História Mito - (Romance Lésbico) - Capítulo 23

Assim que viu o Senhor das Trevas em pé, o sentimento de medo tomou conta da morena, seu corpo parecia ter esquecido de respirar, a aura dele era esmagadora. Queria correr para o mais longe possível. No entanto antes que tivesse a chance, paredes surgindo do próprio chão se interpôs entre o ser de trevas e eles. Mãos tomaram o seu rosto a direcionando para duas poças azul cristalinas.

- Feche os olhos, respira fundo e espira devagar – a loira falou a encarando com um olhar doce e um sorriso convidativo. Arquia não hesitou, de certa forma essa confiança cega na outra a assustava, embora a tenha obedecido, não demorou muito sua respiração estava voltando ao normal e os tremores haviam sumido, foi quando ao abri lentamente os olhos percebeu que Nefera tinha a testa pressionada contra a sua e um pequeno brilho emanava dali.

– O que-

- Magia da luz não só ajuda a curar ferimentos, ele também acalma a alma e a mente – se afastou lentamente, a mão da loira permaneceu em seu rosto, o dedão fazia círculos em sua bochecha, um carinho conhecido e bem-vindo - Se sente melhor? – Conseguia sentir a preocupação na voz dela, a sinceridade de suas palavras. Colocou a mão sobre a da outra em sua face e fechou os olhos inclinando a cabeça, uma ação quase felina, sentiu aquele calor, o cheiro de doce e florando que vinha da outra – Arquia? – havia confusão na voz da mais velha, só que não se importou, queria ficar assim o máximo de tempo possível.

- Temos que nos mexer! Não podemos continuar aqui perdendo tempo! – Eloryn era um homem impaciente, a voz irritante do loiro a tirou de seu momento de paz, mas a morena entendia sua pressa, seu maxilar estava rígido, como se todas suas emoções estivessem contidas ali, e ele só deixasse sair a raiva.

- Serei a isca – a morena se levantou, batendo a poeira imaginaria de suas vestes.

- Tem certeza? – Nefera a agarrou pelo pulso a seguindo, olhos ansiosos que passeavam pelo seu rosto.

- Você fez um ótimo trabalho, sua magia como sempre é incrível – sim, nesse momento todo o vigor que perdeu ao encarar o ser de trevas, parecia ter retornando, não sabia por quanto tempo continuaria, então não poderia deixar essa oportunidade passar. Não iria desperdiçar essa segunda chance que a outra lhe havia proporcionando.

- Estou aliviada que está se sentindo melhor, mas não quer dizer que você deva se colocar em perigo-

- Todos estamos em perigo Nefera – a loira arregalou os olhos como se só percebesse isso agora, Arquia riu, por que se sentia da mesma foram, esquecia do resto quando estava com ela, se aproximou, e lentamente pressionou seus lábios contra a testa da loira, outro gesto que tinha se tornado comum entre elas – Sei que está preocupada comigo e aprecio isso, mas temos um trabalho a fazer – sua face estava levemente rosada, gostava de saber que até mesmo uma mínima ação sua mexia com a outra. Se aproximou da orelha da loira e sussurrou o suficiente para que apenas ela ouvisse, o rasado seguiu até o lóbulo da sua orelha – Irei atrai-lo e você irá sela-lo com a ajuda dos outros.

- Espera-

Não houve tempo para protestos, sombras destruíram a parede que havia sido improvisada como defesa. Arquia recuou, poeira subiu impedindo parte do seu campo de visão, mas assim que constatou que Nefera e os outros cincos estavam ilesos, a morena pós seus pés para trabalhar. Foi em direção ao causador de todo aquele caos pelos reinos.

- Olha! Parece que enfim você decidiu agir de acordo com seu título – O Senhor das Trevas a encarava com um sorriso divertido, suas roupas era como os farrapos que os mendigos vestiam, só que as pontas rasgadas na verdade eram as sombras se mesclando com suas vestes – Venha campeão da humanidade! Enfrente-me com todo seu poder!

A morena já havia decido que não hesitaria, com esse pensamento em mente, trincou o maxilar, franzindo o cenho, deixou escapar o grito preso em sua garganta, ele emanava determinação e fúria. Enquanto corria as chamas azuis começaram a surgir, se moldado novamente em uma armadura, espada em mãos e um elmo cobrindo sua cabeça, deixando apenas a brecha para a visão, o louro de três penas no topo da cabeça balançava conforme ela se aproximava do ser de trevas.

- Cavaleiro das... Chamas – O Senhor das Trevas falou com um rosto sem expressão, sua voz quebrando em meio ao murmúrio, como se engasgasse com as palavras.

Quando Arquia chegou no salão e parou em frente a criatura com o cadáver de um dos Generais, boa parte das chamas haviam recuado, e depois de encarar a pressão que emanava dele o resto se extinguiu, e talvez ele ainda tivesse dúvida de quem ela era, só que agora a morena podia ver em seus dois poços de escuridão o reconhecimento. E mesmo que várias dúvidas brotassem em sua mente, questionamentos, não perderia aquela distração, levantando o braço, lançou um arco de chamas na direção dele, uma ponta cortando o chão e a outra o teto. A intenção não era atingi-lo, e sim aproveitar o momento em que ele se moveria para se aproximar e ataca-lo em cheio. Desviou, já era esperado, correu em sua direção, no entanto antes que sequer pudesse diminuir a distância, ele havia sumido, olhou em volta o procurando.

