Me revirei na cama pela milésima vez e grunhi alto ao sentir ainda mais forte aquela dor insuportável. A cólica esse mês tinha vindo para me castigar e o pior é que acabei nem comprando remédio, por achar que ainda havia vários na cartela que comprei há alguns meses, mas me deparei com nenhum comprimido. Eu só queria ficar encolhida na cama o dia todo, queria me entupir de chocolate, não estava mais suportando tanta dor. Já passava das dez da manhã e eu simplesmente não tinha ânimo nem para levantar e comer alguma coisa. Acordei duas horas atrás com uma dor aguda e com muito sacrifício, fui ao banheiro, porém depois disso me joguei na cama e fiquei por lá mesmo. Vi o barulho da porta se fechar logo depois que entrei no banheiro mais cedo, mas não esbarrei com Jungkook, algo que agradeci, pois estava com a cara terrivelmente feia e desarrumada.
— Desde quando eu ligo para isso? — Perguntei para mim mesma em voz alta, quando me dei conta dos meus pensamentos.
Respirei fundo mais uma vez, estava com tanta fome, que quando vi já tinha pegado uma maçã na geladeira e lavava ela. Literalmente me arrastei até o meu quarto e me atirei na cama novamente. Zapeei os canais da televisão e deixei em um que só passava coisas sobre música, para ver se eu conseguia me entreter e esquecer aquela dor.
Procurei no navegador algum número de uma farmácia mais próxima para pedir para entregarem o remédio que eu costumava tomar. Ouvi a porta se abrir e um assobio. Logo meus ouvidos captaram passos e a porta foi aberta sem ao menos bater antes, algo que me deixou um pouco raivosa, pois ainda estava trajando o meu belo pijama de nuvens, mas ele já tinha visto toda a minha linda — ou não — coleção de roupas para dormir, concluindo assim, que isso era a última coisa que poderia importar agora.
Mas importou.
— Por que está com essa careta feia? — perguntou, ainda colado na porta.
Fiz uma cara triste e joguei o resto da maçã em uma tigela, a primeiro que eu tinha visto pela frente.
— Dias ruins. — me arrastei pela cama quando a dor se fez presente novamente, dessa vez com mais latência.
Jungkook franziu sua sobrancelha e cruzou os braços.
— Foi aquele cara de ontem? — crispou os lábios, algo que deu a entender que ele se importava.
Mesmo sofrendo com a dor, senti um pequeno pico de felicidade com o meu pensamento anterior.
— Não, nada a ver. — Respondi rapidamente. — É meio embaraçoso de falar. — Senti as bochechas esquentarem e passei a mão em cima delas, de fato, estavam fervendo.
— Você está bem? — questionou, vindo para mais perto de mim e seus olhos me analisaram minuciosamente.
Me encolhi nos lençóis e cobri o rosto com as mãos, mas me sentei e foi impossível conter a minha careta de pura dor e sofrimento.
Sacudi a cabeça em negação e peguei o celular para continuar vasculhando alguma farmácia por perto.
— Yejin, você está doente ou sentindo alguma dor? O que aconteceu? Ontem você estava bem quando nos despedimos. — Sentou-se ao meu lado e meu coração praticamente foi na boca quando ele segurou o meu rosto com as duas mãos e tocou a minha testa com as costas da sua mão direita. — Com febre você não parece estar, pode falar comigo. — Seu rosto demonstrou uma grande preocupação, algo que me deixou ainda mais atordoada e inerte.
Engoli em seco e respirei fundo, não queria falar, será que se eu falasse algo por cima ele acreditaria?
— São dores comuns que as mulheres sentem. — Disparei, confusa com as minhas próprias palavras e só depois percebi que eu tinha entregado tudo.
Levei as mãos a boca, assustada e ele aparentou ainda mais preocupado.
— E está tudo bem? — Cobri o rosto com as mãos, morrendo de vergonha.
Por que diabos eu tive que falar e simplesmente não prestar atenção em minhas próprias palavras? Por que toda aquela preocupação estava fazendo o meu coração disparar?
