu não sei, Chanyeol! Eu falei que isso não ia dar certo! — choraminguei, finalmente encontrando Sehun e as pernas de Luhan balançando no ar. — Larga tudo e vem pra cá agora! Rápido!

Desliguei o celular com as mãos tremendo e me aproximei de Sehun, que apenas mantinha os braços cruzados e ria.

— Como vamos tirá-lo dai? Calma Luhan, o Baek tá aqui! — passei as mãos pelos tornozelos de Luhan e tentei puxar, mas todo o que recebi foi um berro alto ecoando pelo duto de ar. Ele estava sentindo dor.

Larguei as pernas dele e tentei encontrar algo para nos auxiliar a tirá-lo dali, mas tudo o que vi foi uma sala quase vazia e Sehun vermelho de tanto rir.

— Sehun, você é doente ou o quê? — eu não conseguia abaixar meu tom de voz, o nervosismo havia tomado de conta do meu corpo a ponto de eu tentar bater nele sem medo das consequências. Felizmente, Sehun me empurrou a tempo.

— Eu? É você quem tá surtando. Ele tá preso e não esquartejado. — disse empinando o nariz. — além do mais, a culpa é toda dele!

— Eu não estaria surtando se ele não estivesse preso. — Finalmente respirei e baixei o tom de voz, mordendo os lábios. — E como assim a culpa é dele?

Ainda que eu saiba que estava exagerando, uma situação daquelas não cedia espaço para tranquilidade, mas ainda assim Sehun passava tranquilamente com sua voz mansa e olhar indiferente.

— Eu mandei ele ir sem aquela mochila e todo engomadinho, mas ele simplesmente amarrou tudo no corpo e na calça e entrou lá. O resultado foi que ele engatou em algum canto e agora tá nessa. O que você queria? — ele deu de ombros, pondo as mãos nos bolsos enquanto eu lembrava da mochila de Luhan. — E também, se ele quisesse sair era só fazer o que eu mandei.

— E largar tudo lá? — arregalei os olhos.

— Ou ele pode deixar os quadris como enfeite de parede.

Pude escutar Luhan gritando um palavrão que ficou abafado, e eu também queria xingar Sehun. Eu devia ter filmado ele no dia que o encontrei dormindo sentado na privada. Sacudi a cabeça e, no momento em que vi Chanyeol entrar na sala encontrei uma tesoura na mão dele.

O momento exigia algo como perguntar onde diabos ele havia pego aquilo. Mas eu, como a pessoa sensata que sou, apenas pulei em cima do meu namorado focando no objeto.

— Vamos cortar as calças dele. — eu disse já correndo de volta e trazendo a tesoura para perto.

Sehun bufou e fez um bico quando tomou a tesoura das minhas mãos.

— Eu estava quase cogitando minha segunda utilidade para o corpo dele mas, tá.

Chanyeol massageou os dedos e eu fiquei calado enquanto Oh Sehun começou a cortar o tecido lentamente, e graças a sua altura conseguiu alcançar até o fim das coxas de Luhan, deixando a calça social dele igual a um shorts, mas em compensação conseguimos tirar as alças amarradas da mochila.

— Pronto, vamos tentar agora. — falei segurando uma perna, Chanyeol e Sehun seguraram a outra e puxaram até Luhan começar a gritar — Aish! mas o que foi agora?


— MINSEOOOK!!! — Ele gritou ainda enfiado no duto, a voz chorosa declarava bem o que passava nas mãos de Sehun.

Soltei Luhan e me afastei passando as mãos na nuca, não fazia sentido! Ele já estava solto, era só ajudá-lo a descer para que não caísse no chão, o que tinha de complicado nisso?! 


Tentei pensar em silêncio e não surtar mais uma vez sobre a condição dele, mas se tornou impossível no momento em que vislumbrei Chanyeol e Sehun o puxando para fora e ignorando os gritos até que finalmente vislumbrei sua cintura vermelha se soltar do duto e seu corpo lentamente descer até os braços de Sehun.


A minha vontade foi de bater nos dois até ficarem inconscientes, mas como Sehun segurava Luhan, minhas mãos investiram apenas em Chanyeol, que tentou se proteger correndo para fora da sala e segurando a maçaneta da porta.

— Mais tarde você vai ver!


— Luhan, você tá bem? — Sehun perguntou, me fazendo desviar a atenção para aqueles dois. Luhan apenas bateu até que Sehun o soltasse no chão e então (ainda cheio de vergonha) me encarou.

— Hannieee, me perdoe. Era o único jeito. Você sabe — Sehun choramingou usando os sentimentos que não tinha. — e sobre usar seu quadril como enfeite de parede... Era brincadeira. Eu jamais deixaria algo tão lindo como você ser olhado por todos assim...

Encarei Luhan, ele estava quase chorando. E eu tinha certeza plena de que não era por nada além de dor. Porém, após ouvir toda aquela baboseira, ele apenas encarou Sehun dos pés a cabeça e depois de uns minutos em silêncio apontou para as calças dele.

— Me dá. — falou em um tom duro, ainda encarrando Sehun que apenas franziu o cenho. — me dá a sua calça!

— Luhannie, eu...

— EU JÁ DISSE PRA DAR A PORCARIA DA ÇALÇA, SEHUN.

Ele arregalou os olhos, estendendo as mãos.

— T-tudo bem.

Fiquei calado enquanto Sehun desafivelou e deixou a calça social ir ao chão, logo entregando-a ao chinês, que tirou a peça destruída de si e vestiu a inteira, ajustando a cintura com o cinto.


Sehun usava uma cueca boxer branca com seu nome escrito em vermelho atrás — provavelmente costurada pela mãe extremamente protetora dele — e ao ver o chinês mais interessado em parecer impecável do que em como ele sairia dali, decidiu finalmente surtar.

— E o que eu faço agora? — eu quase podia tocar o desespero na voz dele quando Luhan o olhou com o nariz empinado, nada piedoso.

— Dá o seu jeito. Eu não vou perder esse baile.

— É meu baile também! — ele gritou.

— Mas você cortou minha roupa! — Luhan o imitou, passando a mão na testa para se acalmar. — Olha.... depois do que você falou de mim nas últimas duas horas preso eu não devia te ajudar. Você me ridicularizou, Oh Sehun, e olha que eu sou quase seu namorado. — Ele respirou fundo, ao que Sehun jogou os cabelos completamente no rosto, cobrindo a testa. — Mas eu vou sair, procurar o Yixing e ver se ele pode me levar em casa pra pegar algo pra você. Tudo bem?

— Tudo bem. — Sehun concordou sem graça, ao que Luhan tocou seu rosto com as mãos e sem se importar com a minha presença selou os lábios dele.

— Tá. Fica aqui.

