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História Midnight Circus - 8. Your Owner


Escrita por: KAMI-seme

Notas do Autor


Aqui ta mais um capítulo de M.C. pra vocês! Espero que gostem, e obrigada aos que estão lendo <3
E quem ta esperando os caps de Renascentia, vou atualizar só dia 31 ^^
Boa leitura!

Capítulo 8 - 8. Your Owner


8. Your Owner

 

- Como assim o Key mentiu pra nós? Isso não faz sentido, nós éramos amigos! – Jonghyun insistia em defender o mágico, enquanto revirávamos as gavetas do baixinho em busca do endereço daquele que sabia o paradeiro de Taemin. Jong primeiramente não acreditou em uma palavra do que eu disse e me mandou parar de beber, mas quando eu lhe contei da previsão da cigana e das informações de Sulli, ele acabou cedendo e se juntando a mim na busca pelo garoto.

- Ele sempre foi um pouco egoísta, você sabe disso melhor do que ninguém.

- Egoísta e sequestrador mentiroso são coisas bem diferentes – Disse o palhaço, enquanto abria uma pequena caixa de madeira e tirava alguns papéis de dentro, suspirando aliviado em seguida – Achei o endereço e... Não é tão longe assim, mas vamos levar quase um dia inteiro para ir e voltar.

- Iremos partir agora.

Algumas pessoas ainda tomavam café da manhã, talvez pelo horário ser cedo demais pros circenses que só dormiam depois de uma ou duas horas da manhã, afinal, nosso espetáculo era no início da madrugada. Passei direto por todos que me desejavam bom dia e entrei em meu trailer, pegando a única mochila surrada que eu tinha e a enchendo com uma muda de roupas minhas e o suéter velho e sujo de Taemin, assim como algum dinheiro para nossas passagens. Eu me sentia enjoado pela ansiedade, só de imaginar que talvez poderia ter o Lee em meus braços novamente, já era o suficiente para acabar com as minhas estruturas. E quando enfim terminei de me arrumar, deixei um aviso para nosso pai, avisando que eu e Jonghyun iríamos partir e talvez só voltássemos no dia seguinte, minha madrasta nos avisou que ele iria nos matar ao retornarmos, mas ela era legal demais para nos impedir de ir. E com algum dinheiro e duas mochilas velhas, Jonghyun e eu deixamos o Midnight Circus decididos a voltar com Taemin... Vivo ou morto.

 

Devo admitir que o caminho para a casa de Key não era dos mais agradáveis, além da longa viagem de trem que durou o resto da manhã e o começo da tarde, ainda tivemos que ficar nos vagões de carga – pois Jonghyun insistia que deveríamos guardar o dinheiro para usar na volta, pois não sabíamos o que encontraríamos pela frente – e aquele lugar era extremamente quente e desconfortável.

 

- Você acha que ele está bem? – Ouvi a voz de Jonghyun, enquanto o baixinho se deitava sobre algumas caixas de papelão e olhava distraído para o teto do vagão, mas a curiosidade e preocupação eram evidentes em sua voz – Já passou tanto tempo, um ano inteiro e todos nós mudamos, Taemin deve ter mudado também, se ele ainda...

- Estiver vivo. – Completei a frase que Jonghyun quis deixar pela metade, eu tinha consciência de que meu namorado podia estar morto, mas preferia acreditar que ele estava em algum lugar esperando por mim, e eu só precisaria ir lá resgatá-lo e trazê-lo de volta para os meus braços. Passar tanto tempo sem ele me deixou destruído de todas as formas que eu conseguia imaginar, e agora que eu tinha uma chance, iria agarrá-la com todas as forças, não importava o que eu tivesse de fazer para tê-lo, eu tiraria qualquer um do meu caminho. – Seja otimista, Jonghyun, nós vamos encontrá-lo.

