História Motel Bieber - Me Conte a Verdade

O único barulho que se podia ouvir era dos meus saltos contra o piso, o relógio atrás de mim marcava pouco mais das quatro da manhã. A sala de espera estava praticamente vazia a não ser por um senhor no canto e a recepcionista. Meu cabelo já havia desmanchado ficando com os fios soltos, a maquiagem já havia saído por completo, meu estado era tão caótico possível.

Me sentei por uns minutos encarando a porta vendo a última pessoa que eu esperava ali. 

– Creio que esteja aqui por causa do Justin? – Delegado Robert falou.

– E o que o senhor faz aqui?

– O hospital me chamou.  – Disse sem prolongar o assunto. – Seus pais sabem que você está aqui Margot?

– Não senhor. – Disse baixo na esperança que ele não tivesse ouvido.

– Eu sinto muito Margot, mas tenho que leva-la para casa.

– Você não pode fazer isso! – Me levantei ficando cara a cara com ele.

– Você é menor de idade, são quatro e meia da manhã e tenho certeza que seus pais não fazem ideia de onde você está agora. 

– Eu não posso ir! – Eu quase gritava com ele que se mantinha sério a todo momento.

– Margot qual é a sua relação com esse garoto? – Delegado Robert perguntou cruzando os braços na altura do peito com a intenção de me intimidar.

– Te garanto que qualquer que seja não é da sua conta. – Dei as costas a ele me afastando mais.

Ele iria falar algo quando foi interrompido pelo Doutor.

– Acompanhante do senhor Bieber?

Aproximei-me rapidamente. Sentia o olhar do delegado acompanhar cada ação minha.

– Como ele está?

– Ele ficará bem, por sorte não fraturou nada, mas irá sentir algumas dores pela pancada. Vou recomendar alguns analgésicos enquanto ele fica mais um dia aqui em observação. – Ele disse calmo.

– Posso vê-lo?

– Ele acabou de ser medicado você tem alguns minutos apenas. – Antes que ele terminasse passei pelas portas que davam aos quartos rapidamente.

– Quarto 302. – O doutor gritou enquanto eu corria escadas acima até o segundo piso. Minhas mãos tremiam e meu coração batia rápido.

Parei em frente à porta do seu quarto abrindo lentamente. Assim que me viu abriu um sorriso de lado acompanhando cada movimento meu, parei em frente a sua cama observando as marcas no seu rosto, havia um corte nos seus lábios e outro acima da sua sobrancelha, seu olho direito estava roxo fazendo com que eu sentisse dor apenas de olhar.

– Hey. – Falei segurando o choro que estava prestes a sair.

– Oi. – Ele disse baixo.

– Como você está se sentindo?

– Meio dolorido, mas vou ficar bem. Desculpe pela forma que a noite terminou isso não estava nos meus planos.

 Balancei a cabeça em negação sendo incapaz de responder, sentia as lágrimas começarem a escorrer uma após a outra.

– Ei vem cá. – Justin me chamou, se afastando devagar para que eu deitasse ao seu lado. – Eu vou ficar bem, precisam de muito mais para me derrubar.

Ao me deitar ele me puxou para mais perto fazendo com eu pousasse minha cabeça em seu peito.  Justin mexia no meu cabelo fazendo um carinho enquanto eu tentava parar de chorar.

Depois de uns minutos naquela posição ele me chamou baixinho fazendo com que eu o olhasse.

– Vai ficar tudo bem. – Justin selou calmamente nossos lábios. Era incrível o quanto eu havia ficado dependente deles nesse pouco tempo.

Antes que ele pudesse aprofundar o beijo ouvimos alguém pigarrear na porta fazendo com que eu me afastasse rapidamente.

– Com licença, preciso falar com você Justin. – Delegado se encontrava na porta fazendo com que Justin soltasse um palavrão baixo.

Me levantei da cama ajeitando meu vestido que havia ficado menor do que era.

– Acho que seria melhor para o Justin descansar agora. 

– Serei breve Margot, me espere na recepção. – Ele ao menos olhou para mim fazendo com que a minha raiva apenas aumentasse.

Aproximei-me do Justin selando nossos lábios. Antes que eu pudesse me afastar ele me puxou sussurrando em meu ouvido:

– Amanhã à noite eu passo na sua casa deixe a janela aberta!

Me despedi e segui para fora do quarto antes que eu pudesse sair o delegado me chamou novamente.

– Acho melhor não aprontar nada Margot, não quero ter que ligar para os seus pais.

Havia se passado meia hora e estávamos seguindo para minha casa, o delegado mantinha os olhos na estrada como se eu nem estivesse ali. Estava no banco de trás como se acabasse de ser pega roubando uma loja ou algo assim, aquilo era ridículo tanta coisa acontecendo e eu sendo levada para casa em uma viatura por ter saído escondida.

Ele estacionou o carro em frente de casa e abriu a porta para mim, seguimos em silêncio até a porta da frente. Após ele tocar três vezes a companhia meus pais apareceram, eles me olharam surpresos assustados e depois irritados.

Seria uma longa noite.