Sehun assentiu, sentando no chão frio e ficando calado enquanto fui puxado para fora da sala.

— Você quer ficar com ele? — Luhan falou no meu ouvido quando passamos pelo vestiário, ao que apenas neguei rapidamente, parando de caçar meu namorado com os olhos. — se quiser não tem problema. Sehun é vingativo e vai achar que eu o abandonei.

— Ele vai ficar bem. — respondi, passando a mão nos meus cabelos e parando em frente a porta da quadra. — Qualquer coisa o Chanyeol pode aparecer lá.


— Certo. — ele deu de ombros, sorrindo para mim. — Hm, eu vou atras do Yixing logo, te vejo depois.


— Boa sorte.


Observei Luhan sumir entre os outros alunos e me aproximei da mesa, voltando a comer já que eu realmente estava sendo um imprestável.
 Sehun nunca me pareceu um bebê chorão, mas ultimamente uma sequência de coisas vinham me fazendo mudar meu ponto de vista e talvez, apenas talvez, começar a acreditar que eu era muito mais valentão do que o próprio Rei do colegial, conhecido por Oh Sehun. 


Mas aquele momento não foi o mais propício para refletir nisso já que, ao olhar para a porta, encontrei Chanyeol e Kyungsoo de mãos dadas, envolvidos em uma conversinha que parecia bastante interessante. Ou pelo menos o suficiente para o meu namorado não me notar, passar direto para o outro lado e levar meu melhor amigo junto.


Peguei um doce e enfiei inteiro na boca, tentando não focar muito no meu esquecimento naquele meio e acabei lembrando do pobre Luhan chamando pelo nome de Minseok quando ficou preso. O coitadinho deveria estar sofrendo demais na mão de Sehun para querer voltar atrás, mas não critico. 


Minseok era um rapaz realmente bonito, até parecia chinês. Eu morderia a cara dele e não largaria nunca mais se o visse de novo. E por alguns instantes fiquei pensando no que poderia ter acontecido com o garoto das bochechas fofas que conheci na lanchonete. Mordi os lábios e jurei mentalmente que perguntaria sobre ele a Tao quando o visse de novo. Mas ali, naquele momento, eu primeiramente queria me aproximar do resto do grupo e comemorar o então sucesso do plano de Sehun.

 

 

XXX

 

 

Existem milhares de coisas curiosas nessa vida, mas se tem uma coisa que eu nunca vou entender isso é o meu pessimismo sobre os planos alheios. Acabou que tudo deu certo, embora o plano tenha sido invertido do inicio ao fim, com direito a substitutos e gente passando mal no carro — e eu passando grande parte do tempo fazendo vários nadas.


 Eu estava comendo há mais ou menos vinte minutos quando encontrei meus pais, nos unimos contra o mundo e continuamos a comer. O lado escorpiano de Chaerin estava aguçado, e embora eu não leve essas coisas muito a sério pela primeira vez acreditei que são o signo mais sensual do horóscopo. Meu pai desviava o olhar disfarçadamente para a cintura marcada no vestido longo, e quando notei que eu estava segurando uma senhora-vela para eles acabei saindo de fininho.


E ao contrário do que a crença popular prometia eu não consegui mais me aproximar de Chanyeol desde que ele subiu ao palco, mas dali debaixo pude aproveitar muito bem a setlist preparada por ele, que incluía remixes nacionais e internacionais também, como uma música da querida e amada diva de Kyungsoo. Aliás, desde que eles dois voltaram de sabe-se lá onde eu os evitei, visando dar mais espaço para curtirem o baile.


Fora que eu estava me sentindo um pouco inútil por não ter feito a minha parte do plano e Kyungsoo ter assumido meu lugar, indo atrás de Chanyeol e trancando o DJ na sala de música. Mas sigo firme.


Tirando a minha reflexão sobre o quão aéreo eu estava naquela noite, estava sendo um baile quase legal. Chanyeol estava feliz, Kyungsoo e Jongin pareciam ter se resolvido quando foram para o pátio, Kris e Tao nos observavam atentamente como pais orgulhosos e Junmyeon achou Yixing — que, por sua vez, sentiu piedade suficiente para levar Luhan em casa e ajudar Sehun a ter algo para vestir. Todo mundo estava onde deveria estar, mas tudo o que eu conseguia pensar era "quê que eu tô fazendo aqui?", porque definitivamente eu não me encaixava no meio daquela gente toda —  além de que a chinesa bonita que eu rejeitei não apareceu mais para me fazer sentir menos solitário. 


Outra coisa que destruiu meus sonhos foi a ausência de álcool no lugar. Eu queria fazer igual os garotos dos filmes que Kyungsoo gostava de assistir e terminar a noite embriagado — e sendo carregado até uma ambulância — , mas descobri que o colégio tinha uma rígida fiscalização e o máximo que liberaram para a gente não chegava nem a fazer cócegas.


E para completar eu nem sabia mais que horas eram, ainda não havia contado minha surpresa para Chanyeol e estava começando a sentir sono. Me afastei da mesa e fui para o cantinho da quadra, encostei as costas na parede e tirei meu celular do bolso me preparando para voltar à minha maratona de jogos, mas antes que pudesse iniciar qualquer um dos instalados Luhan surgiu colocando a mão na frente a tela, me fazendo olhar para aquele sorriso bonito em seu rosto.


— O que você faz aqui sozinho? — ele perguntou com o sorriso oscilando enquanto levou uma bebida à boca, me dando um pequeno espaço de tempo para refletir. O que eu estava fazendo sozinho?


— Eu não gosto muito de gente. — Falei baixo, voltando a atenção para o meu celular. — Além do mais, eu acho que já atrapalhei demais por hoje.


— Você acha? —  Assenti, explicando a ele rapidamente sobre eu não ter ajudado de em nada. — Hm? Isso é coisa da sua cabeça, Baekhyun.  — ele sento do meu lado, rindo baixo. — Você não atrapalha em nada, e se não fosse por você uma hora dessas eu ainda estaria pendurado por aí. Você é meu herói.


Eu quase pude sentir um iceberg se formando dentro da minha barriga quando ele disse aquilo. Por mais que ele tenha feito um tom de voz ridículo no fim da frase, aquela havia sido a maior gentileza que escutei o dia inteiro, além de ter aumentado muito o meu ego por saber que eu havia ajudado de verdade alguém, e sem precisar de outras pessoas em volta. 


É, talvez tenha sim, mas isso não vem ao caso.


Senti Luhan empurrar o ombro contra o meu e o encarei outra vez, encontrando com sua pele bonita e seus traços suaves. Ele era realmente lindo, dos fios de cabelo até os sapatos limpinhos. E eu ainda quero saber por quê chineses são tão bonitos.


