Contrariando o diabinho em seu ombro esquerdo, que clamava por vingança enquanto dizia "deixa esse otário aí!", Jeno logo puxou Minhyung para dentro de seu quarto, e, tão rápido quanto, empurrou o mesmo para o banheiro — aquela certamente seria uma noite de preocupações, mas o Lee desejava que tapete e chão molhados não fossem uma delas; não naquela madrugada.
Relutante, sonolento e meio irritado, o moreno apenas pegou algumas toalhas e roupas em seu armário e jogou na direção de Minhyung — que estava sentado em cima da privada e, certamente, só não estava paralisado de vergonha por estar tremendo de frio — antes sair do quarto e descer gatuno as escadas até a cozinha, tendo Miles como perigosa companhia — por mais que fazer o mesmo ficar quieto com um pouco de ração fosse fácil, como é de conhecimento geral, o bichano quando gruda no Lee mais novo da família não pode significar boa coisa.
— Pega — Jeno disse ao que estendeu uma das canecas fumegantes que tinha em mãos na direção do Lee sentado em sua cama logo que voltou ao quarto —, não quero que pegue um resfriado por minha causa… De novo.
— Obrigado. — Minhyung agradeceu ao que acolheu a porcelana quente entre as mãos gélidas e trêmulas.
Apoiado à escrivaninha, Jeno soprava levemente o chá em sua caneca e encarava Minhyung pelo canto dos olhos, ponderando consigo mesmo se perguntava ou não o motivo do outro ter escolhido justo uma noite de temporal para aparecer em sua janela — situação ironicamente parecida com a noite em que o garoto entrara lá às escondidas pela primeira vez —, ao passo que o outro Lee fitava o líquido âmbar e tentava organizar seus pensamentos.
De fato, havia sido uma péssima ideia bater na janela de Jeno nas atuais condições temporais; mas um Minhyung impulsivo e carente, com uma pequena taxa de álcool no sangue, não pesou consequência alguma antes de largar mão do orgulho e correr até lá.
— Me desculpa. — disse quase que sussurrado, resumindo tudo em duas insignificantes palavras que, mesmo tendo tanto significado, não pareciam expressar nada naquele momento.
Jeno por sua vez fechou os olhos e suspirou — mais alto do que pretendia —, tomou alguns goles de seu chá e não conseguiu evitar o riso que escapou por entre seus lábios crispados.
— Não é a mim que você deve desculpas. — disse calmo, enfim encarando os olhos trêmulos de Minhyung, antes já sobre si.
— Eu devo, por ter te envolvido nessa vingança ridícula de corno mal amado... — desviou o olhar e apertou a caneca já morna entre as mãos ao que sentiu os olhos marejarem, mesmo que um sorriso ladino brotasse em seus lábios crispados por finalmente admitir aquilo em voz alta.
— Você não pode levar toda a culpa, nós fi…
— Esse nós nunca existiu, Jeno, você sabe bem disso. — Minhyung cortou a fala alheia de forma ríspida, provocando um aperto no peito de ambos — Você mesmo, várias e várias vezes, me sugeriu simplesmente terminar com Donghyuk, e em todas elas eu cogitei o fazer e por um ponto final em toda aquela “brincadeira” — limpou as lágrimas que escorriam por suas bochechas com as costas da mão e voltou a encarar o outro Lee, desta vez com um sorriso torto entre os lábios —, mas eu acabei me envolvendo e me apaixonando por você de uma forma tão ridícula e avassaladora quanto nos filmes de romance mais clichês que você pode imaginar.
Foi a vez de Jeno rir, mesmo que lágrimas também rolassem por seu rosto corado.
— Droga, garoto, por que você é assim? — questionou entre um sorriso antes de deixar a caneca sobre a escrivaninha e andar até o outro Lee — Porra, Minhyung, mesmo você fazendo tanta, mas tanta merda, eu não consigo ficar irritado com você; ainda mais depois de uma declaração ridiculamente fofa dessas.
— Mas eu preciso que você fique, que me xingue, jogue tudo na minha cara, até que me bata — praticamente suplicou ao moreno ao que ajoelhou-se —, porque só assim eu vou ter coragem para te beijar e por a merda de um anel no seu dedo, coisa que eu já devia ter feito há muito tempo.
— 'Tá me pedindo em namoro? Sério?
— Tô… — Minhyung encarou o outro com um olhar apaixonado, mas logo sua face virou em um misto de confusão e raiva — Não! Droga! Esqueci as alianças na calça que eu tava, ‘pera… — então o moreno levantou e correu em direção ao banheiro, deixando o outro Lee parado, estático, no meio do próprio quarto.
E Lee Jeno nunca fez tanto esforço para segurar uma risada — porque, por mais que a chuva torrencial fosse mais do que audível, o quarto de sua mãe ainda era ao lado do próprio. Logo secou as poucas lágrimas remanescentes, que faziam cócegas em seu rosto, e seguiu até o banheiro atrás do outro moreno.
— Minhyung, para de ser estabanado. — o moreno de mechas esverdeadas comentou risonho ao que recostou-se ao batente da porta e observou o outro Lee ajoelhado, revirando todos os quatro bolsos do jeans enquanto murmurava “eu juro que coloquei elas aqui…” — Certo, eu vou voltar a dormir, quando achá-las você me acordar, certo? — comentou entre um bocejo involuntário.
— Não, espera! — Minhyung quase gritou ao que levantou de supetão, surpreendendo Jeno, que foi parado com um abraço por trás — Posso dormir com você?
Jeno logo virou a face minimamente, apenas o suficiente para ver os olhos de Minhyung de relance, piscando ansiosos pela resposta, que não demorou a vir entre um sorriso debochado.
— Não — o moreno disse com calma, e quase pode ouvir o outro gritar, incrédulo, um “como assim não?!”, mas logo completou a fala, novamente segurando o riso —, não até arrumar a bagunça que deixou meu banheiro. — disse antes de desvencilhar-se do abraço — Ah, e você vai lavar essas xícaras amanhã. — disse simplista antes de deixar um selar demorado nos lábios alheios.
Minutos depois ambos já estavam novamente aninhados um ao outro, dessa vez debaixo das cobertas quentinhas. Minhyung ora sussurrava juras de amor no ouvido de Jeno, ora assegurava-lhe que realmente havia comprado os benditos anéis e apenas havia os esquecido, fazendo o Lee rir abafado.
Momentos antes de cair no sono, Jeno teve certeza de que, na manhã seguinte, acordaria sorrindo. Não somente porque a previsão era de chuva, mas também por ter certeza de que, pela primeira vez, Minhyung estaria ao seu lado quando acordasse — possivelmente com um resfriado daqueles, mas ao seu lado.
E sobre os inúmeros problemas a serem resolvidos, Jeno lidaria com eles apenas quando o sol resolvesse sair de trás das nuvens carregadas, pois, dali em diante, os dias chuvosos pertenceriam apenas a si e a Minhyung, até a última gota da tempestade rolar pela janela.
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