O menor sorriu e deu de ombros, ele não parecia tão confiante quanto eu, talvez não quisesse se iludir, mas preferimos encerrar o assunto por ali, seria melhor não se torturar antes de saber a verdade sobre aquela história. Passamos quase todo o resto do caminho em silêncio, Jonghyun hora ou outra resmungava sobre o calor ou o cheiro de detergente e ferrugem misturados, mas eu só continuei em meu canto e aguentei pacientemente até a hora do desembarque.

 

- Esse lugar fede – Jonghyun reclamou assim que descemos do trem e vimos que aquela estação não era tão diferente do vagão de carga. Estávamos em uma cidade do interior que eu nem ao menos conseguia recordar o nome, o lugar parecia abandonado, alguns mendigos deitavam nos bancos, enquanto pessoas arrumadas demais esperavam outro trem, mas apesar de toda a aparência exagerada e suas roupas chamativas, bastava passar ao lado delas para saber que não estavam em melhores condições que aquelas estações. Pareciam que todas as mulheres usavam o mesmo perfume barato, as roupas eram parecidas, como se só houvesse uma costureira naquela cidade, e algumas mulheres não disfarçavam ao nos encarar. Pobres coitadas, deviam estar há muito tempo sem poder contemplar uma beleza como a minha ou como a de Jonghyun. Eu sempre tive consciência de que era bonito, eu sabia que era por isso que as pessoas gritavam quando eu entrava no picadeiro – ou talvez os gritos fossem apenas pela roupa colada na bunda de Sulli, mas era uma teoria que eu preferia rejeitar.

 

- A casa dele fica perto da estação, podemos ir andando – Jonghyun falou seriamente, enquanto caminhávamos para fora daquele lugar, mas logo a expressão séria de irmão mais velho sumiu de seu rosto. Ele sorria de um jeito safado e piscava para uma moça que passou ao nosso lado, trazendo consigo quatro crianças.

- Jonghyun, olhe as crianças, é uma cilada.

- Ela deve ser a irmã mais velha, não estrague o momento em que estou flertando com garotas inocentes do interior. Imagina quantas ainda são virgens?

- Do jeito que estão nos olhando, provavelmente nenhuma – Revirei os olhos, apressando o passo e o obrigando a me acompanhar. Jonghyun ainda nem havia resolvido completamente seus problemas com a filha do pastor e o seu suposto filho recém nascido, e já queria arranjar ainda mais problema com mulheres. – Mantenha o foco, Jonghyun, precisamos achar o Taemin.

- Você é tão sério... – O escutei resmungar, mas preferi ignorá-lo até chegarmos ao nosso destino. Aturar Jonghyun não era uma tarefa das mais fáceis.

 

 

- Tem certeza que é esse lugar? – Perguntei num murmuro, quando enfim chegamos à casa de Key, após uma longa caminhada da estação até aquele pedaço de fim de mundo.

- É o que diz no endereço.

Suspirei e continuei encarando a casa, um pouco surpreso, ela era grande, mas isso não quer dizer que era bonita. As paredes pareciam estar ruindo pelo lado de fora, alguns pedaços do telhado se encontravam ao chão, o jardim estava tão morto que nem ao menos conseguíamos identificar que plantas secas eram aquelas, e a pequena trilha de pedra até a porta estava coberta por capim. Era um lugar decadente e de aparência abandonada, talvez ele já não morasse mais ali, mas eu não iria dar meia volta.

Jonghyun caminhou sem medo por aquele matagal até chegar à porta da casa e bater algumas vezes, e eu o segui com um pouco de receio, olhando atentamente pro chão e esperando não encontrar nenhum animal selvagem. Jong bateu mais algumas vezes na porta, até que enfim ela se abriu e uma jovem – muito bonita, diga-se de passagem – nos atendeu. Ela perguntou algo em japonês e eu demorei um pouco para entender, mas por sorte Jonghyun era melhor do que eu com aquele idioma e conseguiu perguntar por Key.