Guardei os pensamentos para mim mesmo e voltei o olhar para suas roupas. Ao contrário dos cabelos desgrenhados elas estavam arrumadas de maneira impecável, como as de um príncipe. E logo notei que a poucos passos de nós estava Sehun, puxando assunto com um grupo de garotos que reconheci como os do time de Baseball, assim como vi algumas das meninas que disputavam para fazer dupla comigo nas aulas de economia doméstica, os piores alunos da turma de Língua coreana e em seguida os melhores da turma de Língua inglesa.


Parei para pensar um pouco e após alguns minutos eu descobri que conhecia mais pessoas do que imaginava naquele lugar. Isso me deixou um pouco constrangido por ter sido tão reservado no meu último ano, mas era tarde demais para arrependimentos.


— Vamos para perto dos outros? — virei o rosto para Luhan, que me sorria calidamente. Neguei. 


— Eu vou ficar mais um pouco aqui. Pode ir.


— Tudo bem, qualquer coisa dá um berro!— ele se inclinou para me beijar na bochecha e em seguida se afastou, me deixando a rir sozinho.
Deixei que ele e Sehun voltassem para a multidão para tirar meu celular novamente e tentar me esconder em paz, mas a vontade simplesmente sumiu quando meu olhar caiu sobre Chanyeol, que havia levantado e estava descendo do palco.


Franzi o cenho quando vi Jongin ficar em seu lugar — e mexer em tudo o que parecia não entender —  e demorou algum tempo até eu conseguir respirar direito quando o notei se aproximar. Ele vinha entre as pessoas tranquilamente, parecendo pouco se importar com quem esbarrava em si, mas na minha mente tudo o que passava era a cena dele levando um soco acidental no rosto.


Ele sentou do meu lado e me encarou em silêncio por alguns minutos.


— Tao disse que você queria falar comigo. — Ele começou hesitante, me entregando um olhar suspeito por eu ter mandado mensagem a Tao, mas não a ele.


Mordi os lábios.


— Eu só queria saber se estava tudo bem, e pedir desculpas. Sabe, pelo que eu fiz mais cedo. — falei em um tom mais baixo, lembrando do meu quase-ataque quando ele puxou Luhan na sala de multimídia. Eu estava muito nervoso para contar o que realmente queria.


— Ah —  Ele riu, esfregando os joelhos — Tudo bem, hm. Eu sei que você só fez aquilo porque eu te causei raiva.


Olhei dentro de seus olhos e assenti, ainda um pouco perdido por ele estar tão calmo. Após conseguir fazer o plano dar certo eu achei que Chanyeol ficaria eufórico e mais tagarela do que quando o conheci, mas não. Ele parecia nervoso.


Houve um silêncio mútuo de alguns instantes.


— Baek, eu posso te fazer uma pergunta? — ele colocou a mão sobre o meu joelho, me deixando ainda mais curioso e surpreso.


— Claro. O que é?


Chanyeol mordeu os lábios.


— Na verdade eu queria ter perguntado antes, mas — ele fez uma pausa, seguido de uma careta engraçada. — Naquele hora, quando Kyungsoo voltou comigo ele disse ter visto você nos encarar... Eu não quero que você pense que a gente...


— Ah, isso? — sorri, lembrando de quando ele e Kyungsoo  voltaram conversando. — Relaxa, Chanyeol. Eu fiquei feliz por vocês estarem se dando bem.


Fiquei calado a fim de dar a entender que o assunto havia encerrado, mas assim que vi seu rosto se contorcer em uma careta descontente acabei ficando ainda mais confuso.


— Eu pensei que você não tinha gostado. — disse ele, abaixando o olhar para o celular largado no meu colo. Segurei a vontade de rir e respirei fundo.


— Por mim tá tudo bem. — afirmei convicto —  Mas se você preferir eu posso fingir algumas lágrimas e dar um soco no seu rosto. — O empurrei com o ombro, vendo- sorrir.


— O certo seria um tapa.


— Tapas não doem, eu gosto de violência.


— Credo, Baek. — ele riu, ainda sustentando uma pitada de verdade em suas palavras. — achei que você fosse ser mais dramático.


—  Minha cota diária de drama já esgotou, e eu estou cheio demais para ter forças de correr atrás de alguém. — passei a mão sobre a barriga, fazendo bico —  Ah! Eu quero ir pra casa!


Aquilo era para ter soado como um pedido urgente de socorro, afim de fazer com que ele procurasse meus pais no meu lugar, mas ele só levou na brincadeira e riu, dando dois tapinhas nas minhas costas.


Me fingi de morto e bocejei, fazendo Chanyeol parar de rir e me levar a sério.


— Se você quiser, a gente vai embora mais cedo.


—  Sério?


—  Uhum. — Ele me abraçou pelos ombros, deixando que eu descansasse em seu ombro. — Só deixa eu terminar mais umas músicas e a gente vai embora.


—  Se for assim nem quero. Pode voltar lá e curtir as suas músicas. — Me recompus, virando o rosto para o outro lado. Eu não queria fazer Chanyeol escolher entre mim e seu projetinho depois de tanto sofrimento, se fosse desse jeito eu preferia ficar escorado pelos cantos até o fim da noite.


— Eu não quero que você fique com sono. — Ele chamou minha  atenção, encostando o queixo no meu ombro.


— É melhor não. — Respondi de olhos fechados, sentindo sua respiração bater no meu pescoço. — Você tem cinco segundos para se afastar.


— Então me dá um beijo! — Ele falou com a voz abafada, rodeando os braços pela minha cintura e unindo as mãos em frente a minha barriga. — Eu só saio se você dizer que sim!


— Ok. —  Afastei as mãos dele de mim e toquei suas orelhas, aproximando nossos rostos para um selinho. — Pronto.


— Isso não foi um beijo!


— Foi sim. — mostrei a língua, ao que Chanyeol fechou a cara. Aquela altura demorei a notar que não mais havia música alguma tocando, e que Kyungsoo — seguidamente do diretor —  finalmente havia subido ao  palco, atraindo os pais e equipe escolar para observá-lo, ainda que de suas mesas.


— Eu acho que Kyungsoo vai ter um troço. — Chanyeol falou de repente, arrumando a postura e prestando atenção no que nosso diretor falava. A minha única curiosidade era saber como ele ainda não havia nos atacado por tê-lo desobedecido, mas assim que lembrei que o pai de Chanyeol nos ajudaria, cogitei uma possível conversa entre os dois e certa quantidade de piedade acumulada por anos vinda de Heechul.


Vislumbrei um quase-silêncio total enquanto ele nos falava algo, ao que Chanyeol me puxou pelo braço e fez com que fôssemos para mais perto, vendo os professores subindo ao palco e recebendo ovações dos alunos. Os nossos professores de Tecnologia e Lógica pareciam ter se divertido mais do que os próprios alunos, visto o cabelo desgrenhado de ambos.