- Parece perdida – um frio desceu pela sua espinha, a voz vinha das costas da morena, não deixou o medo se apoderar, com um movimento rápido deu um giro com a espada em mãos, com a intenção de cortar ao meio o que quer que estivesse atrás dela. Ou tentar.

O Senhor das Trevas segurava a laminas com a mão nua, uma expressão entediada no rosto, ele puxou a lamina e inevitavelmente Arquia foi levada junto, agora tinha uma mão em seu pulso e a outra segurando seu queixo, a fitou nos olhos, como se pudesse ver dentro de sua alma.

- Diga-me garota – Sorriu mostrando todas a navalhas brancas e mortais que tinha dentro da boca – Você pelo menos sabe o que é? – Arquia semicerrou os olhos em confusão. “O que ele estava tentando dizer”, pensou – Não sabe da verdade, não é? – Gargalhou em pura diversão – Quer que eu diga, “Alev”?

- O que esta-

O chão abaixo dos seus pés começou a tremer, aquilo desequilibrou tanto a mais nova como o ser a sua frente, o aperto de suas mãos se afrouxou, aproveitou isso e escapou recuando, e assim que tomou certa distância, estacas surgiram feitas do próprio chão, todas indo em direção do Senhor das Trevas, antes que ele pudesse escapar, cipós e raízes surgindo das profundezas daquela caverna, se enrolaram nos pulsos e calcares da criatura impedindo seus movimento, as estacas o atingiram deixando alguns arranhões quase invisíveis. Foi em meio a toda essa confusão que Arquia viu, Nefera se aproximando do senhor das Trevas por trás, ele também percebeu sua presença, mas no momento que olhou sobre o ombro, a mão direita da loira já estava em suas costas, o selo tatuado em sua mão brilhou cegando momentaneamente todos os presentes. Quando o brilho diminuiu, Arquia conseguiu ver novamente. O senhor das trevas estava em pé, sendo engolido por uma luz que já cobria boa parte do seu corpo, no solo se encontrava o símbolo que antes havia estado na pele da outra, o selo emanava grande poder, e era dele que vinha a magia que parecia querer devorar o ser de trevas vivo. Atrás dele surgiu uma tumba de mármore verde, a sua frente a tampa da tumba. Arquia ainda não acreditava, realmente parecia ser o fim. Eles haviam vencido, só mais um pouco e tudo acabaria. A morena olhou em direção a Nefera que tinha uma expressão de alivio, suas sobrancelhas bem-feitas levantadas e o começo de um sorriso surgindo em seus lábios.

- Esse seria um belo final feliz – Arquia olhou em direção a voz. A tumba a centímetros de fechar totalmente. “Ele ainda podia falar”, pesou com certo temor. Uma pequena sombra saiu daquela brecha – Pena que esse não é o final feliz de vocês! – Arquia avançou em direção a Nefera, como um animal que era seguiu seu extinto.

Nesse exato momento, as sombras explodiram da tumba, o caixão foi engolido, torcendo-se nas trevas como se fosse feito de papel, e qualquer coisa que estivesse no caminho teve o mesmo destino. Os tentáculos sombrios atacaram indiscriminadamente.

- Arquia... – uma voz hesitante a chamou, olhou para baixo. A mais nova não pensou muito. Se o selo não conseguisse conter o ser de trevas, então a ameaça ainda continuava, e Nefera que estava perto dele e foi a autora da tentativa de selamento era a que mais se encontrava em perigo. Só correu em direção da loira e se jogou por cima dela na mesma hora, com a armadura de chamas azuis recebeu a maior parte dos golpes, pena que um deles conseguiu passar pela defesa da armadura, abrindo caminho pela carne das suas costas até seu tórax. Não se importou com isso no momento, olhou para a mulher abaixo de seu corpo, procurando qualquer ferimento.

- Sente dor em algum lugar? – Perguntou a encarando seriamente.

- Deveria está mais preocupada consigo mesma! Não está vendo que tem um buraco a mais em seu corpo! – sua voz parecia exaltada, tinha os lábios semicerrados. Havia muita emoção em suas palavras.

- Está com raiva? – perguntou com as sobrancelhas levantadas em confusão.

- Não pode pular cegamente na frente de um lamina mortal que poderia acabar te matando! – falou quase sem folego – Como acha que me sentiria se algo acontecesse a você por minha causa?! – sua voz parecia falhar

- Não vou pedir desculpa por proteger a única pessoa que amo! – falou com sinceridade, pois não se arrependia de nada.

- Chega a ser tedioso essa tentativa falha de me prender novamente – O Senhor das Trevas cuspiu.

Estava coberto por um manto feito de suas próprias sombras e sua cabeça que era única visível começava a ser engolida pela mesma. As sombras cresceram e começaram a tomar forma. A morena não perdeu tempo, tomou Nefera pela mão e correu o mais longe que pode arrastando a outra. E quando ousou parar e olhar a sua frente, o que se encontrava parado era algo que só havia visto nas páginas de livros de fantasia, nas poucas vezes que foi em uma biblioteca, para fugir de sua própria realidade.

- Vamos começar nossa luta até a morte – O Dragão Sombrio rugiu as palavras.