A moça fez um gesto para que entrássemos e assim o fizemos. O interior da casa estava tão decadente quanto o lado de fora, as paredes estavam rachadas, a decoração no estilo japonês parecia velha e acabada, como se não fosse trocada há muito tempo. Eu me perguntava se aquela casa já era assim quando ele se mudara pra lá, pois dificilmente um lugar ficaria tão ruim após apenas um ano.

 

- O que estão fazendo aqui? – Key perguntou surpreso ao entrar na sala. Suas roupas eram tão diferentes do que eu havia me acostumado a ver, eram velhas e sem estilo, sem brilho, ele não era mais o todo poderoso mágico Key, ele era um homem em uma vida miserável.

Respirei fundo e cogitei a possibilidade de ir até ele e quebrar algumas costelas até que ele me falasse onde Taemin estava, mas Jonghyun fora mais rápido e tomou o controle da situação.

- Nós sentimos saudade! Essa é sua esposa? – Disse o baixinho, sorrindo animado para a mulher, que parecia tímida com a nossa presença – Uma vez você me disse que se casaria com uma mulher que pudesse cozinhar um kimchi melhor que o meu, ela é boa desse jeito?

- Ela é ainda melhor – Key deu de ombros, ainda nos olhando desconfiado – Podem se sentar, vou pedir para a Arisa preparar algo para comermos.

- Seria muito incômodo pedir Kimchi? Eu realmente quero ver as habilidades dela e enquanto isso nós podemos conversar. Tenho muitas coisas para te contar.

Jonghyun era mais esperto do que eu podia imaginar. Ele convenceu Key a mandar a esposa no mercado comprar o material para preparar a tal comida, e a moça pareceu um pouco desanimada por ter que sair, mas Jong garantiu que ela não estivesse presente durante nossa amigável conversa. E quando enfim a porta da frente bateu e escutamos seus passos delicados se afastando, deixamos a farsa de lado.

- Key! O que diabos você fez com o Taemin?! – O grito escapou da minha garganta antes mesmo que eu pudesse atravessar a sala e socá-lo até a morte, como eu desejava fazer. O ex-mágico pareceu assustado ao ouvir tal pergunta, recuando alguns passos e colocando as mãos em frente ao corpo em forma de defesa.

- Eu não sei do que está falando, Minho-ssi! – Ele andou até bater as costas na parede, desviando o olhar para Jonghyun em seguida, como se pedisse ajuda, e rapidamente eu senti os braços do mais velho me segurando e me obrigando a sentar novamente.

- Minho, deixe que eu resolva isso.

Bufei irritado e cruzei os braços, mas não neguei. Jonghyun sempre era melhor do que eu para lidar com essas situações, principalmente no último ano, tudo o que eu sabia fazer era me embebedar e arranjar confusões, talvez eu tivesse perdido a capacidade de conversar normalmente com alguém. E isso era mais um dos efeitos da falta de Taemin.

 

Vi Jonghyun se aproximar de Key e o trazer pro meio da sala, onde manteve uma mão no seu ombro e sorriu mais gentilmente, como se acalmasse o rapaz.

- Você não precisa mentir, eu estou aqui, Kibum – Jong falou calmamente, o chamando pelo nome verdadeiro, o qual eu nem ao menos lembrava até então – Você pode confiar em mim, você sabe disso.

Ficamos algum tempo em silêncio, até que finalmente Key quebrou o sigilo e começou a falar.

- Eu precisava de dinheiro pro meu casamento... – O ex-mágico confessou em um murmuro, abaixando a cabeça e demonstrando uma expressão culpada. Vi Jonghyun apertar seu ombro levemente e levar a mão livre ao seu cabelo, afastando-o do rosto e incentivando-o a continuar – Onew e eu levamos Taemin para aquela cidade comercial perto de onde o circo estava, nós vendemos o garoto para um homem que tinha dinheiro de sobra, ele era dono de um grande hotel que ficava em frente à primeira praça, foi lá que nós deixamos Taemin. Me desculpem.