Então eu entendi porquê tiravam as fotos antes de entrarmos. E ao olhar para os pais, notei que a maioria segurava o canudo com diploma dos filhos. Aquele que foi entregue na cerimônia principal a qual nosso grupinho simplesmente não quis ir — e eu nem cheguei a pagar. Abaixei o rosto e fechei os olhos, ainda morrendo de sono quando finalmente Heechul anunciou meu amigo, dando a ele uma calorosa recepção de palmas e se afastando para que ele pudesse falar.


Kyungsoo nos olhou nervoso, e após muito relutar com seu eu-interior tímido, tomou coragem para falar.


— Boa noite a todos os componentes na mesa, professores, amigos, familiares. Se pararmos para analisar, veremos que houveram grandes eventos nesse ano, e dentre eles, nosso último ano dividindo uma sala de aula, um refeitório, e até mesmo passando horas e horas livres marcando encontros e formando grupos de estudos para ajudarmos um ao outro. E enfim, chegou a hora de dar adeus as pessoas que nos ajudaram e que ajudamos, aqueles com quem criamos laços e nos orgulhamos disso. Nosso esforço e união nos mostrou que não se alcança o sucesso sozinho,e essa é uma lição que levaremos por toda a vida. Tivemos muitos personagens nessa jornada e devemos a eles agradecimentos por seus papéis e lições, pois sem eles, não estaríamos aqui agora. Agradecemos os funcionários, professores e todos que nos arrancavam sorrisos. A nossos pais que nos confortaram e estiveram a nosso lado desde nossas primeiras palavras até as longas noites de estudo, reforços e revisões. A todos vocês, presentes em corpo ou em pensamento, como os meus pais, dou em nome de todos nossos mais sinceros agradecimentos. Aos paradoxais, aos mais lindos,  e até aos mais carinhosos e reservados professores, que ajudaram a transformar cada parte de nós em poesia, a transformar nossos sonhos em realidade. Nossa gratidão por vocês é proporcional ao tanto que nos ensinaram e a saudade que nos deixarão. Foram dias de sol, chuva, neve, e até dias de provas e bacon na cadeira de Baekhyun, mas criamos laços afetivos tão fortes quanto se pode imaginar. E se antes queríamos que o ano passasse rápido como a luz, na última vez que ouvimos o sinal do fim das aulas, soubemos que na verdade, não estávamos tão preparados assim. Deixaríamos de ser meninos para nos tornarmos homens, mulheres e futuros adultos mais fortes. E então, deram-nos a missão de decidir sozinhos o destino de nossas vidas, e escolhemos aos poucos, cada um no seu ritmo. Dizer que foi fácil não seria verdade. Mas o que nos confortava era que tínhamos uns aos outros, sempre. Talvez por isso para alguns tenha sido tão difícil sair da sala no último dia. O que levamos conosco será para toda a vida, assim como conversas serão inesquecíveis. Aproveitando o momento para citar o colega Kim Jongin, que por vezes me interrompeu nas aulas, mas nos agraciou com suas opniões e dúvidas sem ter medo de fazê-lo. Assim com Oh Sehun, que  nos mostrou que o físico não interfere no intelecto, sendo um aluno brilhante e por vezes me fazendo questionar se eu era digno de estar aqui hoje em seu lugar. Não posso dizer em palavras o quão grato sou a todos, assim como sei que somos uns aos outros, mas posso dizer que se um acaso nos uniu, ele acertou em cheio. Eu... espero, que possamos usar nesta nova etapa a essência do que aprendemos em todos esses anos, que todo o nosso potencial venha em cheio e que cada um de vocês lembre-se que ninguém alcança o topo do mundo, a não ser que realmente queira parar na Antártica.  — Kyungsoo ficou sério enquanto rimos, mas logo se permitiu dar um pequeno sorriso, encarando a mim diretamente. — Hoje é o dia da nossa formatura. Um dia de alegrias, de despedidas. O encerramento de uma etapa que formou uma porta para outra. Então vamos aproveitar, pois o ontem não nos pertence mais, o amanha ainda não chegou, mas o agora é todo nosso. VAI, TERCEIRÃO!

Assim que Kyungsoo terminou de falar, houve uma incontável série de minutos de aplausos a ele. Meu namorado riu para mim e aproveitando o momento, veio de encontro a minha mão e me puxou para perto da parede, onde finalmente selou meus lábios com carinho, abraçando meu corpo com força assim como eu o fiz com ele. Eu estava tão feliz com tudo aquilo que por alguns minutos, apenas me permiti entregar a Chanyeol, beijá-lo com vontade e fazer daquela noite totalmente inesquecível, assim como cada dia que passamos juntos.

Park Chanyeol me fez dançar até meus pés doerem, e ainda assim, eu queria dançar muito mais. Kyungsoo e Jongin riam ao lado de Luhan e Sehun, que fizeram as pazes e pareciam conversar confortávelmente. O local estava cheio assim como meu coração, e por vezes, eu cogitei ter morrido e ido para o céu.

Era simplesmente o dia mais feliz da minha vida, apenas por ser um dia em que todos, absolutamente todos estavam felizes. Meu namorado, meus pais, meus amigos, o Bangtan e o Bangtan Style também, que não parava de fazer meu celular vibrar já que quando tiravam fotos, Kyungsoo enviava para o grupo imediatamente.

E falando nisso, algumas semanas depois os garotos à prova de balas finalmente conseguiram passar na audição em que Kyungsoo os acompanhou e viraram trainees oficialmente, com o grande pensamento positivo de que nunca se separariam. Desde então não precisaram mais jogar as músicas com pouca qualidade pela Internet e estão felizes com isso. Chanyeol aguarda o debut deles todos os dias e Kyungsoo colocou emojis nas nossas caras e começou a planejar leiloar nossas fotos com os meninos e as selcas do Seokjin. Vê se pode!

Do Kyungsoo fez um trato com Zi Tao assim que começou a receber o dinheiro e eles se tornaram sócios. O Tao não só reformou o minúsculo banheiro da lanchonete como abriu um restaurante no lugar. Às vezes todo mundo se encontra lá,  mas ele sempre manda o Chanyeol pagar a comida antes de trazer para para a mesa.

Sobre Luhan e Sehun, esses são complicados. Até onde sei eles se gostam, não se largam, são ciumentos mas não assumiram um relacionamento, mesmo após tudo o que passaram. Notei que ambos estão usando uma aliança e vivem de segredinhos, mas se assumir que é bom, nada. Eu não os perturbo porque eles são assim, eles têm a própria maneira de amar. Eu não digo um "eu te amo" com tanta frequência para Chanyeol, mas eu o amo. Luhan e Sehun nunca assumiram relacionamento, mas eles sabem que se pertencem.