Delegado Robert fez questão de entrar e dizer tudo. Cinema, os caras bêbados e Justin no hospital. O que era uma versão muito melhor do que de fato havia acontecido olhei para meu pai que apenas assentia, minha mãe mantinha um olhar de indignação a cada palavra.

– Tudo bem delegado nós iremos cuidar disso e obrigada por trazê-la em segurança. – Meu pai fechou a porta depois de mais vinte minutos de pura idiotice.

– O que deu em você, em plena segunda-feira sair escondida com aquele marginal? – Minha mãe se virou para mim praticamente gritando todas as palavras na minha cara.

– Não o chama assim.

– Você prometeu que se afastaria. – Sua voz denunciava que ela estava prestes a chorar.

– Não é a primeira vez que eu saio escondia por que o drama? – Falei ignorando o que ela disse anteriormente. Tudo que eu queria era ir dormir, minha cabeça latejava e meus olhos começavam a pesar.

– Porque desde que ele voltou todos falam sobre esse maldito motel que é conhecido pelo desaparecimento dos seus hospedes.

– Lilian! – Meu pai a repreendeu.

– Continua! – Falei a encarando eu já estava cansada de tudo aquilo. – Termina mamãe me conte a verdade.

Ela se sentou fechando os olhos em seguida, respirou fundo olhando para mim.

– Fountain Hills nunca mais foi à mesma quando Joseph Bieber se mudou para cá, dono de uma beleza inconfundível e de um sorriso encantador. Rapidamente todos falavam sobre ele, os homens queria ser seu amigo e as mulheres queriam ter apenas cinco minutos ao seu lado. Ele construiu um motel praticamente do nada em um canto isolado, longe de olhares curiosos, todos começaram a se perguntar de onde ele tinha vindo e o por quê? Joseph Bieber havia se tornado mais conhecido do que os moradores locais. E quando o motel ficou pronto não se falava de outra coisa, até que perceberam que alguns hospedes começaram a sumir misteriosamente.  Joseph passou a se isolar naquela casa e falar apenas com mulheres que o interessava. Sarah a sobrinha do prefeito retornou a cidade e logo o chamou atenção por conta dos seus longos fios loiros e seu rosto delicado, ela se hospedou no motel e assim como as outras não saia mais de lá. Passava cada vez mais seus dias com ele até que ela acabou engravidando. Todos ficaram sabendo que era uma menina, mas ninguém chegou a vê-la. – Minha mãe olhava para um ponto fixo enquanto falava, parecia que tudo aquilo já tinha sido ensaiado.– Passou mais alguns meses e Sarah engravidou novamente agora de um menino, ao se passar dois anos ela foi encontrada morta dentro de casa. Joseph cuidou da criança, o ensinou a cuidar dos negócios e a arte da taxidermia. George cresceu e deu continuidade ao motel, os desaparecimentos sempre como marca característica daquele local. Ai surgiu a Kathy ela morreu no parto do seu filho Jeremy que herdou tudo que era do pai inclusive a beleza, mas ele era diferente passava mais tempo na cidade em busca da sua amada do que no motel com seu pai e foi ai que nós o conhecemos. Ele se envolveu com Pattie uma das minhas melhores amigas e quando percebemos ela vivia em função do Jeremy. Não queria saber de mais nada a não ser ele, passava todo tempo no motel e até abrir animais ela fez. – Seus olhos encheram de lágrimas ao tocar no nome dela. – E logo ela engravidou de gêmeos, foi ai que o conto de fadas dela começou a ruir, Jeremy não queria gêmeos ele queria apenas um menino. Pattie fingia não saber de nada e continuava idealizando a vida perfeita até as crianças nascerem, ninguém sabe o que aconteceu com a garota e bom Justin está ai para contar o resto da história, ele era o orgulho do pai e a loucura da mãe, até que ela teve o mesmo fim que as outras. Conforme Justin crescia mais garotas surgiam, passavam mais de uma noite e sempre voltavam como todas as outras.

– Isso é loucura. – Foi tudo que eu conseguir dizer após ela concluir a história.

– Ele está fazendo a mesma coisa que seus antepassados Margot, ele só está se aproximando de você por puro interesse.

– Justin não é assim! 

Meu pai observava tudo calado enquanto minha mãe tentava controlar o choro e a raiva.

– Espere até uma garota mais bonita que você chegar ali ou até mesmo à primeira hospede dele voltar. Ele se esquecerá de você! – Sua voz saiu alta fazendo com que eu me assustasse. – Não seja ingênua Margot esse cara não presta.

Eu não conseguia dizer nada apenas fiquei a encarando. Não aguentava mais essas brigas, não aguentava mais essa desconfiança eu simplesmente não aguentava mais ficar ali. 

– Me de seu celular e a chave do carro! – Meu pai me olhou esticando a mão.

Não acredito que ele estava fazendo isso.

– Não faça eu falar novamente Margot. 

Entreguei a ele sem ao menos relutar, sabia que não adiantaria de nada agora. 

– Espero que tenham uma boa noite.

Dei as costas a eles subindo as escadas lentamente, deixando meus pais na sala a ponto de voarem no meu pescoço.