- Obrigado, Kibum, agora aceite isso como o meu perdão por ter mentido – E em um movimento rápido Jonghyun fechou a mão em punho e acertou um soco em cheio no rosto do homem, fazendo-o cair no chão e gemer de dor. Eu achei que ficaria por aquilo mesmo, mas o menor parecia completamente irritado. Ele chutou, socou, arranhou Key até que ele chorasse e implorasse para que Jonghyun o deixasse em paz.

Eu poderia ter impedido meu irmão, poderia ter me juntado a ele e espancado Kibum, mas eu ainda estava em estado de choque por saber que meu Taemin havia sido vendido. Escondi o rosto entre as mãos, fechando os olhos e respirando fundo algumas vezes, era como se meu mundo estivesse se ruindo novamente, e os gemidos de dor de Key eram a trilha sonora do meu sofrimento. Meu namorado havia passado um ano inteiro nas mãos de um homem que era capaz de comprar menores de idade com aparência feminina, eu não queria nem imaginar o que ele havia passado durante aquele tempo. Mas eu tinha uma certeza, Taemin voltaria comigo para o circo e ninguém iria tirá-lo de mim novamente.

- Deixe esse infeliz aí, Jonghyun. Nós precisamos salvar o Taemin.

 

 

● Lee Taemin ●

 

O som da chuva batendo contra a janela de vidro do meu quarto me causava certa melancolia. Eu estava sentado em minha cama, encarando a janela molhada já fazia mais de duas horas, os lençóis de seda eram as únicas coisas que cobriam meu corpo nu, e por mais que o clima estivesse frio, eu não queria me vestir ainda, meu corpo estava dolorido depois da recente visita do homem que se tornara meu dono há um ano. Mas infelizmente eu precisava me mover, tinha compromissos para comparecer.

Suspirei cansado e levantei lentamente, sentindo todo o meu corpo dolorido, as marcas de chicote ainda sangravam em minhas coxas e eu sabia que precisava dar logo um jeito nelas ou iria levar uma bronca do próprio causador dos meus ferimentos. Atravessei meu quarto luxuoso – e apenas meu – em passos arrastados e entrei no banheiro, era o único lugar da casa em que ninguém entrava, eu não deixava que se aproximassem do meu banheiro, pois lá eu descontava todas as minhas frustrações. As paredes estavam riscadas e arranhadas, em uma delas havia vários traços vermelhos, feitos com sangue ou restos de maquiagem, cada um representava um dia. O número de dias que eu havia ficado longe de Minho.

Às vezes eu me perguntava se ele estava bem, se havia superado o meu desaparecimento. Será que ele arranjara uma namorada? Onde estaria o circo nesse momento? Eram tantas dúvidas que atacavam minha mente todos os dias, e eu sabia que não teria respostas para elas, pois nossos caminhos haviam se separado, pelo que parecia ser definitivamente.

 

Nos primeiros meses eu achei que pudesse morrer apenas por estar longe dele, era como se eu estivesse sufocando a casa segundo, Minho era o ar que eu respirava e aos poucos eu fui definhando e morrendo sem ele, mas então eu aprendi a permanecer sem o ar. Ainda era difícil me encarar no espelho todas as noites e ver o garoto pálido e triste no qual eu me transformara. Meu cabelo havia sido cortado na altura do ombro e tingido de um tom loiro – por capricho de meu dono – e minha aparência havia se tornado mais atraente do que eu desejava, eu só precisava disfarçar algumas olheiras e ninguém notaria o quanto minha vida era miserável. O que Minho acharia disso?

 

Mas eu não vou abrir mão dessa vida medíocre.

 

Lavei o rosto e forcei um sorriso pra mim mesmo, antes de me empenhar em cobrir as marcas e machucados, passando maquiagem o suficiente para que meu rosto se tornasse tão bonito quanto porcelana, pois era assim que ele gostava. Calcei meus sapatos caros e minhas roupas feitas sob medida, elas tinham detalhes bordados com fios de ouro, por puro capricho meu, e tratei de esconder aquelas roupas caras com o meu casaco de pele, ainda mais valioso do que elas. Ele era grande e felpudo, como os que minha mãe usava quando era rica, mas é claro que os dela não chegavam aos pés dos meus.