Minseok bateria nos dois se visse isso, mas ele não está mais aqui. Quando os pais descobriram o relacionamento que ele possuía com Jongdae, decidiram mandá-lo para os avós em Toulon, o que só descobri através de Sehun, que era a fonte de notícias do grupo. Seria trágico se Jongdae não tivesse juntado todo o dinheiro que tinha e comprado duas passagens antes, vindo até a minha casa e levado Minseok consigo. Até onde sei, os loucos foram para a França sim, mas para Paris, e agora têm uma cafeteira junto com uma tia distante. Eles tiveram muita sorte de dar certo e aquele escândalo de novelas não ter vazado, eu fiquei explodindo de alegria quando soube que tudo estava correndo bem. Minseok até agora foi o único que se interessou a continuar estudando, às vezes eles mandam fotos e até assumiram seu relacionamento. Errado? talvez. Mas quer saber? Vive la France!

Estudar me lembra algo... Ah é! Eu soube que Suho destrancou o curso dele assim que Yixing decidiu começar. Suho faz o curso de Direito, enquanto Yixing está em arquitetura, todo lindo e animado. Junmyeon tem o hábito de aparecer pra gente dirigindo o carro do pai, animado e disposto a nos arrastar por aí. Já Yixing é bem mais reservado e gosta de caminhar mesmo, juntar todo mundo e fazer programas mais tranquilos. Eu admiro isso de eles serem tão opostos, mas tão unidos. Na nossa frente eles se amam, se beijam e se você piscar eles se agarram ali mesmo, mas na frente dos pais eles se odeiam como mais ninguém, dá vontade de rir.

E nesse mesmo clima de amor, ódio, guerra e paz é o relacionamento do Kim Jongin com meu melhor amigo. Eles são namorados com direito a anel de compromisso, presentes bobos e beijos molhados, mas é só abrirem a boca que vira UFC — além de que graças aos feitos de Kyungsoo ambos se tornaram muito, muito ciumentos por uns dois ou três meses. É impressionante como eles não concordam com absolutamente nada mas estão juntos, eles nem se esforçam para tentar mudar, mas acho melhor assim. Você pode até ser mole por quem ama, mas mudar sua personalidade? Jamais! A gente tá aqui nessa terra pra ser protagonista de tudo que a gente se propõe a fazer, não é mesmo? Não mude pra coadjuvante por nada nessa vida.

As coisas acontecem porque estava escrito, assim como o casal Maktub. Depois que Jongdae fugiu os pais dele se aproximaram mais de Wu Yifan e descobriram a história do chinês mais lindo do mundo, se apegaram a ele e hoje o tratam como um filho! Yifan é o atual dono da livraria e todos os lucros dali são totalmente dele. E como Kris é uma pessoa muito doce, ele investiu no restaurante do Tao também, mas ao invés dos lucros ele apenas pediu que fizesse um palco de show ao vivo. Tudo normal, até que um dia ele subiu no palco e em forma de música propôs oficialmente uma união para o Zi tao. 
Se ele aceitou a proposta de casamento? Eles se agarraram lá mesmo! Teria sido bem mais louco se não estivéssemos apenas os amigos próximos e Chanyeol não tivesse puxado a cortina, que estava tão vermelha quanto seu rosto.

 

E, bem, acho que todo mundo se resolveu. Faltou alguém?
           Ah, sim... eu e o Chanyeol? Bem... é uma história complicada...


Mentira, não é não.

Naquela mesma noite do baile, nós havíamos tratado cada acontecimento como o último. Havíamos nos beijado nos cantos, dançado até os pés doerem e, ao fim, eu simplesmente o arrastei para o patio do outro prédio, onde conversamos por um bom tempo enquanto eu o sentia mexer nos meus cabelos. Chanyeol foi atencioso e amoroso como nunca antes — se é que isso é possível — e eu apenas o disse o quanto estava lindo naquela noite enquanto me preparava para dizer que eu não iria embora no momento perfeito.

 Então, pela milésima vez, alguém nos atrapalhou.

— Chanyeol, você não tinha que... você sabe. 

— Ah, sim sim. — ele falou depois de finalmente entender o que Kyungsoo dizia, finalmente me encarando e chutando de leve meu pé. — Vamos, chegou a nossa deixa.


— Certo. — Olhei Kyungsoo com o canto dos olhos e respirei fundo, desistindo mais uma vez.


Levantei e os acompanhei no caminho de volta para o prédio, ainda sentindo que ficaria nervoso na hora de contar. Eu não estava acreditando que aquele não era meu último dia com meu namorado, imagina como ele reagiria?


Fiquei tão imerso nos meus pensamentos que nem mesmo ao vizualizar todos aqueles olhares em nossa direção me intimidou, eu apenas mexia nos meus dedos de maneira nervosa enquanto me sentei em um banco próximo do suporte ao lado da mesa do DJ onde Chanyeol se enfiou. Ele provavelmente colocaria a única música que não havia tocado na setlist que preparou, o que me fez conseguir beber água e poupar minha saliva para falar consigo. Ou pelo menos era o que eu esperava conseguir até ele simplesmente entregar um microfone a Kyungsoo, que o entregou a mim e sorriu.


Franzi o cenho enquanto encarei o microfone, e assim que olhei para Chanyeol ele sorriu, ligando o microfone que estava próximo a ele e batendo.


— Pessoal, — Chanyeol chamou. — eu gostaria que essa noite fosse especial para vocês, a última parte da setlist eram músicas e covers que apenas com a ajuda de Byun Baekhyun puderam ser criados. — ele sorriu enquanto nos aplaudiram, e logo fez um gesto pedindo silêncio. — mas, infelizmente, uma das músicas que eu gravei ele já descobriu. — eu sorri, lembrando do meu "presente" que não seria mais exibido. —  E a outra que tanto eu quanto Baek mais nos empolgamos em mostrar não vai poder ser tocada hoje.


Aquilo fez meu sorriso sumir instantaneamente.


 Eu sabia muito bem que música era aquela, Chanyeol havia me feito regravá-la duas ou três vezes naquele dia e seu pai assegurou que daria certo. Como não poderia mostrar?


Eu estava prestes a dizer algo quando ele pigarreou, e ainda com um sorriso esperançoso, me encarou.


— ...Porém, acho que seria uma boa forma de surpreender e declarar o quanto amo Byun Baekhyun caso eu, agora mesmo, ousasse pedir para cantá-la com ele.

Aquilo não estava acontecendo.