Relaxei os ombros, já tinha falado tudo, não tinha o porquê me envergonhar por isso, todas as mulheres se sentem assim, ele já deve estar careca de saber sobre isso.
Pisquei os olhos, atônita.
— Sim, tudo bem. — não queria prolongar meu sofrimento para ele, mas ainda assim, o cabeça de algodão-doce não pareceu convencido de que eu estava bem. — Ah... — dei de ombros. — Nada fora do normal. — Tentei forçar um sorriso, isso só o fez estreitar ainda mais os olhos, duvidando das minhas palavras.
— Mesmo?
— Não, estou horrível. — Fui sincera pela primeira vez naquela conversa.
— Precisa de ajuda com alguma coisa? — arregalei os olhos e as bochechas esquentaram novamente.
— Que vergonha! — disparei, cobrindo o rosto com as mãos.
— É sério, isso é algo tão comum, Yejin! — exclamou, dando um breve sorriso.
— Lindo... — sussurrei, encantada com o seu sorriso e só depois me dei conta do que tinha falado.
Merda!
Lindo? O quê? Controle esses hormônios, Yejin!
É o Jungkook, aquele babacão que divide o apartamento com você, não se deixe levar pela carência e pela dor. Isso, com toda certeza é a dor que está me causando tamanhas alucinações.
Ele uniu as sobrancelhas.
— O que você disse? Não consegui escutar.
— Nada não. — Cocei a nuca, nervosa.
— Eu já estudei isso na escola, minha mãe tem... A minha irmã também, isso é tão comum. — Assenti.
— Eu sei, mas não deixa de ser completamente vergonhoso, se fosse o Jimin... Não seria tão constrangedor assim.
— Só por que ele é gay? — quis saber.
— Não, porque eu e ele temos muita intimidade, somos amigos há anos. — Justifiquei. — Eu e você só dividimos os apartamento e hum... — pensei, não queria magoá-lo, até porque o considerava um... — Somos amigos, mas faz pouco tempo... — me enrolei em explicar.
— Quase falou que eu não era nada. — Fungou. — Fiquei profundamente magoado. — Fez cara triste.
— É por isso mesmo, não dá para te levar a sério. — Fiquei emburrada e me recostei na cabeceira da cama.
Ele ajeitou a postura, mas continuou me observando.
— Você poderia me deixar te levar para outro lugar. — sussurrou tão baixo que eu só consegui ouvir um resmungo.
— O que disse? — quis saber. — Está me xingando?
— Claro que não. — Sacudiu a cabeça. — Acabei de voltar da loja de conveniência, fui comprar coisas para fazer o meu almoço de hoje, você quer que eu faça para você também? — bagunçou os cabelos. — Nas suas condições acho que você não consegue nem sair da cama, né?
— Estou tão horrível assim?
O cabeça de algodão-doce assentiu.
— Tudo, a sua cara, as olheiras, esse cabelo que parece que não lava há cinco dias, essa sua roupa. — Listou e apontou para tudo na maior cara de pau.
— Não precisa humilhar, está bom? — cuspi, entre dentes. — Quero que cozinhe para mim, escravo! — brinquei, ainda raivosa e dei-lhe um leve empurrão.
A dor voltou com força total quando ele ia me empurrar de volta e eu só me contorci e grunhi.
Malditos dias menstruais!
— Precisa de alguma ajuda, aí? — tirou o celular do bolso e começou a digitar alguma coisa.
Perguntei se ele podia ir à farmácia comprar o remédio e ele aceitou rapidamente.
— Podia ter falado antes, eu já estaria voltando. — Voltou a digitar algo no celular e se levantou.
Levantei me arrastando para pegar a carteira e escrever o nome do remédio em algum papel da minha agenda.
— Precisa de mais alguma coisa? — sacudi a cabeça em negação.
— Tudo bem, eu vou fazer essa bondade para você só porque você está tão terrível que eu fiquei com dó. — Caçoou rindo e correu para fora do quarto, após eu ameaçar dar-lhe um soco.
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