- Taemin, está na hora! – Ouvi a voz de meu mestre do outro lado da porta. Eu odiava sua voz, eu odiava seus toques e até mesmo o dinheiro que ele me dava, como se fosse uma recompensa por me usar da forma que queria. Mas eu não reclamaria agora que as coisas haviam melhorado.

 

No começo eu ficava trancado com suas outras amantes e prostitutas em um porão, algumas ficavam doentes e morriam, mas ninguém se importava. Eu queria morrer também, todos os dias eu desejava morrer durante meu sono, já que eu era medroso demais para fazer aquilo sozinho. Mas aquele martírio não durou tanto, pois eu me tornei útil, e aos poucos minha utilidade se tornou necessária. E o porão foi trocado por um quarto de luxo no último andar do hotel, e de escravo descartável, eu me tornei seu brinquedinho mais precioso, e meu nome passou a ser reconhecido.

 

Respirei fundo e guardei todo o meu ódio, amargura e melancolia naquele banheiro, antes de passar pela porta e sorrir para o homem, quando na verdade meu desejo era estrangulá-lo com minhas próprias mãos. Mas eu não poderia fazer isso, eu não queria, pois apesar de tudo ele me dera o que sempre foi desejado por mim, o meu sonho de todo uma vida. Ele havia me presenteado com um piano e uma platéia que me admirava. E quando eu descia para o salão de jantar e via todos aqueles hospedes ricos lotando o lugar apenas para me ver, os pensamentos ruins sumiam de minha mente e tudo o que eu fazia era tocar com todas as minhas forças. Aquelas pessoas podiam escolher entre o jantar simples, em um salão simples, ou poderiam pagar o triplo para me verem tocar, enquanto apreciavam seus jantares. E elas sempre preferiam a mim.

Eu não era mais um ninguém. Eu era Lee Taemin, o pianista que tocava em um hotel, e aquele era só o primeiro passo. Recentemente, havíamos conversado sobre uma apresentação no teatro da cidade, mas meu dono falara que precisava pensar sobre aquilo, pois era um investimento muito alto e antes de qualquer coisa consultarias seus advogados.

 

- Você parece tão pensativo hoje, criança – O homem mais velho falara repentinamente, arrancando-me de meus devaneios. Estávamos passando por entre as mesas, enquanto andávamos de braços dados em direção ao piano, ele sempre fazia questão de me entregar ao palco, como se estivesse exibindo seu troféu.

- Perdoe-me, senhor. Estou ansioso para tocar, vou apresentar uma nova música esta noite.

- Infelizmente eu temo que não possa admirá-lo hoje, vou me reunir com os donos do teatro em um jantar mais reservado – O homem falou em tom pretensioso, que me fez olhá-lo de forma curiosa e até esperançosa. – Sim, é isso mesmo, vou combinar os detalhes do seu primeiro concerto para um público grande.

- Você...

- Eu consigo qualquer coisa – O homem sorriu de canto, segurando minha delicada mão enquanto eu subia a pequena escada sozinho – Tenha uma boa apresentação, coloquei seus presentinhos dentro do casaco.

Respirei fundo e tentei me controlar, eu não podia demonstrar animação agora, então apenas me virei de costas pra ele e caminhei até o grande piano, deixando o casaco de pele escorregar um pouco e mostrar parte dos meus ombros, enquanto eu me sentava no banquinho e começava a deslizar os dedos pelo teclado, reproduzindo a melodia que tocava apenas em minha mente.

 

Eu me odeio por dizer

Eu vou te esquecer,

Sem um único arrependimento

Eu odeio o meu coração

Que ainda está aguentando

 

Enquanto eu cantava e tocava, podia ouvir as pessoas murmurando e fazendo sons de surpresa, impressionadas com meu talento, mas isso não era o que importava no momento, pois a cada verso que saia de minha boca, a imagem de Minho vinha em minha mente. E como todos os outros dias, eu me esforçava para não derramar nenhuma lágrima. Eu precisava seguir em frente.