Arregalei os olhos e o encarei. Chanyeol ao contrário de mim não parecia temer nada, opniões, críticas, rejeição. Ele apenas puxou um violão de baixo da mesa e veio até mim, sentou no banco ao meu lado e eu finalmente vislumbrei os instrumentos atrás de nós, assim como Sunny, Siwon, Sehun, Kai e o tal DJ desconhecido apareceram entre os outro alunos, nos observando confortávelmente como se aquilo tudo tivesse sido planejado.

E havia sido.

O presente de Chanyeol, as conversas com Sehun, a maneira como me havia feito cantar aquela musica tantas vezes ate decorá-la, o DJ sumindo por vontade própria e a tranquilidade e Jongin. Aquilo tudo era o plano dele desde o início.


Eu queria socar Chanyeol até fazê-lo perder a consciência.


É claro que minhas pernas estavam trêmulas e se eu estivesse em pé, com certeza teria dado um beijo no chão. Agarrei o suporte do microfone e posicionei-o no lugar tentando me distrair repentinamente enquanto Chanyeol dedilhou algo no violão enquanto me encarou.

E quando eu finalmente associei as notas, meu coração disparou.

 

 

I lose control because of you, babe

 Eu perco o controle por sua causa, meu bem


I lose control when you look at me like this

 Eu perco o controle quando você me olha deste jeito


There's something in your eyes

Há algo em seus olhos que

 
That is saying, Tonight

 está dizendo, esta noite


I'm not a child anymore

Eu não sou mais uma criança 


Life has opened the door

e a vida nos abriu uma porta


To a new exciting life

Para uma nova vida emocionante

I lose control when I'm close to you, babe

Eu perco o controle quando estou perto de você, meu bem


I lose control don't look at me like this  

Eu perco o controle, não olhe para mim assim


There's something in your eyes

Há algo em seus olhos


Is this love at first sight

 É amor a primeira vista?

 

Like a flower that grows

Como uma flor que cresce 


Life just wants you to know

A vida quer que você saiba


All the secrets of life

Todos os segredos da vida

 

 

 

Minhas mãos ficaram trêmulas conforme escutava sua voz cantando aquela música, a que havíamos gravado bem mais vezes do que eu podia lembrar, aquela que ele me fez decorar palavra por palavra durante a tarde inteira. Aquela música, que mesmo falando que achava "melosa", Chanyeol disse que nos descrevia tão bem.

 

 

 

Its all written down in your lifelines

Está tudo escrito nas suas linhas da vida


Its written down inside your heart

Está escrito em seu coração

 

—  Baekkie..? — ele me chamou em um quase sussurro, ao que a platéia simplesmente passou a nos aplaudir, e eu finalmente senti um fio de voz escapar da minha garganta enquanto, finalmente, eu e Chanyeol cantamos aquela musica em frente a todos, juntos.

 

 

You and I just have a dream

Você e eu temos apenas um sonho


To find our love a place

Achar um lugar para nosso amor


Where we can hide away

onde poderemos nos esconder

You and I, we're just made

Você e eu, fomos feitos apenas


To love each other now

 Para amar um ao outro agora, 


Forever and a day

Para sempre e um dia

 

 

Chanyeol apenas tocava o violão no ritmo lento no qual havíamos gravado. Não havia uma base de som ao fundo, ou uma superprodução. Éramos apenas eu, ele e seu amor por música e, ouso dizer, por mim também. Não havia melhor forma de me demonstrar amor do que aquela, usar a seu favor a responsável por termos nos aproximado tanto. Música.

Chanyeol me tirou dos eixos completamente, cantando uma oitava acima de seu natural apenas para unir nossas vozes, deixando um som único e ouso dizer que um dos mais lindo que já ouvi. E nem é porque eu estava cantando junto, mas porque Chanyeol exalava talento.

Assim que terminamos de cantar encaramos uma platéia diferente do que esperávamos, lotada e com muitos aplausos. Nossos ex-colegas de ensino médio apreciavam os momentos finais em que nos observavam, alguns alunos choravam abraçando uns aos outros, enquanto outros — como Sunny, seu namorado, Jongin e Kyungsoo — apenas ousaram desafiar a própria sorte, perder toda a vergonha na cara e se beijavam em público. Ao meu lado, Chanyeol apenas desligou o microfone, e ainda que timidamente aproximou o rosto do meu. Eu podia ver seus olhos brilhando, e eu queria aquela imagem para sempre.

— Obrigado. — ele sorriu timidamente. — por tudo o que você me proporciona. Eu sinto que não tenho muito tempo para agradecer o suficiente e dizer o quanto eu te amo mas, por favor, saiba que eu ainda vou fazer isso todos os dias. Você vendo e ouvindo ou não.


— Chan? — Eu sorri, tentando chamar a atenção dele —  Eu não...


— Porque eu vou te ligar e falar o quão bagunçado está o meu quarto.


— Chan..


—  E vou mentir que a minha mãe sente sua falta quando eu não tiver coragem de assumir.


— Chanye...


— E eu juro que vou continuar amando você todos os dias, por mais que doa saber o quão longe você vai estar e por mais que eu demore para ver você de novo. Eu vou dar um jeito e eu...


— Chanyeol, cala a boca. — Sussurrei enquanto o puxei pela nuca, selando seus lábios superficialmente, mas por tempo suficiente para que, quando afastasse nossos lábios, o visse com os olhos arregalados.

Nossos amigos foram a loucura com aquele beijo. Assim como eu sabia que até quem não nos conhecia havia ido. Mas eu nem me importava mais. Eu estava cansado de tentar ficar na minha e esperar o tempo alheio para agir. Eu queria agir no meu tempo. E querendo ou não, meu namorado não iria escapar de mim daquela vez.

E enquanto eu pensava nisso ele apenas me encarava ainda incrédulo. Chanyeol sabia que eu desprezava até mesmo sair de mãos dadas. Beijar a público foi o choque do ano, principalmente quando eu simplesmente sorri e ainda tentando não deixar minha voz embargada, dei um soco fraco em seu ombro como minha mãe fazia comigo.

— Acho que... nós vamos ter que passar mais tempo juntos para eu ver se você realmente vai cumprir essas promessas. — Eu disse sorrindo. Sentindo o alívio por finalmente explicar a ele o que eu queria. E mesmo sabendo que provavelmente ele não entenderia aquilo de cara, que ele estava confuso e que eu não facilitava, eu estava feliz a ponto de puxá-lo para outro beijo a público. Com direito a platéia e gritos incentivadores de Tao e Kyungsoo.

Porque naquele momento eu soube que não importava quantas vezes eu tivesse que explicar, eu teria paciência. Porque eu tinha uma vida inteira para isso.

Para que ele soubesse que nada nos separaria. Nunca mais. E que de uma maneira torta, louca e inexplicável, eu seria seu por bem mais tempo do que podíamos imaginar.

 

 

XXX

 

Uma semana depois Park Chanyeol me ajudou a terminar de desempacotar as coisas. Ele se aproximou do meu pai eles o aceitaram super bem, assim como os pais dele nem estranharam quando após mil anos dormindo juntos e passando dramas, contamos sobre nosso relacionamento em uma reunião de família dos Park e dos Byun — embora eu já tivesse contado para os meus há bastante tempo. O máximo de reação da família dele  foi  Siwon me olhar e pedir pra passar o controle da TV — porque afirmou ter sido o primeiro a saber do nosso relacionamento, através de sua inteligência e uma conversa com a minha mãe. 


Porém, ao contrário dele, Sunny não deixou passar a oportunidade. Deu um surto e após dizer que me mataria se machucasse o irmãozinho dela teve a ideia de me por para escrever nossa história — apenas para registrar que ela ficou noiva, casaria dentro de alguns meses e "seria mais feliz do que  a gente". 

 

E, bem, é por isso que você está lendo agora. Eu não sei escrever, mas agradeça a ela. E parabéns pelo noivado.


Após terminar o colégio eu passei um ano ajudando Kris com sua biblioteca, jogando e me preparando psicologicamente para escolher o que eu realmente queria fazer na minha vida, e assim que me decidi tomei empenho ao máximo em estudar para os exames — mas nada que pudesse me impedir de jogar amor doce e fazer o Castiel ficar tao vermelho quanto seus cabelos.


Enquanto isso Chanyeol terminou o ensino médio, teve uma cerimônia linda de formatura, fomos à cerimônia principal e eu fiquei vendo sua mãe tirar milhares de fotos enquanto ele recebia o canudo com diploma. E no baile ele estava todo elegante e formal, bem diferente do deslocado Park Chanyeol que foi ao meu baile. 


Acho até que haviam algumas garotas dando em cima dele, mas eu não dei muita importância depois de enxergar comida.


Mas o que marcou foi que após o baile nós acabamos desviando do caminho certo e fomos para a casa de Junmyeon, ficamos bêbados pela primeira vez e Chanyeol vomitou em cima do carro dos pais dele — coisa da qual nós sentimos vergonha até hoje. Só voltamos para a minha casa no dia seguinte e eu me deparei com meus pais sentados à mesa, sérios. Meu sangue congelou.

— Bom dia... — Eu e o Channie dissemos em uníssono.

— Baekhyun, precisamos conversar. — Minha mãe me estendeu a mão, segurando um envelope branco com um selo vermelho em hangul. Eu estava tão nervoso — e bêbado — que nem consegui ler o que estava escrito, encarei meus pais e meu pai sorriu abertamente para mim em toda sua vida.

— Parabéns, meu filho, você é oficialmente um universitário.

Ele estendeu a mão para mim, mas eu senti meus pés falharem e o chão abaixo de mim virar uma cama elástica. Chanyeol me olhou nos olhos e sorriu.

— Paaraabéenss... — ele disse antes de me abraçar, errar minha boca e beijar a bochecha. Ele estava tão zonzo quanto eu, e quando terminamos o beijo ele caiu no chão, dormindo. Logo após eu encarei meus pais, eles se encararam fixamente antes de também se beijarem, eles estavam felizes como nunca. Pena que devem ter parado de se beijar para me juntar do chão, porque depois disso quem caiu e apagou fui eu.

Nossa comemoração teve que ficar para outro dia.

 

 

XXX

 

 

Nota, dezembro de 2018

 

 

Faz um tempo desde a última vez que escrevi algo aqui. Eu acabei de chegar em casa e, ufa, eu estou exausto! Hoje eu decidi que voltaria aqui para marcar que o Bangtan finalmente debutou! Meu namorado não desgruda deles, principalmente porque seus pais estão trabalhando com a empresa do grupo. Ah, e atualmente Chanyeol também está fazendo faculdade, mas o curso dele é música! Sinto tanto orgulho que nem cabe dentro de mim. Somos um casal louco, ele musicista e eu um enfim aluno de gastronomia (embora eu ainda ache que isso tudo é um sonho e que eu vou acordar com um sapato enfiado na boca, mas prossegue). Meu plano A de vida têm dado certo, e eu estou ansioso para terminar logo porque, sinceramente, embora eu ame muito é muito chato passar tanto tempo trancado em uma sala de aula.


As vezes Chanyeol me obriga a ter uma segunda profissão como cantor. Ele pega a van da família e enfrentamos algumas horas entretendo pessoas. Mas não vou negar que acho muito legal.


 E, bem, meus pais foram para o Brasil essa semana,pela segunda vez no ano. Pelo visto os acionistas para os quais eles são intérpretes estão negociando para associar-se aos brasileiros. Eu estou animado com isso porque quero experimentar outros pratos de lá. Embora eu já conheça alguns e tenha comido — além de ter me arriscado a fazer —  ouvi dizer que sendo preparado no país de origem o gosto é muito melhor.


Embora eu ame arrastar Chanyeol para aquele restaurante brasileiro perto de onde eu trabalho.


Aliás, agora eu e ele não temos muito tempo livre juntos porque nossos horários são diferentes. As vezes eu fico um pouco triste com isso, até emagreci, mas a noite e uma criança, e eu adoro sentir o cheirinho dele quando vou dormir. Me acalma e me dá vontade de... fazer coisinhas.

Brincadeira.

Mas se ele quiser também a gente da um jeito.

 

 

XXX

 

 

 Nota, Junho de 2019

 


  Percebi que eu tenho o hábito de chegar e dizer "se tem uma coisa" antes de falar, mas se acostumem, porque se tem uma coisa que é boa nessa vida essa coisa é sentir as mãos de Chanyeol massageando dos meus ombros até a altura da cintura. Ah, não tem nada melhor! Ainda mais se contar os milhares de beijos que ele distribui pela pele enquanto as mãos repousam em outro lugar. Poderia dizer que cada toque seu me estremece por completo, mas não confesso nem morto uma coisa dessas. E Chanyeol mudou bastante, isso devo admitir, porém acho que essa melação dele é coisa da natureza e nunca vai sair. Mas quem se importa? Se não fosse assim não seria meu Chanyeol.

Meu.

Eu disse isso?

Ainda não me acostumei a chamá-lo desse jeito. As vezes da vontade de agarrar esse ser humano pelas orelhas e jogar para fora da minha casa, mas um aperto dentro de mim não deixa eu fazer isso. E esse aperto não é vontade de ir ao banheiro.

 

 

 

XXX

 

 


Nota - Setembro de 2020.

 

 

Nota mental: Eu preciso comprar outro caderno. Esse aqui está cheio de rabiscos.