 

Quando eu penso em você

O dia cheio de suspiros é tão longo

 

Ouvi a porta do salão ser aberta em meio aos sons irritantes dos talheres contra os pratos. Por que as pessoas precisavam comer enquanto me contemplavam? Elas deviam olhar apenas para mim.

 

Mesmo quando eu tento

Apagar as memórias de ter te amado

Me vejo lembrando novamente.

 

Senti uma corrente de ar entrar pela porta que não havia sido fechada ainda, e o cheiro de terra molhada e um perfume forte chegaram até mim, não era um perfume refinado o suficiente para ser usado por qualquer um daqueles clientes. Abri os olhos lentamente e virei o rosto na direção daquele cheiro delicioso, encontrando um par de olhos redondos me encarando.

Minhas mãos tremeram e eu pude perceber que falhara uma nota, enquanto Minho me encarava boquiaberto do outro lado do salão. Eu não sabia se era obra de minha imaginação, ou se talvez a falta dele estivesse me causando delírios, mas depois de errar a quinta nota seguida, eu parei de tocar e corri pra fora do palco, avisando pro segurança que estava passando mal e indo em direção aos fundos do hotel, saindo pela porta dos funcionários e só parando de correr quando enfim estava naquela rua escura e sem movimentação.

Eu só podia estar delirando. Não era a primeira vez que eu via Minho em meus momentos de loucura, eu sabia do que eu precisava para me acalmar, e talvez fosse isso que tivesse me causado tal alucinação. Meti a mão no bolso do grande casaco, pegando os dois saquinhos que meu mestre havia deixado discretamente, era aquela a única forma que eu tinha para abafar a dor que a saudade de Minho me causava. Eu acabei me tornando um viciado por culpa dele.

Rasguei o primeiro saquinho e encostei-me à parede, derramando o pó branco em uma das mãos e o aproximando do meu rosto, eu estava tão nervoso que minhas mãos ainda tremiam, mas à medida que eu me drogava, as emoções iam se dissipando e dando lugar ao que parecia uma espécie de torpor. Eu sentia que meu rosto estava sujo com o pó, mas eu já não me importava com aquilo, eu só me desencostei da parede e fui em direção a chuva, sentindo o casaco começar a pesar ainda mais. Tudo parecia mais fácil de lidar agora.

 

- Taemin! É você? – Maldita voz, parecia tão real. – Minnie... Olhe pra mim! O que aconteceu com você?

Senti meu corpo ser sacudido repentinamente. Despertando-me do êxtase e finalmente sentindo os efeitos mais fortes da droga sobre meu corpo. Encarei a miragem de Minho e levei as mãos até seu rosto, eu podia tocá-lo, parecia tal real que eu nem conseguia dar atenção para o que ele estava gritando enquanto me puxava pelo braço, e atrás dele eu pude ver Jonghyun também, ele parecia preocupado. Eu nunca havia tido uma alucinação tão forte como aquela, eu queria parar, mas não conseguia.

 

- Nos vamos embora, agora vai ficar tudo bem, vamos pro circo e ninguém vai te achar – Foi a única coisa que entendi o Choi da miragem dizer, o que me causou certo desespero e logo comecei a me debater em seus braços e gritar para que ele me soltasse.

- Eu não quero ir embora! Eu gosto daqui! – Falei alto o suficiente para que eles parassem de me arrastar e me encarassem surpresos – O mestre disse que eu vou ter um show! Eu quero ficar... Minho, por que você não vai embora como todos os outros Minhos de todas as noites?

- Do que você está falando, Taemin? – O moreno me sacudiu novamente, passando uma mão em meu rosto em seguida e a cheirando brevemente – Você está drogado? O que fizeram com você?!

- Eu quero ficar! Eu vou ser um pianista de sucesso! Suma da minha frente!