 

Ultimamente Chanyeol tem tentado de tudo para me contaminar com seus gostos peculiares, e dentre eles veio a ideia absurda de querer adotar um mini-monstrinho depois que começou a dar aulas.


Eu disse que não, umas mil vezes seguidas. "Você não cuida nem do seu cachorro, vai esquecer a pestinha pra cima de mim", eu disse, e mais de uma vez. 


Mas ele fingiu que não escutou e continuou falando da Park Yoon, a menina imaginária que ele idealiza como filha há uns seis meses enquanto tenta me convencer a dar uma chance para a ideia.


Semana passada o filho da Sunny ficou com a gente em casa. Chanyeol não o colocou para arrotar e ele vomitou a cama inteira, além de me dar um susto. 


Mas Chanyeol jura que sabe cuidar de crianças, e que com a Yoon vai ser diferente. Eu preferi aconselhar a Sunny para que da próxima vez proibisse Chanyeol de tocar no mini monstrinho.


Eu gosto do Hyuk-soo, ele é um bebê quietinho, e por mais que eu odeie crianças eu sempre fico com ele e evito o aproximar de Chanyeol. Ele até sorri pra mim frequentemente, mostrando a gengiva vermelhinha e fazendo meu coração amolecer por algumas horas.


E graças a esses sorrisos gengivais hoje eu tive uns pensamentos bem errados sobre crianças, filhos e essas coisas. 


E, sabe, até que não é uma má ideia.


Park Yoon correndo pela casa pode ser uma imagem interessante de se ver, principalmente se ela for tão bonita quanto eu. Com os cabelinhos escuros e compridos, olhos grandes  e bochechas gordinhas.


Ela pode até brincar de restaurante comigo e ajudar a provar minhas novas experiências culinárias. Mas isso adiante, bem adiante.


Por hora eu só acho que posso me acostumar com isso tudo. E talvez, apenas talvez, que Park Chanyeol mereça mais uma pessoa para depositar todo o seu amor. 

 

 

XXX

 

 

 

Nota, Maio de 2021.

 

 

Está frio. Tudo porque Chanyeol pegou a maldição do meu pai e conseguiu dar um jeito no aquecedor. Esse é meu presente de 23 anos...


Eu pensei bastante em mandar consertar ainda essa semana, mas o primeiro recital do kindergardem se aproxima e eu quero mandar fazer uma roupa de coelhinho para a minha filha.


Ah, aliás, eu descobri que realmente sou manipulável. Chanyeol encheu o saco até enjoar,  Hyuk-soo e Sunny foram de férias para Haeundae e minha sogra ponderou tanto em me mostrar as roupinhas de bebê do Chanyeol que no fim eu acabei cedendo, e mesmo que tenha sido muito, muito difícil, nós conseguimos um casamento reconhecido legalmente e a adoção de um mini monstrinho. Kyungsoo disse que ela é quase Jesus porque tem dois pais. E hoje eu costumo ter mais ciumes da Yoon do que quem deu a ideia de adotá-la.


Estamos morando em um apartamento agora, e como tem a linha de metrô próximo meus pais usaram a opção como desculpa para não nos ajudar a comprar um carro. Mas tudo segue bem, Chanyeol está se entendendo com o orientador e eu acho que vou conseguir abrir meu restaurante logo. Aliás,  hoje é meu dia de ficar com a Yoon, espero que Chanyeol lembre disso quando chegar em casa e não chame a Polícia de novo achando que ela foi sequestrada.


Casos a parte, acho que isso é tudo. E Chanyeol ainda precisa me comprar outro diário.


Notas Finais


Cara, eu esqueci tudo que eu ia falar aqui LKJDFNLSNLNDLGNSLDKJGNLSDJFN CRISTO

Ah, bem, eu amo vocês. Eu não sei kadjskljdfnlsadf não sei reagir, eu não sei finalizar fanfics, é estranho demais
MVC é meu filho de dois anos, gente. Eu quero agradecer a todo mundo que criou ele comigo e me deu suporte durante todo o processo, de verdade. Desde as moças da MP, até as qeu vieram no twitter, me deram presentinho (que eu lembro, ok?), AS QUE ME AJUDARAM A CORRIGIR, eu amo todos vocês demais e quero morder a cara de todo mundo. Eu comecei mvc como um primeiro contato com o Yaoi e primeira tentativa de escrita, eu não sabia nem que a gente divulgava fanfic kkkkkkkkkkkk e olha só, chegou a mais de duas mil pessoas lendo e eu nem sei quantas vizualizações ao todo a fic tem, mas obrigado, de verdade. Quando eu repito que amo e que agradeço é porque foi realmente impactante pra mim, eu sou assim e se for cansativo me perdoem. Eu estava com medo de o fim de MVC não ser o que as pessoas esperavam, porque ele não agradou nenhuma amiga minha quando eu mostrei, mas eu queria que ele fosse bem baseado na mvc real. Chanyeol se chamava Dan e no "fim" de verdade ele não ficou com o Baek dele, eles se despediam no aeroporto e assim começaram um relacionamento a distância. Eu mudei porque eu realmente queria que o ficcional fosse melhor que a minha vida kajskasjkasj mas tô, eu nem sei dizer como. Eu gostei, e espero que tenham gostado. Meu deus, eu esqueci mesmo tudo o que eu ia falar. Ah, a fanfic tem muita música antiga e eu pensei em mudar o ano em que ela se passava por isso, mas deixei assim mesmo. o gosto musical deles era baseado no gosto musical que eu e o @ temos. então desculpem se acharam brega... eu não sei reagir, senhor, me ajuda, eu estou gelada. No geral, muito obrigado por terem vindo até aqui, me desculpem pelo capítulo ser tão extenso mesmo eu tentando diminuir, e muito obrigado por terem sido os melhores leitores do mundo. Sobre o epílogo(capitulo final oficial) eu não sei se sai porque já arrastei demais vocês com essa fanfic e tenho vergonha de postar.

Playlist de músicas que tocaram em MVC: https://www.youtube.com/playlist?list=PL-quHEISQj-aRuwjg66y8X2lkUcHMhg7N (a caracol aqui ainda tá editando)


A JUMENTA AQUI ESQUECEU DE AVISAR, MAS EU POSTEI UM SPIN-OFF DE MVC MAIS CEDO PRA QUEM QUERIA SENTIR MAIS O GOSTINHO DA PARK YOON!!!!!!1111
LINK: https://spiritfanfics.com/historia/vamos-ter-um-bebe-8540278

Beijinhos, beijinhos e dessa vez, nos vemos por ai!

O ultimo capítulo eu fico devendo (na vdd é tipo um epílogo e não sei se vocês estão preparados pra ele então todo mundo so ignore ok)





ATT170925: Amém chanbaek, dia 29/09/2017 é aniversário de MVC.


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