Senti os braços de Minho me soltarem e achei que era o fim de mais uma alucinação, mas eu estava muito enganado, pois ele apenas me soltou para poder dar um soco no meu rosto, o qual acertou meu olho em cheio e me derrubou no chão. Meu casaco de pele estava tão pesado que eu não fora capaz de levantar sozinho, então apenas rolei pro lado e fiquei jogado no asfalto, sentindo a chuva cair contra o meu rosto.

- Eu não vou perder você de novo! – Eu podia sentir Minho me arrastando pelos pés, e Jonghyun falava algo que eu não conseguia entender, o som das buzinas ficavam cada vez mais próximos. Eu sentia como se estivesse sendo arrastado pela avenida, e embora tentasse me segurar no chão, tudo o que fiz fora quebrar as unhas.

Por que ele estava sendo assim?

- Meu dono não vai gostar, Minho-miragem-hyung... – E foram as últimas palavras que saíram de minha boca, antes que eu desistisse de pensar muito e acabasse me entregando ao cansaço. Eu não estava realmente cansado, mas dormir pareceu ser a coisa mais certa a se fazer naquele momento, quem sabe quando eu acordasse o efeito da droga tivesse passado e eu estaria na cama do mestre recebendo uma bronca.

Mesmo com tudo escuro eu ainda conseguia escutar alguns sons ao meu redor. Eu estava tremendo de frio nos braços de alguém, era um abraço possessivo do qual eu não conseguia sair mesmo com as minhas reclamações resmungadas. O abraço durou por um longo tempo, tão longo que eu acabei dormindo novamente, mas dessa vez fora pra valer, me aconcheguei no abraço do desconhecido e aproveitei o carinho que ganhava em meu cabelo.

 

Eu não lembro por quanto tempo dormi naquele dia, mas quando o efeito da droga passou, meu corpo estava completamente dolorido, eu não acordara no meu colchão macio como de costume, e sim em uma cama dura, com cheiro de mofo e cerveja. Abri os olhos lentamente e descobri uma nova dor, meu olho esquerdo parecia estar inchado, como se eu tivera sido espancado por alguém. Encarei o teto por algum tempo, não era o teto do meu quarto, mas era um teto conhecido. Pisquei incrédulo algumas vezes, até que tomei coragem e me sentei, confirmando que eu estava em um trailer velho e bagunçado. Eu estava no quarto de Choi Minho e não fazia ideia de como ou do porquê.

- O que aconteceu? – Murmurei com a voz rouca, tentando levar uma mão até meu cabelo, mas sentindo algo me impedir. Meu pulso estava algemado e a corrente não permitia que minha mão se afastasse muito da cabeceira da cama, assim como meu pé também estava preso por uma corrente.

 

Por que eu estou preso?

 

- Finalmente acordou, Taemin – Aquela voz novamente, mas dessa vez era real, eu tinha certeza que era real. Minho saiu do estreito banheiro e se sentou à minha frente na cama, com um semblante irritado – Acho que nós precisamos conversar.

- Minho? O que você fez? Como me achou? – Perguntei repentinamente, eu queria me jogar em seus braços e chorar por finalmente estar com ele, mas ao mesmo tempo queria gritar de raiva enquanto percebia a loucura que ele havia feito. Ele havia arruinado tudo. – Tire essas correntes de mim!

O moreno sorriu de canto, não era o sorriso gentil e carinhoso, ele parecia estar prestes a me bater novamente, mas tudo o que fez foi se aproximar e prender uma mão em meu cabelo, puxando minhas mechas loiras para trás com força e encarando-me com um olhar ameaçador. Aquela era a primeira vez que eu sentia medo de Minho.

 

- O que eu fiz? Eu peguei de volta o que é meu! E essas correntes são pra você se lembrar de quem é seu verdadeiro dono, Lee Taemin.

 

Continua...


Notas Finais


Esse cap foi betado pela minha May unnie. espero que tenham gostado... keke
O que acharam da mudança do Taemin? Todos eles mudaram (menos o Jonghyun). Será que é uma boa coisa?
Até o/


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